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TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical CONSIDERAÇÕES SOBRE O ACIDENTE DO TRABALHO E ALGUNS PROJETOS DE LEI QUE VERSAM A RESPEITO DO TEMA

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O ACIDENTE DO TRABALHO E ALGUNS PROJETOS DE LEI QUE VERSAM A RESPEITO DO TEMA

Guilherme Brandão Advogado

Todo segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, assim como o segu-rado especial (entendendo-se como tal o produtor, parceiro, meeiro e arrendatário rural, e o pescador artesanal e assemelhados a este último, que se encontram enquadrados como segura-dos obrigatórios do Regime Geral da Previdência Social), no exercício de suas atividades, que tenha sofrido lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho, têm direito à indenização acidentária.

A definição exata consta do artigo 19 da Lei nº 8.213/91, que dispõe sobre o Plano de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.

Proclama o referido artigo o seguinte:

“Art. 19. Acidente do Trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso IV do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”

Os artigos 20 e 21 e §§ da referida Lei consideram, ainda, outros acontecimentos como acidente do trabalho. Confira-se:

“Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguin-tes entidades mórbidas:

I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elabora-da pelo Ministério do Trabalho e elabora-da Previdência Social;

II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.”

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O artigo 21, por sua vez, disciplina o seguinte:

“Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para os efeitos desta Lei: I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja con-tribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capaci-dade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recupe-ração;

II – o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho, em consequên-cia de;

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou

proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer

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Estas são as condições que caracterizam o acidente do trabalho, descabendo, em con-sequência, outras situações que se encontram inclusive, previstas expressamente no parágrafo 1º, letras “a” a “d”, do citado artigo 20 da Lei em referência, como por exemplo: a doença degenerativa; a inerente a grupo etário; a que não produza incapacidade laborativa; a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo com-provação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Entretanto, nos deparamos, atualmente, com vários projetos de lei que pretendem mo-dificar, de uma forma ou de outra, o conceito do acidente do trabalho, para o fim de atribuir aos empregadores maiores responsabilidades que, na verdade, não lhes caberia.

Citamos como exemplo os seguintes projetos de lei:

- PL nº 7.217/2010, de autoria dos nobres Deputados Ricardo Berzoini (PT-SP), Pepe Vargas ((PT-RS), Jô Moraes (PC do B-MG), Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) e Roberto Santiago (PV-SP).

O referido Projeto pretende alterar o artigo 118 da Lei nº 8.213, de 24 de junho de 1991, para ampliar de 12 para 24 meses o prazo mínimo de manutenção do contrato de traba-lho do segurado que sofreu acidente do trabatraba-lho.

Além disso, entende, ainda, que, quando houver sequela que implique em redução da capacidade laboral, será aumentado proporcionalmente este prazo, aplicando-se outros por-centuais, dependendo da gravidade destas sequelas, podendo até garantir-se o contrato por prazo indeterminado em caso de atingir 60% da capacidade laboral do empregado.

Com efeito, por meio de parecer elaborado pela Divisão Sindical sobre a matéria, foi dito que a pretendida garantia, além de atingir porcentuais aleatórios sem qualquer critério de definição, afronta o artigo 5º da Constituição Federal, que assegura a todos os cidadãos trata-mento idêntico perante a Lei, já que, uma vez garantida a estabilidade de 24 meses, sem qual-quer razão para tal, acabará por conferir tratamento diferenciado a trabalhadores sob as mes-mas condições, ferindo, pois, os princípios da igualdade, da razoabilidade e da busca do pleno emprego, preconizado no artigo 170, VIII, da Constituição Federal.

O PL em apreço foi apensado ao PL nº 1.780/200, que versa sobre a mesma maté-ria, em 5 de maio de 2011, proposição esta que recebeu parecer favorável do Relator Edgar Moury (PMDB-PE), encontrando-se na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados desde 16 de janeiro de 2011.

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- PL nº 7.205/10, da lavra dos mesmos autores citados anteriormente, e que pretendem equiparar ao acidente do trabalho o acidente de qualquer natureza sofrido pelo empre-gado, em período de aviso prévio, mesmo em caso de indenização pela empresa, desde que comprovado que este ocorreu durante alguma atividade relacionada à busca de novo emprego.

Tal proposição contraria frontalmente as Orientações Jurisprudenciais SDI – I núme-ros 35 e 40, sendo que a primeira esclarece que o registro de candidatura do dirigente sindical, no curso do aviso prévio, não dá direito à estabilidade provisória. Esta OJ foi, posteriormente, convertida na Súmula nº 369 do Tribunal Superior do Trabalho. A segunda esclarece que a projeção do contrato de trabalho para o futuro, pela concessão do aviso prévio indenizado, tem efeitos limitados a vantagens econômicas obtidas no período do pré-aviso, ou seja, salá-rios, reflexos e verbas rescisórias.

De fato, nos contratos por prazo indeterminado, a qualquer tempo (salvo situações ex-cepcionais), as partes podem dar por rescindida a relação de emprego, uma vez cumpridas as exigências legais, não havendo assim qualquer motivo determinante para a pretendida garan-tia de estabilidade nessas condições, o que, por certo, fere o princípio da razoabilidade.

O PL em referência encontra-se desde 25 de agosto de 2011 na Comissão de Seguri-dade Social e Família (CSSF), com parecer do Relator, Deputado Mandetta (DEM – MS), favorável à sua aprovação.

- PL nº 4.972/09, de autoria da Deputada Rebecca Garcia (PP-AM), que obriga as em-presas a ressarcirem ao Sistema único de Saúde (SUS) as despesas decorrentes da assistência prestada aos seus empregados vítimas de acidente do trabalho ou doença profissional do tra-balho.

A nobre Deputada entende, no caso, que as empresas deveriam arcar com os custos de assistência à saúde, subtraindo do SUS este ônus.

Dessa forma, retira assim tal obrigação do Estado, disposta expressamente no artigo 196 da Constituição Federal, além de ferir os princípios da razoabilidade e do non bis in idem, tendo em vista que o Decreto nº 6.577, de 25 de setembro de 2008, que alterou o Regulamen-to da Previdência Social, aprovado pelo DecreRegulamen-to nº 3.048, de 6 de maio de 1999, disciplinan-do sobre a aplicação, acompanhamento e avaliação disciplinan-do Fator Acidentário de Prevenção (FAP), elevou o percentual pago pelas empresas, que passaram assim a recolher importância maior para custeio de acidentes. Portanto, o empregador já arca com pagamento a título de acidente do trabalho.

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Além disso, o referido Projeto de Lei afronta o texto constitucional, já que, sendo a saúde direito de todos e dever do Estado, descaberia à lei ordinária estender essa obrigação aos empregadores, sob pena de pugnar-se pela sua inconstitucionalidade.

Tal proposição encontra-se na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), des-de 4 des-de julho des-de 2011, com parecer do Relator, Deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), pela rejeição da referida proposta.

-PL nº 7.212/10, do Deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que pretende alterar o § 1º do artigo 20 da Lei nº 8.213/91, para dispor sobre a doença no trabalho.

Com efeito, amplia o conceito de acidente do trabalho, incluindo a doença degenerati-va, a inerente a grupo etário, que não produza incapacidade laboratidegenerati-va, e a doença endêmica adquirida por segurado habitante da região em que ela se desenvolva, resultante de contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Entretanto, não há, nestas hipóteses, causas que possam justificar a inclusão dessas doenças como acidente do trabalho, já que o caráter desse instituto estará sendo inteiramente desvirtuado, fugindo assim à razoabilidade.

Ressaltamos, ainda, que o direito à saúde pressupõe que o Estado deva garantir não apenas serviços públicos de promoção, proteção e recuperação da saúde, como também cum-prir políticas econômicas e sociais, com o objetivo de melhorar as condições de vida do povo, reduzindo os riscos de adoecimento. Todavia, no entendimento da referida proposição, esta tarefa está sendo imposta ao empregador, que ficaria responsável por qualquer alteração na saúde de seus empregados, mesmo que não tenham relação com a prestação dos serviços, co-mo nos casos de doenças endêmicas, ou de grupos etários, etc.

Em 31 de maio de 2011 foi encerrado o prazo para emendas ao projeto, encontrando-se o mesmo, atualmente, na Comissão de Seguridade, Trabalho, Administração e Serviço Público (Ctasp), com designação de Relator, o Deputado Ronaldo Nogueira (PTB-RS), que ainda não proferiu parecer a respeito.

-PL nº 1.279/2011, de autoria do Deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), acrescentan-do o § 3º ao artigo 21 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, estendenacrescentan-do ao seguraacrescentan-do da previdência social os benefícios do acidente do trabalho em situações de desvio de percurso.

Ora, não se caracteriza acidente do trabalho se o empregado, por interesse pessoal, houver interrompido ou alterado o percurso residência-trabalho, ou vice-versa.

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O local será sempre importante para a configuração do nexo causal entre o labor e o referido acidente.

Não há como tratar-se de acidente de trabalho hipóteses em que o empregado não se encontra a serviço do patrão, pois somente os acidentes que ocorrem in itinere, ou seja, quan-do de seu deslocamento para a própria empresa e vice-versa, tem o amparo da lei acidentária. Este é o fator preponderante para a apuração do referido acidente: que o empregado se encon-tre, no momento do acidente, a serviço do empregador, ferindo, assim, a proposição em refe-rência, o princípio da razoabilidade.

O aludido projeto de lei encontra-se, desde julho de 2011, na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (Ctasp), com parecer do Deputado Roberto Balestra (PP-GO) pela sua rejeição.

Como se vê, várias proposições têm sido elaboradas com o propósito de alterar as condições para a caracterização do acidente do trabalho, que é, diga-se, determinado de forma administrativa e técnica, sendo a primeira por meio do setor de benefícios do INSS, que deve-rá estabelecer o nexo entre o trabalho/exercício e o acidente; e a técnica por meio de perícia médica, que irá estabelecer o nexo de causa e efeito – acidente/lesão.

Não poderá haver divergência entre as instâncias administrativa e técnica, cabendo ao próprio órgão previdenciário concluir pela incapacidade laborativa do empregado. Somente após essa conclusão é garantida a estabilidade do empregado que sofreu acidente do trabalho, no período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença acidentário.

Concluindo, informamos que estes Projetos de Lei estão sendo acompanhados pela Assessoria Parlamentar desta Confederação, com os argumentos acima referidos, abordando princípios constitucionais que inviabilizam, assim, estas aprovações.

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