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HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE BARBACENA: VIDAS VIOLADAS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE BARBACENA: VIDAS

VIOLADAS

KAUANE BERAGUAS DE OLIVEIRA

São Paulo

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KAUANE BERAGUAS DE OLIVEIRA

HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE BARBACENA: VIDAS VIOLADAS

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado à Universidade Cruzeiro do Sul como requisito básico para a obtenção do título de Bacharel em Direito sob a orientação da Professora Mestre Meire Cristina de Souza.

São Paulo

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KAUANE BERAGUAS DE OLIVEIRA

HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE BARBACENA: VIDAS VIOLADAS

Banca Examinadora: _____________________________________________ Presidente: _____________________________________________ 2º Membro: _____________________________________________ 3º Membro:

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Daniel Nery de Oliveira e Roseli Beraguas, que sempre influenciaram positivamente na minha vida, para que eu pudesse ser alguém melhor. E por todo o afeto, carinho, cuidado que tiveram comigo para que, assim, eu pudesse concluir mais uma etapa do meu aperfeiçoamento.

A minha avó, Rosa Elisa Beraguas, por todo o amor, carinho, dedicação e incentivo nos momentos mais difíceis. E se hoje eu estou aqui, é graças aos meus pais e a minha avó, que sempre acreditaram em mim.

E ao meu tio, Pedro Beraguas Sanches, por todo auxílio e incentivo durante a execução deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço este trabalho a Deus pelo fato de, sem as Tuas mãos e a Tua direção, a conclusão deste trabalho não seria possível. Desta forma, dedico esta monografia à Ele, pois até aqui Ele me iluminou e me sustentou, toda honra e glória dou à Ti. ‘’(Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. Salmos 119:105)’’.

Dedico esta monografia a todos os professores da Universidade que influenciaram na minha trajetória, e primordialmente à minha orientadora, Meire Cristina de Souza, pelo seu comportamento impecável que manteve ao meu lado diante de todas as adversidades que me foram impostas. Muito obrigada pela sua presença, além de toda a dedicação, paciência e sabedoria. Isto foi indispensável para que eu pudesse prosseguir com a conclusão deste projeto.

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EPÍGRAFE

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise abrangente sobre o que foi o holocausto brasileiro: o genocídio que matou 60 mil cidadãos durante o século XX, ocorrido na cidade de Barbacena, no Estado de Minas Gerais. O objetivo é explicar o porquê pacientes tiveram seus direitos violados, visto que, o Estado assegurava a eles o direito a proteção à vida. Os internados viveram em situação desumana, sendo obrigados a permanecerem em um ambiente deplorável e condicionados às sessões de torturas. O holocausto foi uma tentativa de fazer uma lavagem na sociedade, excluindo desta, aqueles que não agradavam o governo na época, fato similar ao ocorrido na Alemanha, durante o governo de Adolf Hitler. Verificou-se que, diante do cenário catastrófico não houve punição aos responsáveis e a situação do manicômio de Barbacena somente apresentou melhoras no ano de 1980, após a reforma psiquiátrica.

Palavras-chave: Holocausto brasileiro; genocídio; atrocidade e violação de

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ABSTRACT

This work presents a comprehensive analysis of what was the Brazilian holocaust: the genocide that killed 60 thousand citizens during the 20th century, which took place in the city of Barbacena, in the State of Minas Gerais. The objective is to explain why patients had their rights violated, since the State guaranteed them the right to protection of life. The inmates lived in an inhumane situation, being forced to remain in a deplorable environment and conditioned to the torture sessions. The holocaust was an attempt to wash society, excluding from it, those who did not please the government at the time, a fact similar to what happened in Germany, during the Adolf Hitler government. It was found that, in view of the catastrophic scenario, there was no punishment for those responsible and the situation in Barbacena's asylum only improved in the 1980’s, after the psychiatric reform.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estação Bias Fortes... 29 (Fonte:

https://medium.com/neworder/o-holocausto-brasileiro-mem%C3%B3rias-da-col%C3%B4nia-de-barbacena-613d78839f2. Acesso em: 27 de outubro de 2020);

Figura 2: Paciente tendo o seu cabelo raspado ao chegar ao Hospital

Psiquiátrico de Barbacena ... 30

(Fonte: https://agendasette.com.br/2019/08/14/atrocidades-de-barbacena/. Acesso em 27 de outubro de 2020);

Figura 3: Interior do Hospital Psiquiátrico de Barbacena... 31 (Fonte: https://www.geledes.org.br/holocausto-brasileiro-50-anos-sem-punicao-hospital-colonia-barbacena-mg/. Acesso em: 27 de outubro de 2020);

Figura 4: Urubus sobrevoando o Hospital Psiquiátrico de Barbacena

devido às más condições de higiene. ... 35

(Fonte: http://www.assombrado.com.br/2018/05/hospital-colonia-de-barbacena-mg.html. Acesso em: 27 de outubro de 2020);

Figura 5: Imagem meramente ilustrativa de uma cadeira de choque... 39 (Fonte:

http://resumodanet.com/2014/02/uma-terrivel-excursao-pelos-manicomios-assustadores-do-passado.html. Acesso em 27 de outubro de 2020);

Figura 6: Crianças deitadas em berços, em que ficavam a maior parte do

tempo dentro deles ... 40

(Fonte: https://www.duniverso.com.br/holocausto-brasileiro-a-tragedia-da-razao-em-barbacena/. Acesso em 27 de outubro de 2020);

Figura 7: Uma criança paciente presa a uma camisa de força como forma

de punição ... 42

(Fonte: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/daniela- arbex-revela-holocausto-que-provocou-morte-de-60-mil-pessoas-no-maior-hospicio-do-brasil-164209/. Acesso em: 27 de outubro de 2020);

Figura 8: Paciente consumindo água de esgoto dentro do Hospital

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(Fonte:

https://medium.com/neworder/o-holocausto-brasileiro-mem%C3%B3rias-da-col%C3%B4nia-de-barbacena-613d78839f2. Acesso em: 27 de outubro de 2020);

Figura 9: Carrocinha a qual era utilizada para levar os cadáveres ao

Cemitério da Paz... 50

(Fonte: https://agendasette.com.br/2019/08/14/atrocidades-de-barbacena/. Acesso em 27 de outubro de 2020);

Figura 10: Sepulturas do Cemitério da Paz... 50 (Fonte:

https://medium.com/neworder/o-holocausto-brasileiro-mem%C3%B3rias-da-col%C3%B4nia-de-barbacena-613d78839f2. Acesso em: 27 de outubro de 2020);

Figura 11: Museu da Loucura, antigo Hospital Psiquiátrico de

Barbacena... 64

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 12

1. O QUE FOI O HOLOCAUSTO? ... 13

1.1 Conceito da palavra Holocausto ... 13

1.2 A relação entre o campo de concentração de Auschwitz e o Hospital Psiquiátrico de Barbacena ... 14

1.3 Conceito de genocídio ... 25

1.4 O surgimento do Hospital Psiquiátrico de Barbacena ... 26

1.4.1 A chegada dos internados ao Hospital Psiquiátrico de Barbacena... 28

1.4.2 O tratamento dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena ... 32

2. AS DOENÇAS EXISTENTES DENTRO DO HOSPITAL PSQUIÁTRICO DE BARBACENA ... 43

2.1 A similaridade aos pacientes que possuíam hanseníase ... 44

2.2 A destinação dos corpos em decorrência dos óbitos por doenças ou torturas ... 47

3. O PODERIO ... 51

3.1 A violação dos direitos humanos... 58

3.2. O fechamento do Hospital Psiquiátrico de Barbacena ... 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 65

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A palavra holocausto, traduzida significa catástrofe e assim sendo, foi uma prática de perseguição étnica, política, religiosa e sexual, a qual foi estabelecida durante o governo nazista, na Alemanha, sendo na época governada por Adolf Hitler. Tal perseguição resultou na morte de 1,5 milhão de pessoas, as quais não eram consideradas de raça ariana.

Aqui no Brasil, ocorrera também um holocausto na cidade de Barbacena, no Estado de Minas Gerais, durante o século XX, entre os anos 1903 e 1996. O genocídio ocorrido no Hospital Psiquiátrico de Barbacena ocasionou a morte de 60 mil brasileiros, dentre eles, crianças, mulheres, homens e, pessoas de idade, de diferentes etnias. O Hospital Psiquiátrico de Barbacena oferecia tratamento aos alienados de diversas regiões do Brasil. Cerca de 30% dos internos sofriam de algum transtorno mental, os outros 70% era representado por internados alcóolatras, bastardos, homossexuais, meninas que perderam a virgindade antes do casamento, dentre outros. Os pacientes eram levados ao hospital por meio de uma locomotiva, a qual ficou conhecida popularmente como ‘’trem de doido’’, sendo a estação Bias Fortes o destino destes cidadãos. Ao adentrarem no trem, deixavam de ser considerados cidadãos, visto que, ao chegarem ao manicômio, tinham os seus documentos e vestes rasgados, sendo assim, dentro do manicômio eram chamados de ‘’ignorados de tal’’, gerando constrangimentos para os internados. O hospital chegou a atingir superlotação, e desta feita, 16 pessoas faleciam a cada dia. (ARBEX, 2013).

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1. O QUE FOI O HOLOCAUSTO?

A expressão holocausto é de origem grega, que por sua vez significa

‘’holos’’ (todo) e ‘’kaustro’’ (queimado). No hebraico, o termo utilizado é ‘’shoá’’

(destruição). (SIGNFICADOS, 2019).

A palavra holocausto, traduzida, significa catástrofe e, assim sendo, foi uma prática de perseguição étnica, política, religiosa e sexual, estabelecida durante o governo nazista, no país da Alemanha, governada na época dos fatos por, Adolf Hitler, que por sua vez, propôs que a Alemanha deveria ser habitada apenas por pessoas de uma única raça, a denominada raça ariana. E, desta feita, 1,5 milhão de pessoas sendo, ciganos, pessoas com deficiências, homossexuais, judeus, opositores a política, e outras etnias, perderam suas vidas de uma forma tão dolorosa.

Assim, o termo holocausto foi utilizado para nomear uma espécie de sacrifício cometido pelos hebreus, os quais tinham o intuito de homenagear aos deuses, e que em cujo ato, a vítima era totalmente queimada. (SIGNIFICADOS, 2019).

No Brasil, ocorrera também um holocausto, na cidade de Barbacena, no Estado de Minas Gerais, durante o século XX, entre os anos 1903 e 1996. O genocídio ocorrido no Hospital Psiquiátrico de Barbacena ocasionou a morte de 60 mil brasileiros, dentre eles, crianças, mulheres, homens e, idosos de diferentes etnias.

1.1 Conceito da palavra Holocausto

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conforme o calendário judaico, e no calendário cristão, a celebração ocorre entre abril e maio. A data foi escolhida devido a revolta no Gueto de Varsóvia, que ocorreu em 19 de abril de 1943, onde reuniu comunistas, sionistas e socialistas judeus durante a primeira revolta armada no interior da Europa, que à época era ocupada pelos nazistas. (SIGNIFICADO, 2006).

Desta forma, o termo holocausto tem sua derivação greco-latina e significa vítima de um incêndio. A expressão holocausto é utilizada desde a década de 1980 e tem por finalidade caracterizar o extermínio em massa praticado pelos nazistas, durante o governo de Adolf Hitler ao longo da Segunda Guerra Mundial. Tal atrocidade resultou na morte de aproximadamente 6 milhões de pessoas, dentre ciganos, deficientes físicos e mentais, homossexuais, judeus, testemunhas de Jeová, opositores políticos, ressalta-se que, os judeus foram a maior parte deste genocídio. (SIGNIFICADO, 2006).

Em 1940, a primeira utilização da palavra foi utilizada no Reino Unido, para designar o abatimento em massa dos judeus. (SIGNIFICADO, 2006).

Desde 27 de janeiro de 1996, os alemães celebram a Memória do Holocausto. A data estabelece a libertação do maior campo de concentração nazista, o Auschwitz, que ocorreu em 27 de janeiro de 1945, pelos soviéticos. (SIGNIFICADO, 2006).

1.2 A relação entre o campo de concentração de Auschwitz e o Hospital Psiquiátrico de Barbacena

O Campo de Concentração de Aushwitz ficou conhecido por ser o lugar de extermínio de determinados grupos de etnias, em especial, dos judeus, praticado pelos nazistas durante o governo de Adolf Hitler, na Segunda Guerra Mundial.

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resultado da Primeira Guerra Mundial. É necessário compreender como se deu todo o seu processo.

Com a Primeira Guerra Mundial, que se deu início no século XX, houve o fim ao Belle Epoque, que ocorreu entre 1871 e 1914, período este em que as grandes potências europeias não entraram em guerra entre si e, a burguesia pode sustentar-se, pelo fato de, nesta época o capitalismo e a exploração ao proletariado terem se expandido. A Primeira Guerra Mundial foi um confronto armado entre as principais potências da Europa, com início em 1914 e término em 1918. Houve diversos fatores que contribuíram para o surgimento da Primeira Guerra Mundial, pois desde 1870 havia um sentimento de nacionalismo, sentimento este que foi criado como forma de persuasão das massas populares. Além disso, o sentimento nacionalista serviu para expandir alguns territórios, com a intenção de unir povos, surgindo, desta maneira, alguns movimentos nacionalistas que influenciariam na Primeira Guerra Mundial. (OBJETIVO, 2020).

O primeiro sentimento nacionalista foi o plano da Grande Sérvia, que consistia em estender a jurisdição sérvia sobre a população da região dos Balcãs, localizada no centro da Europa, empregando a afirmação da necessidade de autonomia desta etnia em relação aos impérios que controlavam a região. O intuito era unificar os povos sérvios. Este sentimento teve início após a Sérvia ter se libertado do domínio do Império Turco, em 1878. Esta proposta levaria ao surgimento da guerra dos Balcãs, na região da península balcânica entre 1912 e 1913, sendo uma batalha entre Bulgária, Grécia, Montenegro, Romênia, Sérvia e Turquia, para conseguir a posse dos territórios do Império Otomano. (PINTO, 2020).

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conquistar a Constantinopla, e subsequentemente, o Tratado de Londres foi assinado. (DANTAS, 2020).

Posteriormente, houve um conflito, na qual a própria Liga Balcânica lutou entre si. Por sua vez, a Bulgária afrontou os gregos e os sérvios e, deste confronto, resultou-se no assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando que era herdeiro do trono austro-húngaro. Este veio a ser assassinado por um membro de uma organização sérvia. Posteriormente ao ataque, o Império Austro-Húngaro uniu-se à Rússia, declarando guerra à Sérvia.

Desta feita, em agosto de 1913, findou-se o Tratado de Bucareste, para que a Grécia e a Sérvia pudessem dividir a Macedônia. Nesta oportunidade, a Romênia ocupou uma parte do território da Bulgária. Destarte, a Guerra dos Balcãs foi essencial para desencadear a Primeira Guerra Mundial. Assim, houve uma união para a formação de aliança entre os países europeus, formando-se assim a Tríplice Aliança, formada por: Alemanha, Império Austro-Hungáro e Itália, e a Tríplice Entente entre Inglaterra (Grã-Bretanha), França e Rússia. O nome dado à esta tríplice refere-se ao entendimento cordial, e foi uma forma que o governo francês fez para definir a sua aproximação com a Inglaterra, uma vez que, a França era sua adversária. Nesta ocasião, com a formação das alianças, houve o envolvimento direto no conflito da Alemanha, Inglaterra e França. (DANTAS, 2020).

A Primeira Guerra Mundial foi dividida em duas fases: a primeira, chamada de Guerra de Movimento, que aconteceu entre agosto e novembro de 1914 e 1915, em que os alemães ocuparam quase toda a Bélgica e também o norte da França, e a segunda, chamada de Guerra de Trincheiras, que aconteceu entre novembro de 1915 e março de 1918. Tal nome se deu pois, as tropas não conseguiram avançar sobre o território inimigo, desta forma, tiveram que se manter fixos nas trincheiras, mesmo com a emprego de armas químicas e aviões. (OBJETIVO, 2020).

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czarista e com a eclosão da Revolução Russa. Em 1918, os bolcheviques assinaram o Tratado de Paz com a Alemanha. Este movimento ficou conhecido como o período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. (OBJETIVO, 2020).

A Primeira Guerra Mundial teve início em 28 de junho de 1914 e término em 11 de novembro de 1918. Foram quatro longos anos de conflitos entre as grandes potências europeias, sendo a primeira guerra do século XX e a primeira guerrilha em estado de guerra total. Pode-se dizer que esta guerra foi um marco na história da humanidade, pois resultou na morte de 11 milhões de cidadãos, sendo que, 8 milhões eram combatentes. Contudo, os lapsos da Primeira Guerra Mundial contribuíram para que em 1939, um novo conflito acontecesse. (OBJETIVO, 2020).

Através da Primeira Guerra Mundial, algumas causas tiveram início, sendo elas: o Imperialismo, onde ocorrera a disputa por colônias na África e na Ásia; o Nacionalismo, conhecido como ‘’revanchismo francês’’, onde houve a derrota na Guerra Franco-Prussiana, entre 1870 e 1871. (OBJETIVO, 2020).

No mesmo período nacionalista, houve o movimento Pan-Eslavismo, marcado pela disputa entre Áustria-Hungria e Sérvia para controlar a Bósnia. Neste ínterim, realizou-se a corrida armamentista, em que as nações europeias se armavam, pois a tensão estava se agravando. O estopim para o início da guerra se deu com o falecimento do arquiduque Francisco Ferdinando, em 28 de junho de 1914, fato interpretado como uma provocação. (OBJETIVO, 2020).

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Bem como o assinado do Tratado de Versalhes, em junho de 1919, que resultou na humilhação da Alemanha, gerando assim, o crescimento do nazismo, desta forma, surgiram os regimes totalitários, tanto de direita, o chamado fascismo e, de esquerda, o comunismo, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial. (OBJETIVO, 2020).

Entre os anos 1939 e 1945, após a invasão da Polônia pelos alemães em 1º de setembro de 1939, ocorrera outra guerrilha, a Segunda Guerra Mundial. Tendo início na Europa, porém, estendeu-se pelos continentes: Africano, Asiático e pela Oceania, tendo desta maneira, o envolvimento de nações, inclusive do Brasil. Este confronto foi travado entre Aliados (Estados Unidos da América, França, Reino Unido e, União Soviética) e Eixo (Alemanha, Itália e, Japão). Esta guerra resultou na morte de aproximadamente 60 milhões de pessoas, ficando conhecida pelo holocausto e pelo lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. (NEVES, 2020).

Uma das causas relacionadas ao surgimento da Segunda Guerra Mundial foi o expansionismo e militarismo na Alemanha, em 1930. Este posicionamento alemão refletia de forma direta sobre a ideologia dos nazistas, os quais alcançaram o poder da Alemanha em 1933, cujo líder deste partido nazista era Adolf Hitler, que tinha o intuito de conseguir recuperar a Alemanha. A partir disto passou a doutrinar a população e a perseguir as minorias. (NEVES, 2020).

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Em 1913, mudou-se para Munique. Com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914, voluntariou-se para o Exército Alemão. Ao ingressar no Exército Alemão, assumiu o posto de mensageiro. Obteve êxito em seu desempenho, destacando-se dos demais, e como forma de premiação, recebeu duas importantes condecorações. Adolf Hitler passou a associar-se com os movimentos de extrema direita na Alemanha após a derrota dos alemães na Primeira Guerra Mundial. Por sua vez, nunca aceitou a derrota, e elaborando assim, constantes teorias de conspiração, uma delas foi a: Teoria da punhalada nas costas, sendo muito forte na Alemanha. Tal teoria afirmava que a derrota sofrida pela Alemanha estava associada aos judeus e socialistas, os quais tentaram sabotar os alemães durante a guerra. Desta feita, a teoria foi muito bem explorada pelos movimentos de extrema direita, entre eles, o nazismo, criado em 1920. O termo nazismo deriva da sigla ‘’Nazi’’, a qual foi utilizada como abreviatura para o ‘’Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.’’ (SILVA, 2020).

As características do nazismo são provenientes dos ideais de Adolf Hitler, sendo o antissemitismo uma delas, fazendo menção ao ódio contra o povo judeu. Este rancor perfez o holocausto alemão. Porém, outras razões estavam associadas ao antissemitismo, sendo o racismo uma delas, onde por sua vez, a raça ariana era superior em relação as demais. (SILVA, 2020).

Em meados de 1923, Adolf Hitler coordenou uma tentativa de golpe em Baviera, localizado no sul da Alemanha. O golpe ficou conhecido como ‘’Putsch

da Cervejaria’’, porém, Adolf Hitler não obteve sucesso com esse golpe, pois o

seu partido perdeu forças com a chegada das forças do governo de Baviera. Desta maneira, Adolf Hitler foi condenado a um ano de prisão. Enquanto estava recluso, escreveu um livro o: ‘’Mein Kampf’’, que traduzido para o português, significa: ‘’Minha Luta’’. Ressalta-se que já havia registros de declarações contra os judeus e o marxismo, sendo a primeira em 1920. (SILVA, 2020).

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Conforme a Alemanha ia se fortalecendo na forma militar, Adolf Hitler iniciou a expansão territorial. Idealizava construir o ‘’lebensraum’’, que consistia na formação de um império para a Alemanha em territórios que já haviam sido ocupados por germânicos. Este império foi denominado como Terceiro Reich, sendo dedicado exclusivamente para a raça ariana, intitulada como raça pura dos nazistas. (SILVA, 2020).

A ideologia de Adolf Hitler convenceu os alemães, pois estes acreditavam que a figura de um líder seria boa para o país. Assim, Hitler conseguiu ser eleito. No poder, passou a calar os seus opositores, desta feita, os comunistas e socialistas-democratas passaram a ser enviados para os campos de concentração, sendo o primeiro deles criado pelos nazistas em 1933 e denominado Dachau. (SILVA, 2020).

No ano de 1934, Adolf Hitler solidificou a sua ditadura sobre a Alemanha, assim, os partidos políticos, inclusive os de direita, passaram a ser perseguidos. Com isso, restou apenas o Partido Nazista. Desta maneira, Adolf Hitler tentou recuperar a economia da Alemanha. Para isso, foram realizados expurgos contra os judeus, que começaram a ter os seus bens tomados pelo governo alemão. (SILVA, 2020).

Durante a Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler liderou as tropas alemãs e desta forma, a Alemanha ficou marcada por dois momentos. O primeiro foi o período de avanços rápidos, que aconteceu entre 1939 e 1941, e o segundo, denominado de gradativa derrota para os Aliados, que se iniciou em 1942 e teve o seu término em 1945. (SILVA, 2020).

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decidiu entrar para a política, aproveitando-se da revolta da população, que demonstrava insatisfação com o cenário econômico e político. Passou a impor as suas ideologias preconceituosas e racistas, ressaltando desta maneira, o patriotismo e a religião, com o intuito de justificar os seus atos tenebrosos, culpando assim a minoria sobre a catástrofe que ocorrera no país. (SILVA, 2020).

Para melhor entendimento, dividiu-se a Segunda Guerra Mundial em três fases. A primeira delas foi a Supremacia do Eixo, que ocorreu entre 1939 e 1941. Aqui, as tropas alemãs conquistaram diversos locais e o blitzkrieg foi notório. Além do mais, no continente asiático, especialmente o Japão, almejou-se diversos territórios que foram dominados por britânicos, francealmejou-ses e holandeses. A segunda foi marcada pelo Equilíbrio de Forças, que ocorreu entre 1942 e 1943. Nesta fase, os Aliados recuperaram a guerra, e tanto a Ásia quanto a Europa, equilibraram-se com as forças alemãs. A terceira e última fase, foi a Derrota do Eixo em 1944 e 1945. Nesta fase, o Eixo estava em declínio. A Itália foi invadida e os alemães e japoneses passaram a ser derrotados sucessivamente, levando estes países ao colapso. (NEVES, 2020).

A Segunda Guerra Mundial se encerrou em 02 de setembro de 1945, após os japoneses assinarem um documento, em que reconheciam a sua rendição incondicional aos americanos. Os nazistas se renderam aos Aliados, em maio de 1945. Deste modo, a Segunda Guerra Mundial ficou marcada pelos momentos de horror vividos dentro dos campos de concentração. (NEVES, 2020).

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ameaça para a raça ariana, eram julgados como sub-humanos. (REDAÇÃO MUNDO ESTRANHO, 2011).

Adolf Hitler queria exterminar todos os judeus, e para isso, muitos foram levados aos guetos. Lá os nazistas conseguiam controlar, para posteriormente desumanizar e extinguir a raça judaica, mas para isso, é preciso entender a origem da palavra gueto. A expressão gueto é originária de Veneza-Itália. Foi criada em 1516 pela autoridade veneziana, com o intuito de obrigar os judeus a viverem naquela cidade. Com o passar dos anos, mais precisamente entre os séculos XVI e XVII, foi ordenado às autoridades a criação de outros guetos para que os judeus pudessem ali residir, estes seriam criados em: Frankfurt, Praga, Roma e em outras cidades. (ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO, 2020).

Durante a Segunda Guerra Mundial, os guetos foram de extrema importância para os nazistas, pois eram regiões em que se concentrava a população judaica local, que por muitas das vezes, os que ali viviam, eram forçados a viver sob condições miseráveis. Os guetos, além de isolarem os judeus locais, também isolavam os judeus provenientes de outras regiões. O gueto era considerado pelos alemães como uma medida provisória de controle e segregação dos judeus. Muitos ao saírem dos guetos, eram encaminhados aos campos de concentração ou para os campos de trabalho forçado. (ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO, 2020).

Haviam três tipos de guetos, são eles: os guetos abertos, os guetos de destruição e os guetos fechados. Assim, os alemães exigiam que os judeus que residiam nos guetos utilizassem crachá ou então, tarjas nos braços, para facilitar a sua identificação. (ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO, 2020).

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posteriormente foram assassinados. (ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO, 2020).

Em 1940, nas terras polonesas ocupadas pelos alemães, começou-se a construção das instalações, que, posteriormente, serviria como campos de concentração, os quais não seriam somente destinados ao extermínio de pessoas, mas também serviriam para trabalho. Os campos localizavam-se nas cidades de Auschwitz e Birkenau, as quais eram próximas da capital polonesa. (JUNIOR, 2020).

O primeiro campo de concentração e centro administrativo foi o de Auschwitz, inaugurado em 20 de maio de 1940, carregava a placa ‘’Arbeit

Macht Frei’’, cuja tradução era: O trabalho liberta. Esse campo foi fundamental

para o trabalho forçado dos prisioneiros e foi nele que os nazistas testaram a primeira câmara de gás, com o uso de ‘’zyklom B’’, matando cerca de 850 prisioneiros polacos e russos, em setembro de 1941. Diante disso, obteve-se êxito com a experiência pretendida. Posteriormente, passou a ser utilizada frequentemente. Apenas 300 (trezentos) prisioneiros conseguiram escapar do campo de concentração, e assim, 70 mil prisioneiros polacos e soviéticos vieram a óbito. (JUNIOR, 2020).

Em 1941, na cidade de Birkenau, localizado a três quilômetros de Auschwitz I, um novo campo de concentração fora construído, denominado Auschwitz II, cujo objetivo era o extermínio. Era equipado com quatro crematórios e diversas câmaras de gás e cada uma podia receber, aproximadamente, 2.500 mil pessoas por vez. (JUNIOR, 2020).

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como o triângulo de cor rosa era para os homens homossexuais. (ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO, 2019).

É importante frisar que, as crianças também eram encaminhadas para os campos de concentração, e representavam 2/3 dos judeus da Europa, assim, 1,5 milhão de crianças perderam suas vidas de uma forma tão cruel. (ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO, 2020).

Havia também o campo de concentração Auschwitz III, o qual foi utilizado para o trabalho escravo, em 1942. Os demais campos auxiliares eram direcionados à indústria alemã para produção militar, metalúrgica e mineradora. (JUNIOR, 2020).

Com cerca de 7 mil funcionários, os campos de concentração, todos, sem exceção, eram controlados e dirigidos pela SS, sob o comando de Heinrich Himmler. Ao final da Segunda Guerra Mundial, em novembro de 1944 os nazistas destruíram as câmaras de gás e no ano subsequente, começaram a desocupar os campos, com o intuito de acobertar as atrocidades dos campos de concentração. Em 27 de janeiro de 1945, o exército soviético libertou cerca de 7.500 mil prisioneiros. (JUNIOR, 2020).

No Brasil, na mesma época, ocorrera um holocausto na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. O Holocausto Brasileiro percorreu por quase todo o século XX, estima-se que 60 mil pessoas foram assassinadas cruelmente, sendo estes, adultos deficientes, crianças e idosos. (ARBEX, 2013).

Destarte, essas duas catástrofes ocorreram ao mesmo tempo, gerando assim, um genocídio nestes países, onde por sua vez, nenhum direito destes que perderam suas vidas de uma forma tão banal, sequer foi preservado.

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1.3 Conceito de genocídio

O conceito de genocídio surgiu em 1943, através de um advogado judeu chamado, Raphael Lemkin, que tentou solucionar uma expressão para designar o holocausto, que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. O termo genocídio faz menção a qualquer tentativa de extermínio contra um grupo de pessoas, devido a sua etnia, nacionalidade, raça e até mesmo religião. A sugestão do termo constava em um livro de Raphael Lemkin, ‘’Axis

rule in occupied Europe’’, traduzindo: Domínio do Eixo na Europa ocupada,

concluído em 1943, porém, só foi publicado em 1944. O termo criado foi resultado da combinação de duas palavras. A palavra ‘’genos’’, que é de origem grega e traduzida, significa raça, e outra foi ‘’cide’’, palavra do latim, que significa matar, desta feita, a junção de ‘’genos + cide’’ originou o termo

genocídio. (NEVES, 2020).

Em 09 de dezembro 1948, através da Assembleia Geral das Nações Unidas, a resolução 260 A III, foi aprovada. Nela, consta a Convenção para a prevenção e repressão do crime de genocídio. Desta forma, esta convenção definiu que o crime de genocídio é um crime contra a humanidade. E conforme o artigo 1º assegura que:

Artigo 1º: As Partes Contratantes confirmam que o genocídio, seja cometido em tempo de paz ou em tempo de guerra, é um crime do direito dos povos, que desde já se comprometem a prevenir e a punir. - CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO

E no artigo 2º desta convenção, foi estabelecido que:

Artigo 2º: Na presente Convenção, entende-se por genocídio os atos abaixo indicados, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tais como:

a) Assassinato de membros do grupo;

b) Atentado grave à integridade física e mental de membros do grupo;

c) Submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física,

total ou parcial;

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e) Transferência forçada das crianças do grupo para outro grupo. - CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO

A convenção estabeleceu o princípio da responsabilização individual e punição para quem comente o crime de genocídio.

Desta feita, as motivações para os crimes de genocídio podem ser inúmeras: disputa étnica ou religiosa, sentimento de ódio, xenofobia, dentre outras.

Isto posto, o termo genocídio deverá sempre ser relacionado a um grupo e nunca para um indivíduo, assim, o significado faz referência ao extermínio de pessoas de um determinado grupo.

1.4 O surgimento do Hospital Psiquiátrico de Barbacena

Hodiernamente, o Brasil tem quinze mil e quinhentos e trinta e dois hospitais psiquiátricos, além de cinquenta e nove unidades de acolhimento. (MOREIRA, 2019).

Em vinte e oito destes hospitais psiquiátricos, os pacientes que ali vivem, são submetidos a condições subumanas, além de existirem vinte e cinco Hospitais de Custódia e Tratamento (HCTs), onde por sua vez, vivem aproximadamente 5 mil homens e mulheres julgados infratores e incapazes pela sociedade. (GODOY, 2020).

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por sua vez, se concentrava a maior parte dos hospitais psiquiátricos existentes na região. (BARANYI, 2020).

O hospital foi construído em terras da Fazenda da Caveira, a qual era propriedade de Joaquim Silvério dos Reis. A princípio, o hospital havia sido construído para tratar as pessoas que tinham tuberculose, pois era situado em uma região com montanhas, sendo considerado um local ideal para a cura da doença, e para alguns médicos, um ótimo local para o tratamento de doenças psiquiátricas. O hospital foi construído logo após a Assistência aos Alienados no estado, no ano de 1900, e na mesma época foi construído o Cemitério da Paz, em homenagem aos falecidos dentro do Colônia. (PEDROSA, 2016).

O Colônia foi divido em departamentos. O departamento ‘’A’’ ficou conhecido como assistência, onde por sua vez, comportava as mulheres que residiam no Colônia. Já o departamento ‘’B’’ era destinado aos homens, porém, cada departamento contava com uma subdivisão, que eram denominados de pavilhões, vejamos a seguir cada um deles.

O manicômio era formado por dezesseis pavilhões, todos funcionavam de forma independente, ou seja, cada um tinha a sua função específica. Havia o Pavilhão ‘’Afonso Pena’’, talvez um dos mais conhecidos, pois aqui, os homens ficavam nus, jogados em meio à sujeira, até mesmo em meio às sujeiras fisiológicas. (ARBEX, 2013).

No Pavilhão ‘’Milton Santos’’, habitavam os homens considerados aptos para o trabalho. O Pavilhão ‘’Zoroastro Passos’’, era destinado a mulheres indigentes, assim como o Pavilhão ‘’Antônio Carlos’’, que era destinado aos homens indigentes. Havia também o Pavilhão ‘’ Arthur Bernardes’’ e o ‘’Crispim,’’ que eram alguns dos pavilhões femininos, assim como os Pavilhões ‘’Júlio Moura’’ e ‘’Rodrigues Caldas.’’ (PEDROSA, 2016).

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Leciona a escritora e jornalista Daniela Arbex: ‘’[...] Apesar de estar tomada pela indignação, sentiu-se impotente diante da instituição tradicional que mantinha, com o apoio da Igreja Católica, as portas abertas desde 1903.’’ (ARBEX, 2013).

Desta forma, o Hospital Psiquiátrico de Barbacena percorreu por grande parte do século XX, o principal objetivo do manicômio brasileiro era oferecer hospedagem e tratamento aos alienados, e por não haver critério médico para as internações, se padronizava qualquer diagnóstico.

1.4.1 A chegada dos internados ao Hospital Psiquiátrico de Barbacena

Os pacientes, provenientes de diversos estados do Brasil, chegavam à cidade de Barbacena de trem, em vagões de carga superlotados, em condição desumana. Em 1933, o escritor Guimarães Rosa que trabalhou dentro do Colônia, deu origem a expressão ‘’trem de doido.’’ Desta feita, o escritor Guimarães Rosa conhecera muito bem a realidade dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, pois durante a Revolução Constitucionalista em 1932, foi nomeado médico voluntário da Força Pública, e após um ano, ingressou como médico oficial, no 9º Batalhão da Infantaria, também localizado na cidade de Barbacena, e em seu livro, Primeiras estórias, publicado no ano de 1962, o conto ‘’Sorôco, sua mãe, sua filha’’, fez uma breve analogia sobre o tratamento psiquiátrico ocorrido na capital brasileira da loucura. A similaridade com que os pacientes eram levados até o Colônia lembra a forma com que os judeus eram direcionados aos campos de concentração nazistas. (ARBEX, 2013).

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trem e ia descarregando os últimos vagões, local em que se encontrava os futuros internados, os quais ficavam agitados. Assim que os pacientes desembarcavam na estação, eram direcionados em fila indiana à triagem, até então um lugar desconhecido pelos passageiros. Posteriormente eram separados de acordo com suas características físicas, idade e sexo. (ARBEX, 2013).

Figura 1: Estação Bias Fortes.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

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Figura 2: Paciente tendo o seu cabelo raspado ao chegar ao Hospital Psiquiátrico de Barbacena.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

Após se vestirem, estes eram encaminhados para o seu respectivo setor. Os homens eram conduzidos para o Departamento B e os que estavam aptos ao trabalho iam para o Pavilhão Milton Campos. Como o espaço era pequeno para comportar tanto paciente, os internados eram obrigados a ajuntarem as camas, para então evitar que dormissem no chão. (ARBEX, 2013).

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Outras recebiam a alcunha de ‘’Ignorado de Tal’’, estas eram as filhas de fazendeiros que haviam perdido a virgindade antes do casamento ou que então dispunham de um comportamento inadequado para um Brasil, que à época era dominado por coronéis e latifundiários, além de, as esposas que foram traídas eram encaminhadas para o Colônia, e as prostitutas provenientes de São João Del-Rei eram enviadas ao Pavilhão feminino Arthur Bernardes, após terem mutilado com gilete os homens com que haviam se deitado e que não tinham pago o programa. (ARBEX, 2013).

Figura 3: Interior do Hospital Psiquiátrico de Barbacena.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

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também eram encaminhadas as esposas, para que estas pudessem viver em confinamento, enquanto seus maridos iam morar com a amante. As pessoas que extraviavam documentos também eram enviadas ao Colônia. (ARBEX, 2013).

À vista disso, aplicou-se a teoria eugenista. Para melhor entendimento, o termo ‘’eugenia’’ foi originado em 1883, por Francis Galton, cujo significado é algo bem nascido, assim, definiu-se a eugenia como sendo um estudo dos agentes, sob um determinado controle emocional, que podem melhorar ou então empobrecer as qualidades racionais, sejam elas físicas ou mentais de uma geração. Desta feita, a ideia do Colônia foi de realizar uma limpeza social, ou seja, retirar da sociedade qualquer cidadão que a colocaria em risco. O que mais comove é que, além das 33 crianças que foram levadas ao Colônia, as pessoas que eram tímidas também foram encaminhadas para lá, ou seja, tanto portadores de alguma deficiência quanto pessoas que ameaçavam a ordem púbica, residiam no Colônia. (ARBEX, 2013).

Somete 30% dos internados, realmente eram portadores de alguma necessidade mental. Desta feita, ao chegaram ao Colônia, perdiam o seu nome, seus direitos, além de serem humilhados pelos próprios funcionários do hospital. Deste modo, o Hospital Psiquiátrico de Barbacena foi travestido de um campo de concentração. (ARBEX, 2013).

Além de chegarem de trem, muitos pacientes eram enviados ao manicômio através de ônibus ou até mesmo por viatura policial. Desta forma, diversos requerimentos de internação foram assinados por delegados de polícia. (ARBEX, 2013).

1.4.2 O tratamento dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena

A rotina dentro do Colônia era bem deplorável, os pacientes viviam em condições desumanas. (ARBEX, 2013).

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fezes. Os pavilhões tinham um cheiro insuportável, e por muitas vezes, era comum encontrar cadáveres em meio aos pacientes vivos. Salienta-se que, o cheiro ruim não era somente proveniente das fezes e urina dos pacientes, mas também dos ratos que conviviam com estes. (ARBEX, 2013).

A cidade de Barbacena fica localizada na região da Serra da Mantiqueira, conhecida assim por ser um lugar extremamente frio. Os pacientes eram expostos ao frio, espancados e violentados sexualmente, e posteriormente, dormiam sobre um capim, muitos estavam nus ou os que não estavam, eram cobertos apenas por trapos. Para sobreviverem às noites frias, faziam um círculo compacto e, assim, iam se revezando. Enquanto alguns ficavam do lado de dentro do círculo, outros ficavam do lado de fora, na tentativa de se aquecerem. (ARBEX, 2013).

Outro método de se aquecerem era o de empilhadeira. Os pacientes se empilhavam sobre o outro, mas muitos não resistiam e acabavam falecendo devido ao frio e os que não morriam de frio, acabavam falecendo por asfixia. Ocorre que, os óbitos também eram provenientes da falta de alimentação, de doenças existentes dentro do Colônia, torturas e até mesmo devido a superlotação. Neste período, aproximadamente, 16 pessoas por dia acabavam perdendo suas vidas. Dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena nada se perdia, exceto a vida, sendo este responsável pela morte de 60 mil pessoas. (ARBEX, 2013).

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Em 1930, o Hospital Psiquiátrico de Barbacena atingiu a superlotação, chegando a 5 mil pacientes dentro de um lugar que só possuía leitos para 200 pacientes. Com isso, as camas foram substituídas por capim, a ideia foi sugerida pelo próprio chefe do Departamento de Assistência Neuropsiquiátrica de Minas Gerais, o José Consenso Filho, com o intuito de economizar espaço dentro do Colônia, para então ter lugar para mais vítimas deste terrível genocídio. Posteriormente, em 1959, esta ideia fora adotada pelo Poder Público em relação aos demais hospitais psiquiátricos existentes na região. (ARBEX, 2013).

O Colônia era carente de assistência médica, e assim, teve a sua finalidade alterada, onde por sua vez, para trabalhar no hospital não era necessário ser alfabetizado, e muito menos ter alguma formação especializada, bastava alimentar, banhar, distribuir remédios aos pacientes e lavar os corredores tenebrosos do manicômio. (ARBEX, 2013).

Segundo o relato do senhor Antônio Gomes da Silva, um sobrevivente do holocausto brasileiro: ‘’[...] Não sei por que me prenderam. Cada um fala uma coisa. Mas, depois que perdi meu emprego, tudo se descontrolou. Da cadeia, me mandaram para o hospital, onde eu ficava pelado, embora houvesse muita roupa na lavanderia. Vinha tudo num caminhão, mas acho que eles queriam economizar. No começo incomodava ficar nu, mas com o tempo a gente se acostumava. Se existe inferno, o Colônia era esse lugar.’’ (ARBEX, 2013).

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meio àquela sujeira, e quando oferecida aos pacientes, estes tinham que comê-la com as próprias mãos, sem utilizar talheres. (ARBEX, 2013).

Figura 4: Urubus sobrevoando o Hospital Psiquiátrico de Barbacena devido às más condições de higiene.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

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Ressalta-se que, em época de colheita de milho, todas as refeições eram compostas do cereal colhido, e por haver excesso de amido, causava diarreia nos internados. E quando havia carne, esta era triturada e misturada com o restante da comida. Havia uma grande diversidade de plantações dentro do Colônia, uma delas era as de verduras, mas como não havia ninguém responsável por elas, estas eram desperdiçadas e jogadas fora, o mesmo acontecia com o leite, que também era jogado fora, porque não havia lugar para o seu armazenamento. (PERON, 2020).

As sessões de tortura eram diversas. Ao iniciar a sessão, os pacientes eram segurados pelas mãos e pés para que pudessem ser amarrados ao leito. Para que os gritos não pudessem ser escutados, colocava-se a força uma borracha entre os lábios, esta era a única maneira para garantir que a língua não fosse cortada. Durante as descargas elétricas, muitos perdiam a consciência quando este castigo era aplicado. Muitos pacientes assistiam às sessões de tortura, e viam de perto o sofrimento dos seus colegas, muitos se estrebuchavam no chão e os olhos saltavam da face. Além de alguns pacientes assistirem as desprezíveis sessões, alguns eram obrigados ajudar a dar choque em seus colegas, como conta o paciente, Antônio da Silva, conhecido como Toninho: ‘’[...] Ajudei a dar choque em muitos colegas. Ficava segurando.’’ (ARBEX, 2013).

O médico, Ronaldo Simões Coelho, foi admitido pelo Estado em dia 29 de julho de 1971, para atuar na ala da psiquiatria. Ele também havia sido secretário-geral da Fundação Estadual de Assistência Psiquiátrica. Posteriormente, em 1977, foi substituída pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG). O médico afirma que de perto, o holocausto era bem pior do que se podia imaginar. Alega que: ‘’[...] A coisa era bem pior do que parece. Havia um total desinteresse pela sorte. Basta dizer que os eletrochoques eram dados indiscriminadamente. Às vezes, a energia elétrica da cidade não era suficiente para aguentar a carga. Muitos morriam, outros sofriam fraturas graves.’’ (ARBEX, 2013).

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Estimula-se o cérebro através de ondas elétricas, que induzem disparados rítmicos cerebrais, com o intuito de equilibrar o funcionamento cerebral, além de nivelar os principais neurotransmissores: dopamina, glutamato, noradrenalina e serotonina. Ou seja, este tratamento ajuda na reorganização do cérebro através de um equilíbrio e liberação dos neurotransmissores. Embora tenha sido criado em 1938, somente em 2002 através da resolução CFM nº 1.640/2002, foi reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina. Estima-se que, nos Estados Unidos da América, ao menos 50 mil pessoas são tratadas através da ECT. No Brasil ainda não existem dados precisos sobre este tipo de tratamento. Sabe-se que possui um alto índice de eficácia, chegando a 90%, além do mais, estudos indicam que é superior em relação aos demais tratamentos que necessitam da utilização de medicação, e que apresentam uma melhora entre 60% e 70%). Desta feita, a ECT é um tratamento que apresenta uma melhora rapidamente, geralmente após oito aplicações o resultado já é perceptível, trazendo de volta o bem estar emocional do paciente. Sendo assim, atualmente é um tratamento seguro, pois é realizado em um ambiente hospitalar, onde se encontram profissionais capacitados, tendo assim, o aparato necessário. (ROSA, 2020).

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Como dito acima, o tratamento existe desde 1938, porém é sabido que, devido a falta de tecnologia, o tratamento era realizado de uma forma brutal, sem dar aos pacientes o devido respaldo, e como não era utilizado nenhum medicamento para o relaxamento, estes eram induzidos a crises convulsivas, pois a descarga elétrica era muito forte, levando a efeitos colaterais, bem como, fazia com que sofressem sérias fraturas, conduzindo assim ao deslocamento de membros do corpo. (RUNDE, 2018).

O método era utilizado dentro do Colônia, mas não como um tratamento, mas sim como forma de castidade, uma forma de punição para aqueles que não se comportavam conforme as normas do manicômio. Salienta-se que, as crianças também eram vítimas desta tortura. A técnica não era realizada somente por enfermeiros ou médicos, mas sim por outros funcionários do manicômio, para isso era feito um sorteio e quem fosse sorteado, deveria eletrocutar o paciente. Inicialmente o funcionário prendia o paciente no leito, e posteriormente, cortava um pedaço de pano, geralmente o próprio cobertor, molhava-o, e em seguida, o colocava na testa do paciente e sem nenhum tipo de anestesia, os ligava na voltagem. Logo após, aproximava os eletrodos da vítima. Para que suas exclamações não fossem ouvidas por outros pacientes, colocava-se um pano, que envolvia toda a boca. Muitos tinham parada cardíaca e entravam em óbito em frente aos demais internados. O cadáver permanecia ali mesmo, até que um guarda o retirasse e levasse até o necrotério. (ARBEX, 2020).

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Figura 5: Imagem meramente ilustrativa de uma cadeira de choque.

Fonte: Google Imagens.

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Em 1924, na cidade de Oliveira, foi edificada a Instituição de Psiquiatria, Oliveira, para atender os indigentes e mulheres, porém, em 1946 mudou o seu público alvo, passando a receber crianças que foram rejeitadas pela própria família, pelo fato de serem portadoras de alguma doença física ou mental. O local tinha espaço para abrigar 300 trezentos internados, e este transmitia uma sensação de tristeza. O seu fechamento se deu em 1976, porém, abrigava 33 crianças, que ainda estavam custodiadas no Oliveira. Contudo, estas foram encaminhadas para o Colônia, mas passaram a dividir espaço com os demais internados, embora houvesse a ala infantil equipada com berços, esta era destinada às crianças aleijadas ou portadoras de paralisia cerebral, que já estavam em estado vegetativo, elas não saiam dos seus berços para nada, a não ser em dias de sol, quando os berços eram colocados no pátio para que pudessem tomar sol, porém, as crianças permaneciam encarceradas dentro dos berços. (ARBEX, 2013).

Figura 6: Crianças deitadas em berços, em que ficavam a maior parte do tempo dentro deles.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

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tratamento que os adultos, sofriam castigos, utilizavam camisa de força, tomavam injeções e medicamentos sem prescrição, como também eram punidos, através de eletrochoques e até mesmo lobotomias. Os choques levavam às crianças ao óbito quando não, às convulsões. E para as crianças que não obedeciam aos funcionários do manicômio, aplicavam-se punições drásticas. Pegava-se um fio e entregava-se a ela o fio ligado à tomada, este ato era sempre realizado em grupo e em fila, onde a última criança da fila recebia a onda de choque ainda maior, fazendo com que as crianças fossem jogadas ao chão, devido ao impacto forte que recebiam da descarga elétrica. (ARBEX, 2013).

O superintendente da Fundação Educacional de Assistência Psiquiátrica, Ronaldo Simões Coelho, ao visitar o Oliveira, se deparou com um menino crucificado, ele estava deitado no chão, com os braços abertos e amarrados, a sua face estava queimada, devido a exposição ao sol, que estava escaldante naquele dia. E ao ver aquela cena chocante, perguntou à freira do que se tratava, exigindo assim, uma explicação: “[...] Por que esse menino está amarrado nesse solão? - Se soltar, ele arranca os olhos das outras crianças. Tem mania- respondeu a mulher, com naturalidade. - E quantos olhos ele já arrancou? - Nenhum – disse a religiosa.’’ (ARBEX, 2013).

Situações assim eram comuns dentro do Oliveira, por muitas vezes, os pacientes nem tinham infringiam aquilo que lhes foi dito.

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Por muitas vezes, como forma de punição, a ducha escocesa era utilizada, que consistia em um banho dado através de máquinas de alta pressão. Além do isolamento como forma de punição, o mergulho dentro de uma banheira cheia de fezes era muito comum. Desta feita, os funcionários do Colônia domesticavam o corpo e mente dos internados, que não tinham o livre árbitro, pois o tempo todo eram controlados. Eles perdiam a sua própria dignidade e identidade, muitos não foram encontrados por seus familiares, bem como, por muitos da sociedade à época jamais iriam ser compreendidos. (RADKE, 2020).

Figura 7: Uma criança paciente presa a uma camisa de força como forma de punição.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

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2. AS DOENÇAS EXISTENTES DENTRO DO HOSPITAL

PSQUIÁTRICO DE BARBACENA

Como dito no capítulo anterior, os internados viviam em um ambiente precário, privado de boas condições sanitárias, onde na maioria das vezes se alimentavam de ratos, além de ingerirem água de esgoto, bem como consumiam a própria urina e fezes para saciarem a sua fome. Muitas doenças se alastravam dentro do manicômio, uma delas foi a leptospirose, uma doença infecciosa e grave, causada por uma bactéria chamada de Leptospira

interrogans. Apesar de ser considerada uma zoonose, ou seja, uma doença

que afeta os animais, ela também pode afetar o homem, uma vez que, este tenha tido contato com a urina do rato. (FLEURY, 2020).

Nos casos em que o paciente foi infectado por esta doença, deverá ser tratado com hidratação e fazer o uso de analgésicos e antitérmicos, porém, é sabido que, dentro do Colônia, estes cuidados não eram oferecidos à eles, e assim, muitos acabavam falecendo por esta doença. (FLEURY, 2020)

Outras doenças acometiam os internos, a pneumonia era uma delas, pelo fato de os internados não terem os devidos cuidados. A pneumonia é uma infecção respiratória aguda, causada por inúmeras bactérias, fungos e vírus. Os alvéolos pulmonares inflamam, e se enchem de líquido ou até mesmo de pus. A principal causa da doença nos adultos é a infecção com Streptococcus

pneumoniae. Esta doença desencadeia outras, como por exemplo, a meningite,

ou até mesmo outras infecções na região da orelha, bem como a bacteremia, a qual é uma infecção bacteriana no sangue. Assim, uma das formas de transmissão da doença é através da tosse ou do espirro e de contato próximo. Como o Colônia era precário de boa higiene, a doença se espalhava de uma forma rápida, visto que, os pacientes eram obrigados a tomar banho gelado, até mesmo em dias frios, facilitando assim, o contagio da doença. (BUSH, 2019).

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desnutrição, doença provocada pela baixa ingestão de nutrientes: carboidratos, lipídios, proteínas, sais minerais e vitaminas. A desnutrição também pode ser originada pela incapacidade de absorção dos nutrientes, e dentro do manicômio os alimentos eram preparados de forma irregular e, muitas das vezes, nem alimentos saudáveis eram oferecidos aos internados. Nesta ocasião, a grande maioria dos pacientes eram desnutridos devido a falta e má qualidade dos alimentos. ‘’[...] Os pacientes do Colônia morriam de frio, de fome, de doença. Morriam também de eletrochoque.’’ (ARBEX, 2013).

Figura 8: Paciente consumindo água de esgoto dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes no

maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

2.1 A similaridade aos pacientes que possuíam hanseníase

O primeiro caso de hanseníase foi relatado há mais de três mil anos,

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A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecto contagiosa, provocada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae ou então, como bacilo de Hansen. Antigamente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Mycobacterium

leprae ou bacilo de Hansen. A lepra surgiu na África, mas se expandiu para a

Europa através dos exércitos de Alexandre, o Grande, matando diversos cidadãos da Europa e Oriente Médio. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2020).

A transmissão da bactéria se dá através da convivência com a pessoa infectada, ou seja, é transmitida através das gotículas salivares ou então, da secreção do nariz. Esta doença afeta o nariz, nervos periféricos, olhos e a pele. Os sintomas são diversos, sendo eles: manchas claras ou avermelhas por toda a pele, diminuição da sensibilidade, dormência, fraqueza nas mãos e nos pés. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2020).

Quando algum paciente portador da lepra era diagnosticado, este deveria permanecer em isolamento, o chamado, acampamento do leproso, o qual ficava longe das habitações humanas. (THOMAS, 2020).

No Brasil, ocorrera o mesmo. O governo, na época, estabeleceu que os portadores desta doença deveriam ficar em isolamento, com o intuito de acabar com a disseminação da doença. O local ficou conhecido como asilos e sanatórios, era espaçoso, e o seu objetivo principal era isolar estes indivíduos da sociedade. (DECLERCQ, 2016).

A implementação destas colônias se deu em 1920, após a formação da Inspetoria de Profilaxia e Combate à Lepra e Doenças Venéreas, no Brasil chegou a existir aproximadamente quarenta leprosários, os quais eram organizados como uma cidade. Havia cemitérios, delegacias, dormitórios, escolas, praças, prisões. Estes departamentos foram inaugurados na época em que Getúlio Vargas comandava o Brasil. (MODELLI, 2016).

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ano de 1930, o Brasil não era federativo, ou seja, até então os Estados não eram autônomos, estes dependiam das vontades do presidente. E como a hanseníase não era considerada uma epidemia, não havia investimento para combatê-la, era considerada uma doença endêmica, que não era capaz de matar ninguém, por ser uma doença devagar, diferente da febre amarela e da varíola, as quais eram consideradas epidêmicas. (SANT’ANNA, 2020.)

Os pacientes iam ao isolamento, muitas mães que estavam prestes a dar à luz também eram isoladas. Assim que os seus filhos nasciam, sequer podiam ficar com eles em seus braços, naquele instante já eram separados e, por muita das vezes, não se viam mais. (MODELLI, 2016).

No ano de 1714, no Brasil, mais precisamente em Recife, foi edificado o primeiro leprosário. Após o surgimento, Minas Gerais e São Paulo foram os dois estados que maior concentraram estas colônias. Desta forma, os que residiam ali eram proibidos de manter qualquer contato com as pessoas de fora, e isto perdurou por muitos anos. (MODELLI, 2016).

No ano de 1949, foi aprovada a Lei nº 610 de 13 de janeiro de 1949, vigorando até 1986, que permitia a separação dos filhos das pacientes que engravidassem dentro da colônia, desta forma, mesmo que os filhos fossem recém-nascidos, estes eram enviados em cestos aos educandários e preventórios, que nada mais era que uma espécie de creche destinada às crianças consideradas órfãs, mesmo que estas tivessem mães e pais vivos. (MODELLI, 2016).

Muitos internos sofriam abusos sexuais dentro do asilo-colônia, além de sofrerem discriminação e violência física.

Em 1940 descobriu-se a cura para a hanseníase, utilizando a sulfona, um composto químico, que contém sulfonil ligado a dois átomos de carbono, que se tornou eficaz no tratamento contra a hanseníase e, com esta descoberta, não foi mais necessário isolar os pacientes infectados pela doença. (EIDT, 2004).

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médicos e viviam em condições semelhantes tanto ao holocausto alemão como ao brasileiro, pelo fato de muitos que ali estavam terem sido separados de suas famílias. Para amenizar a saudade, escreviam cartas, em que desabafam e contavam a brutalidade que sofriam dentro dos colônias. Além de desabafarem com as famílias, também escreveram cartas para as autoridades, mas por muitas das vezes, não eram respondidos. Além do isolamento, muitos permaneceram sem contato com suas famílias e com a sociedade, tendo em vista o preconceito que ainda é algo presente aos portadores da doença.

Aqueles que saiam dos asilos-colônia voltavam a reingressar por não conseguirem se socializar novamente com a sociedade. Embora no parágrafo anterior tenha sido dito que houve a descoberta para a cura da hanseníase, esta ainda não foi erradicada, principalmente nos estados da região norte do Brasil. O mesmo preconceito que os pacientes desta doença sofriam e ainda sofrem, é também associado ao preconceito que os portadores da tuberculose e do vírus HIV sofrem atualmente.

2.2 A destinação dos corpos em decorrência dos óbitos por doenças ou torturas

Anteriormente foi explicada a forma com que os internados eram tratados dentro do Colônia, vindo a óbito devido ao tratamento que recebiam e na maioria das vezes, os próprios internos enterravam os seus colegas, portanto, os pacientes eram enviados ao Hospital Psiquiátrico para morrer.

Com a ida de tantos pacientes para o Colônia, o mesmo chegou a ficar superlotado, pois só tinha capacidade para internar 200 pessoas, mas passou a abrigar 5 mil internos. Nesse contexto, em um único dia, 16 pacientes morreram. As mortes eram decorrentes de todas as maneiras, sendo a doença e a tortura as mais comuns e, ao morrer, davam lucro ao Estado. (ARBEX, 2013).

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década. Entre 1970 e 1972, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) comprou aproximadamente 67 corpos, sendo que, em 1971, ao menos 15 corpos eram do próprio Estado, sendo das cidades de: Belo Horizonte, Brasília de Minas, Governador Valadares, Leopoldina, Palmital e Raul Soares. A Faculdade de Medicina de Valença também adquiriu os cadáveres, porém, as famílias sequer foram consultadas para aprovarem a venda dos corpos, ao total 1.853 mil corpos foram vendidos entre os anos 1969 e 1980. Além dos corpos, as ossadas também eram vendidas, sem que houvesse o consentimento das famílias. (ARBEX, 2013).

Os cadáveres eram vendidos por cerca de cinquenta cruzeiros, o que atualmente equivale ao valor de cento e oitenta e cinco reais. Em apenas uma década, lucrou-se o valor de trezentos e cinquenta mil com a venda dos corpos, órgãos e ossos. A época do inverno era mais propícia a venda, pois, lucrava-se mais, os corpos eram vendidos de forma clandestina. (ARBEX, 2011).

Quando o Hospital Psiquiátrico de Barbacena não conseguia vender os corpos por não serem vantajosos às faculdades, estes eram dissolvidos no ácido. Os locais para a dissolução eram os próprios corredores do manicômio. Os internos presenciavam aquela cena aterrorizante. Desta forma, nunca houve uma preocupação para com aqueles que residiam no Colônia. ‘’[...] Nos períodos de maior lotação, dezesseis pessoas morriam a cada dia. Morriam de tudo e também de invisibilidade.’’ (ARBEX, 2013).

‘’Ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para dezessete faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio do Colônia, na frente dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, exceto a vida.” (ARBEX, 2013).

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corpos das vítimas deste ato banal, os quais não foram comercializados. (ARBEX, 2013).

Os cadáveres eram carregados de carrocinha até o cemitério, eram enterrados em covas rasas, não havia preservação da dignidade nem mesmo no ato de sepultamento. (ARBEX, 2011).

Ao andar entre as sepulturas, podia se notar o descaso com os falecidos, pois se encontrava resquícios de drogas, bem como preservativos usados.

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Figura 9: Carrocinha a qual era utilizada para levar os cadáveres ao Cemitério da Paz.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

no maior hospício do Brasil. (ARBEX, 2013).

Figura 10: Sepulturas do Cemitério da Paz.

Fonte: Google Imagens/ Livro: Holocausto Brasileiro: Vida, genocídio e 60 mil mortes

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3. O PODERIO

Em 15 de novembro de 1902, o fazendo paulista, Francisco de Paula Rodrigues Alves, assumiu a presidência do Brasil, tornou-se o 5º presidente da República brasileira, não possuía um histórico civil, pois, durante o Império, atuou como conselheiro. Em 1890 foi convidado pelos republicanos para integrar a Assembleia Constituinte, assim, exerceu diversas funções, sendo elas de: ministro da Justiça, entre 1891 e 1892, ministro da Fazenda, entre os anos de 1891 – 1892 e 1894, e por fim, antes de se tornar presidente do Brasil, foi presidente do Estado de São Paulo. Na época, o então, ex-presidente, Campos Sales, apoiou a candidatura de Rodrigues Alves, o qual almejava alguém que pudesse continuar com a política econômica, assim, seu governo ambicionava a modernização do país, e sua intenção era promover obras de saneamento, bem como, reurbanizar a capital federal, incentivando, assim, a imigração de estrangeiros. (RODRIGUES, 2020).

A cidade do Rio de Janeiro foi a que mais sofreu mudanças, pelo fato de representar o poder público federal na época. Os bairros cariocas eram representados por trabalhadores estrangeiros e ex-escravos, que trabalhavam em situação insalubre. Por não haver organização urbana, as doenças se alastravam rapidamente, como a febre amarela, peste bubônica e varíola, as quais na época foram consideradas como epidemias. (RODRIGUES, 2020).

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do café brasileiro, porém o presidente se negou a aderir à ideia dos cafeicultores, pois haveria de pagar as dívidas nacionais. (RODRIGUES, 2020). Na época, o barão do Rio Branco atuou como ministro do Exterior. Durante o seu cargo como ministro, empenhou-se para fixar os limites do território nacional através das ações diplomáticas (Bolívia, Colômbia, Peru e Uruguai). Houve uma disputa pela região do Acre com a Bolívia, e desta feita, houve o arrendamento da região, a qual era ocupada por brasileiros. Em 06 de agosto de 1902, o Acre tornou-se independente, posteriormente, a ferrovia Madeira-Mamoré foi construída, para propiciar o escoamento da produção de borracha. (RODRIGUES, 2020).

Em 15 de novembro de 1906, findou-se o mandado presidencial de Rodrigues Alves, sucedido por Afonso Pena. (RODRIGUES, 2020).

O presidente Afonso Pena deu continuidade às ideias que haviam sido impostas por Rodrigues Alves. Criou o Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, incentivou a mão de obra estrangeira. Desta feita, formaram-se as colônias de trabalho para a produção de trigo e vinho nos estados da região sul do Brasil, bem como houve o estímulo do emprego de imigrantes japoneses para a produção cafeeira. (RODRIGUES, 2020).

Além disso, implantou-se o serviço militar obrigatório e a reorganização do Exército e da Marinha. (RODRIGUES, 2020).

Em 14 de junho de 1909, o presidente Afonso Pena faleceu no Palácio do Catete. Com isso, quem assume o governo é o vice-presidente Nilo Peçanha. Posteriormente, entre 1910 e 1914, o militar Hermes Rodrigues da Fonseca assumiu a presidência do Brasil. (RODRIGUES, 2020).

Como dito no capítulo anterior, os abusos dentro do Hospital Psiquiátrico de Barbacena se intensificaram com a ditadura militar.

Referências

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