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HABEAS CORPUS Nº MT (2021/ )

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HABEAS CORPUS Nº 668490 - MT (2021/0156706-0)

RELATOR

: MINISTRO

OLINDO

MENEZES

(DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO)

IMPETRANTE

: LILIANE DE CARVALHO GABRIEL E OUTROS

ADVOGADOS

: ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO - DF004107

ROBERTA CRISTINA RIBEIRO DE CASTRO QUEIROZ - DF011305

MARCELO TURBAY FREIRIA - DF022956

LILIANE DE CARVALHO GABRIEL - DF031335

ALVARO GUILHERME DE OLIVEIRA CHAVES - DF044588

ANANDA FRANÇA DE ALMEIDA - DF059102

ANA LETÍCIA RODRIGUES DA COSTA BEZERRA - DF065653

IMPETRADO

: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO

PACIENTE

: E A P

INTERES.

: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO

DECISÃO

Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado contra decisão

proferida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que decretou a segregação preventiva

do paciente.

O paciente teve a sua prisão preventiva decretada em 12/5/2021, em

decorrência da suposta prática dos delitos tipificados nos arts. 317, 321, parágrafo único,

e 333, do Código Penal, e art. 1º da Lei 9.613/98, com redação dada pela Lei

12.683/2021.

Argumentam os impetrantes, em suma, com a ausência de contemporaneidade

do decreto prisional e dos requisitos do art. 312 do CPP, requerendo, liminarmente e no

mérito, a revogação da custódia cautelar ou a sua substituição pelas medidas cautelares

previstas no art. 319 do mesmo Códex, mormente diante do risco de contaminação pela

Covid-19 no interior do presídio.

A concessão de liminar em habeas corpus é medida excepcional, somente

cabível quando, em juízo perfunctório, observa-se constrangimento ilegal.

Não obstante a excepcionalidade que é a privação cautelar da liberdade antes do

trânsito em julgado da sentença condenatória, reveste-se de legalidade a medida

extrema quando baseada em elementos concretos, nos termos do art. 312 do CPP.

O decreto preventivo foi proferido nos seguintes termos (fls. 43-55 - com

destaques):

(2)

[...]Os elementos de convicção produzidos indicam possível formação de grupo criminoso, que detém o monopólio do mercado estadual de transporte intermunicipal de passageiros, e age deliberadamente com o propósito de frustrar a concorrência pública deflagrada, para implementar o "Novo Sistema de Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado de Mato Grosso STCRIP/MT", em concessões dos serviços, por pelo menos duas décadas.

Apurou-se que o deputado estadual DILMAR DAL BOSCO, com o auxílio da servidora da ALMT CRISTIANA CORDEIRO LEITE GERALDINO, e o ex-deputado e atual parlamentar suplente PEDRO INÁCIO WIEGERT, conhecido como "Pedro Satélite -, teriam obstado a tramitação do respectivo procedimento licitatório, com a finalidade de manter a exploração precária do serviço público de transporte intermunicipal por parte dos integrantes do grupo criminoso.

Dentre as condutas criminosas imputadas, destacam-se:

- os deputados DILMAR DAL BOSCO e PEDRO INÁCIO WIEGERT integraram a Comissão Especial de Transportes da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL/MT). nas condições de Relator e Presidente, que foi criada em 27.8.2015 (Ato n° 046/2015), e buscaram inviabilizar o procedimento licitatório referente à implantação do novo STCRIP/MT, qual seja, a Concorrência Pública n° 01/2017 (Autos ri° 114734/2012), e, por conseguinte, legitimar a exploração em caráter precário, valendo-se inclusive de estudo técnico, relatórios conclusivos e pareceres financiados pela organização criminosa. Além disso, os investigados DILMAR DAL BOSCO e PEDRO INÁCIO WIEGERT, juntamente com ÉDER PINHEIRO [proprietário do GRUPO VERDE] e JÚLIO CÉSAR SALES DE LIMA [Presidente do SETROMAT], teriam feito lobby juntamente ao então governador para que o Estado não cumprisse TAC entabulado com o Ministério Público Estadual para consecução do procedimento licitatório;

- DILMAR DAL BOSCO, no exercício do cargo de deputado estadual e com o auxílio de sua assessora parlamentar CRISTIANA CORDEIRO LEITE GERAIADINO, teria recebido, nos anos de 2014 a 2017, propinas que totalizaram R$512.640.000,00 (quinhentos e doze mil, seiscentos e quarenta reais). bem como vantagem indevida no valor R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), todas custeadas pelo investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, proprietário do GRUPO VERDE e suposto líder da organização criminosa, dividida em 15 (quinze) parcelas de R$10.000,00 (dez mil reais) cada, consoante extrai-se da colaboração premiada e documentos apreendidos;

- DILMAR DAL BOSCO, entre 2012 a 2018, teria recebido passagens de

ônibus como "cortesias" do GRUPO VERDE que perfizeram o valor de

R$ 313.315,20 (trezentos e treze mil, trezentos e quinze reais e vinte

centavos), enquanto o investigado e PEDRO INÁCIO WIEGERT, entre

2013 a 2018, também teria recebido "cortesias" no valor de R$

332.424,00 (trezentos e trinta e dois mil, quatrocentos e vinte e quatro

reais), conforme narrativas de funcionários do GRUPO VERDE, do

conteúdo de colaboração premiada e análise de dados extraídos de

aparelho celular;

- o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros do Estado de Mato Grosso — SETROMAT —, por meio do Presidente JÚLIO CÉSAR SALES DE LIMA, também

(3)

pagava propinas [custeadas pelo GRUPO VERDE] aos investigados DILMAR DAL BOSCO e PEDRO INÁCIO WIEGERT, sendo que, somente no ano de 2011, ambos receberam R$472.503,05 (quatrocentos e setenta e dois mil, quinhentos e três reais e cinco centavos) e R$147.589,00 (cento e quarenta e sete mil, quinhentos e oitenta e nove reais), respectivamente, nos termos de planilha apreendida em cumprimento de mandado de busca e apreensão e declaração do colaborador;

- PEDRO INÁCIO WIEGERT, no exercício de suas funções parlamentes [deputado estadual e suplente], teria recebido, aproximadamente, R$1.103.953,46 (um milhão, cento e três mil, novecentos e cinquenta e três reais e quarenta e seis centavos) entre os anos de 2014 a 2018, repassados pelo GRUPO VERDE ao seu filho Andrigo Gaspar Wiegert (R$ 609.946,23) e sua Glauciane Wiegert (R$259.007,23), além de um veículo Mitsubishi Pajero Sporte HBE (avaliado em R$35.000,00). modelo 2007/2008, cor preta, placa NJR-3120, cuja propriedade foi registrada em nome de sua filha Marciana Wiegert Alonço dos Reis, consoante narrativas de testemunhas/colaborador, apreensões de documentos e análises bancárias;

- CRISTIANE CORDEIRO LEITE GERALDINO, na condição de assessora parlamentar, receberia o pagamento mensal de propinas em nome do investigado DILMAR DAL BOSCO, por meio de cheques adimplidos por ÉDER AUGUSTO PINHEIRO.

Com base em evidências obtidas após o cumprimento das medidas cautelares deferidas e do conteúdo de colaboração premiada, a investigação alcançou/obteve novos elementos que induzem o envolvimento de DILMAR DAL BOSCO, tendo sido inclusive apreendidos canhotos de cheques, com campos intitulados "Pago - e "Depósito -, registrando "Dilmar e "10.000,00" (Relatório Técnico n° 02/2019 - IP n° 115154/2017). Essas movimentações financeiras também estão descritas no Relatório Bancário n° 026/2020 (fls. 2645 IP n° 115154/2017), das quais se constata que o então assessor parlamentar Adão Ewaldir Garcia [falecido] compensou 4 (quatro) cheques, provenientes do GRUPO VERDE e referentes aos meses de janeiro/fevereiro/março/maio de 2017, no montante de R$40.000,00 (quarenta mil reais), e transferiu essa quantia para o investigado DILMAR DAL BOSCO.

[...]

No tocante ao pedido de prisão preventiva, os investigados ÉDER

AUGUSTO PINHEIRO e JÚLIO CÉSAR DE SALES LIMA tiveram a prisão

temporária decretada na primeira fase da "Operação Rota Final" pelo

prazo de 5 (cinco) dias, tendo sido posteriormente aplicadas as

seguintes medidas cautelares alternativas: "a) a proibição de acesso ou

frequência às repartições da S1NFRA (Secretaria de Estado e

Infraestrutura e Logística de Mato Grosso), AGER (Agência de

Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Mato

Grosso) e SETROMAT (Sindicato das Empresas de Transporte

Rodoviário do Estado de Mato Grosso); b) proibição de manterem

contato (por telefone, e-mail ou pessoalmente) com os colegas de

trabalho da SI/VERA (Secretaria de Estado e Infraestrutura e Logística

de Mato Grosso) e AGER (Agência de Regulação dos Serviços Públicos

Delegados do Estado de Mato Grosso) e filiados e/ou funcionário da

SETROMAT (Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário do

Estado de Mato Grosso) e demais investigados", as quais foram

revogadas em relação ao segundo investigado (PAI n° 66057/2018 -

Relator: Des. Guiomar Teodoro Borges — 28.2.2019).

(4)

O NACO Criminal e o GAECO justificam as pretensões constritivas sob

os argumentos de que o investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO

apresenta reiteração delitiva, teria buscado dificultar a investigação

criminal, ocultado patrimônio das empresas, transferido bens para

pessoas físicas/jurídicas, omitido a empresa Ipê Transportes

Rodoviários EIRELI no pedido de recuperação judicial e ameaçado o

promotor de Justiça Ezequiel Borges de Campos, ao passo que o

investigado JÚLIO CÉSAR DE SALES LIMA continuaria a defender os

interesses do grupo clandestino valendo-se da condição de Presidente

do SETROMAT.

As circunstâncias fáticas acentuam habitualidade criminosa do investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, quais sejam: 1) figura como líder e principal articulador da organização criminosa ["empresário que no inicio da investigação era o responsável por 70% da frota em operação em nosso Estado, inclusive, na condição de sócio oculto de diversas empresas de transporte, que de falo compõem o GRUPO VERDE TRANSPORTES"]; 2) arregimenta pessoas para figurarem em quadro societário de empresas do GRUPO VERDE como "laranjas", de modo a garantir o monopólio do transporte rodoviário intermunicipal e ocultar seu vínculo com essas pessoas jurídicas. E mais, essas pessoas não exercem atos de gestão, tampouco integralizam o capital social declarado perante a Junta Comercial, tendo sido identificado que Adriano Medeiros Barbosa, Haroldo Renato Cordeiro Benigno, José Joel Batista, Olício Salvador Ferreira c Túlio de Barros Bonfim, além do próprio investigado JÚLIO CÉSAR DE SALES LIMA, agiam como "laranjas" a pedido do investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO para que as empresas pertencentes ao GRUPO VERDE continuassem a participar de procedimentos licitatórios. Em si, a conduta apontada configura, em tese, o crime de falsidade ideológica (CP, art. 299), com efeitos desde o ano de 2018, ao se constatar que o investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, dois meses após ter sua prisão temporária, contratou terceira pessoa para figurar no quadro societário da empresa TIM Transportes pelo valor de R$10.000,00 (dez mil reais) mensais; 3) oculta patrimônio de suas empresas, notadamente por meio de transferências de veículos para empresas registradas em nome de "laranjas", visando obstar constrição judicial sobre os bens, a configurar, em tese, os crimes de fraude à execução (CP, art. 179) e fraude a credores (Lei n° 11.101/2005, art. 168). Essa ocultação patrimonial aparentemente descaracteriza o poder econômico do GRUPO VERDE, na respectiva Ação de Recuperação Judicial n° 1049204-26.2019.8.11.0041, em tramitação na 1ª Vara Cível Especializada em Recuperação Judicial e Falência da Capital desde o final de 2019. Entre 12.8.2018 até 24.7.2019, foram transferidos 30 (trinta) veículos de empresas do GRUPO VERDE [Verde Transportes Ltda., Orion Turismo, Áries Transportadora Ltda. e Rede Empreendimentos] para a empresa TIM Transportes, registrada em nome de pessoa -laranja", ao passo que também foram transferidos 10 (dez) veículos então pertencentes ao GRUPO VERDE para a empresa Fuel Flow Transportes e Logística EIRELI (CNP.1 n° 20.089.509/0001-60 - antiga Montreal Transportes EIRELI e atual "Rot Bus"), também em nome de pessoa "laranja"; 4) seu patrimônio pessoal tem sido ocultado com registros de bens móveis/imóveis em nome da sua esposa Alessandra Macedo Paiva Pinheiro, além de ter constituído empresa também seu nome, aproveitando-se do regime de separação total de bens, que conduz a incomunicabilidade de patrimônio dos consortes. Em abril/2019, adquiriu dois apartamentos em Cuiabá (n° 123.547 e 123.555 — Livro 02, Folhas 092 e 100) e determinou

(5)

a transferência para sua esposa Alessandra Macedo Paiva Pinheiro. Movimenta conta bancária e o cartão de crédito da sua esposa, gerando uma incompatibilidade, entre a movimentação financeira e os rendimentos por ela declarados, em sua DIRPF (Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física), consoante Relatório Técnico n° 043/2020; 5) as empresas Elog Express Encomendas Ltda. e Fiorano Participações e Investimentos Ltda. estão registradas como sendo de propriedades de Alessandra Macedo Paiva Pinheiro, embora tenham sido constituídas por ÉDER AUGUSTO PINHEIRO para que ele pudesse obter lucros em prejuízo da recuperação judicial. A empresa Elog Express Encomendas possui faturamento mensal de R$700.000,00 (setecentos mil reais) utilizando-se da estrutura das demais empresas do GRUPO VERDE [endereço e frota de ônibus], enquanto a empresa Fiorano Participações e Investimentos Ltda. foi beneficiada com transferência de aeronaves e terrenos provenientes no GRUPO VERDE (antes do pedido de recuperação judicial das empresas do Grupo Verde e após a deflagração da 1a fase da Operação Rota Final), configurando, em tese, os crimes de falsidade ideológica (CP, art. 299) e fraude a credores (Lei n° 11.101/2015, art. 168); 6) a empresa Ipê Transportes Rodoviários EIRELI, sediada em Porto Velho/RO, encontra-se registrada "em nome" de Noé do Nascimento Filho, embora o investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO seja o proprietário de fato, não tendo sido incluída na recuperação judicial; 7) teria ameaçado e manifestado intenção de promover "levantamentos acerca da vida" do promotor de Justiça Ezequiel Borges de Campos, responsável pela propositura de ação civil pública em seu desfavor (ACP 1061225-34.2019.8.11.0041), conforme narrativa de colaborador.

Ao que tudo indica, não cessou a prática delitiva mesmo após terem sido aplicadas medidas cautelares em seu desfavor, tampouco tem cumprido as medidas restritivas outrora deferidas, visto que continuaria arregimentando terceiras pessoas para a continuidade das atividades ilícitas praticadas pela organização criminosa, por ele liderada.

A constância dessas atividades ilícitas são anteriores ao início das investigações [2017] e perdura até os dias atuais [2021], pois o investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO continua, em tese, a articular/custear o grupo criminoso, simular transações comerciais e a promover fraudes que refletem em processos de execução tributária e recuperação judicial, em curso no Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso, mesmo após ter sido preso temporariamente e estar vinculado ao cumprimento de medidas cautelares alternativas, tendo plena ciência do procedimento investigatório instaurado. E mais. A atuação criminosa de ÉDER AUGUSTO PINHEIRO possui duas direções convergentes: política e empresarial. A primeira envolve a compra de apoio político por meio do pagamento de propinas e/ou entrega de vantagens indevidas a deputados estaduais e funcionários públicos para manutenção do monopólio no transporte intermunicipal; a segunda recai sobre as constituições de empresas com sócios - laranjas" visando preservar negócios com a Administração Pública ou ocultar/dissimular patrimônio.

[...]

Tratando-se de delitos de natureza permanente, como organização

criminosa e lavagem de dinheiro, as atividades criminosas ainda se

encontram em desenvolvimento,

motivo pelo qual "não há falar em

ausência de contemporaneidade do decreto preventivo"

(STJ, HC n° 519004/SC

(6)

- Relator: Min. Joel Ilan Paciornik - 11.11.2019).

No mesmo sentido, a reiteração delitiva, extraída do envolvimento

habitual em fatos ilícitos, constitui fator concreto que justifica a

custódia cautelar para a garantia da ordem pública (TJMT, Enunciado

Criminal 6).

Atente-se, ainda, que o investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, em

diálogo com o colaborador, demonstrou possuir conhecimento sobre o

curso da investigação e poderio econômico para interferir na colheita

de provas, pois inclusive manifestou intenção de promover

"levantamento" sobre a vida privada de membro do Ministério Público.

O c. STF firmou entendimento no sentido de que o risco de o acusado criar obstáculos para a produção probatória "é o bastante para a decretação da prisão preventiva, sob o

título da conveniência da instrução criminar" (HC n° 105614/RJ — Relator: Min. Ayres Britto — 10.6.2011).

Sob essa ótica, a constrição cautelar afigura-se necessária para impedir que novos crimes sejam praticados pelo investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, notadamente se sopesados o envolvimento reiterado em fraudes e delitos contra a Administração Pública.

[...]

Consigne-se, ainda, que a investigação recai sobre a prática de crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro (Lei n° 9.613/1998, art. 1°), corrupção ativa (CP. arts. 317) e fraude á licitação (Lei 8.666/93, art. 90), falsidade ideológica (CP, art. 299) e fraude a credores (Lei n° 11.101/2005, art. 168), os quais são punidos com pena privativa de liberdade superior a 4 (quatro) anos e admitem segregação preventiva (CPP, art. 313, I).

Isso posto, a segregação preventiva do investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO deve ser decretada para garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal (CPP, art. 312).

[...]

A reiteração delitiva indicada envolve a continuidade dos crimes imputados ao investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, de modo que a reedição das medidas cautelares alternativas em desfavor do investigado JÚLIO CÉSAR DE SALES LIMA se apresenta suficiente para alcançar o fim pretendido.[...]

Como se vê, e embora o decreto prisional esteja muito arrimado em meras

afirmativas da autoridade policial, sua fundamentação, ao menos nesse juízo inicial, deve

ser considerada idônea, com esteio na participação do paciente em complexa

organização criminosa, recaindo a investigação "Operação Rota Final" "sobre a prática

de crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro (Lei n° 9.613/1998,

art. 1°), corrupção ativa (CP. arts. 317) e fraude à licitação (Lei 8.666/93, art. 90),

falsidade ideológica (CP, art. 299) e fraude a credores (Lei n° 11.101/2005, art.

168)"

, noticiando-se que "[o]s elementos de convicção produzidos indicam

possível formação de grupo criminoso, que detém o monopólio do mercado

estadual de transporte intermunicipal de passageiros, e age deliberadamente

(7)

com o propósito de frustrar a concorrência pública deflagrada, para implementar

o "Novo Sistema de Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de

Passageiros do Estado de Mato Grosso STCRIP/MT", em concessões dos

serviços, por pelo menos duas décadas"

.

Ademais, extrai-se do decisum acima, que o paciente, dado como líder

da respectiva facção, "teria buscado dificultar a investigação criminal, ocultado

patrimônio das empresas, transferido bens para pessoas físicas/jurídicas,

omitido a empresa Ipê Transportes Rodoviários EIRELI no pedido de

recuperação judicial e ameaçado o promotor de Justiça Ezequiel Borges de

Campos"

, acrescendo-se que "não cessou a prática delitiva mesmo após terem

sido aplicadas medidas cautelares em seu desfavor, tampouco tem cumprido as

medidas restritivas outrora deferidas, visto que continuaria arregimentando

terceiras pessoas para a continuidade das atividades ilícitas praticadas pela

organização criminosa, por ele liderada"

, não se apresentando, espontaneamente,

até a data de 18/5/2021, ao cumprimento do mandado em comento (fl. 222).

Justifica a prisão preventiva o fato de o acusado integrar organização criminosa,

em razão da garantia da ordem pública, quanto mais diante da complexidade dessa

organização, evidenciada no número de integrantes e presença de diversas frentes de

atuação. Nesse sentido: RHC n. 46.094/MG – 6ª T. – unânime - Rel. Min. Sebastião Reis

Júnior - DJe 4/8/2014; RHC n. 47242/RS – 5ª T. – unânime – Rel. Min. Moura Ribeiro – DJe

10/6/2014; RHC n. 46341/MS – 5ª T. – unânime – Rel. Min. Laurita Vaz – DJe 11/6/2014;

RHC n. 48067/ES – 5ª T. – unânime – Rel. Min. Regina Helena Costa – DJe 18/6/2014.

Igual posicionamento se verifica no Supremo Tribunal Federal, v.g.: AgRg no HC

n. 121622/PE – 2ª T. – unânime – Rel. Min. Celso de Mello – DJe 30/4/2014; RHC n.

122094/DF – 1ª T. – unânime – Rel. Min. Luiz Fux – DJe 4/6/2014; HC n. 115462/RR – 2ª

T. – unânime – Rel. Min. Ricardo Lewandowski – DJe 23/4/2013.

Ressalte-se, outrossim, que o descumprimento de medidas cautelares, impostas

para a concessão da liberdade provisória, pode justificar a custódia cautelar (RHC n.

49.126/MG - 6ª T. - unânime - Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura - DJe 26/09/2014;

HC n. 281.472/MG - 5ª T. - unânime - Rel. Min. Jorge Mussi - DJe 18/06/2014; HC n.

269.431/GO - 6ª T. - unânime - Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, DJe 11/04/2014; e HC n.

275.590/BA - 5ª T. - unânime - Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 26/02/2014), embora isso

somente deva ocorrer em último caso, como estabelece a lei (art. 282, § 4 - CPP).

De igual modo, mostra-se incabível o exame da questão referente à não

ocorrência do descumprimento das medidas cautelares, porquanto demandaria

revolvimento de prova, insuscetível nesta via, a menos que haja demonstração

documental.

Consigne-se, ainda, que este Tribunal tem dado pela existência de fundamentos

concretos quando a prisão se deu em razão das ameaças dirigidas às testemunhas,

vítimas ou outras pessoas chamadas ao processo. Nesse sentido: RHC 68.460/DF, Rel.

(8)

Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 12/04/2016, DJe 18/04/2016; HC

345.657/ES, Rel. Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO

TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 19/04/2016; RHC 57.614/ES, Rel.

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe

28/03/2016; RHC 67.170/AM, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em

10/03/2016, DJe 17/03/2016; HC 346.926/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA

TURMA, julgado em 12/04/2016, DJe 19/04/2016.

Ademais, havendo a indicação de fundamentos concretos para justificar a

custódia cautelar, não se revela cabível a aplicação de medidas cautelares alternativas à

prisão, visto que insuficientes para resguardar a ordem pública. A esse respeito: HC n.

325.754/RS – 5ª T. – unânime – Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador

convocado do TJ/PE) – DJe 11/09/2015 e HC n. 313.977/AL – 6ª T. – unânime – Rel. Min.

Maria Thereza de Assis Moura – DJe 16/03/2015.

Acerca da ausência de contemporaneidade da medida extrema, destacou o

Tribunal local que "[a] constância dessas atividades ilícitas são anteriores ao início

das investigações [2017] e perdura até os dias atuais [2021], pois o investigado

ÉDER AUGUSTO PINHEIRO continua, em tese, a articular/custear o grupo

criminoso, simular transações comerciais e a promover fraudes que refletem em

processos de execução tributária e recuperação judicial, em curso no Poder

Judiciário do Estado de Mato Grosso, mesmo após ter sido preso

temporariamente e estar vinculado ao cumprimento de medidas cautelares

alternativas, tendo plena ciência do procedimento investigatório instaurado"

,

atentando-se, ainda, "que o investigado ÉDER AUGUSTO PINHEIRO, em diálogo

com o colaborador, demonstrou possuir conhecimento sobre o curso da

investigação e poderio econômico para interferir na colheita de provas, pois

inclusive manifestou intenção de promover 'levantamento' sobre a vida privada

de membro do Ministério Público"

.

Uma vez que a prática de atividades ilícitas, por parte do paciente, perduraria até

os dias atuais, não há falar-se, ao menos nesse juízo prévio, em ausência de

contemporaneidade da custódia em apreço, haja vista que, mesmo após a substituição

da prisão temporária por outras medidas cautelares, teria o paciente dificultado as

investigações, seja ocultando o seu patrimônio, ou nomeando laranjas para integrarem

quadros societários de empresas, ao menos pelo discurso da decisão objurgada.

Portanto, não se trata apenas de uma decretação de prisão preventiva pelo fato

de o paciente não se apresentar à autoridade policial, mas sim por fatos graves que,

concretamente, justificam a custódia cautelar, pelo menos em um juízo liminar.

Por fim, a crise mundial da Covid-19 trouxe uma realidade diferenciada de

preocupação com a saúde do País, e faz ver como o aprisionamento, a concentração

excessiva, a dificuldade de higiene e as deficiências de alimentação natural ao sistema

prisional acarretam maior risco às pessoas em condições vulneráveis de saúde.

(9)

Nesse momento, configurado o gravíssimo risco à saúde, o balanceamento dos

riscos sociais frente ao cidadão merece diferenciada compreensão.

No entanto, a situação do paciente, em virtude do risco de contaminação pela

Covid-19, ao que se tem nos autos, não foi apreciada pela instância ordinária até a

presente impetração, além de não serem apresentados elementos concretos sobre esse

risco, o que inviabiliza a análise da matéria nesta sede sob pena de indevida supressão de

instância.

Além disso, o próprio impetrante informa que o "paciente ainda não se

apresentou para o cumprimento do decreto, tendo em vista o evidente caráter

ilegal da medida e, principalmente, por entender que se trata de perseguição

pessoal e injustificada

", ou seja, não sofre nenhum risco de contaminação da Covid-

19.

Nesse contexto, indefiro a liminar. Solicitem-se informações ao Tribunal de

origem, a ser prestadas, preferencialmente, pela Central do Processo Eletrônico – CPE do

STJ.

Após, ao Ministério Público Federal para manifestação.

Publique-se.

Intimem-se.

Brasília, 02 de junho de 2021.

OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO)

Relator

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