PESCA AMEAÇA RESERVA MARINHA DE SANTOS
Informativo Santos/São Paulo – Brasil
Dezembro de 2002
A pesca predatória e a fiscalização escassa ameaçam esgotar as fontes de alimentação de baleias, golfinhos e tartarugas e estão colocando em risco o ecossistema do principal santuário ecológico marítimo do litoral paulista.
A 40 km da costa, o Parque Estadual Marinho da Laje
de Santos é alvo do assédio de barcos pesqueiros e de praticantes da caça submarina e pesca esportiva, segundo a própria administração do parque, o Ministério Público e operadores de mergulho.
Além das evoluções de baleias e golfinhos, é possível apreciar entre os parcéis (formações rochosas submersas) arraias, polvos, estrelas-do-mar e variadas espécies de peixes.
Na base das lajes (rochas que afloram à superfície), habitam e fazem seus ninhos diferentes tipos de aves.
Em nome da conservação, o decreto estadual que criou o parque, em 1993, impôs restrições às atividades na área, que
Equipe de proteção do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos (SP) depois de colocar no local uma placa de proibido pescar; a fiscalização escassa e a pesca indiscriminada ameaçam o ecossistema do santuário ecológico marinho
Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
não tem nenhum tipo de sinalização e está demarcada só em cartas náuticas.
Na prática, a única atividade permitida é o mergulho e a visitação para fins contemplativos. A pesca, mesmo com uma simples varinha, é considerada crime ambiental. Também não é permitido subir nos rochedos ou lançar âncoras sobre o fundo de corais.
Mas
operadores de mergulho dizem presenciar com freqüência a pesca indiscriminada no local.
“Há barcos que levam pessoas para lá exclusivamente para pescar, e elas chegam a voltar com 300, 350 quilos de peixe. Além disso, , tem o cara que nada até as pedras e espanta as aves”, afirma João Paulo Scola, há cinco anos operador de mergulho no parque.
“A incidência maior é de embarcações de pesca esportiva, mas encontramos muitos barcos pesqueiros ancorados próximo às pedras. Eles jogam latas, caixinhas de leite e todo tipo de lixo no mar”, disse Moacyr Teófilo de Abreu Figueiredo, instrutor de mergulho que há 20 anos freqüenta a laje semanalmente.
Em agosto, dois iates foram autuados pescando com varas na área da laje durante uma das raras operações conjuntas de fiscalização das polícias Ambiental, Federal e da Marinha. Neste mês, um instrutor de mergulho formalizou queixa contra barcos pesqueiros à Ouvidoria da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
O dano ambiental mais grave, porém, é provocado pela chamada “pesca de arrasto”, praticada com redes e capaz de arrebanhar cardumes inteiros.
Funcionário do parque da Laje, em Santos, transporta placa de aviso sobre proibição de pesca
Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
“O que a gente tem é um parque no papel. Até hoje, não há um plano de manejo, e a Polícia Ambiental não possui sequer um barco para fiscalizar”, declarou Ana Paula Fernandes Nogueira da Cruz, promotora do Meio Ambiente em Santos.
A diretora do parque, a oceanógrafa e bióloga Mabel
Augustowski, diz receber pelo menos uma denúncia mensal de pesca irregular, mas não pode verificar. “temos uma grande deficiência de recursos. Não possuímos embarcações própria e, para fazer a fiscalização, dependemos da Polícia Ambiental”, afirmou.
Cedida pelo Instituto Florestal para a Polícia Ambiental, a embarcação Mirassol, de 40 pés, está parada há mais de um
Folha Imagem
ano em um estaleiro no Guarujá, à espera do repasse pelo Estado dos R$ 20 mil, necessários para concluir a reforma.
Quando estiver consertado, o barco será empregado prioritariamente em operações na laje, informou o tenente Wantuil Andrade, do 3º Batalhão de Polícia Ambiental, responsável por todo o litoral paulista e pelos vales do Ribeira e do Paraíba.
Ecossistema é delicado
A principal ameaça resultante da exploração da pesca e das agressões à natureza na região da laje é a quebra da cadeia alimentar dos animais que habitam o local ou o utilizam como ponto de passagem de suas rotas migratórias, segundo a diretora do parque.
“Há uma relação entre os animais marinhos e os que estão fora do mar”, afirmou.
Exemplo disso, segundo ela, são as aves, que se alimentam de peixes e liberam fezes ricas em nutrientes para organismos aquáticos. Estes, por sua vez, servem de alimento para as algas, que abrigam pequenos animais consumidos pelas tartarugas.
Pescadores negam efeito predatório
Praticantes da pesca esportiva e pescadores profissionais minimizam o impacto ambiental da atividade e acusam os operadores de mergulho de formular denúncias com o objetivo de exercer um “monopólio” comercial sobre a área.
“essa área está sendo explorada por negociantes. São barcos para mergulho que conseguiram um decreto para que somente eles possam levar seus clientes para a laje. O monopólio tomou conta”, afirma o diretor de pesca do Iate Clube de Santos, David Alhadelff.
“O que esse pessoal quer é desviar a atenção do monopólio que praticam. Eles querem Ter aquilo só para beneficio próprio”, disse Luiz Demétrio de Araújo Filho,
presidente do Sindicato dos Pescadores Assemelhados do Estado de São Paulo.
Alhadelff nega que a pesca esportiva tenha caráter predatório. Ele se opõe à proibição no parque, mas garante que
“há respeito à lei” entre os proprietários de iates que partem da sede do clube, no Guarujá.
Para Araújo Filho, é “praticamente impossível” pescar na região da laje por dois motivos: escassez de peixes e risco de prejuízo por dano ao equipamento, devido às pedras existentes no fundo.
Fonte: Folha de São Paulo Fausto Siqueira