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O mal-estar na civilização

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Academic year: 2021

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Sigmund Freud

O mal-estar na civilização

Escrito em 1929, às vésperas da quebra da bolsa de Nova York, O mal-estar na civilização é uma investigação das raízes da

infelicidade humana, do conflito entre instintos e cultura, e de como a sociedade se impõe sobre o homem. Nele, Freud defende a ideia de que a civilização poupa os homens das principais fontes de sofrimento, protegendo-os da natureza e regulamentando os vínculos que criam entre si, mas, em troca, exige o sacrifício de suas pulsões. Ao traçar esse embate entre homem e civilização, Freud definiu seus principais conceitos psicanalíticos – Eu, Super- eu, pulsões de prazer e de morte – e modificou definitivamente a imagem que o homem tem de si mesmo, dando origem à

psicanálise.

Este clássico da sociologia e da antropologia proporciona um verdadeiro mergulho na teoria freudiana da cultura, segundo a qual civilização e sexualidade coexistem de modo sempre conflituoso. A partir dos fundamentos biológicos da libido e da agressividade, Freud demonstra que a repressão e a sublimação dos instintos sexuais, bem como sua canalização para o mundo do trabalho, constituem as principais causas das doenças psíquicas de nossa época.

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1. Segundo Freud, nada é mais seguro do que o sentimento que o homem possui acerca do Eu. Como ele se origina?

Quando nasce, o bebê não é capaz de separar o Eu do mundo exterior, mas alcança essa distinção aos poucos, por meio de diversos estímulos. Ele percebe que não consegue satisfazer sua vontade de mamar sempre que deseja, pois essa satisfação não depende apenas dele. É assim que o Eu se contrapõe inicialmente a um “objeto”

– o peito materno –, algo que se acha “fora” e somente através de uma ação particular – o grito – aparece. Por meio da dor e do incômodo, o bebê é estimulado a isolar todas as fontes de desprazer, distinguindo o que pertence ao Eu do que faz parte do mundo exterior. (cap. i)

2. Quais são as principais fontes do sofrimento humano? Que métodos o homem utiliza para evitá-lo?

O sofrimento humano pode ter origem no próprio corpo, no mundo externo ou nas relações com outras pessoas. Segundo Freud, o homem pode evitá-lo de diversas maneiras. A primeira é o uso de entorpecentes que agem sobre o corpo, modificando sua química, tornando-o insensível à dor e proporcionando prazer. Outra forma é a meditação, que tem como finalidade a liquidação dos instintos, de modo que não há sofrimento por não satisfazê-los. O deslocamento da libido também é uma maneira de afastar a dor: se o homem busca suas satisfações internamente, ele se torna independente do mundo exterior. Além disso, o homem também pode se utilizar de gratificações substitutivas (como a arte, que ofusca a realidade) ou colocar o amor no centro de sua vida, esperando toda satisfação

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dele. Por fim, outro método utilizado para evitar o sofrimento é o rompimento com a realidade, compreendida como o único inimigo.

Ao trilhar esse caminho, contudo, o homem enlouquece. (cap. ii) 3. Como Freud define a civilização?

A civilização é definida por Freud como a soma das realizações e instituições que diferenciam a vida de um homem daquela vivida por seus antepassados. Ela possui dois objetivos: proteger o homem da natureza e regulamentar as relações humanas. A civilização não diz respeito somente ao que é útil para o homem, mas também ao que parece inútil, como a beleza e a ordem. Outro traço característico é o cultivo das atividades psíquicas elevadas e a valorização das ideias, como a religião e a filosofia. (cap. iii)

4. De acordo com Freud, a civilização não existe onde a liberdade individual predomina. Explique essa afirmação.

Antes de a civilização existir, a liberdade individual predominava, mas não possuía valor, já que os homens não conseguiam defendê- la por estarem sujeitos àquele que fosse fisicamente mais forte. A força bruta definia quem determinaria as relações humanas por meio de seus interesses e instintos, fazendo dos mais fracos vítimas da brutalidade e da arbitrariedade dos mais fortes. Com a evolução cultural e o surgimento da civilização, as liberdades individuais passaram a sofrer restrições, mas possibilitaram que os homens vivessem em grupo. Assim, a maioria, o todo, tornou-se mais forte do que qualquer indivíduo. (cap. iii)

5. Quais são os dois fundamentos principais da vida em comunidade?

Os fundamentos da vida em comunidade são a compulsão ao trabalho, criada pela necessidade externa, e o poder do amor, que no caso do homem não dispensa o objeto sexual (a mulher), e no caso da mulher não dispensa aquele a quem deu origem (a criança). (cap.

iv)

6. De que forma se dá o conflito entre a família e a civilização? Por que a mulher torna-se hostil à vida em comunidade?

A civilização exige que os homens se agrupem em grandes unidades, enquanto a família consiste em uma unidade pequena,

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que deseja permanecer unida. Assim, a família resiste em ceder o indivíduo para a comunidade, preferindo se manter isolada do resto da civilização. A hostilidade das mulheres em relação à civilização decorre do fato de serem elas as representantes dos interesses da família e da vida sexual. O trabalho e a vida em comunidade exigem muito dos homens, obrigando-os a refrear seus instintos e alienando- os de seus deveres como membros de uma família. Desse modo, a energia e a atenção do homem acabam se centrando em atender às solicitações da cultura, e a mulher e a família são relegadas ao segundo plano. (cap. iv)

7. Por que a vida sexual do homem civilizado está gravemente prejudicada?

De acordo com Freud, a civilização restringe a vida sexual do indivíduo, determinando que somente o sexo oposto se torne objeto de seu amor sexual. Assim, define como perversa a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo e proíbe a escolha incestuosa. À civilização não agrada a ideia do sexo apenas como fonte de prazer, mas sim como modo de reprodução. Apesar de somente os fracos sujeitarem-se a uma interferência tão radical em suas vidas sexuais, o que obriga a sociedade a fechar os olhos para certas práticas, isso não impede que as restrições exerçam efeitos prejudiciais na vida sexual dos seres humanos. Assim, para o homem civilizado, o sexo deixa de ser fonte de sensações felizes, reduzindo sensivelmente seu papel na busca pela felicidade. (cap. iv)

8. De acordo com Freud, é humanamente impossível cumprir a máxima “ama teu próximo como a ti mesmo”. Por quê?

Freud afirma não ser possível amar o próximo como a si mesmo principalmente se o próximo é alguém desconhecido, que não possui nenhum papel na vida emocional do indivíduo. Se o amor é disputado por seus familiares, amigos e amantes, seria injusto amar alguém que não faz parte desse círculo e que não é digno desse amor. Já que o desconhecido não demonstra nenhuma consideração em relação ao indivíduo e acaba muitas vezes por prejudicá-lo, é provável que o indivíduo odeie o desconhecido e direcione seus impulsos agressivos a ele. (cap. v)

9. Qual é a relação entre a agressividade inata do homem e a

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repressão imposta pela sociedade à sua vida sexual?

A repressão à vida sexual é a solução encontrada pela sociedade para frear as pulsões agressivas do homem. A humanidade possui instintos agressivos muito fortes, que perturbam as relações e ameaçam a sociedade. Dessa forma, a civilização faz o possível para unir os membros da comunidade por meio da amizade, criando laços de identificação e fortalecendo vínculos. Para isso, é inevitável que a vida sexual seja reprimida e que a libido seja direcionada para um amor fraternal. (cap. v)

10. Para Freud, o comunismo é viável? Por quê?

De acordo com Freud, o pressuposto psicológico do comunismo, que afirma que a supressão da propriedade privada acabaria com os conflitos entre os homens, não faz sentido e é inviável. A supressão da propriedade privada não significa a supressão dos instintos agressivos, que são inatos ao homem. É uma ilusão crer que sem a propriedade todos viveriam em harmonia e deixariam de se

maltratar, pois, mesmo antes de a propriedade existir, a agressividade já reinava entre os homens. (cap. v)

11. Por que Freud afirma que a evolução cultural é a luta vital da espécie humana?

Ao lado dos vínculos amorosos e fraternais que surgem entre os indivíduos, fortalecidos pela sociedade, há também o instinto agressivo, de destruição e hostilidade de um contra todos, o instinto de morte. Desse modo, para Freud, a evolução cultural apresenta a luta entre o instinto de vida e o instinto de morte, embate que corresponde ao conteúdo essencial da vida humana. (cap. vi) 12. De que forma a agressividade é internalizada pelo indivíduo?

A agressividade é internalizada dirigindo-se contra o próprio Eu, onde é acolhida pelo Super-eu. O Super-eu exerce sobre o Eu a agressividade que o Eu gostaria de exercer sobre os outros seres humanos, dando continuidade ao rigor da autoridade da civilização.

(cap. vii)

13. Qual é a relação da renúncia ao instinto com o sentimento de culpa?

Ao sentir medo do Super-eu, o indivíduo renuncia ao instinto.

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Contudo, isso não evita o surgimento do sentimento de culpa, pois o desejo de satisfazer aquele instinto persiste. Já que não se pode ocultar nada ao Super-eu, esse desejo é descoberto e o sentimento de culpa surge. (cap. vii)

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Leituras recomendadas

Freud, Sigmund. Freud (1930-1936): O mal-estar na civilização e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Mezan, Renato. Freud, pensador da cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Roazen, Paul. Como Freud trabalhava. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

Referências

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