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Rev. Bras. Psiquiatr. vol.23 suppl.2

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Academic year: 2018

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SII 1

Rev Bras Psiquiatr 2001;23(Supl II):1-2

Apresentação

U m s u p le m e n t o d e a t u a liz a ç ã o e m

t r a n s t o r n o o b s e s s iv o - c o m p u ls iv o

O

transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) vem receben-do muita atenção receben-dos pesquisareceben-dores nos últimos anos, possivelmente pela conjunção de dois fatores: estu-dos epidemiológicos mostrando que é um transtorno comum em praticamente todas as culturas, atingindo em média 2% da população (vide artigo sobre epidemiologia e aspectos trans-culturais), e os avanços terapêuticos mais recentes. Na verda-de, até os anos 80 era considerado um quadro raro e pratica-mente intratável que, em geral, despertava muita impotência e pouco interesse nos profissionais de saúde mental.

Trata-se, sem dúvida, de um transtorno instigante e potenci-almente gerador de grande sofrimento, em função de suas ca-racterísticas clínicas: a crítica, em geral preservada, associa-se com freqüência à vergonha e à ocultação dos sintomas pelo paciente, que tenta sozinho resolver um conflito que se renova permanentemente. Até os familiares podem desconhecer a exis-tência do problema ou questionar o caráter patológico das ma-nifestações, exigindo do portador um controle que foge ao seu alcance, amplificando o desgaste inerente ao quadro (vide arti-gos sobre quadro clínico e relação família-paciente).

Nem sempre de fácil diagnóstico, o TOC é talvez o protótipo do transtorno que desafia as tentativas de categorização em normal e patológico, neurótico e psicótico, orgânico e psicogênico e mesmo as fronteiras com outros transtornos psi-quiátricos (vide artigos sobre diagnóstico diferencial e comor-bidade). Além disso, não há consenso sobre sua manifestação psicopatológica fundamental: envolveria, em sua essência, al-teração de humor – ansioso ou depressivo? –, volição/pragma-tismo, memória, pensamento/juízo?

Apesar do número crescente de trabalhos científicos, o TOC continua em grande parte um enigma para os pesquisa-dores. Sua etiopatogenia e questões sobre diversidade de sintomas, curso clínico e prognóstico continuam sem res-posta (vide artigos sobre TOC na infância, quadro e curso clínicos). Apesar de novas abordagens terapêuticas mais eficazes terem surgido, muitos pacientes não respondem aos tratamentos atuais (vide artigo sobre tratamento do TOC re-fratário). Na busca dessas respostas, estudos utilizando di-ferentes métodos de pesquisa têm demonstrado, cada vez mais, que o TOC é um transtorno heterogêneo, englobando conjuntos de pacientes com características peculiares a cada subgrupo. Essa diversidade tem levado à necessidade de identificar subtipos mais homogêneos de pacientes e de buscar fatores preditivos de resposta ao tratamento (vide artigo sobre possíveis subtipos do TOC). Acredita-se que só assim será possível determinar fatores importantes na

pa-togênese e desenvolver intervenções terapêuticas mais pre-cisas e eficazes.

Na Figura abaixo apresenta-se um modelo que enfatiza a inte-ração entre diversos fatores na etiopatogenia do TOC.1

Resu-mindo, presume-se que genes de vulnerabilidade interagindo com fatores ambientais têm um papel crucial na formação e/ou no funcionamento de circuitos neuronais específicos. Estes, por sua vez, constituem os substratos neurobiológicos para a expressão de fenótipos específicos. Artigos sobre aspectos genéticos, neuroimunológicos, neuroquímicos, neurorradioló-gicos, neuropsicológicos e cognitivos discutem as diferentes teorias, integrando esses diversos fatores na etiologia do TOC.

Os novos avanços nas abordagens terapêuticas farmacoló-gicas e psicolófarmacoló-gicas do TOC (vide artigos sobre tratamento farmacológico, terapia comportamental e cognitiva) têm sido tão significativos que vêm aumentando de modo considerável a esperança de pacientes e familiares e a gratificação dos pro-fissionais que os assistem. O controle sintomatológico, agora muito mais atingível, permite uma mudança substancial e de valor inestimável na qualidade de vida da maioria dos portado-res. Nos casos em que medicações são indicadas por um longo período, conta-se atualmente com estratégias eficazes para o alívio dos sintomas colaterais (vide artigo sobre manejo dos efeitos colaterais das drogas antiobsessivas).

Foram esses os motivos que nos levaram a elaborar o presente suplemento. Apesar do tema, certamente não estará perfeito. Mas, trata-se de um volume de atualização abrangente, que aborda di-versos aspectos do TOC de forma objetiva e clara, pretendendo

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SII 2

Rev Bras Psiquiatr 2001;23(Supl II):1-2

Apresentação Torres AR & Miguel EC

Referências

1. Leckman JF, Peterson BS, Pauls DL, Cohen DJ. Tic Disorders. Psychiatric Clin North Am 1997;20(4):839-62.

ser uma referência prática e útil para psiquiatras e residentes de psiquiatria de todo o Brasil, além de outros profissionais de saúde mental, na compreensão e no manejo desses casos. Temos consci-ência de que a atualização profissional constante é cada vez mais necessária e, contudo, mais difícil, dada à enorme quantidade de pesquisas e publicações disponíveis. Selecionar informações de forma crítica e útil foi, portanto, um de nossos principais objetivos. Todos os artigos deste volume contêm, entre seus auto-res, profissionais experientes que já desenvolveram estudos sistemáticos sobre o TOC. Acredita-se, assim, cumprir o ob-jetivo de divulgar informações científicas atualizadas que, espera-se, revertam na melhoria da qualidade da assistência prestada aos pacientes e, como decorrência, no alívio do sofrimento causado pelos sintomas obsessivo-compulsivos.

Agradecimentos

Este trabalho teve o apoio financeiro da Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp – Processo nº 99/08560-6) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Processo nº 521369/96-7) para Miguel EC.

Albina R Torres

Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp

Eurípedes C Miguel

Imagem

Figura - Interação de fatores etiopatogênicos (modificado de Leckman et al 1 ).

Referências

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