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SERGIO LUIZ PATITUCCI

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Academic year: 2022

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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

DE CURITIBA – 8ª VARA CÍVEL

Apelante: GLEISI HELENA HOFFMANN R. Adesivo: MICHELE CAPUTO NETO Apelados: OS MESMOS

Relator: JUIZ SERGIO LUIZ PATITUCCI

APELAÇÃO CÍVEL –RESPONSABILIDADE CIVIL – INDENIZAÇÃO– DANOS MORAIS DEVIDOS INFORMAÇÕES OFENSIVAS DIVULGADAS EM MEIOS ELETRÔNICOS – INTERNET –COMENTÁRIO ANÔNIMO OFENSIVO – RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO MEIO DE COMUNICAÇÃO (BLOG) – DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADE QUE IMPLICA, POR SUA NATUREZA, RISCO PARA OS DIREITOS DE OUTREM – INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 927 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO QUANTUM INDENIZATÓRIO – MAJORAÇÃO – RECURSOS – APELAÇÃO – NEGA PROVIMENTO –ADESIVO – PROVIMENTO.

1.- A liberdade de expressão tem previsão constitucional, contudo não pode ser exercida de modo que macule a imagem e honra de outra pessoa, seja ela física ou jurídica. No caso em apreço, o requerente sentiu-se lesado, pois teve sua imagem associada, sem qualquer fundamento concreto, a pessoa safada e sem caráter.

2.- O responsável pelo conteúdo disponibilizado na rede internacional de computadores tem condições de identificar e selecionar as mensagens ali postadas,havendoresponsabilidade objetiva pelo risco da atividade em manter um espaço no qual terceiros possam se manifestar traz consigo o risco de essas manifestações causarem dano a terceiros, sendo este risco inerente ao fato de manter um blog;

3.- A indenização por danos morais tem finalidade compensatória e didático-pedagógica, devendo ser fixada levando-se em consideração o sofrimento ocasionado à vítima, sua função de inibição da conduta ilícita, o nível econômico das

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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br

partes e o grau de culpa do agente infrator, sempre obedecendo ao princípio da proporcionalidade e às peculiaridades do caso concreto. Diante disso, deve a verba indenizatória ser majorada para 50.000,00 (cinquenta mil reais), ante as peculiaridades do caso em apreço.

Vistos e relatados estes autos de Apelação Cível sob o nº 767549-2, de Curitiba – 8ª Vara Cível, em que é apelante Gleisi Helena Hoffmann e recorrente adesivo Michele Caputo Neto, e apelados os mesmos.

I –RELATÓRIO

Michele Caputo Neto ajuizou Ação de Obrigação de Fazer cumulada com Reparação por Danos Morais nos autos nº 405/2008 da 8ª Vara Cível do Foro Central da Região Metropolitana da Comarca de Curitiba/PR,em face de Gleisi Helena Hoffmann, sob alegação de ter tido sua imagem, moral e reputação ofendidas, de forma caluniosa e difamatória na internet, através de blog de responsabilidade da requerida, por alguém que fora estimulado pelo anonimato. Alegou que o comentário atacou sua honra ao referir-se a ele como “o maior operador de sacanagem do PSDB”, bem como em razão de trocadilhos com seu nome, chamando-o de “puto” por conta de seu sobrenome “Caputo”, o que teria originado os danos morais.

Contestado e instruído o feito, adveio a respeitável sentença, através da qual foi julgado procedente o pedido inicial, condenando o réu ao pagamento de danos morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês a partir da publicação da sentença, atualizado monetariamente pelo INPC, e honorários advocatícios no importe de 15% sobre o valor da condenação.Por fim, tornou definitiva a tutela antecipada concedida à fls. 73, determinando a remoção do comentário veiculado pelo blog (fls. 129/135).

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Inconformada com a decisão, Gleisi Helena Hoffmann apresentou recurso de apelação, aduzindo, em síntese a ilegitimidade da parte que não deveria ser responsabilizada por ato de terceiro sem que houvesse lei específica a respeito, e que o dano moral não ficou configurado, pois não ocorreu fato grave ou juridicamente relevante.

Por fim afirma que a verba indenizatória foi abusiva devendo ser minorada, pugnando pela reforma da sentença (fls. 147/166).

O requerido interpôs recurso adesivo, pleiteando a reforma parcial da r. sentença para majorar o valor indenizatório em montante não inferior à R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais)(fls.171/180).

Contrarrazões apresentadas às fls. 183/190 e 193/203, respectivamente.

É o relatório.

II – O VOTO E SEUS FUNDAMENTOS

Trata o presente de recurso de apelaçãocontra sentença que julgou procedente Ação de Obrigação de Fazer cumulada com Reparação por Danos Morais, determinando a remoção do comentário objeto da ação veiculado pelo blog, e condenou a ré no pagamento de indenização pelos danos morais no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

No caso se discute se a ré/apelante é ou não responsável pelos comentários, principalmente os anônimos, constantes de seu blog.

Como se extrai dos elementos acostados aos autos, o requerente teve sua imagem associada à pessoa safada e sem caráter em um comentário anônimo, inclusive ofensivo em relação ao seu sobrenome, constante do blog da requerida.

Preliminares

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Ilegitimidade Passiva

A apelante alega sua ilegitimidade passiva, afirmando que o comentário ofensivo foi retirado imediatamente do blog após a intimação da decisão liminar.

Afirma que a apelada não tem responsabilidade pelos comentários ali colocados por terceiros, e que é impossível a averiguação se está ou não correta a informação lá posta.

Inicialmente é de se afastar a pretensão da apelada em desconsiderar a utilização da Súmula 221 do Superior Tribunal de Justiça como base para o julgamento pelo Juízo de Primeira Instância.

Os meios informatizados, a rede mundial de computadores – internet – são considerados como meios de comunicação, inclusive com alcance muito superior aos veículos de comunicação tradicionais.

Entretanto não merece acolhimento, pois conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, Súmula 221:

“São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.”

Neste caso o blog é um meio de comunicação, e os comentários são intervenções feitas através de mensagem/comentário enviada por terceiros. O responsável pelo conteúdo disponibilizado na rede internacional de computadores tem condições de identificar e selecionar as mensagens ali postadas, pois dependendo da plataforma (programa) em que é feito o “blog”, comentários podem ser identificados ou anônimos, e possuir as seguintes formas de moderação pelo responsável “blogueiro”: 1. Comentários bloqueados; 2.

Comentários acessíveis a usuários cadastrados; 3. Comentários moderados ex ante; 4.

Primeiro comentário do usuários (nome/e-mail) moderado ex ante, demais moderados ex post;

5. Comentários moderados ex post.

No caso a legitimidade passiva está presente tendo em vista que o responsável pelo “blog” sempre tem alguma forma de controle sobre a publicação dos comentários, e pode ser responsabilizado pelo dano causado por um comentarista qualquer.

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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Fundamento legal para a responsabilização existe.

Diz o artº. 927 do Código Civil:

Artº. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

§ único.Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Como visto, a regra geral do artigo 927 do Código Civil, o direito brasileiro adota a teoria da responsabilidade objetiva pelo risco da atividade, posta no parágrafo único do citado artigo, logo, manter um espaço no qual terceiros possam se manifestar traz consigo o risco de essas manifestações causarem algum dano, razão pela qual podemos afirmar que o risco é inerente ao fato de manter um blog.

Assim, aplica-se o parágrafo único do art. 927 do Código Civil, que institui a responsabilidade objetiva – independente de culpa.

Como neste caso, o autor do comentário está protegido pelo anonimato, a responsabilidade pela divulgação, principalmente por se tratar da internet, com livre acesso, deve ser atribuída ao dono do blog.

Nesse sentido:

DANOS MORAIS. OFENSAS PUBLICADAS EM BLOG DE JORNALISTA.

RESPONSABILIDADE PESSOAL DO JORNALISTA RESPONSÁVEL PELO BLOG, AINDA QUE ALGUMAS DAS OFENSAS TENHAM SIDO VEICULADAS COMO PROVENIENTES DE LEITOR ANÔNIMO.

LIBERDADE DE CRÍTICA E DE MANIFESTAÇÃO DE OPINIÃO QUE NÃO DEVE DISPENSAR O USO DE LINGUAGEM ADEQUADA E DE EDUCAÇÃO. CRÍTICAS CONTUNDENTES PODEM SER FEITAS DE FORMA CIVILIZADA. IRONIA NÃO SE CONFUNDE COM DESNECESSÁRIO DEBOCHE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO APENAS PARA MINORAR O VALOR DA INDENIZAÇÃO.1. A liberdade de opinião e de crítica, especialmente quando se refere a situações que envolvem interesse público, é um esteio da democracia. Interessa aos cidadãos, que, com seus impostos, custeiam toda a máquina pública, que eventuais irregularidades sejam identificadas e trazidas à luz do sol. 2.

Todavia, é perfeitamente possível combinar a liberdade de expressão com urbanidade e civilidade, evitando-se expressões que desnecessariamente denigram a personalidade da pessoa atingida, ferindo-lhe a dignidade.(TJRS – Ag Inom 71001948348 – 3ª Turma – Rel. Eugênio Facchini Neto – 28.05.09).

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Logo, não é de se penalizar a ré pela mera reprodução, pois há na mesma cunho particularmente ofensivo e não apenas informativo.

Neste aspecto o direito à informação não prevalece em relação ao direito individual do autor/apelante, em especial por se verificar abuso com ofensas gratuitas e infundadas.

Logo, ante o que acima foi explicitado, restaram evidentes os danos morais suportados pelo Autor, eis que a Apelante, como ‘proprietária’ou

‘responsável’do blog poderia ter controlado os comentários, excluindo aqueles que atentassem contra a honra e a moral de outrem, mostrando-se, portanto, devida a indenização arbitrada pelo juízo singular.

No tocante ao quantum indenizatório, os critérios de aferição encontram-se plenamente pacificados na jurisprudência no seguinte sentido:

"A valoração da compensação moral deve ser apurada mediante prudente arbítrio do Juiz, motivado pelo princípio da razoabilidade e observadas a gravidade e a repercussão do dano, bem como a intensidade, os efeitos do sofrimento e o grau de culpa ou dolo. A finalidade compensatória, por sua vez, deve ter caráter didático-pedagógico, evitado o valor excessivo ou ínfimo, objetivando, sempre, o desestímulo à conduta lesiva." (TJ/PR, AC 386.748-9, 8ª Câmara Cível, de minha relatoria, julgado em 31/05/2007)

Dentro desses parâmetros repousa a discricionariedade do órgão jurisdicional, o qual deve levar em conta, como verdadeiro norte para decidir, as peculiaridades do caso concreto, como há muito já preconiza o Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA NO SPC.

DANO PRESUMIDO. VALOR INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO. CONTROLE PELO STJ. (...) III - O arbitramento do valor indenizatório por dano moral se sujeita ao controle desta Corte. E, inexistindo critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral, recomendável que sejam atendidas as peculiaridades do caso concreto. Recurso especial provido." (REsp 303888/RS, 3ª Turma, Rel. Min.

Castro Filho, julgado em 20/11/2003)

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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Desta forma, observando-se todos esses parâmetros, temos que a despeito da intensa gravidade do fato, a indenização deve levar em conta se tratar de campanha política, e também a situação econômica do ofensor, buscando servir como desestímulo à prática de novas condutas ofensivas como essas, a indenização não deve ser tão alta a ponto de causar enriquecimento indevido a parte, bem como não pode ser ínfima a fim de não conseguir reprimir condutas lesivas como a dos autos já que a apelante faz carreira política.

Sendo assim, a condenação no patamar de R$5.000,00 (cinco mil reais) mostra-se insuficiente, sendo mais condizente com a realidade posta nos autos uma quantia da monta de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

O Desembargador Francisco Luiz Macedo Júnior diverge pontualmente quanto ao valor dos danos morais, onde entende que o mesmo deveria ser fixado em R$ 25.000,0 (vinte e cinco mil reais), no que restou vencido.

O valor deve ser corrigido monetariamente a partir da data da publicação deste acórdão e acrescido de juros moratório desde a data e que houve a publicação objeto desta ação no blog da apelante através da rede mundial “internet”, aplicando-se a Súmula 54 do STJ.

Isto posto, é de se negar provimento ao recurso de apelação e dar provimento ao recurso adesivo para majorar a indenização por dano moral para R$

50.000,00 (cinquenta mil reais).

III – DISPOSITIVO

ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores integrantes da Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de apelação e dar provimento ao recurso adesivo, nos termos do voto do Relator.

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Participaram da sessão de julgamento Excelentíssimos Desembargadores D’artagnan Serpa Sá – Presidente com voto, e Francisco Luiz Macedo Júnior – revisor.

Curitiba, 23 de agosto de 2.011.

SERGIO LUIZ PATITUCCI

Relator

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