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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

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Academic year: 2022

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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Éderson ANDRADE Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer – MT E-mail: ederson.andrade@educacao.mt.gov.br Eixo temático Políticas e práticas de formação continuada e desenvolvimento profissional de professores da educação básica

Resumo

A formação continuada de professores tem sido um desafio e uma necessidade na contemporaneidade, um mundo marcado por transformações rápidas e constantes. Os professores de educação física, assim como os demais, necessitam de discussões inovadoras, bem como compreender os aspectos ―tradicionais de formação‖, ou seja, precisam de um movimento por-vir-a-ser professor. A educação física transitou entre um ensino ginástico, higienista, militarista, esportivista, para só então chegar aos modelos pedagógicos de ensino. Tais modelos esperam que os professores de educação física tratem das mais variadas manifestações da cultura corporal de movimento no contexto escolar. Este relato de experiência originou-se da questão problema acerca de como os professores de educação física, inseridos em um projeto de educação integral denominado Escola Plena, compreendem sobre o que precisam ensinar nas aulas de educação física. Essa questão gerou um curso de formação continuada aos professores inseridos neste projeto. A formação continuada promovida teve como objetivo compreender como os professores de educação física das Escolas Plenas compreendem o que devem ensinar e a partir da formação trabalhada analisar as (re) significações dos mesmos. Para coletar os dados apresentados neste relato partimos de uma questão no início da formação (o que ensinar em educação física?), e de sua repetição ao término do curso. A maioria das respostas no início do curso giraram em torno do ensino de modalidades esportivas e aspectos ligados à saúde, com algumas apontando para uma perspectiva mais geral de ensino da educação física ligando-se aos aspectos da cultura corporal. Já no final do curso foi percebido que além de compreensão do tempo espaço contemporâneo da educação e seus desafios é preciso pensar o objeto de estudo da área de educação física para a garantia de seu ensino com qualidade. Considero que a formação continuada proporcionada aos professores de educação física participantes da formação continuada contribuiu para a transformação de uma compreensão mais alargada acerca do que se ensina em educação física na escola.

Palavras-chave: Educação Física, Formação Continuada, Escola Plena.

1. Introdução

A formação de professores sempre foi um desafio às políticas públicas, às práticas cotidianas, as proposições à formação inicial, bem como à formação continuada.

No contexto contemporâneo esta necessidade foi colocada como exigência de mudança

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permanente marcada por muitas exigências, tais como a imagem e a valorização docente, como nos aponta Marcelo (2011).

Também podemos dizer que esse movimento e tais exigências são apontados como processos de inacabamentos formativos. Estar inacabado, sentir-se inacabado no sentido de Freire (1997), é estar em busca permanente de atender e entender como o professor pode de forma coletiva e colaborativa ensinar e aprender com os estudantes.

Neste contexto insere-se o professor de educação física. Marcados por uma formação ligada a muitos aspectos oscilantes historicamente, em muitos casos ainda trabalham em suas aulas assentados em perspectivas tecnicistas ainda apresentadas em meados do século passado.

A educação física na escola transitou por aspectos ginásticos, higienistas, militaristas e esportivistas desde a sua entrada na escolarização brasileira. Os aspectos pedagógicos foram introduzidos com foco na cultura corporal a partir das discussões da década de 1980 com Coletivo de Autores (1992), Daólio (1992), Bracht (1997), dentre outros, e ampliadas por autores destacados na atualidade como Neira e Nunes (2006).

Foi a partir destas discussões é que nos deparamos com a necessidade de pensar a formação continuada de professores de educação física inseridos no Projeto Escola Plena (projeto de inserção de escolas de tempo integral) na rede estadual de educação de Mato Grosso.

A partir de diálogos com estes professores nos deparamos com a questão problema de gerou a formação continuada apresentada neste relato de experiência:

como os professores de educação física, inseridos em um projeto de educação integral denominado Escola Plena, compreendem sobre o que precisam ensinar nas aulas de educação física. Dela chegamos ao objetivo da formação e do trabalho ora apresentado:

compreender como os professores de educação física das Escolas Plenas compreendem o que devem ensinar e a partir da formação trabalhada analisar as (re) significações dos mesmos.

A formação continuada foi realizada aos professores de educação física inseridos nas Escolas Plenas durante três dias. Neste momento podemos fazer uma discussão a partir de um diálogo horizontalizado como nos ensina Freire (2011) e construir de forma teórica prática um movimento de compreensão do objeto de estudo e ensino da educação física no contexto escolar.

Organizamos as sessões para apresentação deste relato de experiência da seguinte forma: inicialmente faremos uma discussão sobre a formação continuada e o desenvolvimento profissional, em seguida apresentamos os resultados da formação continuada realizada e finalmente apontamos algumas considerações.

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2. Formação Continuada de Professores de Educação Física

O desafio atual para o desenvolvimento profissional dos professores tem posto para estes profissionais uma exigência de busca por transformação. A nosso ver é preciso pensar que tal desenvolvimento não é tarefa fácil. Como nos aponta Carlos Marcelo o desenvolvimento profissional é marcado por um atravessamento de muitas condicionantes. Como aponta o autor,

o desenvolvimento profissional docente como um processo, que pode ser individual ou colectivo, mas que se deve contextualizar no local de trabalho do docente — a escola — e que contribui para o desenvolvimento das suas competências profissionais através de experiências de diferente índole, tanto formais como informais (2009, p.

10).

A contextualização em um novo projeto, a demanda de tempo integral, o tempo rápido e volátil contemporâneo, dentre outros aspectos pulsam para a necessidade formativa dos professores de educação física inseridos nas Escolas Plenas de Mato Grosso. Além disso, a literatura internacional tem mostrado que para ser/estar um bom professor na atualidade precisa de aspectos que se articulam ao desenvolvimento profissional individual e/ou coletivo.

Segundo Marcelo (2011, p. 50)

refieren al conocimiento y los valores que maestros y profesores deben poseer para transmitir a los estudiantes, a lo que se agrega el manejo de métodos de enseñanza relacionados con los contenidos, las competencias comunicacionales que les permitan interactuar con estudiantes, padres, colegas; el dominio de técnicas derivadas de los avances más modernos de las tecnologías de la información y la comunicación, las competencias para la investigación y la refl exión acerca de sus propias prácticas.

Ou seja, é exigido que os professores estejam em permanente movimento formativo para alcançar os objetivos de uma formação política social dos estudantes. E esse movimento exige dos professores (formadores e formandos) um diálogo que permita um ato de ensinar com escuta (FREIRE, 1997).

Podemos sinalizar que a formação do professor de educação física não fora algo muito articulado com princípios pedagógicos até a década de 1980 no Brasil. A história nos mostrou um perspectiva ginástica em que o foco do ensino de educação física era o trabalho calistênico como modelos de ginásticas suecas, francesas, trazidas pelos militares no século XIX; em seguida as aulas de educação física na escola eram focadas em aspectos higiênicos e eugênicos; as escolas militares trouxeram os aspectos físicos e

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motores e a preparação com toda força para um modelo de formação nas aulas de educação física na escola; o boom esportivo mundial trouxe o esporte para o trabalho do professor de educação física na escola (CASTELANI, 1988). É fato que por dentro dessa história temos outras histórias como aponta o autor, contudo o foco é mostrar como é marcante na formação do professor de educação física aspectos físicos e técnicos tão criticados a partir de 1980 e que ainda vivem pulsantes no contexto escolar.

As abordagens pedagógicas da educação física trouxeram um novo/outro olhar para a escola. Ancoradas em diversas perspectivas todas propuseram um mesmo movimento: pensar pedagogicamente o ensino de educação física no contexto escolar se afastando de aspectos somente físicos e esportivos (DARIDO e RANGEL, 2005).

Atualmente consideramos que as discussões e proposições de Marcos Garcia Neira tem nos permitido pensar de forma mais alargada o processo formativo aos professores de educação física. Segundo Neira (2007, 2009) a educação física precisa pensar a cultura e a diferença, o poder e suas significações, dentre outras temáticas que permitem atender as necessidades formativas dos estudantes nos contextos escolares.

Articulando então os aspectos do desenvolvimento profissional, o inacabamento formativo de professores, a educação física cultural buscamos promover a formação continuada aos professores de educação física envolvidos no Projeto Escola Plena na tentativa de possibilitar um novo/outro olhar para as práticas na escola.

3. Professores das Escolas Plenas e a Formação Continuada

O Projeto Escola Plena foi implantado no estado de Mato Grosso em 2017 com 14 Escolas Plenas. É uma proposta de educação integral em tempo integral. Está proposta foi implantada em atendimento a meta 06 do Plano Nacional de Educação (Lei nº.

13.005/2014 de 25 de junho de 2014) e meta 16 do Plano Estadual de Educação (Lei nº 10.111 de 06 de junho de 2014).

A Escola Plena tem uma proposta que envolve além do aumento de carga horária metodologias e disciplinas que buscam potencializar a formação integral dos estudantes.

Tem um trabalho voltado ao desenvolvimento de ações pedagógicas para garantir emancipação e autonomia dos estudantes. O foco da Escola Plena é o desenvolvimento de ações protagonistas dos estudantes, bem como promover vivências que se articulem com o movimento contemporâneo social e cultural do mundo.

Buscando manter o foco em aspectos voltados para a formação integral dos estudantes das Escolas Plenas a equipe de implantação do Projeto no estado detectou, a partir de diálogos com docentes e gestores das Escolas Plenas, que as ações dos professores de educação física poderiam potencializar as ações de educação integral no

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cotidiano escolar. Nasceu então a necessidade formativa para promover novas/outras práticas em educação física na escola que não fossem apenas aquelas voltadas aos aspectos físicos e esportivistas como mencionam Darido e Rangel (2005) e ampliassem suas práticas para um modelo de educação física cultural (NEIRA, 2007, 2009).

A partir deste diálogo iniciamos um debate interno na Equipe de Implantação do Projeto Escola Plena para realizar o desenho do processo de formação continuada. Na equipe somos em dois professores de educação física, e ficou sob nossa responsabilidade a construção inicial da proposta.

Ao discutirmos a organização da formação centramos a ideia inicial em uma reflexão teórico prática com os olhares sob o objeto de estudo e ensino da educação física na escola, ou seja, na cultural corporal. Pensamos com Neira e Nunes (2006) e Neira (2007, 2009) que as práticas das aulas de educação física nas Escolas Plenas precisavam chegar em um modelo de educação física cultural, aquela que se articula com aspectos da cultura corporal das comunidades escolares e que promova o maior número de possibilidades para os estudantes.

Dessa forma organizamos uma discussão inicial sobre o que é a educação física no contexto escolar e quais eram, dentre várias, as manifestações corporais possíveis a serem trabalhadas nas escolas. A formação foi realizada em três dias e contou com três momentos: no primeiro discutimos as concepções teórico metodológicas do ensino de educação física, em seguida organizamos práticas corporais para vivência do grupo de professores e terminamos com uma discussão dos dois primeiros momentos.

Trabalhamos com um grupo de 20 professores de educação física.

Iniciamos o primeiro momento com a seguinte pergunta: o que se ensina em educação física? Para que cada um dos professores participantes respondesse individualmente. Em seguida iniciamos a discussão dos sentidos de educação física na escola como linguagem, buscando ampliar o contexto pedagógico da área. Como linguagem a educação física é marcada pela construção de textos da cultura e dos gestos corporais, pois como afirma Neira (2007, p.10) ―ao se movimentarem, homens e mulheres expressam intencionalidades, comunicam e veiculam modos de ser, pensar e agir característicos, ou seja, culturalmente impressos em seus corpos. ‖

Foi um momento de construção de desconstrução. Um momento de rever e ver sentidos outros sobre como e o que ensinar nas aulas de educação física. Nas respostas à pergunta feita inicialmente alguns afirmavam que as aulas de educação deveriam tratar de esportes e aspectos ligados à saúde dos estudantes, outros assumiam uma leitura mais crítica pedagógica trazendo elementos da cultural corporal para o debate, tais como as lutas, jogos e outros.

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Após esse momento fizemos uma manhã de práticas corporais. Trabalhamos com lutas, danças, ginástica rítmica e jogos. A vivência foi rica e participativa. Como apontou Marcelo (2009) o desenvolvimento profissional promovido de forma coletiva proporciona trocas de aprendizagens para os professores, fato perceptível já no momento de práticas em que os professores participantes já discutiam em si como o movimento expressa tantos textos.

Para fechar a formação continuada trabalhada com os professores de educação física das Escolas Plenas trabalhamos em um momento de articulação entre os dois momentos anteriores. A partir do diálogo com todos os participantes nos debruçamos de forma coletiva e colaborativa ao debate acerca de entender a educação física como linguagem, buscando a compreensão de uma educação física cultural.

Neste momento entregamos a mesma questão do início da formação, com a resposta deles, e solicitamos que fizessem a análise da resposta e se gostariam de acrescentar ou retirar algo. Dos 20 professores participantes da formação mais de 60%

fizeram alguma mudança em suas respostas.

Ampliando o diálogo com o grupo abordamos a necessidade de ampliar as experiências corporais culturais dos estudantes, bem como articular as demandas sociais, culturais, tecnológicas, dentre outras.

Os professores de educação física participantes da formação continuada trouxeram exemplos ao final que articularam a educação física cultural como linguagem no contexto escolar, refletindo acerca dos textos construídos nos movimentos dos corpos dos estudantes nos momentos de danças, lutas, atividades circenses, vídeo games, entre outras experiências.

4. Conclusões

A experiência vivenciada como formadores com os professores de educação física das Escolas Plenas nos proporcionou compreender e ampliar, de forma coletiva e colaborativa, que o ensino da educação física precisa tratar da cultura corporal ampliando cada vez mais o repertório de manifestações corporais entendendo-as como linguagem.

O desenvolvimento profissional destes professores pode ser ampliado, recriado, revivido. A perspectiva de formação continuada como/no/pelo diálogo horizontal permitiu o crescimento dos participantes.

Acreditamos que outros momentos formativos como este podem promover desenvolvimento profissional aos professores de educação física para que estes possam ter melhores condições teórico práticas para os processos de aprendizagens dos estudantes. É certo que outros condicionantes influenciam boas práticas docentes,

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contudo os aspectos dialogados na formação continuada potencializaram e podem potencializar novas/outras práticas pedagógicas dos professores de educação física.

5. Referências

BRACHT, V. Educação física e aprendizagem social. 2. ed. Porto Alegre: Magister, 1997.

CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta.

Campinas: Papirus, 1988.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino de educação física. São Paulo:

Cortez, 1992.

DAÓLIO, J. Educação física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados, 1992.

DARIDO, S. C.; RANGEL. I. C. A. Educação física na escola. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 2005.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Cortez: São Paulo, 1997.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 50 ed. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 2011.

MARCELO, C. Desenvolvimento Profissional Docente: passado e futuro. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 08, pp. 7-22, 2009.

MARCELO, C. La profesión docente en momentos de cambios. ¿Qué nos dicen los estudios internacionales? Participación Educativa, 16, pp. 49-68, 2011.

NEIRA, M. G. e NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas.

São Paulo: Phorte, 2006.

NEIRA, M. G. Ensino de Educação Física. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

NEIRA, M. G. Educação Física, currículo e cultura. São Paulo: Phorte, 2009.

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