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RECURSO VOLUNTÁRIO (Mandado de Garantia 434/2017 Apensado)

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Rua da Ajuda, 35 / 15o andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20040-000 Tel.: (21) 2532.8709 / Fax: (21) 2533-4798 - e-mail stjd@uol.com.br

RECURSO VOLUNTÁRIO

(Mandado de Garantia 434/2017 – Apensado) Processo nº 459/2017

Recorrente: UNIÃO ESPORTE CLUBE DE RONDONÓPOLIS Recorrido: TJD/MT

Terceiros Interessados: CACERENSE ESPORTE CLUBE LTDA; CLUBE ESPORTIVO DOM BOSCO e MIXTO ESPORTE CLUBE

RELATÓRIO

Trata-se de Recurso Voluntário interposto pelo UNIÃO ESPORTE CLUBE de Rondonópolis, contra acórdão do Pleno do TJD/MT que manteve condenação imposta pela Segunda Comissão Disciplinar do seu Tribunal, cuja decisão foi a aplicação da pena prevista no Art. 214 do CBJD, com a perda de 9 pontos e a eliminação do Recorrente das semifinais da Copa local bem como da disputa por uma vaga na Copa Brasil 2018.

Segundo consta dos autos, de forma reduzida, o clube Recorrente foi denunciado nos termos do Art. 214 do CBJD por ter escalado, em duas partidas da Copa da Federação Matogrossense de Futebol - dias 17 de setembro e 01 de outubro passado - 06 (seis) atletas amadores com menos de 20 anos, em desacordo com o RGC local que prevê em seu

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artigo 21 o limite de 05 (cinco) atletas nessas condições, norma essa oriunda do Art. 41 do RGC da CBF.

No regulamento da Copa FMF edição 2017, no seu Capítulo III, Art. 21, diz:

Art. 21. Dentre os atletas relacionados na súmula, entre titulares e reservas, poderão ser incluídos no máximo

05 (cinco) na condição de não-profissionais, com

menos de 20 anos de idade.

Esse artigo quase que reproduz o que prevê o Art. 41 do Regulamento Geral de Competições da CBF.

Art. 41 - É vedada nas partidas das competições de profissionais a participação de atletas não profissionais com idade superior a 20 anos, habilitando os atletas não profissionais a participar de partidas profissionais até a véspera da data de seu aniversário de vinte e um anos.

Parágrafo único - Os clubes poderão incluir nas súmulas de suas partidas até cinco (5) atletas não

profissionais, observado o limite de idade.

A denúncia decorreu de Notícia de Infração, nos termos do Art. 74 do CBJD, assinada pelas três entidades desportivas supramencionadas como terceiros interessados.

Em princípio, a referida peça foi arquivada pelo Procurador Geral do TJD Estadual sob alegação de que a infração estava prescrita nos termos do Art. 42 do CBJD, e que a conduta

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reportada carecia de qualquer tipificação de infração desportiva.

Irresignados, os Terceiros Interessados recorreram ao Presidente do TJD local alegando que a decisão do Procurador Geral era teratológica, contrária a lógica e absurda. Citado Presidente negou provimento a esse Recurso, determinando ainda que os fatos fossem comunicados ao Presidente da FMF para a adoção de medidas administrativas pertinentes. Em decorrência dessa comunicação, o Presidente da FMF, em despacho administrativo (fls. 188 e seguintes), determinou a aplicação de multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) ao União Esporte Clube.

Assim, ainda inconformados, os Terceiros Interessados impetram Mandado de Garantia junto ao STJD entendendo ter havido supressão de instância decisória, violando assim o reexame da matéria pelo Procurador Geral, conforme preceitua o §2º. do Art. 74 do CBJD.

Art. 74. Qualquer pessoa natural ou jurídica poderá apresentar por escrito notícia de infração disciplinar desportiva à Procuradoria, desde que haja legítimo interesse, acompanhada da prova de legitimidade. § 1º Incumbirá exclusivamente à Procuradoria avaliar a conveniência de promover denúncia a partir da notícia de infração a que se refere este artigo, não se aplicando à hipótese o procedimento do art. 78.

§ 2º Caso o procurador designado para avaliar a notícia de infração opine por seu arquivamento, poderá o interessado requerer manifestação do

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Procurador-Geral, no prazo de três dias, para reexame da matéria.

Diante desse fato, o Exmo. Presidente do STJD concedeu liminar para anular a decisão de arquivamento da NI por supressão de instância, determinando ainda que aquela representação fosse encaminhada para um dos Procuradores do TJDMT para avaliação, o que acabou resultando no oferecimento de denúncia contra o UNIÃO de Rondonópolis, nos termos do Art. 214 §1º. do CBJD.

Julgado pela Segunda Comissão Disciplinar do Tribunal local, o clube foi condenado nos termos da denúncia a perda de 9 (nove) pontos mais a multa de R$ 1.000,00 (mil reais) e, consequentemente, excluído da fase final da competição. Entenderam os julgadores que a escalação dos seis jogadores ao invés de cinco caracterizava os preceitos contidos no Art. 214 do CBJD.

Em seu voto, o Relator a quo citou até Abraham Lincoln, discorrendo que se tratava de um caso clássico de “levar vantagem em tudo” e alegou ainda que o clube praticou uma “artimanha” ao escalar o sexto jogador.

O Clube Recorrente então interpôs Recurso Voluntário ao Pleno do TJD daquele Estado, sendo mantida, por unanimidade. aquela decisão condenatória.

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Novamente em fase de recurso a esse STJD, o Recorrente alega que a condenação do clube nos termos do Art. 214 está em desalinho com as decisões mais recentes deste STJD; que a escalação em desacordo com o regulamento é passível de enquadramento no Art. 191 do CBJD, diferentemente da escalação de jogador irregular que teria a pena cabível no Art. 214; a defesa ainda cita jurisprudência deste Tribunal e que seja reformada a decisão recorrida, prevalecendo o resultado do campo de jogo.

A Procuradoria em seu Parecer entende que atletas em situação irregular devem ser tratados de forma restritiva; diz que a publicação no BID dá condição legal ao atleta, mas para ter a condição de jogo tem que atender os requisitos formais do RGC o que não foi feito; pede que se negue provimento ao recurso sob pena de se abrir grave precedente e inova ao afirmar que o sexto atleta relacionado na súmula de cada um dos jogos realizados é que seria o atleta em situação irregular.

O Recorrente pediu ainda o efeito suspensivo que não foi concedido, entretanto, como Relator, determinei fosse oficiada a CBF informando que uma das vagas em disputa no Estado do Mato Grosso para a Copa Brasil 2018 estaria sub judice.

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O recurso do UNIÃO de Rondonópolis deve ser provido.

Explico.

Antes de adentrar ao mérito, passo a analisar os termos do voto e acórdão do Pleno do TJDMT que manteve a condenação de Primeira instância do ora Recorrente.

O Auditor Relator do Recurso do UNIÃO no Pleno do Tribunal a quo, disse no seu voto ter feito uma “interpretação sistemática da norma” e chegando a um “juízo de convicção”, submetendo o seu voto ao Pleno daquele Tribunal.

Entende-se por “interpretação sistemática”, a análise de todas as normas e suas inter-relações com outras normas do ordenamento.

Entendeu ele nessa “interpretação sistemática” que estaria diante de um “Conflito Aparente de Normas”, ou seja, na sua visão haveria um aparente conflito entre as normas dos Artigos 191 e 214 do CBJD.

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Diz o Art. 191

Deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento: I — de obrigação legal;

II — de deliberação, resolução, determinação,

exigência, requisição ou qualquer ato normativo ou administrativo do CNE ou de entidade de administração do desporto a que estiver filiado ou vinculado;

III — de regulamento, geral ou especial, de

competição.

PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a 100.000,00 (cem mil reais), com fixação de prazo para cumprimento da obrigação.

§ 1º É facultado ao órgão judicante substituir a pena de multa pela de advertência se a infração for de pequena gravidade.

§ 2º Se a infração for cometida por pessoa jurídica, além da pena a ser-lhe aplicada, as pessoas naturais responsáveis pela infração ficarão sujeitas a suspensão automática enquanto perdurar o descumprimento.

Diz o Art. 214

Art. 214. Incluir na equipe, ou fazer constar da súmula ou documento equivalente, atleta em situação irregular para participar de partida, prova ou equivalente.

PENA: perda do número máximo de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição, independentemente do resultado da partida, prova ou equivalente, e multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).

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§ 1º Para os fins deste artigo, não serão computados os pontos eventualmente obtidos pelo infrator.

§ 2º O resultado da partida, prova ou equivalente será mantido, mas à entidade infratora não serão computados eventuais critérios de desempate que lhe beneficiem, constantes do regulamento da competição, como, entre outros, o registro da vitória ou de pontos marcados.

§ 3º A entidade de prática desportiva que ainda não tiver obtido pontos suficientes ficará com pontos negativos.

§ 4º Não sendo possível aplicar-se a regra prevista neste artigo em face da forma de disputa da competição, o infrator será excluído da competição.

Muito bem.

Mas o que é conflito “aparente de normas”?

O próprio nome já diz.

O “conflito aparente de normas” se estabelece quando aparentemente duas ou mais normas são aplicáveis ao mesmo fato, e por esta razão, aparentemente aplicáveis ao caso. Existe o conflito pois essas normas querem regular o fato, mas é aparente pois apenas uma é aplicável a hipótese.

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A doutrina nos ensina que a resolução se dá por meio de quatro princípios, a saber: especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.

Vamos nos ater ao Princípio da Especialidade que foi o princípio utilizado pelo Relator a quo para calçar seu voto.

O princípio da especialidade diz que a norma especial possui todos os elementos da norma geral e mais outros elementos denominados especializantes, desse modo, para se aplicar esse princípio devemos comparar as normas em abstracto e encontrar os elementos gerais comtemplados em ambos dispositivos e depois encontrar o elemento especial ou especializante. Depois, o hermeneuta deve verificar onde a conduta do agente se enquadra. A regra é a de que a norma especial afasta a incidência da norma geral.

Isso é bem ilustrado por doutrinadores que comparam essas normas como duas caixas iguais, sendo que uma delas possui um laço, portanto, é esse detalhe a mais que lhe dá a especialidade.

Exemplos?

Os exemplos clássicos são os crimes de homicídio e infanticídio (artigos 121 e 123 do Código Penal). Nesta esteira,

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o crime de homicídio (norma geral) será considerado a caixa sem laço, enquanto que o crime de infanticídio (norma especial) será considerado a caixa com laço.

Por quê?

Porque, embora ambos os crimes tenham o mesmo resultado, qual seja: matar alguém. O crime de infanticídio revela outros elementos que o crime de homicídio não contém. Elementos tais como ser praticado pela mãe, praticado durante ou logo após o parto e ela deve estar sob influência do estado puerperal.

Voltemos então ao caso em comento. Devemos entender então, como entendeu o Auditor Relator, que estamos diante de um “conflito aparente de normas” e aplicar o princípio da especialidade para dirimir essa dúvida? E assim aplicar o Art. 214 e não o Art. 191?

Claro que não!

Não se trata de “conflito aparente de normas.

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Não temos duas caixas iguais. Faltam os pressupostos básicos que seriam os elementos presentes em ambos dispositivos.

Como podemos falar em “conflito aparente de normas” se ambos dispositivos são diferentes?

Não bastasse a equivocada interpretação legal, diz ainda o Douto Relator a quo que qualquer um dos seis atletas escalados estaria dentro do “plexo da norma” do artigo 214.

Equivocado aqui também está, pois, apesar de o clube ser o responsável, a “situação irregular” constante na norma é a do atleta, é situação personalíssima do atleta. A lei diz: “...fazer constar da súmula....atleta em situação irregular...”.

O que nós, operadores do direito devemos fazer para interpretar essa norma? Interpretamos de maneira restritiva? dizendo que somente o que está contida na norma jurídica estará em vigor? De maneira extensiva? ampliando o universo do que está disposto na norma jurídica como quer a Procuradoria? Ou fazemos apenas uma interpretação declarativa, especificadora, aplicando apenas o pensamento e vontade expressos na norma jurídica, sem que haja a necessidade de se ampliar ou diminuir o efeito da interpretação?

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O saudoso jurista e Prof. Washington de Barros Monteiro sempre dizia que na interpretação deve-se sempre preferir a inteligência que faz sentido à que não faz; deve-se preferir a inteligência que melhor atenda à tradição do direito e deve ser afastada a exegese que conduz ao vago, ao inexplicável, ao contraditório e ao absurdo. O dever do intérprete é descobrir o real sentido da norma jurídica retratada no texto da lei, mantendo-se sempre fiel a essência da Lei e ao resultado prático que ela visa atingir.

Além do mais, esqueceu no nobre Relator exegeta que o CBJD é claro quando elenca os princípios que deverão ser observados na aplicação da Lei Desportiva.

Todos sabemos que os princípios jurídicos são dotados de uma força normativa, são as colunas que dão suporte ao Direito, apesar de não constarem em nenhum diploma legal. Diz Miguel Reale que “são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, a aplicação e integração ou mesmo para a elaboração de novas normas”.

Os princípios inspiram o legislador, e é tão importante que doutrinadores ensinam que a violação de princípios é mais gravosa do que a violação de uma regra, eis que ofende não só um mandamento obrigatório, mas a todo um sistema.

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Art. 2º A interpretação e aplicação deste Código

observará os seguintes princípios, sem prejuízo de outros: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de

2009).

O legislador diz “O presente código observará” e não “poderá ser observado”, portanto, é quase um mandamento jurídico-desportivo o comando “observará”, e no caso em testilha atenho-me aos princípios elencados nos itens XII, XIV e XVII, respectivamente proporcionalidade, razoabilidade e prevalência, continuidade e estabilidade (pro competitione).

Art. 2º O presente Código observará os seguintes princípios:

I. ampla defesa; II. celeridade; III. contraditório;

IV. economia processual; V. impessoalidade; VI. independência; VII. legalidade; VIII. moralidade; IX. motivação; X. oficialidade; XI. oralidade; XII. proporcionalidade; XIII. publicidade; XIV. razoabilidade.

XV — devido processo legal; XVI — tipicidade desportiva;

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XVII — prevalência, continuidade e estabilidade das competições. (pro competitione)

XVIII — espírito desportivo (fair play). Muito bem.

Qual a proporcionalidade da pena imposta ao ceifar da competição o clube Recorrente que ganhou a classificação legalmente no campo? O princípio da proporcionalidade diz que a pena não pode exceder o limite do mal causado pelo ilícito praticado e a resposta jurídica deve ser proporcional à gravidade da ofensa.

Qual a razoabilidade da pena imposta arrancando-lhes 9 pontos adquiridos nos jogos que participou, em virtude de ter listado na súmula um jogador amador a mais do que o permitido pelo RGC? Jogador esse amador e que nem jogou! Atleta esse escalado irregularmente, mas NÃO atleta em situação irregular.

Porque não foi observado o princípio pro competitione aplicando-se essa “pena capital” ao clube que por méritos próprios estava na fase semifinal do certame?

Qual a vantagem do Recorrente ou qual o prejuízo aos outros clubes fazer constar na súmula 6 jogadores amadores ao invés de 5?

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Qual a interpretação que devemos dar ao texto do Art. 214 do CBJD? Qual a Interpretação teleológica deste artigo? Qual a finalidade desta Lei? O que ela tenciona servir ou tutelar?

Interpretar é fixar o verdadeiro sentido e alcance da norma jurídica.

Fazer a Inclusão irregular de um jogador a mais na súmula NÃO é o mesmo que jogador em situação irregular.

Houve uma total desproporcionalidade em ambos acórdãos, tanto da primeira instância como da decisão do Pleno local.

Qual atleta do UNIÃO, constante da súmula, estava em situação irregular?

Nenhum deles!

Todos os jogadores amadores listados na súmula tinham condição legal e condição de jogo, portanto totalmente ausente a condição de “Atleta em Situação Irregular” constante no tipo do Art. 214 do CBJD.

Além dos princípios a serem observados e citados pelo CBJD, não podemos esquecer que o Art. 2º do CBJD diz que a

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interpretação e aplicação deste Código observará os seguintes princípios, sem prejuízo de outros.

Mas quais outros princípios?

O Princípio da Insignificância, segundo o qual a norma não deve ser aplicada quando o dano ou perigo de dano são irrisórios.

Lembrem que o Direito repudia a punição dos delitos de bagatela.

Trata-se de noção que surgiu no direito penal, mas que se propagou para os demais ramos do direito punitivo, inclusive o desportivo.

O professor Adílson Abreu Dallari afirma que o princípio da insignificância (ou bagatela) é aplicável às penalidades administrativas e ensinam que "com esse rótulo se tem dito que é admissível infirmar a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade, configuram ações de bagatela, despidas de relevância, traduzidas em valores lesivos ínfimos".

O Supremo Tribunal Federal tem ampla jurisprudência acerca do tema. Aplica-se o referido princípio quando "a reprimenda se revele desproporcional ou irrazoável considerada a ação típica ou o resultado dela".

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Para que se desconfigure a conduta punível, é necessário que ocorra: "a) a mínima ofensividade da conduta do agente, b) a nenhuma periculosidade social da ação, c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada".

Lembro também de outro princípio importantíssimo do nosso direito pátrio, o da presunção de inocência que todos sabemos é o princípio segundo o qual na dúvida jamais se pode autorizar uma sentença condenatória.

Havendo dúvida quanto aos fatos ou ao direito aplicável ao caso, não se pode decidir contrariamente ao réu.

Havendo incerteza sobre elemento normativo do tipo ou sobre o sentido da norma, o réu deve ser absolvido.

Entendo a preocupação do nosso Procurador Geral e é lógico que não estamos aqui permitindo que os clubes relacionem quantos jogadores quiserem nas súmulas, o RGC da CBF e RGC e REC das Federações regulam isso, e qualquer descumprimento existe a norma específica no CBJD para ser aplicada.

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Mas, diga-se de passagem, também aqui, que o Art. 214 já deveria ser considerado “letra morta” no nosso ordenamento jurídico desportivo.

Não faz sentido, com a tecnologia que dispomos hoje, de que o delegado do Jogo, ao fazer o check list da partida no seu tablete, já não tenha ali online as informações necessárias para obstar irregularidades que venham incorrer na prestação jurisdicional desportiva igual a essa que hoje estamos debatendo.

A responsabilidade é da CBF e das Federações que há muito tempo já deveriam ter se adaptado para evitar situações como essa.

Por fim lembro que o próprio Procurador Geral do Tribunal de Justiça Desportivo do Matogrosso, em suas manifestações iniciais sobre a NI (fls.151 e seguintes) que determinou o arquivamento, disse: “a regra contida no Regulamento da Copa FMF edição 2017 é um apontamento que visa fomentar a utilização de jogadores de categorias de base dos clubes participantes da competição” .... “e que a conduta carece de qualquer tipificação de infração disciplinar”.

Diante desses fatos e tentando adequar a conduta ao exato sentido da regra, o meu voto é encaminhado à decisão do

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Pleno no sentido de ser dado provimento ao presente Recurso Voluntário do UNIÃO CLUBE de Rondonópolis no sentido de ser reformada a decisão do TJDMT para cancelar a condenação aplicada nos termos do Art. 214 do CBJD e reclassificar a conduta do clube, agora corretamente, nos lindes do vigente Art. 191 do CBJD.

Mais.

Entendo ainda que a conduta não foi dolosa e sim culposa, sendo ainda o fato é de pequena gravidade, o que me leva a propor o benefício da Advertência conforme preceitua o §1º. do mesmo artigo. Lembrando que essa advertência deverá ser estendida às pessoas naturais responsáveis pela infração conforme o §2º.

Como efeito dessa decisão, determino ainda:

1. A devolução dos 9 (nove) pontos retirados do clube Recorrente, o UNIÃO RONDONÓPOLIS, na primeira fase da competição, confirmando-o como semifinalista do Grupo A da Copa FMF 2017, prevalecendo assim o resultado obtido em campo e a ordem original de classificação que se encerrou na primeira fase.

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2. Sejam anulados os resultados e os efeitos das partidas do Grupo A da fase semifinal da Copa FMF 2017 entre os clubes DOM BOSCO e MIXTO, realizadas nos dias 11.11.2017 e 15.11.2017

3. Sejam remarcadas e disputadas novamente, e o mais rápido possível, as duas partidas (ida e volta) do Grupo A da fase semifinal, entre os legítimos titulares da vaga nesta fase, DOM BOSCO X UNIÃO RONDONÓPOLIS.

4. Em caso de vitória do UNIAO RONDONOPOLIS, tornando-se ele o finalista e adversário do CUIABA (representante do Grupo B), determino a anulação dos jogos finais realizados entre CUIABA e D.BOSCO (ida e volta) e que a FMF remarque essas partidas entre os legítimos disputantes, CUIABA e UNIAO RONDONOPOLIS, outorgando assim o título da Copa FMF ao vencedor.

Da mesma maneira, caso o vencedor do confronto semifinal pelo Grupo A seja o D.BOSCO, seja mantido o resultado das partidas finais como realizadas em atenção aos princípios da economicidade, razoabilidade e da estabilidade das competições contidos no art.2 do CBJD.

5. À serventia da casa para ad cautelam oficiar a CBF na pessoa do seu Diretor de Competições para que mantenha sub

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judice a definição desta vaga do Mato Grosso na Copa do Brasil 2018.

6. Intime-se ao Presidente da Federação de Futebol do Mato Grosso, Dr. Aron Dresch bem como as partes envolvidas para o imediato cumprimento desta decisão nos seus termos.

7. Intime-se ao TJD/MT para ciência da decisão deste STJD.

Esse é o meu voto.

Intime-se. Publique-se.

São Paulo, 20 de janeiro de 2018.

MAURO MARCELO DE LIMA E SILVA AUDITOR RELATOR

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