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Recursos hídricos da região amazônica: utilização e preservação

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Recursos hídricos da região amazônica: utilização e preservação

W o l f g a n g J o h a n n e s J u n k ( * )

No passado, muitos associavam a palavra Amazônia a uma floresta tropical exuberante, recortada por um sistema fluvial enorme e muito pouco colonizada : o famoso " I n f e r n o V e r d e " . Hoje, esta palavra provoca, além dis- so, a associação de um desafio da natureza ao homem colonizador e, da responsabilidade des- te para o seu meio-ambiente n a t u r a l . Isto é lógico, especialmente porque a população hu- mana na Amazônia está crescendo rapidamen- te, tanto por causa da alta taxa de natalidade, quanto por movimentos migratórios do sul pa- ra o norte do país, em conseqüência dos pro- jetos agropecuários implantados na região amazônica. Ao mesmo t e m p o , aumenta o in- tercâmbio comercial norte-sul, sendo facilita- do pela rede rodoviária recentemente construí- da, estímulos fiscais e uma crescente deman- da dos vários produtos da região.

O sistema fluvial amazônico é o maior do mundo, abrangendo 7.000.000 km2 de área de captação, com uma descarga de aproximada-

mente 1/5 — 1/6 da quantidade de água doce mundial, que é lançada por todos os rios ao mar, (Sioli, 1968). Estes enormes recursos hí- dricos, automaticamente f o r m a m um papel muito importante nos vários projetos de de- senvolvimento da A m a z ô n i a .

Nos próximos capítulos, caracterizaremos os recursos hídricos na base de informações ecológicas, econômicas e técnicas, discutindo o seu aproveitamento e sua preservação tanto na situação atual, quanto na avaliação do seu potencial e da problemática para projetos fu- turos.

SITUAÇÃO ECOLÓGICA

A situação ecológica das águas naturais da região amazônica está caracterizada por dois fatores ou grupos de f a t o r e s , respectiva- mente :

1 . Condições físico-químicas.

2 . Mudanças drásticas do nível durante o ciclo do a n o .

Estes fatores influenciam o meio ambiente aquático de uma maneira decisiva, provocan do peculiaridades ecológicas, que foram até

agora pouco estudadas. Sioli (1967), dividiu as águas da região amazônica em 3 grandes tipos :

1. Água branca (Solimões, Purus) 2 . Água clara (Tapajós, Xingu) 3. Água preta (Negro e Urubu)

Estudos mais recentes mostram, que a di- versidade das águas é bem maior (Junk e Furch, no p r e l o ) . Porém, como modelo de tra- balho a classificação é muito útil e as conclu- sões ecológicas, que Sioli e seus colaborado- res t i r a r a m deste modelo são válidas e ser- vem para nossas f i n a l i d a d e s . A tabela 1 mos- tra a caracterização dos três tipos de água e indica em termos gerais as influências ecoló- gicas, que até agora são previsíveis (Geisler et al., 1973).

A s águas pretas possuem baixa capacida- de de produção e condições ecofisiológicas desfavoráveis face ao seu pH muito baixo, à quantidade baixa de sais minerais e, provavel- mente, à alta concentração de substâncias hú- m i c a s . Com exceção das substâncias húmi- cas, o mesmo é válido para uma grande parte das águas claras, porém este grupo é muito heterogêneo e pode em parte incluir também águas relativamente ricas em sais minerais, dependendo da geologia das respectivas áreas

de c a o t a ç ã a - Ju.uk e FurcK (,<cv^ ^ t^ c > \ v^cvs,-

t r a m que as águas pretas e uma parte das águas claras, na sua composição química dife- rem de todas as águas do mundo, até agora analisadas, sendo elas extremamente pobres

C ) — Em convênio com o Instituto Max-Planck de Limnología — D e p t o . de Ecologia Tropical, Plön, Alemanha.

S U P L . A C T A A M A Z Ó N I C A 9 ( 4 ) : 3 7 - 5 1 . 1 9 7 9

- 37

(2)

TABELA 1 - Características límnológicas de diferentes tipos de água da A n t ô n i a e sua valorização do ponto de vista ecofisiológico.

(Sp = S e m particularidade) (de Geisler e t a l . , 1973).

TIPOS DE A G U A

O t d . de eletrólitos Condutividade elé-

trica fiS

2 + 2 + Ca + M g

(mg

11)

PH e constância de

pH

Substâncias orgâni- cas (Consumo de

mg KMn 04 / j>)

Transparência ( m ) (Disco de Secchi)

A G U A BRANCA

Estimativa do valor da pro- dução biológica

30 — 60 Suficiente

5

Suficientemente bom

6,4 — 6,9 Bom

~ 40 Bom

0,25 Extremamente baixo

Estimativa do valor do efei- to ecofisiológico

Situação fisiológica

normal Sp Sp Sp Consequências certas

A G U A CLARA

Estimativa do valor da pro- dução biológica

5 — 1 5 Desfavoravelmente baixa

> 1,5 Desfavoravelmente baixa

5,2 — 5,8 perigo de pH muito alcalino

~ 20 Sp

4 m e mais

Relativamente bom Estimativa do valor do efei-

to ecofisiológico Situação fisiológica anormal

"alkalifobia"

provável

Durante assimilação prejuízo p/o peixe

Sp Sp

A G U A PRETA

Estimativa do valor da pro- dução biológica

10 — 20 Desfavorável

< 1.5 Extremamente baixo

4,0 — 4,8 Extremo

60 — 100 Efeito bloqueador e de absorção

1.0 — 1,5 Desfavoravelmente baixo

Estimativa do valor do efei- to ecofisiológico

Situação fisiológica anormal

"alkalifobia"

muito provável

"acidofolia"

ainda desconhecido Consequências certas

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em sais minerais, contendo uma percentagem, de minerais alcalinos muito superior aos me- tais alcalino-terrosos e uma relação Sr/Ba in- versa à das águas até agora d e s c r i t a s .

Por outro lado, as águas brancas são de uma composição química normal refletindo nas proporções percentuais dos seus íons, o valor médio mundial (Tab. 2 ) . Em comparação com valores t o t a i s , elas não são propriamen- te ricas em sais minerais, contendo somente cerca de 3 5 % do valor médio m u n d i a l . Porém, em comparação com as águas pretas e claras a sua capacidade produtiva é muito superior.

As diferenças de qualidade das águas da região amazônica explicam-se pelas diferenças geológicas e geomorfológicas nas respectivas áreas de captação ( F i g . 1). A s águas pretas e águas claras nascem na Série Barreiras e nos escudos arquéanos das Guianas e do Brasil Central, porém as águas pretas recebem apa- rentemente as substâncias húmicas, que pro- vocam a sua coloração escura, em grandes áreas pantanosas ou podzólicas situadas nas suas áreas de captação. Os rios de água bran- ca, recebem a água e sedimentos em parte da área Andina e Pré-Andina, que é geoquimica- mente muito mais rica que as outras áreas (').

Conseqüentemente a concentração de sais mi- nerais diminui com o aumento da distância dos Andes por causa da diluição pelos afluentes mais pobres em sais m i n e r a i s .

O segundo fator de grande influência eco- lógica é a drástica mudança do nível de água em conseqüência da distribuição heterogênea da chuva durante o ano, na época seca e na época chuvosa. Próximo a Manaus, o valor mé- dio do nível entre água alta e água baixa atin- ge cerca de 10 m com valores máximos a cer- ca de 15 m . Perto de Santarém as flutuações do nível atingem ainda de 5 a 7 m de altura.

Isso provoca inundações regulares que influen- ciam enormes áreas na região amazônica. Cas- t r o Soares (1956) estima em 64.400 km2 de área de inundação para o Solimões/Amazonas.

O impacto ecológico destas inundações é im- p o r t a n t í s s i m o . Anualmente largas áreas são atingidas por uma mudança drástica do meio- ambiente aquático para o meio-ambiente ter- restre .

A fauna e a flora respondem a estas mu- danças regulares com uma série de adapta- ções morfológicas, fisiológicas e etológicas, as quais até agora são pouco conhecidas. Te- mos que focalizar aqui, que o conhecimento sobre áreas de inundação no mundo inteiro, é absolutamente i n s u f i c i e n t e . Ao nosso ver, o limnólogo deixou de estudar este tipo de ecos- sistema com mais minúcias, porque inclui uma fase considerável de ambiente terrestre e o ecólogo t e r r e s t r e deixou de estudar, porque inclui uma fase considerável aquática. A l é m disso, na Europa e A m é r i c a do Norte, que fo-

TABELA 2 — Concentração relativa (valores médios) de Na, K, M g e Ca e m m g % na água de rios e igarapés, drenan- do áreas de origem geológica diferentes, ao longo da estrada Cuiabá-Porto Velho-Manaus e m comparação com o valor médio mundial.

Origem da água

Parecis Formação

Pré-Cambriano I

Indiviso II

Terciário

I II Região Pré-Andina (Solimões, Madeira)

Valor médio Mundial

% Na 18,7 29,3 33,9 24,7 27,9 18,5 22,7

% K 47,1 25,0 38,0 48,7 51,9 11,6 3,3

% Mg 19,7 15,1 19,3 19,0 16,0 13,6 14,8

% Ca 14,5 29,6 8,8 7,6 4,2 56,3 54,2

(Conforme Bowen, 1966) (Junk & Furch, no prelo).

M ) — Exceção desta definição generalizada são por exemplo, as águas que nascem nas faixas carboníferas no Norte e Sul da Amazônia, na altura de Santarém e que são também relativamente ricas em sais minerais.

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Fig. 1 — Áreas geoquímicas da região Amazônica (Fittkau et al., 1975).

ram os centros do desenvolvimento da limno- logía, as áreas de inundação f o r a m , há bastan- te t e m p o , modificadas por construções de di- ques, canais, e t c . , não havendo mais necessi- dade e possibilidade de estudá-las.

Levando isto em consideração, temos que ser bastante cuidadosos, em extrapolar con- clusões, que somente se baseiam em estudos, realizados em lagos e rios " c l á s s i c o s " das re- giões t e m p e r a d a s . A maioria dos rios e lagos amazônicos não corresponde a estes modelos clássicos, face às grandes mudanças de nível de água que originam enormes áreas de inun- dação p e r i ó d i c a .

Infelizmente, a maioria dos trabalhos pu- blicados sobre ecologia, limnología e pesca

em áreas inundadas não considera este fato de uma maneira adequada.

PESCA

A pesca, na região amazônica, sem dúvi- da alguma é um fator econômico extremamen- te importante, sendo a base principal de pro- teínas animal para a população humana desta região. Neste capítulo, limitamo-nos a comen- tar alguns fatos que, ao nosso ver, são carac- terísticos e em parte problemáticos para a pes- ca na região, pois em outro trabalho neste su- plemento, Saint-Paul & Bayley fazem uma aná- lise mais minuciosa do assunto.

Baseando-se nas informações da Colônia

dos Pescadores Z-2 de Manaus, Junk & Honda

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(1976) mostram para 1974 a distribuição do pescado nos principais rios do Estado do Ama- zonas ( F i g . 2 ) . Este quadro combina plena- mente com as conclusões ecológicas baseadas nas características químicas da água, citadas no capítulo a n t e r i o r . O rio Negro, sendo um rio enorme de água preta, participa com uma quantidade m u i t o limitada no pescado total de-

sembarcado em Manaus, enquanto a maior parte vem dos rios de água branca. Isso mos- tra que os problemas pesqueiros da região amazônica t ê m que ser estudados e analisa- dos de uma maneira bem d i f e r e n c i a d a .

Varoli (1967) e s t i m a um potencial pesquei- ro de 100.000 toneladas por ano, porém, Aze- vedo (1970) indica 633.000 toneladas.

Na nossa opinião, qualquer avaliação do potencial pesqueiro para a bacia amazônica inteira, atualmente t e m valor m u i t o limitado, porque não apresentam dados s u f i c i e n t e s . Além disso, t e m que ser considerada a estru-

tura do mercado atual, que influencia a pesca de uma maneira decisiva pelo preço do produ-

t o .

O desembarque de pescado em Manaus chegou em 1976 a 30.800 toneladas e em 1977 a 24.900 toneladas, diminuindo cerca de 2 0 % , porém diminuiu também o número de excur- sões pesqueiras em cerca de 16% de 6.501 para 5.484 (Petrere J r . , 1978a). Isso reflete o impacto do aumento de preço do combustível e gelo na pesca.

Estudos de Petrere J r . (1978), indicam que a produção pesqueira nos arredores de Ma- naus d i m i n u i u , forçando a frota pesqueira a ir procurar o peixe de preferência do consumi- dor, até nas cabeceiras dos grandes rios a uma distância de aproximadamente 1.500 km de Manaus. Esta pesca altamente seletiva pode ser considerada como característica e proble- mática para a região amazônica. Procura-se cerca de uma dúzia de espécies, que são con-

9

IQO 200 300 4 0 0 5 0 0 ' ' ' Km' ' '

Fig. 2 — Produção pesqueira durante 1974, nos diferentes rios do Estado do Amazonas (Junk & Honda, 1976).

(6)

sideradas de alto valor comercial e de prefe- rência local aproveitando-se as outras espé- cies em quantidade muito limitada, até jogan- do-se fora o restante da captura. O tambaqui Colossoma macropomum) por exemplo, parti- cipou em 1977 com cerca de 3 8 % do desem- barque total de Manaus sendo ele um peixe de preferência de toda a população (dados de Pe- trere J r . ) . Conseqüentemente, a probabilida- de de pegar um tambaqui adulto próximo de Manaus é muito reduzida, chegando o maior número destes peixes a v i r de locais bem lon- ge, como por exemplo, do rio Purus. Goulding (1979) mostra no seu trabalho sobre a pesca no rio Madeira, que desde 1975 a produção pesqueira tanto de bagres quanto de caracoí- deos altamente procurados, diminuiu m u i t o , mesmo aumentando o esforço pesqueiro ( F i g . 3).

Isso significa, que em certas áreas já exis- te o problema de sobrepesca para certas es- pécies. Podemos prever, que, continuando com a pesca atual, serão diminuídos os esto- ques, especialmente das espécies de grande porte tais como : pirarucu, tambaqui e os gran- des bagres. Por outro lado, a diminuição de captura das espécies atualmente muito pro- curadas, pode ser compensada e até superada

Tons 1800 1700 1600 1500) 1400 1300 1200 I 100 1000

9 0 0 8 0 0 | 7 0 0 6 0 0 5 0 0 4 0 0 3 0 0 2 0 0 100

1968 6 9 "7Ü~ 7 2 Anos

7 3 7 4 7 5 7 6 7 7

Fig. 3 — Estimativas da produção total anual da frota pesqueira de Porto Velho — conforme Goulding (1979].

pelo aproveitamento de outras espécies até agora pouco procuradas, tais como : branqui- nha, jaraquis, sardinhas, aracus e outros (Pro- chilodus spp., Semaprochilodus spp., Tripor»

theus s p p . , Leporinus s p p . ) (Junk & Honda, 1976; Petrere Jr., 1978a, b; Goulding, 1979;

Bayley no p r e l o ) . Bayley, extrapolando estudo sobre a produção pesqueira nas áreas inundá- veis de rios africanos comparáveis às das que ocorrem na Amazônia brasileira, chega à con- clusão de que uma pesca baseada nestas espé- cies poderia render cerca de 5 0 % mais que a pesca atual, porém teria como conseqüência a redução drástica das espécies de maior porte, sendo estes insignificantes para a produção pesqueira.

Os estudos de Petrere J r . (1978b) e Goul- ding (1979) mostram t a m b é m , que os equipa- mentos de pesca são suficientemente eficazes não sendo necessária a introdução de méto- dos e equipamentos adicionais. Em 1977, 3 1 % do pescado foram capturados com malhadei- ras, 15% com arrastão, 3 % com arrastadeira,

13% com espinhei e caçoeira e somente 3 8 % com métodos tradicionais tais como tarrafa, arpão, zagaia, arco e flecha, caniço, e t c . (Pe- trere J r . , 1978b). A utilização de equipamento mais moderno pode criar problemas de sobre- pesca, os quais iriam prejudicar principalmen- te as classes mais pobres das cidades e a po- pulação ribeirinha, que dependem do pescado como fonte de proteína barata, enquanto que os outros grupos da população t ê m outras al- ternativas à disposição, por exemplo, carne bovina (Goulding, 1979).

Por outro lado, o melhoramento do sistema de tratamento, conservação, transporte, esto- cagem e distribuição, pode ser melhorado con- sideravelmente, para o melhor aproveitamento do pescado. Benchimol (1977) estima a perda do pescado em cerca de 3 0 % . Conforme Bay- ley (no prelo) esta perda diminuiu drastica- mente por causa do aumento de preço do com- bustível e de g e l o . Porém, a qualidade do pes- cado desembarcado em Manaus do ponto de vista higiênico é altamente lamentável. Supo-

mos que com a introdução de um controle hi-

giênico certa parcela da produção será repro-

vada para o consumo humano.

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Os dados citados sobre perda de pescado somente se referem às espécies atualmente procuradas, não se levando em consideração espécies sem valor e c o n ô m i c o . Participamos, durante várias épocas de safras, em pescarias próximas de Manaus, nos quais até 8 0 % do pescado total foram jogados na água, (por exemplo, mandi, peixe-cachorro, piranha e ou- tros Pimelodus s p . , Hydrolycus s p . , Serrasal- mus s p p . ) . Este pescado poderia ser usado para fins agropecuários, por exemplo, em for- ma de farinha de peixe, pescado fermentado, etc.

O desenvolvimento da tecnologia de pes- cado na região amazônica t e m que levar em consideração os seguintes fatores :

1. Quantidade limitada de matéria-prima.

2. Épocas pronunciadas de safra e escas- sez.

Necessitamos do desenvolvimento de uni- dades pequenas de tecnologia s i m p l e s , distri- buídas ao longo dos rios nos pontos principais de desembarque, de modo a aproveitar todo o pescado em excesso, para o mercado local, sendo relevante que essas unidades tecnológi- cas possam reduzir ou até parar o seu funcio- namento, durante as entressafras sem provo- car problemas e c o n ô m i c o s .

A instalação de grandes unidades pode provocar uma pressão pronunciada nos esto- ques pesqueiros, encarecendo, a longo prazo, o pescado, criando problemas sócio-econômi- cos especialmente para a população ribeirinha e a classe de baixa renda nas c i d a d e s .

Uma outra fonte de rendimento para a re- gião amazônica é a exportação de peixes orna- mentais. Foram exportados de Manaus (com.

pes. do Dr. BIós, Coord. Reg. SUDEPE) :

1976 1977 1978

exemplares 12.532.417 14.001.007 17.903.485

Cr$

5.238.572 7.200.660 11.692 848 As principais espécies foram o Neón (Chei- rodon exelrodi, Hyphessobryon innesi), o Aca- rá-disco (Symphysodon s p p . ) e o Coridoras ÍCorydoras s p p . ) .

Considerando o fato de que a grande maio- ria desses peixes está sendo exportado, para

os EUA e a Europa, a pesca de peixes ornamen- tais é uma fonte de divisas para o Estado do Amazonas.

A captura de peixes ornamentais foi mui- to discutida por ecólogos, sendo muitas vezes chamada predatória, provocando riscos ecoló- gicos para as espécies capturadas. Sem dúvi- da alguma, a mortalidade de peixes ornamen- tais atualmente é muito elevada, sendo calcu- lada em termos de até 8 0 % , por causa de mé- todos inadequados de transportes, estocagem e tratamento de doenças e parasitas. Porém, o aumento do preço de combustível vai forçar os exportadores, a diminuir esta alta taxa de mortalidade para ficar em condições de con- correr economicamente no mercado interna- c i o n a l . Em geral, não podemos ver diferença alguma entre a pesca de peixes para o con- sumo e para fins ornamentais e não vemos atualmente riscos de extinção das espécies procuradas, porque muito antes de chegar a uma diminuição precária dos estoques, a pes- ca de peixes ornamentais se tornará antieco- n ô m i c a .

A l é m de problemas de sobrepesca, temos que levar em consideração os efeitos de mu- danças de meio-ambiente que podem provocar problemas muito mais sérios aos estoques pesqueiros. Como j á f o i mencionado anterior- mente, as inundações periódicas influenciam grandes regiões, permitindo ao peixe entrar nas áreas inundadas para a desova e à procura de alimentação. Por isso, mudanças drásticas em grande escala irão provocar efeitos negativos aos estoques p e s q u e i r o s . Por exemplo, sabe- mos que muitas espécies são frutívoras, ali- mentando-se de f l o r e s , f r u t o s e sementes de árvores da floresta inundada. Um desmata- mento em grande escala das áreas inundáveis, conseqüentemente diminuirá a oferta de ali- mento para estas e s p é c i e s .

APROVEITAMENTO DAS VÁRZEAS

O fato de que, em regiões inundáveis, as

mesmas áreas podem servir durante a seca pa-

ra f i n s agropecuários e durante a cheia como

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pastagens e berçário para os animais aquáti- cos, pode provocar um sério conflito de inte- resses entre a pesca e as atividades agrope- cuárias. O problema é notadamente sério na região amazônica, pois nas áreas inundáveis dos rios de água branca, as " v á r z e a s " , existem os solos mais f é r t e i s da região, oferecendo um grande potencial para a agropecuária, se o agri- cultor for capaz de adaptar seus métodos de

cultivo às inundações p e r i ó d i c a s . Sabemos que outras áreas t r o p i c a i s , com similares con- dições ecológicas, t ê m centros de colonização humana com alta produção agropecuária, t a i s como nos rios : Nilo, Ganges, Bramaputra, Me¬

kong e o u t r o s . Mas, sabemos também que apareceram c o n f l i t o s seríssimos entre ativida- des agropecuárias modernas e a pesca, porque não houve um planejamento em conjunto e uma cooperação intensiva entre ambos os gru- p o s .

Bangladesh, por exemplo, situada cerca de 3 0 % na área de inundações dos rios Ganges e Bramaputra, antigamente, era conhecida pe- la abundância dos seus estoques pesqueiros.

Entretanto a intensificação da produção de ar- roz, provocou a ampliação

v

d a s áreas cultivadas e grandes construções de diques, sem levar em consideração aspectos de p e s c a . Face a isto, foram destruídas e bloqueadas importan- tes áreas de desova e caminhos de migração de peixes e crustáceos, provocando um decli- ve drástico da produção pesqueira. A l é m dis- so, a implantação de grandes áreas de mono- cultura de arroz, provocou sérios problemas de

pragas, que foram superados com quantida- des crescentes de inseticidas aplicados na re- gião inteira por aviões, causando em contra- partida não somente a intoxicação das pragas, como t a m b é m , dos peixes e dos animais aquá- ticos que servem como base nutritiva aos peixes.

Este exemplo não significa que a utilização das várzeas pela apropecuária automaticamen- te vai acabar com os estoques pesqueiros.

Pelo contrário, achamos muito importante a utilização associada da pesca com a agrope- cuária, pois é garantido, dessa forma o melhor aproveitamento de uma grande área de solos

f é r t e i s , que recebem uma renovação dos nu-

lagos produzem grandes quantidades de plan- tas aquáticas de alto valor n u t r i t i v o , que com a diminuição dos grandes herbívoros aquáti- cos (peixe-boi, capivara, tartarugas, e t c ) , não estão sendo utilizadas de uma maneira ade- quada por animais silvestres e podem servir para alimentação de animais domésticos e pa- ra adubo orgânico, sem interferir no equilíbrio ecológico (Junk, 1979).

Gostaríamos apenas de focalizar a neces- sidade de uma cooperação intensiva entre os órgãos responsáveis pela agropecuária e pela pesca, de modo a integrar o planejamento e a realização de projetos, que atinjam as várzeas, para evitar danos pesados para os estoques pesqueiros e para garantir o melhor aproveita- mento das várzeas tanto do lado da agropecuá- ria quanto do lado da pesca.

A l é m disso, uma outra necessidade de atuação em conjunto, pode surgir com relação a problemas de poluição das águas. Enquanto em condições " n o r m a i s " , quer dizer, em condi- ções de rios sem áreas de inundação, as subs- tâncias poluidoras somente atingem a fauna aquática, e depois são lançadas ao mar, na ba- cia amazônica elas podem comprometer tam- bém a agropecuária. Se, por exemplo, uma fá- brica de celulose e papel solta resíduos de mercúrio na água, estes serão durante cada en- chente, em parte depositados nas várzeas rio abaixo, podendo intoxicar por muitos anos os peixes, os produtos agrários e a carne dos ani- mais d o m é s t i c o s .

PROJETOS HIDRELÉTRICOS

Em 1977, cerca de 84,2% da energia elé- t r i c a do Brasil f o i produzida por hidrelétricas ( M . Pinto Paiva c. p e s . , fonte Eletrobrás). En- quanto a produção de energia elétrica à base de óleo diesel fica cada vez mais cara, além de problemas de poluição do ar pelo consumo de fontes energéticas f ó s s e i s , estão ainda à disposição do Brasil, grande potencial ocioso de energia h i d r e l é t r i c a . A ELETROBRÁS calcu- la para a bacia amazônica um total de 56.729 M W ( M . Pinto Paiva, c. p e s . ) , signifi- cando 36,6% da capacidade t o t a l do Brasil, que

Junk

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mento do país, enquanto as disponibilidades de outras bacías hidrográficas já estão sendo usadas em escala maior, há muito t e m p o .

Há dois anos, está em funcionamento a pequena hidrelétrica de Curuá-Una, perto de Santarém com 40 M W . Entrou recentemente, também em funcionamento, a represa Paredão no Território do A m a p á . Está em fase de cons- trução a gigantesca represa de Tucuruí no rio Tocantins e foram iniciadas as obras da repre- sa de Balbina no rio Uatumã, próximo de Ma- naus. Isso, sem dúvida alguma, é somente o começo de um desenvolvimento, que vai abran- ger até o final do século, vários outros rios da região.

É óbvio que qualquer obra desta grandeza, tem um grande impacto sobre o meio-ambiente aquático. Em outras regiões t r o p i c a i s , os efei- tos negativos associados à construção de bar- ragens são vários, podendo, em certos casos, até superar os benefícios da represa construí- da. Na construção da barragem de A s s u a m , por exemplo, surgiram os seguintes proble- mas :

a) Modificações que causaram prejuízos da produção agrícola rio abaixo por causa da falta de inundações regulares que de- positavam sedimentos f é r t e i s nas áreas inundáveis;

b) Erosão do Delta do Nilo;

c) Pragas e doenças em escala muito maior que antes, por causa da modificação do meio-ambiente;

d) Deterioração da qualidade da água;

e) Impacto sobre os estoques pesqueiros;

f) Problemas de navegação por causa de desenvolvimento em massa de plantas aquáticas.

Estudos em andamento na represa hidrelé- trica de Curuá-Una, há dois anos (Junk et al., no prelo), demonstram que a construção de barragens na região amazônica pode ser acom- panhada por problemas s i m i l a r e s .

Em 1977, quando começaram os estudos, já cerca de 2 0 % da superfície da represa de Curuá-Una estava coberta por plantas aquáti- cas. O represamento tinha provocado uma gran- de mortalidade de peixes na área represada,

bloqueando além disso, o caminho dos cardu- mes migratórios, por exemplo, do jaraqui, que durante a época da água baixa se acumula em grandes quantidades abaixo dos vertedouros, sem condições de subir o r i o . Está em modi- ficação a composição dos estoques pesqueiros na represa e nas áreas adjacentes.

Não houve desmatamento antes do fecha- mento da barragem, o que atualmente provoca problemas na qualidade da água pela grande quantidade de material orgânico em decompo- s i ç ã o . No f u t u r o , os troncos submersos vão atrapalhar consideravelmente a pesca. A con- centração de oxigênio perto da barragem, atin- ge o ponto zero em certas épocas, na profun didade de 2 m, formando-se nas partes mais fundas grandes quantidades de H

2

S que preju- dicam as t u r b i n a s .

Os estudos em andamento irão continuar ainda por vários anos. até a represa alcançar um novo equilíbrio ecológico, para que possa- mos avaliar os efeitos do represamento a lon- go prazo. De qualquer f o r m a , já foram colhi- das as seguintes informações : a água preta aparentemente não provoca o crescimento em massa de macrófitas aquáticas, como mostram os afluentes de água preta da represa Curuá- Una, que até agora são colonizados somente em quantidades insignificantes; o apodreci- mento da madeira emersa é muito mais rápido que o da submersa, fato importante, que por exemplo na área da represa Tucuruí, poderia ajudar na estocagem da madeira cortada; co- meçam a desenvolver-se populações de peixes aptos a colonizar águas lênticas, com hábitos alimentares e reprodutivos respectivos, que no futuro podem ser utilizados para a piscicultu- ra e o povoamento de biótopos s i m i l a r e s .

Observa-se, de acordo com os exemplos acima, que no acompanhamento da construção de barragens na região amazônica por meio de amplos projetos c i e n t í f i c o s , pode reduzir, no f u t u r o , os efeitos negativos indicando ao mes- mo tempo medidas adequadas, para o aprovei- tamento multi-específico das represas.

Infelizmente os estudos em Curuá-Una co-

meçaram somente depois do término das

obras, faltando^ dessa forma dados fundamen-

tais sobre a situação natural da área atingida

e as mudanças ecológicas durante a constru

(10)

ção, uma falha que deveria ser evitada nos pró- ximos projetos h i d r e l é t r i c o s . Está atualmente em discussão um projeto de levantamento da fauna e flora aquática na área da represa Tu- curuí e do acompanhamento científico das mu- danças ecológicas, durante a construção da barragem.

AQUICULTURA

O conhecimento do p o t e n c i a l de peixes amazônicos comestíveis para f i n s de piscicul- tura, é muito l i m i t a d o . Podemos verificar que o conhecimento sobre a maioria de peixes or- namentais é bem superior do que o conheci- mento sobre os peixes de valor para o consu- mo humano.

Não existe tradição de aquicultura na re- gião amazônica, porque até agora não havia ne- cessidade de praticá-la. Enquanto a pequena população humana se distribuiu nas margens dos rios, concentrando-se principalmente nas beiradas dos rios de água branca, por causa das várzeas f é r t e i s , o abastecimento c o m pro- teína animal em forma de peixes era garanti- do pela pesca artesanal. A t u a l m e n t e , verifica- mos uma concentração da população crescen- t e nas cidades, o que inibe o acesso fácil da grande maioria dos moradores à pescaria de auto sustento, e provoca o transporte caro do pescado por longas d i s t â n c i a s .

A l é m disso, ao longo das rodovias recém- construídas estão sendo realizados atualmente muitos projetos agropecuários em áreas bem distantes dos rios p i s c o s o s . A população des- tas áreas aproveita no início a caça, como fon- te de proteína barata, mas depois de poucos anos esta fonte f i c a esgotada, ficando à dispo- sição somente a carne dos animais domésti- cos, que é mais cara ( S m i t h , 1976).

Embora existam nestas áreas de terra fir- me, igarapés e locais alagáveis em grande quantidade, não há produção natural significan- te de peixes c o m e s t í v e i s . Deste modo, estes corpos de água só podem ser aproveitados a partir da p i s c i c u l t u r a . Experimentos com espé- cies amazônicos no DNOCS (

2

) e no INPA, en- t r e os quais tambaqui (Colossoma macropo-

mum), pirapitinga (Colossoma brachypomum), matrinchã (Brycon s p p . ) , Acará-açu (Astrono-

tus ocellatus), pacu (Methynnis s s p . ) e ou- t r o s , mostraram resultados excelentes. Mui- tas das espécies são carnívoras, c o m tendên- cia a comer frutas e outros órgãos v e g e t a i s .

Existe a possibilidade de adaptar igarapés através da construção de pequenas barragens e áreas alagáveis, aproveitando o alto lençol freático para piscicultura semi-intensiva, sem atingir o meio-ambiente natural em maior es-

cala, aproveitando para alimentação adicional dos peixes as frutas do mato não usadas pelo homem, tais como : sementes de palmeiras, seringueiras, castanheiras, e t c . A l é m disso, resíduos das atividades agropecuárias podem servir para a alimentação dos peixes seja dire- tamente ou em cultivo combinado : peixe/por¬

co, p e i x e / p a t o , e t c . Experimentos preliminares deste tipo no INPA, já em andamento, com pacu e matrinchã em tanques abastecidos pe- lo lençol f r e á t i c o , mostram resultados altamen- te p r o m i s s o r e s .

Como já foi mencionado, atualmente, ain- da f a l t a m informações básicas sobre a biolo- gia, reprodução natural e artifical e o compor- tamento em cativeiro das espécies, como tam- bém a experiência prática de manuseio, trans- porte e produção de alevinos em grande esca- l a . A elaboração de todas estas informações técnicas e científicas e a transferência destas informações aos futuros aquicultores amazo- nenses, vai demorar vários anos. Por isso, os órgãos responsáveis por esta atividade, deve- riam tomar imediatamente as providências ne- cessárias para a implantação da aquicultura na região amazônica, pois se isso não aconte- cer em t e m p o hábil e c o m a ênfase necessá- ria, a região amazônica correrá o risco de re- ceber espécies exóticas como a Tilápia, por fal- ta de oferta de espécies indígenas. Isso não vai resolver o problema da piscicultura na re- gião, mas pelo contrário, pode provocar proble- mas ecológicos seríssimos, que atualmente não são avaliáveis. Os estudos pormenoriza- dos das espécies amazônicas por outro lado, pode estimular de uma f o r m a decisiva, a pisci- cultura no nordeste do Brasil oferecendo es-

( 2 ) — D N O C S — Departamento Nacional de Obras Contra as S e c a s .

(11)

pécies ainda não cultivadas ao piscicultor, me- lhorando desta f o r m a t a m b é m a produção pes- queira em outros Estados b r a s i l e i r o s .

0 desenvolvimento do cultivo de espécies indígenas, não somente vai beneficiar os pis- cicultores, mas vai t a m b é m influenciar a pró- pria pesca. Como já f o i mencionado, no exem- plo da represa hidrelétrica de Curuá-Una, os estoques das espécies migratórias estão sen- do seriamente prejudicadas pela barragem. Po- demos considerar que a falta de alevinos ade- quados em quantidades s u f i c i e n t e , é o proble- ma principal para o aumento da produção pes- queira em todas as represas hidrelétricas do Brasil, mostrando, dessa f o r m a , a importância enorme de trabalhos c i e n t í f i c o s e técnicos na área de p i s c i c u l t u r a .

Além da criação de peixes, deveria ser le- vado em consideração a criação de outros ani- mais aquáticos da região, tais como a tartaru- ga, a capivara e o j a c a r é . Ojasti (1973) mostra em experiência de grande escala, nos llanos baixos da Venezuela, que a capivara t e m um bom potencial como animal d o m é s t i c o , produ- zindo carne e couro de alta qualidade. O cul- tivo de jacaré na Tailândia mostra também a viabilidade econômica de produzir couros de alto valor c o m e r c i a l . Estes experimentos, em combinação c o m a p i s c i c u l t u r a e atividades agropecuárias poderiam não somente ampliar, de fato, os produtos, mas garantiria t a m b é m a sobrevivência das espécies que, em parte, ago- ra estão f o r t e m e n t e reduzidas.

TURISMO E PARQUES NACIONAIS

O turismo é uma importante fonte de divi- sas para a maioria dos países do mundo intei- ro. Na Á f r i c a , os parques nacionais são os principais pontos das atividades t u r í s t i c a s . Na região amazônica, os rios e lagos são especial- mente aptos a estes f i n s . Enquanto a densa floresta dificulta o m o v i m e n t o do turista e atrapalha a observação dos poucos animais existentes, os rios e lagos f a c i l i t a m a observa- ção de uma grande quantidade e variedade de animais que se concentram nas beiras, espe- cialmente dos rios de água branca, melhor di-

( 3 ) — International Union for Conservation of Nature

zendo, se concentravam, pois infelizmente o fácil acesso aos lagos e rios teve como con- seqüência uma redução drástica desta fauna.

Hoje em dia, o turista raramente chega a ver um jacaré pequeno ou uma capivara; as tarta- rugas, ele as conhece somente através de li- vros ou preparadas na cozinha, isso se ele t i - ver dinheiro suficiente para comprá-las clan- d e s t i n a m e n t e .

A l é m dos argumentos econômicos, gosta- ríamos de focalizar a grande necessidade de proteção de biótopos aquáticos para a ciên- cia. Como se sabe, encontram-se na lista das espécies em perigo de extermínio do IUCN

(1970, 1972) (3), várias espécies aquáticas, tais como : a tartaruga (Podocnemis expansa);

o peixe-boi (Trichechus inunguis); a ariranha (Pteronura brasiliensis); a lontra (Lutra platen- sis e os jacarés (Melanosuchus niger, Caiman crocodilus). Estes animais, antigamente, exis- t i a m em grandes quantidades e tinham um pa- pel importantíssimo no ecossistema aquático.

O peixe-boi, as tartarugas e a capivara (Hydro- cerus hydroceris), que também está fortemen- t e reduzida, são os grandes herbívoros aquáti- cos da região. Eles t r a n s f e r e m uma parte da enorme produção primária das macrófitas aquá- ticas em proteína animal e ao mesmo tempo reciclam os sais minerais fixados nestas plan- tas, adubando c o m as fezes permanentemen- te a água dos lagos. Em conseqüência disso, vários cientistas supõem (Hickling, 1961; Fit- tkau, 1970, 1973; Junk, 1975 e outros), que a produção de f i t o p l â n c t o n , do zooplâncton e de peixes pode ser aumentada significativamente.

Com a diminuição drástica destas espécies na região amazônica, f o i praticamente, eliminado um elo importantíssimo na cadeia alimentar,

que aparentemente não f o i substituído por

outros organismos de maior p o r t e . Este exem-

plo mostra que áreas de proteção, não somen-

t e poderiam garantir a sobrevivência e o au-

mento dos estoques das espécies em perigo

de extermínio, mas p e r m i t i r i a m também estu-

dos minuciosos dos problemas ecológicos ci-

tados, que estão diretamente ligados à produ-

ção pesqueira, gerando, possivelmente, precio-

sas informações relacionadas c o m a produtivi-

(12)

dade natural das águas e conseqüentemente melhores perspectivas de rendimento econô- m i c o .

Conforme o Plano do Sistema de Unidades de Conservação do Brasil (IBDF & FCBN, 1979), existem atualmente na Região Norte um par- que nacional (Tapajós), várias pequenas esta- ções ecológicas na terra f i r m a e algumas áreas pequenas para fins de proteção dos tabuleiros das t a r t a r u g a s .

A discussão relativa à criação de novos Parques Nacionais e Reservas Florestais ba seia-se na teoria dos refúgios (Wetterberg et al., 1976; W e t t e r b e r g & PácJua, 1978). Isso po- do ser um argumento para a seleção de áreas para fins da proteção da flora e fauna t e r r e s t r e , mas pouco ajuda na seleção de áreas aquáti- cas, que são submetidas em parte, a outros fatores ecológicos, sobre os quais ainda não existem estudos d e t e r m i n a d o s . Considerando o fato de que os grandes rios podem atuar co- mo limites de áreas de distribuição de organis- mos, propomos a instalação de parques nacio- nais, santuários da vida s i l v e s t r e , e t c , na bei- ra de todos os principais rios da região amazô- nica, com a finalidade de proteger os mais va- riados tipos de ecossistemas aquáticos. Pode- mos considerar, como organismos indicadores para o estado natural de áreas apropriadas a existência de estoques razoavelmente grandes de animais muito procurados, tais como o pei-

xe-boi, tartarugas, jacarés, capivaras, pássa- ros aquáticos e p e i x e s . Tais áreas somente existem em números relativamente limitados e deveriam ser selecionadas e protegidas tão rápido quanto p o s s í v e l . Este planejamento de- veria ser f e i t o cuidadosamente, para não pro- vocar uma " c o l e t a " intensiva antes do funcio- namento da fiscalização.

É óbvio que o problema de implantação de parques nacionais e outros tipos de áreas de proteção à fauna e f l o r a aquática é m u i t o com- plexa, e não pode ser discutida com a intensi- dade necessária neste capítulo. Porém, acha- mos o tema importante e atividades neste se- tor são u r g e n t e s . Informações adicionais en- contram-se no trabalho de A y r e s & Best (no presente v o l u m e ) .

PESQUISA E ENSINO

Nos capítulos anteriores, mostramos que os problemas ligados ao aproveitamento e à preservação dos recursos hídricos são múlti- p l o s . Com o aumento das atividades huma- nas na Amazônia, vão aumentar também as perguntas que necessitam dos cientistas, res- postas em curto prazo.

Conhecemos, na região amazônica dois centros científicos trabalhando na área de bio- logia de água doce e pesca i n t e r i o r :

1 . Centro Regional de Pesquisas Pesqueiras do Pará, em B e l é m .

2 . Divisão Peixe e Pesca do Instituto Nacio- nal de Pesquisas da Amazônia (INPA), em M a n a u s .

No centro de Belém, estão trabalhando atualmente cerca de meia dúzia de cientistas de nível superior enquanto que no INPA tra- balham cerca de 2 0 . Considerando o fato de que, há 10 anos, o número t o t a l de cientistas trabalhando na Amazônia inteira raramente passava de meia dúzia, isso significa um au- mento considerável e demonstra o interesse dos órgãos financiadores no desenvolvimento da pesquisa. Por outro lado, em comparação c o m os problemas existentes, este número é pequeno demais para elaborar respostas às perguntas atuais mais u r g e n t e s .

Isso é especialmente lamentável, porque em muitos casos, as verbas para a realização de pesquisas estão d i s p o n í v e i s . Porém, a maioria dos órgãos dispostos a financiar pro- j e t o s , limitam o financiamento para um prazo determinado e relativamente curto com fins e s p e c í f i c o s . Este tipo de financiamento fun- ciona perfeitamente, se os cientistas de alto nível e institutos bem equipados estivessem à disposição. Porém, não e x i s t e m os cientistas e a infraestrutura científica para realizar estas pesquisas. Identificamos que a falta de recur- sos humanos altamente qualificados e dispos- tos a trabalhar por maior tempo na Amazônia é atualmente um problema principal na área de biologia de água doce e pesca i n t e r i o r .

A possibilidade de transferir cientistas de

alto nível do sul para o norte existe somente

(13)

para períodos muito curtos e pode ser consi- derado até agora quase nulo para períodos maiores, isso em parte, porque os cientistas não encontram condições adequadas de tra- balho. Consideramos esta falta de condições de trabalho o segundo grande p r o b l e m a .

Somente um financiamento de projetos a médio e longo prazo, que permita e garanta o desenvolvimento de uma infraestrutura e tradi- ção científica nos institutos de pesquisa, irá garantir a realização de trabalhos que produ- zam resultados correspondentes aos gastos in- vestidos. Projetos permanentes p e r m i t e m si- multaneamente o t r e i n a m e n t o adequado de jo- vens cientistas, na própria região amazônica, por exemplo, em f o r m a de cursos de pós-gra duação. Estes cientistas atualmente estão muito mais dispostos a continuar, trabalhando nesta região de que cientistas de f o r a .

Estamos plenamente cientes de que este tipo de planejamento é no momento relativa- mente caro e demorado, porque inclui respon- sabilidades financeiras a médio e longo prazo, sem, nos primeiros anos na fase de organiza- ção, produzir muitos resultados espetaculares.

Porém, depois d i s s o , a produção científica é muito alta, compensando plenamente os gas- tos da fase de implantação, p e r m i t i n d o tam- bém a realização de projetos de curta dura- ção e financiamento bem definido, sem gran- des riscos de falhar, c o n f o r m e experimentos no próprio INPA.

Estamos absolutamente certos de que so- mente com uma estratégia de desenvolvimen- to da pesquisa a longo prazo, em combinação com ensino, vamos conseguir resolver os pro- blemas técnico-científicos ligados à atividade humana, permitindo o maneja ecológico dos grandes recursos limnológicos da região ama- zônica.

CONCLUSÕES

As possibilidades de aproveitamento são múltiplas, abrangendo diversas atividades, tais como : pesca, piscicultura, agropecuária, pro- dução de energia elétrica, t u r i s m o e outros.

Entretanto as condições ecológicas dos rios e lagos e as interrelações entre o meio-ambien- te aquático e o meio-ambiente t e r r e s t r e , são

muito complexas, necessitando de estudos de- talhados e uma análise cuidadosa para garan- tir o aproveitamento máximo dos recursos na- turais sem destruí-los.

Estamos plenamente cientes de que a quantidade de informações técnicas científicas atuais, são i n s u f i c i e n t e s . Por outro lado, esta- mos também cientes do fato de que existem necessidades econômicas e políticas, que exi- gem decisões rápidas e nas quais os cientis- tas t ê m que participar aconselhando, mesmo se os dados existentes ainda não permitem conclusões d e f i n i t i v a s .

Considerando esta situação, fazemos uma série de recomendações listadas a seguir, tan- t o para o aproveitamento e preservação dos recursos hídricos, quanto para o aperfeiçoa- mento do sistema de pesquisas ligadas com esta área, para não somente ajudar a resolver os problemas atuais, mas também nos prepa- rar de uma maneira adequada para enfrentar os problemas futuros —

— Intensificação dos estudos limnológicos, ictiológicos e pesqueiros para fins de melhor conhecimento dos recursos hídri- cos e da sua flora e fauna.

— Combinação de projetos de pesquisa com projetos de ensino (cursos de pós- graduação), para formação na própria região amazônica de recursos humanos altamente qualificados, aptos e dispos- tos para estudar os problemas existen- tes nas áreas de limnología, pesca, pis- cicultura e tecnologia de pescado.

— Acompanhamento dos grandes projetos de desenvolvimento econômico e técni- co que atingem os recursos hídricos tais como hidrelétricas, agropecuária nas várzeas, fabricação de celulose e papel, e t c , por projetos científicos que possam fornecer os dados para o melhor apro- veitamento e proteção dos recursos hí- dricos, minimizando os efeitos negativos ao meio-ambiente.

— Colaboração intensiva entre os órgãos responsáveis para a elaboração dos pro- jetos que efetuam os recursos hídricos,

para evitar sérios danos aos estoques

p e s q u e i r o s .

(14)

— A p e r f e i ç o a m e n t o do s i s t e m a de trans- porte, conservação, t r a t a m e n t o e estoca- gem do pescado, melhorando a qualida- de do p r o d u t o .

— Avaliação da possibilidade de adaptação e ampliação de pequenas unidades de tecnologia de pescado nos centros de desembarque, para o melhor aproveite- mento no consumo local do pescado atualmente d e s p e r d i ç a d o .

— Implantação da aquicultura na região amazônica tanto na base privada quan- to estadual, aproveitando igarapés e áreas alagadas para a produção pesquei- ra e para o povoamento das represas hidrelétricas existentes e planejadas.

— Estabelecimento de várias reservas aquá- ticas na beira dos rios principais da re- gião para proteção rígida dos vários bió- topos aquáticos, da f l o r a e fauna aquáti- ca, pesquisas e t u r i s m o .

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