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O INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS TRABALHO NA DEFESA DOS INTERESSES A LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO

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TRABALHO NA DEFESA DOS INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

C arlos H en riq u e B ezerra Leite*

“O problem a fundam ental cm relação aos direitos do hom em , hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problem a não filosófico, m as político” (Norberto Bobbio, A era dos direitos).

Sum ário: 1 Introdução; 2 Dos direitos sociais aos interesses m etaindividuais; 3 T ipo­

logia dos interesses metaindividuais; 4 O m oderno sistem a de acesso coletivo à justiça e a ação civil pública trabalhista; 5 A função prom ocional do M inistério Público do T rabalho; 6 A legitim ação do M inistério Público do Trabalho para prom over ação ci­

vil pública em defesa dos interesses difusos e Coletivos; 7 A legitim ação do M inisté­

rio Público do Trabalho para prom over a ação Civil pública em defesa dos interesses individuais hom ogêneos; 8. A nálise de um caso; 9 Conclusão.

1 IN T R O D U Ç Ã O

O p resen te estudo, que na verdade contém pequenos trechos de dissertação p es­

q uisa científica m ais abrangente por nós elaborada no m estrado da Pontifícia U niversidade C atólica de São P au lo ,1 tem po r objetivo central responder à se­

guinte indagação: se o art. 129, inciso III, da C onstituição F ederal só alude gram atical­

m ente aos interesses difusos e coletivos e se existe um dispositivo específico n a Lei O rgânica do M inistério P úblico da U nião, que prevê a legitim ação do M inistério P úbli­

co do T rabalho apenas para defender os interesses coletivos, com o estender tal legiti­

m ação aos interesses individuais hom ogêneos?

P ara satisfazer à indagação, procurarem os, inicialm ente, situar os direitos soci­

ais no contexto dos direitos fundam entais. E m seguida, buscarem os o p onto de interse­

ção entre os direitos sociais e os interesses m etaindividuais e respectiva tipologia. M ais adiante, analisarem os o problem a à luz do m ovim ento universal de acesso à ju stiç a e a flm ção p recípua da ação civil pública nesse m ovim ento. T ratarem os, no tópico seguin­

te, da função prom ocional do m inistério público do trabalho n a n o v a ordem constitucional. P rosseguindo, irem os falar da legitim ação do M P T em defesa dos inte-

* P rocurador R egional do Trabalho. M estre em D ireito das Relações Sociais (PUC/SP). D outorando em D ireito das R elações Sociais (PUC/SP). Professor Efetivo de D ireito do Trabalho da UFES. M em ­ bro da A cadem ia N acional de D ireito do Trabalho.

1. LEITE, Carlos H enrique Bezerra. A legitimação do M inistério Público do Trabalho p a ra pro m o ver a ação civil p ública em defesa dos interesses individuais hom ogêneos no direito p rocessual do trabalho brasileiro. D issertação de M estrado da PUC/SP. São Paulo: B iblioteca N adir G ôuvea Kfouri, 2001. A obra será publicada pela Editora LTr e encontra-se no prelo.

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resses difusos e coletivos. P rosseguindo, tratarem os do objeto central da pesquisa, que é a legitim ação m inisterial para a prom oção da defesa dos interesses individuais h o m o ­ gêneos dos trabalhadores. F inalm ente, apresentarem os as principais conclusões lança­

das no desenvolvim ento.

2 D O S D IR E IT O S SO C IA IS AO S IN T E R E SSE S M E T A IN D IV ID U A IS

O s direitos ou interesses m etaindividuais, po r serem híbridos, possuem ora sta- tus negativus, ora sta tu s p o sitivu s, rom pendo, assim , com as clássicas dicotom ias di­

reito público-direito privado e direito-interesse.

A fundam entalidade dos direitos ou interesses m etaindividuais é reconhecida em atenção à p reocupação dos E stados e da fam ília hum ana com a qualidade de vida, o desenvolvim ento sustentado e integrado da p esso a h um ana e a preservação da n atu re­

za. Eis a razão pela qual a tem ática dos direitos fundam entais encontra-se intim am ente ligada à teoria geral d a cidadania. E esta, p o r sua vez, encontra-se um bilicalm ente lig a ­ da à p reservação e ao respeito da dignidade da pessoa hum ana.

N o caso brasileiro, a C onstituição F ederal de 1988, rom pendo com o perfil lib e­

ral e individualista das C artas que lhe antecederam , exalta a integração harm ônica das categorias dos direitos hum anos, incluindo os direitos sociais no rol dos direitos e ga­

rantias fundam entais, o que veio a ser confirm ado, posteriorm ente, com a ratificação do P acto Internacional dos D ireitos E conôm icos, Sociais e C ulturais.

S urge, assim , ao lado da teoria dos direitos fundam entais, a teoria dos interesses m etaindividuais que deita raízes na cham ada “questão so cial”, fruto da “sociedade de m assa” , n a qual são verificadas inúm eras relações sociais, econôm icas e políticas m ar­

cadas pelo desaparecim ento da individualidade do ser hum ano, d iante da padronização dos com portam entos e das regras de condutas correspondentes.

3 T IP O L O G IA D O S IN T E R E S SE S M ETA IN D IV ID U A IS

N o ordenam ento ju rídico brasileiro, os direitos ou interesses m etaindividuais, tam bém cham ados de supra-individuais, transindividuais,2 globais ou novos direitos, constituem gênero cujas espécies são os direitos ou interesses difusos, coletivos e indi­

viduais hom ogêneos, cujos conceitos estão previstos no C D C (art. 81, par. único, I, II e III).

O critério analítico, didático e até exauriente adotado pelo legislador ao concei­

tuar os interesses (ou direitos) difusos e coletivos, não foi estendido aos interesse individuais hom ogêneos, o que redundou na diversidade de posições n a doutrina e na ju risp ru d ên cia no tocante a esses últim os, residindo aqui os principais obstáculos téc­

2. A rigor, transindividuais são apenas os interesses ou direitos difusos e coletivos. Os individuais hom o­

gêneos são os velhos direitos subjetivos, ou seja, são individuais m esm o e apenas po r decorrerem de um a origem com um recebem um tratamento processualm ente coletivo com vistas à facilitação do aces­

so ao Judiciário.

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nicos e ideológicos que têm im pedido o u dificultado o acesso coletivo dos trabalhado­

res à justiça.

Os interesses difusos e coletivos são, m aterial e processualm ente, m etaindivi- duais (ou essencialm ente coletivos); enquanto os individuais hom ogêneos, em razão de serem provenientes de u m a causa com um que atinge u niform em ente os seus titula­

res, são apenas p rocessualm ente m etaindividuais (ou acidentalm ente coletivos), pois essa q u alidade lhes é atribuída som ente para f ins de tutela ju d ic ia l coletiva.

N ão apenas as definições de interesses difusos e coletivos, m as, tam bém , a sin­

tética definição de interesses individuais hom ogêneos, à m íngua de tratam ento n orm a­

tivo específico (e expresso) e p o r não se vislum brar q ualquer incom patibilidade, são perfeitam ente aplicáveis nos dom ínios do direito m aterial e processual do trabalho.

D e tal m odo que a classificação dos interesses m etaindividuais guarda relação com o objeto litigioso. V ale dizer, a identificação desses interesses d epende da causa de pedir e do pedido deduzidos em juízo, p ois um m esm o fato (ou ato) trabalhista pode ensejar u m a pretensão difusa, coletiva ou individual hom ogênea.

4 O M O D E R N O SIS T EM A D E A C E S SO C O L E T IV O À JU ST IÇ A E A A Ç Ã O C IV IL P Ú B L IC A T R A B A L H IS T A

A proteção ju d ic ia l dos direitos ou interesses m etaindividuais, que abrangem os difusos, os coletivos e os individuais hom ogêneos, insere-se no cham ado “m ovim ento universal de acesso à ju stiç a ”.

E sse m ovim ento repudia o form alism o ju ríd ico e preco n iza a inserção de outros com ponentes reais, com o os sujeitos, as instituições e os processos, tudo em sintonia com o contexto social, político, social e econôm ico, o que exige do ju rista e do opera­

dor do direito o recurso constante a outras ciências, inclusive a estatística, na m edida em que estas lhe p ossibilitarão um a m elhor reflexão sobre a expansão e a com plexida­

de dos novos litígios para, a p artir daí, buscar alternativas de solução dos m esm os.

O p roblem a do acesso à Justiça não foi relegado ao oblívio pelo nosso ordena­

m ento a partir da C onstituição F ederal de 1988 que, inovando substancialm ente em re­

lação à C arta q ue lhe antecedeu, catalogou os princípios da inafastabilidade do contro­

le ju risd ic io n a l e do devido processo legal no rol dos direitos e garantias fundam entais.

São esses p rincípios constitucionais que servem de aporte à tem ática do efetivo acesso, tanto individual quanto coletivo, ao P oder Judiciário brasileiro.

C om efeito, o ortodoxo m odelo liberal-individualista, inspirador do C PC e da parte do processo individual da C L T (Título X , C apítulo III), m ostra-se, portanto, ab­

solutam ente inválido, insuficiente, inadequado e ineficaz para solucionar os novos conflitos civis e trabalhistas de m assa.

D aí o surgim ento do processo coletivo, tam bém cham ado de “ju risd iç ão civil coletiva” , que, diferentem ente do processo individual regulado pelo CPC, passou a ser disciplinado, basicam ente, pelo sistem a integrado de norm as contidas na CF, na LA C P, no C D C e, subsidiariam ente, no CPC.

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D o m esm o m odo, a “jurisdição trabalhista” , com a prom ulgação da CF (1988), do C D C (1990) e, m ais tarde, da L O M PU (1993), passou a ser constituída de três siste­

m as (ou subsistem as):

a) o prim eiro é destinado aos tradicionais “ dissídios individuais” utilizados p ara solução das reclam ações (rectius, ações) individuais ou plúrim as, sendo seu p ro ­ cessam ento regulado pelo Título X, C apítulo III, da C LT e, subsidiariam ente, pelo CPC, a teor do art. 769 do texto obreiro consolidado;

b) o segundo é voltado para os dissídios coletivos de interesses, nos quais se busca, via Poder N orm ativo (CF, art. 114, § 2o), a criação de norm as trabalhistas ap li­

cáveis às partes figurantes do “dissídio coletivo” e seus representados, sendo seu p ro ­ cessam ento regulado pelo Título X , C apítulo IV, da C L T e, subsidiariam ente, o CPC, p o r fo rça da reg ra contida no m encionado art. 769 do texto obreiro;

c) o terceiro e últim o sistem a, po r nós cham ado de “jurisdição trabalhista m e- taindividual”, é vocacionado, basicam ente, à tutela preventiva e reparatória dos direi­

tos ou interesses difusos, coletivos e individuais hom ogêneos, no cam po das relações de trabalho.

P ara tornar efetiva a garantia constitucional do acesso dos trabalhadores a essa nova ju risd içã o trabalhista m etaindividual é condição necessária a aplicação aprio- rística do novo sistem a de tutela coletiva integrado pela aplicação direta das norm as contidas n a CF, L O M PU , LA C P e pelo Título III do CDC.

A ju risd iç ão trabalhista m etaindividual inverte, assim , a regra tradicional do art. 769 da CLT. Esta, n ão obstante, continua válida para a im plem entação dos dois p ri­

m eiros sistem as m encionados.

D ada a com petência da Justiça do T rabalho para conhecer e ju lg a r a ação civil pública, ex vi do disposto no art. 83, III, da LO M PU , im plica reconhecer que, à m íngua de legislação especial disciplinadora, as disposições contidas na LA C P e na parte p ro ­ cessual do C D C são inteiram ente aplicáveis a este tipo de ação coletiva nos dom ínios do direito pro cessu al do trabalho.

P aralelam ente à m assificação dos m eios de produção e de distribuição, nos quais o trabalho hum ano avulta im prescindível, m ultiplicaram -se não só os direitos so­

ciais dos trabalhadores, m as, tam bém , os problem as sócio-econôm icos do m undo do trabalho, com o o desem prego em todas as suas m anifestações; a exclusão social; a d is­

p ensa m assiva de trabalhadores dos respectivos em pregos; o aviltam ento dos salários;

o descum prim ento generalizado da legislação trabalhista; o crescim ento do trabalho inform al; a flexibilização in p e ju s (ou desregualm entação); a autom ação; a terceiriza­

ção; as discrim inações de toda ordem , p o r m otivo de idade, de opção sexual, de estado civil, de raça; a exploração do trabalho infanto-juvenil; o descuido reiterado com o m eio am biente de trabalho, etc.

D iante desses inúm eros problem as, o trabalhador isolado apresenta-se fragili­

zado para vindicar efetivam ente seus direitos sociais, m esm o porque no B rasil não há um sistem a adequado de proteção da relação de em prego contra dispensas arbitrária ou sem ju sta causa.

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Isso ju stific a o fundado receio do trabalhador de que o ajuizam ento de um a de­

m anda individual, durante a vigência do contrato de trabalho, im plica, via de regra, a perda do em prego.

5 A F U N Ç Ã O P R O M O C IO N A L D O M IN IS T ÉR IO P Ú B L IC O D O T R A B A L H O É, pois, sob o influxo dessa realidade social, econôm ica, p o lítica e ju ríd ic a que há de ser exam inada a questão da legitim idade ativa do M inistério P ublico do T rabalho na tem ática da defesa dos interesses m etaindividuais trabalhistas.

A bem ver, se a atuação do M inistério P úblico do T rabalho com o custos legis teve seu apogeu n a concepção liberal-individualista que influenciou a form ação histó­

rica do direito positivo brasileiro, pode-se dizer que, com a prom ulgação da C onstitui­

ção F ederal de 1988, instituidora do E stado Social, a atuação com o órgão agente passa a ser a sua função institucional m ais im portante para que ele p o ssa p ro m o v e r a defesa dos referidos interesses.

A previsão da A C P na seção constitucional reservada ao M inistério Público, aliada à função p rom ocional que lhe foi com etida, e b em assim à independência insti­

tucional e ao p resum ido preparo técnico dos seus m em bros, estão a revelar a “ sua m e­

lhor p osição p ara o ajuizam ento dessa ação.”

Isso não im pede, contudo, que outros órgãos e instituições, legalm ente autori­

zados, tam bém p o ssam ajuizar a ação coletiva, um a vez que a legitim ação n a tem ática dos interesses m etaindividuais é concorrente e disjuntiva.

6 A L E G IT IM A Ç Ã O D O M IN IS T É R IO P Ú B L IC O D O T R A B A L H O PA R A P R O M O V E R A Ç Ã O C IV IL P Ú B L IC A EM D E F E S A D O S IN T E R E S S E S D IF U SO S E C O LETIV O S

N ão o bstante a literalidade do art. 83, III, da LO M PU , afígura-se-nos que os m étodos de interpretação extensiva, sistem ática e teleológica, som ados aos aspectos axiológicos decorrentes dos problem as políticos, sociais e econôm icos já m en cio n a­

dos, autorizam dizer que o M inistério P úblico do T rabalho detém legitim ação ativa para prom over A C P trabalhista que tenha po r objeto a defesa tanto dos interesses ou di­

reitos difusos quanto dos coletivos.

E ssa legitim ação autônom a para condução do processo encontra p erm issão no sistem a integrado pelas norm as prescritas na CF (art. 129, III), na L A C P , no CD C (arts. 81 usque 90; 103 e 104) e na L O M PU (arts. 83, III, e 84 c.c. 6o, V II, d).

P or considerarm os a legitim ação autônom a para a condução do processo um tercium gem is, afígura-se-nos m elhor não rotulá-la de “ ordinária” ou “ extraordinária” , pois isso desaguaria, a nosso sentir, no equívoco com etido pelos que insistem em ex­

p licar essa n ova m odalidade de legitim ação a d causam p o r m eio do sistem a liberal-in­

dividualista do C P C brasileiro, inaplicável, com o vim os, ao sistem a de proteção aos di­

reitos difusos e coletivos.

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7 A L E G IT IM A Ç Ã O D O M IN IS T ÉR IO P Ú B L IC O D O T R A B A L H O PA R A P R O M O V E R A A Ç Ã O C IV IL P Ú B L IC A EM D E FE S A D O S IN T E R E SSE S IN D IV ID U A IS H O M O G Ê N E O S

C om relação à ação civil pública para defesa dos interesses individuais h o m o ­ gêneos, o legislador brasileiro foi encontrar inspiração nas class actions f o r dam ages do direito norte-am ericano.

E ntre os objetivos básicos desse instrum ento paradigm a, destacam -se:

a) p erm itir a aglutinação de diversos litígios individuais num a única de­

m anda;

b) am enizar algum as das barreiras psicológicas e técnicas que im pedem ou d ificultam o acesso ju d ic ia l individual da parte fraca;

c) desestim ular condutas sociais indesejáveis.

L evando em conta tais objetivos, que se identificam no contexto social, econô­

m ico, político e ju ríd ic o nacional, nosso legislador, adaptando o sistem a de com m on law ao sistem a de civil law , conferiu a legitim ação ativa nas ações coletivas destinadas à defesa de interesses ou direitos individuais hom ogêneos, não aos indivíduos, m as a algum as instituições, entre elas o M inistério Público.

Tendo em vista que os arts. 129, III, da CF e 83, III, da L O M PU não m encio­

nam , expressam ente, os interesses individuais hom ogêneos, há três teorias que p ro cu ­ ram ju stific a r a legitim ação a d causam do M inistério P úblico do Trabalho: a restritiva, a eclética e a am pliativa.

A teoria restritiva u tiliza apenas a interpretação gram atical dos artigos citados e sustenta, em linhas gerais, a inconstitucionalidade dos m esm os.

A eclética em prega a interpretação sistem ática dos artigos 129, III, e 127, da C F, e adm ite condicionalm ente a legitim ação do M P, isto é, apenas p ara d efender in te­

resses individuais hom ogêneos indisponíveis ou que tenham relevância social.

F inalm ente, a teoria am pliativa, com a qual concordam os, vale-se da interpreta­

ção sistem ática, extensiva e teleológica, na m edida em que invoca os arts. 129, IX, e 127 da CF, com binados com o art. 1o do CDC. E ssas norm as aplicadas de form a in te­

grada, autorizam a ilação de que a defesa de qualquer interesse individual hom ogêneo constitui m atéria de ordem pública e de interesse social, cuja defesa se am olda ao perfil institucional do M inistério Público.

U m quadro sinóptico facilita a com preensão da legitim ação do M inistério P ú ­ blico do T rabalho em tem a de interesses ou direitos individuais:

Interesses ou Direitos Legitimação do M PT

Individuais não-homogêneos disponíveis ou “interesses in­

dividuais puros”

Não detém legitimação ad causam

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Individuais não-homogêneos indisponíveis

Legitimação ativa permitida em alguns casos expressamente previstos em lei.

Individuais homogêneos dis­

poníveis

Legitimação ativa permitida, pois os interesses individuais ho­

mogêneos dos trabalhadores são direitos sociais (CF, arts. 129, III e 127 capuf. LOMPU, art. 83, III, 6°, VII, d; LACP, arts. 5o

e 21: CDC, arts. 81, par. único, III, 8 2 ,1, 91 e 92) Individuais homogêneos in­

disponíveis

Legitimação ativa permitida incondicionalmente (CF, art. 129, III, 127, caput; LOMPU, art. 83, III, 6°, VII, d; LACP, arts. 5°

e 21; CDC, arts. 81, par. único, III, 8 2 ,1, 91 e 92)

8 A N Á L IS E D E U M CA SO

P ara dem onstrar os equívocos, data m axim a venia, que têm sido observados no âm bito do Judiciário T rabalhista a respeito da legitim ação do M inistério P úblico do T rabalho para defender interesses individuais hom ogêneos, trazem os à coleção o se­

guinte julgado:

“A Ç Ã O C IV IL PÚ B LIC A . D IR EITO S IN D IV ID U A IS H O M O G Ê ­ N E O S. IL E G IT IM ID A D E D O M IN IS T ÉR IO PÚ B L IC O D O T R A B A L H O . N ão se v erifica a legitim idade do M inistério P úblico do T rabalho p ara propor ação civil pública, objetivando o reconhecim ento de despedida sem ju s ta causa de em pregados e conseqüentes, ainda que decorrente de u m m esm o fato. N ão se está diante de direito não individualizável ou não divisível, m enos ainda indis­

ponível, pois se discute apenas as conseqüências da participação em greve, ain­

da m ais considerada abusiva. N o conceito de direitos individuais hom ogêneos não se d eve d eixar im pressionar-se pelo núm ero dos interessados, m as sim pela natureza m etaindividual do direito. R ecurso de revista conhecido e d esprovido”

(T S T -R R 596135/1999, Ac. 2a T, R el. M in. V antuil A bdala, D J 16.03.2001).

P ercebe-se, claram ente, que o v. acórdão trata de um recurso de rev ista em er­

gente de um a ação civil p ú b lic a prom ovida pelo M inistério P úblico do T rabalho em defesa de interesses individuais hom ogêneos de em pregados que foram despedidos em m assa p o r terem p articipado em greve considerada abusiva.

O ju lg a d o reconhece acertadam ente que se cuida de interesses individuais h o ­ m ogêneos, porque “ decorrentes de um m esm o fato” (ato patronal de despedida em m assa de trabalhadores que participaram de greve), m as equivoca-se ao m encionar que, por não se estar “ diante de direito não individualizável ou não divisível, m enos ainda indisponível” , o M inistério P úblico do T rabalho carece de legitim idade ad causam para defendê-los.

V ê-se, claram ente, que o v. acórdão se afina com a teoria restritiva, razão pela qual, com o já apontado, não analisa a questão da legitim ação sob o enfoque:

a) da democratização do acesso do cidadão-trabalhador ao Judiciário Trabalhista co

m o d ireito fu n d am en tal;

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b ) da n atureza m etaindividual da tutela dos interesses individuais h o m o ­ gêneos que, com o j á dem onstrado, são m aterialm ente individuais m as p ro ce s­

sualm ente coletivos.

A rigor, o decisório sob exam e aflora-se em desarm onia com o sistem a integra­

do de acesso à Justiça do Trabalho, im pedindo, assim , o exercício p leno da “ju risd ição trabalhista m etain d iv id u al”, com evidentes reflexos negativos e prejuízos para os tra­

balhadores e p ara a sociedade com o um todo.

C om efeito, a extinção do processo p o r ilegitim idade do M inistério P úblico do T rabalho im plicará o ajuizam ento de inúm eras ações individuais, o que resultará, à evidência, no aum ento do volum e de processos no Judiciário T rabalhista3 com todas as conseqüências nefastas que disso resulta para o trabalhador, m áxim e se consideram os a possib ilid ad e de inúm eras sentenças díspares a respeito do m esm o fato.

A lém disso, o custo operacional e financeiro de cada processo redundará em m aiores despesas p ara o próprio Judiciário T rabalhista e, em últim a análise, p ara a so­

ciedade que, com o é sabido, arcará com a conta final da necessidade de aum ento do n ú ­ m ero de ju íz es, servidores, im óveis, equipam entos etc.

A C o rte p o d eria até ju lg a r im procedente o p edido, caso tivesse entendido que a p articipação dos trabalhadores em greve declarada abusiva constituiria ju sta causa para a dispensa. M as aí tratar-se-ia não m ais de condição da ação (legitim idade ativa), e sim do m eritum causae.

9 C O N C L U SÃ O

C om o síntese dos principais pontos abordados neste singelo trabalho, apresen­

tam os as conclusões que se seguem .

Os direitos sociais e a respectiva proteção ju d ic ia l dos trabalhadores integram o elenco dos direitos fundam entais de segunda ou de terceira dim ensão, estando, desse m odo, com preendidos no m oderno conceito de cidadania e esta, p o r sua vez, guarda estreita relação com o p roblem a do direito ao acesso - individual e coletivo - dos traba­

lhadores ao P o d er Judiciário.

D esse m odo, as questões atinentes à legitim ação m inisterial p ara defender inte­

resses individuais hom ogêneos trabalhistas encontram -se indissoluvelm ente ligadas à tem ática da dignidade da p esso a hum ana e do valor social do trabalho, isto é, a ques­

tões que d ecorrem da p rincipiologia que fundam enta o próprio E stado dem ocrático de direito brasileiro, cuja guarda foi confiada ao M inistério P úblico, com o um todo, e ao M inistério P úblico do T rabalho, em particular, pois este, no exercício específico da sua função p rom ocional, tem a m issão institucional e perm anente de zelar p ela defesa o r­

dem ju ríd ic a trabalhista e dos direitos ou interesses sociais e individuais indisponíveis dos trabalhadores (CF, art. 127, caput).

3. Segundo o próprio TST, cerca de 2 m ilhões de dem andas são ajuizadas anualm ente na JT.

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A defesa, pois, dos direitos ou interesses individuais hom ogêneos dos trabalha­

dores enquadra-se perfeitam ente na m oldura do art. 127 ca p u t da CF, seja porque são interesses ou direitos sociais,,seja porque são, via de regra, individuais indisponíveis (C LT, arts. 9o, 444 e 468).

R espondendo à pergunta central deste trabalho, é possível dizer que nos do m í­

nios do direito processual do trabalho, tanto do ponto de vista da teoria am pliativa quanto do p onto de vista de teoria eclética, o M inistério P ublico do T rabalho estará sem pre legitim ado para defender, po r via da ação civil pública, os interesses individu­

ais hom ogêneos dos trabalhadores, ainda que estes sejam m aterialm ente disponíveis.

A final, vivem os a era dos direitos, com o diz Bobbio. M as de n ad a adianta p ro ­ clam á-los, sem , no entanto, garanti-los.

É preciso, pois, que se instaure entre nós um a nova m entalidade entre os culto­

res do direito m aterial e processual do trabalho, de m odo a que os direitos o u interesses individuais hom ogêneos deixem de ser m era aspiração do cidadão-trabalhador e se tor­

nem garantia efetiva de acesso à Justiça.

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Referências

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