Aula 7
CRIMES OMISSIVO PRÓPRIO
O que é o crime omissivo próprio?
É aquele em que a lei prevê como núcleo da conduta do tipo uma omissão. Situação na qual a lei penal criminaliza aquele que não age em determinada situação que deveria agir (se abstém).
Excluem-se aqui os casos de omissão imprópria – crimes comissivos por
omissão. Neste caso a lei penal não prevê uma omissão, mas sim uma
ação. E o agente que sendo o garante (dever legal, contratual ou gerador
do perigo) não agir para evitar um resultado criminoso, já que possuia o
dever legal de cuidado, responderá pelo crime comissivo (por ação) na
modalidade omissiva imprópria.
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Dever de Solidariedade
Constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato:
Principal ponto de divergência – princípio da lesividade
Um dos aspectos do princípio da lesividade é que só interessa ao Direito Penal punir condutas que de fato violem bens jurídicos penalmente tutelados ou, ao menos, os exponham concretamente a lesão
Luigi Ferrajoli – Nas situações em que, de fato, nenhum perigo subsista, o
que se castiga é a mera desobediência ou violação formal da lei por parte
de uma ação inócua em si mesma. Também estes tipos deveriam ser
reestruturados, sobre a base do princípio da lesividade, como delitos de
lesão, ou pelo menos, de perigo concreto, segundo mereça o bem em
questão uma tutela limitada ao prejuízo ou antecipada à mera colocação
em perigo
Não fazer algo. Não ajudar ou auxiliar.
Dever pessoal – o próprio sujeito age Dolo de omissão
Deixar de prestar assistência
O agente não cria o risco de resultado proibido, mas incrementa o risco.
Criança Abandonada ou Extraviada
Criança – aquele que não tenha 12 anos completos - ECA (8.069/90) art 2º Por qualquer motivo abandonada à própria sorte por seus responsáveis ou tenha com eles perdido o contato ou a vigilância e não saiba retornar ao seu encontro.
Pessoa Inválida
Aquele que não consegue por si só
(autonomamente) prover sua própria
segurança, por condições normais ou
acidentais. Ex: idoso, cego, enfermo.
Adolescente e Adulto
Pessoa com 12 anos ou mais, se estiver abandonada ou extraviada - não há o dever de assistência nestas modalidades.
Contudo, o art. 135 prevê o dever de assistência aplicável a qualquer pessoa (vítima) que se encontre nas seguintes situações: inválida, desamparo ou grave e iminente perigo.
Então, nestas hipóteses o agente responderá por sua omissão.
Ex: garoto de 13 anos perdido na praia.
Nesta parte o sujeito passivo não é qualquer pessoa, é somente a criança
Nesta parte o sujeito passivo é qualquer pessoa.
Erro de Tipo
Agente não ajudou, pois acreditava que a pessoa perdida tinha mais de 12 anos (mas na realidade ainda era criança).
Erro escusável/inescusável – Excluem o dolo –
inexistência de modalidade culposa, agente
não responderá por nada.
O ferimento, desamparo ou perigo devem ser substanciais, de modo a incrementar o risco de um resultado proibido.
Ex: pessoa com ferimento na mão ou perdida dentro de um hospital – não caracterizam o crime. Porque?
Ausência de tipicidade material Pessoa Ferida, ao
Desamparo ou em Grave e Iminente Perigo
Iminência do perigo – o perigo deve ser imediato.
Ex: casa irá desabar dentro de um mês.
Não caracteriza o crime O Sujeito Passivo Não
Pode Estar Sob a Guarda (em qualquer
modalidade) do Sujeito Ativo
Perigo deve ser de pessoa desconhecida ou pessoa sem vínculo com o agente. Se estiver, caracteriza crime omissivo impróprio, abandono de incapaz (art. 133) ou abandono de recém-nascido (art. 134)
Perigo diverso de crime
O Perigo Não Pode ser Gerado Por Crime Em
Andamento
Análise das Elementares
O cidadão tem o poder (faculdade) de agir, mas não o dever.
Dever de solidariedade e não de heroísmo.
Qualquer do povo pode se omitir se o perigo ou ferimento se originar de um crime que está ocorrendo – flagrante delito. Se agir – legítima defesa de 3º
E se puder agir sem risco pessoal (ligar para a polícia, chamar auxílio)? Divergência – a doutrina majoritária entende que não caracteriza a omissão de socorro a ausência de solicitação de auxílio, no caso de crime.
Passada a situação de crime, voltará a existir o dever de assistência, já que o risco é gerado pelo ferimento/desamparo e não mais pelo crime. Quanto tempo?
Razoabilidade. Se não agir? Art. 135 Art. 301. Qualquer do povo
poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
No caso da autoridade/agente policial, ele tem o dever legal de agir, mesmo que estiver de folga/férias.
Neste caso a omissão é
imprópria, respondendo pelo
crime cometido e não pelo 135
2ª Parte – Forma Alternativa de Cometimento
ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Se o agente não socorrer pessoalmente a vítima e também não pedir socorro da autoridade pública, responderá igualmente pela omissão.
Qual autoridade pública?
Aquela com a função própria ou imprópria de assistir no socorro – a autoridade que tenha a habilidade/treinamento para cessar o perigo. Ex: Acidente no trânsito – polícia, bombeiro, médico, socorrista.
Não pode ser qualquer uma. Ex: agente se
depara com pessoa acidentada próxima ao
fórum e pede auxílio para o promotor.
Dever Alternativo ou Subsidiário?
2ª Parte – Forma Alternativa de Cometimento
O cidadão pode escolher se socorre pessoalmente ou solicita auxílio da autoridade?
Não! Dever subsidiário – só solicitará auxílio se não puder socorrer imediatamente, sem risco pessoal.
Ex: criança se afogando em lago na zona rural. Nesta circunstância o socorro será inócuo, pois levará muito tempo até atender ao chamado. Não basta que o agente solicite assistência pública, ele tem o dever pessoal de salvar a criança.
E se não encontrar nenhuma autoridade pública ou pelas circunstâncias seja impossível a chamada de emergência?
Não responderá por nada. O dever do
cidadão é de assistência e não de evitar o
resultado proibido.
Exclusão da tipicidade:
existência de risco pessoal
Não há obrigação de assistência direta, se houver risco pessoal para o agente ou terceiros – incêndio, carro prestes a explodir, agente não sabe nadar etc.
Nestes casos ainda subsiste o dever subsidiário – solicitar assistência pública.
Se não conseguir o contato, não responderá por nada.
Erro de tipo: Suposição de risco pessoal
Pessoa desfalecida na estrada durante a madrugada. Agente não auxilia, por acreditar ser uma emboscada criminosa.
Erro escusável/inescusável – Excluem o
dolo – inexistência de modalidade
culposa, agente não responderá por nada.
Destaques
Momento Consumativo Com a efetiva omissão.
Admite tentativa? Não, por se tratar de crime omissivo próprio. Ou se omite ou não se omite.
E se o socorro já houver sido suprido por terceiros?
Descaracteriza o crime, salvo se o auxílio do agente também for necessário.
Causa de Aumento de Pena
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Forma praeterdolosa – agente tem dolo na omissão, mas culpa na lesão grave ou morte.
Se resultar lesão leve – fica absorvida pelo
art. 135
Omissão no atendimento médico emergencial (pronto-atendimento)
Dever legal do médico, enfermeiro, recepcionista, segurança do estabelecimento de saúde providenciar atendimento imediato para os pacientes graves. Independe de ter plano de saúde ou condições de pagar (discussão posterior na esfera cível).
Se simplesmente se omite em prestar o atendimento:
Art. 135 – Omissão de socorro.
TRÊS SITUAÇÕES
Se condiciona o atendimento a exigência de garantia (cheque-caução, nota
promissória) ou
preenchimento prévio de formulários :
Art. 135-A Condicionamento de atendimento médico- hospitalar emergencial
No caso de omissão para pessoa idosa (60 anos ou mais)
Art. 97 da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso)
IMPORTANTE PARA CONCURSO
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Neste crime, não é só a omissão no socorro. Mas o retardo ou a criação de óbices (dificultar) também são criminalizados.
No concurso público: cuidado ao diferenciar a omissão de socorro simples
para o delito específico contra idoso
Omissão nos acidentes de trânsito
Código de Trânsito Brasileiro
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do
veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se
trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.
Se o condutor não se envolver em acidente algum, mas estiver no contexto do trânsito, será aplicada a regra geral. Art. 135 (Omissão de Socorro) do Código Penal.
Exemplo: Pessoa dirige seu veículo normalmente e avista no acostamento uma pessoa ferida.
Se o condutor se envolver em acidente de trânsito, cujo resultado possa ser lhe atribuído à título de culpa:
incidirá a pena do resultado + causa de aumento de pena.
Exemplo: Pessoa dirige seu veículo acima da velocidade permitida e colide em outro, causando lesões a vítima. Se não prestar socorro, a pena será (art. 303 CTB) de 6 meses a dois anos + 1/3 (§único)
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos
§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302.
à título de culpa.
Ex: Suicida se joga na frente do veículo em alta velocidade; problema técnico absolutamente extraordinário e imprevisível ocasiona a colisão;
outro veículo colide contra o conduzido pelo agente, desviando sua rota e fazendo com que venha a abaloar a vítima.
Inconstitucionalidade do §único do art. 304
Argumentos:
1º) Dever de solidariedade exagerado 2º) Nemo tenetur se detegere
3º) Ausência de tipicidade material - Se a vítima morreu
instantaneamente, se a omissão foi suprida por terceiros ou há apenas
ferimentos leves, inexiste bem jurídico a ser tutelado (perigo de grave
incremento no risco proibido).
Então como fica? Resumo
Motorista que não se envolve em acidente, mas avista pessoa ferida e se omite
Art. 135 CP – Omissão de Socorro. Pena – 1 a 6 meses Motorista se envolve em
acidente, no qual se atribui o resultado à titulo de culpa e se omite
Art. 302 ou 303 CTB + Causa de
Aumento de Pena 2 a 4 anos + 1/3 6 meses a 2 anos + 1/3
Motorista se envolve em acidente, no qual não é possível atribuí-lo o resultado nem à título de culpa, e se omite
Art. 304 CTB
Pena – 6 meses a 1 ano
E se há recusa da vítima em ser socorrida?
Subsiste o dever legal de assistência. O agente deverá socorrê-la mesmo contra sua vontade.
E se a omissão é derivada
de perigo de
linchamento?
Há risco pessoal. Não responderá por nada.
E se a omissão é derivada da inaptidão do agente ou receito de piorar a condição da vítima?
Neste caso não há que se falar em omissão de socorro, pois a omissão deriva de um justo motivo. Assim o agente apenas tem o dever de solicitar apoio das autoridades.
Ex: imobilização da coluna cervical. Kit
médico
Omissão de socorro- Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Nomen Iuris Objeto Jurídico
Sujeito Ativo Sujeito Passivo Elemento Subjetivo
Tentativa Forma Culposa
Concurso de Pessoas
Ação Penal Competência
Rito Comum, Próprio
ou Mão Própria
Forma Livre ou Vinculada Participação de
Pessoas
Material, Formal ou Mera Conduta
Transeunte ou Não Transeunte Crime de Perigo
Criança ou Qualquer pessoa (vide explicação)