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O Meridiano de Greenwich

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Academic year: 2022

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O Meridiano de Greenwich

Iran Carlos Stalliviere Corrêa

Departamento de Geodésia, Instituto de Geociências-UFRGS

Av. Bento Gonçalves,9500 Caixa Postal 15.001 91501-970 Porto Alegre-RS

O Meridiano de Greenwich é o meridiano imaginário que passa pela localidade de Greenwich, exatamente pelo centro do Observatório Real, nos arredores de Londres, Inglaterra e que, por convenção, divide o globo terrestre em ocidente e oriente, permitindo, a partir deste, medir a longitude. Foi estabelecido por Sir George Biddell Airy em 1851. Definido, por acordo internacional em 1884, como o primeiro meridiano, serve de referência para calcular distâncias em longitudes e estabelecer os fusos horários. Cada fuso horário corresponde a uma faixa de quinze graus de longitude de largura, sendo a hora de Greenwich chamada de Greenwich Mean Time (GMT).

Antes de Greenwich

Como se sabe, o meridiano de Greenwich é usado como ponto de partida para a contagem dos graus de longitude. Mas nem sempre foi dessa maneira.

Em seu Tratado de Geographia Universal, Physica, Historica e Politica, publicado em 1858, Balbi descreve a contagem a partir do meridiano de Greenwich como: ... “os graus de longitude, contados de um meridiano de convenção, a que chamam primeiro meridiano, apresentam dois modos de contagem, a saber : ou até 360º começando do primeiro meridiano para o oriente até o encontrar pela parte ocidental, ou até 180º para a parte oriental, e até outros 180º para a parte ocidental, e em caso tal é mister que se declare expressamente se a longitude é oriental ou ocidenta.”

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Quanto a um meridiano de convenção, convém saber, que Ptolomeu adotou o meridiano das Ilhas Afortunadas ou Ilhas Canárias, por estas ilhas se acharem no limite ocidental dos países conhecidos naquele tempo. Entretanto Luís XIII, rei de França, determinou por decreto aos geógrafos franceses de referirem as longitudes ao meridiano da Ilha de Ferro, que é a ilha mais ocidental do arquipélago das Canárias. Os holandeses, por sua vez, adaptaram o meridiano do Pico de Tenerife; enquanto que Gerardo Mercator, célebre geógrafo, escolheu o meridiano da Ilha do Corvo no arquipélago dos Açores, porque observou que nesta localidade a declinação magnética era igual a zero. Outros paises estabeleceram, como meridiano de referencia, o meridiano que passava por seus observatórios. Os franceses reportam-se ao meridiano do observatório de Paris, os ingleses ao de Greenwich, os espanhóis ao de Cádis, e os portugueses ao de Coimbra ou ao de Lisboa.

Como se vê, era uma tremenda confusão, naquela época, para se determinar que meridiano deveria ser considerado para a contagem dos graus de longitude.

Após Greenwich

Apesar da confusão em relação ao meridiano principal, já no ano de 1884 mais de um terços dos navios usavam o Meridiano de Greenwich como referência de longitude. No mês de outubro de 1884, sob os auspícios de Chester A. Arthur, então presidente dos Estados Unidos, 41 delegados de 25 nações se encontraram em Washington, DC para a Conferência Internacional do Meridiano. Esta Conferência selecionou o Meridiano de Greenwich como meridiano principal, devido à sua popularidade.

Votaram em favor do Meridiano de Greenwich o Império Austro- Húngaro, o Chile, a Colômbia, a Costa Rica, a Alemanha, o Reino Unido, a Guatemala, o Hawaii, a Itália, o Japão, a Libéria, o México, os Países Baixos, o Paraguai, a Rússia, a Espanha, a

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Suécia, a Suíça e a Turquia. O Brasil e a França, todavia, abstiveram-se do voto (por várias décadas ainda, os mapas franceses permaneceram usando o Meridiano de Paris como meridiano zero) e a República Dominicana votou contra. Os representantes dos Estados Unidos, da Venezuela e de El Salvador faltaram à votação.

A invenção da hora legal

O meridiano de Greenwich desenhado traçado no chão do Real Observatório.

Hoje, conhecer à hora em diferentes locais do mundo não é mais um problema, mas há um século atrás era um problema muito complicado. Cada localidade utilizava o seu próprio tempo solar que variava de um minuto a cada 18 km de leste para oeste, a hora mais tardia estava situada a leste. Na época, na qual 18 km constituíam um longo trajeto, essas diferenças de horas geravam poucos problemas. Foi com o advento das estradas de ferro, que esse problema se tornou mais sério para os viajantes, que com freqüência eram obrigados a fazer correspondência entre um trem e outro, sendo obrigados a esperarem o próximo trem durante horas. Isso gerou também o problema de segurança: dois trens que

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utilizassem referências temporais diferentes corriam o risco de circular na mesma via ferroviária em direções opostas.

Ao meio dia, em 18 de novembro de 1883, a rede ferroviária norte americana, adotou um sistema de tempo legal baseado em fusos horários de uma hora. No entanto, foi necessário muito tempo, antes que esse sistema se estendesse para todo o planeta.

Na realidade, quem foi o responsável pelo desenvolvimento de um sistema de hora universal? Nos livros de história, as respostas variam de acordo com a nacionalidade dos autores.

Entretanto a verdade é que a Inglaterra foi a primeira a normalizar a hora, as companhias ferroviárias impuseram a hora legal, utilizando a hora de Londres. Em novembro de 1840, a Great Western Railway torna-se a primeira companhia ferroviária a adotar a hora de Londres. Desde 1847, a maior parte das companhias ferrovias já havia adotado à hora de Londres, que só seria obrigatória em 1880.

William Wollaston, cientista conhecido por haver observado as riscas escuras dos espectros de absorção, foi o primeiro a conceber a hora normal, mas a idéia não foi aceite. Abraham Osler popularizou a idéia. Na época, Osler era o guardião do relógio do Philosophical Institut de Birmingham. Esse relógio fornecia a hora solar com sete minutos de avanço em relação à cidade de Londres. Osler realizava observações astronômicas regulares no terraço do Instituto e reajustava a hora do seu relógio.

Todos os domingos, os guardiões dos relógios das igrejas da cidade ajustavam sua hora com a do Instituto. Osler era então a favor da hora legal de Greenwich; mas perguntava a si mesmo como fazê-los aceitá-la sem provocar a revolta da maior parte da população de Birmingham.

A América do Norte contava 144 fusos horários oficiais.

Charles Dowd, um educador de Madison, Connecticut, sugeriu a adoção de quatro meridianos standard, dividindo os Estados

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Unidos em quatro fusos horários. A partir de 1869, Dowd convocou os representantes das estradas de ferro para expor suas idéias, pronunciando conferências, enviando textos aos jornais e aos ciclos científicos. Em 1870, ele propôs sua idéia ao Congresso dos EUA, mas esta não foi aceita.

O canadense Sir Sanford Fleming teve um papel decisivo no desenvolvimento de um sistema que permitisse estabelecer a hora legal. Fleming foi a origem dos esforços que conduziram a adoção dos fusos horários utilizados pelas companhias ferroviárias a partir de 1883 e dos fusos horários que são hoje utilizados em escala mundial. Ele preconizou a divisão do planeta em 24 fusos horários, cada um deles correspondendo a 15º de longitude e o intervalo de tempo de uma hora, começando pelo meridiano de Greenwich (longitude zero). Teve também um papel determinante na convocação da conferência internacional do meridiano origem (The International Meridian Conference), em Washington, da qual deveriam participar representantes de todos os países da Europa, da América do Norte, América do Sul e da Ásia com o objetivo de adotarem o sistema da hora local de Fleming. Mesmo não tendo sido ele o inventor da hora legal, foi, no entanto, quem mais lutou para que a sua idéia fosse estendida para todo o planeta.

Detalhe do meridiano de Greenwich marcado no chão do Observatório de Greenwich na Inglaterra.

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A necessidade de unificação da hora tornou-se uma exigência inadiável e legítima tendo em vista a multiplicação das relações entre as nações. Em conseqüência da aplicação do vapor à marinha, da eletricidade aos meios de comunicação, as transações comerciais se intensificavam com grande rapidez a cada dia que passava, mostrando as desvantagens e os inconvenientes de unidades de medidas diferentes para cada nação. Ainda no século XVIII, a França tinha tomado a iniciativa de criar um sistema decimal assim como a proposta de um sistema que utilizasse unidades de medidas que fossem comuns a todas as nações. O sucesso na utilização do sistema de pesos e medidas conduziu a questão de um meridiano geográfico único e há de uma hora que seria a mesma para todo o globo terrestre.

Na Conferência de Roma, realizada em 1883, optou-se por dividir o planeta em 24 linhas imaginárias, chamadas meridianos ou longitudes. Estas linhas estão separadas umas das outras por cerca de 15 graus de distância – o ângulo que a Terra gira em uma hora. A partir de 1884, Greenwich (0º) foi adotado, por acordo internacional, como o meridiano de origem. Desde a adoção do referencial de Greenwich, os meridianos são usados para determinar os fusos horários ao longo do globo terrestre. Por convenção, cada uma das 24 faixas situadas entre os meridianos da Terra tem a mesma hora em relação às outras. Após este acordo internacional, a Europa passou a ter três horas diferentes e a América cinco, facilitando a vida de todos.

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Fusos horários

Desde 1913, o Brasil encontrava-se dividido em quatro fusos horários. O primeiro fuso atinge a ilha de Trindade e o arquipélago de Fernando de Noronha onde a hora legal é a de Greenwich menos duas horas; no segundo fuso, que inclui todos os estados litorâneos e os estados interiores (com exceção de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, e parte oeste do Pará), a hora legal é a de Greenwich menos três horas; o terceiro fuso, caracterizado pela hora de Greenwich menos quatro horas, compreende a parte oeste do Estado do Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e a região do Amazonas que fica a leste do círculo máximo que, partindo de Tabatinga vai até Porto Acre; o quarto fuso de menos de cinco horas, compreende o Estado do Acre e a zona do Estado do Amazonas a oeste da linha descrita anteriormente.

Em outubro de 1912, a convite do governo francês, o Brasil participou da Conférence Internationale de l'Heure, no Observatório de Paris, durante a qual, adotou-se, finalmente, o sistema de fusos horários e o meridiano de Greenwich como a origem das longitudes e, portanto, da hora.

Foi então pela lei nº 2.784, de 18 de junho de 1913, sancionada a resolução do Congresso Nacional adotado a hora

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legal no Brasil. Só após essa data é que realmente começou o governo a exercer o controle direto e efetivo sobre a hora, ficando o País dividido em fusos horários tendo como base o meridiano de Greenwich. (RRFM).

A emissão de sinais radiotelegráficos da hora foi iniciada pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro em 1.º de junho de 1918. Pode-se afirmar que desde então o Brasil, nos grandes centros como nas cidades e municípios mais longínquos, onde quer que exista um receptor de rádio, graças ao rápido progresso da radiofonia, a hora emitida pelo Observatório Nacional, em ondas médias e curtas, pôde ser recebida.

A partir de 24 de abril de 2008 o Brasil passa a ter somente três fusos horários. Esta mudança está baseada na Lei N° 11.662.

O primeiro fuso, com duas horas de diferença de Greenwich, corresponde as ilha de Trindade e o arquipélago de Fernando de Noronha; com três horas os estados litorâneos, Minas Gerais, Goiás e Tocantins (hora oficial do País) e com quatro horas os estados do Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Novos Fusos Horários do Brasil

Referências

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