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Hist. cienc. saudeManguinhos vol.11 número1

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Academic year: 2018

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SET.-DEZ. 2001 7

C A RTA D O E D I TO R

Caros leitores,

Este ano, História, Ciências, Saúde — Manguinhos completa uma década. A festa será no segundo semestre. Não vamos dizer o que acontecerá para não estragar a surpresa; vocês estão convidados, é claro, e pedimos, inclusive, que não deixem de levar os amigos, o que significa: falem de nós com seus pares, estimulem-nos a colaborar com este periódico que faz da história das ciências a sua vida.

Dois artigos publicados neste número estabelecem instigante diálogo um com o outro, e por uma feliz coincidência, ambos os autores são de regiões que começam a desafiar a supremacia do Sudeste na produção historiográfica em ciências e saúde. Alarcon Agra do Ó, da Universidade Federal de Campina Grande, num texto muito saboroso, apresenta-nos instantâneos das condições de saúde reinantes na Bahia, no começo do século XIX, pelos olhos de Thomas Lindley, comerciante inglês preso como contrabandista e confundido com um médico. O mais curioso é que não hesitou em desempenhar este papel e em enfrentar as expectativas de uma multidão de aflitos e desenganados. O autor procura identificar as “gramáticas” usadas pelo próprio viajante inglês e pelos diferentes grupos populacionais da região na convivência com as doenças e com o cenário de incertezas que geravam.

Por sua vez, Nauk Maria de Jesus, da Universidade Federal de Mato Grosso, examina os esforços feitos pelas autoridades daquela capitania para instituir aulas de cirurgia em Vila Bela e na Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, no período decorrido entre os rigores do absolutismo pombalino aos ventos liberalizantes que sopraram depois que a corte portuguesa se refugiou no Brasil. O texto de Nauk é menos fluente e colorido que o de Alarcon, já que seus protagonistas são principalmente o Estado e seus agentes administrativos, mas o que motivou a instituição do ensino da cirurgia naquele lugar tão distante do litoral, palco das inovações decorrentes da abertura dos portos, foram também as necessidades insatisfeitas da multidão de aflitos e desenganados.

Destaco também o trabalho de Maria Clélia Lustosa Costa, da Universidade Federal do Ceará, sobre a dramática seca que se abateu sobre aquela província em 1877-79 combinada a gravíssima epidemia de varíola, o que alavancou a grande migração de nordestinos para a Amazônia e para o litoral. O estudo de Clélia focaliza o impacto da seca sobre a capital da província e as respostas que os higienistas e outros atores sociais deram à crise sanitária e urbana, valendo-se do discurso médico.

Bom de ler, pela forma e conteúdo, é o artigo de Regina Horta Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre a Revista Nacional de Educação editada por Edgar Roquette-Pinto no Museu Nacional do Rio de Janeiro, entre 1932 e 1934. Com grande tiragem, em aliança com o rádio e o cinema, buscou levar temas como a ciência, a história e a arte e os valores constitutivos da nação a toda escola e família do vasto território recém-desbravado por Rondon. Segundo a autora, no curto tempo de duração da revista, seu diretor e os intelectuais que colaboraram com ela conseguiram inaugurar novas práticas de divulgação científica no Brasil, dando ao Museu Nacional um novo papel.

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8 HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE Vol. VIII(3)

em nosso país que diz respeito aos hospitais. Combinando a abordagem da arquitetura com a investigação das relações sociais e do estado-da-arte nos conhecimentos médicos, este trabalho, com suas belas ilustrações, revela-nos o papel importantíssimo que desempenhou a filantropia praticada por certos homens de grande fortuna numa conjuntura crucial da história da saúde pública brasileira, quando a falta de leitos hospitalares chegou a um ponto crítico.

Este número da revista traz muitos outros materiais interessantes e volume considerável de resenhas, algumas com densidade quase comparável à de um artigo. Chamo atenção para a instrutiva leitura do depoimento autobiográfico do engenheiro químico Ernest Paulini que conhece, como poucos, a história dos institutos de Malariologia e de Endemias Rurais (INERu) e, portanto, o coração da saúde pública brasileira na segunda metade do século XX.

Desejo-lhes boa leitura e espero que seja fermento de boas criações neste campo fascinante de pesquisa que há dez anos ajudamos a amanhar. E com a sua ajuda, leitor, amanhecemos!

Jaime Benchimol

Referências

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