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LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E DIREITOS SOCIAIS

LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA

ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NAS DEMANDAS RELACIONADAS À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO: Desafios e

possibilidades

MOSSORÓ-RN 2019

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LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA

ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NAS DEMANDAS RELACIONADAS À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO: Desafios e

possibilidades

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção de título de mestra em Serviço Social e Direitos Sociais.

Orientadora: Profª Dra. Gláucia Helena Araújo Russo.

Mossoró-RN 2019

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LÍLIAN MARIA OLIVEIRA VIEIRA

ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NAS DEMANDAS RELACIONADAS À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO: Desafios e

possibilidades

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção de título de mestra em Serviço Social e Direitos Sociais.

Aprovada em: 31/01/2020.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________ Profa. Dra. Gláucia Helena Araújo Russo

Orientadora (UERN)

___________________________________________ Profª Dra. Sâmya Rodrigues Ramos

Membro interno (UERN)

___________________________________________ Profª Dra. Sheyla Paiva Pedrosa

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me concedido o privilégio de nascer numa família que me deu o suporte necessário para a concretização de mais este sonho e que sempre incentivou e apoiou as minhas empreitadas acadêmicas e profissionais. Minha família sempre foi minha rede de apoio, mais especificamente nos momentos finais de elaboração em que se dividiram para cuidar do meu Mateus, enquanto eu dedicava tempo a ler, estudar e escrever. São eles que me amparam em todas as minhas decisões, me empolgam e me dão forças para continuar na minha luta, mesmo que às vezes não concordem 100% com elas.

Preciso agradecer a você, meu filho, meu Mateus, minha vida, que mesmo com sua pouca idade me cativa com sua necessidade de descobrir e revolucionar o mundo por uma perspectiva crítica, questionadora e argumentativa. Você, mesmo sem saber, é meu maior incentivador. Espero que um dia possa ler esse trabalho e que ele faça algum sentido para você.

À minha mãe que passou e passa por situações que nem sempre são favoráveis a ela, mas que sempre foi e sempre será meu maior exemplo de mulher e mãe. Esse trabalho também é seu, pois sem você ele não existiria.

Ao meu pai, que mesmo enfrentando vários problemas me proporciona todos os meios possíveis para a realização dos meus objetivos e para concretização dos meus sonhos.

Á minha irmã e ao meu cunhado que sempre se dispuseram a cuidar de Mateus, me dando tempo para me dedicar ao processo de pesquisa e escrita necessária para a dissertação.

À Gláucia Russo, que foi um verdadeiro anjo em minha vida. Me dando forças quando as minhas estavam acabando e me acalmando quando o desespero estava batendo, sempre com uma calma e uma doçura cativante. Você é um verdadeiro exemplo de pessoa e profissional. Foi um privilégio ser sua aluna e orientanda. Muito obrigada por ter escutado minhas ideias, por ter tido paciência com minhas indecisões que teimavam em aparecer e por ter a delicadeza de aproveitar ao máximo tudo o que eu escrevia, aprendi muito com essa trajetória.

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Às professoras Dra. Sâmya Rodrigues Ramos e Dra. Sheyla Paiva Pedrosa, por aceitarem auxiliar nesse processo de produção e, principalmente, pelas valiosas contribuições por ocasião do exame de qualificação.

Às professoras do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Direitos Sociais pelos ensinamentos e reflexões. Com certeza, saio dessa experiência acadêmica com uma visão mais ampla e mais crítica da sociedade e dos processos de trabalho dos quais fazemos parte.

Aos meus amigos, os quais não citarei nomes para não correr o risco de esquecer algum, obrigada por estarem ao meu lado em todos os desesperos que vieram com esse processo acadêmico. Obrigada por toda sensibilidade e paciência nos meus diversos momentos de angústia e pelos conselhos inspiradores.

Por fim, agradeço a todos os familiares, amigos e colegas que direta ou indiretamente estiveram presentes na minha caminhada. Não conseguimos chegar, sozinhos, a nenhum lugar, e graças a todos vocês que hoje estou tendo a oportunidade de escrever essas palavras. MUITO OBRIGADA a todos vocês.

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RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de investigar como se dá a atuação do assistente social no atendimento às demandas relacionadas à Infância e Adolescência no Ministério Público, enfatizando os desafios e possibilidades vivenciadas em seu cotidiano profissional. A investigação tem abordagem quantiqualitativa e fundamenta-se no materialismo histórico e dialético. Utilizaram-se, como instrumento de coleta de dados questionário enviado aos assistentes sociais dos Ministérios Públicos Estaduais do Brasil que participam do grupo de whatsapp e entrevistas com as assistentes sociais do Ministério Público do Rio Grande do Norte. O objetivo principal do estudo é analisar como tem se dado a atuação dos assistentes sociais nas demandas relacionadas às crianças e adolescentes, visando contribuir na qualificação do exercício profissional de Serviço Social na perspectiva de defesa e garantia de direitos, especialmente desse público específico. Os resultados do estudo apontam para processos de legitimação e autonomia ainda em construção no âmbito do espaço sócio ocupacional do Ministério Público, tensionados entre a identidade atribuída institucionalmente e aquela em que os profissionais se reconhecem. Movimentos concretos dos assistentes sociais demonstram potencialidades na tentativa de particularizar seu exercício profissional frente a um campo de trabalho recente, mas que oscila entre possibilidades e limites. Possibilidades identificadas na sintonia presente entre as funções constitucionais do Ministério Público e o projeto ético-político profissional, permitindo evocar a direção social na perspectiva da exigibilidade de direitos. Por outro lado, identificam-se limites que se apresentam no cotidiano, pela ambiguidade institucional quanto ao atendimento a demandas individuais e a demandas coletivas. Essas tensões provocam movimentos dos assistentes sociais no sentido de se posicionarem profissionalmente, procurando tensionar para que demandas individuais sejam ampliadas na direção de demandas coletivas. Entretanto, o cotidiano tende a absorver os profissionais, que possuem relativa autonomia frente aos processos de trabalho institucionais. O Serviço Social no Ministério Público carrega como potencialidade a possibilidade de contribuir com a instituição no fomento das políticas públicas e na defesa e garantia de direitos de crianças e adolescentes.

Palavras-chaves: Serviço Social; Ministério Público; Criança e adolescente; Projeto ético-político; Exercício Profissional.

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ABSTRACT

The present study aims to investigate how is the work of the social workers in meeting the demands related to Childhood and Adolescence in the Public Ministry, emphasizing the challenges and possibilities experienced in their professional routine. The investigation has a quantitative and qualitative approach and is based on historical and dialectical materialism. As a data collection instrument, a questionnaire sent to social workers from Brazil's State Public Ministries who participate in a whatsapp group and interviews with social workers from the Public Ministry of Rio Grande do Norte were used. The main objective of the study is to analyze how social workers have acted regarding the demands related to children and adolescents, aiming to contribute to the qualification of the professional exercise of Social Work in the perspective of defense and guarantee of rights, especially of this specific public. The results of the study points to processes of legitimation and autonomy still under construction within the socio-occupational space of the Public Ministry, biased between the institutionally assigned identity and that in which professionals recognize themselves. Concrete movements of social workers demonstrate potentialities in an attempt to particularize their professional practice in the face of a recent field of work, but which oscillates between possibilities and limits. Possibilities identified in the present harmony between the constitutional functions of the Public Ministry and the professional ethical-political project, allowing to evoke social direction from the perspective of the demandability of rights. On the other hand, limits that are present in daily life are identified, due to the institutional ambiguity regarding meeting individual and collective demands. These tensions provoke movements of social workers in order to position themselves professionally, trying to biased so that individual demands are expanded towards collective demands. However, daily life tends to absorb professionals, who have relative autonomy in relation to institutional work processes. Social Work in the Public Ministry has a potential possibility to contribute to the institution in the promotion of public policies and in the defense and guarantee of the rights of children and adolescents.

Keywords: Social Work; Public Ministry; Child and Adolescent; Ethical-political project; Professional Practice.

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LISTA DE SIGLAS

ABESS - Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social CAOP - Centro Operacional de Apoio às Promotorias

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social CRESS - Conselho Estadual de Serviço Social DSD - Depoimento sem Dano

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

ENSSMP - Encontro Nacional de Serviço Social do Ministério Público FUNABEM - Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social MP- Ministério Público

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

MPRN - Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte NATE - Núcleo de Apoio Técnico Especializado

NAMVID - Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar NUPA - Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição

ONU - Organização das Nações Unidas SAM - Serviço de Atendimento ao Menor

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Gráfico representativo da idade dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...63 FIGURA 2 – Gráfico representativo do tempo de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...64 FIGURA 3 – Gráfico representativo do sexo dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...65 FIGURA 4 – Gráfico representativo da região de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...67 FIGURA 5 – Gráfico representativo da forma de ingresso dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...68 FIGURA 6 – Gráfico representativo da denominação dos cargos dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...69 FIGURA 7 – Gráfico representativo da carga horária trabalhada pelos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...71 FIGURA 8 – Gráfico representativo da presença de outros assistentes sociais no setor (2018)...72 FIGURA 9 – Gráfico representativo da presença de outros profissionais no setor (2018)...72 FIGURA 10 – Gráfico representativo das condições básicas de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...74 FIGURA 11 – Gráfico representativo do local de lotação dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...76 FIGURA 12 – Gráfico representativo as matérias de atuação dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...77 FIGURA 13 – Gráfico representativo as matérias de atuação dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...78 FIGURA 14 – Gráfico representativo as matérias de atuação dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...79 FIGURA 15 – Gráfico representativo das principais ações desenvolvidas no trabalho dos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...80

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FIGURA 16 – Gráfico representativo dos principais instrumentos utilizados pelos assistentes sociais inseridos no Ministério Público (2018)...82

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...13

2 SERVIÇO SOCIAL E SOCIOJURÍDICO: REFLEXÕES INICIAIS...20

2.1 SERVIÇO SOCIAL: PROFISSÃO VOLTADA À DEFESA DOS DIREITOS DA POPULAÇÃO...20

2.2 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SOCIOJURÍDICO: PARTICULARIDADES NO ÂMBITO DOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS...26

3 ENTRE A NEGAÇÃO E A PROTEÇÃO: O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO BRASIL...43

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E A CONCEPÇÃO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA...43

3.2 MINISTÉRIO PÚBLICO E PROTEÇÃO SOCIAL: EM DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA?...55

4 SERVIÇO SOCIAL NOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS DO NORDESTE: A ATUAÇÃO COM A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA...62

4.1 INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA COMO DEMANDA PARA O SERVIÇO SOCIAL NOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS DO NORDESTE...62

4.2 SERVIÇO SOCIAL E INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: COMPETÊNCIAS, LIMITES E POSSIBILIDADES...92

5 CONCLUSÃO...107

REFERÊNCIAS...112

ANEXOS...120

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1. INTRODUÇÃO

A inserção do profissional de Serviço Social no Ministério Público (MP) brasileiro, tem como pressuposto as novas funções atribuídas pela Constituição Federal, de 1988, que consiste no papel de defender os direitos coletivos, ou seja, a instituição passa a zelar pelos interesses da maioria da sociedade, principalmente, daqueles segmentos mais vulneráveis pela pobreza e por formas variadas de discriminação. Motivo pelo qual a instituição demanda a contratação de profissionais com novas competências e habilidades que se coadunem com a nova missão institucional.

É nesse cenário que o assistente social passa a integrar o quadro de servidores dos Ministérios Públicos brasileiros, agregando novos conhecimentos sobre o sistema de proteção social, o funcionamento e a estrutura das políticas públicas, possibilitando imprimir uma visão de totalidade das demandas recebidas nesse espaço sócio ocupacional.

Dito isto, o trabalho que se segue tem o objetivo de refletir sobre o trabalho realizado junto a infância e adolescência no Estado do Rio Grande do Norte. A motivação pela escolha da temática proposta e o interesse em estudá-la surgiu a partir da experiência profissional, ainda em curso, no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN), mais especificamente no Núcleo de Apoio Técnico Especializado da Região Oeste (NATE/Mossoró), por meio do qual tivemos a oportunidade de atuar em diversas situações de violência envolvendo crianças e adolescentes.

A experiência no MPRN, tem permitido uma aproximação da pesquisadora com os limites, as possibilidades e as contradições desta instituição cuja função principal visa a exigibilidade de direitos. Nesse espaço, foi possível perceber uma ligação entre as determinações do projeto ético-político profissional do Serviço Social e a missão da instituição, os quais, na maioria das vezes, confluem para a defesa da democracia1 e dos direitos humanos.

1 Seguindo o disposto no Código de Ética do Assistente Social: “A democracia é tomada como valor ético-político central, na medida em que é o único padrão de organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da equidade. É ela, ademais, que favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa impõe ao desenvolvimento

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É imprescindível compreender que a inserção do Assistente Social no Ministério Público data do início dos anos 2000, consequência do processo de transformação vivido pela Instituição, ocasionados pela promulgação da Constituição Federal de 1988, quanto à sua missão de defesa dos direitos individuais indisponíveis e sociais.

A Constituição Federal, de 1988 trouxe em seu interior várias concepções em disputa, e consolidou um projeto de democracia no país a partir da garantia dos direitos individuais e coletivos arduamente conquistados pelos movimentos sociais, setores mais progressistas do legislativo, categorias profissionais, como é o caso do Serviço Social, dentre outros setores organizados da sociedade.

Para compreender a atuação do assistente social no Ministério Público, faz-se necessário apreender que embora existam várias demandas encaminhadas a esse profissional, é possível reuni-las em dois grupos: situações individuais e matérias coletivas. As demandas individuais envolvem diretamente o estudo social2, que tem

o objetivo de conhecer, analisar e emitir pareceres sobre situações conflituosas ou problemáticas.

Já as demandas de cunho coletivo, envolvem à exigibilidade de políticas públicas, por exemplo: fiscalização, fomento, acompanhamento, controle e avaliação; realização de estudos e pesquisas sobre determinada realidade; vistorias em entidades com o fito de avaliar o atendimento, buscando a melhoria da qualidade e sobretudo o respeito às legislações vigentes (TEJADAS, 2012).

Sobre a atuação em casos individuais, importa destacar que esta demanda possui relação direta com a tradição de atuação do Serviço Social no Poder Judiciário, principalmente nos Tribunais de Justiça, na elaboração de estudos sociais referentes a situações familiares em que há violação de direitos ou litígios. É compreensível, pois que essa forma histórica de inserção marca o ingresso do

pleno da cidadania, dos direitos e garantias individuais e sociais e das tendências à autonomia e à autogestão social. Em segundo lugar, cuidou-se de precisar a normatização do exercício profissional de modo a permitir que aqueles valores sejam retraduzidos no relacionamento entre assistentes sociais, instituições/organizações e população, preservando-se os direitos e deveres profissionais, a qualidade dos serviços e a responsabilidade diante do/a usuário/a”. (CFESS, 1993).

2 Santos e Noronha (2013) afirmam que, o Estudo Social é composto pelo exame detalhado da situação social e a análise desta. Ele se faz necessário para construir um conhecimento a respeito da população usuária. A partir dele, pode-se emitir uma opinião técnica sobre a situação, contribuindo com a decisão final do processo. Precede à realização do estudo social uma postura indagativa sobre os motivos e os objetivos que se pretendem alcançar por meio dele.

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assistente social no campo sociojurídico e os membros do Ministério Público (procuradores e promotores) usaram-na como referência.

Para mais, cabe a crítica de que a atenção a demandas de caráter individual é permeada de contradições que, influenciadas pelo mundo jurídico, apresentam determinados aspectos e, ainda hoje, persiste a tendência de analisar as referidas demandas separadas de suas bases econômicas e sociais, para serem consideradas de modo fragmentado, na maioria das vezes, retirando o sujeito e/ou família do contexto social no qual ele está inserido, examinando-o isoladamente.

Importa destacar que o Ministério Público é uma instituição diversa do Poder Judiciário, visto que suas competências devem assumir a vertente da garantia dos direitos humanos3 no contexto judicial, como no extrajudicial. Assim,

A referência do Serviço Social Judiciário pode conduzir a uma ênfase da atuação profissional na esfera individual, assumindo facetas fragmentárias, pontuais, menos abrangentes e descoladas da missão da Instituição ministerial. Pode, também, se constituir em espaço de garantia de direitos a sujeitos que os tiveram violados ou sonegados. Por seu turno, o Serviço Social tem potencial de descortinar na Instituição um leque de intervenções voltadas para a garantia de direitos de coletividades, em caráter mais abrangente e continuado, quando sua intervenção se volta ao fomento de políticas públicas de Estado. (TEJADAS, 2012. p. 320).

Visando conhecer como têm se dado a atuação dos Profissionais de Serviço Social nesse contexto, nossa pesquisa teve como objetivo geral: Compreender a atuação dos profissionais de Serviço Social dos Ministérios Públicos brasileiros, particularizando o trabalho realizado no Rio Grande do Norte junto às demandas da infância e adolescência. Destarte, como objetivos específicos, buscamos:

 Conhecer as principais demandas relativas a infância e adolescência requeridas ao assistente social.

 Apreender os desafios e potencialidades detectadas pelas assistentes

3Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles direitos inerentes ao ser humano. O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. [...] são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana.

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sociais, nas demandas da infância e adolescência.

 Perceber qual a direção ético-política da atuação profissional dos profissionais de Serviço Social na área da infância e adolescência.

Importa enfatizar que, estudar as possibilidades de contribuição do Serviço Social no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, sobretudo nas questões afetas à infância e adolescência, nesse momento específico, torna-se ainda mais relevante uma vez que a categoria busca imprimir a direção social da sua atuação, delimitando e estabelecendo suas atribuições e competências profissionais, por meio da construção e elaboração de um manual, que versará sobre o fazer profissional na Instituição.

Cabe o registro de que o Serviço Social tem potencial de descortinar na Instituição um leque de intervenções voltadas para a garantia de direitos das coletividades, em caráter mais abrangente e continuado, quando sua intervenção se volta ao fomento de políticas públicas de Estado. (TEJADAS, 2012).

Tal profissional, atua na perspectiva de proteção, visando dar respostas às diversas formas de violência das quais crianças e adolescentes são vítimas, como forma a contribuir para reflexão e superação de lacunas no conhecimento da temática.

Para além do que foi dito, considerando a escassa literatura existente sobre a atuação do Serviço Social na particularidade do Ministério Público, o trabalho tem grande relevância, na medida em que, nos incita a pensar criticamente e remete-nos a possibilidade de compreensão acerca da atuação do Assistente Social nesse espaço sócio ocupacional, relativamente novo.

Enfatizamos que o estudo proposto tem natureza qualiquantitativo. Assim, apesar de serem de natureza diferenciada, os métodos se complementam na compreensão da realidade social. De acordo com Minayo e Sanches (1993) o método quantitativo atua em níveis de realidade, onde os dados se apresentam aos sentidos, tem como “campo de práticas e objetivos trazer à luz dos dados, indicadores e tendências observáveis”. (p. 247). Já o método qualitativo, segundo os autores, lida com crenças, valores, atitudes, hábitos e opiniões, “[...] adequa-se a aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos particulares e específicos [...]”. (p. 247).

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Enfatizamos que os dados serão analisados de forma qualitativa, sem contudo, desconsiderar os próprios limites dos instrumentos utilizados. Para tanto, considerando que a pesquisa se propõe a analisar a atuação do profissional de Serviço Social, pretendemos utilizar o método Marxista que analisa a sociedade capitalista sob a ótica do Materialismo Dialético, pois entendemos que este método percebe a história não por acontecimentos sequenciais, ou pela vida de indivíduos, mas numa perspectiva que enxerga nas contradições históricas a chave para o entendimento dos acontecimentos históricos, que são marcados por relações sociais. Tal método nos possibilita analisar e compreender as situações vivenciadas percebendo as contradições existentes nas relações sociais.

Para tanto, realizamos inicialmente, uma pesquisa bibliográfica com o intuito de obter referências para guiar as análises dos resultados obtidos. Além de fornecer elementos que contextualizem a inserção e a atuação do assistente social no campo sociojurídico, mais precisamente no Ministério Público. De acordo com Oliveira (2007):

A pesquisa bibliográfica é uma modalidade de estudo e análise de documentos de domínio científico tais como livros, periódicos, enciclopédias, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos. [...] a principal finalidade da pesquisa bibliográfica é proporcionar aos pesquisadores e pesquisadoras o contato direto com obras, artigos ou documentos que tratem do tema em estudo. (p. 69).

Em seguida foi feita uma pesquisa documental, a qual possibilitou o acesso a pesquisas elaboradas anteriormente pela categoria profissional sobre a inserção no Ministério Público brasileiro, bem como, o conhecimento e análise de dados já coletados. Sobre a pesquisa documental, Oliveira (2007) diz:

[...] caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação. [...] na pesquisa documental, o trabalho do pesquisador(a) requer uma análise mais cuidadosa, visto que os documentos não passaram antes por nenhum tratamento científico. (p. 69-70).

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Para tal, analisamos artigos, leis, normas e peças documentais dos Ministérios Públicos da Região Nordeste que definem as atribuições e competências dos assistentes sociais inseridos nesses espaços sócio ocupacionais.

Importa esclarecer, que a forma proposta inicialmente para a produção de dados, por meio da aplicação de entrevista semiestruturada, a ser aplicada com os(as) assistentes sociais do Nordeste no VII Encontro Nacional de Assistentes Sociais do Ministério Público (ENSSMP), não se concretizou, pois os(as) 33 Assistentes Sociais da região Nordeste, que participaram do referido Encontro, no período de 07 a 09 de novembro de 2018, na Cidade de São Paulo-SP, não atuavam com a demanda em foco.

Tal fato impossibilitou a realização da entrevista e provocou uma mudança na proposta metodológica. Optou-se, então, por enviar o questionário, através do Whatsapp, para os assistentes sociais que atuam nos Ministérios Públicos do

Brasil4, com vistas a construir um perfil dos assistentes sociais brasileiros que trabalham no MP, particularmente compreender as principais demandas com as quais esses profissionais lidam diariamente. Nesse sentido, tratou-se de um levantamento exploratório que permitiu perceber como a infância e adolescência se configurava como demanda em nível de Brasil. Ao todo recebemos 77 respostas de um total de 183 enviados, alcançando representatividade de todas as regiões do País. Além disso, decidimos realizar entrevistas com assistentes sociais que atuam com casos de violência contra crianças e adolescentes no Ministério Público do Rio Grande do Norte, tendo em vista não ser possível contemplar o nordeste, devido aos custos e o tempo para realizar tal empreitada.

Cabe o registro de que existem no MPRN sete assistentes sociais atuando com a infância e adolescência, sendo três no Município de Mossoró e quatro no Município de Natal, e as entrevistas foram realizadas com cinco profissionais, que se propuseram a participar da pesquisa, excetuando-se a própria pesquisadora que também faz parte do quadro do MP.

Nesse sentido, o primeiro capítulo dessa dissertação apresenta o Serviço Social como profissão voltada a defesa de direitos, problematizando sua atuação no

4 Enfatiza-se que tal questionário foi enviado para os profissionais que compõem o grupo de whatsapp que reúne os Assistentes Social dos Ministérios Públicos do Brasil, o que não necessariamente representa a totalidade de profissionais.

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campo dos direitos fundamentais. Além de discorrer sobre a materialização do Projeto Ético-Político da profissão sobretudo no campo sociojurídico, elucidando sua recente inserção e atuação nesse campo. O capítulo identifica e problematiza as particularidades de atuação no Ministério Público. Investigando como se deu sua inserção, mas principalmente como tem se dado a atuação desse profissional, nesse espaço sócio ocupacional, mais especificamente nas demandas relacionadas à infância e adolescência, tomando como referência o Projeto Ético Político da profissão.

O segundo capítulo aborda, inicialmente, o novo perfil atribuído ao Ministério Público Brasileiro, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, discutindo quais princípios, funções e atribuições são postas a instituição, visando esclarecer a relevância das novas funções delegadas ao órgão após a constituinte, sobretudo como tem se dado sua atuação na defesa dos direitos dos cidadãos, o papel da proteção social destinado à infância e adolescência desde então e as atribuições e demandas requisitadas ao assistente social, inserido no Ministério Público.

O último capítulo, aborda as particularidades da atuação do assistente social inserido no Ministério Público do Rio Grande do Norte nas demandas relacionadas à Infância e Adolescência, sua forma de atuação, os instrumentos utilizados, bem como as condições de trabalho nas quais se insere. O tópico seguinte versa sobre as diretrizes de atuação, objetivos profissionais e demandas, referentes à infância e adolescência, requeridas aos profissionais de Serviço Social inseridos nos Ministérios Públicos do Nordeste. Para tanto tomou por base os questionários aplicados com os assistentes sociais do Brasil e as entrevistas realizadas com as assistentes sociais que trabalham no MPRN, nos municípios de Natal e Mossoró, sendo ouvidas duas que trabalham em Mossoró e três que lotadas no Município de Natal, de modo a se perceber as particularidades ou aspectos em comum em relação aos dados nacionais, atentando para as competências exigidas do profissional de Serviço Social, bem como os limites e possibilidades de sua atuação.

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2 SERVIÇO SOCIAL E SOCIOJURÍDICO: REFLEXÕES INICIAIS

2.1 SERVIÇO SOCIAL: PROFISSÃO VOLTADA À DEFESA DOS DIREITOS DA POPULAÇÃO

Pensar o Serviço Social, implica refletir que, enquanto profissão inscrita na divisão social do trabalho, sua gênese está associada à conjuntura das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século XX, uma vez que a discussão acerca da “questão social5”, que permeava a sociedade nessa fase,

exigia um posicionamento do Estado, dos segmentos dominantes e da Igreja. De acordo com Iamamoto (2013, p. 18):

Como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social surge como parte de um movimento social mais amplo, de bases confessionais, articulado à necessidade de formação doutrinária e social do laicato, para uma presença mais ativa da Igreja Católica no ‘mundo temporal’, nos inícios da década de 30. Na tentativa de recuperar áreas de influências e privilégios perdidos, em face da crescente secularização da sociedade e das tensões presentes nas relações entre Igreja e Estado, a Igreja procura superar a postura contemplativa.

Sobre isso Iamamoto (1997) defende que refletir o fazer profissional do Serviço Social inserido em um processo de trabalho, requer compreender primeiramente, o que seria esse processo, analisando o que se entende por trabalho6. Refletir o Serviço Social na atualidade exige um esforço em apreender o

5 Para Iamamoto (1997), a Questão Social se define como [...] um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho se torna mais amplamente social, enquanto a apropriação de seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (p. 27). A autora, define o objeto do Serviço Social, ainda em 1997, nos seguintes termos: “Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. (IAMAMOTO, 1997. p. 14).

6 Segundo Marx (2013) “o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. [...] Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as

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significado social desta profissão na sociedade capitalista, como elemento participante do processo de reprodução das relações sociais, produto histórico que se insere no centro das desigualdades sociais produzidas pelas contradições das classes burguesa e trabalhadora, no ato de produzir e reproduzir socialmente os meios de vida e de trabalho. A esse respeito Guerra afirma:

Nesse âmbito entende-se que o Serviço Social gesta-se e desenvolve-se num quadro sócio histórico mediado por processos político-econômicos e ideoculturais, como expressão das necessidades da ordem burguesa no período dos monopólios. Daí por que há uma auto implicação entre Serviço Social e as relações sociais do mundo capitalista. Dito de outro modo, o Serviço Social é constituído, constituinte e constitutivo das relações sociais capitalistas, que são relações portadoras de interesses antagônicos, incompatíveis e inconciliáveis. Isso atribui um determinado perfil à profissão. [...] E mais ainda, cria as estruturas, instituições, políticas e práticas capazes de dar-lhe sustentação nos planos da sua produção e reprodução. (GUERRA, 2000. p. 17).

Sendo assim, as condições que compreendem o trabalho do assistente social revelam a dinâmica das relações sociais vigentes em nossa sociedade e tem nas múltiplas expressões da questão social, o seu objeto de trabalho.

Analisando a atuação dos profissionais de Serviço Social, Iamamoto (2014) afirma que esta se dá no âmbito das relações entre as classes e destas com o Estado no enfrentamento das múltiplas expressões da questão social, oriunda das relações subordinação/exploração estabelecidas pelos diversos sujeitos sociais, sendo a consolidação de direitos, pela implementação de políticas sociais uma mediação essencial do exercício profissional.

Cabe o registro que, a trajetória histórica do Serviço Social foi marcada por períodos conservadores, de práticas conservadoras, voltadas para a manutenção do

potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. Não se trata aqui das formas instintivas, animais, de trabalho. Quando o trabalhador chega ao mercado para vender sua força de trabalho, é imensa a distância histórica que medeia entre sua condição e a do homem primitivo com sua forma ainda instintiva de trabalho. Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador.” (p. 211-212).

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status quo, acríticas, que acabavam culpabilizando os sujeitos, sem considerar os

contextos nos quais estes se inseriam, o que suscitou, posteriormente mudanças nesse posicionamento conservador, levando a profissão a assumir posturas mais críticas, em condições de incorporar uma discussão capaz de perceber a sociedade em sua totalidade, que trouxe uma aproximação com referenciais que lhe davam a possibilidade de pensar para além do indivíduo e do seu grupo ou mesmo de sua função nesse grupo.

Essa mudança só foi possível devido ao Movimento de Reconceituação do Serviço Social, iniciado na década de 1960, e que sinalizou o surgimento da consciência crítica e política dos assistentes sociais da América Latina. Entretanto, no Brasil, devido as condições políticas da época, ocasionaram elementos distintos dos esboçados em outros países. As limitações da Ditadura Militar, acarretaram elementos relevantes nas direções tomadas pelo Serviço Social em seu processo de renovação. Após o reconhecimento das contradições inerentes ao exercício profissional, os(as) assistentes sociais, indagavam sua função na sociedade, na tentativa de romper com a alienação ideológica a que se sujeitara, na busca da identidade profissional do Serviço Social e sua legitimação no mundo capitalista.

De acordo com Piana (2009), a profissão adota então uma nova perspectiva de análise da sociedade, nesse momento, o materialismo Histórico Dialético, passou a fundamentar o referencial teórico-metodológico do Serviço Social, propondo uma prática transformadora e não mais assistencialista, assumindo um compromisso perante as classes populares e apropriando-se da tradição marxista.

Esse percurso trilhado pela profissão conferiu-lhe uma imagem ligada ao posicionamento a favor dos direitos humanos, da cidadania, da democracia, da justiça, da gratuidade e universalidade de acesso a programas e políticas sociais, e da defesa dos direitos sociais, políticos e civis.

Essa imagem ligada ao profissional de Serviço Social foi incorporada ao seu projeto profissional. Ao tratar do projeto do Serviço Social no Brasil, Iamamoto (2013) afirma:

Foi no contexto de ascensão dos movimentos das classes sociais, das lutas em torno da elaboração e aprovação da Carta Constitucional de 1988 e pela defesa do Estado de Direito, que a categoria dos assistentes sociais foi sendo socialmente questionada

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pela prática política de diferentes segmentos da sociedade civil e não ficou a reboque desses acontecimentos. É no quadro dessas profundas modificações por que passou a sociedade brasileira, que se explica o florescimento de um processo de luas democráticas, cuja visibilidade no cenário político só se dá no último quartel da década de 70. Tal processo condiciona, fundamentalmente, o horizonte de preocupações emergentes no âmbito do Serviço Social brasileiro, exigindo novas respostas profissionais. (p. 223).

Sobre isso, percebe-se que o Projeto Ético-Político do Serviço Social gesta-se no momento em que a profissão expressa a crítica, o questionamento e a recusa do conservadorismo, período denominado por Netto (2005) como “intenção de ruptura”, mais especificamente no início da década de 1980, após o contato com a teoria marxista que possibilitou à profissão estabelecer uma leitura crítica da sociedade.

Contudo, o debate em torno do projeto ético-político tornou-se mais significativo no meio profissional na década de 1990 com a materialização de documentos que serviram como base para sua estruturação, sendo eles: 1) A Lei de Regulamentação da profissão (Lei 8662/93); 2) O Código de Ética do Assistente Social, de 1993; 3) A proposta de diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social da Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social (ABESS)7 de 1996.

A partir deste momento, com a derrocada da ditadura militar e a gradual retomada dos direitos civis e dos processos democráticos na sociedade, que culminaram na Assembleia Nacional Constituinte e na Constituição, de 1998, o Serviço Social assume uma nova perspectiva de atuação, voltada ao enfrentamento das diversas expressões da questão social e à garantia dos direitos da classe trabalhadora.

Ao instituir políticas públicas, como estratégia de consolidação dos direitos dos cidadãos, a Constituição Federal de 1988, ampliou sobremaneira os campos de atuação do Assistente Social. Com isso, o Serviço Social passou a enxergar o campo das políticas sociais, como forma de acesso aos direitos sociais e à defesa da democracia. Para Piana (2009),

7 Até a segunda metade década de 1990, a entidade denominava-se Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS), mas a partir de 1996 passou a atual denominação Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).

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Não se trata apenas de operacionalizar as políticas sociais, embora importante, mas faz-se necessário conhecer as contradições da sociedade capitalista, da questão social e suas expressões que desafiam cotidianamente os assistentes sociais, pensar as políticas sociais como respostas a situações indignas de vida da população pobre e com isso compreender a mediação que as políticas sociais representam no processo de trabalho do profissional, ao deparar-se com as demandas da população. (p. 86).

As transformações ocorridas no interior da profissão foram baseadas na necessidade de acompanhar as transformações econômicas, políticas e sociais do mundo contemporâneo e da própria situação conjuntural do Estado e da realidade brasileira. Para Borges (2006), a promulgação do Código de ética do Assistente Social, da Constituição Federal de 1988 e a aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742, de dezembro de 1993) foram instrumentos relevantes sobre os quais deve se basear à ação dos Assistentes Sociais na materialização dos direitos da população e na busca da construção de uma outra sociabilidade.

Embora tenha razão em afirmar a importância dessas legislações para o Serviço Social, é relevante refletir que o trabalho do assistente social não pode se basear apenas em leis. Esse é sem dúvida um aspecto importante, mas não o único a se considerar na atuação profissional, pois o profissional precisa ter como horizonte a emancipação humana (a justiça social) dentre outros aspectos fundamentais na compreensão do projeto ético-político profissional, que ultrapassam o direito formal.

A esse respeito, Guerra (2007, p.37) afirma:

A década de 1990 confere maturidade teórica ao Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social brasileiro que, no legado marxiano e na tradição marxista, apresenta sua referência teórica hegemônica. Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentações que dão sustentabilidade institucional, legal, ao projeto de profissão nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo: a) o Novo Código de Ética Profissional de 1993; b) a nova Lei de Regulamentação da Profissão em 1993; c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviço Social em 1996; d) as legislações sociais que referenciam o exercício profissional e vinculam-se à garantia de direitos como: o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA de 1990, a Lei Orgânica da Assistência Social – Loas de 1993, a Lei Orgânica da Saúde em 1990.

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Importa pontuar que concomitantemente as legislações sociais aprovadas à época, têm-se que considerar os princípios fundamentais preconizados pelo Código de Ética que devem passar a ser adotados pelo Assistente Social, na busca pela efetivação dos direitos sociais conquistados a saber:

 Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;

 Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo;

 Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;

 Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida;

 Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

 Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças;

 Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual;

 Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero;

 Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;

 Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

 Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física. (CFESS, 1993).

Os princípios expressos no Código Ética direcionam o fazer profissional do assistente social, pautando sua atuação a partir de uma análise crítica da sociedade e apontando o horizonte ético-político a ser adotado junto à população usuária dos serviços, no cotidiano profissional, na busca por uma nova sociabilidade. Sobretudo,

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no trabalho desenvolvido no Ministério Público, particularmente na demanda relacionada à infância e adolescência.

Sabemos que o(a) profissional de Serviço Social atua em instituições públicas e privadas e nas mais diferentes áreas e questões, como: movimentos sociais, proteção social, meio ambiente, educação, saúde, habitação, assessoria e consultoria, assistência social, gestão de pessoas, justiça e direitos humanos, direitos sociais, segurança pública, entre outras, que diferem conforme o espaço sócio ocupacional no qual está inserido. Para tanto, o profissional precisa articular as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa do Serviço Social.

Quanto a isso, Iamamoto (1997, p. 113) afirma que um dos maiores desafios que se apresenta ao assistente social é o de “desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano”.

Para a autora, historicamente, o profissional de Serviço Social atua na implementação de políticas sociais e na relação com o usuário dessas políticas. Contudo, atualmente, para além da execução de políticas, exige-se um profissional que atue na elaboração e gestão, com o perfil propositivo e capaz de auxiliar na elucidação das possibilidades de acesso aos direitos sociais.

Desta forma, o profissional de Serviço Social executa ações de natureza socioeducativa na prestação de serviços sociais, promovendo o acesso aos direitos e as formas de acessá-los e exercê-los, colaborando para que os interesses dos usuários obtenham visibilidade e passem a ser reconhecidos. As ações do assistente social devem então, afirmar o compromisso com os interesses e os direitos dos usuários, visando sempre a qualidade dos serviços sociais prestados. (IAMAMOTO, 2009).

2.2 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SOCIOJURÍDICO:

PARTICULARIDADES NO ÂMBITO DOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS

A expressão - “sociojurídico” - é relativamente nova na história do Serviço Social brasileiro e, de acordo com Borgianni (2012), refere-se aos espaços de

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intervenção dos assistentes sociais com relação direta com o universo “jurídico, dos direitos, dos direitos humanos, direitos reclamáveis, acesso a direitos via Judiciário e Penitenciário”.

Contudo, importa esclarecer que a inserção profissional no Judiciário e no sistema penitenciário no Brasil, data da origem da profissão. Segundo Iamamoto e Carvalho (2006), o Juizado de Menores do Rio de Janeiro foi um dos primeiros campos de trabalho de assistentes sociais.

A inclusão de profissionais de Serviço Social nessa instituição aparece como uma das estratégias do Estado para tentar manter o controle frente ao agravamento dos problemas relacionados à infância “delinquente, abandonada e pobre” que se intensificava no espaço urbano da época.

A elaboração do Código de Menores, em 1979, e do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, provocaram uma expansão nos campos de atuação dos Assistentes Sociais, fazendo com que a profissão passasse a estabelecer relação e ocupar espaço nas instituições que se relacionam diretamente com o universo do “jurídico”. (FÁVERO, 2003). Ao longo do tempo, o Serviço Social firmou-se e expandiu sua atuação por meio da inserção profissional nos tribunais, nas instituições de acolhimento institucional, e de cumprimento de medidas socioeducativas, entre outras.

Mais recentemente, a partir da promulgação da Constituição Federal, de 1988, principalmente após os anos 2000, evidenciaram-se outros espaços de atuação para o Serviço Social no sociojurídico. Esses profissionais são chamados a atuar em instituições que, após a Carta Magna, assumem novas funções na defesa de direitos difusos8 e coletivos9 e/ou individuais10, como o Ministério Público e a Defensoria Pública.

8 De acordo com Mazzilli (2009. p. 53) os direitos difusos “são interesses ou direitos transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. Os interesses difusos compreendem grupos menos determinados de pessoas (melhor do que pessoas indetermináveis), entre as quais inexiste vínculo jurídico [...] São como um feixe ou conjunto de direitos individuais, de objeto indivisível, compartilhados por pessoas indeterminadas, que se encontram unidas por circunstâncias de fato conexas”. Como, por exemplo, o direito a um meio ambiente sadio e equilibrado.

9 Mazzilli (2009. p. 55) diz que em sentido mais abrangente, “refere-se a interesses transindividuais, de grupos, classes ou categoria de pessoas [...] determinadas ou determináveis, ligadas pela mesma relação jurídica básica”. Por exemplo: Os direitos de determinadas categorias sindicais.

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De acordo com Borgianni (2012), a expressão sociojurídico indica o lugar que o Serviço Social brasileiro desempenha neste espaço sócio ocupacional, propenso a analisar a realidade social em uma perspectiva de totalidade e em meio a contradições sociais profundas. Assim, de acordo com a autora, é essencial situar qual o significado sócio histórico e político do aspecto ‘jurídico’ para a sociedade, e ainda, entender que o “social” ou esse termo “sócio” configura-se como uma expressão condensada da questão social, ensejando a intervenção de juristas, agentes políticos e especialistas do Direito.

Nesse sentido, conforme exposto pelo CFESS (2014, p. 15) há de se considerar que,

Se o direito que encorpa o ‘jurídico’ se constitui pelos “operadores do direito [que] concorrem pelo monopólio do direito de dizer o direito” (BOURDIEU apud SHIRAISHI, 2008, p. 83), para os/as assistentes sociais, outra dimensão é necessária: a de contribuir para trazer, para a esfera do império das leis, a historicidade ontológica do ser social, pela via das diversas possibilidades de intervenção profissional, balizadas pelo projeto ético-político profissional.

Fazer essa mediação é essencial, para perceber que direito e “jurídico” não são sinônimos. O direito, quando transformado em lei é o direito positivado, porém, é mais amplo do que as leis, é produto das necessidades humanas, que se estabelecem nas relações sociais contraditórias e dialéticas. Logo, entendemos que a positivação do direito em forma de lei depende dos interesses que se encontram em disputa, das correlações de forças entre as classes sociais.

O direito, ao ser positivado em forma de lei, ganha status de norma a ser seguida pelos cidadãos e protegida pelo Estado. Portanto, de acordo com Borgianni (2012, p. 14), o “jurídico é antes de tudo, o lócus de resolução dos conflitos pela impositividade do Estado”.

Ao analisar as demandas postas ao Serviço Social, Fávero (1999), defende que embora apareçam como “jurídicas”, elas, na verdade, são essencialmente

10 Os direitos individuais são aqueles inerentes a cada cidadão brasileiro e estão diretamente relacionados com os direitos fundamentais, estabelecidos e assegurados no Art 5ª da Constituição Federal de 1988, qual seja: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

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sociais. A autora afirma que essas demandas se transformam em “jurídicas” pelo desejo de controle, visando a manutenção da “ordem social”, de disciplinamento de condutas sociais consideradas impróprias, segundo os interesses dominantes do período histórico específico.

Para exercer o controle das práticas sociais consideradas ‘impróprias’ para a ordem social vigente, aciona-se os mecanismos coercitivos do Estado, com o intuito de restringir os direitos de determinadas classes e segmentos populacionais.

A criminalização dos pobres se torna uma das principais formas de controle da ‘questão social’ na contemporaneidade. Intensificar e criminalizar as práticas consideradas punitivas, como por exemplo, as verificações, inquéritos, entre outros, pressupõe acionar as instituições que compõem o campo sociojurídico, que são o modelo do máximo poder impositivo estatal.

De acordo com o CFESS (2014),

A dimensão coercitiva do Estado, marca dessas instituições, constrói estruturas e culturas organizacionais fortemente hierarquizadas, e que encerram práticas com significativo cunho autoritário. ‘Arbitrariedades’ fazem parte da dimensão do ‘árbitro’, de quem dispõe de poder legitimado para exercê-lo ‘em nome de ‘bens maiores’: a ordem e a justiça. O poder de interferir e decidir sobre a vida das pessoas, de outras instituições, de populações ou até mesmo de países, a partir do uso da força física ou da lei, confere a tais instituições características extremamente violadoras de direitos – mesmo quando o discurso que as legitima é o da garantia dos direitos. (p. 16).

Para tanto, os(as) profissionais de Serviço Social precisam ter clareza que o Direito positivado em forma de lei, por ter um caráter de classe, expressa a lógica da defesa da classe dominante. Além disso, devemos compreender que atribuir ao direito uma universalidade, ignora a desigualdade e as contradições da realidade concreta, estabelecidas pelas lutas de classe e pelas várias formas de exploração, opressão, dominação e discriminação.

Dito isso, percebemos que o direito é um espaço de disputas contínuas – seja visando a sua positivação em forma de lei, seja pela sua concretização na vida social. Por este motivo, as instituições sociojurídicas são permeadas por mediações contraditórias.

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Essas mediações trazem, para o(a) assistente social, uma contradição essencial para pensar o exercício profissional nas instituições que compõem o sociojurídico, que atuam constantemente tensionados por duas principais requisições, quais sejam: manter a ordem social11 (por meio das funções que essas instituições possuem) e garantir direitos.

Sobre isso, Fávero (2018, p. 67) convida a reflexão:

A direção social que o assistente social imprime ao seu trabalho [...] alinha-se a um projeto profissional conectado com a ética, a democracia, a justiça social? Ou aos interesses dessa instituição estatal, que detém o poder de decisão e de garantia de direitos — e pode ser acionada pela população trabalhadora para acessá-los —, mas, e sobretudo, detém o poder de coerção, de julgamento, de responsabilização penal? Ele tem clareza — nos atendimentos e avaliações que realiza, na opinião profissional que emite verbalmente ou em relatórios, laudos, pareceres — dos processos ideológicos e culturais que formam e conformam a postura profissional, bem como das relações de forças e de saber/poder que permeiam o cotidiano de trabalho nesse espaço sócio ocupacional?

A criminalização dos pobres, citada anteriormente, motivada pelo capitalismo e sua necessária desigualdade estrutural, aponta para os/as assistentes sociais um forte paradoxo: para garantir os direitos de alguns, é preciso violar os direitos de outros. Essa contradição fere diretamente os princípios éticos-políticos do Serviço Social que defende a universalidade dos direitos humanos.

Logo, percebemos que a ideia da universalidade dos direitos é, “incompatível com a busca de culpados/as, de criminosos/as, de indivíduos com condutas moralmente reprováveis, e que, por isso, são menos credores de direitos; ou pior, objeto de violações de seus direitos”. (CFESS, 2014. p. 22 e 23).

As condutas punitivas, com perspectiva disciplinadora e moralizante, fazem parte da trajetória histórica do Serviço Social. E, muitas vezes, das demandas postas pelas instituições sociojurídicas aos assistentes sociais.

Contudo, assim como em qualquer outro espaço sócio ocupacional, os profissionais de Serviço Social inseridos nas instituições que integram o campo

11 Cabe o registro de que essas funções que, muitas vezes, envolvem a manutenção da ordem social, por vezes se apresentam através de requisições conservadoras que já foram superadas no âmbito profissional e comumente demonstram as contradições com as quais o(a) assistente social deve lidar, vez que requisita-se também a garantia dos direitos.

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sociojurídico, possuem uma autonomia relativa12, pautada nos compromissos assumidos no projeto ético político profissional, no saber teórico-metodológico, nas escolhas ético-políticas e nas habilidades técnico-operativas desenvolvidas.

Ao desenvolver o saber teórico-metodológico, o profissional deve ter domínio da teoria crítica, possibilitando uma aproximação consciente da realidade. Sobre a dimensão ético-política, o assistente social precisa ter conhecimento político, pois lida diariamente com relações de poder e com forças sociais antagônicas presentes na sociedade. Já as habilidades técnico-operativas, desenvolvidas durante o processo de formação deve proporcionar uma série de conhecimentos e competências com o objetivo de efetivar a ação. Além disso, é preciso desenvolver habilidades (técnico-operativas) capazes de assegurar uma atuação crítica e eficiente na intervenção profissional junto à população usuária e as instituições contratantes.

Dito isto, compete ao profissional de Serviço Social entender as relações estabelecidas entre os(as) usuários(as) e as leis, evitando cair nas armadilhas moralizantes, que geralmente criminalizam os pobres. Nesse caso, segundo Borgianni (2012), o dever do assistente social “não é o de ‘decidir’, mas o de criar conhecimentos desalienantes sobre a realidade, a ser analisada para se deliberar sobre a vida das pessoas”. (p. 64).

Normalmente, para realizar qualquer tipo de intervenção, faz-se necessário que o profissional de Serviço Social utilize instrumentos distintos para exercer sua ação - pois cada demanda posta apresenta uma especificidade e cabe ao assistente social escolher qual ou quais técnicas utilizará, visando responder as necessidades dos usuários.

Para materializar as ações, o profissional de Serviço Social faz uso de habilidades, conhecimentos, informações, e instrumentais técnicos, que se

12 Assim como Iamamoto (2007), Raichelis (2011), salienta que a condição de trabalhador assalariado do Assistente social, em instituições públicas ou privadas, e em qualquer um dos espaços ocupacionais, faz com que ele não tenha controle sobre todas as suas condições e meios de trabalho, sendo que as instituições empregadoras definem até mesmo o objeto de intervenção do Assistente social, isto é, os recortes da questão social em que o profissional irá atuar. No entanto, os demais meios de trabalho, que são o conhecimento e habilidades profissionais, pertencem ao Assistente social, mas existe um conjunto de determinações que condicionam as possibilidades de desenvolvimento pleno deste saber especializado do profissional. Tais determinações se referem ao recorte de classe, gênero, raça, etnia que se aliam aos traços de subalternidade da profissão e a herança cultural católica, entre outros. (SIMÕES, 2012, p. 109-111)

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caracterizam como fundamentais para efetivação da sua intervenção. Contudo, são várias as discussões relativas ao “como fazer” do Serviço Social. De acordo com Guerra (2007, p. 02),

A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano.

Sabemos, que a instrumentalidade contempla as habilidades e competências que o profissional adquire durante o processo de formação e na prática cotidiana. Portanto, ela abrange os conhecimentos conquistados no exercício da profissão, competências estas capazes de transformar a realidade social dos indivíduos. Como visto anteriormente, dentre estas competências se tem a técnico operativa, que se caracteriza pela utilização de instrumentos necessários para a ação profissional.

Dentre estes, comumente o assistente social que atua no sociojurídico tem como maior demanda, o estudo social. Concebido por Mioto (2001), como o

[...] instrumento utilizado para conhecer e analisar a situação, vivida por determinados sujeitos ou grupo de sujeitos sociais, sobre a qual fomos chamados a opinar. Na verdade, ele consiste numa utilização articulada de vários outros instrumentos que nos permitem a abordagem dos sujeitos envolvidos na situação. (MIOTO, 2001, p. 153)

É fundamental constar no documento o parecer profissional do assistente social, entendendo que o documento não deve se limitar a compreender e analisar a realidade, mas ponderar sobre ela naquilo que compete ao profissional, considerando suas habilidades, competências, autonomia técnica e ética profissional. Dito isto, percebemos que o parecer emitido pelo profissional de Serviço Social apresenta sua opinião técnica balizada pelas competências e habilidades adquiridas no percurso da formação profissional.

De acordo com a Resolução CFESS nº 557/2009, o parecer social configura-se como ação privativa do assistente social e, portanto, “deve destacar a sua área

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de conhecimento separadamente, delimitar o âmbito de sua atuação, seu objeto, instrumentos utilizados, análise social e outros componentes que devem estar contemplados na opinião técnica”. (CFESS, 2009).

Para Mioto (2009), o Estudo Social deve ser pensado a partir da compreensão das requisições feitas aos assistentes sociais pelos indivíduos alvo de sua atuação. Mais que isso, precisa considerar o saber técnico, mas especialmente os elementos teórico-metodológicos da profissão, para que o profissional não exerça o papel de mero descritor da realidade ou venha a culpabilizar sujeitos individuais e/ou coletivos sem considerar os contextos nos quais esses mesmos sujeitos se inserem. De acordo com a autora,

Aquelas necessidades trazidas por sujeitos singulares não são mais compreendidas como problemas individuais. Ao contrário, tais demandas são interpretadas como expressões de necessidades humanas básicas não satisfeitas, decorrentes da desigualdade social própria da organização capitalista. Assim, o assistente social tem como objeto de sua ação as expressões da questão social, e essa premissa não admite que se vincule a satisfação das necessidades sociais à competência ou incompetência individual dos sujeitos. (MIOTO, 2009, p. 484).

A judicialização da questão social e a tendência à criminalização dos pobres, se traduzem, muitas vezes, nas requisições postas aos assistentes sociais que, eventualmente são demandados a elaborar estudos sociais segundo os objetivos das instituições empregadoras, que tendem a gerar novas violações de direitos. Segundo o CFESS (2014), essas solicitações se apresentam de várias formas13:

• Estudo social que se restringe a atestar a ‘veracidade dos fatos narrados’, em situações, por exemplo, de denúncias de maus-tratos [...].

• Apontar, em situações de violência sexual contra crianças e adolescentes, quem e como a violência sexual ocorreu, com o máximo de detalhes possíveis, responsabilizando a fala da vítima pela produção da prova necessária à culpabilização do agressor [...]. • Descobrir autores/as de violência (contra crianças, adolescentes, idosos/as, mulheres, pessoas com deficiência), na perspectiva de punir o(s) suposto(s) autor(es) da violência, reforçando a visão de

13 Destacamos que, daquelas solicitações apresentadas pelo documento elaborado pelo CFESS (2014), foram elencadas apenas aquelas que se relacionam com os objetivos institucionais do Ministério Público, instituição objeto da pesquisa.

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