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Infiltrado na al Qaeda

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Academic year: 2021

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Texto

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Infiltrado

na al‑Qaeda

Omar Nasiri

Relato de um espião

l i s b o a :

tinta‑da‑china M M V I I

Tradução de

Rita Graña

(2)

© 2007, Edições tinta‑da‑china, Lda. Rua João de Freitas Branco, 35A

1500‑627 Lisboa Tels.: 21 726 90 28/9 | Fax: 21 726 90 30

E‑mail: tintadachina@netcabo.pt © 2006, Omar Nasiri Título original: Inside the Jihad.

My Life with Al Qaeda. A Spy’s Story

Autor: Omar Nasiri Tradução: Rita Graña Revisão: Ana Maria Alvarez Capa e composição: Vera Tavares

1.ª edição: Setembro de 2007 isbn 978‑972‑8955‑35‑9 Depósito Legal n.º 263363/07

Índice

Prefácio 9 Prólogo 33

Bruxelas

37 Elenco de Personagens 38 Cronologia 39 Mapa da Europa 40

Omar Buck Danny Édouard Marrocos Hakim Bélgica

Laurent Balas Uzi Tarek Consulado Gilles Fotografias

Voo 8969 da Air France Semtex Audi Tânger Cinema

Thierry Febre Id al‑Fitra Nouvelles Aventures Dolmabahçe

Afeganistão

163

Elenco de Personagens 164 Cronologia 165

Mapa do Paquistão/Afeganistão 166

Paquistão Tabligh Abu Anas Peshawar Ibn Sheikh

Interrogatório Químicos À meia‑luz Terras de fronteira

Khaldan Abu Hamam Abu Suhail Noite Al‑Jum’a

Abdul Kerim Abu Bakr Explosivos Tácticas de Guerra

Emir Tajiquistão Árabes Chechénia Guarda‑nocturno

Espião Lanterna Talibã Enfermaria Ossama

Passagem de Khyber Darunta Pesca Abu Jihad

Sarowbi Afegão, Afegão Assad Allah Gás Mostarda

Abu Khabab Guerra Psicológica Propaganda

(3)

Prefácio

O

s atentados de 11 de Setembro de 2001 não aconteceram por acaso. Durante a década de 1990, verificou‑se um fenómeno de coalescência de uma série de movimentos islâmicos violentos, mo‑ vimentos esses que foram desviando a sua atenção dos conflitos locais para o «inimigo distante» — os Estados Unidos e o Ocidente em geral. A organização daí resultante viria a ficar conhecida como al‑Qaeda. O relato de Omar Nasiri oferece‑nos um olhar singular sobre este pe‑ ríodo crucial, que permanece pouco conhecido. A sua história é única porque nos oferece a perspectiva pouco usual de alguém que se infil‑ trou nessas redes de terrorismo. A ideia tão vulgarizada de que para derrotar o terrorismo são necessários bons serviços de espionagem oculta uma outra questão. A verdade é que para organizar esses servi‑ ços é necessário contar com indivíduos dispostos a arriscar a própria vida ao tornarem‑se espiões. As suas histórias raramente são contadas.

Nasiri oferece‑nos um ponto de vista privilegiado que raramente é vislumbrado: um retrato da força crescente dos grupos terroristas islâmicos na década de 1990, daquilo que era necessário para um in‑ divíduo se tornar um infiltrado nesses grupos e do entendimento ina‑ dequado que as autoridades revelaram ter desta ameaça emergente.

Circunstâncias familiares fizeram com que Nasiri tomasse con‑ tacto com uma rede terrorista, e a sua formação pouco comum, divi‑ dida entre o Norte de África e a Bélgica, facultou‑lhe os meios neces‑ sários para poder manter uma vida dupla. Tendo passado mais de sete anos a trabalhar com os serviços de espionagem franceses, ingleses e alemães, Nasiri descreve o funcionamento destas agências com o olhar de quem as conhece por dentro. A sua descrição de reuniões,

Londristão

347 Elenco de Personagens 348

Cronologia 349

Ponte Galata Reencontro Paris Londres Daniel Abu

Qatada Four Feathers Dinheiro Mensagem Abu Hamza

Peixe Graúdo Tomada de Poder O Líder Espiritual Fatima

Caderno de Apontamentos Iémen Fuga Afeganistão

GIA Campeonato do Mundo Amin África

Alemanha

421

Dacar Alemanha Vida Futura Agradecimentos 441

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[10] infiltrado na al‑qaeda

conversas e métodos de espionagem dos vários serviços é invulgar‑ mente detalhada. O caso de Nasiri é também invulgar, já que esteve si‑ multaneamente ao serviço dos franceses e dos ingleses durante a altura em que viveu no Reino Unido. Essa experiência é elucidativa quanto ao modo como os dois países cooperaram, apesar de sustentarem visões diferentes relativamente à ameaça terrorista. Nasiri partilha ain‑ da com os leitores a complexidade das suas próprias motivações e os compromissos éticos dos espiões e dos agentes por eles responsáveis. As decisões moralmente ambíguas tomadas por Nasiri e pelos agen‑ tes dos serviços secretos deitam por terra as noções simplistas da‑ quilo que deve ser a espionagem direccionada para o antiterrorismo. A aparente confusão do próprio Nasiri, em vários momentos, quan‑ to a perceber a qual das partes devia lealdade sublinha as dificulda‑ des inerentes a uma vida dupla, enquanto espião e jihadista, e revela

igualmente os riscos que os serviços secretos enfrentam ao trabalhar com este tipo de pessoas.

Embora seja praticamente impossível confirmar todos os porme‑ nores da história de Nasiri, não restam dúvidas acerca da veracidade do seu inusitado percurso: envolveu‑se com uma importante rede terrorista argelina com sede na Europa, trabalhou com os serviços secretos franceses, partiu para os campos de treino no Afeganistão e depois infiltrou‑se em círculos de islamitas radicais, em Londres. É inevitável que um relato como este reflicta o ponto de vista do nar‑ rador e que trace um retrato dos acontecimentos altamente pesso‑ al e, por vezes, incompleto. Porém, depois de ler a obra de Nasiri é inevitável chegar à conclusão de que a rede então emergente estava muito mais bem organizada e era muito mais determinada do que na altura se pensava. Os campos de treino afegãos foram o solo onde germinou a semente da ameaça terrorista actual, e Nasiri oferece‑nos uma imagem extremamente detalhada da vida no interior desses campos — uma imagem de longe mais rica e preocupante do que qualquer outra anteriormente conhecida.

Apesar de Nasiri ser de origem marroquina, os argelinos ocupam um papel central no seu relato, uma vez que a Argélia albergou o nú‑

 Termo que designa os combatentes da jihad (n. da r.).

cleo da rede terrorista islâmica na Europa antes do 11 de Setembro. Este país lançou‑se numa guerra civil sangrenta depois de o exército cancelar as eleições de Janeiro de 1992, para evitar que a Frente Islâ‑ mica de Salvação (FIS) tomasse o poder. A violência intensificou‑se

e surgiram vários grupos revoltosos, o mais violento dos quais era o Grupo Islâmico Armado (GIA). Estima‑se que cerca de três mil ar‑ gelinos terão combatido contra o exército soviético no Afeganistão, na década de 1980, e a Argélia foi o primeiro país a sentir o impacto dos veteranos retornados da guerra afegã. O GIA foi impulsionado por centenas de homens endurecidos pela guerra, que regressavam com ideias radicais e dispostos a usar tácticas cada vez mais violen‑ tas. O movimento encontrou apoio nas comunidades imigrantes da Europa. Inicialmente, estas redes de apoio dedicavam‑se sobretudo à propaganda, mas não tardou que passassem a assumir responsabi‑ lidades na angariação de fundos, no suporte logístico — obtenção de passaportes falsos, por exemplo — e, até, no fornecimento de arma‑ mento ao GIA.

Quando, em 1994, regressou à Bélgica, Nasiri descobriu que a casa da sua mãe se transformara num importante centro de opera‑ ções do GIA. Como a Bélgica possuía escassa legislação antiterroris‑ ta, estes grupos deparavam‑se com menos vigilância e entraves à sua actividade, por parte da polícia, do que na vizinha França. Segundo o seu relato, Nasiri não se terá envolvido com o GIA por motivos ide‑ ológicos, mas pelo simples desejo de ganhar dinheiro através do for‑ necimento de armas. No entanto, acabou por se ver profundamente envolvido nas suas actividades.

Um conflito com os membros do GIA, devido ao roubo de algum dinheiro, conduziu Nasiri a uma escolha decisiva. Tal como muitos dos que percorreram este caminho, foi levado a tornar‑se espião mais pelas circunstâncias do que por uma opção moral. Ao oferecer a sua colaboração aos serviços de segurança externa franceses, a DGSE, es‑ perava que estes o livrassem da situação difícil em que se encontrava.

 Movimento islâmico, cuja designação de origem é Front Islamique du Salut, fundado por Abassi Madani em 1989. Este movimento foi declarado ilegal em 1992, dando origem a várias facções, nas quais se inclui o Armé Islamique du Salut (AIS), o seu «braço armado» (n. da r.).

(5)

Prólogo

S

oube dos ataques do 11 de Setembro pela rádio. Estava no carro, a caminho do escritório da minha mulher, onde combinara ir buscá‑la a seguir ao trabalho. Os jornalistas achavam que um avião tinha embatido acidentalmente na primeira torre. A minha mulher entrou no carro. Também ela acreditava que tudo não passava de um acidente.

Mas eu sabia que não era um acidente. Ainda antes de o segundo avião se despenhar, eu sabia que não era acidente nenhum. E sabia quem tinha feito aquilo. Quando chegámos a casa, liguei a CNN. Por essa altura, ambas as torres estavam em chamas, e as pessoas grita‑ vam nas ruas.

Fiz a única coisa que podia fazer: peguei no telefone para ligar ao meu contacto nos serviços de espionagem alemães. Não falava com ele há um ano e meio, e odiava‑o. Mas milhares de pessoas estavam a morrer e eu não tinha alternativa.

Ele atendeu ao primeiro toque e, quando lhe disse quem falava, pareceu ficar surpreendido. «Estou a ligar para oferecer a minha aju‑ da», disse eu.

«Sabe quem fez isto? Conhece algum dos piratas do ar?»

«Não», respondi. «Mas sei quem está por detrás disto. Sei por que motivo o fizeram. Sei quem são essas pessoas e sei como pensam.» Sabia tudo isso porque conhecia a al‑Qaeda. Tinha vivido na Bélgi‑ ca com membros da al‑Qaeda durante anos, embora na altura eles ainda não se autodenominassem assim. Comprava‑lhes armas, as quais eram em seguida expedidas para todo o mundo. Transportei

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[34] infiltrado na al‑qaeda

os seus explosivos para África, para serem utilizados na guerra civil da Argélia. Distribuí os seus boletins informativos e conheci os seus dirigentes principais na Europa. Um deles organizou os atentados bombistas ao metro de Paris, em 1995. Outros estiveram ligados ao desvio de um avião que acabaria por ser fatal. Estes homens viveram em minha casa.

Mais tarde, fui para o Afeganistão, em cujos campos de trei‑ no comi, dormi e rezei juntamente com membros da al‑Qaeda. Aproximei‑me deles tanto quanto seria possível. Eles partilharam a sua raiva e a sua dor comigo; eu partilhei com eles as minhas armas e o meu suor. Ofereci‑lhes o meu sangue e, mais do que uma vez, ofereci‑ ‑lhes a minha vida. Eles eram como meus irmãos, e eu dar‑lhes‑ia de bom grado tudo o que tinha.

Foi com eles que me tornei um mujahid e que passei a manu‑ sear com mestria praticamente todos os tipos de armas existentes no planeta, desde Kalashnikov a mísseis antiaéreos. Aprendi a conduzir tanques e a fazê‑los explodir. Aprendi a implantar campos de minas e como e quando lançar uma granada, de forma a causar o máximo de danos. Aprendi os procedimentos da guerra urbana, a preparar assas‑ sínios e raptos, a resistir a tortura. Aprendi a manufacturar bombas mortíferas a partir dos ingredientes mais simples — café, vaselina. Aprendi a matar um homem com nada mais do que as minhas mãos.

Aprendi tudo sobre armamento, o Alcorão e política internacio‑

nal com Ibn Sheikh al‑Libi, que comandava os campos de treino de Bin Laden e que mais tarde viria a mentir à CIA acerca das ligações de Bin Laden a Saddam Hussein. Conheci Abu Khabab al‑Masri, o maior perito em explosivos de Bin Laden, que tentou recrutar‑me para fazer explodir uma embaixada. Conheci Abu Zubayda, o prin‑ cipal recrutador da al‑Qaeda, que me enviou de volta para a Europa para trabalhar como operacional infiltrado, de modo a poder forne‑ cer conhecimentos especializados sobre explosivos, para a prepara‑ ção de ataques.

Mas nenhum destes homens conhecia a verdade: que eu me vi‑ rara contra eles, contra o assassínio de inocentes que praticavam. Eu era espião. Entrara nos campos como agente infiltrado da DGSE, o serviço de contra‑espionagem francês. Mais tarde, quando regres‑

sei à Europa, continuei a trabalhar com a DGSE e depois também com o MI5, muito embora Abu Zubayda continuasse a acreditar que eu trabalhava exclusivamente para ele. Em nome destas organizações governamentais, infiltrei‑me nas estruturas das mesquitas radicais de Abu Qatada e Abu Hamza, em Londres. Ao serviço de Abu Zubayda, transmiti mensagens e cheguei até a enviar dinheiro para o Paquistão para financiar a jihad — dinheiro esse que me era fornecido pelos ser‑ viços de espionagem ingleses.

Ao longo do meu percurso, conheci centenas de homens como os piratas do ar do ataque de 11 de Setembro. Homens que não ti‑ nham um lar. Homens que no Ocidente eram insultados por não se‑ rem brancos e cristãos, e que nos seus países se sentiam excluídos por já não se vestirem nem falarem como muçulmanos. A raiva que partilhavam era a sua única âncora, o único elo que os ligava ao seu destino, à sua família, à terra.

Eu compreendia tudo isto porque também era um desses ho‑ mens.

«Sabe quem fez isto? Conhece algum dos piratas do ar?»

«Não. Mas sei quem está por detrás disto. Sei por que motivo o fizeram. Sei quem são estas pessoas e sei como pensam.» Fiz uma pausa. «E quero ajudar.»

Fez‑se um breve silêncio do outro lado da linha, ao que se se‑ guiu uma única frase: «Voltaremos a ligar‑lhe se precisarmos de si.» Depois ouviu‑se um clique. Nunca mais voltei a ter notícias daquele homem.

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