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MAJOR CARDOSO E A LIGA DA MORALIDADE: UM ESTUDO DO PROVINCIANISMO EM O CAPOTE DO GUARDA

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

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MAJOR CARDOSO E A LIGA DA MORALIDADE:

UM ESTUDO DO PROVINCIANISMO EM O CAPOTE DO GUARDA

Dr. MARCOS VINÍCIUS TEIXEIRA Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil (marcosteixeira@uems.br)

RESUMO: Prestes a completar um século de existência, pode-se afirmar que a novela O capote do guarda sobreviveu mais nos acervos do que nas mãos dos leitores. Escrita por vários autores e publicada na forma de folhetim no início dos anos 1920, a novela sobreviveu ao tempo, mas nos chegou de forma incompleta. O espaço da obra é a cidade de Belo Horizonte. Tem-se uma capital que se apresenta como um espaço planejado e moderno em contraste com uma sociedade provinciana e conservadora. Considerando um tratamento irônico presente na construção ficcional, o objetivo deste artigo é analisar o provincianismo em O capote do guarda.

Palavras-chave: Modernismo brasileiro. Escrita coletiva. Espaço urbano. Provincianismo.

Artigo recebido em: 14 set. 2020.

Aceito em: 20 out. 2020.

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

232 MAJOR CARDOSO AND THE MORALITY LEAGUE:

A STUDY OF PROVINCIALISM IN O CAPOTE DO GUARDA

ABSTRACT: About to celebrate one century of existence, it can be said that the novella O capote do guarda has spent most of its existence in collections rather than in the readers’

hands. Written by many authors and published as a novel printed in parts (feuilleton) in the beginning of the 1920’s, it survived time but arrived incomplete at modern days. The action takes place in Belo Horizonte. There it is: a capital that presents itself as a planned and modern space, contrasting with a provincial and conservative society. Considering the ironic treatment in the fictional construction, this article aims to analyze the provincialism in O capote do guarda.

Keywords: Brazilian Modernism. Collective Writing. Urban Space. Provincialism.

INTRODUÇÃO

O capote do guarda é uma novela coletiva publicada na forma de folhetim possivelmente em 1921 e/ou em 1922, na cidade de Belo Horizonte-MG, que até o presente momento não recebeu uma edição definitiva em livro nem tampouco a avaliação crítica merecida. A novela, que é importante para uma melhor compreensão de parte do modernismo brasileiro, chegou-nos de forma incompleta, tendo-se perdido seus cinco primeiros capítulos, o que, no entanto, acreditamos, não compromete a sua importância, pois nos 14 capítulos existentes é possível compreender uma visão do todo de seu enredo. Além de se tratar de escrita coletiva, os capítulos foram aparecendo de forma intercalada quando se observa a autoria.

Carlos Góis redigiu os capítulos VI, XIII e XIX. Ernesto Cerqueira, os de número VII e XIV. Laércio Prazeres assinou os capítulos VIII e XV. Berenice Martins Prates é autora apenas do capítulo IX. João Lúcio redigiu os capítulos XI e XVII. Aníbal Machado é autor dos capítulos XII e XVIII e Milton Campos escreveu o capítulo XVI.

Há ainda um capítulo, o décimo, que aparece sem assinatura.

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Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

233 Apesar de não termos hoje os cinco primeiros capítulos de O capote do guarda e termos de iniciar a leitura pelo capítulo VI, “O capote da ‘cena’”, escrito por Carlos Góis, é possível perceber que, possivelmente, os textos anteriores trataram do furto de um capote e da morte do personagem Antônio Prestes. Visto de forma ampla, o enredo é mais intrincado do que engenhoso, o que se deve à escrita coletiva e ao gênero folhetim. O tempo, que é um elemento importante a ser observado em obras como essa, apresenta certa complicação. Já a ação, semelhante à do romance policial, apresenta alguns descompassos. No entanto, ao se observar, por outro lado, certa concentração na ação, há mérito na obra. Em uma comparação com outras obras coletivas, podemos afirmar que na novela a ação possui mais agilidade do que, por exemplo, a que encontramos em Brandão entre o mar e o amor, cujo andamento é muito lento. Possui, por outro lado, menos elementos relacionados ao crime do que O mistério de M.M.M., cujo excesso prejudica consideravelmente o livro.

No geral, O capote do guarda proporciona uma leitura instigante e prazerosa.

A dificuldade de acesso à obra tem prejudicado a sua avaliação crítica, embora se mencione muito a existência dessa novela. Pedro Nava considera-a como uma “contribuição pré-modernista possivelmente contemporânea da Semana de Arte Moderna [...] quando se definiam os futuristas de Belo Horizonte” (Nava, 2003, p. 105). Humberto Werneck (2012, p. 62) também reconhece a sua importância e destaca a participação de Aníbal Machado como uma contribuição significativa na novela, enfatizando a utilização de humor e um toque de surrealismo. Foi ainda citada em vários trabalhos acadêmicos, especialmente dissertações e teses, mas sem ser propriamente investigada como objeto de estudo.

Neste artigo, analisamos a presença de características sociais na obra O capote do guarda, observando-se, em especial, uma crítica ao provincianismo da sociedade apresentada. Realizada de forma coletiva por seus sete autores, a crítica ao provincianismo e ao universo conservador se relaciona também à busca por uma identidade nova. Trata-se, nesse sentido, do contexto do início do século XX, quando a cidade de Belo Horizonte, nova capital do estado de Minas Gerais e espaço ficcional da novela, se apresentava repleta de novidades e marcada pelo progresso do período da Primeira República.

A NOVELA

É difícil precisar a data em que O capote do guarda apareceu e se encerrou no antigo jornal Estado de Minas, que era dirigido por Mário Brant. Algumas

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234 informações nos levam a situar a obra nos anos de 1921 e/ou 1922, como veremos a seguir. A informação é relevante, pois, temporalmente, situa a sua publicação em época próxima ou mesmo contemporânea à realização da Semana de Arte Moderna de São Paulo, contribuindo também para uma melhor avaliação do modernismo em Minas Gerais e no país. A investigação sobre a data também auxilia a reavaliação da afirmação de Pedro Nava sobre o pré-modernismo e, somadas às suas diversas características, dentre as quais está o humor e a ironia, permite relacionar a obra ao início do modernismo em Minas.

Devemos a sobrevivência da novela, ainda que incompleta, ao memorialista Pedro Nava, que localizou e realizou cópia dos recortes de jornal que a escultora Lívia Guimarães Prazeres possuía. O memorialista chega a afirmar que outra pessoa, de nome não revelado, possuía os exemplares faltantes, mas que não permitiu o acesso. Esse material encontra-se hoje no Rio de Janeiro, no acervo da Casa Rui Barbosa, que o preservou. O pesquisador Humberto Werneck coletou e encaminhou a obra para a Academia Mineira de Letras, que a publicou em quatro números de sua revista, nos anos de 2005 e 2006. Graças a eles, podemos ter acesso hoje à novela coletiva. Werneck, que também estudou O capote do guarda em seu livro O desatino da rapaziada, atribui o fato de a obra ter permanecido fora das livrarias à inexistência de editoras em Belo Horizonte naquela época: “O capote do guarda poderia ter saltado das mãos dos jornaleiros para as estantes das livrarias, se a Belo Horizonte de então dispusesse de uma editora que fosse” (WERNECK, 2012, p. 63).

Os cinco primeiros capítulos permanecem desaparecidos. Pedro Nava nos informa que o primeiro foi elaborado possivelmente por Mário Brant e que a ideia de se fazer a obra pode ter sido de Laércio Prazeres:

Aniro Prazeres informa que o primeiro capítulo [de O capote do guarda] teria sido escrito por Mário Brant. Também não consegui localizar a data de publicação dos folhetins, pois os recortes de Laércio não estavam datados. D. Lívia, entretanto, diz que o romance [sic], ideia de seu marido em fase difícil do jornal, foi escrito depois de seu casamento, realizado em 1921 e antes de sua mudança para o Rio, em 1924.

(NAVA, 2003, p. 105)

De fato, o escritor Laércio Prazeres dirigiu, por pouco tempo, o jornal Estado de Minas. A informação é de Joaquim Nabuco Linhares, que anota: “O Estado de Minas foi fundado pelo Dr. Augusto Mário Caldeira Brant, que o dirigiu durante quase todo o período de sua existência. Já no fim teve por substituto o Dr. Laércio

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

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235 Prazeres” (LINHARES, 1995, p. 192). Segundo Linhares, o jornal, que foi o segundo com esse nome a existir, começou a ser publicado em 15 de julho de 1919 e se extinguiu em 12 de setembro de 1922, somando 987 números. Não se sabe a data exata de início e fim de publicação da novela coletiva, pois sobraram apenas recortes de jornais nos quais a data não aparece. Em todo caso, as informações sobre o jornal nos permitem reduzir o arco temporal desenhado por Pedro Nava. Se adotarmos como critério a informação fornecida por Linhares, considerando ainda o depoimento de Lívia Guimarães Prazeres, pode-se afirmar que O capote do guarda não é posterior a setembro de 1922, posto que, como dito, o jornal se extinguiu nessa época.

É difícil, no entanto, saber exatamente o período em que Laércio Prazeres esteve à frente do jornal. No acervo da Coleção Linhares, temos hoje conservados apenas dois exemplares do ano de 1921 e outros dois do ano de 1922. No período de pouco mais de um ano, que vai de 7 de agosto de 1921 a 6 de setembro de 1922, não há nenhum exemplar conservado. Nos dois números existentes de 1922, datados dos dias 7 e 12 de setembro, não há nenhuma referência à obra O capote do guarda, mas o nome de Laércio Prazeres encontra-se de fato registrado logo na primeira página como redator-chefe. Nos números de 1921 da referida coleção, não aparece o nome do redator, de modo que não é possível identificar a data em que ele passou a dirigir o periódico. Com o exposto, é bastante provável que O capote do guarda tenha sido publicado no segundo semestre de 1921 e/ou em 1922.

Quanto ao gênero, tem havido controvérsia em relação a O capote do guarda.

Pedro Nava chama a obra de “romance em folhetins”. Aníbal Machado se refere à obra como “romance coletivo” no texto “Autobiografia”. Na publicação da AML registra-se, curiosamente, que o texto foi dividido em vários exemplares do seu periódico “em virtude da extensão do conto” (REVISTA..., 2005, p. 59). Na versão atual, como obra inacabada, a novela ocupa cerca de 50 páginas. Observando-se os tamanhos dos capítulos, dado que a publicação em jornal limitava o tamanho dos textos, é possível imaginarmos que os cinco faltantes talvez somassem cerca de 18 páginas. Assim, a obra se aproxima das considerações feitas por Julio Cortázar, que afirma ser a novela um “gênero a cavaleiro entre o conto e o romance” (CORTÁZAR, 2008, p. 151). Trata-se, assim, de narrativa muito breve para ser considerada um romance e, por outro lado, consideravelmente longa para a classificação de conto.

Some-se ao tamanho a complexidade folhetinesca, típica de obra veiculada em jornal, e a variedade de situações provocadas e de episódios construídos, por se tratar de um trabalho que reuniu vários autores. Nesse sentido, adotamos o termo novela para nos referir a O capote do guarda.

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

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236 O PROVINCIANISMO EM O CAPOTE DO GUARDA

Em O capote do guarda, encontramos o universo social e cultural da cidade de Belo Horizonte do final da década de 1910 participando da organização interna de sua narrativa. O tempo da novela abarca a pandemia da Gripe Espanhola e se situa especialmente no ano de 1918. Nesse sentido, são vários os exemplos que podem ser mencionados, tanto relacionados a uma busca pela modernidade, quanto para se perceber a sobrevivência dos velhos costumes e tradições associados aos personagens.

Em 1920, Belo Horizonte possuía 55 mil habitantes, segundo dados do IBGE.

Como comparação, no mesmo ano, o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, já havia ultrapassado a marca de um milhão de habitantes. A capital de Minas Gerais buscava pela modernidade desde o final do século XIX, apesar de permanecer durante muito tempo como um lugar pequeno e provinciano. O traçado planejado de suas ruas, as linhas de bonde e a construção de prédios públicos em estilo neoclássico vão dimensionando a nova capital. Por outro lado, trata-se de uma aparência, que não consegue esconder o conservadorismo da tradicional família mineira, como a caracteriza Pedro Nava em Beira-mar. Ele relembra, no início de seu livro, por exemplo, que nos bares servia-se a cachaça em xícaras para que as famílias não ficassem escandalizadas ao passarem nas ruas. Antes, sobre 1913, Aníbal Machado, um dos autores de O capote do guarda, afirma que Belo Horizonte era uma “cidade mausoléu, de tão silenciosa” (MACHADO, 1994, p. 290).

Antonio Candido, em Literatura e sociedade, afirma que o elemento externo pode desempenhar um papel importante na constituição ficcional da obra, tornando-se interno. Por isso, segundo ele, é preciso se voltar para a construção literária da obra, que pode revelar tanto a sua dimensão social, quanto o universo de uma época com a qual se relaciona. Há, segundo ele, um tipo de obra que permite o estudo com o universo social de maneira mais significativa. É preciso que a narrativa ficcional possua essa dimensão já na sua constituição, compondo, em alguns casos, a sua estrutura interna. A esse tipo de ficção é que a abordagem em questão se torna imprescindível, conforme afirma Candido:

O primeiro cuidado em nossos dias é, portanto, delimitar os campos e fazer sentir que a sociologia não passa, neste caso, de disciplina auxiliar; não pretende explicar o fenômeno literário ou artístico, mas apenas esclarecer alguns dos seus aspectos.

Em relação a grande número de fatos dessa natureza, a análise sociológica é ineficaz, e só desorientaria a interpretação; quanto a outros, pode ser considerada útil; para um terceiro grupo, finalmente, é indispensável. (CANDIDO, 2000b, p. 18)

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237 Nessas obras, diferentemente de vertentes teóricas que buscavam ver o texto literário como um objeto autônomo ou pela sua relação com uma estrutura virtualmente independente e de métodos ainda anteriores como a História Literária ocorrida no final do século XIX na França e que, conforme Antoine Compagnon, preconizava que “a compreensão de um texto [pressupunha] o conhecimento de seu contexto” (COMPAGNON, 2012, p. 199) numa perspectiva determinista, Antonio Candido, evitando essa dissociação, defende uma terceira vertente em que elementos externos à obra desempenham um papel na sua constituição interna:

Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas; e que só podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno. (CANDIDO, 2000b, p. 5-6, grifos do autor)

Para que a abordagem da obra ficcional se mantenha dentro do campo da crítica literária, é preciso observar, registra Candido, que “A análise estética precede considerações de outra ordem” (CANDIDO, 2000b, p. 5).

Dentre as várias considerações realizadas por Antonio Candido, está a ponderação de que a arte, sociologicamente, é “um sistema simbólico de comunicação inter-humana” (CANDIDO, 2000b, p. 33), para o qual autor, obra e público formam uma tríade indissolúvel. Nessa perspectiva, ao abordar a posição do artista, o teórico afirma que ele pode atuar como um intérprete de sua sociedade, realizando uma obra que corresponda a necessidades coletivas. Esta, por sua vez, só passará a viver nas mãos do leitor e sua existência futura dependerá deste fator.

O capote do guarda, mesmo incompleto, sobreviveu ao tempo, mas teve o seu acesso limitado devido à efemeridade de seu primeiro suporte, o jornal, e ao fato de não ter sido publicado em livro em sua época, o que se deveu, possivelmente, às condições da cidade nascente em que foi produzido, conforme já pontuamos. Sua sobrevivência, por outro lado, está ao mesmo tempo vinculada ao interesse que desperta. Sendo obra de autoria coletiva, com enredo não só situado, mas marcado por questões relevantes relacionadas à capital mineira do início do século XX, escrita por pessoas cujas biografias se vinculam a essa sociedade, as ponderações de Candido encontram estreita relação com o objeto em questão.

Vejamos, resumidamente, o seu enredo. Em O capote do guarda, o furto de um capote de um guarda-civil e a morte de um tipógrafo chamado Antônio Prestes

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

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238 provocam a curiosidade da população de Belo Horizonte. As suspeitas do crime recaem sobre o major Cardoso, que é intimado a comparecer perante o delegado para depor. Ao mesmo tempo, o caso desperta em sua esposa, dona Laura, a desconfiança de que poderia estar sendo traída com a, agora viúva, dona Maria.

Estabelece-se, assim, uma investigação oficial, que busca solucionar a morte do tipógrafo, e outra particular, de ordem afetiva, instigada pela possibilidade do adultério. Vários episódios são narrados até que o major, em seu depoimento, afirmar que foi desafiado pelo tipógrafo a caçar um jacu e presenteá-lo com este.

Ele, então, mau caçador, conta ao delegado que, não tendo conseguido caçar o animal, resolveu furtar uma galinha d’angola do vizinho e mandá-la para o amigo, já preparada e assada, como se fosse um jacu. Por um grande azar, o tipógrafo acaba envenenado com a comida. Só então o major, ao investigar o caso, descobre que a galinha roubada havia se alimentado com baratas envenenadas. O delegado se dá por satisfeito e manda arquivar o inquérito.

Tendo como tempo histórico a época da Primeira República, o enredo se organiza, nessa perspectiva, em relação à posição social dos personagens. O tipógrafo e o guarda civil pertencem a uma classe menos abastada. Portilho, o namorado de Laurinda, representa um personagem em ascensão, mas depende de um arranjo típico do coronelismo para se estabelecer como um bom candidato ao casamento. A informação, que está no capítulo 14, escrito por Ernesto Cerqueira, importa nesse sentido.

[Laurinda] namorava com seriedade. A mãe fingia ignorar o motivo das visitas domingueiras do amanuense. Simpatizava com o rapaz e não se lhe dava de tê-lo como genro. Mas receava que tardasse a promoção do moço, prometida de pedra e cal por um primo da mulher de um deputado, a quem o finado oficial de polícia prestara outrora excelente serviço, em uma eleição disputada. (REVISTA..., 2006b, p. 158)

É válido observar, desde já, que o tratamento da narrativa realizado pelo escritor Ernesto Cerqueira é irônico. A promessa, feita em função de uma eleição, que nessa época foi marcada pelo voto de cabresto, foi feita por um primo da mulher de um deputado a alguém que já morreu. Ironia que voltará no último capítulo, escrito por Carlos Góis, quando o leitor descobrirá que Portilho obteve a mão de Laurinda após “ser promovido nas águas de um colega que tivera acesso em razão de ser filho de um primo do cunhado do ministro” (REVISTA..., 2006c, p. 33).

Já o major Cardoso, protagonista da novela, e também outros personagens como dona Nelinha, Dr. Abreu e dona Xandu pertencem a uma classe mais abastada. No capítulo 13, escrito por Carlos Góis, ele se apresenta do seguinte modo:

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239 Compreende bem vossa senhoria que todo o meu passado sem jaça ficaria irremediavelmente comprometido, se se viesse a saber que eu, chefe de seção de uma Secretaria de Estado, major da Guarda Nacional e membro perpétuo da Liga pela Moralidade, entrara subrepticiamente em casa do vizinho para furtar! (REVISTA..., 2006b, p. 155)

Novamente o tratamento irônico aparece, marcando a defesa de uma Liga pela Moralidade, que aparecerá em outros momentos da novela, relacionada à defesa de valores conservadores. Major Cardoso ocupa, assim, posição social mais elevada, sendo residente na região da Serra, como fica claro no último capítulo.

A novela explora bastante o espaço da cidade de Belo Horizonte. Tanto o bairro Floresta, onde o tipógrafo residia, quanto Serra, onde vive o major Cardoso, estão fora da parte mais planejada da cidade, que é contornada por uma via chamada Avenida do Contorno. Como nos informa Heliana Angotti Salgueiro, a avenida que contorna a região planejada da cidade, já nessa época, estabelecia uma relação de densidade urbana e, nesse sentido, de periferia:

Uma avenida de contorno de 35 m de largura e 10 km de extensão interrompia irregularmente o xadrez, delimitando a zona urbana em forma similar à de Paris – uma elipse deformada, conforme aconselhava Léonce Reynaud no seu trabalho, em função da direção dos ventos e do rio. (...) Poderíamos dizer que a av. do Contorno de Belo Horizonte funcionava como uma “muralha” definindo o espaço da cidade e separando-o da zona de chácaras, três vezes mais extensa que a zona urbana.

(SALGUEIRO, 1995, p. 200)

Os bairros Serra e Floresta se localizam geograficamente em polos opostos.

Assim, o espaço possui importância na constituição da trama. Entre a residência do personagem mais rico, suspeito de envolvimento em crime, e a residência do tipógrafo, personagem pobre e vítima do ocorrido, encontra-se toda a cidade existente na época.

O fato de o tipógrafo não despertar tanta atenção do delegado poderia estar ligado à sua situação financeira inferior, se relacionada aos demais personagens. O contexto da Primeira República, nesse sentido, atribui verossimilhança à pouca atenção destinada pelo delegado ao caso. Isso só ocorrerá porque o major Cardoso, o principal suspeito, é homem pertencente à burguesia da capital. A forma como os personagens se comunicam, na obra, é relevante para se compreender o pertencimento às classes. Enquanto a mulher do tipógrafo, por exemplo, envia bilhetes com portador, dona Laura, a esposa do major, utiliza o telefone e passeia de automóvel pela cidade. Vale lembrar que, na época de aparição da novela, só os

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240 mais ricos podiam possuir aparelho telefônico e seu uso era símbolo de status social elevado.

A dimensão social e o contexto da Primeira República, como se percebe, participa da estrutura interna da obra. Os exemplos são inúmeros. A obra, como já mostramos até aqui, ironiza a própria época, tendo como foco, em especial, o provincianismo da sociedade belo-horizontina. A crítica ocorre ao se contrapor uma cidade, que se moderniza e se apresenta como um espaço ocupado por bondes, automóveis e cinemas, a uma mentalidade conservadora e moralista da sua população. Esse províncianismo pode ser relacionado a um texto de Fernando Pessoa em que o tema é abordado de maneira significativa. Embora se dirija ao povo português, as considerações que faz podem ser relacionadas à obra que estudamos:

O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.

O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia. (PESSOA, 1995, p. 336)

Segundo ele, as novidades surgidas como modernidade são artificiais e representam o que chamamos de progresso. Para Pessoa, parte considerável da população vê a novidade como algo artificial e por isso a admira. Nessa atitude reside um provincianismo. Em contraposição, os civilizados criam a modernidade e não lhe atribuem tamanha importância. O provinciano, mergulhado em sua admiração pelo que lhe é dado a conhecer como novo, não o compreende de forma devida. Por isso, a ironia é um procedimento elucidativo:

É na incapacidade de ironia que reside o traço mais fundo do provincianismo mental.

Por ironia entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redações, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele, deduzindo-se porém esse segundo sentido do fato de ser impossível dever o texto dizer aquilo que diz. (...)

A ironia é isto. Para a sua realização exige-se um domínio absoluto da expressão, produto de uma cultura intensa; e aquilo a que os ingleses chamam detachment — o poder de afastar-se de si mesmo, de dividir-se em dois, produto daquele

“desenvolvimento da largueza de consciência” em que, segundo o historiador alemão Lamprecht, reside a essência da civilização. Para a sua realização exige-se, em outras palavras, o não se ser provinciano. (PESSOA, 1995, p. 337)

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

241 Em O capote do guarda, à medida que acompanhamos o trajeto do capote e a investigação sobre a morte do tipógrafo, vamos sendo apresentados a uma Belo Horizonte pequena, mas com ares modernos.

Na cena, por exemplo, em que o major vai ao Cinema Odeon com Portilho, ambos assistem a uma fita do estadunidense George Walsh. Como é época do cinema mudo, a orquestra anima a apresentação tocando Trovador e depois Rigoletto, de Guiseppe Verdi. Enquanto assiste, o major pensa em realizar um filme policial que se chamaria “O anarquista de chapéu coco”, o que nos remete ao universo de Charles Chaplin. Vive-se, portanto, uma época nova em que o cinema permite um diálogo universal e atual por meio da imagem ainda muda. A sessão de cinema acaba sendo interrompida, porque o major, por mais surpreendente que isso seja, recebe um embrulho contendo o capote, o que o atormenta profundamente, pois é algo que pode comprometê-lo em relação à morte do tipógrafo. Os personagens saem e vamos sendo apresentados à Belo Horizonte do início do século XX. É a hora da chegada do trem e as pessoas correm para comprar os jornais. Eles entram em um comércio e o major pede um exemplar da revista Chácaras e quintais1. O protagonista tenta se livrar do capote, mas Portilho, prestativo, não lhe permite. Com uma desculpa, o major pede que ele leve consigo o embrulho2. Somos então apresentados ao bonde da cidade num momento de grande movimento, como se vê no texto de Milton Campos:

[Portilho] se atirou ao bonde. Mesmo àquela hora, o calhambeque estava repleto.

Talvez alguma quermesse na Lagoinha. E o pobre amanuense teve de se contentar com um pingente, entre um soldado lustroso e um cachimbo italiano capaz de fulminar um touro com uma baforada. (...)

Súbito o bonde desabalou pela avenida Cristóvão Colombo abaixo. Um desastre iminente. As senhoras gritavam, e o motorneiro, na frente, fazia esforços hercúleos para parar o carro. Tudo em vão: o freio se fora. Portilho, na ânsia de se garantir, esqueceu o baluarte e se dependurou no cachimbo do italiano. Mas o italiano abriu a boca para berrar um per Bacco! e o amanuense, com o cachimbo na mão, rolou na poeira. (REVISTA..., 2006c, p. 104)

1 A revista Chácaras e Quintais foi fundada por um imigrante italiano e circulava no Brasil desde 1910. Considerada um importante veículo de divulgação de conhecimento científico no país, sua menção na novela O capote do guarda se liga aos diversos exemplos

relacionados ao progresso em Belo Horizonte. Cf.

http://www.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36&sid=21

2 Em um artigo anterior, estudei a trajetória do capote na novela O capote do guarda, estabelecendo uma relação com o conto “O homem e seu capote”, de Aníbal Machado. Nesse trabalho, procurei demonstrar que a obra coletiva pode ter tido papel decisivo para a elaboração do referido conto. (Cf. TEIXEIRA, 2020, p. 103-116)

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TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Major Cardoso e a Liga da Moralidade: um estudo do provincianismo em O capote do guarda. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 231-250.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

242 É interessante observar que o bonde está cheio em horário incomum, à noite.

Há uma situação de desgoverno do transporte, numa época em que os acidentes de trânsito são raros. Há ainda a presença de estrangeiros, representados pela figura do italiano, que registra a mistura de culturas na capital mineira. Rodrigo Caldeira Bagni Moura nos informa que a vinda de italianos para a região de Belo Horizonte coincide com a época de sua constituição enquanto cidade, havendo desde 1892 um programa do governo mineiro que estimulava a vinda e a fixação de italianos no estado. De todos os imigrantes de nacionalidades europeias, segundo seu estudo, o grupo mais numeroso foi o de italianos. Na interpretação de Moura (2013, p. 9), os estrangeiros encontraram hostilidade em Minas Gerais e uma elite que lhes era refratária. O humor presente na cena de O capote do guarda ao caracterizar a figura do italiano pode revelar, nesse sentido, de forma irônica, uma situação de conflito social vigente na sociedade brasileira da época. O próprio italiano recebe tratamento irônico ao se exagerar, na narrativa, a fumaça oriunda de seu cachimbo.

Toda a imagem de uma Belo Horizonte que se modernizava vem marcada por outras questões, tais como o conservadorismo da tradicional família mineira ou mesmo o inevitável retrato de um lugar que ainda era relativamente pequeno, quando comparado às grandes cidades do país. Veja-se, nesse sentido, uma descrição dos bondes em uma noite de chuva no texto de Carlos Góis:

...todos lhe conhecem os efeitos, sem olvidar a paralisação do tráfego de bondes, a sinalefa da luz, a cidade às escuras, as ruas alagadas, os bondes a receber água por todas as seteiras que lhes perfuram o teto e a recambiá-la altruisticamente para os passageiros; estes sem outra salvação senão escancelar o guarda-chuva e escalar os bancos; os automóveis a entrecruzar-se engolfados em plena escuridade, norteados apenas pelas fonfonadas das sereias, quais, nas águas nevoentas de Londres...

(REVISTA..., 2005, p. 61)

A descrição é exemplar para se refletir acerca das ponderações feitas por Fernando Pessoa acerca do provincianismo. A evocação a Londres corresponde àquele anseio pelos grandes centros que o sujeito provinciano possui e, como afirmou Pessoa, mimetiza. A sua realização em solo mineiro, no entanto, é o contrário do que se almejara. Os passageiros do bonde vivem a triste e engraçada situação de enfrentarem a chuva onde deveriam estar protegidos dela. A escuridão das ruas e os carros que passam desenham uma Londres irônica, pois só pode ser imaginada pelo sentido negativo neste caso. A imagem do grande centro, que poderia servir como modelo, aparece aqui para ridicularizar o que representa o atraso brasileiro.

O provincianismo também aparece na obra ligado ao conservadorismo da sociedade belo-horizontina. Vale lembrar aqui a expressão “Tradicional Família

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243 Mineira”, utilizada por Pedro Nava, em Beira-mar, como sinônimo de uma sociedade conservadora que contrasta com a nova capital. Nesse sentido, na novela, a relação entre o major e sua esposa é exemplar para observarmos essa dimensão, que se tinge em vários momentos de folhetinesca. Trata-se, dentre outras questões, da suspeita de adultério que recai ora sobre o marido, ora sobre a esposa. Observa-se, no decorrer dos episódios, a preocupação em manter uma boa aparência, no sentido de máscara, frente à sociedade da época.

Logo no capítulo VI, de autoria de Carlos Góis, somos informados de que o protagonista é intimado e que uma carta recebida anteriormente provoca ciúmes e desconfiança em dona Laura, a esposa do major Cardoso, que, por sua vez, passa a desconfiar de adultério.

D. Laura recebeu do delegado o convite ao marido para que “fosse à delegacia, no dia seguinte, depor no inquérito instaurado a pedido de “dona Maria” (devia ser a mesma da carta misteriosa), viúva do tipógrafo Antônio Prestes, falecido sem assistência médica à rua da Floresta nº 720, na tarde de 4 de junho desse ano da Graça...

(REVISTA..., 2005, p. 60)

Como já informado, por se tratar de obra incompleta, o capítulo VI funciona aqui como início da novela. Como se percebe, esse primeiro parágrafo reúne todos os elementos necessários para a compreensão da trama que se desenvolverá. Nele já somos informados sobre o inquérito, a suspeita sobre o major Cardoso, temos informações sobre a vítima e indícios para dona Laura suspeitar de que o marido possa estar lhe traindo. O capítulo também permite compreender que já houve, entre eles, uma conversa pouco amistosa sobre o assunto. Enciumada, ela acusa o marido de adultério e o deixa bastante perturbado quando lhe comunica sobre a intimação. Em seguida, a esposa aparece menos irascível e o aconselha a defender- se e assim preservar a boa imagem de “cidadão e chefe de família” (REVISTA..., 2005, p. 64), que o marido possui em relação à sociedade. É justamente esse jogo entre aparência e essência que revela o comportamento provinciano dos personagens, preocupados com uma posição social e em manter a aparência de uma família tradicional e austera.

Muito além vai o escritor Laércio Prazeres, que, no capítulo VIII, narra um major bêbado entrando e saindo de um cinema, andando pelas ruas da capital e exposto aos olhares de toda a sociedade. O protagonista havia saído em busca de um advogado, mas, enquanto o aguardava, acaba exagerando na bebida. É sua esposa quem o socorre. Ela, que saíra possivelmente para investigar as suspeitas que possui em relação ao marido, passa de automóvel e o vê. Obrigando-o a subir no veículo, leva-o para a casa. A situação é interessante, pois reúne tanto a marca do progresso, pela presença do automóvel, quanto a do provincianismo, na

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244 preocupação em preservar as aparências. A situação, por si só, já é cômica. Em casa, ela afirma que sabe de tudo, o que atormentará o major Cardoso consideravelmente, pois é suspeito de envolvimento na morte do tipógrafo. Depois, diante de uma cena em que vê o marido com um revólver próximo da cabeça, suplica-lhe que não se mate e lhe diz que quer zelar pelo bom nome da família.

Vejamos a cena:

— Que vais fazer, Cardoso? exclamou a esposa entrando.

Ele, que preparara aquele instante, não soube que dizer.

— Não te mates, Cardoso! Seria uma loucura! Podes livrar-te! Tem coragem! Olha que amanhã a estas horas podes estar salvo das suspeitas da polícia.

O major, todavia, simulava vontade de morrer.

— Então, amanhã, vou almoçar no “Hotel Grande”!

— Não, Cardoso! Muito menos isso! Lembra-te que tens cinco filhos para criar! Disto não escaparias! Do tiro, ainda o dr. Borges da Costa dava um jeito. Coragem! Não sou mais tua esposa, mas quero velar pelo futuro e pelo bom nome dos meninos.

Amanhã irás ao advogado. Dir-lhe-ás tudo. Ele te aconselhará. Mas dir-lhe-ás tudo, ouviste? (REVISTA..., 2005, p. 72, grifo nosso)

O episódio possui dupla importância. Observe-se que o major “simulava” a vontade de morrer e que, antes, fomos informados de que “preparara aquele instante”. Se alguns elementos no decorrer da narrativa desse capítulo permitem pensar que o protagonista refletiu de algum modo sobre esta possibilidade, a cena citada revela que se aproveitou da situação para sensibilizar sua esposa. Sendo fingimento, neste caso, o trágico se tinge de cômico. Dona Laura sente-se vítima, vê o casamento como uma prisão, mas pondera que é viável zelar pelo nome da família e manter as aparências na sociedade belo-horizontina. O jogo das aparências parece, inclusive, mais importante do que sua angústia e drama existencial. Um advogado e os privilégios da época da Primeira República, pode-se supor, poderão trazer o perdão, tanto na esfera social quanto penal, ao marido.

O comportamento de dona Laura e os acontecimentos narrados no capítulo de Laércio Prazeres são significativos para se compreender o provincianismo relacionado ao progresso que a modernidade trouxe para o espaço da novela. O capote do guarda, por um lado, nos apresenta uma tentativa de representar Belo Horizonte como uma cidade moderna, com cinema, linhas de bonde, veículos etc.

Por outro lado, expõe o conservadorismo da família mineira e seu comportamento provinciano. Tem-se assim, por exemplo, a preocupação de dona Laura em manter a imagem de uma família austera em um jogo de aparência e essência em uma cidade que ainda era uma promessa de capital e que se revelava como um lugar com características interioranas. A modernidade não implicou uma significativa

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245 transformação de comportamento e nisso é importante também o contexto da Primeira República, em que relações pessoais se misturam com a política, o que pode ser notado não só nas titulações dos personagens, mas na forma como eles buscam sucesso no trabalho, como é exemplar o caso do personagem Portilho. É preciso observar ainda que o tratamento dado ao provincianismo mineiro é crítico e o humor quase sempre está presente. Trata-se, em relação ao grupo de escritores que criaram a obra, de uma clara consciência do universo em que vivem. Mostra-se o progresso como uma realidade no cotidiano da cidade, mas ao mesmo tempo expõe-se um comportamento conservador e provinciano.

Outro bom exemplo está no capítulo “A sogra”, escrito por Berenice Martins Prates. É justamente quando o casal está buscando uma forma de se entender, ainda que se trate de agir em função de uma aparência social, que aparece a mãe de dona Laura. Ela nos é apresentada como a “pachorrenta e boa” dona Emerenciana de Almeida. Diante da possibilidade de sua esposa revelar para sua sogra tanto a suspeita sobre o adultério quanto a de crime que recai sobre ele, o protagonista resolve simular uma síncope e cai desmaiado. Dona Emerenciana age em seu socorro. Para tentar reanimá-lo, manda vir éter ou amoníaco da casa dos vizinhos e pergunta o que ocorre com o genro. Dona Laura, então, mente dizendo que discutiam sobre a saúde de Cardoso e sobre sua resistência em consultar um médico. A mentira anima o major, que percebe ainda ter a confiança da esposa. Aos poucos ele se reanima e segue para a cama com a falsa promessa de que verá um médico pela manhã. Com isso, o jogo entre aparência e essência penetra no âmbito íntimo da família, deixando de ser apenas omissão e máscara e se convertendo também em mentira.

A imagem da sogra, que vive em Sabará, a antiga cidade de casario colonial próxima a Belo Horizonte, e é esposa do “orador mais eloquente da terra de Borba Gato” (REVISTA..., 2006a, p. 94), é importante também, na novela, para estabelecer um contraponto entre Sabará e a nova capital ou entre o antigo e o novo. O tratamento dado à sogra contribui para se pensar numa ideia de tradição ligada ao estado de Minas Gerais. A cidade dos sogros revela parte da origem desta família, que coincide com a própria história de Belo Horizonte, pois é conhecida a importância que a cidade histórica teve para a construção da nova capital do estado, que surge moderna e substitui outra, também antiga, Ouro Preto. Nesse sentido, em contraposição, a presença de Sabará contribui para enfatizar o progresso da nova capital na novela.

O folhetinesco3 e o provincianismo ainda estão presentes em um episódio envolvendo dona Laura e o senhor Abreu. Trata-se da narrativa escrita por João

3 O termo Folhetinesco é compreendido aqui no sentido que lhe atribui Antonio Candido em Formação da literatura brasileira. (Cf. CANDIDO, 2000a, p. 113)

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246 Lúcio, na qual se aventa a suspeita de adultério, desta vez relacionado à mulher do major Cardoso. Dona Xandu flagra seu marido declamando versos românticos para dona Laura e arma um escândalo, telefonando e intimando o major a ir até sua casa. Assim, o escritor João Lúcio direciona a novela para as suspeitas amorosas, que constituem apenas aparência, não possuindo a motivação do fato realizado, ainda que o episódio pudesse animar um ciúme do marido pelo passado da esposa.

Nessa circunstância também é interessante o fato de dona Laura ter ido até o conhecido pedir um prefácio para um livro de versos de sua vizinha. No final da novela essa informação será retomada e o prefácio, que é irônico, não aborda propriamente a qualidade das poesias, sendo, portanto, apenas aparência. O jogo com a aparência se dá aqui em duas medidas, portanto: na suspeita de adultério e na possibilidade inexistente de boa poesia. Como a questão do adultério em relação à dona Laura não será desenvolvida pelos demais autores de O capote do guarda, o capítulo XI, que se chama justamente “O escândalo”, permanece como exemplo na obra dos pequenos assuntos que movimentavam a curiosidade da sociedade belo- horizontina, conservadora e atenta a tudo que soasse imoralidade e escândalo. Ao mesmo tempo, o telefone, símbolo do progresso e de status de classe, é utilizado na possibilidade de alastrar falsos boatos e manchar a reputação de duas famílias da sociedade. Como o episódio não é retomado, não sabemos se o major, que às onze horas precisaria depor, compareceu à casa de dona Xandu.

Com relação ao jogo de aparências, que caracteriza a Belo Horizonte ficcional, é válido, por fim, abordar ainda uma festa dada pelo major Cardoso como forma de reparar a sua imagem frente à sociedade mineira. No penúltimo capítulo, escrito por Aníbal Machado, temos o relato da festa:

Pitos, ditos amáveis, sussurros — tudo enchia a casa onde o major procurava reconquistar os seus foros de bom funcionário do Estado e exemplar chefe de família.

Diziam mesmo que o baile fora organizado de propósito, para deixar no público e na sociedade a impressão de que o Cardoso andava num mar de rosas, feliz, honrado e acatado, tendo d. Laura por princípio, e por fim... dolorosa interrogação!

Outros, maldizentes, atribuíam a organização daquela festa ao desejo que tinha d.

Laura de aproximar o Portilho de Laurinda. (REVISTA..., 2005, p. 109)

Nada melhor do que uma festa para receber a sociedade da época em sua casa e reconciliar-se com ela, ainda que tudo se dê no nível da máscara social. A narrativa de Aníbal Machado é clara em relação a isso. Observem-se os termos reconquistar, impressão e mar de rosas. Ou ainda: “feliz, honrado e acatado”. Nesse fragmento, também temos a situação de Portilho, que, ao longo dos episódios, faz

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247 de tudo para que sua aparência não fique maculada, objetivando um futuro casamento com a Laurinda, que é sobrinha do major. Na cena da festa também descobrimos que o protagonista mandou ampliar um retrato de sua sogra e pregar na parede “como piedosa homenagem de amor de... genro” (REVISTA..., 2005, p.

109). O retrato aparece circundado por uma Nossa Senhora da Conceição e pelo

“diploma da Liga”. A imagem da santa, que poderia simbolizar a intimidade religiosa da família, parece mais cumprir um papel de imagem exterior, por se fazer presente na parte social da casa. Curiosamente, há também um “diploma da ‘Liga’” na parede, que se refere à Liga da Moralidade, uma “instituição zeladora dos costumes e da moral da família mineira, despertando grande curiosidade e polêmica na cidade” (SAID, 2007, p. 68), conforme esclarece Roberto Alexandre do Carmo Said.

Humberto Werneck (2012, p. 16) também nos informa de que a Liga da Moralidade era um órgão da União de Moços Católicos, que julgava os filmes da época, indicando no jornal Minas Gerais quais eram prejudiciais, quais poderiam ser vistos com reserva e quais seriam inofensivos. Evidentemente, há um tratamento irônico presente no texto, o que explicita a hipocrisia da época e ao mesmo tempo a expõe ao riso. Instaura-se inclusive o insólito quando o retrato da sogra pisca os olhos para o genro.

Os três elementos — retrato da sogra, imagem da santa e o diploma da Liga da Moralidade — em uma casa que se abre para toda a sociedade belo-horizontina verificar que tudo vai bem com essa família são significativos numa novela em que o jogo entre a essência e a aparência é uma característica forte. Diante da sociedade, o major Cardoso pode recuperar a imagem de marido austero e respeitado, ao mesmo tempo em que consegue se livrar do envolvimento na morte do tipógrafo. A festa anuncia o encerramento da novela, reestabelece o jogo social com a reparação da máscara e completa o aspecto cômico da obra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antonio Candido, em Literatura e sociedade, como dissemos, demonstra como o universo externo à obra pode aparecer transformado internamente e convertido em ficção. O capote do guarda expõe e ironiza, nesse sentido, as relações sociais da época. Como procuramos mostrar, personagens como o tipógrafo e o major Cardoso ocupam posições sociais muito diferentes e o contexto da Primeira República garantirá ao personagem burguês passar incólume por situações adversas ou merecedoras de alguma penalização. O aspecto social, inicialmente externo à obra, torna-se integrado à sua economia interna, estruturando-a na sua

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248 completude. Num sentido maior, temos a investigação sobre uma morte e sobre o furto de um capote da guarda-civil, envolvendo um personagem pertencente a uma elite social. De forma mais elementar, embora com grande relevância, temos uma abordagem do universo mais doméstico dos personagens, aparecendo, dentre outros temas, o do possível adultério. Percorrendo toda a obra está a presença do provincianismo, que, em meio ao progresso da época, se desnuda pelo uso da ironia e do humor.

Escrita por vários autores, é natural que a novela O capote do guarda resultasse num todo irregular. A obra possui uma dimensão próxima da crônica e nela encontramos capítulos de grande qualidade literária como o que narra a estória da caçada do jacu, de autoria de Carlos Góis, e o “Gripe! Gripe”, escrito por Aníbal Machado. No conjunto, mesmo incompleta, a novela sobrevive à leitura atual, ultrapassando qualquer abordagem que a tome como mero registro da Belo Horizonte do início do século XX, constituindo-se como narrativa saborosa e atemporal.

Vale lembrar que justamente o humor e a ironia se tornarão procedimentos importantes nas mãos do escritor modernista, que surge nesse momento no país. O capote do guarda deve ter chamado pouca atenção dos críticos da época, pois o gosto literário de então ainda era passadista, momento que, conforme José Paulo Paes (1985), pode ser classificado como Art Nouveau na literatura brasileira, isto é, como um período marcado por uma linguagem fortemente decorativista, em que João do Rio, por exemplo, foi um grande nome. Nesse período, vale lembrar, havia grande receptividade à poesia parnasiana em detrimento dos textos com linguagem mais objetiva e clara, que aos poucos surgiam nas publicações do país.

Se encontramos expressões latinas e francesas no decorrer da novela, elas não aparecem corroborando aquela dimensão decorativista que marcou a época Art Nouveau e que poderia, nesse sentido, ser associada a parte do Pré-Modernismo. A linguagem, ao contrário, permanece ágil e cristalina ao longo de toda a parte da obra que sobreviveu. O humor e a ironia percorrem praticamente toda a novela. Não possui, no entanto, a fragmentação e a descontinuidade que marcaram a prosa da primeira fase do Modernismo. Ainda assim, o trabalho com a ironia revela uma obra divisora de águas e O capote do guarda pode ser compreendido como obra do início do modernismo brasileiro. A forte crítica ao provincianismo da época, como procuramos demonstrar neste artigo, revela uma consciência de sua própria época ligada a um grupo de escritores reunidos de forma coesa em torno da criação de uma novela relevante. É, nesse sentido, uma obra de ruptura, que inaugura o modernismo em Minas Gerais.

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MARCOS VINÍCIUS TEIXEIRA possui graduação em Letras – licenciatura em Língua Portuguesa e bacharelado em Estudos Literários – pela Universidade Federal de Ouro Preto, mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo. É professor do curso de Letras e do mestrado acadêmico de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, atuando na unidade universitária de Campo Grande-MS. É um dos líderes do Grupo de Pesquisa "Modernismo periférico:

poéticas do século XX". Desenvolve pesquisa relacionada à Literatura Brasileira do século XX.

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