• Nenhum resultado encontrado

Sumário. 1. História dos Surdos Até à Idade Média Até à Idade Moderna...6

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Sumário. 1. História dos Surdos Até à Idade Média Até à Idade Moderna...6"

Copied!
21
0
0

Texto

(1)
(2)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

2

Sumário

Introdução

1. História dos Surdos ...5

2. Até à Idade Média ...5

3. Até à Idade Moderna ...6

4. Até à Idade Contemporânea ...9

4.1 História da Educação dos Surdos nos Estados Unidos ...11

4.2 Congresso de Milão ...14

4.3 História da Educação dos Surdos no Brasil ...15

5 Durante o século XX ...16

5.1 Comunicação Total ...16

5.2 Bilinguismo...18

Conclusão ...20

(3)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

3

INTRODUÇÃO

Viajaremos um pouco na História dos Surdos, conheceremos e ainda veremos a situação dos surdos em outros países.

Analisaremos principalmente o fracasso escolar dos surdos, que não é um problema encontrado somente no Brasil, mas é um problema mundial, e faremos com isso uma análise sobre suas causas e conseqüências.

O que observamos na atualidade continuam sendo esporádicos exemplos de sucesso educacional e um enorme contingente de surdos sem acesso à leitura, à escrita, a oralização, e, não raro, até mesmo a Língua de Sinais Brasileira. Este fato ocasiona grandes barreiras que dificultam sua inserção na dimensão do trabalho, a concretização de sua cidadania, o desenvolvimento de suas potencialidades e sua efetiva realização como indivíduo. (SÁ, 1999, p.25).

Segundo Skliar (1999), não podemos continuar dizendo que os surdos são responsáveis por esse fracasso, mas que existem razões suficientes para indicar e denunciar a responsabilidade que cabe as instituições educativas, as políticas educacionais e a falta de um consenso acerca das potencialidades lingüísticas, cognitivas, comunitárias e culturais dos surdos.

Em relação a surdez não veremos a parte clínica-terapêutica, não veremos o surdo simplesmente como uma pessoas que tem uma orelha que não funciona, mas o foco principal deste trabalho será o pedagógico, veremos o surdo como parte de um povo com uma língua distinta, com sensibilidade e cultura própria.

Sacks (1998) destaca que algumas pessoas indicam essa diferença, do surdo como deficiente auditivo e do surdo como ser pleno com características próprias, através da escrita, na qual a surdez auditiva é escrita com s minúsculo, diferenciando da Surdez com s maiúsculo, uma entidade lingüística.

Há séculos opiniões sobre esse assunto vem-se combatendo. De um lado temos o Oralismo, que diz que o surdo precisa aprender a falar como os ouvintes, e que esta deve ser sua única forma de comunicação e meio para o desenvolvimento de sua linguagem, interação e aceitação dentro da comunidade majoritária (de ouvintes). E também totalmente contra a Língua de Sinais, chegando a dizer que esta atrapalha o surdo no aprendizado da língua oral.

As crianças surdas precisam ser postas em contato primeiro com pessoas fluentes em língua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros. Assim que a comunicação por sinais for aprendida - e ela pode ser fluente aos três anos de idade - tudo então pode decorrer: livre intercurso de pensamento, livre fluxo de informações, aprendizado da leitura e escrita e, talvez, da fala, não há indícios de que o uso de uma língua de sinais iniba a aquisição da fala. De fato, provavelmente ocorre o inverso.

(SACKS, 1998, p.44)

E do outro lado temos o Gestualismo - que defende a Língua de Sinais e a considera como língua natural dos surdos, ou seja, sua primeira língua. Diz que o surdo deve ter acesso a ela o mais cedo possível, através da qual se desenvolverá naturalmente como o ouvinte.

(4)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

4

Este trabalho não pretende esgotar o assunto abordado, mas sim apresentar de forma sintética e objetiva a atual situação dos surdos, tendo como principal objetivo servir de instrumento para reflexões e também fazer com que nos sensibilizemos e percebamos de que algo precisa ser feito em prol a essa minoria que tanto já sofreu ao longo da história e perguntamos até quando isto perdurará?

SACKS disse (1989, p.10 apud QUADROS, 1997, p.18) “senti-me consternado ao descobrir quantos surdos nunca adquirem as faculdades da linguagem – ou pensamento – e como uma vida medíocre pode lhes estar reservada”.

(5)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

5

1. História dos Surdos

A história dos Surdos regista os acontecimentos históricos dos surdos, como grupo que possui uma língua, uma identidade e uma cultura.

Ao longo das eras, os Surdos travaram grandes batalhas pela afirmação da sua identidade, da comunidade surda, da sua língua e da sua cultura, até alcançarem o reconhecimento que têm hoje, na era moderna.

Desde a antiguidade as pessoas surdas enfrentam descrédito, preconceito, piedade e loucura. Já chegaram a ser considerados doentes mentais. Certa vez Platão e Aristóteles observando um surdo chegaram a seguinte conclusão: “não sabe falar, não sabe ouvir, és louco”. ( PLATÃO E ARISTÓTELES)

Os ouvintes os julgavam incompetentes e incapazes de se desenvolverem enquanto seres humanos. Tais conceitos foram empregados por considerarem que o pensamento não podia se desenvolver sem a linguagem e que esta não se desenvolvia sem a fala, portanto, se a fala não se desenvolve sem a audição, quem não ouvia não falava, não pensava, menos ainda merecia qualquer tipo de ensinamento, mas nem todos os surdos eram classificados dessa forma. Aqueles que perdiam a audição depois de ter aprendido a linguagem faziam parte de uma outra categorização. (FERREIRA, 2003, p.12)

2. Até à Idade Média

No Egito, os Surdos eram adorados, como se fossem deuses, serviam de mediadores entre os deuses e os Faraós, sendo temidos e respeitados pela população.

Na época do povo Hebreu, na Lei Hebraica, aparecem pela primeira vez, referências aos Surdos.

Na Antigüidade os chineses lançavam-nos ao mar, os gauleses sacrificavam-nos aos deuses Teutates, em Esparta eram lançados do alto dos rochedos. Na Grécia, os Surdos eram encarados como seres incompetentes. Aristóteles[3], ensinava que os que nasciam surdos, por não possuírem linguagem, não eram capazes de raciocinar. Essa crença, comum na época, fazia com que, na Grécia, os Surdos não recebessem educação secular, não tivessem direitos, fossem marginalizados (juntamente com os deficientes mentais e os doentes) e que muitas vezes fossem condenados à morte. No entanto, em 360 a.C., Sócrates, declarou que era aceitável que os Surdos comunicassem com as mãos e o corpo. Séneca afirmou:

“Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”.

Os Romanos, influenciados pelo povo grego, tinham ideias semelhantes acerca dos Surdos, vendo-o como ser imperfeito, sem direito a pertencer à sociedade, de acordo com Lucrécio e Plínio. Era comum lançarem as crianças surdas (especialmente as pobres) ao rio Tibre, para serem cuidados pelas Ninfas. O imperador Justiniano, em 529 a.C., criou uma lei que impossibilitava os Surdos de celebrar contratos, elaborar testamentos e até de possuir propriedades ou reclamar heranças (com excepção dos Surdos que falavam).

(6)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

6

Em Constantinopla, as regras para os Surdos eram basicamente as mesmas. No entanto, lá os Surdos realizavam algumas tarefas, tais como o serviço de corte, como pajens das mulheres, ou como bobos, de entretenimento do sultão.

Mais tarde, Santo Agostinho defendia a ideia de que os pais de filhos Surdos estavam a pagar por algum pecado que haviam cometido. Acreditava que os Surdos podiam comunicar por meio de gestos, que, em equivalência à fala, eram aceites quanto à salvação da alma.

A Igreja Católica, até à Idade Média, cria que os Surdos, diferentemente dos ouvintes, não possuíam uma alma imortal, uma vez que eram incapazes de proferir os sacramentos.

John Beverley, em 700 d.C., ensinou um Surdo a falar, pela primeira vez (em que há registo). Por essa razão, ele foi considerado por muitos como o primeiro educador de Surdos.

É só aqui, no fim da Idade Média e inicio do Renascimento, que saímos da perspectiva religiosa para a perspectiva da razão, em que a deficiência passa a ser analisada sob a óptica médica e científica

3. Até à Idade Moderna

A história começa a mudar quando surgem os primeiros educadores interessados na educação dos surdos, os quais admitiam que eles podiam aprender e é justamente a partir daí que encontramos os primeiros trabalhos e metodologias desenvolvidas no início de educação dos surdos.

Pedro Ponce de León inicia, mundialmente, a história dos Surdos, tal como a conhecemos hoje em dia.

a) Quem foi Pedro Ponce de León

O espanhol Pedro Ponce de León (1520 - 1584) foi um monge beneditino que recebeu creditos como o primeiro professor para surdos. Ponce de León estabeleceu uma escola para surdos no Mosteiro de San Salvador em Oña Burgos. Seus escasos alunos eram tudos crianças surdas, filhos de aristocratas ricos que tinham recursos para o confidenciar-lhe estes tutorados.

Seu trabalho com crianças surdas focalizou em ajudá-las aprender como escrebir a língua. Instruiu as crianças na escrita e em gestos simples con um alfabeto bimanual. Ponce de León não se tornou conhecido por desenvolver uma trabalho com língua de sinais. Ponce de León teria desenvolvido um alfabeto manual que permitia ao estudante que aprendesse a soletrar (letra por letra) toda a palavra. Os pesquisadores modernos analisam se este alfabeto foi baseado, integralmente ou em parte, em simples gestos con as duas mãos. O alfabeto unimanual publicado por Juan de Pablo Bonet em 1620, foi distinto do alfabeto bimanual usado por Ponce de León.

O trabalho de Ponce de León com os surdos foi considerado de grande importância por seus contemporâneos. A maioria dos europeus no século XVI, acreditava que o surdos eram incapazes de sererm educados. Muitos acreditavam que o surdos nem mesmo poderiam ser educados como cristãos, deixando-os à margem da sociedade

Para além de fundar uma escola para Surdos, em Madrid, ele dedicou grande parte da sua vida a ensinar os filhos Surdos, de pessoas nobres, nobres esses que de bom grado lhe encarregavam os filhos, para que pudessem ter privilégios perante a lei (assim, a preocupação geral em educar os Surdos, na época, era tão somente económica). León desenvolveu um alfabeto manual, que ajudava os Surdos a soletrar as palavras (há quem defenda a ideia de que esse alfabeto manual foi baseado nos gestos criados por monges, que comunicavam entre si desta maneira pelo facto de terem feito voto de silêncio).

Nesta época era costume que as crianças que recebiam este tipo de educação e tratamento fossem filhas de pessoas que tinham uma situação económica boa. As demais eram colocadas em

(7)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

7

asilos com pessoas das mais diversas origens e problemas, pois não se acreditava que pudessem se desenvolver em função da sua "anormalidade".

Juan Pablo Bonet, aproveitando o trabalho iniciado por León, foi estudioso dos Surdos e seu educador.

b) Quem foi Juan Pablo Bonet

Juan Pablo Bonet foi um padre espanhol, educador e pioneiro na educação de surdos.

Bonet publicou o primeiro livro sobre a educação dos surdos em 1620, em Madrid, com o título

Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os Mudos. Foi educador de Luís Velasco, um surdo,

filho de Juan Fernandez Velasco, Condestável de Castela, para quem Bonet era secretário particular. O seu método, ao ensinar surdos, explicava que seria mais fácil ensinar o surdo a ler, se fosse usado um alfabeto manual (dactilologia). Um desses alfabetos já existia há cerca de 30 anos. No entanto, apesar do uso do alfabeto manual, Bonet proibia o uso da língua gestual (br: língua de sinais).

O Livro de Bonet atraiu as atenções de intelectuais europeus para a causa dos surdos, como por exemplo Jacob Rodrigues Pereira, Amman e Wallis

Escreveu sobre as maneiras de ensinar os Surdos a ler e a falar, por meio do alfabeto manual. Bonet proibia o uso da língua gestual, optando o método oral.

John Bulwer, foi um médico inglês, acreditava que a língua gestual deveria possuir um lugar de

destaque, na educação para os Surdos; foi o primeiro a desenvolver um método para comunicar com os Surdos. Publicou vários livros, que realçam o uso de gestos.

John Wallis (1616-1703), foi um educador de Surdos e estudioso da surdez, depois de tentara

ensinar vários Surdos a falar, desistiu desse método de ensino, dedicando-se mais ao ensino da escrita. Usava gestos, no seu ensino.

George Dalgarno desenvolveu um sistema inovador de dactilologia.

Konrah Amman, defensor da leitura labial, já que considerava que a fala era uma dádiva de Deus

que fazia com que a pessoa fosse humana (não considerava os Surdos que não falavam como humanos). Amman não fazia uso da língua gestual, pois acreditava que os gestos atrofiavam a mente, embora os usasse como método de ensino, para atingir a oralidade.

Como conseqüência do que foi dito no início deste capítulo, de que sem a fala não se desenvolvia o pensamento, a maioria dos educadores que iniciaram a educação com os surdos, tinham como foco principal dos seus trabalhos o ensino da fala – mesmos aqueles que usavam os gestos ou alfabeto manual os usavam como apoio para o ensino da linguagem oral.

Poderíamos citar ainda vários outros nomes de educadores que surgiram nesta época, mas destacaremos um que com certeza foi um dos mais importantes representantes da abordagem gestualista, o qual, através de seu trabalho veio de forma muito significativa e positiva provocar diversas mudanças na educação dos surdos.

Este educador de quem estamos nos referindo é o francês Charles-Michel de L’Epée (1712-1789).

(8)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

8

c) Quem foi Charles Michel de L'Épée

Charles Michel de L'Épée, nascido em 1712, , em Versailles; falecido a 23 de Dezembro de 1789, em Paris) foi um educador filantrópico francês do 18º século, que ficou conhecido como "Pai

dos surdos".

Charles-Michel de l'Épée nasceu numa família abastada, em Versailles, que era na altura o mais poderoso reino da Europa. Estudou para ser padre católico, mas foi-lhe negada a ordenação, em resultado da sua recusa em negar o Jansenismo, um popular movimento de reforma religiosa da época. Então, estudou direito, mas pouco depois foi designado abade.

Épée voltou a sua atenção para obras de caridade para os pobres, e uma altura, numa zona pobre de Paris, teve oportunidade de encontrar duas jovens irmãs, surdas, que se comunicavam através da língua gestual (ou língua de sinais, como é chamada no Brasil). Épée decidiu, então, dedicar-se à salvação dos surdos e, em meados na década de 1750, fundou um abrigo, que ele próprio sustentava a nível particular e privado. Em consequência das teorias filosóficas que emergiam na época, Épée veio a acreditar que os surdos são capazes de possuir linguagem, concluindo assim que eles podem receber os sacramentos e evitar ir para o Inferno. Começou a desenvolver um sistema de instrução da língua francesa e religião. Nos primeiros anos da década de 1760, o seu abrigo tornou-se a primeira escola de surdos, a nível mundial, aberta ao público.

Embora o seu interesse principal fosse a educação religiosa dos surdos, a sua advocacia e o desenvolvimento do francês gestual permitiram aos surdos, pela primeira vez, defender-se em tribunal, legalmente.

O Abade de l'Épée morreu no início da Revolução Francesa (1789) e seu túmulo está na Igreja de Sain Roch, Paris. Dois anos depois da sua morte, a Assembleia Nacional reconheceu-o como "Benfeitor da Humanidade" e foi declarado que os surdos têm direitos, de acordo com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Em 1799, o Instituto Nacional de Surdo-Mudos em Paris, fundado por Épée, começou a ser financiado pelo governo. Mais tarde foi renomeado para Instituto St. Jacques. Os seus métodos de educação espalharam-se pelo mundo e o abade de l'Épée hoje considerado como um dos fundadores da educação para os surdos.

Instrução através de gestos

O seu método de educação centrava-se no uso de gestos (sinais, no Brasil), baseando-se no princípio de que "ao surdo-mudo deve ser ensinado através da visão aquilo que às outras pessoas é ensinado através da audição". Épée reconheceu que já existia uma comunidade surda em Paris, mas via a sua língua (Antiga Língua Gestual Francesa) como primitiva, sem gramática. Embora tenha aconselhado professores (ouvintes) a aprender a língua gestual para o uso na instrução dos estudantes surdos ele próprio não usava a língua gestual nas suas aulas. Ao contrário, ele desenvolveu um método usando algum léxico da língua gestual, combinado com gestos inventados, que representavam as terminações verbais, artigos e verbos auxiliares da língua francesa.

Épée, em menos grau, também usou o oralismo e a leitura labial com os seus alunos.

Legado educacional

O que diferencia l'Épée dos educadores de surdos antes dele, foi ter permitido que os seus métodos e o acesso às suas aulas fossem abertos ao público e a outros educadores. Em resultado desta abertura, tanto quanto ao seu sucesso, os seus métodos influenciaram toda a educação de surdos actual. Épée também estabeleceu programas de ensino/treinamento para estrangeiros que pretendiam levar os métodos de ensino para o seu próprio país, tendo, deste modo, contribuído para a abertura de imensas escolas ao redor do mundo. Laurent Clerc, surdo, aluno na escola de l'Épée, foi co-fundador da primeira escola de surdos da América do Norte, e levou com ele a língua gestual que formou as bases ao aparecimento da ASL e, inclusive, do alfabeto manual da ASL.

Muitos o consideram criador da língua gestual. Embora saibamos que a mesma já existia antes dele, L'Épée reconheceu que essa língua realmente existia e que se desenvolvia (embora a não considerasse uma língua com gramática). Os seus principais contributos foram:

(9)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

9

• criação do Instituto Nacional de Surdos-Mudos, em Paris (primeira escola de Surdos do

mundo);

• reconhecimento do Surdo como ser humano, por reconhecer a sua língua; • adopção do método de educação colectiva;

• reconhecimento de que ensinar o Surdo a falar seria perda de tempo, antes que se devia

ensinar-lhe a língua gestual.

Jacob Rodrigues Pereira, educador de Surdos que usava gestos mas sempre defendeu a

oralização dos Surdos. Nunca publicou nenhum dos seus estudos. Thomas Braidwood, fundou uma escola de Surdos, em Edimburgo (a primeira escola de correcção da fala da Europa). Samuel Heinicke, ensinou vários Surdos a falar, criando e definindo o método hoje conhecido como Oralismo

4. Até à Idade Contemporânea

Após 24 anos da fundação da primeira escola para surdos, encontramos o primeiro livro publicado por um surdo – “Observatios” – de Pierre Desloges em 1779. Fato este marcante, pois há pouco tempo atrás os surdos ainda eram considerados incapazes de serem educados e até desprovido de pensamento.

No início da minha enfermidade, e enquanto vivi separado de outras pessoas surdas [...] não tive conhecimento da língua de sinais. Eu usava apenas sinais esparsos, isolados e não relacionados, desconhecia a arte de combiná-los para formar imagens distintas com as quais podemos representar várias idéias, transmiti-las a nossos iguais e conversar em discurso lógico [...] A língua [de sinais] que usamos entre nós, sendo imagem fiel do objeto expresso, é singularmente apropriada para tornar nossas idéias acuradas e para ampliar nossa compreensão, obrigando-nos a adquirir o hábito da observação e análise constante. Essa língua é vívida; retrata sentimentos e desenvolve a imaginação. Nenhuma outra língua é mais adequada para transmitir emoções fortes e intensas. (DESLOGES,1779 apud SACKS,1998, p. 31 e 33)

a) Quem foi Pierre Desloges

Pierre Desloges mudou-se para Paris ainda jovem, onde se tornou um encadernador e estofador. Ele ficou surdo aos sete anos de idade, devido à varíola, mas só aprendeu a língua gestual aos vinte e sete anos, quando foi ensinado por um surdo italiano.

Em 1779, ele escreveu aquilo que pode ser considerado o primeiro livro publicado por uma pessoa surda, em que ele levantou atenções para o uso da língua gestual na educação dos surdos.

O primeiro endosso filosófico ao método de L’Epée e a língua de sinais veio do filósofo Condillac, que antes de conhecer de perto o trabalho do abade, considerava os surdos incapazes de raciocínio e de qualquer atividade mental, mas converteu-se ao seu método após assistir várias de suas aulas.

Com base na linguagem da ação, L’Epée criou uma arte metódica, simples e fácil com a qual dá a seus pupilos idéias de todo tipo e, ouso dizer, idéias mais precisas do que em geral se adquirem com a ajuda da audição. Quando, na infância, somos reduzidos a julgar o significado das palavras a partir das circunstâncias nas quais as ouvimos, ocorre com freqüência que apreendemos o significado apenas aproximadamente e nos satisfazemos com essa aproximação durante toda nossa vida, diferente no caso dos surdos ensinados por L’Epée. Este só tem um meio de dar a eles idéias

(10)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

10

sensoriais: é analisar e fazer com que o pupilo analise junto. Assim, ele os conduz de idéias sensoriais a idéias abstratas; podemos avaliar o quanto a linguagem de ação de L’Epée é mais vantajosa do que os sons falados por nossas governantas e preceptores. (CONDILLAC apud SACKS, 1998, p. 34).

Mas L’Epée teve opositores ferrenhos, são estes pedagogos oralistas que criticavam seu método, como por exemplo, Pereire de Portugal e principalmente Heiniche da Alemanha que inclusive foi considerado o fundador do oralismo cujo método ficou conhecido como método alemão. Heiniche tinha uma concepção diferente de L´Epée, afirmando ele que o pensamento só poderia ser desenvolvido através da língua oral, entretanto utilizava os sinais e o alfabeto manual na educação dos surdos como um meio para atingir a fala abandonando-os quando não os consideravam mais necessários. Em relação a língua de sinais a Alemanha sempre resistiu o seu uso, pois alegava que o seu uso prejudicaria o avanço dos alunos. E até os dias de hoje encontramos partidários de suas idéias.

Porém, apesar de L´Epée defender a língua de sinais e de reconhecer sua importância, não descartava a possibilidade do surdo desenvolver a comunicação oral e inclusive realizou trabalhos voltados ao desenvolvimento da língua oral com alguns alunos que eram considerados capazes de falar e ler os lábios. (EDUARDO, 2001)

Percebemos então, que na segunda metade do século XVIII a educação dos surdos se dividia entre dois métodos de ensino, de um lado o Gestualismo, conhecido também como Método Francês do abade L’Epée em Paris que difundia o uso e a prática dos Sinais, e do outro lado o Oralismo conhecido também como Método Alemão de Heinicke, da Alemanha, que priorizava o desenvolvimento da oralização.

Mas no ano de 1789 L’Epée morre e o abade Sicard, um brilhante gramático da época, é nomeado o novo diretor do Institution National for Deaf-Mutes de Paris. Sicard publicou dois livros, e num deles relata a história do surdo Jean Massieu, o qual até os quatorze anos de idade não tinha o conhecimento de nenhuma língua e neste mesmo livro Sicard conta com detalhes como educou com êxito este surdo que posteriormente veio a se tornar um famoso professor fluente tanto na língua de sinais como no francês escrito. Massieu escreveu uma auto biografia.

Até os treze anos e nove meses, permaneci em casa sem

receber educação de espécie alguma. Eu era totalmente analfabeto. Expressava minhas idéias com sinais e gestos manuais [...] os sinais que eu usava a fim de expressar minhas idéias para minha família eram muito diferente dos sinais dos surdos-mudos instruídos. As pessoas estranhas não compreendiam quando expressávamos nossas idéias com sinais, mas os vizinhos sim. [...] As crianças de minha idade não queriam brincar comigo, desprezavam-me, eu era como um cão. Passava o tempo sozinho, brincando de pião, com um bastão e uma bola ou andando com pernas de pau [...] Antes de minha educação eu não sabia como contar; meus dedos ensinaram-me. Eu não conhecia os números; contava nos dedos e, quando a contagem ultrapassava dez, fazia marcas num pedaço de pau. (MASSIEU apud SACKS, 1998, p. 57-58).

Após a morte de L´Epée, o quadro da educação dos surdos, que havia sido revolucionado através de suas influências e método com resultados positivos até então, começa a tomar outro rumo, e a onda do oralismo volta com força total.

b) Quem foi Jean Marc Itard

No início do século XIX surge a figura de Jean Marc Itard, médico-cirurgião, primeiro médico a interessar-se pelo estudo da surdez e das deficiências auditivas. Tornou-se residente do Instituto de Paris, e a surdez, que após muita luta começava a ser vista como uma diferença, passa a

(11)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

11

ser reconhecida como uma doença por influências deste médico. Partindo deste ponto de vista sobre a surdez como uma doença, ela torna-se então passível de tratamento para sua diminuição e erradicação. E veremos como conseqüência disto todas as conquistas e espaços conquistados pelos surdos até então começarem a se desmoronar.

Procurando descobrir as causas da surdez Itard:

1. Dissecou cadáveres de surdos

2. Aplicou cargas elétricas nos ouvidos de surdos 3. Usou sanguessugas para provocar sangramentos

4. Furou as membranas timpânicas de alunos (um aluno morreu por este motivo)

5. Fez várias experiências e publicou vários artigos sobre uma técnica especial para colocar cateteres no ouvido de pessoas com problemas auditivos, tornando-se famoso e dando nome à sonda de Itard

6. Fraturou o crânio de alguns alunos

7. infeccionou pontos atrás das orelhas deles. (ARRIENS, 2002, p.05)

Concluindo, o surdo passava a ser visto como um doente e como acabamos de ver acima, tudo era válido para encontrar a causa da surdez e uma possível cura.

Itard realizou diversos trabalhos com alguns alunos surdos, sempre com um único objetivo, o de desenvolver fala. Como resultado de seu trabalho, conseguiu com que alguns alunos falassem, mas percebeu que esta fala não era executada de forma natural e fluente como nos ouvintes, e como sua proposta inicial era a transformação do indivíduo surdo em um ouvinte, não se deu por satisfeito e então culpou a língua de sinais pelo seu fracasso.

Este fato da história da educação dos surdos, no qual o surdo é visto como um doente possui reflexos até os dias de hoje, onde a surdez é encarada como uma doença com promessa de curas e reabilitação.

Mas após dezesseis anos de experiências e tentativas de oralização e correção da surdez, o próprio Itard se frustra com seus resultados não satisfatórios, sem conseguir atingir seu objetivo desejado, ele mesmo se rende, concluindo que os surdos realmente precisam ser educados através da língua de sinais. (MOURA, 2000, p. 27)

Jean Massieu foi um dos primeiros professores surdos do mundo. Laurent Clerc, surdo francês, educador, acompanhou Thomas Hopkins Gallaudet, educador ouvinte, aos EUA, onde abriram uma escola para surdos, em Abril de 1817, a Escola de Hartford. Gallaudet instituiu nessa escola a Língua Gestual Americana, passou ainda a seu usado o inglês escrito e o alfabeto manual. Em 1830, quando Gallaudet se reformou, já existiam nos Estados Unidos cerca de 30 escolas para surdos.

4.1 Historia da Educação dos Surdos nos Estados Unidos a) Quem foi Thomas Hopkins Gallaudet

Muito jovem, em 1805, iniciou os estudos universitários em Yale, onde se formou como predicador. Logo começou os estudos de Direito. Em 1814 Gallaudet estava a ponto de começar sua carreira religiosa, quando, durante umas férias na casa de seus pais, na cidade de Hartford, um encontro casual com uma menina surda o convenceu que sua vocação estava em outra parte.

(12)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

12

A origem de sua vocação direcionada aos surdos

Alice Cogswell, como se chamava a menina surda, permanecia isolada das demais crianças. Isso chamou a atenção de Gallaudet que, aproximando-se dela, tratou, por diversos meios, de estabelecer uma comunicação. Desenhou e apontou para coisas distintas, para fazer com que ela relacionasse a palavra "chapéu" a estes objetos. Logo a mostrou como escrever seu próprio nome. O resultado desse experimento mudou a vida de Gallaudet que, a partir de então, decidiu dedicar-se ao ensino dos surdos. Nesse tempo não existia nos Estados Unidos ninguém que se dedicasse a esse trabalho.

Viagem à Europa

Gallaudet começou a averigüar, junto ao pai de Alice, acerca dos métodos de ensino para os surdos em outros países. Soube que na França e na Inglaterra havia uma tradição a respeito. A partir daqui surgiu seu projeto de uma viagem à Europa, a fim de reunir informações detalhadas sobre a metodologia daquelas escolas, com o propósito de fundar uma escola própria em Hartford.

A viagem à Inglaterra aconteceu em 1816. Resultou em um fracasso, pois os educadores nesse país, da escola londrina Braidwood impuseram demandas muito altas para divulgar seus métodos de trabalho, já que consideravam importante mantê-los em segredo. Gallaudet decidiu então tentar a sorte na França. Contudo, antes de sua partida, Gallaudet entrou em contato com três educadores franceses, o abade Roch Ambroise Sicard, e dois de seus auxiliares surdos, Jean Massieau e Laurent Clerc. Eles viajavam pela Inglaterra para mostrar seus métodos de ensino de surdos. O método francês se baseava no uso de senhas e na escrita, o que o diferenciava do inglês.

Gallaudet concordou em visitar a escola dos mestres franceses em Paris. Lá passou dois meses com eles, aprendendo a língua dos surdos franceses e os métodos de trabalho da escola. Laurent Clerc decidiu viajar aos Estados Unidos com Gallaudet, para ajudá-lo em seu projeto.

A escola de Hartford e o início da educação de surdos nos EUA

Em 1817, já de volta a Hartford, Gallaudet e Clerc abriram as portas da primeira escola para surdos dos Estados unidos, a American School for the Deaf. Em 1830, quando Gallaudet decidiu se retirar, já havia escolas para surdos em outras quatro cidades desse país, nos estados de Nova York, Pensilvânia, Kentucky e Ohio. Uma geração de estudantes surdos com uma língua comum, que depois ficou conhecida como American Sign Language (ASL), já era capaz de ler e escrever em inglês, o que foi um resultado desse projeto.

A morte de Gallaudet e sua influência nos EUA

Depois de se retirar, Gallaudet dedicou-se a escrever e a ensinar. Muitos de seus escritos falam da educação de surdos e da língua de sinais. Gallaudet morreu em 1851. Para muitos surdos norte-americanos, Thomas Hopkins Gallaudet é considerado o pai da ASL. Esta versão não é de aspecto místico. Não é possível saber que sistema de comunicação havia entre os surdos dos Estados Unidos antes da aparição das escolas de surdos. De qualquer maneira, é evidente o papel unificador que tiveram estas, e a marcante influência que a Língua de Sinais Francesa tem sobre a ASL.

Depois da morte de Thomas H. Gallaudet, um de seus filhos, Edward Miner Gallaudet, participou da fundação do primeiro colégio universitário para surdos, que em honra a seu pai foi chamado Gallaudet School. Esta instituição, fundada em 1857, deu origem à Universidade Gallaudet, localizada na cidade de Washington DC, e que hoje é a única instituição de estudos superiores do mundo para pessoas surdas. A língua oficial da universidade é a ASL.

Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet e também educador de surdos, lutou pela elevação do estatuto do Instituto de Colúmbia a colégio. Esse colégio deu origem, em 1857, à Universidade Gallaudet, onde for presidente por 40 anos

A Universidade Gallaudet (Gallaudet University em inglês)

É a única universidade do mundo cujos programas são desenvolvidos para pessoas surdas. Está localizada em Washington, DC, a capital dos Estados Unidos da América. É uma instituição

(13)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

13

privada, que conta com o apoio direto do Congresso desse país. A primeira língua oficial de Gallaudet é a American Sign Language (ASL), a língua de sinais dos Estados Unidos (o inglês é a segunda). Nessa língua se comunicam entre si empregados, estudantes e professores, e se ditam a maioria dos cursos. Ainda que se conceda prioridade aos estudantes surdos, a universidade admite, também, um pequeno número de pessoas ouvintes a cada semestre. A estas se exige o domínio da ASL como requisito para permanecer na instituição.

Origem da instituição

O campus principal da universidade, localizado próximo ao centro administrativo da cidade, foi doado em 1856 por Amos Kendall, um político rico que queria fundar ali um internato para crianças surdas e cegas. A instituição, que foi inaugurada em 1857, foi chamada Columbia

Institution for the Instruction of the Deaf and Dumb and Blind. Para dirigí-la foi escolhido Edward

Miner Gallaudet, o filho mais novo de Thomas Hopkins Gallaudet, quem havia fundado e coordenado por muitos anos a primeira escola para surdos dos Estados Unidos.

Sete anos mais tarde, em 1864, o Congresso do país autorizou a escola a conferir títulos universitários. A matrícula de estudantes nesse programa era, então, de oito pessoas. Em 1954, outra decisão do Congresso mudou o nome da instituição para Gallaudet College, para honrar a memória do fundador da educação para surdos nesse país, Thomas Hopkins gallaudet. Em 1986, foi reconhecido o processo acadêmico alcançado pela instituição ao declará-la Gallaudet University. A matrícula atual da universidade gira em torno de 2000 estudantes (dos quais cerca de 25% cursam programas de pós-graduação).

A Universidade Gallaudet oferece, hoje, educação para surdos em todos os níveis (desde a escola primária até o doutorado). Há cerca de 40 carreiras distintas, em praticamente todas as áres de conhecimento. Em alguns campos de investigação, tais como lingüística e ensino das línguas dos sinais, esta universidade tem uma reconhecida liderança mundial.

O acesso em Gallaudet por parte das pessoas surdas

A instituição que hoje conhecemos como Universidade Gallaudet esteve regida, desde sua origem, por pessoas ouvintes. Somente em 1988 tiveram os surdos opurtunidade de ver eleito um deles à reitoria da instituição. Foi o resultado de uma vistosa série de protestos nas ruas de toda a comunidade universitária, conhecidos como Deaf President Now (Reitor surdo já!). Como resultado desse movimento foi eleita uma pessoa surda para o cargo de reitor (Dr. I. King Jordan), e se iniciou um processo de reforma administrativa para que ao menos 51% dos cargos de direção da universidade fossem ocupados por surdos.

Pouco depois do sucesso dos protestos, a Universidade Gallaudet organizou um congresso mundial sobre os surdos, chamado Deaf Away (o estilo surdo), que congregou milhares de pessoas surdas do mundo inteiro, e que simbolizava o início de uma consciência acerca da existência das línguas de sinais e da cultura surda, e do chamado destas à se organizarem para reclamar os direitos essenciais. No ano de 2002 foi celebrado ali mesmo o segundo Deaf Away, que reuniu mais de 10.000 participantes de 120 países distintos.

A Universidade Gallaudet é, para os surdos de todo o mundo, um símbolo na luta para que suas línguas e culturas sejam reconhecidas.

Nesse interím, Alexander Graham Bell, cientista estadunidense, trabalhava na oralização dos surdos. Casou com uma surda, Mabel. Bell era grande defensor do oralismo e opunha-se à língua gestual e às comunidades de surdos, uma vez que as considerava como um perigo contra a sociedade. Assim sendo, Bell defendia que os surdos não deveriam poder casar entre si e deveriam obrigatoriamente frequentar escolas normais, regulares. No entanto, em 1887 Bell, no Congresso de Milão, admitiu que os surdos deveriam ser oralizados durante um ano, mas se isso não resultasse, então poderiam ser expostos à língua gestual. Esta luta entre o oralismo e a língua gestual continua até aos nossos dias.

Em 1880 nasce Hellen Keller, na Alemanha. Hellen ficou cega e surda aos 19 meses de idade, por causa de uma doença. Aos 7 anos Hellen havia criado cerca de 60 gestos (br: sinais) para se comunicar com os familiares. Anne Sulivan, a professora de Hellen, isolou-a do resto da família,

(14)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

14

conseguindo assim disciplinar e ensinar Hellen. Sullivan ensina a Hellen usando o método de Tadona, que consiste em tocar os lábios e a garganta da pessoa que fala, sendo isso combinado com dactilologia na palma da mão. Hellen aprendeu a ler inglês, francês, alemão, grego e latim, através do braile. Aos 24 anos formou-se, em Radcliffe. Foi sufragista, pacifista e apoiante do planeamento familiar. Fundou o Hellen Keller International, uma organização para prevenir a cegueira. Publicou muitos livros e foi galardoada por Lydon B. Johnson, com a Presidential Medal od Freedoms.

4.2 Congresso de Milão

Diante estas diferenças marcantes entre o Oralismo e Gestualismo, foi realizado no ano de 1878 o I Congresso Internacional de Educadores de Surdos, mas é em 1880, no II Congresso Internacional que as mudanças ocorrem de forma efetiva e drástica, e devido toda a reviravolta que este congresso provocou, ele foi considerado um marco na história da educação dos surdos.

Neste evento, preparado por uma maioria oralista, reuniram-se profissionais da educação de diversos países, entre eles, italianos, franceses, suecos, suíços, alemães, e americanos. Este congresso foi realizado para discutir os métodos utilizados na educação dos surdos, que se resumia entre os defensores do oralismo versus defensores do gestualismo. Da minoria dos gestualista, o principal representante foi Edward Gallaudet, que discordava dos argumentos apresentados pelos oralistas, mas praticamente não foi ouvido durante os debates. Dos congressistas participantes, somente um era surdo.

Durante o congresso foram apresentados alguns alunos surdos que falava bem, dando a impressão de que todos os surdos que passavam pelo oralismo obtinham aquela eficiência na fala, mas a realidade era outra. Isto é o que as estatísticas nos mostram hoje tomando como exemplo os surdos dos Estados Unidos que chegam o número de 86% os surdos que não falam bem. (ARRIENS, 2002, p.)

Enfim, após este congresso a educação dos surdos toma novos rumos e define-se uma nova corrente, o oralismo, o qual saiu vencedor com a maioria dos votos a seu favor e as conseqüências deste fato foram notórias e determinantes no mundo todo, especialmente na Europa e na América Latina.

O congresso, considerando a incontestável superioridade da palavra sobre os signos para devolver o surdo à sociedade e para dar-lhe um melhor conhecimento da língua, declara que o método oral deve ser preferido ao da mímica para a educação e instrução dos surdos-mudos. (...) O Congresso, considerando que o uso simultâneo da palavra e dos signos mímicos têm a desvantagem de inibir a leitura labial e a precisão das idéias, declara que o método oral puro deve ser preferido. (GRÉMION apud SKLIAR, 1998, P. 37).

E segundo Lacerda (1998, p. 3) “com o Congresso de Milão termina uma época de

convivência tolerada na educação dos surdos entre a linguagem falada e a gestual”.

Vejamos algumas conseqüências deste congresso.

- A língua de sinais foi totalmente proibida e estigmatizada em todas suas formas;

- A figura do professor surdo começa a desaparecer, pois aos poucos foram sendo demitidos; - O domínio da língua oral pelos surdos passou a ser uma condição indispensável para sua aceitação dentro de uma comunidade majoritária...

Outras conseqüências

A proporção de professores surdos, que em 1850 beirava-se os 50%, diminuiu para 25% na virada do século e para 12% em 1960 [...] Nada disso teria importância se o oralismo funcionasse. Mas o efeito, infelizmente, foi contrário ao desejado – pagou-se um preço intolerável pela aquisição da

(15)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

15

fala. Os alunos surdos da década de 1850 que haviam passado pelo Asilo Hartford ou por outras escolas desse tipo tinham um alto nível de alfabetização e instrução – plenamente equiparável ao de seus equivalentes ouvintes. Hoje em dia ocorre o inverso. O oralismo e a supressão da língua de sinais acarretaram uma deterioração marcante no aproveitamento educacional das crianças surdas e na instrução dos surdos em geral. (SACKS, 1998, p. 41)

Fazendo uma análise dos resultados e conclusões feitas pelo oralismo, podemos dizer que a história volta a repetir-se, pois as considerações dos oralistas sobre os surdos são parecidas com aquelas ditas há alguns anos atrás, principalmente pelos filósofos da época.

Como acabamos de ver, o oralismo invadiu toda a Europa e cada vez mais foi ganhando adeptos. No entanto um aspecto relevante destacar é que ambos os métodos, tanto oralista como gestualista, nunca negaram a importância da linguagem para o desenvolvimento humano dos surdos, inclusive toda essa ênfase dada ao ensino da língua oral, pelos oralistas, era em virtude do desenvolvimento da linguagem e da competência lingüista, alegando eles que desta forma os surdos se integrariam ao mundo dos ouvintes como um membro mais produtivo. (CAPOVILLA, 2001)

No entanto, apesar dos propósitos de integração do método oralista, quase cem anos após o Congresso de Milão, encontramos os primeiros relatos do fracasso do oralismo puro. Grande parte dos surdos profundos não desenvolveu uma fala socialmente satisfatória, e o nível de aprendizado da leitura e escrita dos surdos após anos de escolaridade era muito ruim. Além disso, muitos surdos oralizados sentem-se inseguros ao oralizar, principalmente diante pessoas desconhecidas.

Segundo Capovilla (2001), pesquisas realizadas na Inglaterra mostraram que apenas 25% dos surdos que passavam pela educação oralista, na faixa etária entre 15-16 anos conseguiam falar de uma forma inteligível, pelo menos por seus professores. Em relação a leitura e escrita, os dados também não são motivadores, e a mesma pesquisa relatou que 30% dos surdos eram analfabetos e um número inferior a 10% tinham um nível de leitura coerente a sua idade. E ainda, as habilidades de leitura labial apresentadas por esses surdos eram tidas também como insatisfatórias.

Porém, mesmo em frente a essa realidade do fracasso escolar dos surdos detectado em todo mundo, os oralistas se baseiam e tomam como argumentos justificativos as exceções, isto é, na minoria dos surdos que conseguiram desenvolver as habilidades de leitura e escrita por meio do método oralista, mas com certeza, casos esporádicos de sucesso não são o suficiente e algo precisa ser feito em prol da grande maioria dos surdos que estão a margem da sociedade.

4.3 A educação de surdos no Brasil

No Brasil, são poucos os registros encontrados sobre a história dos surdos. De acordo com o que encontramos, a educação dos surdos no Brasil iniciou na época do imperador D. Pedro II, e o mesmo trouxe para o Brasil, no ano de 1855, diretamente do Instituto de Paris (Instituto fundado por L´Epée), Hernest Huet, um professor surdo. Huet nasceu em Paris no ano de 1822 e ficou surdo aos doze anos. Antes de adquirir a surdez ele já falava francês, alemão e português, e após ficar surdo ainda aprendeu espanhol. Com a vinda de Huet para o Brasil as instâncias de D. Pedro II, foi fundada a primeira escola para surdos no Brasil em 1857, hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), localizado na cidade do Rio de Janeiro. Este fato foi muito importante para o desenvolvimento da Libras (Língua Brasileira de Sinais), que surgiu da mistura da língua de sinais francesa, trazida por Huet, com a língua de sinais brasileira antiga, já usada pelos surdos do Brasil. Em 1896, aconteceu nesta escola um encontro internacional para avaliar as decisões do congresso de Milão, em seguida o governo do Brasil enviou dois professores para França para avaliar de perto as conseqüências deste congresso. Estes professores retornam ao Brasil, e de acordo com suas análises concluem que o método oral puro não serve para todos surdos, mas mesmo assim o Brasil, como todo o mundo sofre influências das decisões do congresso de 1880.

(16)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

16

Mesmo com toda esta repreensão em cima da língua de sinais, constatamos que ela nunca deixou de existir, muitos surdos se comunicavam com os sinais escondidos. Tem uma frase de J. Schuler Long que diz: “Enquanto houver duas pessoas surdas sobre a face da terra e elas se encontrarem, serão usados os sinais”.

Mas é somente na década de 1960 que a língua de sinais volta a ser considerada como língua, por meio das observações feitas pelo linguísta Willian Stokoe. Nesta época a língua de sinais era vista como uma espécie de pantomima ou código gestual ou até mesmo o inglês feito com as mãos. (SACKS, 1998, p. 88)

5. Durante o século XX

Algumas conquistas da comunidade surda

● aumentou o número de escolas para surdos em todo o mundo;

● no Brasil, surgiram o Instituto Santa Terezinha para meninas surdas (SP), a Escola Concórdia (Porto Alegre - RS), a Escola de Surdos de Vitória, o Centro de Audição e Linguagem “Ludovico Pavoni” - CEAL/LP - em Brasília-DF e várias outras que, assim com o INES e a maioria das escolas de surdos do mundo, passaram a adotar o Método Oral;

● a garantia do direito de todos à educação, a propagação das idéias de normalização e de integração das pessoas com necessidades especiais e o aprimoramento das próteses otofônicas fizeram com que as crianças surdas de diversos países passassem a ser encaminhadas para as escolas regulares. No Brasil, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação passaram a coordenar o ensino das crianças com necessidades especiais (inicialmente denominadas portadoras de deficiências) e surgiram as Salas de Recursos e Classes Especiais para surdos, além de algumas Escolas Especiais, com recursos públicos ou privados;

● com a organização das minorias no âmbito mundial, por terem garantido seus direitos de cidadãos, as pessoas portadoras de necessidades especiais passaram a apresentar suas reivindicações que, no caso dos surdos, são: o respeito à língua de sinais, a um ensino de qualidade, acesso aos meios de comunicação (legendas e uso do TDD) e serviços de intérpretes, entre outras;

● com os estudos sobre surdez, linguagem e educação, já no final de nosso século, os surdos assumiram a direção da única Universidade para Surdos do Mundo (Gallaudet University Library - Washington - EUA) e passaram a divulgar a Filosofia da Comunicação Total. Mais recentemente, os avanços nas pesquisas sobre as línguas de sinais, preconiza o acesso da criança, o mais precocemente possível, a duas línguas: à língua de sinais e à língua oral de seu País - Filosofia de Educação Bilíngüe.

5.1. Comunicação Total

Em 1960, Stokoe publicou Sign Language Structure e, em 1965, com seus colegas surdos Doroty Carterline e Carl Croneberg, publicou A Dictionary of American Sign Language. Depois de quase cem anos de oralismo puro, Stokoe vem a ser o primeiro a analisar a língua de sinais, buscando suas estruturas gramaticais e constituintes, e em sua obra atribui a língua de sinais o status de língua. A princípio, tanto os surdos como os ouvintes consideraram suas concepções absurdas, porém, poucos anos depois seu trabalho ganha força e as opiniões a suas idéias começam a mudar, surge então uma nova revolução na educação dos surdos, e os sinais voltam aos poucos a serem valorizados e reconhecidos com uma forma legal e necessária para a comunicação dos surdos.

Acompanharemos agora as mudanças que ocorreram e que vem ocorrendo desde a década de 1960 até os dias de hoje, mudanças estas que vem dando uma nova roupagem na educação dos surdos de modo positivo.

(17)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

17

Desde o Congresso de Milão de 1880 até o início de 1960, a língua falada era vista como a única forma de linguagem, e este era o principal objetivo da filosofia oralista, o desenvolvimento da linguagem, mas como este objetivo nunca chegou a realizar-se de forma satisfatória, as portas começaram a se abrir para uma outra filosofia educacional que surgiu na década de 1970 como uma manifestação de insatisfação aos resultados da educação oralista, a filosofia da Comunicação Total.

“A Comunicação Total é a prática de usar sinais, leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital para fornecer inputs lingüísticos para estudantes surdos, ao passo que eles podem expressar-se nas modalidades preferidas" (Stewart 1993, p. 118). O objetivo é fornecer à criança a possibilidade de desenvolver uma comunicação real com seus familiares, professores e coetâneos, para que possa construir seu mundo interno. A oralização não é o objetivo em si da comunicação total, mas uma das áreas trabalhadas para possibilitar a integração social do indivíduo surdo. A comunicação total pode utilizar tanto sinais retirados da língua de sinais usada pela comunidade surda quanto sinais gramaticais modificados e marcadores para elementos presentes na língua falada, mas não na língua de sinais. Dessa forma, tudo o que é falado pode ser acompanhado por elementos visuais que o representam, o que facilitaria a aquisição da língua oral e posteriormente da leitura e da escrita (Moura 1993).

Entretanto, a forma de implementar a comunicação total mostra-se muito diferente nas diversas experiências relatadas; nota-se que muitas foram as maneiras de realizar essa prática envolvendo sinais, fala e outros recursos.

Práticas reunidas sob o nome de comunicação total, em suas várias acepções, foram amplamente desenvolvidas nos Estados Unidos e em outros países nas décadas de 1970 e 1980 e muitos estudos foram realizados para verificar sua eficácia. O que esses estudos têm apontado é que, em relação ao oralismo, alguns aspectos do trabalho educativo foram melhorados e que os surdos, no final do processo escolar, conseguem compreender e se comunicar um pouco melhor. Entretanto, segundo essas análises avaliativas, eles apresentam ainda sérias dificuldades em expressar sentimentos e idéias e comunicar-se em contextos extra-escolares. Em relação à escrita, os problemas apresentados continuam a ser muito importantes, sendo que poucos sujeitos alcançam autonomia nesse modo de produção de linguagem. Observam-se alguns poucos casos bem-sucedidos, mas a grande maioria não consegue atingir níveis acadêmicos satisfatórios para sua faixa etária. Em relação aos sinais, estes ocupam um lugar meramente acessório de auxiliar da fala, não havendo um espaço para seu desenvolvimento. Assim, muitas vezes, os surdos atendidos segundo essa orientação comunicam-se precariamente apesar do acesso aos sinais. É que esse acesso é ilusório no âmbito de tais práticas, pois os alunos não aprendem a compreender os sinais como uma verdadeira língua, e desse uso não decorre um efetivo desenvolvimento lingüístico. Os sinais constituem um apoio para a língua oral e continuam, de certa forma, "quase interditados" aos surdos. O que a comunicação total favoreceu de maneira efetiva foi o contato com sinais, que era proibido pelo oralismo, e esse contato propiciou que os surdos se dispusessem à aprendizagem das línguas de sinais, externamente ao trabalho escolar. Essas línguas são freqüentemente usadas entre os alunos, enquanto na relação com o professor é usado um misto de língua oral com sinais.

Mas a Comunicação Total começou a apresentar alguns problemas, problemas estes relacionados a sua principal característica, que é o uso simultâneo da Fala com os Sinais (no Brasil esta prática é conhecida como português sinalizado), e este uso simultâneo da Fala com os Sinais não é efetivamente possível, pois sabemos que a Língua de Sinais como qualquer outra língua possui uma estrutura gramatical própria, sendo assim impossível falar duas línguas ao mesmo tempo.

E apesar da comunicação entre surdos e ouvintes ter melhorado bastante através da Comunicação Total, observou-se depois de um determinado tempo que a leitura e escrita dos surdos ainda continuavam muito abaixo do esperado. (CAPOVILLA, 2001)

Pesquisas começaram a ser realizadas a este respeito e chegou-se a uma conclusão, que o uso simultâneo da Fala com os Sinais não estava cumprindo seu propósito, o de tornar visual a língua falada, mas pelo contrário, gerou segundo Capovilla (2001, p.1486) “[...] uma amostra

(18)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

18

compreendidos plenamente por si sós”. Em conseqüência a esta pratica, os surdos não tinham

domínio pleno em nenhuma das duas línguas.

Em relação a Comunicação Total Brito (1993, p.55 apud SÁ 1999, p.112) ressalta: “ a Comunicação Total não objetiva que os surdos cheguem ao domínio de duas línguas. Ao contrário, o objetivo lingüístico é o aprendizado da língua na modalidade oral, sendo os sinais apenas um meio para isso”.

A partir daí questionamentos foram levantados sobre a eficiência desta nova filosofia educacional, e a mesma pareceu não mais ser suficiente para atender as necessidades educacionais dos surdos, embora apresentasse resultados superiores ao Oralismo puro.

5.2 Bilinguismo

Paralelamente ao desenvolvimento das propostas de comunicação total, estudos sobre línguas de sinais foram se tornando cada vez mais estruturados e com eles foram surgindo também alternativas educacionais orientadas para uma educação bilíngüe. Essa proposta defende a idéia de que a língua de sinais é a língua natural dos surdos, que, mesmo sem ouvir, podem desenvolver plenamente uma língua visogestual. Certos estudos (Bouvet 1990) mostram que as línguas de sinais são adquiridas pelos surdos com naturalidade e rapidez, possibilitando o acesso a uma linguagem que permite uma comunicação eficiente e completa como aquela desenvolvida por sujeitos ouvintes. Isso também permitiria ao surdo um desenvolvimento cognitivo, social etc. muito mais adequado, compatível com sua faixa etária.

O modelo de educação bilíngüe contrapõe-se ao modelo oralista porque considera o canal visogestual de fundamental importância para a aquisição de linguagem da pessoa surda. E contrapõe-se à comunicação total porque defende um espaço efetivo para a língua de sinais no trabalho educacional; por isso advoga que cada uma das línguas apresentadas ao surdo mantenha suas características próprias e que não se "`misture" uma com a outra. Nesse modelo, o que se propõe é que sejam ensinadas duas línguas, a língua de sinais e, secundariamente, a língua do grupo ouvinte majoritário. A língua de sinais é considerada a mais adaptada à pessoa surda, por contar com a integridade do canal visogestual. Porque as interações podem fluir, a criança surda é exposta, então, o mais cedo possível, à língua de sinais, aprendendo a sinalizar tão rapidamente quanto as crianças ouvintes aprendem a falar. Ao sinalizar, a criança desenvolve sua capacidade e sua competência lingüística, numa língua que lhe servirá depois para aprender a língua falada, do grupo majoritário, como segunda língua, tornando-se bilíngüe, numa modalidade de bilingüismo sucessivo. Essa situação de bilingüismo não é como aquela de crianças que têm pais que falam duas línguas diferentes, porque nesse caso elas aprendem as duas línguas usando o canal auditivo-vocal num bilingüismo contemporâneo, enquanto no caso das crianças surdas, trata-se da aprendizagem de duas línguas que envolvem canais de comunicação diversos.

Pesquisas sobre esse tema (Taeschner 1985) apontam para a conveniência de não haver sobreposição das duas línguas envolvidas. A aprendizagem da língua de sinais deve se dar em família, quando possível, ou num outro contexto, com um membro da comunidade surda, por exemplo, e a língua falada deve ser ensinada por uma outra pessoa caracterizando um outro contexto comunicativo. Tais contextos não devem se sobrepor; as pessoas que produzem cada uma das línguas com a criança, no início, devem ser pessoas diferentes e o ideal parece ser que a família participe sinalizando. Num outro contexto, a criança aprenderá a desenvolver sua capacidade articulatória e fará sua adaptação de prótese e sua educação acústica. A língua de sinais estará sempre um pouco mais desenvolvida e adiante da língua falada, de modo que a competência lingüística na língua de sinais servirá de base para a competência na aquisição da língua falada. Será a aprendizagem de uma língua através da competência em outra língua, como fazem os ouvintes quando aprendem uma segunda língua sempre tendo por base sua língua materna.

O objetivo da educação bilíngüe é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-lingüístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua majoritária.

(19)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

19

A filosofia bilíngüe possibilita também que, dada a relação entre o adulto surdo e a criança, esta possa construir uma auto-imagem positiva como sujeito surdo, sem perder a possibilidade de se integrar numa comunidade de ouvintes. A língua de sinais poderia ser introjetada pela criança surda como uma língua valorizada, coisa que até hoje tem sido bastante difícil apesar de esta ocupar um lugar central na configuração das comunidades surdas. O fato é que tais línguas foram sistematicamente rejeitadas e só recentemente têm sido valorizadas pelos meios acadêmicos e pelos próprios surdos (Moura 1993).

As experiências com educação bilíngüe ainda são recentes; poucos países têm esse sistema implantado há pelo menos dez anos. A aplicação prática do modelo de educação bilíngüe não é simples e exige cuidados especiais, formação de profissionais habilitados, diferentes instituições envolvidas com tais questões etc. Os projetos já realizados em diversas partes do mundo (como Suécia, Estados Unidos, Venezuela e Uruguai) têm princípios filosóficos semelhantes, mas se diferenciam em alguns aspectos metodológicos. Para alguns, é necessária a participação de professores surdos, o que nem sempre é possível conseguir. Quando se recorre a professores ouvintes, nem sempre sua competência em língua de sinais é suficiente, comprometendo significativamente o processo de aprendizagem. Algumas propostas indicam uma passagem da língua de sinais diretamente para a língua escrita entendendo que a língua oral é muito difícil para o surdo, além de ser "antinatural". Existem países que têm assegurado, por lei, o direito das pessoas surdas à língua de sinais; outros realizam projetos envolvendo a educação bilíngüe quase à revelia das propostas estatais.

Em cada um desses países o aprofundamento dos estudos sobre suas línguas de sinais é diferente e, apenas em alguns casos, esses estudos estão bastante desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Língua Americana de Sinais é bastante conhecida, talvez a língua de sinais mais bem estudada até hoje. Entretanto, as práticas de comunicação total são prevalentes lá, indicando que o desenvolvimento do conhecimento acadêmico sobre as línguas de sinais não é suficiente para sua efetiva inserção no atendimento educacional. Em outros países tais estudos são ainda iniciais, auxiliando pouco aqueles que desenvolvem práticas de educação bilíngüe. Tais práticas remetem a um universo amplo de questões ainda pouco explorado, que parece apresentar vários problemas ao mesmo tempo em que aponta para formas de atendimento mais adequadas às pessoas surdas.

Em diversos países, como no nosso, as experiências com educação bilíngüe ainda estão restritas a alguns poucos centros, dadas as dificuldades apontadas acima, e também pela resistência de muitos em considerar a língua de sinais como uma língua verdadeira ou aceitar sua adequação ao trabalho com as pessoas surdas. Assim sendo, a maioria das práticas de educação para surdos ainda hoje é oralista ou se enquadra dentro da comunicação total. Apesar de não haver dados oficiais do Brasil, pode-se afirmar, por observações assistemáticas, que a comunicação total encontra-se em desenvolvimento enquanto as práticas oralistas tendem a diminuir. Com o surgimento da comunicação total, a grande mudança pedagógica foi a entrada dos sinais em sala de aula. O uso dos sinais pode ser muito variado, dependendo da opção feita no trabalho de comunicação total. Pode-se encontrar a língua de sinais sendo usada separadamente da fala, uso do português sinalizado acompanhando a fala numa prática bimodal, fala acompanhada de sinais retirados da língua de sinais, tentativas de representar todos os aspectos do português falado em sinais etc.

Diante desse panorama é possível constatar que, de alguma maneira, as três principais abordagens de educação de surdos (oralista, comunicação total e bilingüismo) coexistem, com adeptos de todas elas nos diferentes países. Cada qual com seus prós e contras, essas abordagens abrem espaço para reflexões na busca de um caminho educacional que de fato favoreça o desenvolvimento pleno dos sujeitos surdos, contribuindo para que sejam cidadãos em nossa sociedade.

Concluímos então que o pressuposto básico do Bilingüismo é que o surdo deve ser fluente não só na sua língua natural (Língua de Sinais), mas também na língua da sociedade a que pertence, tornando desta forma um indivíduo bilíngüe.

No Brasil a mais recente e marcante conquista pela comunidade surda foi a aprovação da lei Federal no 10.436 de 24 de Abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras como uma forma de comunicação e expressão das comunidades surdas do Brasil.

(20)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

20

Conclusão

Cabe a cada educador não cruzar os braços, buscar o aperfeiçoamento. Numa época em que há um constante desenvolvimento e a tecnologia avança a cada momento, é necessário acompanhar a evolução com urgência, buscar recursos, usar novas metodologias, criar espaço especificado para as diferentes disciplinas possibilitando a facilitação e a integração de todos.

Percebe-se que há uma busca pela compreensão integral do portador de deficiência, e a tentativa de estruturar uma lei que seja, ao mesmo tempo, abrangente o suficiente para comportar os vários modelos e tipos de deficiência, no que se refere à busca pela capacitação e integração do ser humano.

WEERNECK (1992) apresenta um aforismo que diz: "esquecemos o que ouvimos, decoramos o que lemos e aprendemos o que fazemos". Ou seja, a escolha da metodologia a ser aplicada vai estar na dependência do perfil das pessoas envolvidas e dos objetivos da prática pedagógica assumida. Como em geral grupamentos não são homogêneos, a aprendizagem deverá levar em consideração a diversidade de idéias, comportamento, capacidade de assimilação de cada indivíduo antes de abordar o projeto de ensino. É papel da escola tornar-se sensível ao ritmo da evolução social e tecnológica. Assim como também para o professor que deve encarar como forma permanente os diversos tipos de funções a serem exercida, procurando além de incentivar, mostrar que todos são capazes de aprender. É necessário também que o professor possa se libertar de determinadas práticas rotineiras, tendo oportunidade de consagrar mais tempo à observação psicopedagógica, dando lugar a intervenção junto ao aluno no momento em que ele achar mais importante. O aprendizado da língua portuguesa é mais difícil e prolongada, mas é necessário e importante para a comunicação com os ouvintes e a sociedade. Então, precisará de condições especiais para aprender esta língua que não é natural, para não ser discriminada (FELIPE, 1995).

O ideal seria formar os surdos, desde sua infância ao conhecimento das duas línguas. A cada língua que aprendemos ampliamos a percepção que temos do mundo e as possibilidades de interpretar as situações da vida cotidiana.

Não é só necessária a inovação educacional, mas o estímulo entre alunos, professor e família,para a construção do conhecimento. Pois se sabe que cada criança aprende com a família e com a sociedade a qual pertence. Cada grupo familiar tem seu código, sua maneira própria de viver. É preciso ter paciência, acreditar que todos são capazes. Esperar que a Educação Inclusiva seja olhada com mais carinho, pois cada um aprende dentro do seu limite e com muita vontade de poder participar do processo ensino aprendizagem, não como um "aleijado" ou doente, mas como um ser humano cheio de qualidades e vontade de aprender

(21)

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências

21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SÁ, Nídia Regina limeira de. Educação de surdos: a caminho do bilingüismo. Niterói: EDUFF, 1999.

GÓES, Maria Cecília Rafael de. Linguagem, surdez e educação. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.

SOUZA, Regina Maria de. Que palavra te falta? : Lingüística e educação: considerações epistemológicas a partir da surdez. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

BRITO, Lucinda Ferreira Brito. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filologia, 1995.

SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez: um olhar sobre a diferença. Porto Alegre: Mediação, 1998.

SACKS, Oliver W. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos; tradução Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

FELIPE, Tanya A. Libras em contexto: curso básico, livro do estudante cursista. Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, MEC; SEESP, 2001.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Educação Especial. Aspectos lingüísticos da língua de sinais. Curitiba: SEED/SUES/DEE, 1998.

LACERDA, Cristina B. F. de. Um pouco da historia das diferentes abordagens na

educação dos surdos. Campinas, Cad. CEDES v.19 n.46, 1998. Disponível em

http://www.scielo.com.br/. Acesso em: 10 de fevereiro 2005.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Ensino de língua

portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC/SEESP, 2002.

ESPAÇO: informativo técnico-científico do INES. Rio de Janeiro: INES, n.16 (julho/dezembro 2001).

DELGADO, César. Eduar Huet (1827-1822). Revista da Feneis, Rio de Janeiro, ano IV, n. 13, jan./mar. 2002.

MANZINI, Eduardo José (Org.). Linguagem, cognição e ensino do aluno com deficiência. Marília: Unesp Marília Publicações, 2001.

MOURA, M.C. (2000). O Surdo: Caminhos para uam nova identidade. Rio de Janeiro, RJ: Revinter, Fapesp.

Referências

Documentos relacionados

Infelizmente, nossos espaços escolares estão preparados para receber o aluno surdo, mas numa estrutura para ensinar e aprender em português, com alunos que crescem ouvindo e

expressamente, o Poder Judiciário e, o direito de “Greve”, de crime, torna-se direito elevado ao nível constitucional;.. Idade Moderna: o Direito do Trabalho no Brasil.  CLT

«A história real das nações que povoavam a Europa na Alta Idade Média não começa no século vi , mas sim no século xviii .» Para ilustrar esta frase

A disciplina discute os marcos históricos da educação dos surdos e o papel da Fonoaudiologia nesta história,da metade do século passado até a atualidade; as atuais

A disciplina discute os marcos históricos da educação dos surdos e o papel da Fonoaudiologianesta história,da metade do século passado até a atualidade; as atuais

Embora o desenvolvimento dos calçados desde o período Romano, já vinha sendo produzidos para pés direitos e esquerdos, porém a parte traseira dos calçados não havia diferenças

Lírica Moderna (1956), um capítulo para o poeta Baudelaire, conhecido também como o poeta da modernidade..  A metade do século XVIII e início do século XIX são marcados

Apesar de esta prática já existir em diversos países europeus desde as primeiras décadas do século XX (principalmente, em França, Bélgica e Holanda), Portugal apenas viria a