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RECURSO I DA TEMPESTIVIDADE À CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (CGU) Pedido Acesso à Informação nº /

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1 À CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (CGU)

Pedido Acesso à Informação nº 09200.000058/2012-13

CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob nº 04.706.954/0001-75, com sede na Rua Barão de Itapetininga, 93, 5º andar, São Paulo/SP, representada por sua diretora executiva e representante legal nos termos de seu Estatuto Social, Sra. LUCIA NADER, vem, respeitosamente, com fundamento no artigo 15 e seguintes da Lei Federal nº 12.527/2011, e no artigo 23 do Decreto nº 7.724/2012, interpor o presente

RECURSO

em face da reiterada negativa de acesso às informações solicitadas ao Ministério das Relações Exteriores, como pelas razões que passaremos a expor.

I – DA TEMPESTIVIDADE

De início, verifica-se que o presente recurso preenche o requisito da tempestividade, posto que a resposta ao recurso interposto pela Recorrente foi recebida no último dia 5 de julho.

É cediço que o Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, estabelece o prazo de 10 (dez) dias para interposição de recurso, como se vê:

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2 União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso”.

Ainda, a Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, determina que “os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento” e que “considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente ou este for encerrado antes da hora normal” (art. 66, caput e § 1o,,

respectivamente).

Portanto, a apresentação deste recurso obedece ao prazo de dez dias exigido pela legislação sendo, pois, tempestivo.

II – DOS FATOS

No dia em que entrou em vigor a nova Lei de Acesso à Informação Pública, 16 de maio de 2012, a Recorrente enviou ao Exmo. Ministro das Relações Exteriores, Sr. Antonio de Aguiar Patriota, pedido de acesso a informações relativas às posições assumidas pelo Brasil no Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o Funcionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para o Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (doravante “Grupo de Trabalho”), no âmbito do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Mais especificamente, foram requisitados, nos termos do pedido, “todos os despachos telegráficos, telegramas e outras formas de comunicação que contenham instruções existentes entre Brasília e Delbrasupa entre 29 de maio de 2011 e 25 de fevereiro de 2012 (ou seja, um mês antes e um mês depois do período em que o processo foi conduzido, uma vez que teve início em 29 de junho de 20111a 25 de janeiro de 20122) referentes ao denominado Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, incluindo os pedidos de instrução e as instruções enviadas para posicionamento do Brasil, nas seguintes reuniões do GT entre 14 de julho e 13 de dezembro de 2011”. (doc. 1)

1 Data da criação do Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o Funcionamento da CIDH para o

Fortalecimento do SIDH, Washington, D.C.

2 Data da apresentação e adoção do Informe Final do Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o

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3 No último dia 18 de junho, a resposta do Ministério das Relações Exteriores foi enviada à Recorrente, assinada apenas por “Serviço de Informação ao Cidadão”, negando acesso a praticamente todos os documentos solicitados.

Tal decisão foi justificada com base no fato de que “esses expedientes, em sua quase totalidade, foram classificados como reservados, em razão das implicações que poderiam advir sobre a participação do Brasil no processo negociador a divulgação, antes de sua conclusão, de posições ou comentários sobre posições de outros países a respeito”. (doc. 2)

Com efeito, apenas dois telegramas de caráter ostensivo foram enviados – números 01057 e 01153 - sendo um deles referente à anuência do governo brasileiro ao convite da Conectas Direitos Humanos (ou seja, a própria Recorrente) para participar de diálogo com a sociedade civil em 28 de outubro de 2011 e outro sobre a aprovação da agenda de uma sessão especial sobre o tema “Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos em Seguimento de Mandatos Derivados das Cúpulas das Américas”, que aconteceria no dia 2 de fevereiro do corrente ano, em Washington D.C, nos Estados Unidos.

Ou seja, o cerne do pedido – o acesso às informações acerca dos debates ocorridos no âmbito do Grupo de Trabalho, que realizou um total de 23 reuniões ao longo de mais de seis meses, foi absolutamente ignorado, sem que fossem fornecidas quaisquer informações relevantes acerca do posicionamento do Brasil nesse processo.

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4 Posto que a negativa de acesso à informação por parte do Ministério das Relações Exteriores não respeitou os requisitos mínimos impostos pela Lei nº 12.527/2011 e pelo Decreto nº 7.724/2012, a Recorrente interpôs recurso no último dia 28 de junho arguindo basicamente: (i) a ausência de fundamentos legais para a classificação e a omissão quanto à autoridade classificadora; (ii) a omissão quanto ao fundamento legal da negativa de acesso; (iii) a omissão quanto à indicação da autoridade competente para apreciação do recurso.

Com esses fundamentos, o recurso apresentou três pedidos principais: (i) a reforma da decisão do Ministério das Relações Exteriores que negou acesso à informação; (ii) o acesso a todas as informações requeridas no pedido protocolado (09200.000058/2012-13) no dia 16 de maio de 2012; (iii) a disponibilização da decisão classificadora dos documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com a apresentação do assunto, do fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do artigo 28 da Lei nº 12.527/2011, e (iv) um pedido subsidiário: a desclassificação das informações indicadas pelo MRE como “reservadas”. (doc. 3)

Na data em que se encerrava o prazo legal para resposta, dia 3 de julho, o Ministério das Relações Exteriores enviou a Recorrente, por meio eletrônico, uma mensagem sui generis, “avisando” que a verdadeira resposta ao recurso seria enviada no dia 5 de julho: “Em virtude do movimento de greve dos servidores deste Ministério - encerrada somente hoje, 3 de julho; da interposição de um fim de semana no prazo inicial previsto para resposta; e do fato das autoridades responsáveis pela avaliação do recurso estarem ausentes do país, não foi possível concluir a resposta ao recurso de Vossa Senhoria. Entretanto, informamos que a resposta ao mesmo será enviada ao seu correio eletrônico até o final do dia 05/07, quinta-feira próxima. Atenciosamente, SIC – Itamaraty” (doc. 4)

Como se vê, alegando greve de servidores, “um fim de semana” e a suposta ausência de autoridades do país (sem juntar/indicar qualquer documento que comprovasse o quanto alegado), o Ministério informou que a verdadeira resposta seria dada fora do prazo previsto em Lei. Ao que parece, entende o MRE ser opção do órgão indicar a data que lhe convém para atender ao pleito da ora Recorrente.

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5 superar, contudo, o desrespeito à exigência da apresentação de fundamentação legal da classificação, bem como a omissão quanto à autoridade classificadora (doc. 5).

Resta evidente, pois, que a resposta ao recurso merece reparo, vez que nega acesso à informação de maneira não justificada idoneamente. É o que se passa a expor.

III – DO DIREITO

1. Razões para reforma da resposta recorrida

A manutenção da negativa de acesso aos documentos solicitados não deve prosperar, posto que, na resposta do Ministério das Relações Exteriores ao recurso, não foram respeitados os requisitos legais impostos pela Lei nº 12.527/2011 e pelo Decreto nº 7.724/2012 no que se refere: (i) aos fundamentos legais da classificação; (ii) à informação da autoridade classificadora.

a) Da ausência de fundamentos legais para a classificação

I) Omissão quanto à suposta ameaça à segurança

A resposta ao recurso ora combatida desrespeitou o mais básico requisito exigido pela Lei nº 12.527/2011 e pelo Decreto nº 7.724/2012: a exposição da fundamentação legal da classificação dos documentos como sendo “reservados”.

Não restam dúvidas quanto à necessidade de que a negativa de acesso à informação classificada como reservada apresente o fundamento legal que levou a essa classificação. É o que dispõe explicitamente o artigo 19, §1o, do Decreto nº 7.724/2012:

Art. 19, §1o : “As razões de negativa de acesso a informação classificada indicarão o

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6 A nova legislação de acesso à informação pública visa concretizar, de uma vez por todas, o direito constitucional à informação. O ethos dessa legislação sustenta-se fundamentalmente na noção de que a transparência é a regra e o sigilo a exceção.

Não é por outro motivo que ela impõe ao poder público o ônus de fundamentar o sigilo das informações sob seu cuidado.

Na resposta ao recurso, contudo, o órgão requerido limitou-se a justificar a manutenção do sigilo com base na suposição de que a divulgação da informação poderia “por em risco a posição negociadora brasileira sobre o tema - com reflexos evidentes sobre a condução das negociações”, além de que “a divulgação irrestrita tanto de informações fornecidas, em caráter sigiloso, por outros Estados quanto de avaliações sobre o processo negociador ainda em curso terão efeitos claramente deletérios sobre a possibilidade e a qualidade da defesa dos interesses nacionais”.

Em primeiro lugar, importante frisar que o fundamento legal é uma exigência que não se resume a, como fez o MRE, apenas apontar determinado artigo na lei sem justificar de que forma e em que medida o fato concreto se subsume à norma.

Em segundo, o Decreto que regulamenta a nova Lei de Acesso à Informação impõe, antes de tudo, que as informações passíveis de classificação sejam consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado. Veja-se a transcrição exata do caput do artigo 25 do Decreto 7.724/2012:

Art. 25. “São passíveis de classificação as informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, cuja divulgação ou acesso irrestrito possam”:

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7 Essa é a única interpretação possível. Qualquer entendimento contrário a esse resultaria no completo esvaziamento de uma legislação que é fruto e símbolo de uma nova lógica de gestão da coisa pública. Não é difícil imaginar um cenário de total ineficácia da lei caso aqueles órgãos públicos que tratam de negociações entre Estados simplesmente classificassem toda e qualquer informação em seu poder sob os frágeis argumentos de que essas informações teriam sido fornecidas em caráter sigiloso e sua divulgação poderia interferir na condução de processos negociadores, sem embasar como elas poriam em risco a segurança do Estado ou da sociedade, condições únicas para a exceção à publicidade.

A entidade requerida não pode pretender se imunizar perante a nova lei, que torna a transparência a regra e o sigilo a exceção. Assim, a exigência imposta pela lei deve ser cumprida por toda e qualquer entidade pública, sob pena de que a elas seja conferida uma indevida discricionariedade capaz de impossibilitar o acesso a determinadas informações pelo prazo de cinco ou mais anos.

Em outras palavras, é evidente que não se pode conferir aos órgãos públicos verdadeiro cheque em branco por meio do qual bastaria alegar uma pseudo proteção à segurança da sociedade ou do Estado para driblar a Lei.

No caso concreto, a resposta ao recurso não menciona sequer uma palavra a respeito da alegada imprescindibilidade das informações requeridas para a segurança da sociedade ou do Estado, questão que já havia sido expressamente levantada pela Recorrente no primeiro recurso. Desse modo, resta evidente a falta de fundamentação legal na negativa de acesso, na medida em que o disposto no caput do artigo 25 do regulamento da Lei de Acesso, do que dependem todos seus incisos, não foi considerado e muito menos enfrentado.

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8 Ainda, o argumento alegado pelo MRE de que o sigilo seria necessário “para preservar a credibilidade e a confiabilidade do país como parceiro em negociações internacionais” mostra que o órgão está menos atento a questões de segurança, como exige a lei, e mais preocupado com a “reputação” brasileira, o que é também um argumento ilegal – não previsto em Lei – e por isso não pode ser considerado.

Além disso, o acesso a informações como essas colocaria fim a uma forma de gerir a Política sem transparência e sem o escrutínio da população, forma esta que contraria os ideais republicanos insculpidos na Constituição Federal de 1988 que deveriam nortear as ações do governo brasileiro, inclusive no que tange à condução de sua Política Externa. Afinal, a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelo princípio da prevalência dos direitos humanos, como disposto expressamente no artigo 4º, II, da Constituição.

Ademais, ressalte-se que o MRE alegou também que parte das informações teriam sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados, sem oferecer, no entanto, qualquer pista a respeito de quem as teria fornecido nessa condição e sem apresentar qualquer comprovante de que os telegramas já foram recebidos com alguma classificação.

Como se vê sob qualquer ótica, carece de fundamentação idônea a resposta do Ministério das Relações Exteriores, merecendo, pois, que esta ilustre Controladoria Geral da União dê provimento a este recurso e restabeleça no caso concreto o espírito da Lei de Acesso à Informação, para que finalmente o órgão do Estado requerido divulgue informações que são de interesse público.

II) Omissão quanto ao término do mandato do Grupo de Trabalho

Ainda que o órgão requerido consiga fazer um exercício de criatividade para construir fundamentos que justifiquem a existência de ameaça à segurança da sociedade e do Estado, cumprindo o primeiro requisito explicitamente exigido no artigo 25 do Decreto 7.724/2012, a alegação de prejuízo a negociações em curso também não se sustenta.

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9 documentos requisitados estão circunscritos a um determinado período - que tem como referência o início e o fim do mandato do Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o Funcionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para o Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (ou seja, de 29/05/2011 a 25/02/2012).

De acordo com as regras procedimentais adotadas em 11 de agosto de 2011 (GT/SIDH/-1/11 rev. 3, doc. 6), o objetivo do Grupo era apresentar recomendações específicas sobre assuntos concretos com relação aos trabalhos da CIDH e sobre o fortalecimento do Sistema Interamericano. Na exata tradução dessas regras, seria “um processo limitado no conteúdo e no tempo, diferente do regular e contínuo ‘processo de reflexão sobre o Sistema Interamericano para a promoção e proteção dos direitos humanos’ que tem sido desenvolvido pela Comissão dos Assuntos Jurídicos e Políticos (CAJP) com a Corte Interamericana de Direitos Humanos e CIDH”.

A redação das regras procedimentais não poderia ser mais clara. O contínuo processo de reflexão sobre o Sistema Interamericano para promoção e proteção dos direitos humanos é um - o processo sobre o fortalecimento conduzido pelo Grupo de Trabalho é outro. As mesmas regras definem ainda que o Grupo de Trabalho teria que “apresentar suas recomendações até a primeira sessão regular [do Conselho Permanente], em dezembro deste ano [2011]”, o que encerraria o seu mandato.

A conclusão lógica é que, se as informações requeridas são especificamente restritas ao Grupo de Trabalho, o qual tinha um termo final muito bem definido desde o momento de sua criação, a restrição imposta pelo MRE não deve prosperar. Muito embora os debates em torno do processo de fortalecimento não tenham se esgotado, os trabalhos do GT possuíam prazo definido e foram encerrados com o cumprimento do seu objetivo, que era a adoção das recomendações fruto dos seis meses de trabalho. As discussões em outros âmbitos da OEA sobre o denominado processo de fortalecimento configuram outra etapa desse debate que se encontra fora do escopo do mandato do GT.

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10 Art. 24, § 3o: “Alternativamente aos prazos previstos no § 1o, poderá ser estabelecida como

termo final de restrição de acesso a ocorrência de determinado evento, desde

que este ocorra antes do transcurso do prazo máximo de classificação”.

Mais do que isso, ocorrido tal evento, a informação deve se tornar automaticamente pública:

Art. 24, § 4o: “Transcorrido o prazo de classificação ou consumado o evento que defina o seu

termo final, a informação tornar-se-á, automaticamente, de acesso público”.

Mais uma vez, o MRE não enfrentou esse argumento, que já fora levantado pela Recorrente no recurso interposto. No caso em tela, a única opção sensata, ao menos para os órgãos públicos preocupados em assegurar a transparência de suas ações, seria definir o fim do mandato do Grupo de Trabalho como o referido evento que consuma o processo e que, por consequência, levaria ao fim da restrição.

Assim não fazendo, agiu o MRE à margem da Lei, merecendo que essa Controladoria reafirme o disposto na Lei de Acesso à Informação e determine a divulgação dos documentos requeridos.

b) Da omissão quanto à autoridade classificadora

Além das omissões já apontadas, que por si só conduziriam à alteração da decisão, a resposta do órgão requerido merece ser reformada por mais uma razão. A resposta ao recurso manteve a problemática de não ter apresentado a autoridade classificadora de cada informação, o que é obrigatório segundo a legislação.

Mais uma vez, aplica-se o artigo 19, §1o, do Decreto nº 7.724/2012:

Art. 19, §1o : “As razões de negativa de acesso a informação classificada indicarão o fundamento

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11 Na primeira negativa de acesso à informação, o órgão requerido omitiu-se totalmente quanto à autoridade que teria classificado os documentos solicitados. Já na resposta ao recurso, o MRE lembrou-se de informar que “as autoridades classificadoras dos documentos solicitados foram, no caso de comunicações recebidas da Missão do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos, o Chefe daquela Representação Diplomática ou do Encarregado de Negócios daquela Missão” e “no caso das comunicações expedidas pela sede diplomática em Brasília, as autoridades classificadoras foram os titulares da Divisão de Direitos Humanos (DAS 101.4) e/ou do Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais (DAS 101.5)”.

Tal explicação continua sem identificar a autoridade classificadora posto que não individualiza quem classificou cada um dos documentos requeridos. Cabe ressaltar que foi solicitado acesso a mais de um documento, embora não seja possível precisar o número exato justamente pela falta de informação disponível.

Mais do que isso, a frágil resposta do MRE apenas indica possíveis autoridades classificadoras - que talvez tenham realizado a classificação: no que concerne às comunicações expedidas pela sede diplomática em Brasília, a entidade requerida aponta duas possibilidades de autoridade classificadora – “os titulares da Divisão de Direitos Humanos (DAS 101.4) e/ou do Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais (DAS 101.5)” – inviabilizando que a Recorrente saiba de fato quem as classificou.

O mesmo ocorre em relação às comunicações recebidas da Missão do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos, as quais podem ter sido classificadas pelo “Chefe daquela Representação Diplomática ou do Encarregado de Negócios daquela Missão”.

No mais, o fato de que os documentos requeridos foram classificados em momento anterior à vigência da nova lei não exime o MRE de apresentar certas informações básicas sobre eles. Por um lado, é verdade que não se pode exigir a apresentação do Termo de Classificação de Informação, uma vez que ele foi criado com a nova legislação.

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12 prazo do sigilo”. Segundo a redação do artigo 31 do Decreto, nenhum desses elementos deve ser mantido sob o mesmo grau de sigilo da informação classificada.

Sabe-se também que o formato tradicionalmente utilizado pelo MRE para circulação de telegramas inclui as seguintes informações: “destinatário”, “remetente”, “data”, “horário”, “número”, “caráter”, “prioridade”, “distribuído para” e “descrição”. Assim, faz sentido exigir que, no mínimo, o MRE apresente uma lista com essas informações elementares.

É esse o espírito da nova lei quando ela impõe o preenchimento de Termos de Classificação da Informação e a atribuição de um código de indexação aos documentos classificados. O fato de não haver Termo e código para os documentos classificados antes dessa lei entrar em vigor não significa que o órgão requerido possa se furtar a apresentar informações básicas sobre eles.

Mais grave ainda, a nova resposta do MRE surpreendeu a Recorrente trazendo à luz uma informação que não havia exposto na resposta ao pedido.

Em verdade, na negativa de acesso anterior, o órgão requerido informara que “esses expedientes, em sua quase totalidade, foram classificados como reservados”, enviando apenas os dois telegramas ostensivos, indicando que esses seriam as únicas exceções aos reservados, como se vê: “Encontram-se em anexo à presente comunicação, os expedientes ostensivos que guardam relação com a solicitação apresentada por Vossa Senhoria”.

Ou seja, na resposta enviada pelo MRE, não há uma única menção à existência de documentos classificados como “secretos” e “ultrassecretos”. No entanto, para surpresa da Recorrente, na segunda negativa de acesso, a entidade fez referência a documentos classificados nessa categoria: “Os expedientes produzidos e classificados como secretos estão protegidos até 28 de maio de 2026 e 24 de fevereiro de 2027, a partir de suas respectivas datas de produção. Os documentos classificados como ultrassecretos estão protegidos até 28 de maio de 2036 e 24 de fevereiro de 2037, de acordo com as respectivas datas de produção”.

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13 indique que documentos são esses, o que justifica a classificação em tamanho grau de sigilo e por qual autoridade foram classificados. Porém, nada disso foi informado em relação a documentos supostamente classificados como secretos e ultrassecretos.

Inegável, portanto, que a negativa de acesso à informação ora combatida fere a lei que trata do tema em diversos dispositivos e, o que é ainda mais grave, ofendendo a própria essência da norma. Merece, pois, a reforma por parte dessa ilustre Controladoria.

Por tudo isso, cabe ao órgão ora Recorrido exigir que o MRE apresente, ao menos, a lista dos documentos classificados com informações básicas sobre eles, indicando de uma vez por todas em qual grau de sigilo foram classificados e quem os classificou.

2. Subsidiariamente, a necessária desclassificação

Como já exposto, as informações são passíveis de classificação quando “consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado” (Decreto nº 7.724/2012, art. 25, caput).

Conforme já argumentado, a publicidade das informações requeridas certamente não coloca em risco a segurança da sociedade e do Estado. Tanto é assim que, em nenhuma de suas manifestações, o órgão requerido lembrou-se de enfrentar essa condição sine qua non esmiuçada no Decreto nº 7.724/2012.

Ademais, o argumento de que a divulgação dos documentos antes da conclusão do processo negociador poderia ter implicações na participação do Brasil nesse processo não se sustenta, uma vez que os telegramas requeridos restringem-se a um período determinado, o qual já se iniciou e já se encerrou, como exaustivamente explicado pela Recorrente.

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14 Humanos no prazo de trinta dias”.

No entanto, não foi entregue qualquer comprovante desse envio, o que impede que a Recorrente acompanhe o pedido e o prazo para resposta. Além disso, a solicitação foi feita apenas quanto aos documentos “reservados”, não incluindo “secretos” e “ultrassecretos”.

Ainda, se constatado que, entre os telegramas requeridos, há documentos classificados no grau “secreto” e/ou “ultrassecreto”, a desclassificação torna-se ainda mais necessária. Impedir o acesso a esses telegramas por quinze, vinte cinco, trinta ou cinquenta anos, mostra-se totalmente desproporcional e desarrazoado.

Ressalte-se que a nova legislação busca encerrar uma cultura de opacidade do Estado brasileiro, tendo a preocupação de exigir que a classificação de informações como sigilosas observe o interesse público da informação e utilize o critério menos restritivo possível (artigo 24, § 5o, da Lei nº 12.527/2011, e artigo 27, caput, do Decreto nº

7.724/2012).

No caso concreto, como se vê, as informações classificadas como reservadas devem ser desclassificadas, o que ora se requer, subsidiariamente. Além disso, requer seja determinado ao MRE que apresente comprovante do envio da documentação à autoridade competente para desclassificação, conforme indicado pelo próprio órgão, para que a recorrente possa acompanhar os desdobramentos do pedido.

IV – CONCLUSÃO E PEDIDO

O direito à informação inclui tanto a obrigação de que os órgãos públicos disponibilizem certas informações, independentemente de requerimentos, quanto a necessidade de que esses órgãos garantam o acesso a informações que lhes forem solicitadas.

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15 publicidade (artigo 37, caput) e que assuma a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem (Art. 216. § 2º).

A Lei nº 12.527/2011 regulamenta esses dispositivos constitucionais, estabelecendo um novo marco legislativo em que a transparência é a regra, e o sigilo, exceção. Essa legislação entende a informação como dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato (art. 4º, I) e estabelece que qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações (art. 10).

Logo, no estrito cumprimento da legislação e dos princípios constitucionais do direito à informação (artigo 5º, inciso XXXIII) e da publicidade da Administração Pública (artigo 37, caput), é urgente que os despachos telegráficos, telegramas e outras formas de comunicação requisitados pela ora recorrente sejam tornados públicos.

Diante de todo o exposto, requer-se seja recebido e provido o presente recurso, no prazo de 5 (cinco) dias previsto no artigo 16 da Lei nº 12.527/2011, para que seja determinada a reforma da decisão do Ministério das Relações Exteriores que negou acesso à informação, para que:

(i) Seja determinado que se conceda o acesso a todas as informações requeridas no pedido protocolado (09200.000058/2012-13) no dia 16 de maio de 2012, considerando-se a ausência de fundamentação legal da classificação;

(ii) Seja disponibilizada a decisão que classifica cada um dos documentos requisitados, informando o grau de sigilo, o assunto, o fundamento legal da classificação, o prazo de sigilo e a autoridade classificadora, nos termos do artigo 28 da Lei nº 12.527/2011;

(iii) Seja concedido acesso às informações básicas de todos os documentos requeridos de acordo com o formato tradicionalmente utilizado pelo MRE para circulação de telegramas, o que inclui: “destinatário”, “remetente”, “data”, “horário”, “número”, “caráter”, “prioridade”, “distribuído para” e “descrição”;

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16 indicado pelo próprio órgão, para que a recorrente possa acompanhar os desdobramentos do pedido; e

(v) Subsidiariamente, sejam desclassificadas as informações indicadas pelo recorrido como sendo “reservadas”, “secretas” e “ultrassecretas”.

São Paulo, 16 de julho de 2012

Lucia Nader

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