• Nenhum resultado encontrado

A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA EM LONDRINA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA EM LONDRINA"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA EM LONDRINA

Imairô Salete DALLA COSTA∗ Resumo

Este trabalho tem por objetivo discutir a participação das mulheres no programa de transferência de renda em Londrina -Pr, a partir do entendimento da importância dessa discussão, uma vez que são as mulheres, tanto na formulação, quanto na execução a responsável pela família, uma vez que a mesma se constitui enquanto responsável pelo recebimento do beneficio, e o cumprimento das atividades propostas por estes programas. Para tanto, trata inicialmente do programa de transferência de renda em Londrina, seus objetivos e como ele é executado. Posteriormente, apresenta a importância dos programas incorporarem a perspectiva de gênero, outro aspecto apontado é a crescente feminização da pobreza, ou seja, o aumento significativo de mulheres em situação de pobreza chefes de família e o rebate de tal fenômeno nos programas, o que também acarreta maior eficácia dos mesmos, partindo da premissa de que as mulheres são mais confiáveis na utilização do recurso. Por fim apresenta a discussão sobre cidadania, com embasamento de teóricas feministas que apontam desde o surgimento da concepção de cidadania que já excluiu as mulheres em sua formulação, até aspectos que sejam necessários para serem incorporados para a inclusão das mulheres.

Palavras Chaves: perspectiva de gênero, cidadania ativa e transferência de renda.

Introdução

O presente estudo faz parte do trabalho de minha de dissertação de mestrado, intitulada “A participação das mulheres no programa de transferência de renda em Londrina”, que tem por objetivo identificar e analisar as mudanças ocorridas na vida das mulheres, a partir da inserção no Programa de Transferência de Renda - Bolsa Escola Municipal no município de Londrina, numa perspectiva de gênero.

O Programa de Transferência de Renda municipal em Londrina atende atualmente 2100 famílias e engloba várias modalidades: Bolsa Escola Municipal; Bolsa

(2)

Auxílio para a Pessoa Idosa; Bolsa Auxílio para a Pessoa com Deficiência; Bolsa Família Acolhedora; Bolsa Auxílio para Adolescente e em parceria com o Governo Federal o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI. Cada modalidade tem seu público alvo específico, mas todos atendem pessoas/ famílias que tenham per capta inferior a meio salário mínimo.

O Programa Renda Mínima - Bolsa Escola, implantado em 2001, atende cerca de 1570 famílias com o repasse de subsídio financeiro no valor de R$ 100,00 mensais. O programa não se restringe somente ao repasse do subsídio, há também uma série de outras atividades que envolvem ações das várias políticas públicas, bem como orientação e apoio sócio familiar. Consiste como objetivo geral do Programa “proporcionar condições para melhoria da qualidade de vida das famílias e inserção de crianças e adolescentes na rede de ensino, visando sua emancipação e autonomia, através de ações integradas das políticas públicas” (LONDRINA, 2001 p.10). Tal afirmação se fundamenta na perspectiva de que não é somente o repasse do subsídio financeiro que permitirá a superação da condição de pobreza dessas famílias.

Entre as atividades desenvolvidas com estas famílias, a Secretaria Municipal de Assistência Social, por meio dos CRAS - Centro Regional de Assistência Social, realiza o acompanhamento sócio-familiar descentralizado, ou seja, no próprio bairro de residência da família. No qual, são realizados grupos sócio-educativos, onde são discutidos temas do cotidiano vivenciado por elas de forma a incentivar sua participação e discussão dos direitos, realização de visitas domiciliares e atendimentos individuais, conforme a demanda e necessidade de cada família.

O Programa Bolsa-Escola tem como um de seus princípios o enfoque de direitos, fundamentado nas legislações que garantem os direitos sociais, entre elas a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica da Assistência Social e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Faz parte do trabalho sócio-educativo a discussão dos direitos e deveres contidos nessas leis, bem como “o exercício da cidadania, através do acesso a esses direitos” (LONDRINA, 2001 p.9).

(3)

de exclusão faz parte do cotidiano das mulheres, esse fenômeno denominado feminização da pobreza, ou seja, um número crescente de famílias no qual a mulher é a provedora e responsável pela família. Segundo Soares (2003a), não são somente fatores econômicos que contribuem para essa feminização da pobreza, mas também “a rigidez das funções que a sociedade designa às mulheres e seu limitado acesso ao poder, à educação, à capacitação e aos recursos produtivos” (SOARES, 2003a p. 73), como também novos fatores que ocasionam inseguranças para as famílias.

A autora, com base na Declaração Final da Conferência de Beijing de 1995, coloca como causas para estes fatores, “a recessão econômica generalizada e a instabilidade política em algumas regiões, o que provocou o aumento da pobreza ate limites indescritíveis” (Soares apud ONU, 2003a p. 74). Outro fator relevante o aumento do desemprego e do subemprego que é causado pelo “rápido processo de mudança e ajuste em todos os setores”. E também, em outros casos, os programas de ajuste estrutural não foram pensados para que os efeitos negativos se reduzissem ao máximo para os grupos vulneráveis e desfavorecidos ou as mulheres, “nem com vistas a favorecer esses grupos e tratar de evitar que ficassem à margem das atividades sociais e econômicas” (Soares apud ONU, 2003a p. 74).

Outro argumento utilizado pela autora se fundamenta na ausência, em grande parte do processo de elaboração de políticas das instituições multilaterais, da participação da mulher e as considerações de gênero. Tais instituições definem e estabelecem, em cooperação com os governos, as metas dos programas de ajuste estrutural e dos empréstimos e subvenções (Soares, 2003a p. 74), levando em consideração o aspecto econômico, em detrimento os interesses da população.

A autora destaca outro aspecto presente no documento de Beijing, que critica o fato de que não se tenha integrado nas análises econômicas e no planejamento econômico “uma perspectiva de gênero e que não se tenham abordado as causas estruturais da pobreza” (Soares, 2003a p. 74). O que reforça a importância das políticas incorporarem em sua formulação e execução a perspectiva de gênero.

Mesmo que a pobreza afete as famílias em geral, e devido a divisão do trabalho sobre a base de gênero e as responsabilidades referentes ao bem-estar familiar,

(4)

(Soares, 2003a p. 74) "as mulheres suportam uma carga desproporcional ao tratar de administrar o consumo e a produção da família em condições de crescente escassez”. Portanto, a mulher que se encontra em situação de extrema pobreza, ainda encara a jornada extensa, de trabalho, na sua maioria informais como de diarista, catadora de papel, na tentativa de minimizar a fome de seus filhos, e cuida da casa e da família. Além disso, é ela que no cuidado com os filhos é chamada a se relacionar com os serviços públicos como escola, postos de saúde entre outros.

De maneira geral, os programas de enfrentamento à pobreza têm como premissa o repasse do benefício para as mulheres, em virtude da confiabilidade das mesmas, acarretando maior eficácia dos programas.

Constatamos um número significante de participação das mulheres nas atividades do Programa de Renda Mínima, em virtude da atuação profissional junto ao Programa, no qual a ação técnica se dá no trabalho desenvolvido junto às famílias beneficiadas, por meio do CRAS, no qual foi possível identificar que a participação nas atividades propostas estão mais voltadas para as mulheres, ou seja, são elas que cumprem com as determinações do programa. Entre as atividades desenvolvidas estão, a inclusão no Programa, que é realizada prioritariamente em nome da mãe/ mulher, a freqüência nos grupos sócio-educativos realizados mensalmente, encaminhamentos a outros serviços, acompanhamento da freqüência e nas atividades referentes à escola dos filhos.

No Programa Bolsa Escola, o número de famílias chefiadas por mulheres é superior à média nacional de 25%. Segundo dados da pesquisa realizada nos cadastros das 450 famílias inseridas em 2001 esse índice é de 38,25%.

Identificamos que a participação nas atividades dos programas acaba sendo de responsabilidade da mulher, tal afirmação está embasada em argumentos do porque da mulher ser a principal responsável na família, especificamente as que estão em situação de pobreza, pois é alto o índice de famílias chefiadas por mulheres que vivem nesta situação.

Tradicionalmente quem procura os serviços sociais é a mulher, devido à responsabilidade pela família, e também na maioria dos programas a beneficiária é a

(5)

mulher, mesmo que em sua formulação esteja voltada para atenção à família. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 2002 cerca de 29% das famílias brasileiras tem como pessoa de referência a mulher, ou seja, da década passada até 2002 houve um crescimento de 30% da participação da mulher como pessoa de referência da família (BRASIL, 2004 p.11). Tal índice reforça a afirmação da responsabilização da mulher pela família.

Identificamos que as relações de gênero perpassam estes programas, uma vez que as mulheres, na grande maioria são as beneficiárias, e a discriminação, a desigualdade, marcadas pelas condições econômicas, acopladas as desigualdades de classe e raça/ etnia, constituem-se enquanto desigualdade de gênero.

Diante desse panorama da situação vivenciada pelas mulheres, consideramos importante introduzirmos a noção de cidadania ativa a partir de Hannah Arendt. Assim neste trabalho pretendemos discutir a perspectiva da cidadania ativa a partir de teóricas feministas, e o respaldo para o debate da participação das mulheres.

A partir da década de 1980, essa noção emerge como um esforço para “indicar alguns parâmetros do campo teórico e político” (DAGNINO, 1994 p. 103).

A autora destaca também que a cidadania tem

[...] o seu caráter de estratégia política, o fato de que ela expressa e responde hoje a um conjunto de interesses, desejos e aspirações de uma parte sem dúvida significativa da sociedade, mas que certamente não se confunde com toda a sociedade. (Dagnino, 1994 p. 103)

Ao afirmar a cidadania enquanto estratégia, a autora quer ressaltar o sentido de sua construção histórica, que se define por “interesses concretos e práticas concretas de luta e pela contínua transformação” (Dagnino, 1994 p. 107). Ou seja, não há uma essência única nesse conceito de cidadania,

[...] seu conteúdo e significado não são universais, não estão definidos e delimitados previamente, mas respondem à dinâmica dos conflitos reais, tais como vividos pela sociedade num determinado momento histórico. Esse conteúdo e significado, portanto, serão sempre definidos pela luta política. (Dagnino, 1994 p. 103)

(6)

Reforçando o sentido de construção da cidadania como luta, conquista, Vargas (2000), argumenta que a cidadania “aparece, agora mesmo, como terreno de disputa, por seu caráter restringido, parcial, excludente, assim como pelas tentativas e os excluídos de pressionar e negociar a inclusão. Ao fazê-lo, pareceria que estão requalificando e democratizando o conteúdo dessa inclusão” (Vargas, 2000 p.173).

Essa nova noção de cidadania deriva da experiência dos movimentos sociais urbanos, pois segundo (DAGNINO, 1994), a cidadania está entrelaçada com o acesso à cidade, e também, dos movimentos de mulheres, negros, homossexuais, ecológicos, entre outros. No interior desses movimentos sociais, há o alicerce para a emergência dessa nova noção de cidadania que segundo a autora, é “a luta por direitos, - tanto o direito à igualdade como o direito à diferença” (DAGNINO, 1994 p. 104).

Neste contexto, se insere a reflexão sobre a cidadania feminista, já que as mulheres foram historicamente colocadas à margem da própria construção da cidadania, e do seu exercício. E é no bojo da crítica à concepção liberal, e da construção de uma cidadania ativa, que se insere o debate teórico das pesquisadoras feministas. Neste sentido, entendemos que para o desenvolvimento do estudo, pautaremos a discussão em autoras que trabalham nesta perspectiva que são: SARACENO (1995), VARGAS (2000), SOARES (2003b), entre outras.

Vargas (2000), afirma que há mudanças significativas para as mulheres, marcando a trajetória da cidadania.

Alguns fenômenos sócio políticos e econômicos tem dado um terreno complexo porém mais propício para a abertura dos interesses cidadãos das mulheres. Entre eles, o mais significativo é o processo de globalização que por sua vez tem desencadeado múltiplos fenômenos, com efeitos ambivalentes. (Vargas, 2000 p.172)

Entre os fenômenos citados pela autora, estão as transformações ocorridas no “plano econômico (a raiz da reestruturação da economia mundial desde um modelo que

(7)

privilegia o mercado, desprotegido aos cidadãos, gerando maior exclusão social em todos os níveis)” (Vargas, 2000 p.172). Outro efeito citado pela autora está “no debilitamento do Estado como ente direcional da sociedade”. Contudo esse processo

[...] tem permitido desdobrar - desde o avanço tecnológico e eletrônico das comunicações a nível global - uma inédita e rica dinâmica de conexão e articulação do local com a global e vice versa. Um dos efeitos desta nova dinâmica esta sendo a ampliação dos conteúdos das sociedades civis nacionais e internacionais assim como a ampliação das bases cidadãs para homens e mulheres. (Vargas, 2000 p.172)

Já Saraceno (1995), chama a atenção para a exclusão das mulheres na concepção inicial de cidadania. Essa exclusão é devida tanto aos “interesses da comunidade familiar, como também da sua diferença em relação aos ‘iguais’ - os homens” (Saraceno, 1995 p. 207).

Fundamentada em cientistas e filósofos da política, a autora argumenta que essa diferença em relação aos “homens-cidadãos” foi construída política e simbolicamente com a noção de cidadania desde sua origem. Uma vez que as ‘necessidades’ das mulheres foram definidas como um limite para a capacidade de cidadania e demoraram em serem reconhecidos como direitos individuais, já os ‘deveres’ foram utilizados como razão da sua exclusão da cidadania. (Saraceno, 1995)

Uma das dificuldades da posterior inclusão das mulheres na concepção da cidadania está relacionada ao início, pois construiu as mulheres como não-cidadãs, ou seja, as construía como esposa e mãe de cidadãos e como sujeitos familiares e responsáveis pela família. Para a autora, “a família, que é o âmbito primário da reprodução social também como reprodução das desigualdades, constitui uma questão problemática para as teorias da cidadania” (Saraceno, 1995 p. 207). Uma ‘solução’, como coloca a autora,

[...] foi considerar a família ‘base natural’ da existência masculina, dos cidadãos-homens que se encontram e negociam livremente entre si na sociedade civil, e ao mesmo tempo ocultar as diferenças internas numa unidade hierarquicamente construída por meio da exclusão dos direitos civis e políticos de todos aqueles que, na família, não coincidem com o chefe de família: esposas e filhos dependentes (Saraceno, 1995 p. 208).

(8)

A autora aponta como ‘causa’ da incapacidade das mulheres de serem cidadãs, o fato de pertencer a família pelo casamento e a responsabilidade de gerar filhos, o que torna dependente do marido. Mulheres não são portadoras de interesses autônomos, mas sim dos da família definidos a partir dos interesses e poderes dos maridos-cidadãos, são as relações privadas que lhes negam o estatuto de cidadãs. (Saraceno, 1995).

Soares (2003b) uma autora feminista que também discute o conceito de cidadania, apresenta sua concepção fundamentada em Castell (1998), de que os direitos são construídos, “considerando as relações entre os indivíduos, a coletividade e o Estado, no contexto da construção da sociedade salarial” (Soares, 2003b p.89).

Tal discussão perpassa, “situando a cidadania como um estado em que os indivíduos se sentem e se percebem como pertencentes à vida pública, como uma orientação de princípios e, principalmente como produtora do espaço da convivência civil.” (Soares, 2003b p.89) Tal discussão teve início no pós Segunda Guerra Mundial, tendo relevância atualmente face à realidade brasileira.

Outra afirmação da autora é que “o conceito de cidadania permite pensar a relação entre a sociedade civil e o Estado e a necessidade social que gera a afirmação dos direitos [...] A cidadania pode ser interpretada como uma nova forma de regulação social, mais especialmente de convivência civil.” (Soares, 2003b p.90)

A autora apresenta a perspectiva histórica segundo Marshall (apud Soares, 2003b p.90), que destaca três períodos e três tipos de cidadania. Sua discussão fundamenta-se “sobre o problema da igualdade social” (Soares, 2003b p.90). Como conseqüência, examina a relação entre cidadania e desigualdade social.

Outro aspecto defendido pela mesma, também defendido pela literatura feminista, que sugere o abandono da cronologia, apresentada por vários autores, referente a formação dos direitos civis, políticos e sociais, “para evidenciar a possível e difícil congruência e a resolução das tensões entre esses direitos” (Soares, 2003b p.91).

Diante disso, a autora descreve a concepção da cidadania fragilizada, que segundo ela

(9)

A cidadania fragilizada e as tensões da cidadania social das mulheres são de difícil resolução, porque as separações entre o público e o privado, a divisão sexual do trabalho e as relações de gênero têm forjado uma divisão de papéis e uma simbologia cultural que restringem a atuação das mulheres à unidade familiar, naturalizando aí sua atuação. Com essa manutenção oferece-se ainda a elas, e só a elas, um modelo de cidadania social, de cidadania no mundo do trabalho e no mundo da política cujas referências não lhes permitem ainda uma relativa autonomia em relação à família. (Soares, 2003b p.91).

Ao afirmar que “os direitos não são iguais para todas as pessoas” (Soares, 2003b p.91), a autora expõe a crítica à concepção de direitos de Marshall (apud Soares, 2003b p.91), pois para esse autor a “cidadania é um pacote de direitos iguais para todos”. Pois ao analisar a situação das mulheres, bem como de outros grupos, fica claro que esta visão simplista não contempla a complexidade da questão e torna mais evidente a necessidade da articulação entre a questão de estar incluído ou excluído e a da qualidade e especificidade dos direitos.

A construção dos direitos das mulheres desde seu início, reforça as assimetrias de gênero, pois segundo (Soares, 2003b p.93)

[...] repetem as disparidades do mundo do trabalho. Nesse caso, não estamos visualizando os fenômenos de marginalidade ou simplesmente de acesso parcial das mulheres aos direitos, mas o modo como estes são definidos e garantidos - apoiando-se sobre a família, os vínculos de parentesco, as experiências de vida familiar -, e expressam uma imagem própria das relações entre homens e mulheres nas diferentes participações sociais, como no trabalho e na política.

Referente aos direitos sociais as diferenças entre mulheres e homens, como aponta a autora, com base em estudos e pesquisas nessa área, está relacionada à redistribuição de espécie monetária.

Esta se espelha no percurso individual de trabalho de cada indivíduo, na divisão de trabalho e de responsabilidades específica entre os sexos. O direito social das mulheres e as medidas redistributivas, de renda, por exemplo, estão vinculados a uma dupla modalidade de acesso - a posição ocupacional delas e a dos maridos. Mais ainda, esse vínculo familiar referente à renda pode originar uma sucessiva diferenciação interna entre as mulheres: as viúvas, as separadas, as divorciadas, as mães solteiras. (Soares, 2003b p.93).

(10)

Contribuindo para tornar precária a cidadania das mulheres, “a construção social de gênero, como estrutura simbólica e também de expectativas sociais e individuais, que torna precária a cidadania das mulheres: a dupla função que elas exercem é fonte parcial do estatuto de cidadania” (Soares, 2003b p.94). A partir dessa reflexão a autora chega a conclusão de

[...] que a ‘cidadania fragilizada’ das mulheres é fruto de um duplo contexto: de um lado, estão as menores dotações sociais que elas acumulam ao longo de sua experiência e, de outro, o fato de que as regras e as organizações não pressupõem suportes para que se realizem os direitos. (Soares, 2003b p.95)

Fica claro na diferentes teorias feministas uma crítica à pretensa universalidade do pensamento político e da construção cidadã, o que acirra a discussão da participação das mulheres, e como afirma (Soares, 2003 p.96) “Essa universalidade tornou invisíveis as mulheres e todos os demais setores excluídos do modelo hegemônico (masculino, branco e trabalhador)”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2004.

DAGNINO, Evelina (org.). Anos 90: Política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.

GUZMÁN, Virginia. A equidade de gênero como tema de debate e de políticas públicas. In: FARIA, N, SILVEIRA, M. L. e NOBRE M. (orgs.) Gênero nas Políticas Públicas. São Paulo : SOF (Sempreviva Organização Feminista), 2000. (Coleção

(11)

Cadernos Sempreviva).

LONDRINA, Prefeitura Municipal. Programa Bolsa Escola Municipal. Londrina, Março 2001.

SARACENO, Chiara , A dependência construída e a interdependência negada. Estruturas de gênero da cidadania. In: BONACCHI, G. e GROPPI, A (orgs.) O dilema da cidadania: direitos e deveres das mulheres. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995.

SOARES, Laura Tavares. O desastre social. Rio de Janeiro: Record, 2003a. SOARES, Vera. A construção da cidadania fragilizada da mulher. In: EMILIO, M., TEIXEIRA, M., NOBRE M., GODINHO, T., (orgs) Trabalho e cidadania ativa para as mulheres: desafios para a política pública. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2003b.

VARGAS, Virginia V. Una reflexion feminista de la ciudadanía. In: Revista Estudos Feministas. Florianópolis SC: Universidade Federal de Santa Catarina, vol.8 n 2/2000.

Referências

Documentos relacionados

No Brasil continua-se desrespeitando o meio ambiente, principalmente em relação à flora que é destruída pelas queimadas, pelo corte seletivo de árvores, pela expansão das

publicação em que Machado de Assis estava inserido, as formulações originais de suas obras e as condições e disposições do regime de produção oferecido pela interação entre

Foi membro da Comissão Instaladora do Instituto Universitário de Évora e viria a exercer muitos outros cargos de relevo na Universidade de Évora, nomeadamente, o de Pró-reitor (1976-

E para opinar sobre a relação entre linguagem e cognição, Silva (2004) nos traz uma importante contribuição sobre o fenômeno, assegurando que a linguagem é parte constitutiva

Essa estratégia orienta a descentralização em administrações regionais, a formação dos gestores escolares – para se verem como agentes de ações intersetoriais – ,

(...) o controle da convencionalidade em sede internacional seria um mecanismo processual que a Corte Interamericana de Direitos Humanos teria para averiguar se o direito

Em que pese ausência de perícia médica judicial, cabe frisar que o julgador não está adstrito apenas à prova técnica para formar a sua convicção, podendo

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados