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Limites entre Brasil e Paraguai em face dos ilícitos transnacionais e das ocupações de áreas limítrofes

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Pós-graduação Stricto Sensu em Economia de Empresas - PPGE

Linha e Pesquisa: Economia do Meio Ambiente

SUSTENTABILIDADE E CADEIA DE VALOR

A VISÃO DO CONSUMIDOR SOBRE OS VALORES SOCIOAMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA EM GANHOS ECONÔMICOS EMPRESARIAIS

Autora: Joana d’Arc Bicalho Félix

Professor Orientador: Benjamin Miranda de Tabak, Dr.

Tese de Doutorado

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DÉBORA DE ABREU MOREIRA DOS SANTOS MARTINS

LIMITES ENTRE BRASIL E PARAGUAI EM FACE DOS ILÍCITOS TRANSNACIONAIS E DAS OCUPAÇÕES DE ÁREAS LIMÍTROFES.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, como

pré-requisito à obtenção do titulo de Mestre em Direito Internacional Econômico da Universidade Católica de Brasília

Professor Orientador: Dr. Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

Martins – 2011.

145f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Antonio Paulo Cachapuz de Medeiros

1. Fronteiras. 2. Relações econômicas internacionais. 3.Segurança

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Tese de autoria de Débora de Abreu Moreira dos Santos Martins, intitulada LIMITES ENTRE BRASIL E PARAGUAI EM FACE DOS ILÍCITOS TRANSNACIONAIS E DAS OCUPAÇÕES DE ÁREAS LIMÍTROFES apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito Internacional Econômico da Universidade Católica de Brasília em 29 de novembro de 2011, defendida e _____________ pela banca examinadora abaixo assinada:

________________________________________________________ Professor Dr. Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros

Orientador

________________________________________________________ Professora Dra. Arinda Fernandes

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Aos incentivos e presença dos amigos de profissão e de toda vida: Maria Regina, Maria Anastácia, Eleonora, Fernanda Ollé e Hedel.

Ao meu orientador, Dr. Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros, pelas conversas valiosas, indicações bibliográficas coerentes e principalmente pela ética e moral com que orientou meu trabalho, nestes dois anos de pesquisa.

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MARTINS, Débora de Abreu Moreira dos Santos. Limites entre Brasil e Paraguai em face dos ilícitos transnacionais e das ocupações de áreas limítrofes. 161p. Mestrado em Direito Internacional Econômico Universidade Católica de Brasília: Brasília, 2011.

A dissertação de final de curso de mestrado stricto sensu foi estruturada para

investigar e direcionar respaldo jurídico às problemáticas levantadas, acerca do que deve ser feito para combater as dificuldades sócio-econômicas em face aos ilícitos transnacionais e as ocupações de áreas limítrofes na região de fronteira entre Brasil e Paraguai. Analisando os pontos existentes neste contexto: pro benefícios sociais aos brasiguaios; favoráveis ao processo de integração e ao tratado de Itaipu e em prol da segurança jurídica no território nacional de fronteira com o território paraguaio. Enfatizando a importância da diplomacia, das legislações afins, em construção, assim como, já estruturadas no Mercosul. Sugerindo, pois a imprescindível necessidade de superar as barreiras que persistem ao aperfeiçoamento das relações bilaterais e integracionistas desta região.

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SUMMARY MARTINS, Débora Abreu Moreira dos Santos. Limits between Brazil and Paraguay in the face of the illegal cross-border and of the occupations of neighbouring areas. 161P. Masters Degree in International Law Valor Econômico da Universidade Católica de Brasília: Brasília, 2011.

The dissertation of end of course of masters degree stricto sensual was structure about to explore and focused support judicial às problematic lifted , as for whereby must be made about to combat the difficulties partner - economic em face aos illicit transnacionais & the occupations of areas adjacent on region of frontier among Brazil and Paraguay. Evaluating the points existing in this sense : pro benefits sociais aos brasiguaios ; favorable the I sue of integrating & the treated of Itaipú and on advantage from safety judicial into the territory national of frontier with the territory Paraguayan. Stress the importance from diplomacy , from the legislation kindred , under construction , just as , already structure into the

Mercosul. Sugerindo , as the indispensable necessity of overcome the barriers what persists the improvement from the relations bilateral & integracionistas from this region.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO 1: TERRITÓRIO, FRONTEIRA E OCUPAÇÃO DE ÁREAS LIMÍTROFES ... 14

1.1 CONCEITOS BASILARES DE TERRITÓRIO, FRONTEIRA E TRATADOS LIMITES ... 14

1.2 A OCUPAÇÃO DE ÁREAS DE FRONTEIRA. ... 18

1.2.1 Histórico e tratados limites ... 19

1.2.2 Zonas de fronteiras e o desenvolvimento das migrações internacionais ... 31

1.3 BRASIGUAIS: REALIDADE ATUAL E ESPECTATIVAS ... 35

CAPÍTULO 2: TRATADOS ... 39

2.1TRATADOS INTERNACIONAIS ... 39

2.1.1 Tratado de Tordesilhas ... 40

2.1.2 Tratado de Madrid ... 44

2.1.3 Tratado do Rio Pardo ... 48

2.1.4 Tratado de Santo Ildefonso e suas aplicações diplomáticas e políticas ... 48

2.2 A FORMAÇÃO DE UM "ESPAÇO COOPERATIVO BRASIGUAIO": A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS COM SEGURANÇA JURÍDICA. ... 52

CAPÍTULO 3: CRIME ORGANIZADO NA ÁREA DE FRONTEIRA: BRASIL-PARAGUAI ... 57

3.1 O CRIME ORGANIZADO E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ... 57

3.2 CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E ASSOCIAÇÃO PARA TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS NA REGIÃO DE FRONTEIRA: TIPIFICAÇÃO BRASILEIRA ... 63

3.3 CRIME ORGANIZADO E A LEGISLAÇÃO PARAGUAIA: LEI 2.535, 08/03/2005, GACETA DE LA REPÚBLICA DEL PARAGUAY, O COMBATE INTEGRADO AO CRIME ORGANIZADO ... 71

3.4 FACTORES QUE AYUDAN A LA PROLIFERACION DEL TD ... 75

CAPÍTULO 4. A FORMAÇÃO DE UM ESPAÇO COOPERATIVO BRASIGUAIO ... 85

4.1 A EVOLUÇÃO DO PROCESSO INTEGRACIONISTA: MERCOSUL ... 85

4.2 DEMOCRACIA E RELAÇÕES EXTERIORES – MERCOSUL, BRASIL E PARAGUAI ... 94

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4.3 OS NOVOS RUMOS DAS NEGOCIAÇÕES BILATERAIS; DO PROCESSO

DE INTEGRAÇÃO E DA SEGURANÇA JURÍDICA ... 106

CONCLUSÃO ... 112

REFERÊNCIAS ... 118

ANEXOS ... 126

ANEXO A - ABRIL É MÊS CHAVE PARA A REVISÃO DO TRATADO DE ITAIPU ... 126

ANEXO B – CLARISSA PONT, ITAIPÚ: PARAGUAI QUER USAR RECURSOS PARA DESENVOLVER O PAÍS, 03/08/2009. ... 129

ANEXO C: FEIRÃO DE ARMAMENTOS NO RIO AUTOR(ES): HUDSON CORRÊA, COM LEOPOLDO MATEUS, ÉPOCA - 11/07/2011. ... 132

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INTRODUÇÃO

O Brasil e seus países limítrofes almejam que o Mercosul evolua dentro de um processo mais seguro de cooperação econômica, social e jurídica. As adversidades, porem advém dos males provocados na economia nacional, como evasão de divisas, entrada de produtos ilegais no mercado nacional ocasionando perdas substanciais de postos de trabalhos formais, o que a afeta a segurança pública dos países, problemas acarretados pelo contrabando e pela ocupação indevida de terras em áreas que desde os primórdios de sua formação já eram polêmicas.

Apontamentos indicam problemas acarretados pelo contrabando, pela migração desordenada promovida por um processo de ocupação indevida de terras em áreas que, desde os primórdios de sua formação, já eram polêmicas: as áreas limítrofes entre Brasil e Paraguai.

No passado, só com a diplomacia e com tratados limites, tais Estados encontraram viabilidade para ponderar suas divergências políticas, assim como suas disputas territoriais e de opinião, conforme será apresentado no decorrer do primeiro capítulo e segundo, os quais abrangem, particularmente os tratados de limites relevantes ao estudo da formação de fronteira, de sua ocupação em relação às migrações ocorridas, berço originário dos brasiguaios.

No terceiro capítulo, o estudo verifica os esforços realizados por intermédio dos tratados de cooperação econômica, política e jurídica da região de fronteiras com o intuito de combater os conflitos promovidos pelas organizações criminosas e o narcotráfico na região de fronteira entre Brasil e Paraguai, pois, como será mostrado, grande parte do comércio clandestino de drogas, armas e pessoas, nasce nesta região.

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e da aplicabilidade do tratado de Itaipu, a fim de salientar o quão é importante para o Brasil a relação energética com o Paraguai, uma vez que a energia excedente paraguaia abastece cerca de 20% do território brasileiro. Demonstra a pesquisa que o tratado só possui condição de persistir diante dos acordos diplomáticos e políticos existentes pró Mercosul.

O próximo desafio do Mercosul é tornar-se o segundo mercado comum do mundo. Mas, como atingir este patamar se apenas dois de seus países membros, como no caso em estudo, Brasil e Paraguai, não conseguiram ainda se acertar nos termos históricos, sociais, soberanos e econômicos? Inexiste, pois segurança jurídica nos contextos: sociais, econômicos, a resguardem a relação soberana dos territórios limítrofes destes dois países envolvidos no Mercosul.

Esta dissertação foi estruturada em pesquisas realizadas tanto em fontes bibliográficas legais, históricas, acadêmicas e em meios eletrônicos (sites jurídicos e artigos publicados na última década ou nos últimos 2 ou 3 anos). Também muito contribuiram conhecimentos adquiridos em sala de aula, palestras e seminários (nos últimos 4 anos).

Todos os esforços metodológicos voltados para agregar e transmitir conhecimentos e/ou opiniões predominantes na doutrina majoritária, sobre: a formação física e social do território nacional de fronteira com o território paraguaio, suas atuais normas coexistentes e em comum, legislações afins de cada Estado (em relação à temática) e legislações do Mercosul.

Por fim, também a questão da proteção à soberania, através do reconhecimento da segurança jurídica em combate as questões dos brasiguaios, do crime organizado, do narcotráfico e do contrabando foram contempladas além das barreiras para o aperfeiçoamento da união aduaneira, motivada pela inexistência de normas uniformes sobre controle de fronteiras.

(13)

a) O que deve ser feito para combater as dificuldades sócio-econômicas em face aos ilícitos transnacionais e as ocupações de áreas limítrofes na região de fronteira entre Brasil e Paraguai ?

b) Quais as reais conquistas dos tratados limites no que tange ao processo de integração Mercosul, a aquisição de segurança jurídica e cooperação no combate aos conflitos supra citados?

Identificando-se tais situações problema, surgem duas hipóteses que o presente trabalho vislumbra: a constituição dos tratado de limites e do Mercosul na produção de normas realmente eficazes e seguras referentes ao combate do contrabando; das ocupações indevidas na área limítrofe entre Brasil e Paraguai e o processo de redemocratização de ambos os países.

As pesquisas foram realizadas de forma quantitativa, comparativa, bibliográfica e jurídica, todas pautadas no positivismo e no empirismo metodológico e didático, cujo método adotado foi o dedutivo, na obtenção de informações sobre os problemas e suas hipóteses.

Conforme será exposto nos capítulos a seguir, as dificuldades existentes nas áreas limítrofes, põem em risco a evolução econômica, social e política no processo de integração econômica Mercosul em diversos aspectos, pelas dificuldades culturais, ambientais, sociais e a atuação do crime organizado. Todas inviabilizando a atuação do Mercosul e incentivadoras da insegurança jurídica prevalecente nas áreas de fronteira.

De acordo com o levantamento teórico em tela, surge de imediato a hipótese de o Mercosul ter condições factíveis de elaborar medidas normativas de combate à ausência de normas uniformes sobre o controle de fronteiras, no contexto econômico e sócio-econômico e mediante acordos políticos e econômicos de integração.

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adotadas em prol da segurança jurídica parceira da cooperação jurídica e também política.

Portanto, há a convergência dos interesses políticos e econômicos destes dois Estados-Membros do Mercosul, na consecução de medidas que sanem os conflitos acerca da história de criação de suas áreas limítrofes e de sua insegurança jurídica.

(15)

CAPÍTULO 1: TERRITÓRIO, FRONTEIRA E OCUPAÇÃO DE ÁREAS LIMÍTROFES

1.1 CONCEITOS BASILARES DE TERRITÓRIO, FRONTEIRA E TRATADOS LIMITES

O conceito de território como elemento geográfico e jurídico do Estado, segundo GUIMARÃES1 é:

Área delimitada da superfície terrestre que contém a nação, dentro de cujas fronteiras o Estado exerce sua soberania, seu poder de império. Abrange o território propriamente dito, o subsolo, as águas territoriais, ilhas, rios, lagos, mares interiores, espaço aéreo etc. Pode ser uma ficção de direito – o território ficto, como aquilo que, pelo princípio da extraterritorialidade, é tido como prolongamento da nação cuja a bandeira ostenta: navios de guerra e aeronaves militares, onde quer que se encontrem, os consulados e as embaixadas, o mar territorial e o espaço aéreo a ele superposto; pode ser, também, flutuante que é a extensão do mar sob jurisdição do Estado (navios de guerra com bandeira nacional); e volante, representado pela aviação militar, quando em país estrangeiro ou em viagem pelo espaço aéreo livre e ficticiamente considerado parte do território nacional.

Ver Código Penal (CP), arts 5º e 7º.

Ver Lei nº 11.697/2008 (Dispõe sobre a organização judiciária do Distrito Federal e dos Territórios e revoga as leis nºs 6.750/1979, 8.185/1991, 8.407/1992, e 10.801/2003, exceto na parte em que instituíram e regularam o funcionamento dos serviços notoriais e de registro do Distrito Federal).

Diante do exposto vale acrescentar advertência jurídica internacional de que não fazem parte do território do Estado as embaixadas e consulados no exterior e que de acordo com o estudo do Direito Internacional, a extensão ou as características do território não são relevantes para determinar sua personalidade internacional.

Segundo Rezek2, “em circunstâncias temporárias e excepcionais, pode faltar a disponibilidade efetiva do território, como no caso de uma invasão estrangeira”, mas, mesmo assim, a qualidade de ente estatal tampouco é afetada quando a parte do território não está sob domínio do respectivo governo.

(16)

A base territorial é um dado considerado indispensável, desde os primórdios da sociedade humana, para a delimitação espacial das respectivas esferas de legalidade e de atuação dos estados. A competência se denomina soberania; de cada um dos estados, bem como nos parâmetros para interação entre estes territórios, conhecidos como áreas limítrofes, que, por sua vez, constituem um sistema institucional e normativo vinculado não apenas a soberania própria de cada estado, mas também de regras internacionais.

Paradoxalmente tal idéia se constrói a partir da delimitação da base territorial de cada estado e da soberania de cada um dos envolvidos em fronteiras afins territoriais ou de outras categorias3.

Relações entre estados podem se caracterizar pela confrontação, ou seja:

Na primeira metade do século XVII, já se postulava o papel das instituições e das normas, para o aperfeiçoamento do sistema internacional, cujas falhas, conceituais e operacionais percebem, mas que seja este passível de ser, progressivamente, adaptado, para melhor responder às necessidades da vida humana, em sociedade, internas e internacional.4

No contexto pós-moderno, a convivência entre Estados e demais agentes5, no plano internacional, mais e mais se torna necessária e imperativa, ou seja, os espaços são limitados e o uso compartilhado destes se impõe como requisitos de sobrevivência, pois, na vigência do século XXI, com o advento do desenvolvimento econômico/comercial transnacional e mediante a implementação frequente de avanços tecnológicos (internet, orkut, face book, twiter, entre outros) é inexorável

que o espaço seja mais fluído, mais permeável e mais restrito e a convivência se torna imperativa.6

A atual situação do Direito Internacional, nesta nova dimensão, enquanto ordem jurídica da comunidade internacional encontra-se moldado às dimensões tradicionais do contexto normativo, regulador das relações interestatais de

3 O.J.LISSITZYN, Territorial enties other than independent states in the Law of treaties (RCADI, 1968, t. 125, p. 1-92).

4

HUIZINGA. Johan. Hugo Grócio em La história Del espiritu humano (“discurso pronunciado em Gante, en la Sesion extraordinária de La Real Academia Flamenca, El 23 de diciembre de 1925” , publicado in El concepto de La história y otros ensayos, trad. Wenceslao ROCES, México: FCE,1946, 5ª reimpr.,2005, p. 360-369).

5 Sujeitos do Direito Internacional podem ser Estados, organizações internacionais e demais agentes internacionais (organizações não governamentais e o ser humano). No Direito Internacional Público, ou Direito Internacional, como aqui se refere – e as relações entre particulares, como elementos transnacionais ou de estraneidade (no direito privado). A utilidade de qualquer divisão classificatória como esta é meramente indicativa. CASELLA, P.B. Direito internacional dos espaços. São Paulo: Atlas, 2009. Introdução.

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coexistência, visando atingir a cooperação, ou seja, como dito por CASELLA, visando a permeabilidade na base física dos Estados:

A cooperação se estende a campos antes inerentes a condição e à atuação dos estados. O domínio reservado e os assuntos de interesse interno dos estados passam por reformulação tanto extensa quanto profunda, a partir da limitação deste, instaurada pelo art. 15, alínea 8 do Pacto da SOCIEDADE DAS Nações, parte I do tratado de Versalhes, de 1919: aí tem lugar o início do atual processo de institucionalização, que leva a zonas crescentes de convivência organizada, tanto mais indispensável entre os estados, quanto também aumenta a necessidade e a extensão do quadro normativo, regulador de tais esferas de convivência, como dos mecanismos de gestão e de solução de controvérsias, porquanto não existe sistema humano de convivência que possa prescindir de tais mecanismos7.

A história da consolidação do Território brasileiro com o passar dos séculos é caracterizada por sucessivos acordos políticos e internacionais, constantes nas constituições federais brasileiras, desde a época do Brasil imperial:

a) Em 1850, com a promulgação da Lei de Terras do Império, foi estabelecida uma faixa de 66 km que visava ao estabelecimento de colônias militares para a preservação das fronteiras nacionais, ainda não totalmente definidas;

b) A primeira Constituição da República, de 1891, recepcionou a Lei de Terras, mantendo a largura de 66 km. Nos termos da Carta Magna de então, todas as terras devolutas dentro dessa faixa eram de domínio da União, ao passo que as demais terras devolutas seriam de domínio dos respectivos Estados;

c) A Constituição Federal de 1934 criou uma faixa de segurança nacional,

com 100 km de largura, englobando a faixa de fronteira, e proibiu que os Estados concedessem títulos de terra nessa faixa sem a anuência do Conselho Superior de Segurança Nacional;

d) Na Constituição de 1937, a faixa de segurança nacional foi alargada até

150 km, mantendo a faixa de fronteira nos 66 km (quilômetros) originais para fins de concessão de títulos e limites de terras;

(18)

e) A Constituição de 1946 não fixou uma dimensão de largura para a faixa de fronteira, mas manteve o conceito de área de interesse da segurança

nacional, sendo a matéria posteriormente regrada pela Lei 2.597, de 1955;

f) A Constituição de 1967 manteve a disposição, sendo o assunto regulado pelo Decreto-Lei 1.135, de 1970. Posteriormente este Decreto-Lei foi alterado pela Lei 6.634, de 1979, sendo regulamentada pelo Decreto 85.064, de 26 de agosto de 1980.

g) A Constituição de 1988 recepcionou a Lei 6.634/79, vigendo no Brasil o conceito de faixa de fronteira, sob a perspectiva de segurança e desenvolvimento, com dimensão fixada em 150 km.

É considerada área indispensável à segurança nacional (art. 20 da CF, já mencionado anteriormente), onde é vedada, sem o assentimento prévio do Conselho de Defesa Nacional – representado pela sua Secretaria-Executiva (SE-CDN), o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) –, a prática de atos referentes a: concessão e alienação de terras rurais; aberturas de vias internacionais, instalação de meios de comunicação; construção de pontes e campos de pouso; estabelecimento de indústrias de interesse da segurança nacional; além de restrições específicas a estrangeiros.

Mapa: A fronteira terrestre do Brasil8

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A faixa de fronteira do Brasil possui quase 17.000 Km de fronteira terrestre, dos quais mais de 7.000 são de linha seca e abrange 588 municípios de 11 estados, total ou parcialmente, representando cerca de 27% do território nacional. A área faz fronteira com 10 países. Além disso, permeia a soberania de outros dez países, dos quais nove sul-americanos e um europeu membro da União Européia, por meio do Departamento Ultramarino da Guiana Francesa, conforme mapa acima ilustrativo.9

O Brasil (ver mapa página anterior), dispõe de três tríplices fronteiras – ou seja, regiões limítrofes com mais de um país. O presente estudo permeará as relações fronteiriças somente entre dois membros da Tríplice fronteira (sigla apresentada no estudo em questão TF): Brasil e Paraguai.

Uma importante questão, sócio-econômica e criminal, também analisada, com ênfase, particularizada, nos capítulos a seguir, pois a urbanização acessível na Tríplice Fronteira Brasil, Argentina e Paraguai (TF) tem se tornado um assunto tão controverso e permeado por amplos debates. Talvez um dos motivos que faça a TF, objeto de amplas discussões nos questionamentos de segurança e crime transnacional, seja justamente o fato dela ser amplamente acessível e com alto grau de permeabilidade, composta por uma ampla diversidade étnica e comercial.

1.2 A OCUPAÇÃO DE ÁREAS DE FRONTEIRA.

Geograficamente, o coração da região em análise é a confluência de dois rios: o Paraná e Iguaçu. A região une três países da América do Sul através de suas respectivas cidades Foz do Iguaçu (Brasil), Puerto Iguazu (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai).

Deixando um pouco a geografia de lado e focando no estudo das relações sociais e históricas registradas, observa-se que a região passou por um longo período de tempo inabitado por intermédio dos obstáculos geográficos existentes. Segundo Lewis (2006, p.15), a região do Chaco serviu como uma barreira que separou as áreas urbanas de povos pré-colombianos (como os Incas) de tribos indígenas locais como os Guaranis, os Guaycurú e os Kayrós, assim para melhor entender a problemática suscitada no presente capítulo: ocupação de áreas de

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fronteira entre Brasil e Paraguai, histórico e atualidade, conflitos superados? Ou ainda a superar?

Há desafios para dois os povos, as duas culturas, as duas economias e para o processo de integração, sendo este, talvez, a melhor forma de dinamizar as relações e pormenorizar os obstáculos, como a seguir será apresentado, nos subtópicos do presente capítulo.

1.2.1 Histórico e tratados limites

A partir do século XVI, as tentativas de construção de um eixo de comunicação entre as duas áreas oceânicas fracassaram no Chaco, frente às dificuldades climáticas, principalmente pela escassez de recursos hídricos (baixas precipitações e pouca disponibilidade de águas superficiais).

A região era inicialmente ocupada por índios Guaranis, os povos Guarani e seus diversos subgrupos, antes da chegada dos colonizadores espanhóis, no século XVI.

Os povos Guarani, ocupavam uma grande porção de terra que ia do litoral de Santa Catarina, ao longo do Rio Paraguai, Paraná, Apa e Miranda, chegando até o chaco boliviano.

Somente a partir de 1750, com a ratificação do Tratado de Madrid, que os Guarani se confrontaram cada vez mais com as chamadas fronteiras dos Estados Nacionais, o que acabou proporcionando varias transformações em seu território. Eles foram considerados como os descendentes dos Itatim, cujo território se estendia deste o rio Apa até o rio Miranda.10

No ocidente do atual Mato Grosso do Sul, a presença de vastas áreas úmidas, sempre ou sazonalmente inundadas, limitou o desenvolvimento e consolidação do povoamento.

As dificuldades, nesse caso, foram enfrentadas na implantação de redes de comunicações, na implementação de atividades econômicas (agricultura) e na consolidação de núcleos populacionais. Outra divergência residia no que concerne as questões de ocupações iniciais das terras por indígenas, os quais foram

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inicialmente dizimados e depois oportunamente utilizados, ainda de forma agressiva como mão de obra, pelos poucos aventureiros que direcionavam seus interesses nas terras em questão.

“El pequeño número de Guarani que pudieron conservar todavia su libertad,se retiraron, sin inquietar deste entonces a los españoles, a los montes inpenetrales de La nueva província”.11

Embora a região, fronteira terrestre Brasil e Paraguai, tenha sido escassamente ocupada durante os séculos XVI e XVIII por missões dos padres jesuítas, a demografia da região foi alterada: primeiramente, segundo Meliá12 os Caaguá, como são denominados os sub-grupos guarani nesse período, entre os quais estão os Paĩ e os Ñandeva ou Avá, nos primeiros anos de formação dos

Estados Nacionais, de Brasil e Paraguai, foram alguns elementos que emergem no cenário do território, em questão, juntamente com os imigrantes (já em 1864), mais uma vez tal região vai ser palco de conflitos, com a guerra do Paraguai.

A partir do pós-guerra do Paraguai, século início do século XVII, uma nova realidade se instaura sobre os seus habitantes antigos e novos.

A relação dos crioulos13 com os índios se modifica. Em 1848, Carlos Antonio López, então presidente do Paraguai, decidiu dissolver os 21 povos (antigos “pueblos de índios”), que ainda existiam, advindos das missões jesuíticas do período

colonial, transferindo para o Estado a propriedade de todos os bens imóveis e móveis: chácaras, casas e estâncias com o gado.

Aos índios, deixou algumas reses (para sobrevivência) e emprestou ferramentas (para trabalharem nas propriedades dos novos donos). Pequenos pedaços de terra ficaram de aluguel para os índios, isentos de dízimo por três anos. No mais tinham as mesmas obrigações dos demais paraguaios.14

11 RENGGER, apud BRAND 1993, p. 28.

12 MELIÁ, Bartomeu, GRUNBERG, Georg, GRUNBERG, Friedl.

Los Pãi-Tavyterã-Etnografia Gurani Del Paraguay contemporâneo. Asunción: Centro de Estudios Antropologicos,Universidad Ctolica “N.S de la Asunción,1976.

13 Crioulo é termo espanhol para designar a nova elite política pós-independência nas Américas. São os descendentes de espanhóis nascidos na América.

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A verdadeira intenção do governo paraguaio era se apropriar do gado dos indígenas. É a definitiva descomunalização e o fim do que restara das reduções, missões jesuítas.

Segundo Vásquez, as populações restantes dessas reduções foram reduzidas à categoria de gente sem terra. Mas isto pouco afetou os índios Caaguá-Monteses, localizados “en los montes inpenetrables”.15

Grande parte do território Paĩ foi parar em mãos de negociantes estrangeiros

(Documento Colonización brasileña en la region fronteriza oriental Del Paraguay,

segundo Vásquez) 16e as populações indígenas tornaram-se os maiores centros de recrutamento de mão de obra escrava para as madeireiras e empresas de erva-mate estrangeiras, que, ao contrário do ocorrido no Brasil, eram proprietárias de grandes extensões de terra.17

Se os nativos atrapalhassem essa expansão, a única forma prevista era eliminá-los. Com a venda em larga escala das terras públicas, praticada pelo Governo Paraguaio, por conta da precária situação financeira, que as condições estabelecidas pelas leis de 1883-1885 para a disposição no mercado destas terras públicas que privilegiaram claramente o capital estrangeiro, segundo Vasquez: “Asi como se transfieron grandes extensiones de tierras y erbales sin consideración alguma hacia los indígenas sus ocupantes milenários, verdaderos dueños de la tierra”.18

Tais atividades diplomáticas e políticas trouxeram grandes empresas, investidores e tecnologia para a região, concedendo-lhes um amplo poder territorial, que visava a exploração de recursos naturais. Estes porém, não tinham um projeto civilizatório, nem para os imigrantes, nem para os índios, o que ocasionou diversos males para o processo social e habitacional da região em questão, pois as condições geográficas só foram consideradas quando os problemas de alagamento, por exemplo, se iniciaram.

15 SUSNIK, Branislava. El indio colonial del Paraguay, In:

El Guaraní colonial. II: Los trece Pueblos guaraníes de las Misiones (1767-1803). Asunción: Museo Etnográfico "Andrés Barbero", 1965-1966, p.172.

16 VÁSQUEZ, Mirna.

Historia de la legislación indigenista paraguaya. Suplemento antropologico,

Asunción, Universidad Catolica, v. XVI, n. 2, p.91. 1981. 17 Ibidem, p. 92-94.

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Em 1886, é fundada La Industrial Paraguaya S.A., empresa anglo-argentina

que possuía uma área de 2.647.727 há (hectares), ou seja, 13,4% da superfície de toda a região Oriental, incluindo parte da região de Amambai.19

Segundo Nickson, no já citado documento sobre a colonização brasileira na região oriental do Paraguai20, La Industrial Paraguaya se converteu no maior empregador do Paraguai, com até 5.000 pessoas, trabalhando na extração da erva mate. A empresa impunha condições de trabalho extremamente duras aos coletores de erva.

Um decreto de 1º de janeiro de 1871, do governo do Paraguai, explicita o problema dos peões que buscavam “fugir” do trabalho nos ervais (erva mate), pois estabelece uma série de disposições para coibir tais “abandonos” de trabalho, incluindo a prisão sumária.21

Outras empresas de exploração de erva e madeira se instalaram na região dos índios Paĩ. O francês Domingo Barthe adquiriu no Alto Paraná 1.875.000 ha de

mata, chegando a empregar até 3.000 ervateiros22. Também a Cia. Matte Larangeira adquiriu, em 1902, 800.000 ha de terra em Salto de Guayrá.23

Segundo o relatório “La Traición de Papa Rei” até 1950, o território Paĩ era

ocupado por imensos latifúndios ociosos e por terras fiscais.24

No Brasil, a Cia Matte Larangeira não tem a propriedade da terra, mas apenas o direito de exploração dos ervais nativos.25

Porém, para Melià, G. Grunberg, F. Grunberg (1976), essas empresas, por não terem um projeto civilizador ou de colonização, ou seja, sendo conhecidas pela história com empresas de exploração dos recursos naturais, não desalojam os Guarani e Paĩ, do seu habitat, ou seja, não os tiram de seu território.26

19 NICKSON, Andrew.

Colonizacion Brasileña en La Region Fronteriza Oriental Del Paraguay, 1981, p. 3.

20 Ibidem, p. 3. 21 LAÍNO, 1976, p. 31.

22 COLONIZACIÓN Brasileña em La Region Fronteriza Oriental del Paraguay, 1981, p. 4. 23 Ibidem, p. 4.

24 BRAND, A. J.; COLMAN, R. S.; SOUSA, N. M. Os Guarani nas fronteiras do MERCOSUL. In: 26ª

Reunião Geral da ABA, 2008, Porto Seguro - Bahia. 26ª Reunião Geral da ABA, 2008. 25 Ibidem

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Esta região tornou-se um ponto de imigração, ocorrida entre 1864 e 1870, período do pós-guerra do Paraguai, que colocou em combate o Paraguai contra o Brasil, o Uruguai e a Argentina.

De fato, esta guerra dizimou boa parte da população paraguaia, principalmente formada de nativos e crioulos e exigiu do governo paraguaio incentivo para que imigrantes povoassem algumas regiões do país, em especial as fronteiriças.27

O Tratado de Santo Ildefonso é uma reedição do Tratado de Madri, de 1750, e desenhou, mais ou menos, as fronteiras que hoje temos, à exceção do Acre, que depois, mais adiante, mediante um novo acordo diplomático resultou no tratado que o regulou.

Certamente o Império estava preocupado em preservar as fronteiras, daí ter cunhado a expressão “Faixa de Fronteira” no art. 1º da Lei de Terras, Lei nº 601 de 1850. Criada a questão positivada na Lei de Terras, no art. 3º, definindo-se o incentivo à ocupação mediante doação.

Ainda do lado brasileiro, iniciara-se a real povoação desta área limítrofe, em 1888 por meio da criação da colônia militar do Iguaçu. Tanto Brasil como Argentina iniciam a ocupação da área por volta do mesmo período. Em ambos os casos, o objetivo era estabelecer postos militares que acompanhassem e atuassem na região após a Guerra do Paraguai.28

Também outro fator importante que surgiu após Guerra do Paraguai, foi a competência para arrecadar as terras devolutas, competência esta era do Estado e passou às Unidades Federadas, aos Estados. A exceção foi a fronteira, em 1891, pelo art. 64 da Constituição.

A competência passada aos Estados permaneceu com a União no que se referia à fronteira. E novamente a fronteira foi citada como um referencial de tratamento diferenciado para as terras públicas.

27 LEWIS, Daniel K. A South American Frontier: The Tri-Border Region. New York: Chelsea House, 2006.

28 Segundo Amaral ano 2010, p.29, Tratados internacionais: o município de Iguaçu (posteriormente chamado de Foz do Iguaçu) foi criado oficialmente em 1914 e integrado ao Paraná. Já Ciudad Del Este foi fundada em 1957 com o nome de ―Puerto Flor de Lizǁ – também posteriormente chamada

(25)

Quando foi criada a Faixa de Fronteira, o objetivo primordial era de ali estabelecer colônias militares, como já mencionada colônia militar do Iguaçu, o que ocorreu principalmente no Sul do País. No perímetro que lhes era reservado titulavam-se as pessoas, mesmo na época não era bem aceito.

Antes da Lei de Terras de 1850, as pessoas eram tituladas pelo Regime Sesmarial, importado das legislações lusitanas da época:

Para os homens da Antiguidade clássica, "civilizar" era construir cidades. Para os europeus da época moderna, "civilizar" implicava expandir a fé cristã. Para a igreja, a propagação do cristianismo no Novo Mundo era decisiva, pois, assim, ela esperava compensar a perda de influência na Europa em virtude da reforma religiosa do século 16. Atendia também aos interesses dos Estados nacionais, pois o ensinamento dos valores cristãos era uma forma eficaz de controle dos corações e das mentes das populações nativas.

A tarefa árdua e arriscada de divulgação da fé na América espanhola e portuguesa coube à Ordem dos Jesuítas, estes conhecidos como os "soldados de Cristo" devido à disciplina e à rígida hierarquia a que eram, pois, submetidos.

No Brasil, a ação missionária dos jesuítas teve início com os padres Anchieta e Manoel da Nóbrega, que chegaram a Salvador em 1549 junto com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza.

Os primeiros resultados da atuação da Ordem vieram no plano educacional, com a fundação dos seus colégios em Vitória, São Paulo, Salvadore e São Vicente.

No plano religioso, a atuação dos jesuítas visava basicamente proporcionar serviços religiosos aos colonos (missas, confissões, casamentos) e catequizar os nativos. A catequese realizava-se por meio de ações isoladas dos padres nas aldeias, da educação dos meninos índios nos colégios ou, em grande escala, nas missões.

As missões eram comunidades indígenas reagrupadas pelos jesuítas, cuja organização se baseava no trabalho coletivo, na exploração agrícola e na pecuária. As mais importantes surgiram nas regiões do atual Estado do Mato Grosso do Sul e das atuais fronteiras do Brasil com o Paraguai, com a Argentina e com o Uruguai.

Além de catequizar os índios, as missões visavam gerar recursos para que a Ordem ampliasse seu poder e sua capacidade de evangelização. A exploração do trabalho dos nativos nas missões gerou conflitos violentos, pois os colonos mais pobres, sem recursos para comprar africanos, chegaram a invadi-las para escravizar os índios. Apesar disso, o poder da Ordem não parou de crescer na colônia, na estrutura da igreja e no Estado imperial português a tal ponto que o marquês de Pombal, em 1759, expulsou os jesuítas do Brasil e de Portugal para retomar pleno poder sobre o Estado.29

No Império, a noção de fronteira foi construída com a faixa de extensão de dez léguas, o Brasil, separado dos países estrangeiros. Dez léguas eram léguas de sesmarias, equivalente à 66 km( quilômetros).

(26)

Historicamente, o elemento comum às duas vertentes nacionais desse espaço foi a dificuldade de implantar uma colonização humana duradoura, devido, em grande parte, às suas características geográficas.

O primeiro elemento é a interioridade desse espaço, a qual se torna relevante frente ao projeto de colonização e organização territorial na América do Sul, que fez com que as áreas litorâneas e próximas ao litoral concentrassem a população, as atividades econômicas e o poder político. Em consequência, os espaços interiores ficaram pouco acessíveis e integrados até o século XX.30

Frente a esta situação, ficaram escassos os lugares de povoamento, que surgiram principalmente em áreas próximas ao rio Paraguai. O rio foi, assim, um eixo de penetração e de comunicação, além de uma fonte de atividades econômicas, assim como a presença dos nativos, quais além de habitarem as terras, também as defendiam em momentos de conflitos de interesses como na guerra do Paraguai.

A política indigenista brasileira republicana foi criada por um militar (Cândido da Silva Rondon) Rondon, que à época era o conselheiro-auxiliar do General Carneiro, que estava fazendo a extensão das linhas telefônicas por todo o Brasil.

a partir da observação de que a situação indígena estava sem nenhuma legislação. A última legislação tinha sido do Império, de um Decreto Imperial de 1845. A implantação da República não contemplou a questão indígena. Ela foi muito discutida na Constituinte de 1891, mas as propostas, muito radicais, para que as Terras Indígenas fossem compreendidas como Estados e que tivessem autonomia, não foram acolhidas.

No início do século XX, problemas ocorridos na Bahia e no Sul do País, envolvendo novos imigrantes que estavam entrando no Paraná e que contratavam matadores de índios, provocaram um escândalo internacional que levou o Governo do Presidente Nilo Peçanha a criar o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), que antecedeu a Funai. Rondon foi convidado e dirigiu o SPI por mais de 47 anos, até sua morte em 1957, e nesse quase meio século ele foi uma figura fundamental na criação e no estabelecimento de uma política indigenista brasileira.

Durante muitos anos a política indigenista brasileira foi feita com base no sentimento, de fato universal, de que os índios, nas Américas e os aborígenes em outros lugares, estavam destinados ao extermínio, porque assim estava se processando a história: desde 1.500, no caso brasileiro, desde 1492 na América, 1760 na Austrália, na Oceania e em outros países. Acontece que a partir da década de 1950 houve uma reversão desse processo e a partir daí, foi se concebendo como seriam as Terras Indígenas. A Terra Indígena pertence à União.

30 SOUCHAUD, Sylvain; CARMO, Roberto Luiz do; FUSCO, Wilson. Mobilidade populacional e

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Não há terra, propriedade privada nem coletiva de povos indígenas. A propriedade é da União. Os índios têm a posse e o usufruto permanente inalienável dessas terras, mas a propriedade é da União.

No Mato Grosso do Sul, na fronteira com a Bolívia, está a reserva que se chama Kadiweu, a terra dos índios Guaicurus. Eles foram os únicos índios da América do Sul que adotaram o cavalo tal como os índios das planícies americanas, e usaram-no com vigor e com uma capacidade exímia.

Os índios Kadiweu controlavam esse Território imenso ao Sul do Pantanal e fizeram o primeiro e único tratado que Portugal teve com povos indígenas. Portugal não tratava índios como nações, embora em várias situações afirmou que não tinha capacidade legislativa sobre os povos indígenas. Vários dos alvarás de reis começam dizendo: “eu errei, não tenho jurisdição sobre esses povos. Esses povos são senhores das suas terras sobre as quais não tenho jurisdição[...]” Mas logo em seguida faziam as suas ressalvas que diziam que podiam “levar, fazer e acontecer”. A política portuguesa, que é a que também herdamos para o bem ou para o mal, sempre foi ambígua em relação aos índios. Garantia os direitos, mas também fazia concessões a interesses privados. 31

Tendo sua origem na ratificação de tratado internacional celebrado por um vice-rei português, no Rio de Janeiro (no ano de 1791), maneira que Portugal encontrou para ter acesso a esta parte do território nacional, área de fronteira entre Brasil e Paraguai, assim como dominá-la (área do atual estado do Mato Grosso), foi realizando acordo com os Kadiweu.

Esse é o exemplo mais eloquente que temos de que as fronteiras brasileiras que foram expandidas desde o Tratado de Tordesilhas se consolidaram por causa da aliança que os portugueses souberam fazer com os índios e como já visto, pós-guerra do Paraguai com este Estado; o mesmo ocorreu no caso de Roraima, cujo Território, com a ajuda dos índios Macuxi, estendeu-se até a fronteira com o que hoje é a Guiana Francesa (na consolidação do Tratado de Santo Ildefonso pelo Brasil).

No período colonial português a população autóctone, dos índios, no caso brasileiro, foi pensada sempre como elemento de fortalecimento da autoridade política. A categoria fundamental de divisão era: índios mansos e índios bravos. Os índios mansos, dentro desse processo, eram resultado do processo de catequização, feito pelos jesuítas.

31 Sr. Mércio Pereira Gomes, Presidente da Funai, em palestra proferida no seminário: Faixa de

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Eles, os mansos, eram os defensores da fronteira, os arcos e flechas, instrumentos quais, que possibilitavam ao rei adquirir condições de se contrapor a outros agentes. Os bravos eram vistos como estrangeiros.

No século XVI, as descrições sobre os indígenas são muito mais de impactos favoráveis do que propriamente marcadas pelo racismo. Isso vai prosperar já no século XIX. Não há linha unilinear de avanço, ao contrário, existe uma postura mais dura com o decorrer do tempo.

A ocupação dessas fronteiras pelos bandeirantes e por outros desbravadores levou à incorporação progressiva da população autóctone. É preciso destacar a importância da figura de Rondon, que de certa maneira mudou bastante as formas de intervenções feitas desde o Império.32

A partição e a demarcação do espaço se concretizam na fundação de localidades-guarnições ao largo do rio, com a utilização do conhecimento indígena, desbravando a geografia complicada torneada pelo rio Paraná, a qual, com o passar dos anos, desenvolve outra função, favorecendo a ocupação da área em questão. Com a descoberta de minérios surgem as atividades extrativistas; com o domínio da geografia surgem as atividades agropecuárias (gado bovino, principalmente utilizando braços dos nativos).

A região torna-se, assim, um eixo de redistribuição, elemento fundamental na articulação do comércio.

A extração mineira, a exploração da erva-mate, a produção de carne e couro bovino no Mato Grosso do Sul, ou a extração do quebracho (Schinopsis lorentzii)

para obtenção do tanino no Chaco, destinavam seus produtos aos grandes centros litorâneos da faixa atlântica.

As relações sazonais entre Brasil e Paraguai deram início em1943, e assim, inicia-se a imigração de produtores rurais brasileiros para esta região, por conta de um novo incentivo diplomático e político promovido pelo Governo paraguaio que visava aumentar a economia da região de fronteira nos anos de 1970.

Isto se tornou grande atrativo para estes produtores por conta que em anos anteriores o Governo havia derrubado o estatuto agrário que proibia a venda de grandes extensões de terras para estrangeiro na região de fronteira.

32 Sr. Mércio Pereira Gomes, Presidente da Funai, em palestra proferida no seminário: Faixa de

(29)

Desta forma, segundo Brand, nas áreas limítrofes em estudo, teve-se um crescimento significativo do investimento agropecuário com foco na produção de soja, cana de açúcar e criação de gado na parte ocidental do Paraguai. Tais atividades provocaram varias mudanças entre os Guaranis que ali habitavam, sendo a mais grave a expropriação das terras dos indígenas promovida pelo Governo paraguaio de forma violenta e agressiva.33

Em realção, aos dias atuais, com a busca diplomática visando o processo de integração, os agroempresários brasileiros voltaram seus investimentos para o território paraguaio, porque lá a venda de terras era realizada por valores baixíssimos, que atraiu cada vez mais o interesse dos brasileiros.

Tais relações políticas e comerciais entre Brasil e Paraguai, em relação ás vendas de terras e a imigração, foi prejudicial ao direito indígena, pois a maioria das propriedades, encontrava-se em território nativo, onde localizavam-se inúmeras aldeias, que, desta forma, deixaram de existir; sendo seus habitantes desapropriado e expulsos de forma violentas; quais buscaram refúgio no norte da Argentina, como afirma Marta Azevedo.34

No que concerne ao estudo dos investimentos sócio-econômicos, mediante acordos realizados neste século, temos ainda os referentes ao comércio fluvial, que se desenvolveu, principalmente no século XXI assim, como promoveu a ocupação e surgimento de alguns centros urbanos, quais ganharam importância à medida que se diversificava e se intensificava a produção, como ocorrido em Corumbá e Concepción.

Corumbá e Concepción passaram a ser centros regionais, ou seja, centros de um tipo particular, no sentido de que mantiveram conexões mais regulares tanto com a bacia do Prata, ou a baia de Guanabara (Estado do Rio de Janeiro), do que com espaços vizinhos do interior.

Segundo Amaral35, outro exemplo deste processo de desenvolvimento, só que iniciado no Século XX, seria o município de Iguaçu (posteriormente chamado de Foz do Iguaçu), que foi criado oficialmente em 1914 e integrado ao Paraná. Já a

33 BRAND, Idem, p. 21.

(30)

Ciudad Del Este foi fundada em 1957 com o nome de Puerto Flor de Liz, também

posteriormente chamada Puerto Stroessner. Sendo que, Puerto Iguazu foi fundada somente em 1901.

A partir da década de 1920, sobretudo na segunda metade do século XX, a região de Foz do Iguaçú e Ciudad Del Este conheceu um novo ciclo de ocupação,

devido à chegada de migrantes internos e internacionais. A colonização internacional foi de pouca magnitude nos primeiros tempos desse período, mas merece ser citada por seu caráter localmente inédito e duradouro.

Trata-se, por exemplo, da colonização menonita, que a partir dos anos 20 se estabeleceu no Chaco, onde estes grupos desenvolvem cultivos, mas, sobretudo a pecuária bovina para a produção leiteira que ainda hoje é a atividade dominante.

As comunidades religiosas não são numerosas, mas demonstram, no caso do Chaco em particular, uma habilidade especial no manejo desse meio natural até hoje considerado como pouco favorável à implantação humana.

Os menonitas, que não chegam a uma população de 10.000 indivíduos no Chaco paraguaio, são os principais atores econômicos da região. Além de desenvolverem colônias rurais, animam centros urbanos e desenvolvem redes comerciais nacionais e internacionais.

Do lado brasileiro, no Mato do Grosso do Sul, a dinâmica territorial foi mais intensa, embora muito diferenciada segundo as microrregiões. A parte oriental conhece a expansão decisiva da fronteira do cultivo de soja. Na parte ocidental, as mudanças foram menos importantes ou menos visíveis.

Nos anos 1960 com o aumento do investimento em infra-estrutura, especialmente por parte do Brasil, e o consequente aumento da movimentação de bens e mão-de-obra na região de fronteira, os problemas internos dos povos libaneses pressionaram para a migração de considerável parte de sua população, para esta região, de fácil acomodação social, já que a falta de mão de obra especializada era um fato, uma dificuldade a evolução econômica.

(31)

líderes maronitas36 e dos muçulmanos sunitas de que o presidente da República seria sempre maronita, o primeiro-ministro sunita, e outros postos do governo e da administração distribuídos entre as diferentes comunidades religiosas [...]. 37

Mediante acordos políticos a manutenção de um equilíbrio concretizou uma significativa mudança da demografia libanesa, com um rápido crescimento da população muçulmana, rendeu inúmeros conflitos civis no país, o primeiro deles em 1958.

É justamente após este conflito, somado a onda migratória pós-Guerra do Paraguai, que resulta em um grande fluxo de árabes de origem sírio-libanesa, em sua maioria cristãos maronitas (e uma minoria muçulmana).

Desta maneira, eles buscaram aproveitar a oportunidade para migrar rumo a uma região de fronteira com amplas possibilidades de desenvolverem atividades comerciais.38

Conforme já visto a fronteira em estudo agregou de forma desonesta seus nativos e em prol da evolução social e política recepcionou novos povos, é a capacidade de integração de uma zona de interpenetração mútua e de constante transformação de estruturas sociais, políticas e culturais distintas. O limite expressa a capacidade de separar unidades políticas soberanas, e permanece como um obstáculo fixo, não importando a presença de determinadas circunstâncias comuns, físico-geográficas ou culturais.

Andrade (1995) observa como fundamentais à análise do sistema de relações entre Estados, Estado e Sociedade Civil, além do estudo do Estado e seu território, a correlação deste com empresas, Estado e organizações não - governamentais, para uma melhor definição deste contexto no processo de formação dos blocos econômicos atuais.

O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à idéia de domínio ou de gestão de determinada área. Assim,

36 Segundo a diocese do patriarcado maronita, são considerados cristãos maronitas aqueles que seguiram os preceitos do profeta sírio Maron (séc. V). Esta denominação religiosa é considerada uma igreja particular sui júris, ou seja, uma igreja autônoma que reconhece a igreja católica e a autoridade do papado como legítimos representantes do cristianismo. Para mais sobre os cristãos maronitas, ver Patriarcado Maronita (2009).

37 HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Cia das Letras, 2006, p. 558. 38 BARTOLOMÉ, Mariano C. A. A Tríplice Fronteira: principal foco de insegurança no Cone

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deve-se ligar sempre território à idéia de poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes dimensões territoriais, ignorando as fronteiras políticas e vislumbrando apenas o mercado consumidor e o ganho econômico.39

Segundo Espíndola 40 o Estado nacional atual não se compara ao de sua origem. Inicialmente este se encontrava pleno de soberania e centralização de poderes, sendo apto a produzir monopólio advindo da força de um povo e seu território.

Hoje, por força das complexidades sociais democráticas e devido ao fenômeno primeiro da globalização e agora da integralização, mediante o fomento dos blocos econômicos, pergunta-se acerca da viabilidade do conceito da soberania e da unidade nacional; em situações de fronteira, quais certas particularidades devem ser consideradas.

1.2.2 Zonas de fronteiras e o desenvolvimento das migrações internacionais entre Brasil e Paraguai

A ocupação do espaço na região de fronteira encontra-se na configuração da região segundo, já visto em tópico anterior, os elementos em comum nos dois países referem-se a um espaço interior e pouco integrado, onde a natureza aparece ainda pouco domesticada.

A ainda tênue ocupação humana, divulgada em dados retirados da distribuição da população e das variações de densidade demográfica realizado, de acordo com estatísticas do IBGE41, nos anos: 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004, permitem apresentar, de maneira pormenorizada, a questão da estruturação ao longo deste século das áreas do estado do Mato Grosso do Sul, cuja configuração como unidade federativa brasileira data da segunda metade da década de 1970 e o Chaco Paraguaio, composto por três departamentos: Alto Paraguai, Presidente Hayes e Boquerón.

39 ANDRADE, Manuel Correia de. A questão do território no Brasil. São Paulo-Recife: HUCITEC – IPESPE, 1995, p. 19.

40 ESPINDOLA, 2005.

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O Mato Grosso do Sul possuía uma população de 2.074.877 habitantes no ano 2000, representando 1,2% da população brasileira e 4,2% da superfície do território nacional, ou seja, proporções relativamente reduzidas em relação ao conjunto do país.

O Chaco paraguaio ocupa 246.926 km², ou seja, 60,7% do território daquele país (406.678 km² no total), mas conta somente com 135.186 habitantes, isto é 2,6% da população nacional. O Chaco é um território de primeira importância para o Paraguai, mas um deserto humano, segundo, Souchaud 2006:

Considerando cada um desses espaços no contexto regional, ou seja, Mato Grosso do Sul (MS) e o Chaco, verifica-se a importância do MS e a importância relativamente reduzida do Chaco.42

O Chaco, com 0,5 hab./km², segundo as fontes acima apresentadas, possui a baixa densidade regional vem reforçada nas faixas de fronteira pelo efeito da distribuição desigual da população dentro desse espaço.

De maneira geral, no Chaco paraguaio, a baixa densidade de ocupação é ainda mais relevante na faixa da fronteira. Assim, o departamento do Alto Paraguai, divisa com o Mato Grosso do Sul, abriga somente 11.587 habitantes e, na fronteira,

42 SOUCHAUD, Sylvain; CARMO, Roberto Luiz do; FUSCO, Wilson. Mobilidade populacional e

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a maior cidade é La Victoria com 2.699 habitantes. De forma geral, existe uma tendência de concentração para a pouco numerosa população do Chaco paraguaio no centro desse espaço em, ou ao redor de, três centros urbanos, Loma Plata, Mariscal Estigarribia e Filadelfia, cidades que não passam dos 17.000 habitantes.

Nesse contexto, a tênue ocupação da fronteira internacional do Mato Grosso do Sul, em seu trecho fluvial, parece relativamente importante. A microrregião do Baixo Pantanal era ocupada, segundo o Censo 2000, por uma população de 124.330 habitantes. Observa-se a concentração e a urbanização da população da fronteira na conurbação de Corumbá-Ladário, cuja população aproxima-se aos 100.000 habitantes em 2000.

Em síntese, observa-se que nessa região de fronteira as baixas densidades de população possuem tendências à concentração em algumas áreas urbanas, elementos que, em cada uma das três porções de espaços nacionais, se caracterizam das seguintes formas: por um lado, embora a linha de fronteira esteja pouco ocupada de maneira geral, apresenta divergências relativas muito fortes, tais situações opostas são representadas pelo lado paraguaio: população quase nula e pelo lado brasileiro: presença humana concentrada no maior espaço urbano do trecho, Corumbá-Ladário.

Observa-se com estes contrastes, análises importantes:

a) a presença, depois de algumas centenas de quilômetros; nesses “interiores”, novamente de zonas concentração, centros importantes onde, na realidade, se organiza a vida regional.

b) a configuração espacial descrita nos permite algumas suposições quanto aos movimentos migratórios internacionais. Os movimentos de população raramente se dão de um vazio a outro. Em outras palavras, é provável que observemos movimentos de população oriundos dos poucos lugares que acumulam população e, ou em direção a estes lugares.

(35)

Em relação à formação do espaço regional considera-se aqui o espaço estruturado ao redor das bacias Média e Alta do rio Paraguai, zona que abrange a metade ocidental do Mato Grosso do Sul e parte do Chaco.

É um espaço historicamente estruturado pelo rio e que apresenta configurações socioeconômicas comuns, apesar das fronteiras internacionais.

Atualmente, os municípios da fronteira brasileira, Corumbá, Ladário e Porto Murtinho e seus espaços rurais, são dominados por paisagens de fazendas de criação extensiva de gado bovino. Porto Murtinho43, com uma população estimada em 2005 de 13.634 habitantes e uma área de 17.735 km² contava em 2003 com um efetivo bovino de 678.315 animais.

Em 2002 o valor adicionado na agropecuária (principalmente o gado, conforme visto em tópico anterior) representava 67% do PIB total do município. Corumbá, com sua população estimada em 2005 de 100.268 habitantes numa área de 64.916 km², tinha em 2003 um efetivo de 1.841.186 cabeças de gado bovino. Apesar da importância das atividades urbanas da cidade de Corumbá na economia do município, ou seja, serviços públicos e de caráter comercial, o valor adicionado na agropecuária representava, em 2002, 24% do PIB municipal.

Como mostra Cunha, a imigração interestadual ou intra-estadual na microrregião de Baixo Pantanal decresceu nas décadas de 1970/1980/1990 e, ao mesmo tempo, a emigração diminuiu ou estacionou, mas sempre se mantendo mais alta que a imigração.44

A emigração se orientou tanto para a capital, Campo Grande, como para estados limítrofes, Mato Grosso, São Paulo e Paraná. A população (Cunha 2002, 74) da microrregião passa de 101.264 pessoas em 1970 para 124.236 em 2000, conhecendo sua maior taxa de crescimento anual no período entre 1991 e 2000 (1,05%), taxa abaixo da média verificada para o conjunto do estado.45

Os elementos que aparecem no estudo dos processos de ocupação dessa área de fronteira são a escassez e a distribuição desigual da população. Densidades

43 IBGE Cidades.

44 CUNHA, J. M. P. A migração no Centro-Oeste Brasileiro no Período 1970/96: o esgotamento de um processo de ocupação. Campinas, UNICAMP/NEPO, 2002, p. 76.

45 SOUCHAUD, Sylvain; CARMO, Roberto Luiz do; FUSCO, Wilson. Mobilidade populacional e

(36)

gerais baixas juntam-se com concentrações urbanas em alguns pontos. A distribuição da população apresenta a forma de um arquipélago com “ilhas” de dois tipos e tamanhos diferentes.

As primeiras, de tamanho pequeno e médio, posicionam-se nas linhas de fronteiras. As segundas, de tamanho maior e em menor quantidade que as primeiras, se posicionam nos interiores desses espaços de transição que são as zonas de fronteiras. Entre esses vários componentes do arquipélago, existem espaços com uma presença humana mínima, espaços onde a intervenção humana foi esporádica.

Decorre dessa situação a importância das paisagens com uma forte componente “natural” onde subsiste a impressão que a natureza ainda é pouco domesticada. É nesse contexto territorial que se insere a migração internacional, a qual, assumindo várias formas, altera ou reproduz essas dinâmicas territoriais, gerando novas questões ou conflitos.

1.3 BRASIGUAIS: REALIDADE ATUAL E ESPECTATIVAS

De acordo com o estudo em questão o termo brasiguai, serve para identificar brasileiros que possuem moradia no Paraguai e vice versa; no entanto para melhor entender sobre o termo, é preciso realizar uma breve revisão histórica.

Depois de anulada a lei que impedia a aquisição de terrar por estrangeiros, na faixa de fronteira, em 1967, pelo Presidente Stroessner, promoveu-se uma grande onda migratória de brasileiros para o Paraguai.

Aliado a tal fator, pode-se correlacionar também a ciência dos brasileiros da grande fertilidade do solo paraguaio e os baixos preços das propriedades do país, como impulsionadores da migração.

No lado Brasileiro o fato propulsor do grande deslocamento de paraguaios, por sua vez, foi a entrada do grande capital no campo e o incentivo à agroindústria, em detrimento do modo de produção familiar, mais ou menos nesta mesma época, em 1973.

(37)

sua maioria, nas regiões de Canindeyú e Alto Paraná, no sudoeste do Paraguai e foram alcunhados de brasiguaios.

Dentre vários aspectos temos que este povoamento desordenado de áreas de fronteiras, disseminam obstáculos obviamente mais complexos dos apresentados no território nacional, pois existem duas nacionalidades em regiões que se separam ora, por apenas uma rua, ora um rio não muito estreito, ou uma ponte.

Tais situações identificadas nas regiões de fronteira entre Brasil e Paraguai demonstram:

Considera-se aqui o espaço estruturado ao redor das bacias Média e Alta do rio Paraguai, zona que abrange a metade ocidental do Mato

Grosso do Sul, a metade oriental do departamento de Santa Cruz e grande parte do Chaco. É um espaço historicamente estruturado pelo rio e que apresenta configurações socioeconômicas comuns, apesar das fronteiras internacionais.

Historicamente, o elemento comum às três vertentes nacionais desse espaço foi a dificuldade de implantar uma colonização humana duradoura, devido, em grande parte, às suas características geográficas e, principalmente, naturais. O primeiro elemento é a interioridade desse espaço, a qual se torna relevante frente ao projeto de colonização e organização territorial na América do Sul, que fez com que as áreas litorâneas e próximas ao litoral concentrassem a população, as atividades econômicas e o poder político. Em consequência, os espaços interiores ficaram pouco accessíveis e integrados até o século XX46.

Em relação ao mercado econômico, os brasiguais, mesmo enfrentando problemas, são atualmente, responsáveis pela produção de cerca de 60% da soja paraguaia, o que corresponde a 30% do PIB nacional do país. 47

No entanto os brasiguaios sofrem muitas pressões dos camponeses paraguaios, assim como sofrem também com a ilegalidade e insegurança jurídica, pois muitos desses imigrantes, que alcança cerca de 385 mil dos 500mil presentes no país (Paraguai).

Este aspecto choca-se atualmente, com as propostas atuais do governo paraguaio, no quesito reforma agrária. O atual governo do presidente Lugo, promove o temor quanto a desapropriação destas terras.

Mediante acordos diplomáticos com o Brasil, conforme no próximo capítulo será estudado, os governos tentam tranquilizar os brasiguais quanto a situação no

46 SOUCHAUD, Sylvain; CARMO, Roberto Luiz do; FUSCO, Wilson. Mobilidade populacional e

migração no Mercosul: a fronteira do Brasil com Bolívia e Paraguai. Teoria & Pesquisa Vol. XVI - nº 01 - Jan/Jun de 2007, p. 39.

(38)

país, contudo, diante de tal questão de insegurança jurídica, muitos brasiguaios, nos últimos anos (ver anexo D, ao final do trabalho), têm voltado ao Brasil, visto que as terras disponíveis para contratos de arrendamento diminuíram consideravelmente.

A caracterização atual do território de fronteira, diante da pesquisa feita, envolve principalmente o estudo doutrinário e legislativo nacionais e internacionais acerca do direito positivo que pressupõe unidade, mas que, diante do exposto, não impede que os sistemas se comuniquem, mantendo intercâmbio, num convívio plurissistemático, e no caso dos brasiguais, somente acordos diplomáticos bilaterais, que venham a impulsionar legislações internas, podem ser dirimentes de tais inseguranças.

Os tratados e as convenções internacionais são modos específicos, conforme veremos em capítulos seguintes, de iniciar o acolhimento interno de preceitos pertinentes a outros conjuntos normativos, igualmente carregados de normatividade e juridicidade, mas em prol do desenvolvimento, não do Estado em si, não mais, pois hoje o desenvolvimento envolve os sujeitos e atores anteriormente já identificados: empresários, empregados, entes públicos e empresas privadas.

Ou seja, o século XXI é identificado pelas relações internacionais, pelos megablocos, pela era digital e pelas relações econômicas em defesa do social internacional.

O Direito atual não é mais como antes, fato da cultura própria de um único povo; hoje o que impera é uma síntese entre valor e mundo econômico, social, político e ambiental; por esse modo, uma investigação moderna da juridicidade, voltada para os valores contemporâneos, tem razão de ser favorável à resolução de conflitos de forma interligada com demais interesses comuns de territórios afins, ou áreas de fronteira, em proveito do mercado em ascensão com a constante evolução capitalista.

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próprios e com seus desafios a serem compactuados não por uma nação, mas pela interligação destas.

Segundo Machado:

Enquanto o limite jurídico do território é uma abstração, gerada e sustentada pela ação institucional no sentido de controle efetivo do Estado territorial, portanto, um instrumento de separação entre unidades políticas soberanas, a fronteira é um lugar de comunicação e troca. Os povos podem se expandir para além do limite jurídico do Estado, desafiar a lei territorial de cada Estado limítrofe e às vezes criar uma situação de fato potencialmente conflituosa, obrigando a revisão dos acordos diplomáticos.48

Assim, estas discussões serão apresentadas situando-se também no âmbito da dinâmica legal do processo de integração econômico, Mercosul, ou como objeto de barganha para expectativas de que, com a formação de leis interterritoriais, asseguradoras de organização jurídica do processo de integração promovam o tão sonhado desenvolvimento da região em estudo.

A conquista da segurança jurídica no processo de integração condiz com a aplicação do discutido e ratificado nos tratados de integração; representam um alicerce para os demais direitos, na verdade a segurança jurídica é direito fundamental e é uma garantia ao combate das instabilidades e ilícitos que suprimem direitos sociais, econômicos e ambientais.

48 MACHADO, Lia Osório. Limites e fronteiras: da alta diplomacia aos circuitos da ilegalidade. Revista

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Tabela 1: A Faixa de Fronteira na América do Sul  País Faixa de Fronteira Instrumento Legal

Referências

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