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Livro Eletrônico Aula 00 Direito Processual Penal p/ TJ-SC (Técnico Judiciário Auxiliar) - Com videoaulas

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Aula 00

Direito Processual Penal p/ TJ-SC (Técnico Judiciário Auxiliar) - Com videoaulas

Professor: Renan Araujo

(2)

A

ULA

D

EMONSTRATIVA

P

RINCêPIOS DO

D

IREITO

P

ROCESSUAL

P

ENAL

. C

ONCEITO E

F

ONTES

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ISPOSI‚ÍES CONSTITUCIONAIS APLICçVEIS

. S

ISTEMAS

P

ROCESSUAIS

. A

PLICA‚ÌO E

I

NTERPRETA‚ÌO DA

L

EI PROCESSUAL PENAL

.

SUMçRIO

1.! APLICA‚ÌO DA LEI PROCESSUAL PENAL ... 7!

1.1! Lei processual penal no espa•o ... 7!

1.2! Lei processual penal no tempo ... 8!

2! PRINCêPIOS PROCESSUAIS PENAIS ... 10!

2.1! Princ’pio da inŽrcia ... 10!

2.2! Princ’pio do devido processo legal ... 11!

2.3! Princ’pio da presun•‹o de n‹o culpabilidade (ou presun•‹o de inoc•ncia) ... 13!

2.4! Princ’pio da obrigatoriedade da fundamenta•‹o das decis›es judiciais ... 16!

2.5! Princ’pio da publicidade ... 17!

2.6! Princ’pio da isonomia processual ... 18!

2.7! Princ’pio do duplo grau de jurisdi•‹o ... 19!

2.8! Princ’pio do Juiz Natural ... 19!

2.9! Princ’pio da veda•‹o ˆs provas il’citas ... 20!

2.10! Princ’pio da veda•‹o ˆ autoincrimina•‹o ... 21!

2.11! Princ’pio do non bis in idem ... 22!

3! DISPOSI‚ÍES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES ... 23!

3.1! Direitos constitucionais do preso ... 23!

3.2! Tribunal do Jœri ... 25!

3.3! Menoridade Penal ... 25!

3.4! Disposi•›es referentes ˆ execu•‹o penal ... 26!

3.5! Outras disposi•›es constitucionais referentes ao processo penal ... 26!

4! INTERPRETA‚ÌO E INTEGRA‚ÌO DA LEI PROCESSUAL ... 27!

5! CONCEITO, FINALIDADE E FONTES DO DPP ... 28!

6! SISTEMAS PROCESSUAIS ... 30!

7! LEGISLA‚ÌO PERTINENTE ... 30!

8! SòMULAS PERTINENTES ... 34!

8.1! Sœmulas vinculantes ... 34!

8.2! Sœmulas do STF ... 34!

8.3! Sœmulas do STJ ... 34!

9! JURISPRUDæNCIA CORRELATA ... 35!

10! RESUMO ... 36!

11! EXERCêCIOS DA AULA ... 41!

12! EXERCêCIOS COMENTADOS ... 50!

13! GABARITO ... 70!

(3)

Ol‡, meus amigos!

ƒ com imenso prazer que estou aqui, mais uma vez, pelo ESTRATƒGIA CONCURSOS, tendo a oportunidade de poder contribuir para a aprova•‹o de voc•s no concurso do TJ-SC. N—s vamos estudar teoria e comentar exerc’cios sobre DIREITO PROCESSUAL PENAL, para o cargo de TƒCNICO JUDICIçRIO AUXILIAR.

E a’, povo, preparados para a maratona?

O edital ainda n‹o foi publicado, mas especula-se que seja publicado em breve. O œltimo concurso foi elaborado pela FGV.

Bom, est‡ na hora de me apresentar a voc•s, n‹o Ž?

Meu nome Ž Renan Araujo, tenho 29 anos, sou Defensor Pœblico Federal desde 2010, atuando na Defensoria Pœblica da Uni‹o no Rio de Janeiro, e mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da UERJ. Antes, porŽm, fui servidor da Justi•a Eleitoral (TRE-RJ), onde exerci o cargo de TŽcnico Judici‡rio, por dois anos. Sou Bacharel em Direito pela UNESA e p—s- graduado em Direito Pœblico pela Universidade Gama Filho.

Minha trajet—ria de vida est‡ intimamente ligada aos Concursos Pœblicos.

Desde o come•o da Faculdade eu sabia que era isso que eu queria para a minha vida! E querem saber? Isso faz toda a diferen•a! Algumas pessoas me perguntam como consegui sucesso nos concursos em t‹o pouco tempo. Simples: Foco + For•a de vontade + Disciplina. N‹o h‡ f—rmula m‡gica, n‹o h‡ ingrediente secreto! Basta querer e correr atr‡s do seu sonho! Acreditem em mim, isso funciona!

ƒ muito gratificante, depois de ter vivido minha jornada de concurseiro, poder colaborar para a aprova•‹o de outros tantos concurseiros, como um dia eu fui! E quando eu falo em Òcolaborar para a aprova•‹oÓ, n‹o estou falando apenas por falar. O EstratŽgia Concursos possui ’ndices alt’ssimos de aprova•‹o em todos os concursos!

Neste curso voc•s receber‹o todas as informa•›es necess‡rias para que possam ter sucesso no concurso do TJ-SC. Acreditem, voc•s n‹o v‹o se arrepender! O EstratŽgia Concursos est‡ comprometido com sua aprova•‹o, com sua vaga, ou seja, com voc•!

Mas Ž poss’vel que, mesmo diante de tudo isso que eu disse, voc• ainda n‹o esteja plenamente convencido de que o EstratŽgia Concursos Ž a melhor escolha. Eu entendo voc•, j‡ estive deste lado do computador. Ës vezes Ž dif’cil escolher o melhor material para sua prepara•‹o. Contudo, alguns colegas de caminhada podem te ajudar a resolver este impasse:

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Esse print screen acima foi retirado da p‡gina de avalia•‹o do curso de Direito Processual Penal para Delegado da PC-PE. Vejam que, dos 62 alunos que avaliaram o curso, 61 o aprovaram. Um percentual de 98,39%.

Ainda n‹o est‡ convencido? Continuo te entendendo. Voc• acha que pode estar dentro daqueles 1,61%. Em raz‹o disso, disponibilizamos gratuitamente esta aula DEMONSTRATIVA, a fim de que voc• possa analisar o material, ver se a abordagem te agrada, etc.

Acha que a aula demonstrativa Ž pouco para testar o material? Pois bem, o EstratŽgia concursos d‡ a voc• o prazo de 30 DIAS para testar o material. Isso mesmo, voc• pode baixar as aulas, estudar, analisar detidamente o material e, se n‹o gostar, devolvemos seu dinheiro.

Sabem porque o EstratŽgia Concursos d‡ ao aluno 30 dias para pedir o dinheiro de volta? Porque sabemos que isso n‹o vai acontecer! N‹o temos medo de dar a voc• essa liberdade.

Neste curso estudaremos todo o conteœdo de Direito Processual Penal estimado para o Edital. Estudaremos teoria e vamos trabalhar tambŽm com exerc’cios comentados.

Abaixo segue o plano de aulas do curso todo:

! ! ! !

AULA CONTEòDO DATA

Aula 00

Introdu•‹o ao estudo do Processo Penal: Princ’pios do Direito Processual Penal. Aplica•‹o da Lei

processual penal. Disposi•›es constitucionais. Fontes do Direito

Processual Penal. Sistemas processuais penais.

24/05

Aula 01 InquŽrito Policial. 31/05

Aula 02 A•‹o penal. 07/06

Aula 03 Jurisdi•‹o e compet•ncia 14/06

(5)

Aula 04 Sujeitos processuais 21/06

Aula 05

Atos e prazos processuais.

Nulidades. Cita•›es e intima•›es.

Senten•a e coisa julgada. Quest›es e processos incidentes.

28/06

Aula 06 Provas (parte I): Teoria geral. 05/07 Aula 07 Provas (parte II): Provas em espŽcie 12/07 Aula 08 Intercepta•‹o telef™nica (Lei

9.296/96)

19/07

Aula 09

Pris‹o e liberdade provis—ria (parte I). Pris‹o em flagrante (espŽcies, hip—teses, etc.). Pris‹o preventiva.

Pris‹o tempor‡ria (Lei 7.960/89)

26/07

Aula 10

Pris‹o e liberdade provis—ria (parte II). Medidas cautelares diversas da

pris‹o. Fian•a.

03/08

Aula 11

Processo: Processo comum.

Procedimento pelos rito ordin‡rio e sum‡rio.

13/08

Aula 12 Procedimento dos crimes da compet•ncia do Tribunal do Jœri

23/08

Aula 13 Processo especiais do CPP. 02/09 Aula 14 Juizados especiais Criminais. 09/09

Aula 15 Recursos 16/09

Aula 16 O habeas corpus e seu processo. 23/09

ATEN‚ÌO! Caso o edital seja publicado e traga algum novo conteœdo, este ser‡ inclu’do no curso, sem custo adicional para os alunos j‡ matriculados.

ATEN‚ÌO 2! Este curso n‹o engloba eventual parte de Legisla•‹o Especial.

Este curso n‹o engloba a parte de Legisla•‹o Processual Penal Especial, ou seja, n‹o engloba os seguintes t—picos:

ÒExecuç‹o Penal. (...) Lei dos Crimes Hediondos. Lei de Proteç‹o a Testemunhas. Lei que define organizaç‹o criminosa e disp›e sobre a investigaç‹o criminal, os meios de obtenç‹o da prova, infraç›es penais correlatas e o procedimento criminal. Lei que disp›e sobre o processo e o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdiç‹o de crimes praticados por organizaç›es

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criminosas. Procedimentos previstos na Lei de Drogas, na Lei Maria da Penha e no Estatuto da Criança e do Adolescente.Ó

As aulas ser‹o disponibilizadas no site conforme o cronograma apresentado. Em cada aula eu trarei algumas quest›es que foram cobradas em concursos pœblicos, para fixarmos o entendimento sobre a matŽria.

Como ainda n‹o temos a defini•‹o da Banca, vamos utilizar quest›es de Bancas consagradas, como FCC, FGV e VUNESP. Caso seja escolhida outra Banca, nosso curso sofrer‡ as adapta•›es necess‡rias.

AlŽm da teoria e das quest›es, voc•s ter‹o acesso a duas ferramentas muito importantes:

¥! RESUMOS Ð Cada aula ter‡ um resumo daquilo que foi estudado, variando de 03 a 10 p‡ginas (a depender do tema), indo direto ao ponto daquilo que Ž mais relevante! Ideal para quem est‡ sem muito tempo.

¥! FîRUM DE DòVIDAS Ð N‹o entendeu alguma coisa? Simples: basta perguntar ao professor Vinicius Silva, que Ž o respons‡vel pelo F—rum de Dœvidas, exclusivo para os alunos do curso.

Outro diferencial importante Ž que nosso curso em PDF ser‡

complementado por videoaulas. Nas videoaulas ser‹o apresentados alguns pontos considerados mais relevantes da matŽria, seja atravŽs da apresenta•‹o da teoria seja atravŽs da resolu•‹o de exerc’cios anteriores, como forma de ajudar na assimila•‹o da matŽria.

No mais, desejo a todos uma boa maratona de estudos!

Prof. Renan Araujo

E-mail: profrenanaraujo@gmail.com Periscope: @profrenanaraujo

Facebook: www.facebook.com/profrenanaraujoestrategia Instagram: www.instagram.com/profrenanaraujo/?hl=pt-br

Youtube:

www.youtube.com/channel/UClIFS2cyREWT35OELN8wcFQ

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Observa•‹o importante: este curso Ž protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legisla•‹o sobre direitos autorais e d‡ outras provid•ncias.

Grupos de rateio e pirataria s‹o clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente atravŽs do site EstratŽgia Concursos. ;-)

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1.! APLICA‚ÌO DA LEI PROCESSUAL PENAL

1.1!Lei processual penal no espa•o

O estudo da aplicabilidade da Lei Processual Penal est‡ relacionado ˆ sua aptid‹o para produzir efeitos. Essa aptid‹o para produzir efeitos est‡ ligada a dois fatores: espacial e temporal.

Assim, a norma processual penal (como qualquer outra) vigora em determinado lugar e em determinado momento. Nesse sentido, devemos analisar onde e quando a lei processual penal brasileira se aplica.

O art. 1¡ do CPP diz o seguinte:

Art. 1o O processo penal reger-se-‡, em todo o territ—rio brasileiro, por este C—digo, ressalvados:

I - os tratados, as conven•›es e regras de direito internacional;

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da Repœblica, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da Repœblica, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constitui•‹o, arts. 86, 89,

¤ 2o, e 100);

III - os processos da compet•ncia da Justi•a Militar;

IV - os processos da compet•ncia do tribunal especial (Constitui•‹o, art. 122, no 17);

V - os processos por crimes de imprensa. Vide ADPF n¼ 130

Par‡grafo œnico. Aplicar-se-‡, entretanto, este C—digo aos processos referidos nos nos.

IV e V, quando as leis especiais que os regulam n‹o dispuserem de modo diverso.

Assim, podemos perceber que o CPP adotou, como regra, o princ’pio da territorialidade. O que seria esse princ’pio? Esse princ’pio determina que a lei produzir‡ seus efeitos dentro do territ—rio nacional1. Simples assim!

Desta maneira, o CPP Ž a lei aplic‡vel ao processo e julgamento das infra•›es penais no Brasil. As regras de aplica•‹o da Lei Penal brasileira est‹o no C—digo Penal, mas isso n‹o nos interessa aqui. O que nos interessa Ž o seguinte: Se for caso de aplica•‹o da Lei Penal brasileira, as regras do processo ser‹o aquelas previstas no CPP, em todo o territ—rio nacional.

Portanto, n‹o se admite a exist•ncia de C—digos Processuais estaduais, atŽ porque compete privativamente ˆ Uni‹o legislar sobre direito processual, nos termos da Constitui•‹o Federal:

Art. 22. Compete privativamente ˆ Uni‹o legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agr‡rio, mar’timo, aeron‡utico, espacial e do trabalho;

1 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execu•‹o penal. 12.¼ edi•‹o. Ed. Forense. Rio de Janeiro, 2015, p. 92

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Como disse a voc•s, esta Ž a regra! Mas toda regra possui exce•›es2. S‹o elas:

A)!Tratados, conven•›es e regras de Direito Internacional

B)!Jurisdi•‹o pol’tica - Prerrogativas constitucionais do Presidente da Repœblica, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da Repœblica, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constitui•‹o, arts. 86, 89, ¤ 2o, e 100) C)!Processos de compet•ncia da Justi•a Eleitoral

D)!Processos de compet•ncia da Justi•a Militar E)!Legisla•‹o especial

Assim, o CPP Ž aplic‡vel aos processos de natureza criminal que tramitem no territ—rio nacional, com as ressalvas feitas anteriormente. Em rela•‹o aos tratados internacionais, ao julgamento dos crimes de responsabilidade, aos procedimentos previstos na Legisla•‹o especial e aos processos criminais da Justi•a Eleitoral, o CPP Ž aplic‡vel de forma subsidi‡ria. Em rela•‹o aos processos penais da Justi•a Militar, h‡ diverg•ncia doutrin‡ria.

H‡ quem sustente que, em rela•‹o aos processos da Justi•a Militar o CPP n‹o Ž aplic‡vel nem mesmo de forma subsidi‡ria, pois o CPPM Ž suficientemente abrangente. Prevalece, contudo, o entendimento de que o CPP Ž aplic‡vel de forma subsidi‡ria (h‡ previs‹o nesse sentido, no pr—prio CPPM).

AlŽm disso, o CPP s— Ž aplic‡vel aos atos processuais praticados no territ—rio nacional. Se, por algum motivo, o ato processual tiver de ser praticado no exterior (oitiva de testemunha, etc.), por meio de carta rogat—ria (ou outro instrumento de coopera•‹o jur’dica internacional), ser‹o aplicadas as regras processuais do pa’s em que o ato for praticado.

1.2!Lei processual penal no tempo Nos termos do art. 2¡ do CPP:

Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-‡ desde logo, sem preju’zo da validade dos atos realizados sob a vig•ncia da lei anterior.

Por este artigo podemos extrair o princ’pio do tempus regit actum, tambŽm conhecido como princ’pio do efeito imediato ou aplica•‹o imediata da lei processual. Este princ’pio significa que a lei processual regular‡ os atos processuais praticados a partir de sua vig•ncia, n‹o se aplicando aos atos j‡

praticados.3

2 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 85-92

3 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 96. No mesmo sentido, Eug•nio Pacelli. PACELLI, Eug•nio. Curso de processo penal. 16¼ edi•‹o. Ed. Atlas. S‹o Paulo, 2012, p. 24.

(10)

Esta Ž a regra de aplica•‹o temporal de toda e qualquer lei, meus caros, ou seja, produ•‹o de efeitos somente para o futuro. Caso contr‡rio, o caos seria instalado!

Assim, voc•s devem ter muito cuidado! Ainda que o processo tenha se iniciado sob a vig•ncia de uma lei, sobrevindo outra norma, alterando o CPP (ainda que mais gravosa ao rŽu), esta ser‡ aplicada aos atos futuros. Ou seja, a lei nova n‹o pode retroagir para alcan•ar atos processuais j‡

praticados, mas se aplica aos atos futuros dos processos em curso.

Esta possibilidade n‹o ofende o art. 5¡, XL da Constitui•‹o Federal, que diz:

Art. 5¼ (...) XL - a lei penal n‹o retroagir‡, salvo para beneficiar o rŽu;

N‹o ofende, pois n‹o se trata de retroatividade da lei. Mais que isso, esse dispositivo n‹o se aplica ˆs normas puramente processuais.

EXEMPLO: Imaginemos que uma pessoa responda pelo crime de homic’dio. Nesse caso, a Lei prev• dois recursos, ÒAÓ e ÒBÓ. Durante o processo surge uma lei alterando o CPP e excluindo a possibilidade de interposi•‹o do recurso ÒBÓ, ou seja, Ž prejudicial ao rŽu. Nesse caso, trata-se de norma puramente processual, e a aplica•‹o da lei nova ser‡

imediata. Entretanto, se o acusado j‡ tiver interposto o recurso ÒBÓ, a lei nova n‹o ter‡ o cond‹o de fazer com que o recurso deixe de ser julgado, pois se trata de ato processual j‡ praticado (interposi•‹o do recurso), devendo o Tribunal apreci‡-lo.

Ocorre, porŽm, que dentro de uma lei processual pode haver normas de natureza material. Como assim? Uma lei processual pode estabelecer normas que, na verdade, s‹o de Direito Penal, pois criam ou extinguem direito do indiv’duo, relativos ˆ sua liberdade, etc. Nesses casos de leis materiais, inseridas em normas processuais (e vice-versa), ocorre o fen™meno da heterotopia.

Em casos como este, o dif’cil Ž saber identificar qual regra Ž de direito processual e qual Ž de direito material (penal). PorŽm, uma vez identificada a norma como sendo uma regra de direito material, sua aplica•‹o ser‡ regulada pelas normas atinentes ˆ aplica•‹o da lei penal no tempo, inclusive no que se refere ˆ possibilidade de efic‡cia retroativa para benef’cio do rŽu.

Diferentemente das normas heterot—picas (que s‹o ou de direito material ou de direito processual, mas inseridas em lei de natureza diversa), existem normas mistas, ou h’bridas, que s‹o aquelas que s‹o, ao mesmo tempo, normas de direito processual e de direito material.

No caso das normas mistas, embora haja alguma diverg•ncia doutrin‡ria, vem prevalecendo o entendimento de que, por haver disposi•›es de direito material, devem ser utilizadas as regras de aplica•‹o da lei penal no

(11)

tempo, ou seja, retroatividade da lei mais benŽfica e impossibilidade de retroatividade quando houver preju’zo ao rŽu.4

CUIDADO! No que se refere ˆs normas relativas ˆ execu•‹o penal (cumprimento de pena, sa’das tempor‡rias, etc.), a Doutrina diverge quanto ˆ sua natureza. H‡ quem entenda tratar-se de normas de direito material, h‡ quem as considere como normas de direito processual. Entretanto, para n—s, o que importa Ž o que o STF e o STJ pensam! E eles entendem que se trata de norma de direito material. Assim, se uma lei nova surge, alterando o regime de cumprimento da pena, beneficiando o rŽu, ela ser‡

aplicada aos processos em fase de execu•‹o, por ser considerada norma de direito material.

2! PRINCêPIOS PROCESSUAIS PENAIS

2.1!Princ’pio da inŽrcia

Alguns doutrinadores n‹o consideram este um princ’pio do processo penal com base constitucional, embora seja un‰nime que Ž aplic‡vel ao processo penal brasileiro.

Este princ’pio diz que o Juiz n‹o pode dar in’cio ao processo penal, pois isto implicaria em viola•‹o da sua imparcialidade, j‡ que, ao dar in’cio ao processo, o Juiz j‡ d‡ sinais de que ir‡ condenar o rŽu. Trata-se de uma das materializa•›es da ado•‹o do sistema acusat—rio, ou seja, a clara separa•‹o entre as fun•›es de acusar e julgar.

Um dos dispositivos constitucionais que d‡ base a esse entendimento Ž o art. 129, I da Constitui•‹o Federal:

Art. 129. S‹o fun•›es institucionais do MinistŽrio Pœblico:

I - promover, privativamente, a a•‹o penal pœblica, na forma da lei;

Percebam que a Constitui•‹o estabelece como sendo privativa do MP a promo•‹o da a•‹o penal pœblica. Assim, diz-se que o MP Ž o Òtitular da a•‹o penal pœblicaÓ.

Mas e a a•‹o penal privada? Mais ˆ frente voc•s ver‹o que a a•‹o penal privada Ž de titularidade do ofendido. Assim, o Juiz j‡ n‹o poderia a ela dar in’cio por sua pr—pria natureza, j‡ que a lei considera que, nesses casos, o interesse do ofendido em processar ou n‹o o infrator se sobrep›e ao interesse do Estado na persecu•‹o penal.

4 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 96

(12)

Este princ’pio Ž o alicerce m‡ximo daquilo que se chama de sistema acusat—rio, que Ž o sistema adotado pelo nosso processo penal5. No sistema acusat—rio existe uma figura que acusa e outra figura que julga, diferentemente do sistema inquisitivo, no qual acusador e julgador se confundem na mesma pessoa, o que gera parcialidade do julgador, ofendendo inœmeros outros princ’pios.

Entretanto, este princ’pio n‹o impede que o Juiz determine a realiza•‹o de dilig•ncias que entender necess‡rias para elucidar quest‹o relevante para o deslinde do processo. Isso porque no Processo Penal, diferentemente do que ocorre no Processo Civil, vigora o princ’pio da busca pela verdade real ou material, n‹o da verdade formal. Assim, no processo penal n‹o h‡ presun•‹o de veracidade das alega•›es da acusa•‹o em caso de aus•ncia de manifesta•‹o em contr‡rio pelo rŽu, pois o interesse pœblico pela busca da efetiva verdade impede isto.

AlŽm disso, este princ’pio ir‡ embasar diversas outras disposi•›es do sistema processual penal brasileiro, como aquela que impede que o Juiz julgue um fato n‹o contido na denœncia (seria uma viola•‹o indireta ao princ’pio da inŽrcia), que caracteriza o princ’pio da congru•ncia6 entre a senten•a e a inicial acusat—ria.

2.2!Princ’pio do devido processo legal

Esse princ’pio Ž o que se pode chamar de base principal do Direito Processual brasileiro, pois todos os outros, de uma forma ou de outra, encontram nele seu fundamento. Este princ’pio est‡ previsto no art. 5¡, LIV da CRFB/88, nos seguintes termos:

Art. 5¼ (...) LIV - ninguŽm ser‡ privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Assim, a Constitui•‹o estabelece que ninguŽm poder‡ sofrer priva•‹o de sua liberdade ou de seus bens sem que haja um processo prŽvio, em que lhe seja assegurada toda a sorte de instrumentos de defesa.

Desta maneira, especificamente no processo penal, esse princ’pio norteia algumas regras, como o Direito que o acusado possui de ser ouvido pessoalmente (Sim, o interrogat—rio Ž um direito do rŽu), a fim de expor sua vers‹o dos fatos, bem como o direito que o acusado possui de arrolar testemunhas, contradizer todas as provas e argumentos da acusa•‹o etc. Todos eles tiram seu fundamento do Princ’pio do Devido Processo Legal.

5 Alguns sustentam que se adotou um sistema misto (entre acusat—rio e inquisitivo), pois h‡ caracteres de ambos. NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p.71

6 TambŽm chamado de princ’pio da adstri•‹o ou princ’pio da corre•‹o entre acusa•‹o e senten•a. NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 608

(13)

A obedi•ncia ao rito previsto na Lei Processual (seja o rito ordin‡rio ou outro), bem como ˆs demais regras estabelecidas para o processo Ž que se chama de Devido Processo Legal em sentido formal.

Entretanto, existe outra vertente deste princ’pio, denominada Devido Processo Legal em sentido material. Nessa œltima acep•‹o, entende-se que o Devido Processo Legal s— Ž efetivamente respeitado quando o Estado age de maneira razo‡vel, proporcional e adequada na tutela dos interesses da sociedade e do acusado.

O princ’pio do Devido Processo Legal tem como corol‡rios os postulados da Ampla Defesa e do Contradit—rio, ambos tambŽm previstos na Constitui•‹o Federal, em seu art. 5¡, LV:

Art. 5 (...)

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral s‹o assegurados o contradit—rio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

2.2.1!Dos postulados do contradit—rio e da ampla defesa

O princ’pio do Contradit—rio estabelece que os litigantes em geral e, no nosso caso, os acusados, tem assegurado o direito de contradizer os argumentos trazidos pela parte contr‡ria e as provas por ela produzidas.

Entretanto, este princ’pio sofre limita•›es, notadamente quando a decis‹o a ser tomada pelo Juiz n‹o possa esperar a manifesta•‹o do acusado ou a ci•ncia do acusado pode implicar a frustra•‹o da decis‹o.

EXEMPLO: Imagine que o MP aju’za a•‹o penal em face de JosŽ, requerendo seja decretada sua pris‹o preventiva, com base na ocorr•ncia de uma das circunst‰ncias previstas no art. 312 do CPP. O Juiz, ao receber a denœncia, verificando estarem presentes os requisitos que autorizam a decreta•‹o da pris‹o preventiva, a decretar‡ sem ouvir o acusado, pois aguardar a manifesta•‹o deste acerca da pris‹o preventiva pode acarretar na frustra•‹o desta (fuga do acusado).

J‡ o postulado da ampla defesa prev• que n‹o basta dar ao acusado ci•ncia das manifesta•›es da acusa•‹o e facultar-lhe se manifestar, se n‹o lhe forem dados instrumentos para isso. Ampla Defesa e Contradit—rio caminham juntos (atŽ por isso est‹o no mesmo inciso da Constitui•‹o), e retiram seu fundamento no Devido Processo Legal.

Entre os instrumentos para o exerc’cio da defesa est‹o a previs‹o legal de recursos em face das decis›es judiciais, direito ˆ produ•‹o de provas, bem como a obriga•‹o de que o Estado forne•a assist•ncia jur’dica integral e gratuita, primordialmente atravŽs da Defensoria Pœblica. Vejamos:

Art. 5¼ (...) LXXIV - o Estado prestar‡ assist•ncia jur’dica integral e gratuita aos que comprovarem insufici•ncia de recursos;

(14)

Portanto, ao acusado que n‹o possuir meios de pagar um advogado, deve ser garantida a defesa por um Defensor Pœblico, ou, em n‹o havendo sede da Defensoria Pœblica na comarca, ser nomeado um defensor dativo (advogado particular pago pelos cofres pœblicos), a fim de que lhe seja prestada defesa tŽcnica.

AlŽm da defesa tŽcnica, realizada por profissional habilitado (advogado particular ou Defensor Pœblico), h‡ tambŽm a autodefesa, que Ž realizada pelo pr—prio rŽu, especialmente quando do seu interrogat—rio, oportunidade na qual pode, ele mesmo, defender-se pessoalmente, sem a intermedia•‹o de procurador. Assim, se o Juiz se recusar a interrogar o rŽu, por exemplo, estar‡ violando o princ’pio da ampla defesa, por estar impedindo o rŽu de exercer sua autodefesa.

A autodefesa se desdobra em tr•s:

⇒!Direito de audi•ncia Ð Tal direito se materializa durante o interrogat—rio, oportunidade na qual o acusado pode apresentar ao Juiz, pessoalmente, a sua defesa, ou seja, sua vers‹o acerca dos fatos.

⇒!Direito de presen•a Ð ƒ assegurado ao acusado o direito de acompanhar os atos da instru•‹o processual, auxiliando o seu defensor na realiza•‹o da defesa. Ex. Acompanhar a realiza•‹o da Òreconstitui•‹oÓ (reprodu•‹o simulada dos fatos).

⇒!Capacidade postulat—ria aut™noma excepcional Ð Ao acusado Ž conferido o direito de postular diretamente ao Ju’zo em determinados casos. Ex.: O acusado tem legitimidade recursal, ou seja, ele pode recorrer mesmo que seu defensor n‹o recorra (art. 577 do CPP).

Ao contr‡rio da defesa tŽcnica, que n‹o pode faltar no processo criminal, sob pena de nulidade absoluta, o rŽu pode recusar-se a exercer a autodefesa, ficando em sil•ncio, por exemplo, pois o direito ao sil•ncio Ž um direito expressamente previsto ao rŽu.

Este princ’pio n‹o impede, porŽm, que o acusado sofra as consequ•ncias de sua inŽrcia em rela•‹o aos atos processuais (n‹o-interposi•‹o de recursos, aus•ncia injustificada de audi•ncias, etc.). Entretanto, o princ’pio da ampla defesa se manifesta mais explicitamente quando o rŽu, embora citado, deixe de apresentar Resposta ˆ Acusa•‹o. Nesse caso, dada a import‰ncia da pe•a de defesa, dever‡ o Juiz encaminhar os autos ˆ Defensoria Pœblica, para que atue na qualidade de curador do acusado, ou, em n‹o havendo Defensoria no local, nomear defensor dativo para que patrocine a defesa do acusado.

2.3!Princ’pio da presun•‹o de n‹o culpabilidade (ou presun•‹o de inoc•ncia)

A Presun•‹o de inoc•ncia Ž o maior pilar de um Estado Democr‡tico de Direito, pois, segundo este princ’pio, nenhuma pessoa pode ser considerada culpada (e sofrer as consequ•ncias disto) antes do tr‰nsito em julgado se senten•a penal condenat—ria. Nos termos do art. 5¡, LVII da CRFB/88:

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LVII - ninguŽm ser‡ considerado culpado atŽ o tr‰nsito em julgado de senten•a penal condenat—ria;

O que Ž tr‰nsito em julgado de senten•a penal condenat—ria? ƒ a situa•‹o na qual a senten•a proferida no processo criminal, condenando o rŽu, n‹o pode mais ser modificada atravŽs de recurso. Assim, enquanto n‹o houver uma senten•a criminal condenat—ria irrecorr’vel, o acusado n‹o pode ser considerado culpado e, portanto, n‹o pode sofrer as consequ•ncias da condena•‹o.

Este princ’pio pode ser considerado:

⇒! Uma regra probat—ria (regra de julgamento) - Deste princ’pio decorre que o ™nus (obriga•‹o) da prova cabe ao acusador (MP ou ofendido, conforme o caso). O rŽu Ž, desde o come•o, inocente, atŽ que o acusador prove sua culpa. Assim, temos o princ’pio do in dubio pro reo ou favor rei, segundo o qual, durante o processo (inclusive na senten•a), havendo dœvidas acerca da culpa ou n‹o do acusado, dever‡ o Juiz decidir em favor deste, pois sua culpa n‹o foi cabalmente comprovada.

CUIDADO: Existem hip—teses em que o Juiz n‹o decidir‡ de acordo com princ’pio do in dubio pro reo, mas pelo princ’pio do in dubio pro societate. Por exemplo, nas decis›es de recebimento de denœncia ou queixa e na decis‹o de pronœncia, no processo de compet•ncia do Jœri, o Juiz decide contrariamente ao rŽu (recebe a denœncia ou queixa no primeiro caso, e pronuncia o rŽu no segundo) com base apenas em ind’cios de autoria e prova da materialidade. Ou seja, nesses casos, mesmo o Juiz tendo dœvidas quanto ˆ culpabilidade do rŽu, dever‡ decidir contrariamente a ele, e em favor da sociedade, pois destas decis›es n‹o h‡ consequ•ncias para o rŽu, permitindo-se, apenas, que seja iniciado o processo ou a fase processual, na qual ser‹o produzidas as provas necess‡rias ˆ elucida•‹o dos fatos.

⇒! Uma regra de tratamento - Deste princ’pio decorre, ainda, que o rŽu deve ser, a todo momento, tratado como inocente. E isso tem uma dimens‹o interna e uma dimens‹o externa:

a)!Dimens‹o interna Ð O agente deve ser tratado, dentro do processo, como inocente. Ex.: O Juiz n‹o pode decretar a pris‹o preventiva do acusado pelo simples fato de o rŽu estar sendo processado, caso contr‡rio, estaria presumindo a culpa do acusado.

b)!Dimens‹o externa Ð O agente deve ser tratado como inocente FORA do processo, ou seja, o fato de estar sendo processado n‹o pode gerar reflexos negativos na vida do rŽu. Ex.: O rŽu n‹o pode ser eliminado de um concurso pœblico porque est‡ respondendo a um processo criminal (pois isso seria presumir a culpa do rŽu).

Desta maneira, sendo este um princ’pio de ordem Constitucional, deve a legisla•‹o infraconstitucional (especialmente o CP e o CPP)

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respeit‡-lo, sob pena de viola•‹o ˆ Constitui•‹o. Portanto, uma lei que dissesse, por exemplo, que o cumprimento de pena se daria a partir da senten•a em primeira inst‰ncia seria inconstitucional, pois a Constitui•‹o afirma que o acusado ainda n‹o Ž considerado culpado nessa hip—tese.

CUIDADO! A exist•ncia de pris›es provis—rias (pris›es decretadas no curso do processo) n‹o ofende a presun•‹o de inoc•ncia, pois nesse caso n‹o se trata de uma pris‹o como cumprimento de pena, mas sim de uma pris‹o cautelar, ou seja, para garantir que o processo penal seja devidamente instru’do ou eventual senten•a condenat—ria seja cumprida. Por exemplo: Se o rŽu est‡ dando sinais de que vai fugir (tirou passaporte recentemente), e o Juiz decreta sua pris‹o preventiva, o faz n‹o por consider‡- lo culpado, mas para garantir que, caso seja condenado, cumpra a pena. Voc•s ver‹o mais sobre isso na aula sobre Pris‹o e Liberdade Provis—ria! J

Ou seja, a pris‹o cautelar, quando devidamente fundamentada na necessidade de evitar a ocorr•ncia de algum preju’zo (risco para a instru•‹o ou para o processo, por exemplo), Ž v‡lida. O que n‹o se pode admitir Ž a utiliza•‹o da pris‹o cautelar como Òantecipa•‹o de penaÓ.

Vou transcrever para voc•s agora alguns pontos que s‹o pol•micos e a respectiva posi•‹o dos Tribunais Superiores, pois isto Ž importante.

¥! Processos criminais em curso e inquŽritos policiais em face do acusado podem ser considerados maus antecedentes? Segundo o STJ e o STF n‹o, pois em nenhum deles o acusado foi condenado de maneira irrecorr’vel, logo, n‹o pode ser considerado culpado nem sofrer qualquer consequ•ncia em rela•‹o a eles (sœmula 444 do STJ).

¥! Regress‹o de regime de cumprimento da pena Ð O STJ e o STF entendem que NÌO Hç NECESSIDADE DE CONDENA‚ÌO PENAL TRANSITADA EM JULGADO para que o preso sofra a regress‹o do regime de cumprimento de pena mais brando para o mais severo (do semiaberto para o fechado, por exemplo). Nesses casos, basta que o preso tenha cometido novo crime doloso ou falta grave, durante o cumprimento da pena pelo crime antigo, para que haja a regress‹o, nos termos do art. 118, I da Lei 7.210/84 (Lei de Execu•›es Penais), n‹o havendo necessidade, sequer, de que tenha havido condena•‹o criminal ou administrativa. A Jurisprud•ncia entende que esse artigo da LEP n‹o ofende a Constitui•‹o.

¥! Revoga•‹o do benef’cio da suspens‹o condicional do processo em raz‹o do cometimento de crime Ð Prev• a Lei 9.099/95 que em determinados crimes, de menor potencial ofensivo, pode ser o processo criminal suspenso por determinado, devendo o rŽu cumprir algumas obriga•›es durante este prazo (dentre elas, n‹o cometer novo

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crime), findo o qual estar‡ extinta sua punibilidade. Nesse caso, o STF e o STJ entendem que, descoberta a pr‡tica de crime pelo acusado beneficiado com a suspens‹o do processo, este benef’cio deve ser revogado, por ter sido descumprida uma das condi•›es, n‹o havendo necessidade de tr‰nsito em julgado da senten•a condenat—ria do crime novo.

CUIDADO MASTER! Recentemente, no julgamento do HC 126.292 o STF decidiu (entendimento confirmado posteriormente) que o cumprimento da pena pode se iniciar com a mera condena•‹o em segunda inst‰ncia por um —rg‹o colegiado (TJ, TRF, etc.). Isso significa que o STF relativizou o princ’pio da presun•‹o de inoc•ncia, admitindo que a ÒculpaÓ (para fins de cumprimento da pena) j‡ estaria formada nesse momento (embora a CF/88 seja expressa em sentido contr‡rio). Isso significa que, possivelmente, teremos (num futuro breve) altera•‹o na jurisprud•ncia consolidada do STF e do STJ, de forma que a•›es penais em curso passem a poder ser consideradas como maus antecedentes, desde que haja, pelo menos, condena•‹o em segunda inst‰ncia por —rg‹o colegiado (mesmo sem tr‰nsito em julgado), alŽm de outros reflexos que tal relativiza•‹o provoca (HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 17.2.2016).

2.4!Princ’pio da obrigatoriedade da fundamenta•‹o das decis›es judiciais

Este princ’pio est‡ previsto no art. 93, IX da Constitui•‹o:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, dispor‡ sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princ’pios:

(...)

IX todos os julgamentos dos —rg‹os do Poder Judici‡rio ser‹o pœblicos, e fundamentadas todas as decis›es, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presen•a, em determinados atos, ˆs pr—prias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preserva•‹o do direito ˆ intimidade do interessado no sigilo n‹o prejudique o interesse pœblico ˆ informa•‹o;

Como voc•s podem ver, Ž a pr—pria Constitui•‹o quem determina que os atos decis—rios proferidos pelo Juiz sejam fundamentados. Desta maneira, pode- se elevar esse princ’pio (motiva•‹o das decis›es judiciais) ˆ categoria de princ’pio constitucional, por ter merecido a aten•‹o da Lei M‡xima.

Portanto, quando o Juiz indefere uma prova requerida, ou prolata a senten•a, deve fundamentar seu ato, dizendo em que fundamento se baseia para indeferir a prova ou para tomar a decis‹o que tomou na senten•a (condenando ou absolvendo).

Esse princ’pio decorre da l—gica do sistema jur’dico p‡trio, em que a transpar•ncia deve vigorar. Assim, a parte (seja o acusado ou o acusador) saber‡

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exatamente o que se baseou o Juiz para proferir aquela decis‹o e, assim, poder examinar se o Magistrado agiu dentro da legalidade.

Ali‡s, esse princ’pio guarda estrita rela•‹o com o princ’pio da Ampla Defesa, eis que a aus•ncia de fundamenta•‹o ou a fundamenta•‹o deficiente de uma decis‹o dificulta e por vezes impede a sua impugna•‹o, j‡ que a parte prejudicada n‹o tem elementos para combat•-lo, j‡ que n‹o sabe seus fundamentos.

Alguns pontos controvertidos merecem destaque:

¥! A decis‹o de recebimento da denœncia ou queixa, apesar de possuir forte carga decis—ria, n‹o precisa de fundamenta•‹o complexa (STF entende que isso n‹o fere a Constitui•‹o).

¥! A fundamenta•‹o referida Ž constitucional Ð Fundamenta•‹o referida Ž aquela na qual um —rg‹o do Judici‡rio se remete ˆs raz›es expostas por outro —rg‹o do Judici‡rio (Ex.: O Tribunal, ao julgar a apela•‹o, mantendo a senten•a, pode fundamentar sua decis‹o referindo-se aos argumentos expostos na senten•a de primeira inst‰ncia, sem necessidade de reproduzi-los no corpo do Ac—rd‹o).

¥! As decis›es proferidas pelo Tribunal do Jœri n‹o s‹o fundamentadas, pois os julgadores (jurados) n‹o possuem conhecimento tŽcnico, proferindo seu voto conforme sua percep•‹o de Justi•a indicar.

2.5!Princ’pio da publicidade

Este princ’pio estabelece que os atos processuais e as decis›es judiciais ser‹o pœblicas, ou seja, de acesso livre a qualquer do povo. Essa Ž a regra prevista no art. 93, IX da CRFB/88:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, dispor‡ sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princ’pios:

(...)

IX- todos os julgamentos dos —rg‹os do Poder Judici‡rio ser‹o pœblicos, e fundamentadas todas as decis›es, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presen•a, em determinados atos, ˆs pr—prias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preserva•‹o do direito ˆ intimidade do interessado no sigilo n‹o prejudique o interesse pœblico ˆ informa•‹o;

Percebam que a Constitui•‹o determina que os julgamentos dos —rg‹os do Poder Judici‡rio ser‹o pœblicos, mas entende-se ÒjulgamentosÓ como qualquer ato processual.

Entretanto, essa publicidade NÌO ƒ ABSOLUTA, podendo sofrer restri•‹o, quando a intimidade das partes ou interesse pœblico exigir. A isso se chama de publicidade restrita.

Essa possibilidade de restri•‹o est‡ prevista, ainda, no art. 5¡, LX da CRFB/88:

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Art. 5¼ (...) LX - a lei s— poder‡ restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Ressalto a voc•s que essa publicidade pode ser restringida apenas ˆs partes e seus procuradores, ou somente a estes. O que isso significa? Que alguns atos podem n‹o ser pœblicos nem mesmo para a outra parte! Sim! Imaginem que, numa audi•ncia, a ofendida pelo crime de estupro n‹o queira dar seu depoimento na presen•a do acusado. Nada mais natural. Assim, o Juiz poder‡ mandar que este se retire da sala, permanecendo, porŽm, o seu advogado. Aos procuradores das partes (advogado, membro do MP, etc.) nunca se pode negar publicidade dos atos processuais! Gravem isso!

Essa impossibilidade de restri•‹o da publicidade aos procuradores das partes Ž decorr•ncia natural do princ’pio do contradit—rio e da ampla defesa, pois s‹o os procuradores quem exercem a defesa tŽcnica, n‹o podendo ser privados do acesso a nenhum ato do processo, sob pena de nulidade.7

2.6!Princ’pio da isonomia processual

O princ’pio da isonomia processual (ou par conditio ou paridade de armas) decorre do princ’pio da isonomia, genericamente considerado, segundo o qual as pessoas s‹o iguais perante a lei, sendo vedadas pr‡ticas discriminat—rias. Est‡ previsto no art. 5¡ da Constitui•‹o:

Art. 5¼ Todos s‹o iguais perante a lei, sem distin•‹o de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pa’s a inviolabilidade do direito ˆ vida, ˆ liberdade, ˆ igualdade, ˆ seguran•a e ˆ propriedade, nos termos seguintes:

No campo processual este princ’pio tambŽm irradia seus efeitos, devendo a lei processual tratar ambas as partes de maneira igualit‡ria, conferindo-lhes os mesmos direitos e deveres. Por exemplo: Os prazos recursais devem ser os mesmos para acusa•‹o e defesa, o tempo para sustenta•‹o oral nas sess›es de julgamento tambŽm devem ser id•nticos, etc.

Entretanto, Ž poss’vel que a lei estabele•a algumas situa•›es aparentemente anti-ison™micas, a fim de equilibrar as for•as dentro do processo.8

7 Por fim, vale registrar que no Tribunal do Jœri (que tem regras muito espec’ficas) o voto dos jurados Ž sigiloso, por expressa previs‹o constitucional, caracterizando-se em mais uma exce•‹o ao princ’pio. Nos termos do art. 5¡, XVIII, b, da Constitui•‹o:

Art. 5¼ (...)

XXXVIII - Ž reconhecida a institui•‹o do jœri, com a organiza•‹o que lhe der a lei, assegurados:

(...)

b) o sigilo das vota•›es;

Assim, nesse caso, n‹o h‡ publicidade do voto proferido pelo jurado, mas a sess‹o secreta onde ocorre o julgamento pelos jurados (dep—sito dos votos na urna) Ž acess’vel aos procuradores.

8 Por exemplo, quando a lei estabelece que a Defensoria Pœblica possui prazo em dobro para recorrer, n‹o est‡ ferindo o princ’pio da isonomia, mas est‡ apenas corrigindo uma situa•‹o de desequil’brio. Isso porque a Defensoria Pœblica Ž uma Institui•‹o absolutamente assoberbada, que n‹o pode escolher se vai ou n‹o patrocinar uma demanda. Caso o assistido se enquadre como hipossuficiente, a Defensoria Pœblica deve

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Boa parte da Doutrina sustenta que na a•‹o penal pœblica o princ’pio da paridade de armas fica mitigado, pois o MP desempenha dupla fun•‹o (atua como acusador e como fiscal da Lei). Na a•‹o penal privada haveria uma paridade de armas mais evidente, j‡ que ter’amos dois particulares litigando, um de cada lado (o querelante e o querelado, ou seja, v’tima e infrator), e o MP atuando como fiscal da Lei.

2.7!Princ’pio do duplo grau de jurisdi•‹o

Este princ’pio estabelece que as decis›es judiciais devem estar sujeitas ˆ revis‹o por outro —rg‹o do Judici‡rio. Embora n‹o esteja expresso na Constitui•‹o, grande parte dos doutrinadores o aceita como um princ’pio constitucional impl’cito9, fundamentando sua tese nas regras de compet•ncia dos Tribunais estabelecidas na Constitui•‹o, o que deixaria impl’cito que toda decis‹o judicial deva estar sujeita a recurso, via de regra. A despeito de n‹o estar expl’cito na Constitui•‹o, tem previs‹o expressa no Pacto de San JosŽ da Costa Rica (Conven•‹o Americana de Direitos Humanos), ratificado pelo Brasil.

Entretanto, mesmo aqueles que consideram ser este um princ’pio de ’ndole constitucional entendem que h‡ exce•›es, que s‹o os casos de compet•ncia origin‡ria do STF, a•›es nas quais n‹o cabe recurso da decis‹o de mŽrito (—bvio, pois o STF Ž a Corte Suprema do Brasil). Assim, essa exce•‹o n‹o anularia o fato de que se trata de um princ’pio constitucional, apenas n‹o lhe permite ser absoluto.

2.8! Princ’pio do Juiz Natural

A Constitui•‹o estabelece em seu art. 5¡, LIII que:

Art. 5¼ (...) LIII - ninguŽm ser‡ processado nem sentenciado sen‹o pela autoridade competente;

Assim, desse dispositivo constitucional podemos extrair o princ’pio do Juiz Natural.

O princ’pio do Juiz Natural estabelece que toda pessoa tem direito de ser julgada por um —rg‹o do Poder Judici‡rio brasileiro, devidamente investido na fun•‹o jurisdicional, cuja compet•ncia fora previamente definida10. Assim, est‡

vedada a forma•‹o de Tribunal ou Ju’zo de exce•‹o, que s‹o aqueles criados especificamente para o julgamento de um determinado caso. Isso n‹o Ž tolerado no Brasil!

atuar. Um escrit—rio de advocacia pode, por exemplo, se recusar a patrocinar uma defesa alegando estar muito atarefado.

9 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 52.

10 PACELLI, Eug•nio. Op. cit., p. 37

0

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Trata-se de princ’pio que remonta ao Direito anglo-sax‹o, fundado na ideia b‡sica de veda•‹o ˆ exist•ncia de Tribunais de Exce•‹o. Este princ’pio viria a ser, posteriormente, mais bem trabalhado pelo Direito norte-americano, ao exigir-se a fixa•‹o prŽvia da compet•ncia jurisdicional.

PorŽm, voc•s n‹o devem confundir Ju’zo ou Tribunal de exce•‹o com varas especializadas. As varas especializadas s‹o criadas para otimizar o trabalho do Judici‡rio, e sua compet•ncia Ž definida abstratamente, e n‹o em raz‹o de um fato isolado, de forma que n‹o ofendem o princ’pio. O que este princ’pio impede Ž a manipula•‹o das Òregras do jogoÓ para se ÒescolherÓ o Juiz que ir‡

julgar a causa.11

Assim, proposta a a•‹o penal, ela ser‡ distribu’da para um dos Ju’zes com compet•ncia para julg‡-la.

Boa parte da Doutrina sustenta12, ainda, a exist•ncia do princ’pio do Promotor Natural. Tal princ’pio estabelece que toda pessoa tem direito de ser acusada pela autoridade competente. Assim, Ž vedada a designa•‹o pelo Procurador-Geral de Justi•a de um Promotor para atuar especificamente num determinado caso. Isso seria simplesmente um acusador de exce•‹o, alguŽm que n‹o estava previamente definido como o Promotor (ou um dos Promotores) que poderia receber o caso, mas alguŽm que foi definido como o acusador de um rŽu ap—s a pr‡tica do fato, cuja finalidade Ž fazer com que o acusado seja processado por alguŽm que possui determinada caracter’stica (Promotor mais brando ou mais severo, a depender do infrator).

Entretanto, a defini•‹o de atribui•›es especializadas (Promotor para crimes ambientais, crimes contra a ordem financeira, etc.) n‹o viola este princ’pio, pois n‹o se est‡ estabelecendo uma atribui•‹o casu’stica, apenas para determinado caso, mas uma atribui•‹o abstrata, que se aplicar‡ a todo e qualquer caso semelhante. ƒ exatamente o mesmo que ocorre em rela•‹o ˆs Varas especializadas.

2.9!Princ’pio da veda•‹o ˆs provas il’citas

No nosso sistema processual penal vige o princ’pio do livre convencimento motivado do Juiz, ou seja, o Juiz n‹o est‡ obrigado a decidir conforme determinada prova (confiss‹o, por exemplo), podendo decidir da forma que entender, desde que fundamente sua decis‹o em alguma das provas produzidas nos autos do processo.

Em raz‹o disso, ˆs partes Ž conferido o direito de produzir as provas que entendam necess‡rias para convencer o Juiz a acatar sua tese. Entretanto, esse direito probat—rio n‹o Ž ilimitado, encontrando limites nos direitos fundamentais previstos na Constitui•‹o. Essa limita•‹o encontra-se no art. 5¡, LVI da Constitui•‹o. Vejamos:

11 Outra situa•‹o que tambŽm NÌO VIOLA o princ’pio do Juiz Natural Ž a atra•‹o, por conex‹o ou contin•ncia, do processo do corrŽu ao foro por prerrogativa de fun•‹o de um dos denunciados (sœmula 704 do STF).

Veremos mais sobre isso na aula sobre jurisdi•‹o e compet•ncia.

12 Ver, por todos, NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 52

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Art. 5¼ (...) LVI - s‹o inadmiss’veis, no processo, as provas obtidas por meios il’citos;

Vejam que a Constitui•‹o Ž clara ao dizer que n‹o se admitem no processo as provas que tenham sido obtidas por meios il’citos. Mas o que seriam meios il’citos? Seriam todos aqueles meios em que para a obten•‹o da prova tenha que ser violado um direito fundamental de alguŽm.

A Doutrina divide as provas ilegais em provas il’citas (quando violam normas de direito material) e provas ileg’timas (quando violam normas de direito processual), mas isso n‹o Ž assunto para esta aula especificamente.

ATEN‚ÌO! A Doutrina dominante admite a utiliza•‹o de provas il’citas quando esta for a œnica forma de se obter a absolvi•‹o do rŽu.

2.10! Princ’pio da veda•‹o ˆ autoincrimina•‹o

Tal princ’pio, tambŽm conhecido como nemo tenetur se detegere, tem por finalidade impedir que o Estado, de alguma forma, imponha ao rŽu (ou ao indiciado) alguma obriga•‹o que possa colocar em risco o seu direito de n‹o produzir provas prejudiciais a si pr—prio. O ™nus da prova incumbe ˆ acusa•‹o, n‹o ao rŽu.

Este princ’pio pode ser extra’do da conjuga•‹o de tr•s dispositivos constitucionais:

¥! Direito ao sil•ncio

¥! Direito ˆ ampla defesa

¥! Presun•‹o de inoc•ncia

Assim, em raz‹o deste princ’pio, o acusado n‹o Ž obrigado a praticar qualquer ato que possa ser prejudicial ˆ sua defesa, como realizar o teste do baf™metro (trata-se de uma fase prŽ-processual, mas o resultado seria utilizado posteriormente no processo), fornecer padr›es gr‡ficos para realiza•‹o de exame grafotŽcnico, etc. AlŽm disso, o sil•ncio n‹o pode ser considerado como confiss‹o e nem pode ser interpretado em preju’zo da defesa, sob pena de esvaziar-se a l—gica de tal garantia.

Podemos dizer, ent‹o, que o princ’pio da veda•‹o ˆ autoincrimina•‹o possui alguns desdobramentos:

⇒!Direito ao sil•ncio Ð Trata-se do direito de n‹o responder ˆs perguntas que lhe forem formuladas.

⇒!Inexigibilidade de dizer a verdade Ð Toler‰ncia quanto ˆs informa•›es inver’dicas prestadas pelo rŽu. Como o Brasil n‹o criminaliza o ÒperjœrioÓ (mentira realizada pelo rŽu em ju’zo), o

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processo penal tolera a conduta do rŽu de mentir em ju’zo, da’ n‹o resultando qualquer preju’zo para a defesa.

⇒!Direito de n‹o ser compelido a praticar comportamento ATIVO Ð O rŽu n‹o pode ser obrigado a participar ATIVAMENTE da produ•‹o de qualquer prova, podendo se recusar a participar sempre que entender que isso pode prejudica-lo. Ex.: N‹o est‡ obrigado a fornecer padr›es gr‡ficos para exame de caligrafia, n‹o est‡ obrigado a participar da reconstitui•‹o (reprodu•‹o simulada dos fatos), etc.

Todavia, o rŽu pode ser obrigado a participar da audi•ncia de reconhecimento (pois n‹o se trata de um comportamento ativo, e sim passivo. O rŽu s— vai ficar l‡, parado, a fim de que a v’tima o reconhe•a, ou n‹o, como o infrator.

⇒!Direito de n‹o se submeter a procedimento probat—rio invasivo Ð Trata-se do direito de n‹o se submeter a qualquer procedimento que seja realizado por meio de penetra•‹o no corpo humano (Ex.: exame de sangue, endoscopia, etc.).

A Doutrina, todavia, entende que Ž poss’vel submeter o acusado a situa•›es nas quais n‹o se exija uma participa•‹o ativa na produ•‹o probat—ria (ex.:

obrigatoriedade de comparecer ao local indicado a fim de que se proceda ao reconhecimento pela v’tima).

2.11!Princ’pio do non bis in idem

Por este princ’pio entende-se que uma pessoa n‹o pode ser punida duplamente pelo mesmo fato. AlŽm disso, estabelece que uma pessoa n‹o possa, sequer, ser processada duas vezes pelo mesmo fato. Da’ podermos dizer que n‹o h‡, no processo penal, a chamada Òrevis‹o pro societateÓ.

EXEMPLO: JosŽ foi processado pelo crime X. Todavia, como n‹o havia provas, foi absolvido. Tal decis‹o transitou em julgado, tornando-se imut‡vel. Todavia, dois meses depois, surgiram provas da culpa de JosŽ. Neste caso, JosŽ n‹o poder‡ ser processado novamente.

CUIDADO! Uma pessoa n‹o pode ser duplamente processada pelo mesmo fato quando j‡ houve decis‹o capaz de produzir coisa julgada material, ou seja, a imutabilidade da decis‹o (condena•‹o, absolvi•‹o, extin•‹o da punibilidade, etc.). Quando a decis‹o n‹o faz coisa julgada material, Ž poss’vel novo processo (Ex.: Extin•‹o do processo pela rejei•‹o da denœncia, em raz‹o do descumprimento de uma mera formalidade processual).

Tal princ’pio veda, ainda, que um mesmo fato, condi•‹o ou circunst‰ncia seja duplamente considerado para fins de fixa•‹o da pena.

==0==

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EXEMPLO: JosŽ est‡ sendo processado pelo crime de homic’dio qualificado pelo motivo torpe. JosŽ Ž condenado pelo jœri e, na fixa•‹o da pena, o Juiz aplica a agravante genŽrica prevista no art. 61, II, a do CP, cab’vel quando o crime Ž praticado por motivo torpe. Todavia, neste caso, o Òmotivo torpeÓ j‡ foi considerado como qualificadora (tornando a pena mais gravosa Ð de 06 a 20 anos para 12 a 30 anos), ent‹o n‹o pode ser novamente considerada no mesmo caso.

Ou seja, como tal circunst‰ncia (motivo torpe) j‡ qualifica o delito, n‹o pode tambŽm servir como circunst‰ncia agravante, sob pena de o agente ser duplamente punido pela mesma circunst‰ncia.

Assim:

3! DISPOSI‚ÍES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES

Vamos sintetizar, neste t—pico algumas disposi•›es constitucionais relativas ao Direito Processual Penal que, embora relevantes, n‹o podem ser consideradas princ’pios.

3.1! Direitos constitucionais do preso

A CRFB/88 prev• uma sŽrie direitos que s‹o assegurados ao preso. Vejamos:

Art. 5¼ (...)

NON BIS IN IDEM

VEDAÇÃO À DUPLA CONDENAÇÃO PELO MESMO FATO

VEDAÇÃO AO DUPLO PROCESSO PELO MESMO FATO

VEDAÇÃO À DUPLA CONSIDERAÇÃO DO MESMO FATO/CONDIÇÃO/CIRCUNSTÂNCIA

NA DOSIMETRIA DA PENA

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LXI - ninguŽm ser‡ preso sen‹o em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judici‡ria competente, salvo nos casos de transgress‹o militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII - a pris‹o de qualquer pessoa e o local onde se encontre ser‹o comunicados imediatamente ao juiz competente e ˆ fam’lia do preso ou ˆ pessoa por ele indicada;

LXIII - o preso ser‡ informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assist•ncia da fam’lia e de advogado;

LXIV - o preso tem direito ˆ identifica•‹o dos respons‡veis por sua pris‹o ou por seu interrogat—rio policial;

LXV - a pris‹o ilegal ser‡ imediatamente relaxada pela autoridade judici‡ria;

LXVI - ninguŽm ser‡ levado ˆ pris‹o ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provis—ria, com ou sem fian•a;

(...)

LXVIII - conceder-se-‡ habeas corpus sempre que alguŽm sofrer ou se achar amea•ado de sofrer viol•ncia ou coa•‹o em sua liberdade de locomo•‹o, por ilegalidade ou abuso de poder;

Vejam que temos uma sŽrie de direitos assegurados ao preso. Tenho um quadrinho abaixo que pode facilitar a compreens‹o:

GARANTIAS CONSTITUCIONAIS APLICçVEIS AO PRESO ADMISSIBILIDADE

DA PRISÌO

DEPOIS DE EFETUADA A PRISÌO

PARA EVITAR A PRISÌO

¥! Flagrante delito (sem necessidade de ordem judicial)

¥! Por ordem escrita e fundamentada de autoridade

judici‡ria

competente, salvo nos casos de transgress‹o militar

ou crime

propriamente militar, definidos em lei

¥! Comunica•‹o da pris‹o e do local em que se encontra o preso IMEDIATAMENTE ao juiz competente e ˆ fam’lia do preso ou ˆ pessoa por ele indicada.

¥! Informa•‹o ao preso sobre seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assist•ncia da fam’lia e de advogado.

¥! Identifica•‹o dos respons‡veis pela

pris‹o e/ou

interrogat—rio policial.

¥! Relaxamento da pris‹o que seja ilegal

¥! Liberdade

provis—ria (quando

presentes os

requisitos)

¥! Habeas corpus, no caso de ilegalidade ou abuso de poder

(26)

¥! Direito de ser colocado em liberdade, se estiverem presentes os requisitos para concess‹o da liberdade provis—ria.

3.2! Tribunal do Jœri

A Constitui•‹o Federal reconhece a institui•‹o do Jœri, e estabelece algumas regrinhas. Vejamos:

Art. 5¼ (...)

XXXVIII - Ž reconhecida a institui•‹o do jœri, com a organiza•‹o que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das vota•›es;

c) a soberania dos veredictos;

d) a compet•ncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Sem maiores considera•›es a respeito deste tema, apenas ressaltando que o STF entende que em havendo choque entre a compet•ncia do Jœri e uma compet•ncia de foro por prerrogativa de fun•‹o prevista na Constitui•‹o, prevalece a œltima.

EXEMPLO: JosŽ, Deputado Federal, pratica crime doloso contra a vida em face de Mariana. Neste caso, h‡ um aparente conflito entre a compet•ncia prevista par ao Jœri (crime doloso contra a vida) e a compet•ncia do STF (crime praticado por deputado federal). Neste caso, o STF entende que prevalece a compet•ncia por prerrogativa de fun•‹o, sendo competente, portanto, o pr—prio STF.

3.3!Menoridade Penal

A Constitui•‹o prev•, ainda, que os menores de 18 anos s‹o inimput‡veis.

Vejamos:

Art. 228. S‹o penalmente inimput‡veis os menores de dezoito anos, sujeitos ˆs normas da legisla•‹o especial.

Isso quer dizer que eles n‹o respondem penalmente, estando sujeitos ˆs normas do ESTATUTO DA CRIAN‚A E DO ADOLESCENTE.

(27)

3.4! Disposi•›es referentes ˆ execu•‹o penal

A Constitui•‹o traz, ainda, algumas disposi•›es referentes ˆ execu•‹o da pena privativa de liberdade, de forma a garantir, tambŽm ao condenado, condi•›es de cumprimento da pena que preservem sua dignidade:

Art. 5¼ (...)

XLVIII - a pena ser‡ cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX - Ž assegurado aos presos o respeito ˆ integridade f’sica e moral;

L - ˆs presidi‡rias ser‹o asseguradas condi•›es para que possam permanecer com seus filhos durante o per’odo de amamenta•‹o;

Vale ressaltar que o inciso XLVIII Ž uma espŽcie de materializa•‹o do princ’pio da individualiza•‹o da pena, pois busca uma execu•‹o da pena mais racional, evitando-se que presos de perfis distintos venham a cumprir pena juntos.

3.5! Outras disposi•›es constitucionais referentes ao processo penal A Constitui•‹o nos traz, ainda, algumas outras disposi•›es relevantes.

Vejamos:

Art. 5¼ (...)

XII - Ž inviol‡vel o sigilo da correspond•ncia e das comunica•›es telegr‡ficas, de dados e das comunica•›es telef™nicas, salvo, no œltimo caso, por ordem judicial, nas hip—teses e na forma que a lei estabelecer para fins de investiga•‹o criminal ou instru•‹o processual penal; (Vide Lei n¼ 9.296, de 1996)

(...)

LVI - s‹o inadmiss’veis, no processo, as provas obtidas por meios il’citos;

(...)

LVIII - o civilmente identificado n‹o ser‡ submetido a identifica•‹o criminal, salvo nas hip—teses previstas em lei; (Regulamento).

LIX - ser‡ admitida a•‹o privada nos crimes de a•‹o pœblica, se esta n‹o for intentada no prazo legal;

(...)

LXXV - o Estado indenizar‡ o condenado por erro judici‡rio, assim como o que ficar preso alŽm do tempo fixado na senten•a;

Vamos tecer breves considera•›es:

¥! INTERCEPTA‚ÌO TELEFïNICA (inciso XII) Ð Atualmente est‡

regulamentada pela Lei 9.296/96. Constitucionalmente s— se admite para instru•‹o processual penal ou investiga•‹o criminal, sempre por ordem JUDICIAL (Chamada Òcl‡usula de RESERVA DE JURISDI‚ÌOÓ).

¥! PROVAS ILêCITAS (inciso LVI) Ð Tais provas s‹o vedadas no processo penal (e em qualquer processo), estando regulamentadas no

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