Doença por Vírus Ébola
Perspetiva Atual
Ana Rita Eusébio
Coordenadora Regional de Saúde Pública
HSEIT – Planeamento e Intervenção em Situações de Exceção 08/2015
Vírus Ébola
Identificado novo vírus em 1976
epidemia de febre hemorrágica no Sudão e na RDC
Diversos surtos de 1976 a 2012: 2387 casos, 1590 óbitos (Tx Let. 66%) Agente
Vírus Ebola, família Filoviridae Reservatório
Morcegos; também gorilas, chimpanzés, macacos, antílopes Via de transmissão
Sangue, secreções, tecidos, órgãos ou líquidos orgânicos de doentes vivos ou cadáveres ou animais infetados (vivos ou mortos), ou através da manipulação ou ingestão de carne de caça (primatas, antílopes e algumas espécies de morcegos)
Surtos
País Cidade/Província Nº casos Nº Mortes Espécie Anos Dem. Rep. of
Congo
Kikwit 315 250 Zaire ebolavirus 1995
Côte d'Ivoire (Ivory Coast)
Tai Forest 1 0 Taï Forest ebolavirus
1994
Gabon Mekouka 52 31 Zaire ebolavirus 1994 South Sudan Nzara 34 22 Sudan
ebolavirus
1979
Dem. Rep. of Congo
Tandala 1 1 Zaire ebolavirus 1977
South Sudan Nzara 284 151 Sudan ebolavirus
1976
Dem. Rep. of Congo
Yambuku 318 280 Zaire ebolavirus 1976
Republic of Congo
Mbomo 35 29 Zaire ebolavirus 2003
Republic of Congo
Mbomo 143 128 Zaire ebolavirus 2002
Republic of Congo
Not specified 57 43 Zaire ebolavirus
2001 Gabon Libreville 65 53 Zaire
ebolavirus
2001
Uganda Gulu 425 224 Sudan
ebolavirus
2000 South Africa Johannesburg 2 1 Zaire
ebolavirus
1996
Gabon Booue 60 45 Zaire
ebolavirus
1996
Gabon Mayibout 37 21 Zaire
ebolavirus
1996 South Sudan Yambio 17 7 Zaire
ebolavirus 2004 Dem. Rep. of Congo Luebo 264 187 Zaire ebolavirus 2007 Uganda Bundibugyo 149 37 Bundibugyo
ebolavirus
Dem. Rep. of Congo
Luebo 32 15 Zaire ebolavirus 2008 Uganda Luwero District 1 1 Sudan
ebolavirus
2011 Uganda Kibaale District 11* 4* Sudan
ebolavirus 2012 Dem. Rep. of Congo Isiro Health Zone 36* 13* Bundibugyo ebolavirus 2012 Uganda Luwero District 6* 3* Sudan
ebolavirus
2012 Dem. Rep. of
Congo
multiple 66 49 Zaire ebolavirus 2014 Vários Países 10 países 27965 11298 Zaire
ebolavirus
Surto na África Ocidental - cronologia
Dezembro 2013
Primeiros casos em Meliandou, Guiné Conacri 22 Março 2014
Guiné Conacry notifica a OMS sobre um surto com evolução rápida Maio 2014
Serra Leoa e Liberia notificam primeiros casos Fim de Julho 2014
Caso viajou para Lagos, Nigeria > transmissão local 8 Agosto 2014
WHO declarou “Situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional”
29 Agosto 2014
Surto na África Ocidental - cronologia
18 Setembro 2014
Conselho de Segurança das Nações Unidas reconhece o surto como uma
“ameaça à paz e segurança internacional” 30 Setembro 2014
USA anunciam primeiro caso importado 6 Outubro 2014
Espanha confirma primeiro caso de transmissão secundária
10 Outubro 2014
USA confirmam caso de transmissão secundária 23 Outubro 2014
Mali notifica primeiro caso importado Agosto 2015…
Vias de transmissão
Em seres humanos, as principais vias de transmissão são por contato:
fluídos orgânicos de doentes vivos ou cadáveres ou animais infetados (vivos ou mortos), ou através da manipulação ou ingestão de carne de caça (primatas, antílopes e algumas espécies de morcegos);
superfícies ou objetos contaminados com sangue ou outros fluídos orgânicos de pessoas ou animais infetados, vivos ou mortos;
A transmissão do vírus pessoa a pessoa ocorre a partir do início dos sintomas
Não há evidência epidemiológica de transmissão por aerossol no contexto da história natural da doença.
Ocasionalmente, por contactos sexuais não protegidos com homens infetados, pode ocorrer doença até 3 meses após a cura clínica.
O risco de infeção é considerado baixo, desde que não exista exposição direta a pessoas sintomáticas, animais doentes, superfícies ou objetos contaminados. Existe risco acrescido para os profissionais de saúde que pode ser minimizado com medidas de controlo de infeção: – Orientação nº 020/2014 “Procedimentos e Equipamento de Proteção Individual (EPI)” – Orientação nº 021/2014 “Descontaminação e Gestão de Resíduos”.
Números a 12/08/2015
De acordo com dados da OMS, publicados a 12 de agosto, foram identificados 27 965 casos de doença por vírus Ébola, em dez países (Guiné, Serra Leoa, Libéria, EUA, Reino Unido, Senegal, Itália, Espanha, Mali e Nigéria), incluindo 11 298 óbitos. Na semana até 9 de agosto, na Guiné, foram notificados 2 novos casos (4 na semana anterior) e na Serra Leoa 1 (3 na semana anterior). Na Libéria não há novos casos reportados desde 12 julho.
Situação a 12/08/2015
•27965 Casos •11298 Óbitos
Orientações- Doença por Vírus Ébola
Orientação nº 012/2014 - Procedimentos gerais
Orientação nº 013/2014 - Procedimentos de vigilância de viajantes por via marítima
Orientação nº 014/2014 - Procedimentos de vigilância de viajantes durante um voo, antes do embarque ou após o desembarque
Orientação nº 015/2014 – Procedimentos laboratoriais para Hospitais de Referência e INSA
Orientação nº 018/2014 - Vigilância de Contactos
Orientação nº 019/2014 – Procedimentos perante um doente que se apresente nos serviços de saúde
Orientação nº 020/2014 – Equipamento de Proteção Individual (EPI) Orientação nº 021/2014 - Descontaminação e Gestão de Resíduos
Orientação do INFARMED DE 28/10/2014 - Orientações de Acesso a Terapêuticas Experimentais
Circulares Normativas Regionais- Doença por Vírus Ébola
CN nº 30 de 21/10/2014 CN nº 31 de 21/10/2014
Período de incubação
O período médio de incubação é de 2 a 21 dias. Período de transmissibilidade
Desde o início da febre e enquanto os doentes têm sintomatologia.
O vírus pode ser encontrado no sémen durante pelo menos 7 semanas após a cura clínica.
Letalidade
Até 90%.
A doença tem, habitualmente, uma evolução de cerca de duas semanas, após as quais o doente entra em convalescença e cura ou evolui para a morte.
Tratamento
De suporte médico, dependendo do quadro clínico do doente. Não há indicação para quimioprofilaxia nem há vacina disponível.
Definição de Caso Suspeito (CN DRS nº 31 de 21/10/1014)
Pessoa que apresente os seguintes critérios clínicos e epidemiológicos:
Critérios clínicos 1
Febre de início súbito E
pelo menos, mais um dos seguintes sintomas/sinais:
Mialgias, astenia, cãibras, odinofagia;
Vómitos, diarreia, anorexia, dor abdominal;
Cefaleias, confusão, prostração;
Conjuntivite, faringe hiperemiada;
Exantema maculo-papular, predominante no tronco;
Tosse, dor no peito, dificuldade respiratória;
Hemorragias.
Em estadios mais avançados pode ocorrer insuficiência renal e hepática, distúrbios da coagulação, entre os quais coagulação intravascular disseminada (CID) e evolução para falência multiorgânica.
Critério epidemiológico
Estadia (viagem ou residência) em
área afetada (Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa) num período de 21 dias antes do início dos sintomas.
OU
Contacto próximo com doente infetado por Vírus Ébola, com superfícies ou objetos contaminados ou outras situações (ver definição de Contacto Próximo)
Critérios Clínicos: Ponderados diagnósticos diferenciais, entre outros: malária,
shigellose e outras doenças infeciosas entéricas bacterianas, febre tifóide, febre amarela e outras febres hemorrágicas a flavivírus, febre de Lassa, leptospirose, hantavírus, hepatite viral, febre reumática, peste, tularémia, tifo exantemático e mononucleose infeciosa. No entanto, a confirmação laboratorial de malária (presença de parasitas) ou outra doença não exclui a presença de infeção por vírus ébola.
Caso Provável
Doente com critérios de Caso suspeito + validação da Linha Saúde
Caso suspeito falecido sem recolha de produtos biológicos para análise + link epidemiológico comprovado com um Caso confirmado
Caso Confirmado
Contacto Próximo
Pessoa que:
Prestou assistência, sem proteção adequada, a doente(s) com infeção por vírus Ébola;
Coabitou com doente(s) infetado(s) por vírus Ébola;
Teve contacto direto com Fluídos orgânicos de doente vivo ou cadáver, com animais infetados (vivos ou mortos) ou através da manipulação ou ingestão de carne de caça, proveniente dos países afetados;
Superfícies ou objetos contaminados com sangue ou outros fluidos orgânicos de doente ou cadáver;
Dispositivos médicos utilizados no seu tratamento;
Cadáver suspeitos de doença por vírus Ébola, incluindo participação em rituais fúnebres;
ACTUAÇÃO PERANTE UM CASO SUSPEITO - Situação em que o doente se
dirige diretamente aos serviços de saúde
1. Averiguar sobre critérios clínicos e epidemiológicos;
2. O profissional perante um Caso Suspeito deve criar medidas de barreira imediatas
(ver Orientação nº 019/2014 “Procedimentos perante um doente que se apresente nos serviços de saúde”; CN nº 30 de 21/10/2014)
- Distância mínima de 2 metros, entre o Caso suspeito e qualquer outra pessoa
- Evitar contacto físico do Caso suspeito com outras pessoas ou profissionais
- Calçar luvas e fornecer uma máscara cirúrgica ao doente, se possível
- Colocar o Caso suspeito em isolamento numa área restrita
3. O Caso suspeito ou provável em área restrita terá vigilância indireta, permitindo a sua monitorização clínica
Perante a suspeita clínica de DVE, em doente que recorre aos serviços de saúde, deverá ser contactada a Linha de Saúde Açores, através do telefone nº 808 24 60 24 para validação ou não do caso.
Caso suspeito não validado, fica encerrado para DVE, devendo continuar a investigação diagnóstica de acordo com a situação clínica
Caso suspeito validado: o doente permanece em isolamento, num quarto com pressão negativa, preferencialmente, devendo aguardar-se pela chegada da equipa especializada, a qual procederá ao transporte do doente da unidade de saúde, em conformidade com os protocolos de segurança instituídos.
A área restrita onde o Caso provável permaneceu, bem como outras zonas potencialmente contaminadas, devem manter-se fechadas até confirmação laboratorial:
– Caso confirmado - os espaços onde este permaneceu ou circulou são isolados e/ou encerrados até à chegada da “Equipa de descontaminação” (Orientação nº 021/2014 “Descontaminação e Gestão de Resíduos”)
– Caso não confirmado – as áreas são abertas e seguidos procedimentos normais de descontaminação
Equipamentos de Protecção Individual/ EPIs
Orientação nº 020 / 2014
Vírus Ébola é classificado como agente de grupo de risco 4; agentes biológicos que causam doenças graves no Homem e constituem um grave risco para os trabalhadores; podem apresentar um risco elevado de propagação na coletividade; regra geral, não existem meios de profilaxia ou de tratamento eficazes (Decreto-Lei nº 84/97, de 16 de abril, Portaria nº 405/98, de 11 de julho e Portaria nº 1036/98, de 15 de dezembro).
Os profissionais dos serviços de prestação de cuidados de saúde que contactam, tratam ou encaminham um Caso suspeito devem:
Colocar máscara cirúrgica ao Caso suspeito, exceto se a sua situação clínica não o permitir
Ao fornecer a máscara, previamente, calçar luvas, manter uma distância mínima de 2 metros e evitar contactos diretos
Unidade de saúde identifica previamente uma área restrita destinada ao isolamento do Caso suspeito, que idealmente deve proporcionar a visualização direta e permitir permanecer encerrada durante um período de tempo
Se validado, o Caso provável apenas é retirado do isolamento pela Equipa Especializada de Transporte.
Níveis de proteção para os profissionais de saúde de acordo com o risco
Nível de proteção 1
Abordagem do doente após a sua identificação como caso suspeito ou provável em qualquer estabelecimento de saúde ou ambiente pré-hospitalar e até ao encaminhamento para o Hospital de referência.
Este nível de proteção aplica-se aos profissionais de saúde e equipas de emergência pré-hospitalar que realizam a primeira abordagem com contacto direto limitado com um Caso suspeito ou provável de DVE, como por exemplo, profissionais envolvidos na triagem nos hospitais e nos centros de saúde e nas equipas de emergência pré-hospitalar.
Estes profissionais devem manter, idealmente, pelo menos 2m de distância do doente, e devem ter como EPI os seguintes elementos: bata, touca, proteção respiratória (máscara FFP2), viseira de proteção facial total, luvas e cobre-botas, com as características descritas na Orientação nº 020 / 2014.
Considerações Finais Visita INSA/DRS 15/03/2015
De acordo com o plano regional e nacional, no caso de existir um caso suspeito de infeção por vírus Ébola, o doente deverá ser isolado no HSEIT, e se o mesmo for validado pela DRS/DGS, o doente deverá, de imediato, ser evacuado para um Hospital de referência no Continente;
A equipa do INSA verificou que o Hospital tem as condições ideais para o isolamento de um doente com suspeita de Ébola, sendo necessário apenas a instalação de manómetros nos quartos de isolamento para monitorizar a pressão negativa.
O laboratório do Hospital Santo Espírito tem as condições para realizar a colheita e o empacotamento da amostra segundo as normas da Organização Mundial de Saúde;
Constatou-se que este Hospital para ficar apto a fazer o isolamento do doente e colheita de amostra biológica, apenas necessita de formação em Colocação/Remoção de Equipamento de Proteção Individual e formação em Transporte de Substâncias Infeciosas.
Estratégias para parar o surto
Quebrar a cadeia de infecção
Isolamento de casos suspeitos e confirmados Identificação e monitorização de contactos Estratégia diferenciada
Países com transmissão mantida
Estratégia em Portugal/ RAA
Plataforma de Resposta à Doença por Vírus Ébola
(Despacho 9/2014, com efeitos a partir de 16/10/2014)
Comissão Interministerial de Coordenação da Resposta ao Ébola Resolução do Conselho de Ministros n.º 60/2014 de 23/10/2014 Orientações Técnicas/ Circulares Normativas
Identificar e gerir casos suspeitos/ Vigilância de Contactos Impedir a transmissão secundária
A Diretora-Geral da OMS, Margaret Chan, afirma que o surto do Ébola em África terminará possivelmente no final de 2015.
“…current surveillance and response capacities have greatly improved and health workers have a better picture of how the disease spreads…”
“…the three most affected West African countries have made huge progress. New cases in Liberia have stopped, and in Guinea and Sierra Leone a total of only three cases have been reported during each of the past two weeks…” “If the current intensity of case detection and contact tracing is sustained, the
virus can be soundly defeated by the end of this year. That means getting to zero and staying at zero,” she said.
The WHO says the latest outbreak of Ebola, which started last year, will not be officially over until there are zero cases of the virus. Affected countries need to have no new reported cases for 42 days before they can be declared virus-free.
Chan said the African Union and the CDC/ ECDC are jointly establishing a communicable disease control system to help African nations better prepare for potential future outbreaks.