UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
O DISCURSO DO PROFESSOR SOBRE A SUA PRÁTICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO INFANTIL ABRÃO RODRIGUES NETONatal
2008
SUMÁRIO
1 RESUMO... 03 2 – INTRODUÇÃO... 04 3 JUSTIFICATIVA 07 4 QUESTÂO DE PESQUISA 08 5 – OBJETIVO GERAL 08 5.1 OBJETIVOS ESPECIFICOS 08 6 PERCURSO METODOLÓGICO... 09 7 RESULTADO...10 8 CONCLUSÕES/SUGESTÕES...13 9 REFERÊNCIAS... 14RESUMO : O objetivo desta pesquisa é investigar as coerências / incoerências entre o discurso e pratica de professores no processo de alfabetização das crianças, na fase inicial da aquisição da escrita. É sabido que alguns professores teorizam sobre métodos e materiais, porém não os utilizam, de fato, em sala de aulas. Consideremos importante observar teoria e prática, no que se refere a métodos e materiais envolvidos nesse processo de aprendizagem, por interferir diretamente no desenvolvimento do trabalho dos professores e na aquisição de conhecimento por parte dos alunos. Para tal, o estudo foi dividido em dois momentos: o primeiro, envolvendo uma entrevista com uma professora da escola; o segundo, observando a professora em sua sala de aula composta por crianças entre dois e três anos. Instituição observada foi uma préescola pública, a qual se fundamenta no método construtivista. Os resultados indicam que houve total coerência entre o discurso da professora investigada sobre sua prática de ensino e o papel que ela desempenhou em sua sala de aula. PALAVRA CHAVE: Alfabetização, coerências e incoerências
INTRODUÇÃO O desenvolvimento mental dos alunos na escola primária é o principal fator no que diz respeito ao processo de alfabetização. É preciso lembrar que todas as crianças possuem uma grande potencialidade para adquirir a escrita e a leitura. Esta capacidade biológica é uma condição necessária, mas não suficiente, para ler ou escrever um livro. Pensase que as crianças, não só possuem predisposições inatas específicas vinculadas a aprender só a escrever e a ler, como também para outros domínios cognitivos. O desenvolvimento da escrita é, em si mesmo, um processo mais dinâmico de interação entre a mente e o meio, pois a escrita não constitui apenas uma ocasião para pensar, mas um meio para pensar. A escrita funciona como um acessório para a memória a curto e longo prazo, suprimindo a necessidade da pessoa conservar todos os dados em sua mente. É provável que nas salas de aulas iniciais ou do primeiro grau encontremos crianças com pouca familiaridade na linguagem escrita. Dessa forma, tornamse importantes a leitura em família, a história antes de dormir, relatos de situações vividas no momento da refeição, as quais possibilitam um acesso diferente à palavra. Assim se desperta o desejo de ler e escrever. Se a professora puder vivenciar e refletir sobre determinadas situações e conceituar a sistematização dos conteúdos debatidos e apreendidos, poderá assegurarse de que tais
processos sejam cumpridos cotidianamente com as crianças. E para que tudo isso seja possível deve haver um projeto educacional.
A alfabetização é o primeiro passo fundamental para a formação de cidadãos críticos, para que possam não apenas ter acesso às informações que circulam em quantidade assustadora no mundo atual dominado pela tecnologia, mas também saber como transformálas em conhecimento. De acordo com Morin (2003), essa transformação significa integrar as novas informações ao conjunto de informações que cada indivíduo já possui, auxiliandoos a repensar e a reformular suas concepções e crenças. Segundo Kramer (2001, p.12) “assegurar alfabetização, leitura e escrita precisa ser parte de um projeto de sociedade que visa democracia e justiça social”. Embora a alfabetização seja um processo contínuo que pode prolongarse por toda a vida, Soares (1985) diz que é preciso destacar nele um momento inicial, de aquisição, que, geralmente, ocorre na escola por volta dos seis ou sete anos, e momentos posteriores de desenvolvimento. Para Soares, a preocupação está voltada para esse momento inicial do processo, focalizando aquele contingente de crianças que não conseguem apreender a complicada relação entre a linguagem oral e sua representação escrita. No contexto escolar atual, a maioria das escolas do ensino fundamental possui os chamados programas de reforço escolar, geralmente tentativas bem intencionadas de fazer com que os alunos com dificuldades consigam “alcançar” seus colegas. No entanto, o que ocorre nesses programas de reforço, é o retorno da criança à escola em outro período para ser exposta a uma repetição da metodologia utilizada no período regular, que não estava surtindo os efeitos desejados. Ainda de acordo com Soares (1985), a questão metodológica merece mais algumas considerações, uma vez que nos parece estar aí uma resposta parcial a algumas das dificuldades encontradas. A maioria das escolas do ensino fundamental procura alfabetizar utilizando uma metodologia baseada em parâmetros construtivistas incentivada, de certa forma, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) que valorizam práticas de alfabetização baseadas nessa abordagem. Nessa concepção, segundo Coll (1998), o papel do professor é auxiliar o aluno a integrar novos saberes aos conhecimentos que ele já possui, transformando o ensino num processo conjunto, compartilhado, de construção do conhecimento.
Ainda nessa vertente, é preciso apontar o papel inegável das pesquisas de Ferreiro (1985), Ferreiro e Teberosky (1991), e Teberosky (1994) entre outros, no sentido de oferecer aos professores uma maior compreensão do processo de aquisição da linguagem escrita, auxiliandoos a entenderem melhor as etapas pelas quais as crianças passam. Embora existam algumas obras teóricaspráticas orientando o trabalho do professor nessa perspectiva, como, por exemplo, as de Grossi (1990) e Pausas (2004), é preciso apontar alguns problemas na implementação de propostas construtivistas em nossas escolas, uma vez que essa abordagem exige do professor um conjunto de conhecimentos que lhe permita fundamentar a sua intervenção no processo de aprendizagem do aluno, não havendo muitas certezas nesse caminhar pedagógico. O valor teórico exagerado atribuído ao construtivismo entre nós e, sobretudo, à psicogênese da língua escrita, tornou muitas pessoas cegas para outras alternativas e preconceituosas em relação às criticas.
JUSTIFICATIVA
É recente a tomada de consciência sobre a importância da alfabetização inicial como a única solução real para o problema da alfabetização remediativa de crianças, adolescentes e adultos.
Tradicionalmente, a alfabetização inicial é considerada em função da relação entre o método utilizado e o estado de “maturidade“ ou de “prontidão” da criança. Os dois pólos do processo de aprendizagem (quem ensina e quem aprende) têm sido caracterizados sem que se levar em conta o terceiro elemento da relação: a natureza do objeto de conhecimento envolvendo esta aprendizagem. Já que no alfabeto constam 23 letras que nos dão a oportunidade de escrever todas as palavras da língua portuguesa, é muito importante que a criança aprenda a conhecer o alfabeto no início da alfabetização porque o aluno precisa conhecer e identificar os nomes das letras.
Outro conhecimento a ser trabalhado é a da regra geral de que o nome de cada letra tem relação com pelo menos um dos “sons“ da fala que ele pode representar na escrita.
A palavra som é sempre usada, porém não é a palavra mais exata para falar daquilo que o alfabeto representa. Os elementos do alfabeto representam fonemas, isto é, unidades fonológicas abstratas que não correspondem, de forma estável, aos seguimentos sonoros particulares na fala. Por exemplo, o primeiro (a) da palavra cama não é igual ao primeiro (a) da palavra lata, ou seja, na palavra cama a letra (a) tem um som e em outra tem outro som. O fonema (a) não é apenas um som, mas uma “classe de sons”. O nome das letras, por exemplo, (bê, cê, dê, ê, efe, etc ) auxilia na leitura e na compreensão da grafia das letras. Como as crianças não aprendem espontaneamente, nem por si mesmas, aprendem reflexivamente porque alguém as põe em situação de pensar. Portanto, o professor é o protagonista ativo da aprendizagem de seus alunos, e tem um papel crucial no que diz respeito à utilização desses métodos e materiais que facilitam de qualquer forma a compreensão das crianças no inicio da alfabetização, isto é, sem dúvida, a razão principal da pesquisa.
QUESTÃO DE PESQUISA
Qual o discurso do professor sobre a sua prática no processo de alfabetização infantil?
OBJETIVO GERAL
Verificar, no contexto educacional de uma sala de aula duma escola pública, as coerências e incoerências entre o discurso e a prática do professor no processo de alfabetização das crianças.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Descrever, brevemente, o discurso do professor sobre sua prática na sala.
Fazer uma explicitação do discurso e a prática do professor (coerências e incoerências) na sala de aula.
PERCURSO METODOLOGICO
Para a concretização dos objetivos propostos recorremos ao percurso metodológico de natureza qualitativa, buscando investigar a coerência e incoerência entre o discurso e a prática utilizados pelo professor no processo de ensino da alfabetização inicial de crianças numa escola pública em Natal / RN.
A escola admite a entrada de crianças a partir de um ano e seis meses e estas só saem aos sete anos, após concluírem o primeiro ano do ensino fundamental. A organização das turmas e do espaço visa favorecer a segurança e a construção da autonomia das crianças. Tal organização implica na estruturação de turmas por faixa etária: T1 de um
ano e seis meses a três anos, T2 de três a quatro anos, T3 de quatro e cinco anos, T4 de cinco a seis anos e T5 de seis a sete anos, que corresponde ao primeiro ano do ensino fundamental. Há, na escola, uma rotina constituída por diferentes momentos rodas de conversa, hora de trabalho, lanche, parque, história, etc.
Cada sala de aula está constituída por 22 a 23 crianças, incluindo uma com deficiência, se for o caso, duas professoras e o período de aula tem uma duração de três horas (08h às 11h). Em cada uma das salas, os materiais estão disponíveis em locais que incitam a prática de determinadas atividades: canto de leitura, canto dos jogos, canto de fazdeconta, canto de arte, canto da roda, como também espaço delimitado nas paredes para deposição das produções das crianças – textos coletivos e imagens. É uma escola pública federal fundada em 1979. Resulta da unificação em janeiro de 1998, das ações desenvolvidas, até então, pelo núcleo educacional infantil e pela unidade educacional infantil, esta ultima, criada em 1990. É uma unidade suplementar vinculada administrativamente ao centro de ciências sociais aplicadas e, pedagogicamente, ao departamento de educação da UFRN. A pesquisa também envolveu a forma como o professor usa os métodos e os diferentes materiais para melhorar a compreensão das crianças. O trabalho foi realizado em dois momentos. No primeiro, foi feita uma entrevista com a professora da escola sobre a abordagem pedagógica utilizada, bem como aspectos relacionados ao número de alunos, métodos de avaliação e materiais utilizados. No segundo momento, o trabalho prosseguiu na sala de aula para analisar tudo o que recolhemos na conversa que tivemos com a professora. RESULTADOS Os resultados do primeiro momento da pesquisa englobam as observações obtidas a partir da entrevista feita com uma professora da escola. Segundo a mesma, tendo em conta as exigências do novo milênio no que diz respeito ao desenvolvimento do setor do ensino, a escola deixou de utilizar o método tradicional e passou a utilizar um outro mais moderno que é o da abordagem construtivista. Um dos exemplos desse método é o
língua portuguesa, separadas em pedaços de cartolina e na pesquisa que faz a criança desenvolver a sua mente por si mesmo. A abordagem trabalha com o papel ativo da criança no processo de elaboração do conhecimento. A escola dá a criança oportunidades de agir sobre o objeto de conhecimento, daí que o papel do professor é como um agente facilitador e desafiador dos seus conhecimentos.
Ainda, segundo a professora, a escola trabalha com temas de pesquisa que possibilitam às crianças, a construção de novas aptidões a partir de interesses do grupo nas diversas áreas de conhecimento, com uma abordagem interdisciplinar. Cada tema surge a partir do grupo de crianças, conjuntamente com os professores e passa a ser o fio condutor de todo o trabalho pedagógico realizado em sala. A fundamentação teórica segue os pressupostos de Vygotsky, Piaget e Emilia Ferreiro. É a professora quem afirma: − “O nosso processo de alfabetização é fundamentado na concepção pedogenético da escrita, segundo Emilia Ferreiro e Ana Teberosky”.
Ela continua a dizer que a avaliação nessa escola se apresenta como processo e também enquanto instrumento de regulação do olhar desses interlocutores sobre a questão da qualidade da escola seja no nível de aprendizagem de cada aluno e da turma em geral, seja na veiculação de um currículo que atenda às necessidades da criança inserida numa sociedade urbana e contemporânea. Os resultados do segundo momento da pesquisa foram obtidos a partir da observação feita em sala de aula. A escola usa diferentes tipos de materiais com sendo suporte por estes métodos: quadros, cartazes, mesas, quadros de prega, armários, álcool, TV, radio, DVD, lápis, farinha, marcadores, pincéis, tinta guache, pincéis de rolo, tampas de garrafas, pratos, copos, fotos, jogo de blocos, quebracabeça e jogos de memória, além de vários brinquedos que despertam o interesse das crianças. De acordo com o papel orientador das professoras, elas chegam na escola trinta minutos antes da hora normal da entrada, recebem as crianças no pátio e encaminham nas para a sala de aula. Dentro da sala, cada um deles já sabe que antes do inicio das aulas eles devem fazer um circulo, sentados no chão junto com as professoras. As aulas começam sempre com o canto de cumprimento de bom dia para cada um deles, incluindo as professoras e qualquer visitante. Na nossa observação, depois da canção de
cumprimento, a professora pediu a quatro ou cinco crianças que escolhessem uma canção para que elas cantassem em conjunto (– “Quem quer cantar uma música? (− “Eu, eu, eu, eu...” ). Como todos manifestaram interesse, a professora apontou alguns. Logo a seguir, a professora começou a levantar placas feitas de cartolina com o nome de cada um deles. Quando ela perguntou: – “De quem é esse nome?” O dono sem cerimônias respondeu é meu ele levantou pegando na placa e colocandoa no quadro de prega. A seguir, a professora pediu que contassem de um a cinco, depois conferiu se os alunos associaram os conhecimentos deles com a imagem visual da mão dela ao representar com os dedos uma certa quantidade de algarismos. A professora levantou as mãos, mostrando cinco, seis ou sete dedos e perguntou às crianças: − “Quantos dedos tem aqui ?” Algumas responderam corretamente e outras não.
Na etapa seguinte, a professora falou sobre a turma da Mônica e posteriormente entregou uma folha a cada um, dividida em seis quadros para fazerem o desenho das personagens da turma de Mônica, informando a eles que o desenho deveria ser feito dentro do quadro, não fora. Todos fizeram, conforme a professora havia pedido, porém dois deles não conseguiram atingir o objetivo. Quando terminaram foram todos para fora de sala lavar as mãos, segundo a orientação da professora. Chegara à hora do lanche, a distribuição foi boa e bem controlada pela professora. Às nove horas e quinze minutos, era o momento de intervalo que duraria até nove e trinta. Para despertarlhes o interesse em assistir TV, a professora fez uma motivação fantástica que conseguiu reunir todas as crianças no mesmo lugar, colocando um DVD e, enquanto o filme passava, ela ficava a explicarlhes a história da turma da Mônica.
Quando terminou o intervalo, houve o tempo de repouso. Todos entraram na sala e deitaramse no chão. Depois a professora colocou músicas para eles e em seguida prosseguiu a história do livro. Após tais procedimentos pedagógicos houve ainda a utilização de farinha, na qual trabalha a criatividade das crianças.
Por último, a atividade final, que consistiu na entrega de folhas de papel, pela professora, com o nome Mônica escrito, mas de forma recortada para que os alunos
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Levando em conta a importância que a escrita tem no desenvolvimento mental da criança, descobrimos que ninguém pode ser considerado inteligente, em termos acadêmicos, sem ter passado pela escrita e pela sala de aula. Aí que entra o grande valor da alfabetização inicial.
Houve total coerência entre o discurso da professora investigada sobre sua prática de ensino e o papel que ela desempenhou em sua sala de aula.
A sala de aula investigada apresenta mais de noventa por cento de materiais necessários ao desenvolvimento do raciocínio de uma criança, e conta com duas excelentes professoras que conhecem a forma e o método de trabalhar com as crianças nas suas áreas.
Portanto, sugeriríamos ao MEC que redobrasse o esforço no que diz respeito ao equipamento (materiais) utilizados em sala de aula de alfabetização inicial e no incentivo às pessoas que se formam nas áreas de educação infantil.
Pelo que observamos em sala de aula, tanto as professoras como as crianças mostraram um desempenho muito interessante. Por isso, achamos que este método construtivista deve merecer o apoio do órgão responsável pela educação de crianças em nível nacional.
Com base no exposto, concluímos que para eliminar o analfabetismo aqui em Natal, exigese a responsabilidade de cada um de nós. Responsabilidade esta que começa desde o governo estadual e municipal, dos pais ou encarregado de educação das crianças, dos diretores das escolas, e termina com a do MEC. Todos nós devemos, assim, nos juntarmos e apoiarmos as crianças que estão em fase inicial de alfabetização, pois, sem dúvida, elas serão o futuro da sociedade. Esse é o nosso desejo e também nosso dever como cidadãos.
Uma recomendação final referese à implantação, a nível nacional, do método construtivista, e da utilização de materiais, tais como: livros atualizados que ajudem as
inicial), brinquedos de montagem (essenciais para o fomento da criatividade infantil, por exemplo, lego etc.) Esses materiais podem ajudar as crianças maravilhosamente na escrita. REFERÊNCIAS COLL, César. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 19982006. CHARMEUX, Eveline. Aprender a ler: Vencendo o fracasso. São Paulo: Cortez, 1994.
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