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Morfologia derivacional da língua portuguesa: o sufixo vel na formação dos adjetivos

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Academic year: 2018

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MESTRADO INTERINSTITUCIONAL

ANA LÚCIA ROCHA SILVA

MORFOLOGIA DERIVACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA:

O SUFIXO -VEL NA FORMAÇÃO DOS ADJETIVOS

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MORFOLOGIA DERIVACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA:

O SUFIXO -VEL NA FORMAÇÃO DOS ADJETIVOS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa ao Programa de Pós-graduação – Mestrado em Linguística, MINTER da UFC/UFMA, para obtenção do grau de mestre.

Orientador: Prof. Dr. Leonel Figueiredo de Alencar

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S578m Silva, Ana Lúcia Rocha

Morfologia derivacional da língua portuguesa: o sufixo -vel na formação dos adjetivos / Ana Lúcia Rocha Silva. – 2009.

141 f.; il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Lingüística. Mestrado Interinstitucional UFC/UFMA, Fortaleza (CE), 2009.

Orientação: Prof. Dr. Leonel Figueiredo de Alencar.

1-LÍNGUA PORTUGUESA-MORFOLOGIA. 2- LÍNGUA PORTUGUESA-FORMAÇÃO DA PALAVRA. 3- LÍNGUA PORTUGUESA-ADJETIVOS. 4-LÍNGUA INGLESA-MORFOLOGIA. 5-LÍNGUA PORTUGUESA-FORMAÇÃO DA PALAVRA. I. Alencar, Leonel Figueiredo de (Orient.). II-Universidade Federal do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Linguística. III-Título.

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ANA LÚCIA ROCHA SILVA

MORFOLOGIA DERIVACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA:

O SUFIXO -VEL NA FORMAÇÃO DOS ADJETIVOS

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística/MINTER da Universidade Federal do Ceará e Universidade Federal do Maranhão, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Linguística, linha de pesquisa Descrição e Análise Linguística.

Aprovada em: 18/09/2009.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________ Prof. Dr. Leonel Figueiredo de Alencar (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

______________________________________________________ Prof. Dr. Joseni Alcântara de Oliveira

Universidade Federal do Piauí (UFPI)

______________________________________________________ Prof.ª Dr.ªConceição de Maria de Araújo Ramos

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A Deus – o Todo-Poderoso, invisível, mas real na minha vida, sobretudo, nas horas que mais precisei de sabedoria para fazer esta dissertação.

À Universidade Federal do Maranhão que me proporcionou a realização de um sonho.

Ao Professor Mendes, que muito se empenhou para a realização do MINTER em Linguística UFMA-UFC.

Ao meu Orientador que, no universo da sua sapiência, deixou-me fazer parte do seu currículo, dando-me respaldo sem reservas, tanto no conhecimento científico como em outras circunstâncias que se apresentaram.

À minha família que, mesmo reclamando das ausências, incentivava-me a prosseguir.

Ao meu filho Eduardo Werley que partilhou comigo dos seus conhecimentos sobre informática.

Aos nossos professores, na pessoa da Professora Doutora Eulália Fraga Leurquim, imbatível nas soluções dos probleminhas.

A turma do MINTER UFMA-UFC em Linguística, pelos conhecimentos partilhados.

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“Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada”.

(Ec.2:26a)

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Este estudo analisa as regras de formação dos adjetivos sufixados com -vel na língua portuguesa. Para isso, escolheram-se 25 textos anotados morfologicamente do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe e textos de artigos de jornais on-line selecionados aleatoriamente, visando-se os adjetivos em -vel. Apresenta-se como teoria basilar o estudo sobre as regras de formação de palavras em inglês de adjetivos com sufixo -əble de Stephen Anderson (1992), dentro da morfologia derivacional. Para as análises no Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, são usados comandos de ferramentas do UNIX desenvolvidos pelo Professor Dr. Leonel Figueiredo de Alencar. Os resultados obtidos através das análises demonstraram que a formação dos adjetivos em -vel, na língua portuguesa são produtos da competência do falante/ouvinte ao fazer uso de sua gramática mental. Esta pesquisa demonstrou que os mecanismos de criação dos adjetivos em -vel são descritos através das regras de formação de palavras cujas funções são indicar o processo formativo do adjetivo quanto ao resultado, bem como analisar as estruturas com que a língua pode formar novos adjetivos com o sufixo -vel.

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This study focuses on the –vel-suffixed adjective formation rules in the Portuguese language. In order to accomplish such a study, 25 morphologically-annotated texts taken from the Tycho Brahe Historical Portuguese Corpus, as well as excerpts from randomly selected on-line newspaper articles were used. The theoretical basis which supports this analysis is Stephen Anderson (1992)`s study on the -әble-suffixed adjective rules of word formation in English in derivational morphology. The UNIX tools developed by Professor Dr. Leonel Figueiredo de Alencar Araripe were the commands used in the analysis of the Tycho Brahe Historical Portuguese Corpus texts. The study results demonstrate that the -vel adjective formation in the Portuguese language depends on the speaker`s / listener`s competence in making use of their mental grammar. This research also shows that the creation mechanisms of -vel adjectives is described by means of word formation rules concerning both the result in the formation process of adjectives and the analysis of the structures which allow the formation of new -vel-suffixed adjectives.

Key-words: Portuguese Language - Morphology. Portuguese Language - Word formation . Portuguese Language - Adjectives. English Language - Morphology. English Language - Word formation.

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Tabela 1 – Lista dos arquivos dos textos do CHPTB usados nas análises ... 56

Tabela 2 – Ajetivos do CHPTB de bases inexistentes... 79

Tabela 3 – Ajetivos do CHPTB de bases nominais ... 86

Tabela 4 – Ajetivos do CAPTWWW de bases nominais ... 86

Tabela 5 – Ajetivos com bases de múltiplas produções ... 87

Tabela 6 – Ajetivos do CHPTB com bases de formas opacas... 88

Tabela 7 – Ajetivos do CHPTB com alomorfia na VT da base ... 89

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Adj. – adjetivo

CAPTWW – Corpus de Adjetivos de Textos da World Web Wide CHPTB – Corpus Histórico do Português Tycho Brahe

DEA – Novo Dicionário Eletrônico de Aurélio DEH – Dicionário Eletrônico de Houaiss M – representação morfossintática N – noun (substantivo)

NP – Noun phrase

RAE – regra de análise estrutural RFP – regra de formação de palavra RFPs – regras de formação de palavras RMS – regras morfológicas

S – raiz lexical especificada fonologicamente TD – transitivo direto

WFR – Word Formation Rule

V – verbo

VT – vogal temática

X – representação semântica de uma base

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 REVISÃO DA LITERATURA ... 16

2.1 A morfologia e o processo de derivação sufixal ... 16

2.1.1 Abordagens clássicas ... 16

2.1.1.1 Manuel Said Ali ... 17

2.1.1.2 Ismael de Lima Coutinho ... 18

2.1.2 Abordagens em gramáticas tradicionais ... 19

2.1.2.1 Carlos Henrique da Rocha Lima ... 21

2.1.2.2 José Evanildo Bechara ... 22

2.1.2.3 Celso Cunha e Lindley Cintra ... 25

2.1.2.4 Celso Pedro Luft ... 25

2.1.3 Abordagens estruturalistas ... 26

2.1.3.1 Joaquim Mattoso Câmara Jr. ... 27

2.1.3.2 Leodegário Azevedo Filho... 28

2.1.3.3 José Lemos Monteiro ... 29

2.1.4 Visão panorâmica da morfologia ... 30

2.1.4.1 Mark Aronoff ... 34

2.1.4.2 Margarida Basílio ... 36

2.2 A formação de adjetivo em – vel ... 37

2.2.1 A proposta de Margarida Basílio (1987) ... 38

2.2.2 A proposta de Sales e Mello (2004) ... 39

3 ARCABOUÇO TEÓRICO ... 42

3.1 A Teoria de Stephen Anderson (1992) sobre as regras de formação de palavras e sua aplicação ao sufixo -əble do inglês ... 42

4 METODOLOGIA ... 55

4.1 Corpora ... 55

4.1.1 O Corpus Histórico do Português Tycho Brahe (CHPTB) ... 55

4.1.2 O Corpus de adjetivos em – vel de textos da World Wide Web (CAPTWWW) ... 57

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5.2 Análises ... 68

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 93

REFERÊNCIAS ... 95

APÊNDICE ... 99

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1 INTRODUÇÃO

Pesquisar sobre o surgimento de novas palavras dentro de uma determinada língua, no mundo contemporâneo, ainda é um grande desafio. Porém, torna-se instigante quando se acompanha e se busca explicar como acontece o fenômeno da ampliação do léxico.

As línguas são instáveis, quer sejam no tempo, quer sejam no espaço. O surgimento de um neologismo é a demonstração clara da força criativa da gramática mental com a qual, como afirma Steven Pinker (2004, p.151), não há quem não se deslumbre. É através dessa criatividade humana que se observa a expansão do léxico de uma determinada língua.

O falante de uma língua vale-se de diversos mecanismos de criação lexical. Tudo para atender às necessidades de comunicação cultural, científica, política ou de relações comunicativas em geral. Daí se percebe a necessidade de assumir a posição de que a história não está pronta, sobretudo, quando se faz referência à língua. Reconhece-se que muitos fatos linguísticos estão acontecendo a cada momento numa velocidade maior que os outros tipos de acontecimentos, tais como: definição de línguas oficiais nos países, preocupação com a normatividade das línguas etc. E cada falante vai impondo, com a propulsão de sua inteligência, novas possibilidades geradas pela potencialidade inerente aos mecanismos de funcionamento da língua.

A cada dia, o surgimento de novas palavras desafia os teóricos a entenderem os mecanismos usados pelos falantes. Os processos de derivação e composição são os mais frequentes contributos para o enriquecimento e desenvolvimento do léxico de uma língua, independentemente dos objetivos que impulsionam a criação. Todos os membros de uma comunidade linguística têm direito a essa faculdade de criação. Said Ali (2001) afirma que as línguas enriquecem seus vocábulos não somente combinando palavras entre si ou lhes ajustando prefixos e sufixos, mas dando a outros vocábulos sentidos novos.

Pois bem: no âmbito da Morfologia Derivacional, esta dissertação desenvolve um estudo sobre as regras de formação dos adjetivos em -vel na língua portuguesa, com relação à natureza da base, estabelecendo uma correlação entre possibilidade e efetividade dos usos do sufixo -vel.

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Histórico do Português Tycho Brahe doravante CHPTB e textos diversos de jornais on-line, entre outros que se fizeram necessários, coletados de forma assistemática.

Para analisar a lógica entre possibilidade e efetividade do sufixo -vel, buscou-se o gerativismo como referencial teórico, visto que as teorias gerativistas levam em consideração o modo como a estrutura interna e a formação de palavras são abstraídas. Além disso, por se entender também que seus pressupostos teóricos podem contribuir com explicações regulares sobre fenômenos linguísticos, presentes na língua portuguesa, os quais têm passado despercebidos ou mesmo ignorados.

Esta pesquisa foi desenvolvida partindo dos postulados teóricos de Anderson (1992) sobre análises do sufixo inglês -əble ao se adjungir com diversas bases para a produção de adjetivos, tais como navigable, credible etc.

O trabalho encontra-se organizado como se segue:

No capítulo 2, será apresentada a revisão da literatura que introduz o estudo da derivação sufixal na língua portuguesa. Nesta revisão, constam abordagens filológicas, abordagens de gramáticos tradicionais e abordagens de autores estruturalistas; em seguida, um esboço sobre os passos rudimentares da morfologia até a grande potência que é a morfologia derivacional na Gramática Gerativa. Ainda nesse capítulo, se discorrerá sobre a formação dos adjetivos em -vel, destacando duas propostas relevantes: a de Margarida Basílio e a das autoras Sales e Mello.

No capítulo 3, mostrar-se-á o arcabouço teórico desta dissertação: a teoria de Stephen Anderson (1992) sobre as regras de formação de palavras e os estudos de adjetivos em inglês com o sufixo -əble.

O capítulo 4 constará da metodologia utilizada e a apresentação do copora. O capítulo 5 trará acerca da descrição e análise dos adjetivos sufixados em -vel com os resultados conclusivos.

E, por fim, no capítulo 6, tecer-se-ão as considerações finais sobre todos os aspectos discorridos, assim como serão elaboradas as conclusões a que se chegou após as análises dos adjetivos em -vel na língua portuguesa.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A morfologia e o processo de derivação sufixal

A história da língua portuguesa tem envolvido vicissitudes marcantes. A língua portuguesa é, a princípio, oriunda da dialetologia latina e, por isto, língua românica. E, como língua românica, trouxe em seu arcabouço vocabular um legado de palavras latinas que, ao longo de sua existência, tem sido enriquecido, modificado e até mesmo recriado, tudo isto por força das influências: cultural, geográfica, política, econômica e tecnológica.

Sobre este fato assim se expressa Louis Guilbert (apud BASÍLIO, 2006, p. 192),

Os progressos do conhecimento científico e técnico se traduzem necessariamente por um movimento do léxico que não se realiza apenas pela introdução de um conjunto homogêneo de palavras novas, sua gênese apresenta um aspecto diacrônico. [...] o conjunto lexical novamente constituído é ligado à realidade extralingüística [...]

Esta investigação mostra o comportamento do sufixo -vel na língua portuguesa, com relação à natureza da base. Ressalta-se que os autores não são unânimes em nomear a sequência fônica que origina o adjetivo, alguns chamam de raiz, outros de radical ou mesmo de base. Nesta pesquisa, optou-se por denominar de base a sequência fônica recorrente de onde se forma o adjetivo em –vel, visto que para os lexicalistas tem no conceito de base uma referência para desenvolver seus estudos sobre criação lexical. Outro ponto que convém se esclarecer é a questão da vogal que acompanha a base do adjetivo, há autores que apresentam-na como vogal temática, outros como vogal de ligação; entende-se que a denomiapresentam-nação dessa vogal depende da base do adjetivo, em se tratando de verbo, geralmente tem-se uma vogal temática, por serem identificadoras das conjugações e em sendo um nome pode-se ter uma vogal temática ou uma vogal de ligação.

Assim, inicia-se com uma breve leitura sobre os princípios teóricos da formação de palavras por derivação sufixal, na visão de autores clássicos, depois de alguns gramáticos seguidos de estruturalistas. Em seguida, serão abordados outros aspectos sobre a Morfologia Derivacional.

2.1.1 Abordagens clássicas

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estudos quando da análise dos aspectos formativos da língua, optou-se também por destacar os principais.

2.1.1.1 Manuel Said Ali

Ao iniciar suas lições sobre formação de palavras, na obra Gramática Histórica da Língua Portuguesa, Said Ali (1971), gramático e filólogo da língua portuguesa que tem sido referência para estudos gramaticais e linguísticos em geral, faz a seguinte declaração:

Não nos ocuparemos aqui com a criação dos vocábulos ab ovo, mas apenas com a formação corrente de palavras por meio dos processos de derivação e composição, excluindo deste estudo os termos novos, geralmente internacionalizados, e criados por homens eruditos com material puramente grego ou latino para suprir a falta de denominações apropriadas a certos conceitos modernos. (SAID ALI, 1971, p. 229).

Diante desta afirmação, depreende-se que Said Ali enfatiza em sua obra os mecanismos de criação lexical, ou seja, a derivação e a composição. Para este autor, a derivação

[...] toma palavras existentes e lhes acrescenta certos elementos formativos com que adquirem sentido novo, referindo, contudo, ao significado da palavra primitiva. Postos estes elementos no fim do vocábulo derivante (geralmente com a supressão prévia da terminação deste). Chama-se sufixação e o processo de formação toma o nome particular de derivação sufixal. (SAID ALI, 1971, p. 229).

Said Ali (1971), quando apresenta o sufixo -vel, escreve-o sempre com uma vogal A, I e U, denominada por ele de vogal temática, desta forma: -ável, -ível, -úvel. Ele apresenta os adjetivos solúvel e volúvel para o sufixo -vel, acompanhado da vogal temática ‘u’(-úvel), sem falar nada sobre a base. Mas quando se refere ao -vel, acompanhado das vogais temáticas ‘a’ e ‘i’, o autor explica que -ável estará em um adjetivo oriundo de um verbo da primeira conjugação, por exemplo: amável (do verbo amar); enquanto -ível será empregado para formar adjetivo que seja de verbos da 2ª e 3ª conjugações, por exemplo vendível (do verbo vender), corrigível (do verbo corrigir).

O sentido apontado para o sufixo -vel, de um modo geral, é de possibilidade de ação (ativo) ou de sofrer ação no sentido passivo. À guisa de exemplos, Said Ali enumera os seguintes: durável, perecível, exprimindo a possibilidade de ação com sentido ativo; e vulnerável, desejável, suportável, punível, tolerável etc, com sentido passivo (com maior número de ocorrência).

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mencionada (Gramática Histórica da Língua Portuguesa) um estudo específico sobre a formação de palavras.

Há, porém, que se dar a devida importância a Said Ali, pois seu trabalho já na sua época se distanciava dos demais estudiosos. A Gramática Histórica que ele lançou em 1922 já abordava fenômenos morfológicos que hoje são largamente discutidos. Por exemplo: a questão da produtividade de sufixos: “a produtividade do sufixo -aria manifesta-se sobretudo na formação de nomes que exprimem: a) ramos de negócio e indústria [...]” (SAID ALI, 1971, p. 233); “-oso sufixo de imensa fecundidade, formador de adjetivos que se tiram de substantivos [...]”. (SAID ALI, 1971, p. 244).

Nos dias atuais, seus estudos continuam consubstanciando muitos outros da língua portuguesa em vários aspectos.

2.1.1.2 Ismael de Lima Coutinho

Autor clássico da Gramática Histórica da Língua Portuguesa define a derivação como “o processo pelo qual de uma palavra já existente se forma uma nova com a adição de um sufixo, ou supressão, e ainda pela sua transferência para outra classe de palavras”. (COUTINHO, 1984, p. 172).

O autor considera apenas três tipos de derivação: própria ou progressiva, imprópria e regressiva. Para este erudito, muitos sufixos, no percurso da língua, eram palavras isoladas que terminaram por se aglutinar a outras e, como consequência, perderam suas individualidades; outros existem apenas em terminações de palavras, sendo que os falantes atribuíram a eles valores semânticos que servem para compor novas palavras. Ele também assinala a existência de sufixos que, quando transplantadas do latim para o português, sofreram grandes alterações que nem se percebe a sua existência. É o caso, por exemplo, das palavras: telha<tegula, macho<masculu, ovelha<ovicula, etc.

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substantivos e adjetivos; e sufixos verbais, os que dão origem a verbos. Aduz ainda que o único sufixo adverbial da língua portuguesa é -mente.

Coutinho (1984) apresenta uma lista dos principais sufixos que estão presentes na formação de palavras da língua portuguesa, indicando suas origens como também suas significações. Assim, o sufixo -vel está na relação dos sufixos nominais latinos da seguinte maneira: “-vel < -bile. Dá formação a adjetivos exprimindo capacidade, qualidade: amável, admirável, indelével, audível, crível, solúvel, volúvel” (COUTINHO, 1984, p. 172). Verifica-se, portanto, que não há referência à baVerifica-se, nem à regra de formação.

Coutinho (1984) possui seu valor nos estudos que dizem respeito à história da língua. Trata-se de um clássico que faz o leitor percorrer os caminhos da evolução da língua portuguesa, partindo da fonética à estilística, demonstrando as modificações sofridas na língua, nos aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos etc.

Contudo, sua clássica Gramática Histórica (1984) aponta a morfologia de forma estanque, não se detendo ao aspecto da criação lexical propriamente dito. Daí pode-se incluir no que diz Rocha (2003, p. 123): “os compêndios gramaticais vigentes são cópias de gramáticas antigas, que, por sua vez, são cópias da gramática latina, que, por sua vez, é cópia da gramática grega. O peso da tradição dificulta bastante a revisão e a adoção de novas posições.”

2.1.2 Abordagens em gramáticas tradicionais

As gramáticas de Rocha Lima (1980), Bechara (1983), Luft (1989), Cunha e Cintra (1995) têm feito parte do ensino descritivo da língua portuguesa no decorrer dos anos. Elas apresentam-se como verdadeiros manuais da norma padrão; em vista disso, compõem acervos bibliográficos de muitas escolas, com intuito de apoiar professores que ensinam a língua materna. Porém, elas não fazem alusão especificamente à morfologia derivacional. Como assegura Basílio (1980, p.7), “na gramática tradicional, assim como no estruturalismo, a morfologia derivacional é definida como a parte da gramática de uma língua que descreve a formação e estrutura das palavras”.

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estudos sobre regras de produção, nem explicações sobre o fenômeno da criação lexical. Vale ressaltar que seus conteúdos vêm, ao longo dos anos, seguindo padrões organizacionais não somente com relação à morfologia como na fonética, sintaxe etc. Sobre essa situação, veja-se a expressão de Lopes (2006, p. 183):

Tais imperfeições da gramática tradicional não são ocasionais. Na raiz delas podemos encontrar o preconceito lógico e cultural que levou os gramáticos do mundo inteiro a trabalhar suas línguas com base na suposição de que elas se conformariam todas, ao fim e ao cabo, com os modelos que orientaram a descrição do grego e do latim.

Mas a língua, a despeito dos padrões, segue seu curso normal de crescimento e a gramática tradicional normativa não acompanha pari passu o dinamismo linguístico, ou seja, a norma se mantém fechada de forma hermética e os falantes vão modificando as regras fonéticas, morfológicas, sintáticas etc., procurando adequá-las às suas necessidades prementes. Isto se comprova no dia a dia através do uso da língua. Veja-se: enquanto a norma fonética diz que a palavra recorde é paroxítona, o falante a pronuncia como proparoxítona; na morfologia, o uso do pronome oblíquo tem suas limitações, mas o falante diz o livro é para mim ler (em vez de para eu ler). São muitos casos em que a normatividade se distancia do que realmente acontece numa comunidade linguística.

O que se pode deduzir que, em se tratando de criação lexical, os mecanismos de formação de palavras apontados nas gramáticas tradicionais normativas da língua portuguesa não se detêm em explicações de novos itens surgidos, ou seja, há um padrão de produção e aquilo que fugir dele é considerado inadequado para o uso da língua. Relembra-se aqui o caso do imexível, termo criado por um ex-ministro de estado, que muitas pessoas, na época, condenaram o referido uso por não se adequar aos padrões regulares de formação constantes na normatividade da língua portuguesa. As gramáticas tradicionais veem regras como recomendação para o uso padrão da língua. Nas palavras de Rocha (2003), elas carregam sobre si o legado das contribuições greco-latinas, ou seja, a preferência pelo eruditismo ainda é bem notada. Aqui estão lacunas referentes às novas criações da língua.

Basílio (1987) faz suas colocações sobre as gramáticas tradicionais normativas, afirmando que através delas não se vê grande preocupação sobre formação de novos itens, mas uma tendência de “enumerar processos e listar exemplos”. E segue afirmando:

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Apesar desse quadro em que se insere a gramática normativa, Basílio (1987) leciona que as gramáticas normativas apresentam um trabalho descritivo que se constitui em contribuição de grande valor para o desenvolvimento do estudo de processos lexicais. Assim, o tratamento dado pela gramática normativa tradicional à formação de palavras por sufixação não satisfaz plenamente o entendimento de como se formam novos itens lexicais.

A formação de palavras que os gramáticos tradicionais apresentam insere a sufixação como um dos seus processos e como um estudo da morfologia gramatical. Entre esses autores há pontos convergentes sobre o tema; porém, comparando-os com os linguistas, não há consenso em relação aos processos derivacionais de formação de palavras.

Os gramáticos fazem a inserção do sufixo -vel nas listagens de sufixos de origem latina. O mesmo sufixo compõe, também, o quadro dos que originam adjetivos a partir de verbos. Entretanto, não há referência a esses verbos ou a quaisquer outras bases, bem como às regras que formam os adjetivos. Destarte, sobre a derivação sufixal do sufixo -vel, passa-se a apresentar postulados dos principais gramáticos.

2.1.2.1 Carlos Henrique da Rocha Lima

Rocha Lima (1980), em sua obra Gramática normativa da língua portuguesa, expõe que a derivação ocorre quando de uma palavra se forma outra, agregando elementos que lhe alteram sentidos; porém, sempre se referindo à significação da palavra primitiva. Os elementos para ele são os prefixos e os sufixos, sendo que os sufixos são desprovidos de significação e estes “têm por finalidade formar séries de palavras da mesma classe gramatical. Assim, por exemplo, o único papel do sufixo - ez é criar adjetivos: altivo – altivez; estúpido – estupidez etc.” (ROCHA LIMA, 1980, p. 181)

Quanto ao sufixo -vel, o gramático apresenta-o nas formas erudita e moderna: -bil e -vel; e leciona que o mesmo “forma adjetivos a partir de verbos” cujos exemplos são: amável, desejável, discutível, louvável, removível, solúvel, suportável, flébil e ignóbil etc.

Há que se observar que os exemplos flébil e ignóbil não se coadunam com a explicação, pois eles são originados de adjetivos latinos flebile e ignóbil. Afirma Rocha Lima ainda que a forma literária em -bil foi usada por escritores de outras épocas, a exemplo de Camões (grifo nosso), em Os Lusíadas:

A lei tenho daquele, a cujo império Obedece ao visibel, e invisibel

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E que do céu à terra enfim desceu, Por subir os mortais da terra ao céu.

(Os Lusíadas, I, 65)

O autor ainda aponta o sufixo -bil (-vel) em alguns superlativos eruditos como amabilíssimo, terribilíssimo e também em substantivos abstratos derivados de adjetivos, amabilidade, visibilidade.

O que se conclui desta exposição é que Rocha Lima privilegia tanto a forma sincrônica quando fala sobre o -vel, quanto a forma diacrônica quando usa o erudito -bil. Mas suas lições deixam em aberto o estudo da criação de novos vocábulos, principalmente em relação à formação dos adjetivos em -vel.

Rocha Lima tem a gramática normativa como um absolutismo didático por excelência, pois assim se expressa: “Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou.” (ROCHA LIMA, 1980, p. 6). Pode-se entender a partir dessa assertiva que as criações lexicais não se enquadram nos padrões de expressões corretas, pois o autor valoriza a normatividade em detrimento da criação lexical livre.

2.1.2.2 José Evanildo Bechara

Para este autor, “vocábulo é a menor forma livre de enunciação, constituído de um ou mais morfemas” (BECHARA, 1983, p. 167) e os principais processos de formação de palavras em português são composição e derivação. A derivação dá origem a uma palavra através de afixos. De acordo com o afixo, a derivação está classificada em sufixal e prefixal.

Os sufixos, para Bechara (1983, p. 177),

[...] dificilmente aparecem com uma só aplicação: em regra, revestem-se de múltiplas acepções e empregá-las com exatidão adequando-os às situações variadas, requer e revela completo conhecimento do idioma. Os sufixos determinam as classes gramaticais das palavras.

O autor distribui os sufixos de acordo com a sua função na língua. Assim, ele apresenta sufixos que:

I – formam substantivos;

II – dão os aumentativos e diminutivos; III – formam adjetivos;

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V – dão um advérbio.

O sufixo -vel < -bil está inserido no rol dos sufixos que formam adjetivos. Os exemplos dados são: notável, crível, solúvel, flébil, ignóbil.

Bechara tem sido um dos autores que, ao longo dos seus trabalhos, tem feito colocações sobre os novos fenômenos da língua. Assim, quando o Brasil inteiro ouviu a fala do ex-ministro do governo brasileiro, Antonio Magri: “A Previdência Social é imexível”, houve muita querela entre as pessoas sobre o uso do adjetivo, ou melhor, sobre a formação de uma palavra fora do que se considera uso regular na língua. Nesse ensejo, Bechara (2000a) escreveu dois artigos intitulados: “Imexível: uma injustiça a ser reparada” e “Imexível não exige imexer”, contidos no livro Na ponta da língua, uma coletânea de artigos sob a coordenação de Sílvio Elia (2000).

No primeiro artigo, Bechara (2000a, p. 45) chega a afirmar que os comentários sobre o fato partiam de pessoas não habilitadas para explicar fenômenos que ocorrem numa determinada língua, as quais usavam as seguintes expressões: “o termo não existe, não está dicionarizado, deve ser considerado errôneo”. O autor afirma que para fazer uma análise do caso devem ser observados vários fatores, porém ele se limita a quatro deles, que são:

O primeiro: se o termo foi criado segundo os princípios que regem a formação de palavras antigas e modernas no nosso léxico. Segundo, se a criação traduz com eficiência a idéia que quis transmitir quem a empregou. Terceiro, se para transmitir a mesma idéia, o idioma não dispõe de palavras antigas e mais expressivas. Quarto, se o fato de não existir um termo no dicionário é prova suficiente de que não deva ser criado ou de que constitui um erro o seu emprego. (BECHARA, 2000a, p. 1).

Ele inicia suas análises partindo do quarto critério, por considerar a relevância metodológica do caso. Para ele, qualquer que seja a língua, a extensão do seu léxico não está limitada aos dicionários correntes, pois o idioma nas suas palavras “está sempre numa perpétua mudança, numa constante ebulição, de modo que nunca tem esgotada a infinita possibilidade de renovar-se” (BECHARA, 2000a, p. 12), ou seja, o dinamismo da língua não está exarado nos dicionários, estes se constituem no lado estático de qualquer idioma.

(25)

Em relação ao segundo e terceiro aspectos citados pelo autor, o termo imexível poderia permanecer no léxico da língua portuguesa, visto que se iguala a outros termos que são seus sinônimos mais próximos, por exemplo: “O Plano é irretocável, intocável, intangível, impalpável, intáctil” (BECHARA, 2000a, p. 73). Diante desse exemplo, o autor expõe que esses sinônimos não seriam suficientes para substituí-lo, pois só a ideia contida em “imexível” é capaz de expressar a essência comunicativa do falante para o texto em que está inserido.

Em suma, o autor finaliza suas colocações reafirmando seu posicionamento de que o termo imexível passaria por dois dos principais testes de validação de uma palavra nova, sem problemas, quais sejam: “a observância das regras de formação de palavras e sua adequada expressividade de comunicação”. (BECHARA, 2000a, p. 2).

No segundo artigo, Imexível não exige imexer (1991), o autor se limita a responder uma carta enviada à Redação do Jornal Estado de Minas (publicada em 07.02.91). A carta emite críticas ao vocábulo imexível quanto à sua vernaculidade. A resposta de Bechara (2000b) é uma confirmação da ideia do primeiro artigo, quando ele preconiza que o imexível fora criado nos moldes dos processos de formação de palavras existentes na língua e que também sua significação estava correspondendo à necessidade do então Ministro de Governo. O ponto novo que ele destaca é a respeito da base da nova palavra, pois o remetente da carta assinala que “imexível está mal formado porque é um parassintético, que ao ser correto, exigiria a presença do verbo imexer” (BECHARA, 2000b, p. 108). Daí, o autor preconiza que essa premissa não tem fundamento para a formação da palavra e compara com exemplos como impagável, insubstituível, insustentável, insusceptível, os quais não dependeram de verbos como impagar, insubstituir, infalir, insustentar; e dá ênfase que, para se formar a palavra insusceptível, nem verbo foi preciso. Encerrando seus argumentos sobre este ponto, Bechara (2000b, p. 105) afirma, no artigo Imexível não exige imexer, que “é a busca da expressividade que leva o falante ou escritor a usar dessa potencialidade do sistema lingüístico”, ou seja, para a comunicação o falante utiliza quaisquer meios que viabilizem a transmissão do seu pensamento.

(26)

entrevista dada à Folha Dirigida, no ano 2002, Bechara afirma: “o certo e o errado é muito relativo na Língua Portuguesa. E negar qualquer variação é reprimir o potencial criativo”.

Diante disso, Bechara (2000b), embora lecione sobre os aspectos normativos da língua em suas gramáticas, mas não esboce lições sobre as regras de formação de palavras ou sobre as bases com as quais se juntam os afixos num processo derivacional, mostra-se como um autor que não está preso à normatividade, mas que valoriza o aspecto criativo da língua.

2.1.2.3 Celso Cunha e Lindley Cintra

Estes autores publicaram uma obra intitulada Nova gramática do português contemporâneo (1995) na qual estudam a palavra no aspecto morfossintático. No capítulo que tratam dos adjetivos, há especificações sobre a morfologia dos adjetivos e suas funções sintáticas. Na morfologia dos adjetivos, encontram-se os terminados em -vel que são lecionados como formadores dos superlativos em -bilissimo, tais como: amável – amabilíssimo; indelével – indelebilíssimo; terrível – terribilíssimo; móvel – mobilíssimo; volúvel – volubilíssimo.

Apesar dessa maneira de teorizar sobre as classes de palavras não ser comum entre os gramáticos, fato que os dissocia um pouco do contexto global, quando abordam a estrutura e formação de palavras o fazem à parte, no “capítulo 6 – derivação e composição”. No contexto desse capítulo, eles afirmam que “pela derivação sufixal formaram-se, e ainda se formam, novos substantivos, adjetivos, verbos e, até, advérbios” (CUNHA; CINTRA, 1995, p. 85), também voltam a discorrer sobre os sufixos, classificando-os em nominais, verbais e adverbiais. Nessas lições, o sufixo -vel é nominal e um dos que formam adjetivos a partir de verbos, expressando possibilidade de praticar ou sofrer uma ação. A exemplificação é apenas com duas vogais temáticas, desta forma -(á)vel: durável, louvável, -(í)vel: perecível, punível.

2.1.2.4 Celso Pedro Luft

(27)

Para definir a derivação afixal (progressiva) do tipo sufixal, Luft recorre ao conceito de Said Ali (1971, p. 172): “toma palavras já existentes e lhes acrescenta certos elementos formativos (sufixos, no caso) com que adquirem sentido do novo, referindo, contudo, ao significado da palavra primitiva”. Diante disto, Luft (1985) formula uma regra e, em seguida, apresenta exemplos:

Radical + Sufixo –> palavra derivada sufixal.

Roup(a)ARIA, civilIZAR, analis(e)ÁVEL, altiv(o)EZ.

As lições sobre sufixos oferecidas por Celso Pedro Luft (1989), no compêndio Novo Manual de Português, não se limitam ao capítulo de formação de palavras, elas estão ampliadas no capítulo que trata de adjetivos. Assim, o sufixo muda o sentido da raiz, introduzindo uma ideia secundária e fazendo inclusão da nova palavra numa das classes de palavras da língua. Pondera ainda sobre um diferencial marcante entre o prefixo e o sufixo, aquele não altera a classe gramatical da base, enquanto este pode alterá-la. Neste sentido, Luft (1989) apresenta exemplos de sufixos que mudam o sentido da raiz (exemplo: sapato =>sapateiro); os que não mudam o sentido da raiz (exemplo: levanta => levantamento).

Os sufixos são divididos em nominais e verbais. O -vel está entre os nominais que formam adjetivos, podendo ser mudado em -bil (forma subjacente) ao se juntar com -íssimo (por exemplo: amável – amabilíssimo, sensível – sensibilíssimo, móvel – mobilíssimo, volúvel – volubilíssimo).

Reconhece-se em Luft (1985) um tratamento diferenciado dado à Morfologia, sobretudo, quando ele inicia o tema dividindo-a em gramatical e lexical; sendo que a primeira estuda a “classificação das palavras, categorias gramaticais (gênero, número, grau, pessoa, modo, tempo, aspecto), paradigmas flexionais, etc. [...] a morfologia lexical, ou morfologia em sentido amplo [...] é a que trata de problemas como origem, formação e estrutura das palavras, famílias de palavras, etc.” (LUFT, 1985, p. 89). Há, porém, que se dizer que não existem nas duas obras citadas neste estudo, destaques sobre a formação dos adjetivos em -vel.

2.1.3 Abordagens estruturalistas

(28)

estruturalismo tem-se “uma morfologia baseada exclusivamente na depreensão e classificação dos morfemas”. A língua para os estruturalistas são estruturas e os morfemas são vistos como unidades significativas; isto traz certa dificuldade para a obtenção do significado final das palavras, posto que a maioria delas só adquirem significação quando se juntam aos afixos. Anderson (1992) chega a comentar que “os princípios que sustentam a noção estruturalista de morfema devem ser pelo menos reformulados, senão abandonados.”

Todavia, de um modo geral, os estruturalistas têm contribuído para os estudos da formação de palavras, pois demonstram preocupação com os elementos mórficos e seus significados. Nisto se insere o sufixo -vel na formação de adjetivos. Conquanto, seja de suma importância esses estudos e dentre eles pode-se encontrar estudos sobre regras derivacionais, ainda há vacuidade quanto a formulações das regras de formação dos adjetivos em -vel, assim como estudos detalhados sobre as bases que os formam.

2.1.3.1 Joaquim Mattoso Câmara Jr.

Devido à importância para os estudos linguísticos no Brasil através de suas primorosas postulações, seus ensinos não poderiam deixar de serem ressaltados neste trabalho, pois têm sido motivos para reflexões sobre vários aspectos da língua materna.

Pois bem: o autor assinala, no capítulo sobre a ampliação e renovação lexical, que

o português, como toda língua viva, tem mecanismos gramaticais para ampliar e renovar o seu léxico em função das palavras já existentes. São os que herdou do latim e vêm a ser chamados a ‘composição’ e a ‘derivação’. [...] Na derivação a parte final de uma palavra passa a ser aplicada a outras, delas tirando novas estruturas léxicas, em que se mantém a significação básica da palavra de que derivam. (CÂMARA JR, 1991, p. 211).

Câmara Jr. entende que o sufixo possui duas circunstâncias, em relação ao ponto de vista estrutural. A primeira diz respeito “à variabilidade do limite entre o que se considera sufixo e o radical” (CÂMARA JR., 1991, p. 215), o sufixo pode incorporar um fonema que componha o radical ou mesmo perder um fonema que possua ao se juntar com o radical para formar uma nova palavra. Exemplo: amenidade –>ameno+dade (houve redução da vogal -o para a vogal i-). A segunda circunstância ocorre quando há uma integração do sufixo a uma vogal de tema. Por exemplo: harpista – com tema em -a (harpa+ ista), pianista – com tema em -o (piano+ista); em assim sendo, o sufixo é considerado como um núcleo – “o sufixo propriamente dito” – suscetível à variação de tema.

(29)

[...] a produtividade de um sufixo, que lhe dá individualidade na gramática da língua portuguesa, decorre do seu destaque de palavras derivadas que vieram do latim ou, por empréstimo, de outra língua. Ou, em outros termos, dadas palavras derivadas passam a servir de modelo para a estruturação de novas palavras, fornecendo no seu elemento final um meio permanente na língua para novas derivações. Quando tal não acontece, o sufixo, que pela análise se pode depreender de palavras derivadas existentes, não é produtivo e não funciona gramaticalmente como instrumento de criação lexical.

E quanto à criação lexical por derivação: “No português moderno há uma possibilidade permanente de criação de adjetivos e substantivos na base de certos sufixos particularmente produtivos” (CÂMARA JR., 1991, p. 216). O que se depreende dessa afirmação é que o sufixo possui base. Diante disto ele aponta três tipos de formação para os adjetivos.

O primeiro tipo são “os adjetivos correspondentes aos substantivos existentes” (CÂMARA JR., 1991, p. 216) que se formam, sobretudo, através dos sufixos. Exemplos: ardiloso (ardil), ossudo (osso).

O segundo são os adjetivos que se derivam de um verbo, o autor não especifica a transitividade do verbo, mas afirma que são alguns sufixos específicos e que são conservadas as vogais temáticas, assim os sufixos derivacionais podem ser atemáticos ou temáticos em -a, em -o ou em -e (palidez, tristeza, julgamento). Neste caso de formação, estão inclusos os adjetivos em -vel. Ele assinala que a variante erudita -bil (forma originária latina -bil(e), cobrável (cobrar), vendível (vender)) foi trazida pela língua portuguesa clássica ao português contemporâneo através da formação de substantivos a partir de adjetivos, tais como: exeqüível > exeqüibilidade; punível > punibilidade; amável>amabilidade.

O terceiro tipo de derivação dos adjetivos é assim explicado:

[...] outros sufixos criam ao lado de adjetivos específicos palavras nominais que são essencialmente substantivos com a possibilidade de um emprego adjetivo conforme o contexto. [...] designam – proveniência de uma dada região (nomes gentílicos), ou pessoas caracterizadas pela sua atividade social. (CÂMARA JR., 1991, p.218).

Dentre os exemplos que o autor menciona estão: burguês (burgo), catarinense (estado de Santa Catarina), goiano (do estado brasileiro de Goiás), comerciário (empregado de comércio), bancário (empregado de banco).

2.1.3.2 Leodegário Azevedo Filho

(30)

estudar os morfemas e a sua estruturação no sintagma lexical.” Ele denomina morfema a uma forma linguística mínima que contém um conceito gramatical e, sendo assim, os afixos (prefixos e sufixos) são classificados como morfemas lexicais por possuírem significação e por estarem incluídos no processo de obtenção de novos vocábulos. Para ele,

[...] os afixos, que entram no mecanismo gramatical da língua, são morfemas derivacionais. [...] O afixo pode ser anteposto ao lexema (prefixo) ou a ele posposto (sufixo). [...] Apenas o sufixo muda a classe de uma palavra, quando não a leva para a mesma classe da palavra primitiva. (AZEVEDO FILHO, 1975, p. 66).

Azevedo Filho (1975) retoma O autor retoma os processos de formação de palavras comuns apresentados na língua portuguesa, ou seja, a derivação e a composição. Para ele, “a derivação é o processo pelo qual se forma nova palavra, partindo-se de outra já existente” (AZEVEDO FILHO, 1975, p. 67). E a derivação sufixal se efetiva pela “posposição” de sufixos. O exemplo dado é: brasil+ -eiro (brasileiro).

O autor aborda os adjetivos de um modo geral, não se detendo no estudo dos morfemas sufixais, inclusive sobre os adjetivos em -vel, foco desta pesquisa.

2.1.3.3 José Lemos Monteiro

Monteiro (1991) postula que os vocábulos divergem quanto à estrutura e significado. E afirma que, com os morfemas apropriados, há enriquecimento considerável do léxico de uma língua e que as regras de derivação são utilizadas de acordo com a estrutura da língua. Os sufixos são, portanto, “extremamente férteis”, embora existam alguns improdutivos. Monteiro (1991, p. 145) admite que

A formulação das regras deve levar em conta a natureza da base (se nominal ou verbal) e o resultado (se nome abstrato, adjetivo, verbo ou advérbio). A base ‘x’ estabelece uma relação paradigmática entre semantemas de idênticas propriedades morfológicas e, assim, é imprevisível a freqüência de aplicações.

Os exemplos com sufixo -vel, abaixo, são considerados como regras de derivação produtiva:

(X)v – (X)v + VEL = adjetivo

Saudar + -vel = saudável Amar + -vel = amável

(31)

Monteiro (1991) apresenta um capítulo intitulado Inventário de Sufixos, no qual relata a dificuldade de se identificar todos os sufixos da língua portuguesa. Contrariamente ao que afirma o estruturalista Martinet (1968apud MONTEIRO, 1991), que só há derivação se houver produtividade no processo, Monteiro (1991, p.149) entende que “a possibilidade de comutação com uma forma primitiva vigente, com manutenção do significado da base, define a existência do sufixo”.

A dificuldade também pode residir no fato de que muitas palavras trazem da língua originária o sufixo já incorporado, por exemplo: palavras como plural e animal, que vieram dessa mesma forma da língua latina para a portuguesa.

Para facilitar a identificação do sufixo, o autor aponta duas considerações: a primeira diz respeito à semântica dos sufixos, que é bem diversificada, e a segunda, às indicações das alomorfias. O sufixo -vel insere-se nesta última, pois sua forma, em geral, aparece após uma vogal, que ele mesmo denomina de vogal de ligação, por exemplo: amável, punível (vogais a/i).

Assim, o autor elaborou uma lista de sufixos com suas alomorfias. A título de sugestão ele acrescenta as descrições semânticas, que variam de acordo com as bases a que se juntam. Nessa listagem, está o -vel preconizado como formador de adjetivos. O autor chega a apontar -bil como seu alomorfe e cita, como exemplo, amabilidade e punibilidade.

2.1.4 Visão panorâmica da morfologia

Basílio (1980, p. 7) leciona que

Na gramática tradicional, assim como no estruturalismo, a Morfologia derivacional é definida como parte da gramática de uma língua que descreve a formação e estruturas das palavras. Numa abordagem gerativa, podemos dizer que a Morfologia derivacional é definida como a parte da gramática que dá conta da competência do falante nativo no léxico de sua língua.

A antiguidade clássica desenvolveu os estudos morfológicos atrelados à polêmica entre analogistas e anomalistas. Isto tinha como ponto de partida identificar o fator predominante que pudesse caracterizar as línguas, se analogia ou anomalia. A explicação para esses fatos causou uma busca por paradigmas (ou desvios dos paradigmas) demonstrados nas palavras.

(32)

“derivatio naturalis” e “derivatio voluntaria”, a primeira ele atribuía à formação natural das palavras que se ligava à flexão e a segunda à formação voluntária ligada à derivação.

Na Idade Média, todavia, não há registros de contribuições de destaque que assinalem desenvolvimento da Morfologia derivacional, este fato foi devido aos avanços dos estudos da sintaxe nessa fase. Há, contudo, que se enfatizar os estudos que “estabeleceram relações entre categorias morfológicas e a sintaxe da construção de frases” (BASÍLIO, 1980, p. 39). Assim, para as funções sintáticas havia bases diferentes, assinalando o diferencial entre flexão e derivação.

O período estruturalista trouxe para a Morfologia Derivacional consistência e relevância. Os estudos morfológicos deste período são baseados em morfemas, visto sob o ponto de vista de unidade significativa da língua. Rocha (2003, p. 28) assinala que

A Morfologia alcançou um progresso notável no estruturalismo. Preocupados com a segmentação e a classificação dos morfemas, os lingüistas americanos levaram essa técnica ao extremo, o que, sem dúvida, apesar dos exageros, veio beneficiar o estudo da morfologia.

Na visão estruturalista, a morfologia se define como parte da gramática que estuda os aspectos descritivos dos morfemas linguísticos e como eles se organizam para formar palavras. Esse modelo permaneceu até o final da década de 50, quando foi confrontado e refutado pelo posicionamento do linguista norte-americano Noam Chomsky, ao lançar suas ideias basilares para a Gramática Gerativo-Transformacional.

A história da Morfologia prossegue... Chega-se ao gerativismo, porém, no princípio, sem reconhecimento da especificidade das palavras no sentido de serem analisadas enquanto unidades gramaticais, ou melhor, não há preocupação exaustiva com a morfologia. Atentando para esse fato, assim se expressou Aronoff (1976, p. 4):

Within the generative framework, morfology was for a long time quite successfully ignored. There was a good ideological reason for this: in its zeal, post-Syntactic Structures linguists saw phonology and syntaxe everywhere, with the result that morphology was lost somewhere in between.

Anderson (1992) também se alia ao pensamento de Aronoff ao ver que o estudo da formação de palavras distingue autores que se preocupam com a distribuição dos morfemas e autores que se preocupam com a variação formal ou fonológica dos morfemas. E assim aduz: “precipitous decline of the study of morphology” (p. 228).

(33)

Nos primeiros estudos da gramática gerativa, os paradigmas frasais relacionavam-se entre si por meio das regras transformacionais de nominalização1

(a) Elas contribuíram com a ação social o dia inteiro.

ou de adjetivação (RAPOSO, 1992), as quais transformavam as estruturas subjacentes às frases em estruturas que correspondiam às expressões nominais ou adjetivais. Os processos derivacionais gerais eram inseridos nos sintáticos; os substantivos deverbais eram superficiais que provinham das estruturas verbais profundas. Assim, no exemplo:

(b) [A contribuição delas com a ação social foi o dia inteiro]

Temos uma relação com a estrutura verbal da frase (a) e a estrutura nominal da frase (b), ou seja, a forma verbal ‘contribuíram’ com a forma nominalizada contribuição. Desta forma, somente os verbos corresponderiam a entradas lexicais. O léxico era apenas uma lista não-ordenada de entradas.

O gerativismo caminhava com a ideia de que a estrutura profunda gerava estrutura superficial e de que as regras de transformação eram sintáticas e fonológicas. Chomsky (1970) inicia um processo de rejeição à hipótese transformacionalista, que estabelecia itens lexicais hipotéticos, “entidades que nos podem levar a predições falsas acerca do léxico de várias línguas” (BASÍLIO, 1980, p. 27).

Segundo (LYONS, 1970, p. 27) “Chomsky entende ser a criatividade da linguagem um de seus traços mais próprios, e traço que dá lugar a um problema particularmente desafiador que se põe frente a quem pretenda desenvolver uma teoria pricológica do uso e de aquisição da linguagem”

O inconformismo com a incompatibilidade das regras de transformação de Chomsky cria a hipótese lexicalista, estabelecendo distinções sintáticas, semânticas e de estruturação interna entre “gerundive nominals” e “derived nominals” (ROCHA, 2003, p. 32).

A preocupação com as estruturas nominais postuladas por regras de base encontra-se cristalizada no artigo “Remarks on Nominalization” de 1970. O autor demonstra, nessa obra, sua preocupação com as estruturas nominais geradas por regras de base, ou seja, ele propõe uma descrição das nominalizações, embora limitadas aos pares verbos/nomes. Por exemplo:

(a) Ninguém pode recorrer da sentença dada pelo juiz. (recorrer) (b) A sentença dada pelo juiz é irrecorrível. (irrecorrível)

(34)

Nos exemplos acima, há uma correspondência entre estrutura verbal (frase a) e a estrutura nominal (frase b), ou seja, a forma nominalizada recorrível surge na frase b em decorrência da necessidade de adequação sintática às estruturas nominais. As relações entre base/derivado (comer/comível) deixam de se justificar por meio das regras transformacionais. Desta feita, a criação lexical dissociada do aspecto sintático, não se subordina à sintaxe e traz uma nova configuração ao léxico das línguas naturais.

A proposta de Chomsky, em seu tempo, foi um grande contributo para a morfologia derivacional. Contudo, adota-se aqui o posicionamento de Basílio (1980, p. 31) quando afirma: “a proposta de Chomsky não é adequada para descrever o fenômeno da nominalização, já que não leva em conta outros processos de formação de palavras, com os quais as nominalizações podem estar diretamente relacionadas”

Desta forma, a teoria gerativa vem, nas últimas décadas, demonstrando preocupação com os estudos morfológicos. O objetivo central da morfologia gerativa é proporcionar explicações sobre o conhecimento linguístico que o sujeito nativo possui em relação ao léxico de sua língua materna, ressaltando que esse conhecimento linguístico nada mais é do que a noção da competência do falante nativo. Sobre esse fenômeno chamado competência, Basílio (1980, p. 9) leciona que nele está envolvido:

a) o conhecimento de uma lista de entradas lexicais; b) o conhecimento da estrutura interna dos itens lexicais, assim como relações entre vários itens; e c) o conhecimento subjacente à capacidade de formar entradas lexicais gramaticais novas (e, naturalmente, rejeitar as gramaticais).

O gerativismo trouxe aos estudos da linguagem uma grande contribuição: “a mudança de perspectiva, no sentido de se ter a gramática da competência como objeto da descrição lingüística” (BASÍLIO, 1987, p. 19). Na competência do falante, está a aplicação das regras gramaticais que explicam o relacionamento entre os itens lexicais e o que resulta, ou seja, as novas palavras; também aponta restrições oriundas das inter-relações entre esses mesmos itens. Essa nova visão tem enorme valia para o estudo da formação de palavras.

(35)

resultado de uma produção lexical dinâmica e oriunda da conjugação de diversos componentes linguísticos internalizados.

A abordagem morfológica gerativista é uma teoria gramatical, só que descritiva, explicativa e não normativa, não oferece listas de formas e construções, enquanto que a gramática tradicional assim o faz. A hipótese lexicalista proposta por Chomsky tornou-se a base para os estudos sobre a morfologia gerativa, havendo, inclusive, uma subdivisão: hipótese lexicalista forte e hipótese lexicalista fraca. A partir daí, outros estudos foram surgindo sob a perspectiva dessa morfologia lexical.

A distinção entre as duas hipóteses começou a ser delineada a partir dos estudos de Halle (1973); desde então, têm surgido muitas discussões e posicionamentos para uma ou outra corrente. Os teóricos da hipótese lexicalista fraca entendem que derivação e flexão são diferentes: a flexão não é processada somente no léxico, mas na conjugação de sintaxe e morfologia; já a derivação é uma operação lexical. Na segunda corrente de linguistas, a hipótese lexicalista forte apresenta a flexão e a derivação como processos exclusivamente morfológicos, visto que ocorrem dentro do léxico; com isto antecedem os demais componentes da gramática cujos autores defendem que as transformações sintáticas não alteram as estruturas lexicais.

Há que se ressaltar que os modelos gerativistas apresentam a palavra construída como o resultado da competência do sujeito falante. Preconizam, assim, que toda produção lexical é um movimento dinâmico, resultante da interação de diversos elementos linguísticos, e que suas teorias têm alargado o estudo da morfologia derivacional.

Escolheram-se dois representantes por terem fundamental contribuição para este estudo: Mark Aronoff e Margarida Basílio.

2.1.4.1 Mark Aronoff

(36)

das palavras derivadas complexas, para a existência de uma morfologia autônoma no quadro da hipótese lexicalista, não desprezando a comunhão com a sintaxe e com a fonologia. Como afirma Villalva (2000, p. 53),

Aronoff pressupõe a existência de uma lista de palavras, de regras de formação de palavras (que são, também, regras de análise de palavras) e de regras de reajustamento […]. Os afixos, pelo contrário, não são unidades lexicais, mas sim um dos elementos das regras de formação de palavras, que especificam a sua forma fonológica e a sua posição relativamente à base. [...] defende que as regras de formação de palavras são transformações, dado que integram uma operação fonológica, que consiste geralmente na adjunção de um afixo a uma base.

Esta teoria, apesar de ser tomada como base de estudos para muitos outros linguistas, apresenta certas lacunas, como a explicação entre processos e regras e a hipótese de Base-Palavra. A tese central de Aronoff (1976) é afirmar que todos os processos regulares de formação de palavras são baseados em palavras existentes na língua, cujos significados são conhecidos pelos falantes. Seguindo essa fórmula [Nb+sufixo] = A, Nb corresponde a um nome base seguido de um sufixo e A é o produto. Por exemplo, para A sendo o adjetivo LOUVÁVEL, o nome base é LOUVA mais o sufixo -vel.

Aronoff (1976) entende que regras de formação de palavras são alterações fonológicas que se efetivam, geralmente, quando um afixo se adjunge a uma base. Essa base pertence a uma única categoria gramatical e é chamada de hipótese de base única. A justificativa para que ocorra esse fenômeno, segundo sua visão, consiste em se comprovar que

É posssível que uma regra selecione bases pertencentes a duas categorias, como adjetivos e nomes, porque estas duas classes partilham o traço [+N], mas não é permitido que uma única regra seleccione adjetivos, nomes e verbos, visto que estas três classes não são subsumíveis numa única propriedade. Quando esta situação se verifica, Aronoff (1976) defende que se trata de regras distintas que envolvem afixos homó-fonos ou de regras pouco produtivas, cujo comportamento tende a ser pouco coerente. (VILLALVA, 2000, p. 54).

(37)

Aronoff (1976) também apresenta regras de truncamento que, na sua visão, são regras morfológicas e não fonológicas. Citam-se truncamentos de palavras da língua inglesa do morfema -ate ao formar nomes em -ee, em -əble e -ant: nominate > nominee (nominate); relegate > relegable (relegatable); lubricate> lubricant (lubricatant).

Não há como negar a importância de Aronoff para o progresso dos estudos morfológicos. Sua teoria conduz a um tratamento diferenciado para o léxico, faz também com que seja destacada a formação de palavras assim como dá à morfologia derivacional um lugar de grande importância no interior da gramática de uma língua.

2.1.4.2 Margarida Basílio

Basílio (1987, p. 9) teoriza que existem bons motivos para formarmos palavras, como a “utilização da idéia de uma palavra em uma ou outra classe gramatical; e a necessidade de um acréscimo semântico numa significação lexical básica”. Contudo, essas mesmas razões são consideradas por ela como secundárias.

Para a autora, a razão fundamental de se formar palavras novas se torna muito difícil para a memória do falante “capturar e guardar formas diferentes para cada necessidade” que o falante possa vivenciar. Aponta ainda como causa principal para criar novas palavras o mesmo motivo porque se formam frases numa língua: “o mecanismo da língua sempre procura atingir o máximo de eficiência, o que se traduz num máximo de flexibilidade” (BASÍLIO, 1987, p. 10).

Inserida no gerativismo moderno, Basílio incorpora as perspectivas gerativistas de Jackendoff (1975) e Aronoff (1976) e propõe uma morfologia derivacional de formas presas e livres, dando abertura a criações lexicais variadas. Sua proposta esta sumarizada nas seguintes palavras:

(38)

A autora expõe seu entendimento sobre a competência lexical, afirmando que um falante nativo possui uma lista de entradas lexicais. Todavia, essa lista não satisfaz plenamente a referida competência. O falante é capaz de analisar os itens existentes, recriar itens, estabelecer relações com os componentes dessa lista de entradas, bem como é capaz de compreender os novos itens formados, demonstrando essa competência. Suas postulações sobre as regras de formação de palavras (RFPs) e regras de análise estrutural (RAE) podem fornecer explicações substanciais: aquelas para as construções regulares e estas para as formas cristalizadas no léxico.

Na opinião de Basílio (1980), a Morfologia Derivacional se apresenta como uma área de grandes desafios e grandes possibilidades de crescimento dentro da visão gerativista. Aceitando essa premissa, este estudo se propõe a enveredar pelos caminhos da teoria gerativa, descobrindo os meandros que envolvem as possibilidades e efetividades da formação dos adjetivos em -vel.

2.2 A formação de adjetivos em -vel

Como toda palavra da língua portuguesa, que ao ser criada, passa por um processo de formação, os adjetivos em -vel não fogem à regra. A literatura, neste aspecto, é unânime: os adjetivos são formados por derivação sufixal. O sufixo -vel é assim definido:

-vel

[Do lat. -bRle.]

Sufixo nominal.

1.formador de adjetivos, a partir de rad. verbal latino (infinito, supino, part. pass.), ou vernáculo, e que significa: 'digno de'; 'passível de praticar ou sofrer determinada ação': aproveitável, evaporável; corrigível. [Equiv.: -ível: abrangível, imponível, perecível. Sobre -bil-, como em imprescindibilidade, v. -(i)dade.]. (FERREIRA, 2008).

suf.do lat. –bìlis,e 'passível de', mais raramente 'agente de' algo indicado pelo rad.,

(39)

-ável, -ével, -ível, -óvel ou -úvel; na der. moderna (sXVI em diante), subentende-se

uma seqüência que transita do vulg. para o culto, a exemplo de –vel > -bilidade (acusável:acusabilidade, possível:possibilidade etc.) (HOUAISS, 2001).

O sufixo -vel ao se juntar com uma base expressa possibilidade de ação ora em sentido ativo, ora, e mais frequentemente, em sentido passivo. Revendo a literatura sobre os adjetivos sufixados em -vel, elegemos duas propostas que têm contribuído para discussões sobre as regras que os formam na língua portuguesa: a de Basílio e a de Sales e Mello.

2.2.1 A proposta de Margarida Basílio (1987)

Basílio (1987) preconiza que a derivação consiste em se juntar a uma base (que pode ser uma forma livre ou presa) um afixo (prefixo ou sufixo), o qual possui função sintática e semântica. Por exemplo: reler (a base é uma forma livre -> ler); em psicologia - > ps+ico+logia (a base é forma presa -ico).

Para esta autora, a mudança de classe de palavras representa uma das mais usuais funções em relação aos processos de formação de palavras. Levando-se em conta que, para as classes serem definidas, alguns critérios devem ser observados, quais sejam: o critério semântico, sintático e morfológico, variando de pontos de vista.

Pelo modo tradicional, o critério a ser observado é o semântico; pelo estruturalismo, o caráter morfológico e funcional serve de base; e pelo ponto de vista do gerativismo tradicional, a observância é em relação às propriedades sintáticas.

Basílio diz que, usando qualquer critério de definição de classes de palavras, sempre haverá dificuldades quando se quiser proceder com um estudo de formação de palavras. Então, para exemplificar sua posição, ela usa o caso do sufixo -vel.

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O processo de formação que utiliza base nominal, anexada ao sufixo -vel, passará a identificar “alguém como paciente do processo relativo à base: no caso, nomeação ou escolha para o cargo” (BASÍLIO, 1987, p. 57). Assim, com essas comprovações, Basílio (1987, p. 58) redefine a função do processo de formação de palavras por sufixação com o -vel que “forma adjetivos que caracterizam algo como paciente potencial em relação à base da construção.”

As postulações que Basílio faz sobre os adjetivos em -vel não é um estudo específico sobre a formação dos adjetivos em -vel, porém, essas postulações estão diretamente ligadas aos argumentos explicativos sobre os critérios de definição de classes de palavras e suas relações com a formação de palavras. A autora assevera:

O breve exame desse exemplo mostra com mais clareza o quanto é importante para a descrição dos processos lexicais a questão da hierarquia de critérios na especificação de classes de palavra. No caso de -vel, vislumbramos a possibilidade de descrever o processo pelo critério semântico e derivar deste as propriedades morfológicas e sintáticas. (BASÍLIO, 1987, p. 59).

Ressalta-se que as formulações sobre as regras de formação de palavras e as regras de análise estrutural apontam diretamente para a identificação das bases e seus afixos. Basílio possui inúmeros trabalhos relativos a sufixos, não sendo, contudo, contemplada com profundidade a produção dos adjetivos em -vel.

2.2.2 A proposta de Sales e Mello (2004)

Salles e Mello (2004) analisam o surgimento no Português do Brasil dos adjetivos presidenciável, prefeitável, reitorável, propondo que os mesmos sejam formados “a partir de estrutura causativa analítica constituída do auxiliar causativo e do nome/substantivo que designa a função ou cargo – ‘presidente’, ‘prefeito’, ‘reitor’.” Neste particular, as autoras afirmam que se aproximam da proposta de Basílio, que também está discutida neste estudo, ou seja, elas apontam que Basílio utiliza-se do critério semântico para a identificação das bases; todavia esse critério possui carga sintática, quando é notada a capacidade de predicar dos nomes/substantivos, destacados nas estruturas causativas analíticas. Ainda propõem uma reanálise dos casos em que as bases são formas verbais e introduzem a preposição do objeto indireto, como exemplo é citado no texto o adjetivo (in)crível cuja base advém do verbo crer – transitivo indireto.

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também a formação morfológica desses adjetivos e as propriedades sintáticas das bases que os constituem.

Toda essa proposta tem respaldo na teoria de E. Williams (1981), exposta na obra Argument Struture and Morfhology sobre o papel da estrutura argumental na morfologia. Williams (1981) afirma que as alternâncias na valência de um verbo resultam regras que interferem na estrutura argumental a que estão associados os processos morfológicos. Os exemplos citados pelas autoras são os seguintes:

João cortou a maçã com a faca (agente) A maçã está cortada (tema)

A faca

Ainda segundo essas autoras, a estrutura argumental do verbo cortar está desta forma representada: Cortar: João – > agente; maçã – > tema; faca - > instrumento e o verbo cortar “seleciona os argumentos citados, sendo um deles realizado fora da projeção do sintagma verbal (verbal phase – VP), o chamado de argumento externo, e os demais realizados dentro da projeção máxima do VP, por essa razão, chamados de argumentos internos”. (SALLES; MELLO, 2004, p. 7).

cortou a maçã (instrumento)

Conforme teoria de Williams (1981),

Essa abordagem leva às seguintes generalizações: I.Nem todos os verbos possuem argumento externo;

II. Quando selecionado pelo verbo, o argumento externo ocupará a posição de sujeito;

III. O agente, preferencialmente, ocupará a posição de sujeito. (SALLES; MELLO, 2004, p. 7).

São propostos dois tipos de regras: as de externalização, se o argumento externo se transformar em interno; e as de internalização, se ocorrer o inverso. A formação dos adjetivos em -vel apresenta apenas a primeira regra, visto que “a forma resultante predica do argumento interno do verbo que serve de base” (SALLES; MELLO, 2004, p. 10). Para justificar seu entendimento, Salles e Mello (2004, p. 8) apresentam os seguintes exemplos:

Bia (agente) vendeu sorvete (tema) ao gerente (benefactivo) (i) Bia (argumento externo)

(ii) Sorvete (argumento interno) (iii) O gerente (argumento interno) a) O sorvete é vendável.

externalização: o argumento interno passa a externo b) Bia é vendável.

externalização: não se aplica à função T agente c) Gerente é vendável.

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A regra de formação de adjetivos em -vel, para as autoras, apresenta-se da seguinte forma: V – > A _ VEL (V – verbo transitivo direto, A – adjetivo em -vel). Mas, ao mesmo tempo, há limitações quanto à aplicação dessa regra, quais sejam: “I – aplica-se a argumentos internos de verbos transitivos diretos que admitem apassivação; II – não se aplica a verbos intransitivos; III – não se aplica a argumentos internos de verbos transitivos indiretos.” (SALLES; MELLO, 2004, p. 8).

De acordo com o estudo, por essa regra de externalização, ficam justificadas as formas adjetivais inacreditável, incrível, confiável, imexível, gostável, visto que predicam argumentos internos oriundos de verbos com outras predicações verbais que não sejam de verbos transitivos diretos. Salles e Mello (2004, p.16) propõem a aplicação das RFP (regras de formação de palavras) de forma generalizada na formação dos adjetivos em -vel. “A forma derivada predica de um tema argumental selecionado pela categoria que serve de base à derivação (um verbo ou um nome realizado em estrutura causativa analítica)”.

No tocante às análises dos adjetivos em -vel quanto ao aspecto morfofonológico, o sufixo -vel não fica com a tonicidade do vocábulo derivado, ou seja, não há alteração morfofonológica da base, bem como a regularidade da aplicação da RFP desses adjetivos demonstram que a formação é producente.

Salles e Mello (2004) atestam que ainda há bastantes fenômenos a serem investigados em relação à formação dos adjetivos em -vel, tais como: estudos das bases em relação aos papéis temáticos, estudo sobre as “pesquisas acerca das imposições semânticas relativas às formas oriundas das bases adjetivais, das quantificações das ocorrências, ou ainda aquelas que requerem uma investigação diacrônica”, e mais estudo analítico das regras de formação dos adjetivos em -vel, apontando a diversidade de bases usadas regularmente na língua, estudo da produtividade dos adjetivos, levando-se em conta as bases produtivas.

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Tabela 1 – Lista dos arquivos dos textos do CHPTB usados nas análises
Tabela 2 – Adjetivos do CHPTB de bases inexistentes
Tabela 4 – Adjetivos do CAPTWWW de bases nominais
Tabela 5 – Adjetivos com bases de múltiplas produções
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Referências

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