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CARACTERIZAÇÃO DE ALVENARIAS ANTIGAS - LEVANTAMENTO TIPOLÓGICO, ANÁLISE DAS SECÇÕES E CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS

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CARACTERIZAÇÃO DE ALVENARIAS ANTIGAS -

LEVANTAMENTO TIPOLÓGICO, ANÁLISE DAS SECÇÕES E CARACTERIZAÇÃO

DOS MATERIAIS

Fernando Jorne Vítor Silva

Bolseiro de doutoramento Eng.º Civil

UNL-FCT UNL-FCT

Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal fjorne@fct.unl.pt vmd.silva@fct.unl.pt

RESUMO

O presente trabalho insere-se no âmbito da reabilitação de estruturas históricas em paredes de alvenaria pedra, com vista a ajudar a manter e preservar o património histórico edificado.

A reabilitação de construções antigas necessita de um conhecimento específico, tanto das propriedades dos materiais como das tipologias das paredes de alvenaria. Para a realização deste estudo, foram escolhidas várias paredes de alvenaria antiga resultantes de edifícios degradados no concelho de Almada. Primeiramente fez-se um levantamento tipológico (classificou-se as alvenarias quanto ao número de panos e tipo de conexão entre eles), posteriormente efectuou-se um registo fotográfico a fim calcular área e diâmetro dos vazios das alvenarias num programa informático. Por último, foram retiradas amostras das secções transversais das alvenarias com o intuito de fazer uma identificação e análise dos materiais existentes.

Em suma, este trabalho serviu para um melhoramento dos conhecimentos, assim como obter informações importantes para futuros trabalhos de reabilitação envolvendo paredes de alvenaria antiga.

Palavras-chave: alvenarias antigas, levantamento tipológico, porosidade e porometria da alvenaria.

1. INTRODUÇÃO:

O presente trabalho de investigação tem como base o aumento de intervenções de reabilitação de edifícios antigos durante os últimos anos. Este facto deve-se a uma necessidade de conservar o património histórico edificado, protegendo assim bens culturais e a identidade do edifício e local em que se encontra.

A progressiva degradação da maioria do edificado antigo tem maior visibilidade nos centros urbanos. Os edifícios históricos existentes nestes locais são frequentemente caracterizados por um meio edificado complexo de casas e por uma escolha pouco selectiva dos materiais e técnicas de construção de acordo com a época em que foram construídos. No entanto, devem ser preservados como uma importante parte dos centros históricos e património cultural.

Carlos Rosa Eng.º Civil UNL-FCT Lisboa; Portugal

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A reabilitação de edifícios antigos exige um conhecimento profundo das técnicas de construção e dos materiais utilizados no edificado, uma vez que a escolha de soluções compatíveis leva a melhores desempenhos.

Relativamente ao caso específico das paredes de alvenaria antiga, tema focado no presente artigo, foram realizados alguns estudos (através da recolha de amostras em diferentes paredes de alvenaria) com o intuito de obter informações sobre as suas características. As paredes de alvenaria antiga são constituídas por pedras, argamassas, essencialmente de cal aérea, terra (solo compactado) e restos de materiais existentes no meio em que a estrutura se situa (Figura 1). Em geral, pode-se afirmar que as alvenarias antigas são estruturas heterogéneas e com um grau de complexidade elevado ao nível das ligações e interacções entre materiais.

Alguns investigadores, como Fernando Pinho [1] e Luigia Binda do Instituto Politécnico de Milão, têm estudado e caracterizado as paredes de alvenaria antiga. Têm sido feitos estudos quando à porosidade global da parede, tendo como referência a quantificação das áreas dos vazios das suas secções transversais, quantificação esta, realizada a partir da análise de fotografias à escala natural (E1:1). Usando também essas fotografias das secções transversais é analisada a percentagem de cada um dos diferentes materiais e também pode ser feita uma classificação da parede de alvenaria quanto à sua espessura, ao número de panos e tipo de conexão entre os mesmos. Os vazios são ainda estudados mais pormenorizadamente, sendo medidos as áreas e as menores dimensões, informações importantes para trabalhos de reabilitação que envolva injecções de caldas [2,3]

Após recolhido e analisado todo um conjunto de informações, como as referidas anteriormente, fica-se com um conhecimento mais aprofundado sobre as alvenarias antigas, o que permite com uma maior facilidade a compreensão do comportamento global das referidas alvenarias. Estes são só alguns dos ensaios/estudos, da larga panóplia existente, utilizados para a caracterização das alvenarias antigas. Foi no seguimento de estudos já realizados por outros autores que o presente artigo se baseou.

Figura 1 - Exemplo de construção com alvenarias de pedra ordinária (zona “Campus FCT”)

2. CARACTERIZAÇÃO DAS PAREDES DE ALVENARIA ANTIGA

2.1. Características Gerais

A constituição das paredes de alvenaria antiga é caracterizada normalmente pela predominância de materiais cuja aquisição pode ser feita em local próximo da obra em si. São paredes constituídas por pedras de tamanhos e formas, irregulares e diversas, assentes em argamassas de cal aérea, tentando sempre que a disposição das pedras seja realizada em camadas mais ou menos uniformes. Por vezes, existem pedaços de pedras de pequenas dimensões (seixos) e elementos cerâmicos, no interior da parede como enchimento e também entre as pedras que constituem os panos da parede (com a função de calços) [4].

Após análise de estudos realizados por vários autores como G. Baronio e L. Binda [5], pode-se reter que as principais características das paredes de alvenaria antigas são:

- Heterogeneidade de materiais, uma vez que existem diversos materiais distintos tais como pedras, argamassa, terra, tijolos, etc.

- Falta de adesão entre pano exterior e pano interior da alvenaria - Adesão fraca entre pedras e argamassa

- Elevada espessura e peso próprio

- Limitação quanto à dimensão aquando de construções em altura

- Argamassa com fraca coesão nas juntas e no enchimento juntamente com o “entulho” - Porosidade da parede elevada devido à presença de vazios

- Alto teor de humidade devido à penetração de água - Boa resistência à compressão

- Juntas entre pedras pouco resistentes à tracção - Pode ou não possuir reboco.

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2.2. Caracterização qualitativa e quantitativa das paredes de alvenarias antigas

No que refere à avaliação das secções transversais de alvenarias antigas, devido à existência de variados tipos, Binda [6,7] propôs uma metodologia de avaliação (Figura 2) baseada no número de panos que constituem a alvenaria (pano simples, duplo ou triplo) e no tipo de conexão entre os panos. Nesta mesma metodologia, Binda propôs que através da avaliação de fotografias tiradas às secções transversais (Figura 5), fosse possível a identificação da percentagem dos materiais que constituem a parede (percentagens de pedras, argamassa, etc), bem como o tamanho e distribuição dos vazios.

Além desta metodologia, na classificação das alvenarias seguiu-se a metodologia proposta por Pinho [8] onde é feita uma classificação tipológica das paredes quanto à função (paredes mestras/resistentes ou paredes de divisão) e quanto à natureza de características dos materiais e ligantes utilizados.

Figura 2 – Classificação das secções transversais criada por Binda [7]

3. DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Com o intuito de se proceder ao estudo de alvenarias antigas, foram realizados numa primeira fase trabalhos in situ, os quais tiveram a finalidade de recolher amostras e também de obter fotografias representativas das secções transversais dessas alvenarias. Numa segunda fase, através das fotografias tiradas, foram realizadas análises quanto à geometria e características das alvenarias.

Na escolha das paredes de alvenaria foi tida em conta a necessidade da visibilidade da secção transversal das alvenarias e por isso, foram escolhidas alvenarias com secção à vista resultantes de ruína ou até de demolição, de forma a retirar o máximo de dados possíveis para análises futuras.

Foram escolhidas no total vinte e quatro paredes, provenientes de cinco locais diferentes do concelho de Almada (Tabela 1). Foi tido em atenção, aquando da recolha das amostras das diferentes paredes, a necessidade de se obter uma quantidade suficiente e diversa de material, que permitisse a realização de uma identificação minuciosa dos materiais existentes. Além disso, na Tabela 1 pode-se observar a localização, orientação e dimensão de algumas das secções transversais das diferentes paredes de alvenaria.

Como material para a elaboração deste tipo de levantamento, utilizou-se, uma maceta e martelo, escopro, escova de aço, fita métrica, óculos de protecção, luvas, máquina fotográfica (14 megapixéis) e tripé.

4. RESULTADOS

4.1. Classificação e caracterização qualitativa das paredes de alvenaria

Na Tabela 1 está presente a classificação (de acordo com o mencionado em 2.2) de algumas das alvenaria antigas estudadas quanto ao seu número de panos, tipo de conexão, função e natureza dos materiais.

Analisando a Tabela 1, é de destacar a panóplia de materiais existentes nas paredes de alvenaria, todos eles diferentes de local para local, principalmente as argamassas, cujos traços e composições diferiam sobremaneira, uns com traços mais fracos, outros mais fortes, as quais, até mesmo pertencendo à mesma construção, diferiam em alguns casos.

As pedras encontradas, constituintes principais dos panos de alvenaria, foram pedras sedimentares calcárias e argilosas, dispostas maioritariamente em fiadas e em coluna. Para além destas pedras serem utilizadas nos panos, foram

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encontradas as mesmas pedras mas de dimensões inferiores, aproximadamente entre 4 mm e 7 cm (seixos), no interior das alvenarias, tendo como função o enchimento juntamente com as argamassas assim como de calços ou cunhas das pedras de maiores dimensões, que constituem os panos. Também é de referir que foi notada a existência de elementos cerâmicos tanto em zonas interiores das alvenarias como, em alguns casos, nos panos.

Em algumas paredes de alvenaria, também foram encontrados grumos de cal nas argamassas. Isto explica-se pela realização de uma extinção não total da cal aérea.

Tabela 1 – Identificação e caracterização de algumas das paredes analisadas

Local Foto Classificação Orientação/ Dimensão Transversal Materiais

Campus FCT Elevação – 100m 38°39'48.03"N 9°12'13.84"O - Parede de pano duplo sem conexão - Parede resistente ou mestra - Parede de alvenaria ordinária

Este / 65cm

- Pedras sedimentares calcárias - Pedras sedimentares argilosas - Argamassa de cal aérea com agregados de componentes argilosas - Placas de tijolo cerâmico - Existência de grumos de cal carbonatada na argamassa Charneca Elevação – 64m 38º37’36.51’’N 9º12’18.74’’O

- Pano duplo com conexão transversal garantida por pedras compridas de formato regular (perpianhos) Parede resistente ou mestra - Parede de alvenaria ordinária Norte / 75cm

- Pedras sedimentares calcárias - Pedras sedimentares argilosas - Dois tipos de argamassa de cal aérea; uma com agregados de componentes arenosas e outro argilosas

Monte da Caparica Elevação – 98m 38º40’04.46’’N 9º12’08.44’’O - Parede de três panos com pano interior espesso - Parede resistente ou mestra - Parede de alvenaria ordinária Sul / 130cm - Pedras calcárias - Pedras argilosas

- Argamassa de cal aérea com adições pozolânicas de pó de tijolo - Seixo rolado Pilotos Elevação – 85m 38°38'56.36"N 9°12'21.05"O - Parede de um pano - Parede divisória - Parede de alvenaria ordinária Norte / 72cm

-Placas de tijolo cerâmico -Argamassa de cal aérea com terra -Argamassa de cal aérea com agregados de componentes arenosas - Madeira para batentes das portas (buchas)

- Pedras sedimentares argilosas

Vila Nova Elevação – 94m 38°38'28.30"N 9°12'36.73"O - Parede de um pano - Parede resistente ou mestra - Parede de alvenaria ordinária Norte / 92cm

- Pedras sedimentares argilosas - Argamassa de cal aérea com agregados de componentes arenosas - Existência de grumos de cal carbonatada na argamassa

4.2. Caracterização das paredes de alvenaria – comparação com a literatura

Neste ponto é realizado uma comparação entre as características das paredes de alvenarias antigas em estudo com um caso estudo da vila histórica de Tentúgal [9]. São apresentados dados percentuais relativos à espessura das alvenarias e tipo de secção transversal.

A Figura 3 mostra a distribuição percentual das espessuras das alvenarias em estudo assim como as alvenarias do caso estudo realizado por Pagaimo [9]. Pode-se observar que a distribuição das espessuras não são semelhantes, tendo a maioria das alvenarias presentes em Tentúgal (62,5 %) espessuras compreendidas entre os 47,5 cm e os 55 cm, enquanto as paredes em estudo neste trabalho têm maior incidência na gama de valores compreendida entre os 55 e os 65 cm (33,33 %). Por outo lado, é digno de nota as espessuras superiores a 95 cm que algumas das paredes deste

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trabalho apresentam. Isto deve-se ao facto de não estarem a ser estudadas apenas alvenarias que pertenciam a edifícios habitacionais. Quatro das paredes em estudo são pertencentes a um moinho de vento, caracterizado por ser uma construção em altura e estar sujeito a várias acções dinâmicas devido às suas pás em movimento. Estes factores levam a que as alvenarias necessitem de ter espessuras superiores ao normal.

Note-se que segundo estes dados, não existe um valor de espessura predominante, o que leva a crer que não existiam espessuras pré determinadas para a construção das alvenarias antigas, apenas havia uma certa noção da dimensão transversal da alvenaria consoante a tipologia e as funcionalidades pretendidas.

Figura 3 - Espessuras médias das alvenarias em estudo (esquerda) e alvenarias de Tentúgal (direita)[9]

Relativamente à tipologia das secções transversais em estudo (Figura 4), pode-se afirmar que metade das alvenarias é de um só pano e que um quarto delas são panos duplos com conexão transversal. Mais uma vez, a existência de alvenarias de pano triplo neste estudo deve-se ao facto de se ter estudado alvenarias de um moinho de vento. Segundo Pagaimo, também as alvenarias analisadas em Tentúgal (maioritariamente habitacionais) apresentam em maioria secções transversais de pano simples e duplo. Assim, estes valores indicam que em construções simples como edifícios habitacionais as paredes eram geralmente alvenarias de pano simples ou duplo (com ou sem ligação), conforme as necessidades funcionais.

Figura 4 - Tipo de secção transversal das alvenarias em estudo (esquerda) e alvenarias de Tentúgal (direita) [9] 4.3. Quantificação dos materiais das paredes de alvenaria através de fotografias da secção transversal No intuito de proceder à caracterização das paredes de alvenaria antiga, fez-se a quantificação, em percentagem, dos materiais existentes de todas as secções transversais das paredes em estudo. Para a realização desta quantificação dos materiais, foram tiradas fotografias (já mostradas na Tabela 1) às secções das alvenarias em estudo, com a máquina o mais possível paralela à parede, centrada relativamente à altura e largura das paredes e sempre com um objecto a servir de referência para a escala (neste caso foi utilizado um tijolo maciço de 11). Ao tirarem-se as fotografias foi tido sempre em conta que as mesmas deviam ter qualidade suficiente para que fosse possível identificar os diferentes tipos de materiais e as suas fronteiras. De seguida, as fotografias foram analisadas na ferramenta de desenho computacional

Autocad 2013 e retiradas as áreas de cada um dos materiais, incluindo os vazios.

Na Figura 5 é apresentado o trabalho de caracterização das secções transversais de algumas das paredes de alvenaria antiga em estudo. 25% 33.33% 16.67% 0 % 8.33% 16.67% esp < 55 55 < esp ≤ 65 65 < esp ≤ 75 75 < esp ≤ 85 85 < esp ≤ 95 95 < esp % s e cçõe s anal is adas

Espessura média da parede (cm)

50 %

8.33%

25%

16.67%

Pano simples Pano duplo sem ligação

Pano duplo com ligaçao Pano triplo % s e cçõe s anal is adas

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Figura 5 - Esquemas das secções transversais dos locais: a) Campus FCT, b) Charneca de Caparica, c) Monte de Caparica, d) Pilotos, e) Vila Nova de Caparica

As paredes em estudo apresentavam, como esperado, dois materiais em maior quantidade em comparação com os restantes, sendo estes materiais as pedras, tanto calcárias como argilosas, assim como a argamassa à base de cal aérea misturada com terra (solo compactado), mas com composições diferentes de zona para zona e até em certos casos de parede para parede. O gráfico seguinte (Figura 6) mostra a média das áreas de cada material nas secções transversais das paredes estudadas.

Figura 6 - Médias percentuais dos materiais existentes nas paredes dos 5 locais estudados

Ao analisar-se estes gráficos, como já foi referido, é manifestamente visível a grande diferença entre a quantidade de pedras e argamassa (misturado com terra compactada) e a quantidade dos restantes elementos. Isto era esperado uma vez que as paredes em estudos são alvenarias de pedra ordinária, e a característica principal destas alvenarias é ter uma estrutura de pedra (pedra tosca e irregular), ligada por uma argamassa ordinária. Em média, as paredes no global apresentavam nas suas secções transversais, como apresentado na Figura 6, 42,3% de pedra, 45,6% de argamassa, 5,8% de elementos cerâmicos, 6% de reboco e 0,3% de vazios. A percentagem elevada de argamassa deve-se ao facto de esta ser misturada com materiais que estavam próximos da zona de construção ou até mesmo restos de materiais utilizados noutros elementos da construção, o que dificulta a identificação com precisão da percentagem real de argamassa. Relativamente à percentagem de vazios (0,3%), valor significativamente baixo, leva a concluir que as paredes de alvenaria antiga são estruturas maciças (bem compactas), indo ao encontro do publicado por outros autores, como L. Binda [6], que afirma que estas se comportam como um só elemento (comportamento monolítico).

0 20 40 60 42.3 45.6 5.8 6.0 0.3 % Pilotos Charneca Monte da Caparica Campus FCT Vila Nova Média

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4.4. Caracterização dos vazios das paredes de alvenaria – áreas e menores dimensões

No seguimento da análise da secção transversal das paredes de alvenaria antiga, na ferramenta de desenho computacional Autocad 2013, foram medidas as áreas e a menor dimensão dos vazios. Este estudo teve como intuito conhecer a porosidade das secções transversais destas paredes, assim como fazer uma avaliação para futuras intervenções de reabilitação e/ou reparação, como por exemplo através de injecções de caldas.

O cálculo das áreas dos vazios, da mesma forma que para as áreas dos materiais, foi feito através da análise individual do comando “hatch” que nos fornece dados como área. Posto isto, são apresentadas em seguida na Figura 7 as áreas dos vazios, divididas por intervalos, para que se possa ter uma noção da quantidade de vazios existentes para uma determinada gama de dimensões. Ao analisarem-se os gráficos, pode-se constatar que os vazios das paredes no global, apresentam valores baixos, a maioria das áreas encontradas estão entre os 0 e os 4 cm2, confirmando a elevada compacidade deste género de alvenaria, devido aos seus materiais estarem fortemente ligados e assim conferirem a esta uma aparência bastante compacta.

Comparando os valores obtidos com o estudo realizado por Binda, entre os anos de 1995 e 1999, que englobou cerca de 200 secções transversais de alvenarias de diferentes regiões italianas, pode-se concluir que as alvenarias em estudo são mais compactas que as estudadas por L. Binda. Segundo o estudo de Binda, 60% do total dos vazios apresentavam áreas com valores entre 1,5 cm2 e 4,5 cm2 e os restantes 40% tinham áreas entre os 4,5 cm2 e 18 cm2. Já no presente estudo, 84% dos vazios tem áreas entre os 0 cm2 e os 4 cm2, 13% com áreas entre os 4 cm2 e os 20 cm2 e os restantes 3% correspondiam a áreas superiores aos 20 cm2. Esta análise comparativa pode levar à conclusão de que as alvenarias antigas, independentemente do local em que foram construídas, podem diferir quer em termos de características e geometria, quer em termos de composição e comportamento.

Quanto à menor dimensão dos vazios esta foi calculada também na ferramenta de desenho computacional Autocad 2013 recorrendo ao comando “dist” o qual fornece distâncias. É possível verificar nos gráficos da Figura 7 que os valores das menores dimensões dos vazios diferem substancialmente de zona para zona, salientando-se mais uma vez a heterogeneidade que está presente neste tipo de alvenarias.

É importante salientar que a menor dimensão dos vazios tem especial importância em âmbitos de reabilitação e/ou reparação de estruturas através de injecções de caldas. A eficácia da injecção está associada ao preenchimento dos vazios existentes numa parede, estando a injectabilidade de uma calda dependente da dimensão e volume dos vazios. Atendendo à percentagem e dimensão dos vazios das paredes analisadas, conclui-se que a técnica de injecção de grouts nestas paredes dificilmente é uma solução de reforço eficaz, dado que o rácio volume de grout injectado sobre o volume total da parede é bastante reduzido.

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5. CONCLUSÃO:

Este trabalho teve como objectivo contribuir para um conhecimento mais profundo das paredes de alvenaria antiga, inserindo-se no âmbito da reabilitação deste tipo de paredes, com vista a ajudar a manter e preservar o património histórico edificado.

Este trabalho pôde averiguar que as paredes de alvenaria antiga demonstram uma heterogeneidade ao nível da tipologia e espessura da secção transversal, materiais constituintes, dimensão e distribuição de vazios e na forma de execução. De uma forma mais detalhada, as análises experimentais permitiram concluir que as alvenarias estudadas:

- No que toca à espessura da secção transversal, as paredes em estudo têm maior incidência na gama de valores compreendida entre os 55 e os 65 cm (33,33 %), valores superiores aos obtidos por Tentúgal que obteve 62,5 % das espessuras compreendidas entre os 47,5 cm e os 55 cm. Dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que não existe um valor de espessura predominante, o que leva a crer que não existiam espessuras pré determinadas para a construção das alvenarias antigas, apenas havia uma certa noção da dimensão transversal da alvenaria consoante a tipologia e as funcionalidades pretendidas.

- Relativamente à tipologia das secções transversais, os valores indicam que em construções simples como edifícios habitacionais as paredes são geralmente alvenarias de pano simples ou duplo (com ou sem ligação), conforme as necessidades funcionais. Só em casos excepcionais (por exemplo: construção de um moinho) é observado a tipologia de pano triplo.

- As paredes em estudo apresentavam dois materiais em maior percentagem comparando com os restantes, sendo estes materiais as pedras (42,3%), tanto calcárias como argilosas, assim como a argamassa à base de cal aérea (45,6%). Estes valores não são surpreendentes, uma vez que as paredes em estudos são alvenarias de pedra ordinária, e a característica principal destas alvenarias é ter uma estrutura de pedra (pedra tosca e irregular), ligada por uma argamassa ordinária. - A percentagem de vazios calculada foi um valor significativamente baixo (0,3%), sendo que 84% dos vazios tem áreas entre os 0 cm2 e os 4 cm2. Já a menor dimensão dos vazios difere substancialmente de zona para zona, salientando-se mais uma vez a heterogeneidade que está presente neste tipo de alvenarias.

- Por um lado, a porosidade e porometria de uma alvenaria antiga são bastante variáveis. Por outro, a injectabilidade de uma calda está dependente da dimensão dos vazios existentes. Assim, na reabilitação/reforço de uma alvenaria através de injecções de caldas, deve ser realizado um estudo prévio da alvenaria a fim de averiguar se a percentagem e dimensão dos vazios existentes é adequada para a realização de uma injecção de grout.

6. AGRADECIMENTOS

O trabalho realizado recebeu suporte financeiro por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia – Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior através da bolsa de doutoramento com a referência SFRH/BD/80616/2011.

7. REFERÊNCIAS:

[1] Pinho FFS. “Paredes de alvenaria ordinária – estudo experimental com modelos simples e reforçados”. Tese de

Doutoramento Em Engenharia Civil, Especialidade Em Ciências Da Construção Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências e Tecnologia, DEC, Lisboa 2007.

[2] Jorne F, Henriques FMA, Baltazar LG. “Injection capacity of hydraulic lime grouts in different porous media”.

Materials and Structures 2014. doi:10.1617/s11527-014-0304-9.

[3] Jorne F, Henriques FMA, Baltazar LG. “Evaluation of consolidation of different porous media with hydraulic lime grout injection”. Journal of Cultural Heritage 2014. doi:10.1016/j.culher.2014.10.005.

[4] Mascarenhas J. “Paredes (2ª parte) e Materiais Básicos (1ª parte). Sistemas de Construção”. Livros Horizonte, 5a Edição, 2010.

[5] Binda L. et al.. “Repair and investigation techniques for stone masonry walls”. Construction and Building

Materials 1997;11:133–42.

[6] Binda L. et al.. “Vulnerability analysis of the historical buildings in seismic area by a multilevel approach”. Asian

Journal Of Civil Engineering (Building And Housing) 2006;7:343–57.

[7] Binda L. Saisi A.” State of the Art of Research on Historic Structures in Italy”. Dept of Structural Engineering -

Politecnico of Milan Italy 1996.

[8] Pinho FFS. Sistematização do estudo sobre paredes de edifícios antigos. Ingenium n.d.;2° série:pp. 49–59. [9] Pagaimo F. “Caracterização Morfológica e Mecânica de Alvenarias Antigas; Caso de Estudo da Vila Histórica de

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