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Revista Iniciação Científica, Criciúma, v. 14, n. 1, 2016

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Academic year: 2021

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FEIÇÕES TAFONÔMICAS EM UM ÚMERO DIREITO DE GLOSSOTHERIUM OWEN, 1840 (MAMMALIA, XENARTHRA,

MYLODONTIDAE) DE SEDIMENTOS DE PLANÍCIE COSTEIRA, QUATERNÁRIO CONTINENTAL DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Diniz Lima Ferreira1

José Eduardo Figueiredo Dornelles2 César Jaeger Drehmer3

Resumo

Este artigo caracteriza as feições tafonômicas e descreve o estado de conservação de um úmero direito de Glossotherium sp. Suas boas qualidades de fossilização e preservação possibilitaram a observação de um caso de trampling ou pisoteio (situação em que indivíduos da tanatocenose são pisoteados por outros vertebrados durante as fases de seu processo bioestratinômico) Essa feição tafonômica pode indicar condições paleoclimáticas típicas do Pleistoceno dessa região.

Palavras-chave: Trampling. Glossotherium. Planície Costeira.

Abstract

This paper presents the taphonomic changes and the description of the conservation state from a Glossotherium sp. right humerus. Discussing about the case of trampling as seen from the analysis of its fossilization process. We can conclude besides individuals of the local thanatocoenosis were trampled by other vertebrates during their biostratinomy that this taphonomic change is probably an indicator of the paleoclimatic conditions in this region.

Keywords: Trampling. Glossotherium. Coastal plain.

1 Bolsista de I. C. CNPq – Ciências Biológicas Bacharelado-IB-DEZG-UFPel. Email: dinizlf@uol.com.br.

2 Professor Titular, IB-DEZG-UFPel. Email: jefdornelles@gmail.com.

3 Professor Associado I, IB-DEZG-UFPel. Email: cjaeger@terra.com.br.

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1 INTRODUÇÃO

O material consta de um úmero direito incompleto de Glossotherium Owen, 1840 (Mammalia, Xenarthra, Mylodontidae), uma espécie de preguiça gigante que podia atingir cerca de quatro metros de comprimento e que viveu entre 2,5 milhões de anos e 10.000 anos atrás. Em termos tafonômicos esse material foi encontrado juntamente com outros fragmentos rolados na zona de inundação da praia do Hermenegildo, RS. Pertence às coleções de vertebrados fósseis do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter da UFPel, sobre designação numérica UFPel-1-095. Embora sem contexto estratigráfico, o mesmo apresenta algumas evidências tafonômicas, como sinais erosivos e de trampling (pisoteio) capazes de indicar as condições paleoclimáticas da época. Achados com esse tipo de evidência tafonômica não são comuns em materiais rolados de planície costeira. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é registrar o achado desse material e relatar suas evidências de trampling.

2 METODOLOGIA

A metodologia empregada na análise tafonômica do material foi a proposta por Lopes e Ferigolo (2015). Para a determinação sistemática do material foi adotada a metodologia por comparação morfológica das características osteológicas e de proporção anatômica entre as principais preguiças gigantes com registro paleontológico para o quaternário do extremo sul do Brasil, com base em Perea (2003).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em termos de fossilização, o material se encontra com as típicas feições visualizadas em vertebrados fósseis da planície costeira: coloração escura, mineralizados, com elevada rigidez e desgastados (retrabalhamento) pelo comportamento altamente abrasivo dos sedimentos arenosos da planície costeira (LOPES et al., 2001). Em termos de preservação, o material se encontra com consideráveis fraturas. Sua porção proximal está praticamente ausente e como consequência não é possível observar estruturas clássicas dessa região, como a cabeça do úmero e a crista delto-peitoral. Sua extremidade proximal preservada se limita à região da diáfise e sua fratura nessa região parece delimitar a base da crista delto-peitoral. A epífise distal é a região mais ricamente preservada. Possui uma fratura diagonal responsável

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pela destruição da margem lateral da epífise, principalmente da região do ectepicôndilo (ec) (figura 1: G, H). Muito embora tal estrutura esteja ausente, sua base óssea se apresenta à mostra, expondo de forma clara e abundante uma considerável área de medula óssea trabecular (figura 1: F, G, H). A determinação taxonômica de que esse material seja de Glossotherium passou por análise morfológica comparativa com demais espécies de preguiças

gigantes comuns de serem encontradas nesses sedimentos. Foi descartada a hipótese de que esse úmero pudesse ter sido de Megatherium (figura 1: A), pois o mesmo apresenta, seguindo as ilustrações de (OWEN, 1858) quanto ao tamanho, mais do que o dobro do comprimento (da epífise proximal à distal). Quanto à largura da diáfise, esta também é proporcionalmente maior. Quanto à forma, apresenta a crista supinadora do epicôndilo (cs) (figura 1: A) mais medial. Além disso, a crista deltopeitoral (d) tem a clássica orientação em um eixo diagonal em relação ao da diáfise do osso. O ectepicôndilo é relativamente mais breve. Em Lestodon (figura 2: B) se observa que o seu úmero tem tamanho superior ao visto em Glossotherium, especificamente, mais que o dobro da medida de comprimento e da mesma forma maior em dimensão de largura da diáfise. Quanto à forma, Lestodon (figura 1: D ,E) apresenta o entepicôndilo com crista supinadora mais medial que a de Glossotherium. A crista delto- peitoral de Lestodon se encontra (com relação ao plano mesial) de posição mais medial do que em Glossotherium. A tróclea (tr) apresenta a curvatura característica, porém, é também mais reduzida, comparativamente do que a de Glossotherium (HOFFSTETTER, 1952).

Conclusivamente foi determinado ser esse úmero de Glossotherium (figura 1: B, C, G, H) em função das similaridades apresentadas como o material aqui descrito. Dentre elas se destacam principalmente o contorno medial da diáfise até o seu nível entepicondilar. Da mesma forma o contorno do entepicôndilo até a faceta ulnar confere com o observado nos materiais descritos para Glossotherium por Hoffstetter (1952). As proporções lineares entre a faceta ulnar (fu) e a faceta radial (fr) da região condilar (epífise distal) também se enquadram em termos de escala com Glossotherium diferindo em muito de Megatherium, Lestodon e Scelidotherium. A presença clara de uma série de pequenos foramens condilares (fc) (figura 1: H) corrobora da mesma forma que seja um úmero dessa espécie de Mylodontidae. Em nível do contorno da fratura diagonal na margem lateral do úmero, é possível notar uma alteração da superfície óssea a qual lembra claramente um tipo de esmagamento do periósteo (figura 1: H). A esse esmagamento classificamos com um caso de trampling (HOLZ; SIMÕES, 2000).

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Figura 1. (A) Úmero direito de Megatherium americanum, segundo Owen (1858). Escala: 20 cm. (B) Úmero esquerdo de Glossotherium sp. pela vista cranial (C) pela vista caudal segundo Hoffstetter (1952). Escala: 10 cm.

(D) Úmero direito de Lestodon sp. pela vista caudal; (E) pela vista cranial com base em Perea (2003). Escala: 20 cm. (F) Desenho esquemático do úmero direito de Glossotherium sp. pela vista cranial modificado de Hoffstetter (1952). Escala: 10 cm. Partes em cinza representam as porções ósseas faltantes no material UFPel 1-095. (G) e (H) Material UFPel-1-095 com seta indicando a região do pisoteio (trampling) foto dos autores. Escala: 3cm.

(cs) cúspide supinadora; (cp) côndilo proximal; (cd) côndilo distal; (tr) tróclea; (d) crista delto-peitoral; (tm) trocânter maior; (tn) trocânter menor, (fu) faceta ulnar; (fr) faceta radial; (fc) forame condilar.

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4 CONCLUSÕES

A disposição encontrada das fraturas ósseas fossilizadas (mantendo-se ainda em seu estado de unidades ainda articuladas) sugere que tenham assim sido mantidas pela presença de um tecido conectivo antes da diagênese do fóssil. Do contrário, teriam se desarticulado e suas unidades não poderiam ter sido mineralizadas nessa organizada disposição. Pode-se concluir que esse exemplar tenha sido pisoteado ainda em estado de carcaça. Além disso, o achado sugere que esse tipo de preservação tafonômica se deu em meio a um clima frio e seco (típico dos períodos interglaciais e glaciais ao longo do Quaternário). Tal esmagamento (observado aqui nesses padrões) só é possível em carcaças submetidas a um ressecamento ambiental. Essa evidência tafonômica entra em consonância com os modelos paleoclimáticos frios e secos ao longo do quaternário sul americano. É factível concluir, também, que tais restos desse Mylodontidae foram sepultados em sedimentos ainda com tecidos de conexão existentes no esqueleto. A continuidade bioestratinômica mais aceita nesse caso é que tais restos puderam ter sido encobertos por sedimentos flúvio-lacustres, já que, por outro lado, se os mesmos tivessem em ambiente oxidante exposto às intempéries, a elementos faunísticos necrófagos e até mesmo ao constante trampling, não possibilitaria a preservação dessas raras feições tafonômicas.

Agradecimentos

Agradecemos ao Laboratório de Zoologia de Vertebrados, ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas e ao CNPq.

REFERÊNCIAS

HOFFSTETTER, R. Les Mammifères Pléistocènes de la République del´Equateur: Mémoires de la Société Géologique de France, Nouvelle, Serie 31, 1952.

HOLZ, M. SIMÕES, M. Elementos Fundamentals de Tafonomia. Porto Alegre:

EDUFRGS, 2002.

LOPES, R. P.; BUCHMANN, F. S. C.; CARON, F.; ITUSARRY, M. E. Tafonomia dos fósseis de vertebrados (megafauna extinta) encontrados ao longo das barrancas do arroio Chuí e linha de costa, RS, Brasil. Pesquisas em Geociências, v. 28, n. 2, p. 67-73, 2001.

LOPES, R. P.; FERIGOLO, J. Post mortem modifications (pseudopaleopathologies) in middle-late Pleistocene mammal fossils from southern Brazil. Revista brasileira de paleontologia, v. 18, n. 2, p. 285-306, 2015.

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OWEN, V. P. R. S. On the MEGATHERIUM (Megatherium americanum, CUVIER and BLUMENBACH). Part IV.-Bones of the Anterior Extremities. Philosophical Transactions of the Royal Society of London, v. 148, p. 261-278, 1858.

PEREA, D. Osteología comparada de los mamíferos parte II, fauna cuaternaria extinguida: huesos largos y esqueleto externo. Universidad de La República, Faculdad de Ciencias, Serie Manuales, Montevideo, Uruguay, p. 88, 2003.

PITANA, V. G. Estudo do gênero GLOSSOTHERIUM OWEN, 1840 (XENARTHRA, TARDIGRADA, MYLODONTIDAE) PLEISTOCENO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL. 2011. 183 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

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