SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM MADEIRA DESTINADOS À HABITAÇÃO NO PARANÁ RICARDO DIAS SILVA 1 ADMIR BASSO 2

S I S T E M A S C O N S T R U T I V O S E M M A D E I R A D E S T I N A D O S À H A B I T A Ç Ã O N O P A R A N Á

R I C A R D O D I A S SILVA

A D M I R B A S S O

SILVA, R.D.; B A S S O , A. S i s t e m a s construtivos em m a d e i r a destinados à h a b i t a ç ã o no P a r a n á . Semina:

Ci. Exatas/Tecnol. L o n d r i n a , v. 2 1 , n. 4, p. 83-88, d e z . 2 0 0 0 .

RESUMO: A presença das construções em madeira na paisagem das cidades paranaenses foi muito significativa na primeira metade do século XX, no entanto, alterações profundas vêm ocorrendo. O que se vê hoje é uma cada vez mais insignificante presença destas construções no ambiente urbano. Este trabalho parte do conceito de sistema construtivo e, após identificar os presentes no estado do Paraná, descreve

aqueles empregados pela população pioneira e os atuais modelos desenvolvidos pelas empresas de "pré- fabrícação". O enfoque é para a casa de madeira identificada como habitação de interesse social. A classificação dos sistemas construtivos possibilita a comparação dos mesmos e a constatação que, quando não houve um retrocesso, foram poucos os avanços tecnológicos neste setor da construção civil.

PALAVRAS-CHAVE: construções em madeira; habitação de interesse social; sistema construtivo.

I N T R O D U Ç Ã O

P a r a c l a s s i f i c a r o s s i s t e m a s c o n s t r u t i v o s i m p l a n t a d o s n o P a r a n á a d o t a - s e o c o n c e i t o difundido por P i c a r e l l i ( 1 9 8 6 ) que define c o m o sistema c o n s t r u t i v o p a r a habitação "um conjunto de materiais, elementos e componentes que se utilizam segundo determinadas regras de combinação, para concretizar o objeto arquitetônico". De a c o r d o c o m a autora, materiais ao sofrerem t r a n s f o r m a ç õ e s f o r m a m componentes que originam, m e d i a n t e r e g r a s de combinação, os elementos, estes, a d i c i o n a d o s a outros elementos constituem um s u b s i s t e m a q u e , s o m a d o a outros, resultam e m u m s i s t e m a construtivo.

A d i s t i n ç ã o e n t r e o s s i s t e m a s c o n s t r u t i v o s existentes é r e s u l t a d o d o s m é t o d o s e processos utilizados, assim c o m o , do tipo de equipamento e d o t e m p o d e e x e c u ç ã o . S i n t e t i c a m e n t e e s t e s sistemas s u b d i v i d e m - s e e m :

a) s i s t e m a t r a d i c i o n a l - utiliza m é t o d o s e p r o c e s s o s e m p í r i c o s , intuitivos, materiais locais e e q u i p a m e n t o s de uso c o m u m . b) sistema c o n v e n c i o n a l - utiliza m é t o d o s e

processos p a r c i a l m e n t e normalizados, c o m c o m p o n e n t e s p a d r o n i z a d o s e e l e m e n t o s produzidos fora do canteiro de obras, a produção é m a n u a l , d e s p e r d i ç a material e é lenta.

c) sistema racionalizado - faz uso de métodos e processos sistemáticos de o r g a n i z a ç ã o , elimina o desperdício de material, diminui o custo e o prazo de execução m e l h o r a n d o a qualidade do produto final.

d) sistema industrializado - pressupõe m é t o d o s e processos de p r o d u ç ã o em s é r i e , de pré- fabricação total ou parcial, uso de e q u i p a m e n t o s mecânicos e/ou automatizados c o m o intuito de diminuir a quantidade de material, o custo e o tempo de execução, ao m e s m o t e m p o que amplia a qualidade e garante a intercambial idade dos c o m p o n e n t e s c o n s t r u t i v o s .

A s diversas classificações a d o t a d a s p a r a o s s i s t e m a s construtivos e m m a d e i r a n a l i t e r a t u r a i n t e r n a c i o n a l p o d e m ser r e s u m i d a s s o b q u a t r o e n f o q u e s : o grau de industrialização, o material utilizado nas paredes, a tipologia estrutural e o porte da construção (construção pesada, semi-leve e leve).

1 P A N O R A M A N A C I O N A L

A grande dificuldade em e s t a b e l e c e r um quadro q u e d e m o n s t r e a s e x p e r i ê n c i a s r e a l i z a d a s n o Brasil, na área da construção em madeira, e n c o n t r a - se na reduzida bibliografia s o b r e o a s s u n t o e na g r a n d e dispersão destas h a b i t a ç õ e s n o território

1

Arquiteto, Mestre em Arquitetura, Professor na UEL, Campus Universitário, Caixa Postal 6001, CEP 86051 -990, Londrina, PR. Tel.

(43) 371 4535. E-mail: rdsilva@uel.br

2

Arquiteto, Doutor em Arquitetura, Professor na EESC/USP, Av. Carlos Botelho, 1645, CEP 13560-250, São Carlos, SP. Tel. (16)271 9283

Semina: Ci. Exatas/Tecnol., Londrina, v. 21, n. 4, p. 83-88, dez. 2000 83

84 Semina: C i . Exatas/Tecnol., Londrina, v. 21 , n. 4, p. 8 3 - 8 8 , d e z . 2 0 0 0

nacional. Identifica-se o u s o de tecnologias que s e a p r o p r i a m d a m a d e i r a , p r i n c i p a l m e n t e e m regiões c o m g r a n d e s r e s e r v a s florestais ou ligadas à s t r a d i ç õ e s c o n s t r u t i v a s d e u m a d e t e r m i n a d a população de i m i g r a n t e s , a l é m de experiências de u n i d a d e s o u c o n j u n t o s p o p u l a c i o n a i s p r o p o s t o s por centros de p e s q u i s a s vinculados ao t e m a . No intuito de a d e q u a r a h a b i t a ç ã o de interesse social às características c l i m á t i c a s e sociocuturais d a s d i v e r s a s r e g i õ e s d o p a í s e s t a s instituições t ê m desenvolvido d i v e r s o s protótipos. Destacam-se no d e s e n v o l v i m e n t o de p e s q u i s a s o b r e o t e m a o

Instituto de P e s q u i s a s T e c n o l ó g i c a s do Estado de S ã o P a u l o ( I P T ) , a F u n d a ç ã o C e n t r o d e D e s e n v o l v i m e n t o das A p l i c a ç õ e s das Madeiras do Brasil (DAM), a F u n d a ç ã o de Tecnologia do Estado do A c r e ( F U N T A C ) e o L a b o r a t ó r i o de M a d e i r a s e de Estruturas de M a d e i r a da EESC/USP.

Experiências isoladas t a m b é m têm ocorrido por i n i c i a t i v a d e a r q u i t e t o s q u e r e f e r e n c i a m s e u s projetos no "fazer p o p u l a r " ou n u m a l i n g u a g e m a r q u i t e t ô n i c a c o n t e m p o r â n e a , q u e e x p l o r a o potencial plástico d a m a d e i r a n o d e s e n v o l v i m e n t o d o s p r o j e t o s . A s s i m c o m o , n a c o n s t r u ç ã o d e habitações s u s t e n t á v e i s , o u seja, c o m p r o m e t i d a s c o m o uso de m a t e r i a i s l o c a i s , não e s g o t á v e i s e que s e a d e q ü e m a o c l i m a d a região para p o u p a r energia e g a r a n t i r o c o n f o r t o h u m a n o .

C o m o f o r m a d e c l a s s i f i c a ç ã o das habitações d e m a d e i r a n o B r a s i l , I n o ( 1 9 9 2 ) p r o p õ e a subdivisão em dois g r a n d e s grupos: Pilar e Viga.

onde os e l e m e n t o s e s t r u t u r a i s s ã o i n d e p e n d e n t e s da v e d a ç ã o e d o s P a i n é i s , o n d e as c a r g a s do telhado são t r a n s m i t i d a s p a r a as paredes q u e , por s u a v e z , as t r a n s f e r e m à f u n d a ç ã o . Este grupo r e ú n e g r a n d e p a r t e d a s c a s a s p r é - f a b r i c a d a s existentes no m e r c a d o nacional- Benevente (1 995) c o m p l e m e n t a e s t a c l a s s i f i c a ç ã o a g r e g a n d o a s C o n s t r u ç õ e s M o d u l a r e s q u e s ã o u n i d a d e s tridimensionais q u e p r e v ê e m o transporte do local de produção p a r a a á r e a de implantação.

2 A E X P E R I Ê N C I A DO P A R A N Á 2.1 Região Sul e C e n t r o S u l

Na região c o m p r e e n d i d a por Curitiba e seus arredores a c o n s t r u ç ã o d a s primeiras habitações de madeira foi possível g r a ç a s às grandes reservas f l o r e s t a i s e x i s t e n t e s na r e g i ã o e à t e c n o l o g i a construtiva t r a z i d a p e l o s p r i m e i r o s imigrantes a p a r t i r d a s e g u n d a m e t a d e d o s é c u l o X I X . O i m i g r a n t e p o l o n ê s , d e p e n d e n d o d e s u a procedência, f a z i a u s o d e u m a técnica construtiva diferente. De a c o r d o c o m Valentini (1982) e r a m

três as t é c n i c a s construtivas a d o t a d a s : a t a i p a de m ã o , os troncos encaixados e a alvenaria de tijolos.

A c a s a de tronco era feita c o m troncos e m p i l h a d o s h o r i z o n t a l m e n t e e e n c a i x a d o s nas e x t r e m i d a d e s , s e n d o a f u n d a ç ã o em pedra ou tijolo e as f r e s t a s

• p r e e n c h i d a s c o m barro. N a c o b e r t u r a e r a c o m u m o u s o d e c a s c a s d e á r v o r e e " t a b u i n h a s " , p o s t e r i o r m e n t e substituídas por telha c e r â m i c a ou d e z i n c o . E s t a s c o n s t r u ç õ e s p o s s u e m b a i x a c o n d u t i b i l i d a d e t é r m i c a , o que é i m p o r t a n t e nas r e g i õ e s d e c l i m a f r i o ; n o e n t a n t o a p r e s e n t a m p r o b l e m a s e x e c u t i v o s d e v i d o à v a r i a ç ã o dimensional das peças. De acordo c o m Bittencourt ( 1 9 9 5 ) , a p r i m e i r a e v o l u ç ã o destas c o n s t r u ç õ e s foi a s u b s t i t u i ç ã o d a s peças roliças por p r a n c h a s o u v i g a s d e m a d e i r a m a c i ç a . Esta s u b s t i t u i ç ã o introduziu o u s o de j u n ç õ e s mais e l a b o r a d a s c o m o a s l i n g ü e t a s s i m p l e s o u d u p l a s . O s i m i g r a n t e s a l e m ã e s c o n s t r u í r a m c a s a s c o m e n x a i m é i s , e s t r u t u r a s d e m a d e i r a c o m peças d i a g o n a i s d e t r a v a m e n t o e o s i n t e r v a l o s p r e e n c h i d o s p o r a l v e n a r i a .

Z a n i ( 1 9 9 7 ) a p o n t a a i n t e n s i f i c a ç ã o e exploração madeireira no Paraná a partir do s é c u l o XIX, devido à instalação de serrarias q u e p a s s a r a m a padronizar os e l e m e n t o s construtivos e difundir a a r q u i t e t u r a e m m a d e i r a . A l g u m a s p r á t i c a s c o n s t r u t i v a s f o r a m mais d i s s e m i n a d a s , c o m o a c o n s t r u ç ã o s o b r e pilaretes, para evitar a u m i d a d e e o uso de barrotes e vigas onde s ã o p r e g a d a s t á b u a s c o m a s fibras d a madeira n a v e r t i c a l s e n d o as j u n ç õ e s v e d a d a s por ripas. A d i v i s ã o i n t e r n a destas habitações era c o m p o s t a s por s a l a , q u a r t o s e c o z i n h a , às v e z e s utiliza-se o s ó t ã o d e v i d o a g r a n d e i n c l i n a ç ã o d o s t e l h a d o s — u m a t r a d i ç ã o e u r o p é i a . O a r r e m a t e dos telhados e r a f e i t o c o m lambrequim que servia c o m o pingadeira e p r o t e ç ã o do beirai. A preferência por este tipo de h a b i t a ç ã o a d v i n h a da r a c i o n a l i d a d e e f u n c i o n a l i d a d e , d a s m e s m a s , a s s o c i a d o a o baixo custo d a c o n s t r u ç ã o .

2.2 R e g i ã o N o r t e

As primeiras construções foram erguidas com estrutura de madeira roliça, vedação de palmito rachado, assoalho de tábuas cruas e telhas tipo "tabuinhas" tiradas do cedro ou do pinho;

em alguns casos lançava-se mão da madeira falquejada a machado ou serrada manualmente com a serra portuguesa. (Zani, 1 9 9 7 )

A p r e d o m i n â n c i a das c o n s t r u ç õ e s de m a d e i r a

explica-se pela pressa dos pioneiros em se instalar,

d e v i d o a f a l t a de m o r a d i a s e i n f r a - e s t r u t u r a ; a

a b u n d â n c i a d e m a t é r i a prima n a região q u e a l i a d o

ao g r a n d e n ú m e r o de s e r r a r i a s t o r n a o preço acessível à maior parte da população; e a grande quantidade de carpinteiros, o que fazia baixar o preço da mão-de-obra e agilizava o processo construtivo.

No repertório arquitetônico das habitações de madeira no norte do P a r a n á , c o n s t r u í d o com a p a r t i c i p a ç ã o d e d i v e r s o s g r u p o s d e i m i g r a n t e s europeus, c o m o a l e m ã e s , p o l o n e s e s , italianos e japoneses, f o r a m identificados por Zani (1997) três momentos distintos na i m p l a n t a ç ã o de casas de madeira: entre 1929 e 1940 as casas t i n h a m c o m o característica u m a v o l u m e t r i a pura c o m telhados d e 2 o u 4 á g u a s , s e m o r n a m e n t o o u c o r , d e m o n s t r a n d o s e u a s p e c t o provisório; no período de 1950 a 1960 registra-se o ápice da arquitetura d e m a d e i r a d a r e g i ã o q u a n d o a s c o n s t r u ç õ e s a p r e s e n t a m m a i o r c o m p l e x i d a d e v o l u m é t r i c a , riqueza de o r n a m e n t o s , texturas e c o r e s e; a partir dos a n o s 70 i n i c i a - s e a d e c a d ê n c i a e s t é t i c a e construtiva destas edificações. Nesta fase as casas t ê m c o m o c a r a c t e r í s t i c a s a v o l u m e t r i a simples,

a u s ê n c i a de p o r õ e s , v a r a n d a e o r n a m e n t o s , e também a i n c o r p o r a ç ã o de novos e l e m e n t o s c o m o o telhado de f i b r o c i m e n t o e a e s q u a d r i a metálica.

E s t a t i p o l o g i a s e a p r o x i m a m u i t o d o s a t u a i s sistemas c o n s t r u t i v o s d e s t i n a d o s à p o p u l a ç ã o de b a i x o p o d e r a q u i s i t i v o , c o m e r c i a l i z a d o s p o r e m p r e s a s p a r a n a e n s e s .

2.2.1 A técnica e o sistema construtivo tradicional Dentro do repertório arquitetônico das habitações de madeira d e s t a região do país, a variação da técnica e d o s s i s t e m a s c o n s t r u t i v o s é m í n i m a ; desta forma podemos determinar as características mais c o m u n s q u e v ã o d a c o n c e p ç ã o a o objeto final.

Estas casas s ã o identificadas por sua volumetria composta, por f o r m a s puras q u e p a r t e m da planta funcional e da g e o m e t r i a do t e l h a d o , q u e se inicia com duas ou q u a t r o á g u a s até atingir f o r m a s mais complexas. O a r c a b o u ç o (Figura 1) é f o r m a d o por dois quadros horizontais (superior e inferior) ligados por esteios, ou "pé-direito", e e m o l d u r a m e n t o dos vãos de portas e j a n e l a s , reforçados pela vedação em tábua (22 cm X 2,2 c m ) e m a t a - j u n t a (6 cm X 1,2 c m ) . A v e d a ç ã o h o r i z o n t a l é f o r m a d a por assoalhos de t á b u a s (10 cm x 2,2 cm) pregadas sobre barrotes (6 cm X 12 c m ) e s p a ç a d o s a cada 50 c m , e forros c o m 5 cm de largura e 1,5 cm de e s p e s s u r a . A e s t r u t u r a do t e l h a d o é f o r m a d a , exceto em a l g u m a s residências c o n s t r u í d a s por a l e m ã e s q u e t ê m t e s o u r a s a t i r a n t a d a s , p o r tesouras r o m a n a s . A m a d e i r a p r e d o m i n a n t e é aspidosperma polyneuron, v u l g a r m e n t e conhecida

Semina: Ci. Exatas/TecnoL, Londrina, v. 2 1 , n. 4, p. 83-88, dez. 2O00 85

por peroba-rosa. O t r a t a m e n t o superficial é feito c o m verniz, que mantém o t o m original da madeira, por pintura a óleo ou iátex. Em a l g u n s casos n ã o e x i s t e tratamento superficial de m a n e i r a q u e a m a d e i r a vai ficando c i n z a c o m o p a s s a r dos a n o s , devido ao envelhecimento c a u s a d o pela incidência d o s raios solares. O a r c a b o u ç o é e l e v a d o do solo p o r troncos de madeira ou pilaretes de alvenaria, p a r a evitar a umidade, f o r m a n d o a s s i m um porão q u e t e m altura vencida por e s c a d a s de um lance em m a d e i r a ou alvenaria. As j a n e l a s e portas são e m o l d u r a d a s por um q u a d r o de v i g a s ou caibros, l i g a n d o o quadro inferior ao superior.

Nas áreas molhadas ( c o z i n h a , á r e a de serviço e banheiro) o piso é misto, e x e c u t a d o c o m um lastro de tijolo c o m u m s o b r e t á b u a s cruas (22 cm X 2,2 cm) pregadas sobre b a r r o t e s (6 cm X 12 c m ) , r e v e s t i d a c o m a r g a m a s s a t e n d o c o m o a c a b a m e n t o c i m e n t o q u e i m a d o a l i s a d o . N a s p a r e d e s a madeira é r e v e s t i d a a m e i a altura de tijolo maciço, assente de e s p e l h o revestido c o m a r g a m a s s a e cimento q u e i m a d o a l i s a d o .

Estas construções t ê m c o m o r e g r a o uso de m a d e i r a maciça com v e d a ç ã o e m t á b u a e m a t a j u n t a n a vertical fixada c o m p r e g o , n o entanto, m e s t r e s c a r p i n t e i r o s j a p o n e s e s , c h a m a d o s

" D a i k u " , construíam c a s a s "empregando métodos

orientais através da técnica de encaixes. Em

Londrina tais edificações se sucederam ao final

da década de 40 até início dos anos 50". As

s a m b l a d u r a s p r e d o m i n a v a m e m p r a t i c a m e n t e

t o d a s a s s o l u ç õ e s c o n s t r u t i v a s , i n c l u s i v e n o s

o r n a m e n t o s (Nakabayashi, 1 9 8 8 ) .

2.3 O s s i s t e m a s " p r é - f a b r i c a d o s "

A t u a l m e n t e e x i s t e m n o P a r a n á cerca d e 1 8 empresas de "pré-fabricação" de casas de m a d e i r a , s e n d o que, a m a i o r i a e s t á instalada na região de Curitiba e comercializa produtos destinados a c a m a d a social de menor p o d e r aquisitivo. Estes sistemas c o n s t r u t i v o s que c o l a b o r a m , e m b o r a d e f o r m a m o d e s t a , na d i m i n u i ç ã o do déficit habitacional no estado, que hoje a t i n g e cerca de 133 mil f a m í l i a s ( C O H A P A R , 1 9 9 9 ) , p o d e m ser classificados e m três grupos, de acordo c o m seu grau de industrialização.

2.3.1 Sistemas Tradicionais Racionalizados E s t e s s i s t e m a s i n c o r p o r a m a s " c a s a s p r é - c o r t a d a s " q u e u t i l i z a m m é t o d o s e p r o c e s s o s construtivos e m p í r i c o s , t e n d o c o m o modelo a c a s a tradicional p a r a n a e n s e , isolada do solo e c o m p o s t a por q u a d r o inferior e s u p e r i o r ligados por montantes verticais e f e c h a m e n t o em tábua e mata-junta na v e r t i c a l . A g r a n d e m a i o r i a é realiza c o m m a d e i r a de pinus p r o v e n i e n t e da região. Os e l e m e n t o s e c o m p o n e n t e s s ã o m o d u l a d o s , reduzindo o t e m p o

n e c e s s á r i o p a r a c o n s t r u ç ã o . E s t e s s i s t e m a s construtivos, p r o d u z i d o s atualmente por p e q u e n a s e g r a n d e s e m p r e s a s , a p r e s e n t a m baixo d o m í n i o t e c n o l ó g i c o e p r o c u r a m atender as c a m a d a s de m e n o r poder a q u i s i t i v o d a população.

f a z - s e uso de m a d e i r a s de m e l h o r q u a l i d a d e e maior r e s i s t ê n c i a c o m o a G r á p i a ou o A n g e l i m , p r o v e n i e n t e s do C e n t r o - O e s t e e Norte do país.

N e s t e g r u p o o s s i s t e m a s c o n s t r u t i v o s , e m sua m a i o r i a , u t i l i z a m f u n d a ç ã o e m c o n c r e t o o u alvenaria, piso c i m e n t a d o o u piso c e r â m i c o nas á r e a s m o l h a d a s e a s s o a l h o nos quartos e na s a l a . A e s t r u t u r a p o r t a n t e é f o r m a d a por m o n t a n t e s v e r t i c a i s l i g a d o s p o r t á b u a s n a h o r i z o n t a l q u e r e c e b e m a c a r g a da c o b e r t u r a e as t r a n s m i t e para a f u n d a ç ã o . A c o b e r t u r a é c o m p o s t a por t e s o u r a s , t e r ç a s e v i g a s d e m a d e i r a q u e s u p o r t a m u m t e l h a d o de f i b r o c i m e n t o ou de telha c e r â m i c a . A v e d a ç ã o é c o m p o s t a p o r t á b u a s n a h o r i z o n t a l s o b r e p o s t a s o u c o m e n c a i x e m a c h o - f ê m e a c o m e s p e s s u r a e n t r e 2 0 m m e 3 5 m m . N o b a n h e i r o , o n d e a e x p o s i ç ã o à u m i d a d e é maior, a p a r e d e é de alvenaria r e v e s t i d a c o m c e r â m i c a até o t e t o ou a meia p a r e d e . Na c o z i n h a e á r e a de s e r v i ç o u m a o u t o d a s a s p a r e d e s s ã o e m a l v e n a r i a c o m revestimento d e a z u l e j o nas paredes m a i s s u j e i t a s a u m i d a d e . A s e s q u a d r i a s e m m a d e i r a o u m e t a l n ã o p o s s u e m v e n e z i a n a s e o a c a b a m e n t o é feito c o m verniz, a s s i m c o m o n a m a i o r i a d a s p a r e d e s e partições. A l g u n s c o n s t r u t o r e s p r e f e r e m a p l i c a r ó l e o d e l i n h a ç a n o e x t e r i o r d a s c a s a s e á c i d o o x á l i c o no i n t e r i o r . A i n s t a l a ç ã o e l é t r i c a , f a t o r normalmente preocupante neste tipo de c o n s t r u ç ã o , é feita com fio de c o b r e revestido c o m p l á s t i c o anti- c h a m a e disjuntores termomagnéticos. A i n s t a l a ç ã o hidráulica t e m t u b u l a ç ã o em PVC e o r e s e r v a t ó r i o t e m c a p a c i d a d e e n t r e 2 5 0 e 3 0 0 litros d e á g u a .

2.3.2 Sistemas Convencionais Racionalizados Sistemas construtivos q u e utilizam c o m p o n e n t e s padronizados, têm u m a linha de montagem organizada no canteiro de o b r a s e a t i n g e um menor custo de p r o d u ç ã o com u m p a d r ã o d e qualidade s u p e r i o r a o processo t r a d i c i o n a l . O s aspectos básicos q u e d e f i n e m o padrão d e s t a s c a s a s são a m e t r a g e m quadrada e a qualidade do material de a c a b a m e n t o . P a r a os modelos p o p u l a r e s geralmente é utilizado o Pinus ou Cambará; n o s modelos mais sofisticados

2.3.3 Sistema Industrializado

No Paraná o único sistema construtivo ind ustrializado e n c o n t r a d o n o m e r c a d o , até este m o m e n t o , foi d e s e n v o l v i d o p e l a e m p r e s a Battistela I n d . e C o m . Ltda que utiliza m é t o d o s e p r o c e s s o s de p r o d u ç ã o e m série, p r é - f a b r i c a ç ã o p a r c i a l , e q u i p a m e n t o s

86 Semina:Ci. Exatas/Tecnol., Londrina, v. 2 1 , n. 4, p. 83-88, dez. 2000

m e c â n i c o s v i s a n d o a m e l h o r i a da q u a l i d a d e , o menor t e m p o de execução e, em m e n o r proporção, o m e n o r c u s t o de p r o d u ç ã o . N e s t e s i s t e m a o projeto m a i s e l a b o r a d o e s p e c í f i c a e detalha os elementos utilizados. De a c o r d o c o m o fabricante, as peças c o m f u n ç ã o estrutural, de u s o externo e e m á r e a s ú m i d a s r e c e b e m t r a t a m e n t o e m autoclave c o m preservativo t i p o C C A , atendendo a s n o r m a s a m e r i c a n a s ( A m e r i c a n W o o d P r e s e r v e r s A s s o c i a t i o n ) . O u t r a s p e ç a s d e uso i n t e r n o s ã o t r a t a d a s p o r p i n c e l a m e n t o d e cupincidas. O s i s t e m a construtivo é c o m p o s t o por módulos de 1,22 m de largura e 2 , 4 4 m de altura, duplados, c o m 15 cm nas p a r e d e s e x t e r n a s e 10 cm nas internas, f o r m a n d o um c o l c h ã o de ar no seu interior. A c o b e r t u r a c o m t e s o u r a s , oitões, c a i b r o s e v i g a s e m m a d e i r a l a m i n a d a c o l a d a emprega um sistema de "subcobertura" c o m placas d e m a d e i r a t i p o " B l o c k b o a r d " l o g o a b a i x o d o ripamento d a s telhas, s e r v i n d o de b a s e para a aplicação de u m a manta de e s p u m a de polietileno.

A f u n ç ã o é, a l é m de evitar a i n f i l t r a ç ã o de água, colaborar no isolamento da c o b e r t u r a . S o b r e o forro é apiicada u m a m a n t a de lã de r o c h a q u e aumenta a capacidade de isolamento t é r m i c o da edificação.

As portas e x t e r n a s são em m a d e i r a m a c i ç a e as internas l i s a s e s e m i - o c a s . As j a n e l a s são de alumínio c o m pintura eletrostática o u e m ferro com pintura em e s m a l t e sintético. Os c i r c u i t o s elétricos s ã o e m b u t i d o s e m e l e t r o d u t o s a n t i c h a m a protegidos por disjuntores t e r m o - m a g n é t i c o s . As instalações hidrosanitárias s ã o e x e c u t a d a s e m PVC, inclusive as instalações de á g u a quente que utiliza o P V C tipo "Aquaterm" ou m e s m o o cobre. A pintura externa é feita com grafiato e a interna com textura acrílica branca, stain ou verniz. Portas, vigas, colunas, rodapés e beirais r e c e b e m pintura com stain, material que penetra na m a d e i r a s e m formar um filme contínuo sobre sua superfície, o que evita o aparecimento de rachaduras e descascamento.

Semina: Ci. ExatasATecnol., Londrina, v. 2 1 , n. 4, p. 83-88, dez. 2000 87

3 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

C o m p a r a n d o - s e o s s i s t e m a s c o n s t r u t i v o s tradicionais, utilizados para satisfazer a necessidade de m o r a d i a dos primeiros habitantes do Paraná, c o m a s c h a m a d a s c a s a s " p r é - f a b r i c a d a s "

e n c o n t r a d a s no mercado da c o n s t r u ç ã o , constata-

se q u e a p e s a r dos avanços t e c n o l ó g i c o s ocorridos

no s e t o r n a s últimas d é c a d a s poucas foram as

i n o v a ç õ e s implantadas na p r o d u ç ã o de habitações

e m m a d e i r a n a região. P e l o contrário, a l g u m a s

e m p r e s a s q u e p r o d u z e m c a s a s d e " p a d r ã o

p o p u l a r " v ê m c o m e r c i a l i z a n d o o s m e s m o s

m o d e l o s identificados no p e r í o d o de d e c a d ê n c i a

da a r q u i t e t u r a de madeira na região. O resgate

d e s t a s t e c n o l o g i a s t o r n a p o s s í v e l i d e n t i f i c a r

a c e r t o s n a c o n c e p ç ã o d a s a n t i g a s c a s a s q u e ,

t a l v e z p o r f a l t a d e m ã o - d e - o b r a e s p e c i a l i z a d a ,

f o r a m e s q u e c i d o s como d e t a l h e s importantes d e

p r o j e t o c o m o : o uso de m a d e i r a r e s i s t e n t e a

x i l ó f a g o s , detalhes que g a r a n t e m a estanqueidade

do m a t e r i a l e ampliam a s u a durabilidade. Mantida

a e s t a g n a ç ã o t e c n o l ó g i c a n a p r o d u ç ã o d e s t e s

s i s t e m a s , c e r t a m e n t e e l e s d e s a p a r e c e r ã o d a

p a i s a g e m d a s cidades.

88 Semina.Ci. Exatas/Tecnol., Londrina, v. 2 1 , n. 4, p. 83-88, dez. 2000 SILVA, R.D.; B A S S O , A. W o o d e n constructions u s e d for habitation in t h e State of Paraná, Brazil. Semina.

C i . Exatas/Tecnol. L o n d r i n a , v. 2 1 , n. 4, p. 83-88, dez. 2000.

ABSTRACT: The presence of wooden constructions in the landscape of cities in the State of Paraná was considered to be very significant in the first half of the twentieth century. However, deep alterations have occurred. Nowadays what has been noticed is the insignificant presence of such constructions in the urban environment. Thís work is based on the concept of constructive systems. After identifying these constructions in the State of Paraná, it describes those used by the pioneers and the current models developed by the prefabrication companies. The focus of this work is on wooden housing projects. The classification of constructive systems makes their comparison possible, as well as the evidence that, if there were no retreats, there were few technologica! improvements in the construction field.

KEY WORDS: wooden constructions; housing project; constructive systems.