CAIO PAIVA
THIMOTIE ARAGON HEEMANN
JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL
DE DIREITOS HUMANOS
Copyright © 2015, Dizer o Direito Editora
Todos os direitos desta edição reservados à Dizer o Direito Editora.
Capa:
Kleber Mendes | kleber.smendes@gmail.com Projeto gráfico e editoração:
Carla Piaggio | www.carlapiaggio.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
P149 Paiva, Caio Cezar de Figueiredo
Jurisprudência internacional de direitos humanos / Caio Cezar de Figueiredo Paiva e Thimotie Aragon Hee-mann. – Manaus: Dizer o Direito, 2015.
432 p.
ISBN: 978-85-00000-00-0 1. Direitos humanos 2.Direito internacional 3. Hee-mann, Thimotie Aragon I. Título.
CDU 342.7:341
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Adriana Sena Gomes CRB 5/ 1568
www.dizerodireito.com.br
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, por qualquer meio, total ou parcial, constitui violação da lei nº 9.610/98.
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EDIÇÃO
É com muita felicidade que apresentamos ao público o primeiro livro brasileiro que trata especificamente da jurisprudência internacional de direitos humanos. Buscamos expor o conteúdo de maneira clara e siste-mática e com uma linguagem acessível, facilitando a compreensão do lei-tor acerca dos casos internacionais de direitos humanos e seus principais pontos.
Ao desenvolver esta obra, adotamos a classificação do Professor André de Carvalho Ramos e elencamos a Corte Internacional de Justiça, o Tribunal Penal Internacional e outros tribunais internacionais penais como nais de direitos humanos. Fizemo-lo porque é inegável que estes tribu-nais, embora não sejam estritamente órgãos de proteção dos direitos hu-manos, acabam por tutelar, seja de forma direta, seja de forma indireta, os direitos humanos dos indivíduos e também os direitos humanos glo-bais — estão entre estes últimos, por exemplo, a autodeterminação dos povos, o direito ao desenvolvimento e a preservação do meio ambiente. Também inserimos nesta primeira edição os dois novos casos que envol-vem o Brasil na jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direi-tos Humanos. Os casos ainda aguardam julgamento pelo tribunal inte-ramericano e, portanto, ainda não receberam um nome em definitivo da Corte até o fechamento desta edição. Por conseguinte, nominamos estes dois casos da forma que eram popularmente conhecidos durante a sua tramitação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Aguardamos as críticas construtivas e sugestões dos leitores.
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EEMANN 1º de agosto de 2015.SUMÁRIO | 7
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UMÁRIO
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APÍTULOI
GRAMÁTICA BÁSICA DE DIREITOS HUMANOS E DE DIREITO INTERNACIONAL EM SENTIDO AMPLO 11
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APÍTULOII
CASOS JULGADOS PELA JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 15 Caso Loayza Tamayo vs. Peru 16
Caso Villagrán Morales e Outros vs. Guatemala “Caso dos Meninos de Rua” 26 Caso Olmedo Bustos e Outros vs. Chile (“A Última Tentação de Cristo”) 29
Caso Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua 42 Caso Hilaire, Constantine e Benjamin e outros vs. Trinidad e Tobago 50 Caso Herrera Ulloa vs. Costa Rica 58
Caso Tibi vs. Equador 66
Caso Comunidade Moiwana vs. Suriname 84 Caso Fermin Ramirez vs. Guatemala 89 Caso Yatama vs. Nicarágua 96
Caso Palamara Iribarne vs. Chile 112
Caso González e outras vs. México ("Campo Algodonero") 118 Caso Barreto Leiva vs. Venezuela 123
Caso Vélez Loor vs. Panamá 130
Caso Lopez Mendoza vs. Venezuela 138 Caso Atala Riffo ninãs vs. Chile 148
Caso Povo Indígena Kichwa Sarayaku vs. Equador 152 Caso Furlán vs. Argentina 157
8 | JURISPRUDÊNCIAINTERNACIONALDEDIREITOSHUMANOS
Caso Mohamed vs. Argentina 162
Caso Artavia Murillo e outros ("Fecundação in vitro") vs. Costa Rica 167 Caso Mendonza e outros vs. Argentina 172
Caso Comunidades Afrodescendentes Deslocadas da Bacia do Rio Cacarica vs. Colômbia (“Operação Gênesis”) 176 Caso Família Pacheco Tineo vs. Bolívia 183
Caso Liakat Ali Alibus vs. Suriname 191 Caso Brewer Carias vs. Venezuela 197
Caso Norin Catrimán e outros (dirigentes, membros e ativista do povo indígena Mapuche) e vs. Chile 202 Caso Arguelles e outros vs. Argentina 206
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APÍTULOIII
O BRASIL NA JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 211 Caso Ximenes Lopes vs. Brasil 212
Caso Nogueira de Carvalho e outros vs. Brasil 218 Caso Escher e outros vs. Brasil 222
Caso Garibaldi vs. Brasil 228
Caso Gomes Land e outros vs. Brasil ("Caso Guerrilha do Araguaia") 234 Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil 267
Caso Cosme Rosa Genoveva e outros vs. Brasil ("Caso Favela Nova Brasília") 270
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APÍTULOIV
O BRASIL E AS MEDIDAS PROVISÓRIAS DA
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 275 Caso Penitenciária Urso Branco 276
Caso crianças e adolescentes privados de liberdade no "Complexo do Tatuapé" da FEBEM 282
SUMÁRIO | 9
Caso das pessoas privadas de liberdade na
Penitenciária "Dr. Sebastião Martins Silveira", São Paulo 284 Caso Unidade de Internação Socioeducativa no Espírito Santo 287 Caso Complexo Penitenciário de Curado em Pernambuco 289 Caso Complexo Penitenciária de Pedrinhas 292
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APÍTULOV
O BRASIL NA COMISSÃO
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 295 Caso José Pereira vs. Brasil
(Relatório n˚95⁄03, Caso 11.289 — Solução Amistosa) 296 Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão 301
Caso Comunidades Indígenas da Bacia do Rio Xingu vs. Brasil ("Caso Belo Monte") 309
Caso pessoas privadas de liberdade no "Presídio Central de Porto Alegre" 315
Caso Maria da Pena Maia Fernandes vs. Brasil 316 Caso Jailton Neri da Fonseca vs. Brasil 323
Caso Simone André Diniz vs. Brasil 326
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APÍTULOVI
O BRASIL NO SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS 331 Caso Alyne da Silva Pimentel Teixeira vs. Brasil 332
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APÍTULOVII
CASOS JULGADOS PELA JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA 339
Caso Reino Unido vs. Albânia ("Caso do Estreito de Corfu") 340 Caso República Democrática do Congo vs. Bélgica
10 | JURISPRUDÊNCIAINTERNACIONALDEDIREITOSHUMANOS
Caso Alemanha vs. Itália (Grécia como terceiro inteverniente) ("Caso Ferrini") 359
Caso Bélgica vs. Senegal ("Caso Habre") 366 Caso Austrália vs. Japão
("Caso das Atividades Baleeiras na Antártica") 388
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APÍTULOVIII
PARECERES CONSULTIVOS DA
CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA 391
Caso Reparação de danos sofridos por agente das Nações Unidas ("Caso Folke Bernadotte") 392
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APÍTULOIX
CASOS JULGADOS PELO
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 397
Caso The Prosecutor vs. Thomas Lubanga Dyilo 398 CasoThe Prosecutor vs. Mathieu Ngudjolo Chui 406 Caso The Prosecutor vs. Germain Katanga 408
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APÍTULOX
CASOS JULGADOS POR OUTROS TRIBUNAIS INTERNACIONAIS 411 Caso The Prosecutor vs. Charles Taylor ("Caso Diamantes de sangue") 412 Caso The Prosecutor vs. Dusko Tadic 416
CAPÍTULO I
GRAMÁTICA BÁSICA DE DIREITOS HUMANOS
E DE DIREITO INTERNACIONAL
EM SENTIDO AMPLO
CAPÍTULO II
CASOS JULGADOS PELA JURISDIÇÃO
CONTENCIOSA DA CORTE INTERAMERICANA
DE DIREITOS HUMANOS
16 | JURISPRUDÊNCIAINTERNACIONALDEDIREITOSHUMANOS
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ESUMODOC
ASOA senhora María Elena Loyaza Tamayo, professora da Universidade de San Martín de Porres, foi presa junto com um familiar no dia 06/02/1993, por membros da Divisão Nacional contra o Terrorismo (DICONTE) da Polícia Nacional do Peru, em Lima, tendo ficado detida até o dia 26/02/1993 sem ter sido colocada à disposição do Juizado Especial da Marinha, conforme dispunha o art. 12.C do Decreto-Lei nº 25475 (delito de terrorismo). Na DI-CONTE permaneceu incomunicável por dez dias e foi vítima de tortura e tratamento cruel, praticadas contra ela a fim de que se auto-incriminasse e declarasse pertencer ao Partido Comunista do Peru “Sendero Lumino-so” (PCP-SL), o que Loayza Tamayo resistiu, negando pertencer ao PCP-CL, criticando, inclusive, os métodos, a violência e a violação dos direitos hu-manos por parte desse “grupo subversivo”. A família da vítima se inteirou sobre a prisão em 08/02/1993, através de uma ligação anônima. Não foi interposta nenhuma “ação de garantia” a seu favor, e isso porque o Decre-to-Lei 25659 (delito de traição à pátria) proibia a apresentação do “recur-so de habeas corpus em fatos relacionados com o delito de terrorismo”. O processo contra Loayza Tamayo pela suposta traição à pátria teve início em 25/02/1993, concluindo-se com a decisão do Juizado Especial da Ma-rinha, formado por juízes militares “sem rosto”, em 05/03/1993, com de-cisão absolutória. O Ministério Público recorreu para o Tribunal Supremo Militar Especial, que confirmou a absolvição. No entanto, Loayza foi pro-cessada também, depois, pelos mesmos fatos, na jurisdição comum, onde
Caso Loayza Tamayo vs. Peru
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RGÃOJ
ULGADOR:
Corte Interamericana de Direitos Humanos
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ENTENÇA:
CASOSJULGADOSPELAJURISDIÇÃOCONTENCIOSADA CORTE INTERAMERICANADE DIREITOS HUMANOS | 17
foi condenada a vinte anos de pena privativa de liberdade, decisão que foi mantida pela Corte Suprema de Justiça ao julgar recurso de nulidade da Defesa. Durante todo o trâmite dos processos, tanto no juízo militar como na jurisdição comum, Loayza permaneceu presa, sendo submetida, ainda, a constrangimento público quando foi apresentada à imprensa, vestida com um traje listrado, recebendo a imputação de crime de traição à pátria. A Corte Interamericana inicia declarando que o Peru violou, em prejuízo da senhora Loayza Tamayo, os direitos à liberdade pessoal e proteção ju-dicial, estabelecidos respectivamente nos artigos 7º e 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), e isso porque a ela não foi dis-ponibilizado, em razão de vedação contida no Decreto-Lei nº 25659 (deli-to de traição à pátria), nenhuma ação de garantia para salvaguardar sua liberdade pessoal ou questionar a legalidade da sua detenção. A Corte recordou, sobre esse tópico, que embora o direito à liberdade pessoal não esteja expressamente inserido entre aqueles cuja suspensão não é em nenhum caso autorizada, os procedimentos de habeas corpus e de ampa-ro são garantias judiciais indispensáveis para a pampa-roteção de vários direi-tos, sendo vedado, pois, que se suspenda a possibilidade do seu manejo, conforme dispõe o art. 27.2 da CADH: “A disposição precedente não auto-riza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indis-pensáveis para a proteção de tais direitos”.
Posteriormente, a Corte, a respeito da alegação de violação do direito à in-tegridade pessoal da vítima (art. 5º da CADH), considerou que não estaria em condições de dar por provado o fato de que Loayza havia sido violen-tada durante a sua detenção. No entanto, em relação aos outros fatos ale-gados, como a incomunicabilidade durante a detenção, a exibição pública com um traje infamante em meios de comunicação, o isolamento em cela reduzida sem ventilação nem luz natural, os maus tratos, a intimidação por ameaças e outros atos violentos, e também as restrições ao regime de visitas, constituem fatos provados e não desvirtuados pelo Estado, tratan-do-se, consequentemente, de violação do direito à integridade pessoal. Em continuidade, no tocante à alegação de falta de independência e im-parcialidade do juízo militar, a Corte considerou ser desnecessário se pro-nunciar a respeito devido a senhora Loayza ter sido absolvida pela referida
18 | JURISPRUDÊNCIAINTERNACIONALDEDIREITOSHUMANOS
jurisdição castrense. No entanto, a Corte declarou que a jurisdição militar do Peru violou o art. 8.1da CADH no tocante à exigência de juiz competen-te, e isso porque ao proferir sentença absolutória pelo crime de traição à pátria, o juízo militar carecia de competência para mantê-la presa e, me-nos ainda, para apurar evidência do crime de terrorismo, de competência da jurisdição comum, o que a Corte classificou como uma atuação ultra vires, em usurpação e invasão das faculdades dos órgãos judiciais ordi-nários. A Corte considerou, ainda, que “a Senhora María Elena Loayza Ta-mayo foi julgada e condenada por um procedimento excepcional no qual obviamente estão sensivelmente restringidos os direitos fundamentais que integram o devido processo. Esses processos não atingem os padrões de um juízo justo, já que não se reconhece a presunção de inocência; é proibido aos processados contradizer as provas e exercer o controle das mesmas; limita-se a faculdade, do defensor ao impedir que este possa livremente comuni-car-se com o seu defendido e intervir com pleno conhecimento em todas as etapas do processo. O fato de que a Senhora María Elena Loayza Tamayo foi condenada no foro ordinário com fundamento em provas supostamente obtidas no procedimento militar, não obstante este ser incompetente, teve consequências negativas em seu desfavor, no foro comum” (§ 62º). E assim, decidiu que o Peru, por meio da sua jurisdição militar, violou o art. 8.2 da CADH, que consagra o princípio da presunção de inocência, ao atribuir à vítima um crime diferente daquele pelo qual foi acusada e processada, sem ter competência para isso.
Noutro momento importantíssimo da decisão, a Corte Interamericana também concluiu que o Estado peruano violou o art. 8.4 da CADH quan-do julgou a senhora Loayza na jurisdição ordinária pelos mesmos fatos que tinha sido absolvida na jurisdição militar, acrescentando que a fór-mula do non bis in Id. prevista na CADH, ao referir-se a um novo processo pelo “mesmo fato”, é mais ampla e benéfica à vítima do que a expressão encontrada noutros instrumentos internacionais de proteção de direitos humanos, a exemplo do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que usa o termo “mesmo delito” (art. 14.7).
Mais adiante, a Corte analisou o pedido da Comissão de que o Estado fos-se condenado pela violação do art. 51.2 da CADH, por ter-fos-se negado a “dar cumprimento às recomendações da Comissão”, e avançou a Corte, supe-rando precedentes anteriores em sentido contrário, que firmaram-se pela interpretação das “recomendações” conforme seu sentido habitual, de facultatividade do cumprimento, para assentar, agora, que, em virtude do princípio da boa-fé (art. 31.1 da Convenção de Viena sobre Direito dos
Tra-42 | JURISPRUDÊNCIAINTERNACIONALDEDIREITOSHUMANOS
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ESUMODOC
ASONo dia 28 de junho de 1995, o Estado da Nicarágua emitiu uma disposi-ção administrativa reconhecendo um convênio firmado entre a empresa Companhia Sol del Caribe S.A (SOLCARSA) e o Governo Regional, para que fosse permitida a atividade de exploração de madeira em terras que su-postamente pertenceriam à comunidade indígena da Costa Atlântica da Nicarágua, popularmente conhecida como Mayagna (Sumo) Awas Tingni. Após o reconhecimento do convênio pela Nicarágua, a comunidade Awas Tingni enviou uma carta para o Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais do país demonstrando sua inconformidade com a outorga de uma concessão em suas terras, sob o argumento de que os membros de sua comunidade sequer foram consultados previamente sobre o tema. A reclamação enviada para o governo nicaraguense não surtiu efeito, restando apenas a via do Poder Judiciário para que os interesses dos membros da comunidade Awas Tingni fossem tutelados. Todas as me-didas judiciais propostas pela comunidade indígena foram consideradas intempestivas pelos magistrados do Estado da Nicarágua. Diante des-se contexto, no dia 13 de março de 1996, foi outorgada uma concessão por trinta anos à SOLCARSA, habilitando a empresa para que explorasse 6.200 (seis mil e duzentos) hectares de selva tropical na região da Costa Atlântica da Nicarágua. No dia 7 de novembro de 1997, uma nova medida judicial foi proposta pela comunidade dos Awas Tingni para a Junta Dire-tiva do Estado da Nicarágua. Novamente, a medida não surtiu efeito.
Caso Comunidade Mayagna (Sumo) Awas
Tingni vs. Nicarágua
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RGÃOJ
ULGADOR:
Corte Interamericana de Direitos Humanos
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ENTENÇA:
CASOSJULGADOSPELAJURISDIÇÃOCONTENCIOSADA CORTE INTERAMERICANADE DIREITOS HUMANOS | 43
O caso chegou até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, onde tramitou até o dia 28 de maio de 1998. Como não houve eficácia na reso-lução do entrave, a Comissão IDH levou o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos. Diversas instituições que militam na área dos direitos humanos se habilitaram como amicus curiae na demanda.
No dia 31 de agosto de 2001, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, por sete votos contra um, reconheceu a responsabilidade da Nicarágua ao violar o direito à proteção judicial (art. 25 da CADH), bem como o direi-to à propriedade (art. 21 da CADH) dos membros da Comunidade Indígena Mayagna (Sumo) Awas Tingni.
Primeiramente, a Corte de San José decidiu de maneira unânime a ne-cessidade de o Estado da Nicarágua implementar medidas legislativas e administrativas eficazes no processo de delimitação, demarcação e titu-lação das terras indígenas. Nessa mesma linha, a Corte Interamericana de Direitos Humanos ordenou que fossem realizadas todas as medidas necessárias para que as terras pertencentes aos membros da comunida-de indígena Awas Tingni fossem comunida-demarcadas, não pocomunida-dendo ocorrer qual-quer intervenção prevista pelo regime de concessão — seja tal interven-ção feita por agente estatal, seja por particulares — até que o processo de demarcação de terras seja finalizado. Reconheceu-se, assim, a proprieda-de comunal das terras da comunidaproprieda-de indígena.
Por fim, o tribunal interamericano condenou o Estado da Nicarágua a rea-lizar investimentos em obras ou serviços de interesse coletivo que pudes-sem levar benefícios para os Awas Tingni como forma de reparação pelo dano imaterial causado aos membros da população tradicional envolvida.
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ONTOSIMPORTANTES SOBREOCASO1. Primeiro caso julgado pela Corte Interamericana de Direitos Huma-nos envolvendo a relação entre as comunidades tradicionais e a pro-priedade de suas terras34
O julgamento do caso Awas Tingni versus Nicarágua é paradigmático por ser o caso pioneiro envolvendo a temática do direito de propriedade
34 É ainda o segundo caso envolvendo a temática das comunidades tradicionais na Corte Interamericana de Direitos Humanos. O primeiro caso sobre o tema na juris-dição contenciosa do tribunal interamericano foi o Caso Aloeboetoe vs. Suriname. Para maiores esclarecimentos, ver Caso Aloeboetoe e outros vs. Suriname.