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LUZI A APARECI DA FERREI RA

Polít icas Públicas para a Cult ura na Cidade de

São Paulo: A Secret aria Municipal de Cult ura –

Teoria e Prát ica

Tese apresent ada à Escola de Com unicações e Art es da Universidade de São Paulo, Linha de Pesquisa Com unicação e Cult ura, Área de Concent ração Com unicação, do Program a Ciências da Com unicação com o exigência parcial para obtenção do t ít ulo de Doutor, sob a orient ação da Profa. Dra. Dilm a de Melo Silva.

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LUZI A APARECI DA FERREI RA

Banca Exam inadora

Polít icas Públicas para a Cult ura na Cidade de São Paulo:

A Secret aria Municipal de Cult ura - Teoria e Prát ica

Est a t ese foi j ulgada adequada para a obt enção do t it ulo de Dout or e

aprovada pela Banca Exam inadora da Escola de Com unicações e Artes,

cam pus

capit al, São Paulo - SP.

Mem bros:

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Profa. Dra. Dilm a de Melo Silva

( O

rient adora)

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Agradeço aos m eus ant epassados;

Ao m eu pai Pedro Ferreira, in m em oriam, e a m inha m ãe Jovit a Dias Ferreira, pela garra herdada;

Ao m eu com panheiro Edwin Pit re pelo est ím ulo, carinho, com prom isso, com preensão e, acim a de t udo, pelos diálogos cot idianos que perm it iram a conclusão desta tese;

À m inha incansável orient adora Professora Dilm a, que m e m ost rou os cam inhos para seguir adiant e, deixando- m e beber na font e de seus conhecim ent os durante t oda essa j ornada em que est ivem os j unt as, t ornando-se a m inha m ãe int elect ual;

Aos professores Alberto I keda e Carm en Aranha, por suas valiosas observações no Exam e de Qualificação;

À Cát edra UNESCO da Universidade de Girona e a Fundação I nt erart s de Barcelona pela possibilidade de realizar o curso de Polít icas Cult urais I nt ernacionais, na Espanha;

À Sociedade Cient ífica de Est udos da Art e – CESA pelo suport e que perm it iu m inha perm anência na Espanha.

À Dout ora Silvana Karpinsck pela leit ura ant ecipada e observações oport unas e por t er com part ilhado sua sapiência do fazer acadêm ico que, em m uit os m om ent os de incert eza, foram o m eu alent o;

Ás secret árias Ana Lúcia Siqueira e Sara Viera do MAC- USP pela diagram ação final.

À Laura pela preciosidade de suas correções, e a t odos( as) que em algum m om ent o m e apoiaram e forneceram inform ações: bibliot ecárias, inform ant es, art ist as, produt ores cult urais e at ivist as polít icos, os quais não nom earei para não correr o risco de esquecer alguém ;

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FERREI RA, Luzia Aparecida. Polít icas Públicas para a Cult ura na Cidade de São Paulo: A Secretaria Municipal de Cultura - Teoria e Prática. Tese de Doutorado – Escola de Com unicações e Art es da Universidade de São Paulo / ECA- USP. São Paulo, 2006.

RESUMO

O present e t rabalho pret ende det er- se na análise da gest ão cult ural im plem ent ada pela Secretaria Municipal de Cult ura da cidade de São Paulo – SMCSP, no período de 1989 a 1992. Analisar o Proj et o Cidadania Cult ural proposto pela então Secretária Marilena Chauí, e identificar as diretrizes de sua polít ica pública para a cultura. Esse proj eto pret endia criar m ecanism os de aut o-organização dos cidadãos paulist anos, para que est es fossem part ícipes do fazer cult ural. Const at ou- se que, em bora a cidade de São Paulo t enha sido t ransform ada em um “ laboratório de experiências cult urais” do Part ido dos Trabalhadores, com a intenção de substit uir o “ client elism o pluralist a” pelo “ part icipacionism o popular” , esse obj et ivo não foi alcançado.

Palavras- chave: Cultura; Política cultural; Ação cultural; Políticas públicas; Cidadania; São Paulo ( cidade) ; Secretaria de Cult ura.

ABSTRACT

This work concerns about t he analysis of t he cult ural m anagem ent im plem ent ed by the Secret aria Municipal de Cult ura (Municipal Depart m ent of Cult ure) of São Paulo cit y – SMCSP, from 1989 to 1992. I t int ends to analyze the Proj et o Cidadania Cult ural (Cult ural Cit izenship Proj ect ) proposed by Secretary Marilena

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Polít icas Públicas para a Cultura na Cidade de São Paulo:

A Secret aria Municipal de Cult ura – Teoria e Prát ica

I NTRODUÇÃO ... 1

Capít ulo 1 1. CONCEI TOS E DEFI NI ÇÕES 1.1 Traj et ória dos Conceit os de Cult ura ... 8

1.2 As Novas Teorias ... 12

1.3 As Dim ensões da Cultura ... 15

Capít ulo 2 REFERENCI AL TEÓRI CO ... 22

Capít ulo 3 HI STÓRI CO DAS POLÍ TI CAS PÚBLI CAS PARA A CULTURA NO BRASI L A PARTI R DO GOVERNO DE GETÚLI O VARGAS... 33

Capít ulo 4 A CULTURA E A CI DADE - POLÍ TI CAS PÚBLI CAS PARA A CULTURA NA CI DADE DE SÃO PAULO ... 50

Capít ulo 5 1. O PROJETO DA SECRETARI A MUNI CI PAL DE CULTURA 1.1 Concepção do Proj et o ... 57

1.2 Análise do Proj eto da SMCSP – 1989/ 1992 ...66

CONSI DERAÇÕES FI NAI S ... 88

REFERÊNCI AS ... 98

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I N TRODUÇÃO

Quando, em 2000, apresentam os o result ado da pesquisa de m est rado j unt o ao Program a de Pós Graduação em I nt egração da Am érica Lat ina, analisando as propostas de ações culturais nas inst ituições de ensino superior, Universidade de São Paulo e Universidade de Buenos Aires, vários pont os foram deixados em abert o. Num a perspect iva m ais reflexiva foi possível conceber o t erm o “ ação int encional”1 ent relaçado no agent e cult ural, prot agonist a nas

práticas e nas “ ações cult urais” . Ant eriorm ent e, est as ações eram m ost radas com o se fossem elaboradas por “ agentes incógnitos” , invisibilizados. Esse conceit o, em ergido ao longo da pesquisa, sinalizou que as políticas culturais das instituições analisadas se efet ivam a partir de ações localizadas, por m eio de indivíduos det erm inados e de suas “ ações de indivíduos int encionais”2.

A part ir dessa percepção, not am os a im port ância de cont inuar a investigação dessa problem ática, a fim de reflet irm os sobre o t rat am ent o que deve ser dado a um a “ ação int encional” e, assim , cont ribuir para a const rução de novos conceit os e sugerir cam inhos a serem trilhados pelas instituições prom otoras de cultura.

A essa inquiet ação foram som ados conhecim entos adquiridos da problem át ica discut ida, em cursos, sem inários e fóruns relat ivos à área cult ural dos quais part icipam os. O result ado im ediato dest as reflexões foi a form ulação do nosso proj et o de dout orado: Polít icas Públicas para a Cult ura na Cidade de

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São Paulo: A Secretaria Municipal de Cultura – 1989/ 1992, Teoria e Prática, t endo com o m ot e inicial a reflexão sobre polít icas e prát icas que geram m odelos e paradigm as present es no proj et o da Secret aria de Cult ura do Município de São Paulo - SMCSP.

O obj etivo dessa pesquisa tem com o proposição central abordar e refletir aspectos t eóricos e prát icos relat ivos às polít icas públicas para a cult ura desenvolvidas durant e as décadas finais do século XX, no Brasil.

A fim de reflet irm os sobre o m odo operant e de um a inst it uição cult ural, opt am os por focalizar a m issão de divulgar, dissem inar e fom ent ar a cult ura na cidade, da SMCSP.

Por razões de ordem m et odológica, aceit am os as sugest ões da banca de qualificação e definim os com o obj et o de pesquisa as práticas desenvolvidas pela SMCSP ent re os anos de 1989 e 1992, durant e a gest ão de Marilena Chauí.3

Esse recort e perm it iu que invest igássem os se, de fat o, houve um a form ulação de polít ica pública para a cultura no governo da Prefeit a Maria Luisa Erundina.

Nossa propost a inicial é analisarm os, a part ir da proposição do proj et o de governo, o papel da polít ica pública de cult ura, verificando se a sua im plem ent ação, via Secretaria Municipal de Cultura, resultou em ações culturais que perm it iriam averiguar a exist ência ou não de um a polít ica cult ural na cidade de São Paulo.

3 Marilena Chauí é professora t it ular em História da Filosofia Moderna no Departam ento de Filosofia da

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O arcabouço t eórico para as proposições dest a t ese baseia- se, fundam ent alm ent e, em aut ores lat ino- am ericanos4, por ent enderm os que as

suas análises const it uem - se em m odelos e nos apont am os paradigm as a serem rom pidos e, port ant o, devem ser incorporadas cont inuam ente em processos de reflexão com o o nosso.

Assim , a part ir dos m odelos e paradigm as exist ent es na Am érica Lat ina, levant am os indicadores sobre os m odelos de polít icas públicas de cult ura, prat icados at ualm ent e, e observam os novas alt ernat ivas cent radas no desenvolvim ento plural das culturas de todos os grupos, em relação às suas próprias necessidades. Passam os ent ão a t er o ent endim ent o de que o desenvolvim ent o plural prom overá a part icipação popular e organização aut o-gest iva das at ividades cult urais e polít icas desenvolvidas pelos part idos progressist as e m ovim ent os populares independent es, possibilit ando a const rução de um a alt ernativa m ais rápida e eficient e para alcançarm os a verdadeira dem ocracia part icipativa na área cult ural.

Desta form a, através dos autores latino- am ericanos citados, const ruím os o apoio conceit ual dest a t ese, ent endendo que suas análises apresentam propost as facilitadoras para esse fim , as quais se colocadas lado a

4 Partim os inicialm ente das proposições de Garcia Canclini ao analisar as políticas e ações cult urais com o

produto dest inado ao consum o ou fruição controlada pela dist ribuição: form ula um quadro analít ico de com o se processam as ações culturais na Am érica Latina; identifica os m odelos existent es, os paradigm as, os principais agent es, as form as de organização da relação política- cult ura, os conceitos e obj et ivos do desenvolvim ento cultural necessários a essa reflexão. A esse pensam ento som am os as reflexões de José Brunner, Tício Escobar, José Mart in Barbero, t eóricos lat ino- am ericanos que t am bém dialogam com os paradigm as na área cult ural. Duran e Miceli, em suas reflexões sobre a Política Cultural brasileira desde O Est ado Novo, nos colocam no palco para dialogarm os com as prát icas cult urais dos oit enta últ im os anos, perm it indo confirm ar algum as de nossas int uições.

Para a análise da cidade de São Paulo apoiam os nossas reflexões em Ham ilton Faria, por entenderm os que seus textos realizam debates constantes sobre a polít ica pública para a cult ura na cidade de São Paulo, procurando cont ext ualizar e estabelecendo canais de com unicação do I nst ituto Polis, onde é president e, com as diversas esferas polít icas e a com unidade envolvida e fornecendo subsídios para gestores públicos.

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lado, poderão realizar um “ m ovim ento com plexo para a im plem ent ação de um novo paradigm a de cidade e cult ura” ( FARI A, 2003) .

As políticas públicas para a cultura devem ser vist as com o propostas em ancipadoras do ser hum ano, e serem form uladas a part ir dos indivíduos em suas respectivas com unidades e não m ais nos gabinetes das secretarias ou depart am ent os de cult ura.

No caso brasileiro, ainda há m ais um a agravante: a m aioria dos partidos políticos não contem pla em seus program as propost as volt adas para polít icas públicas para a cultura.

A única exceção seria o Partido dos Trabalhadores, pois há ent endim ent o de que exist e um a orient ação sobre Polít ica Cult ural. Nos out ros part idos, norm alm ent e, são os secretários de cult ura ou de educação, esport e, t urism o e cult ura que decidem com o e o que será realizado em suas adm inistrações.5 Foram dúvidas surgidas a part ir dessas quest ões que

suscit aram o desej o de invest igar e verificar com o, de fat o, esse processo ocorreu no int erior da adm inist ração cult ural, quando o Part ido dos Trabalhadores governou a cidade de São Paulo.

Para apoio t eórico m ais am plo, buscam os t am bém as concepções sobre políticas culturais européias6, as quais som am os às lat ino- am ericanas e

brasileiras, na bibliografia da área. A part ir dos conceit os propost os foi possível delinear as m at rizes que inst rum ent alizaram nossas reflexões e nos perm it iram

5 Alberto I keda - Banca de Qualificação na Escola de Com unicações e Artes – USP, em 20 de set em bro de 2004. 6 No tocante às concepções européias regist ram os que realizam os o Curso de Polít icas Culturais I nternacionais

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realizar a análise do proj et o de polít ica pública de cult ura, e apresent arm os o m odelo utilizado pelo PT na adm inistração de um a instituição “ pública” de cultura da cidade de São Paulo, para assim aferirm os a exist ência propriam ent e dit a de um a polít ica pública para a cult ura no período analisado.

Tendo em vista nossos obj et ivos, colet am os o m aterial disponível sobre a Secret aria Municipal de Cult ura de São Paulo, no período de 1989 a 1992; posteriorm ent e, relacionam os sua política e ações culturais realizadas, procurando definir o m odelo de polít ica pública exist ent e.

Nossa hipót ese inicial part iu do pressupost o de que as ações e proj et os cult urais realizados na cidade de São Paulo, ent re 1989 e 1992, não advinham de polít icas públicas para a cult ura form uladas coerent em ent e. Em bora fossem alicerçadas em teorias que discut em a quest ão, não passaram por processos de avaliação j unt o ao conj unt o social que int egra a com unidade e que lhe daria legit im idade. Tínham os o ent endim ent o de que havia um a ‘idéia’ de polít ica cult ural que podem os encont rar nos t ext os dos gest ores; no ent ant o, as ações prat icadas ou realizadas não possuíam coerência com um a polít ica pública para a cultura. Assim , observam os que o proj et o da Secret aria Municipal de Cult ura de São Paulo ( 1989 - 1992) transit ou, com o nos dizem os secretários do Partido dos Trabalhadores, do client elism o pluralist a para o part icipacionism o popular.7

A t ese est á est rutura em cinco capít ulos. No prim eiro capít ulo, dividido em t rês part es, buscam os com preender CONCEI TOS E DEFI NI ÇÕES. Na prim eira part e, t ratam os da Traj et ória dos Conceit os de Cult ura, ut ilizando as contribuições ant ropológicas e sociológicas e apresentando, de form a sucinta, um

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resum o hist órico relativo à ut ilização do t erm o. Na segunda part e, As Novas Teorias, procuram os nos aproxim ar dos t eóricos do século XX que se dedicaram à t em át ica cult ural, por ent enderm os que, para falarm os de polít icas públicas para a cult ura, necessit am os dest e em basam ento. Na t erceira part e, As Dim ensões da Cult ura, trouxem os as reflexões e pesquisas sobre a econom ia da cult ura a part ir da década de 70 do século passado, quando observam os a inclusão da tem ática com o pauta nos organism os internacionais.

No capít ulo dois, REFERENCI AL TEÓRI CO, com ent am os o arcabouço t eórico que em basou as proposições dest a t ese.

No capit ulo t rês, HI STÓRI CO DAS POLÍ TI CAS PÚBLI CAS PARA A CULTURA NO BRASI L A PARTI R DO GOVERNO DE GETÚLI O VARGAS,

apresentam os o histórico das políticas públicas para a cultura no Brasil, realizando um recort e a part ir do Governo Get úlio Vargas, com a int enção de dem onstrar com o se deu o tratam ento da cultura no país e com o foi utilizada pelos polít icos.

No capít ulo quat ro, discorrem os sobre A CULTURA E A CI DADE -

POLÍ TI CAS PÚBLI CAS PARA A CULTURA NA CI DADE DE SÃO PAULO, analisando

nas várias gest ões os m ecanism os que propiciaram a inserção e a configuração da área cult ural acam pada na Secret aria Municipal.

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1989/ 1992, efet uam os a análise do proj et o, buscando ident ificar cam inhos que apont em a exist ência ou não de um a possível polít ica pública para a cult ura.

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Capít ulo 1

1 . CON CEI TOS E DEFI N I ÇÕES

"El hom bre es un ser biológico así com o un individuo social. Entre las respuestas que da a los est ím ulos ext ernos, algunas son pleno producto de su naturaleza, y otras de su condición... Pero no es siem pre fácil dist inguir ent re las dos... La cult ura ni est á sim plem ent e yuxt apuest a a la vida ni sim plem ente sobrepuesta. En un sent ido, la cult ura sust it uye a la vida, en ot ra cult ura ut iliza y t ransform a la vida para realizar una síntesis de una orden superior". Cla u de Lé vi-St r a u ss( 1949)

1 .1 Traj et ória dos Conceit os de Cult ura

Quando, em 2000, realizam os o m est rado, efet uam os ext enso levantam ento sobre os vários conceitos de cultura existentes, e nos dem os conta da exist ência de cent enas de definições, t ant o na sociologia com o na ant ropologia. Opt am os por adot ar um a definição orient ada pela corrent e gram sciniana, pois ao nosso ver, seria a que m ais proxim idade possui com o nosso ent endim ent o sobre o que sej a cult ura utilizando a barreira de classe social para explicá- la.

Nest a t ese apresent am os um a t raj et ória sucint a, a part ir da ant ropologia e sociologia, privilegiando t eóricos que consideram os essenciais para o nosso t rabalho.

“ O problem a da cultura, ou ainda, das culturas, passa por um a atualização, t ant o no plano int elect ual, devido à vit alidade do cult uralism o am ericano, quanto do plano político. Na França, ao m enos, nunca se falou t anto de cult ura quanto hoj e ( com relação à m ídia, à j uventude, aos im igrantes) e esta ut ilização da palavra, por m ais sem cont role que sej a, const it ui por si m esm a um dado etnográfico” .8

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A part ir dessa cit ação, o etnólogo francês Cuche9 elabora o hist órico da

palavra cult ura, dialogando com os vários pesquisadores das ciências sociais que, ao se debruçarem sobre a quest ão, contribuíram não som ent e para os debat es, m as para seu ent endim ent o. Afirm a o aut or que para a com preensão do conceito cultura, bem com o para entenderm os seu uso nas ciências sociais, t orna- se necessário e indispensável que se reconst it ua a gênese social, sua genealogia, m uit o em bora reconhecendo ser quase im possível reescrever sua hist ória com pleta, por ser utilizada em realidades diversas e com sent idos diferent es. Para isso, o aut or t raça um percurso da t raj et ória da palavra na língua francesa, da I dade Média ao século XX.

A palavra com o a ut ilizam os hoj e, 2006, surge no século XVI I I , por volt a de 1700. Ant eriorm ente, no final do século XI I I , na França, foi ut ilizada com o significado de cuidado ( do cam po ou gado) . No século XVI passa a significar a ação de cult ivar a t erra. É a part ir de m eados do século XVI que se em prega a palavra no sent ido figurado, um a faculdade, porém ainda sem reconhecim ent o acadêm ico, não const ando nos dicionários at é a m et ade do século XVI I .10 As pesquisas nos m ostram que, at é o século XVI I I , esse percurso

t eve relação m aior com o m ovim ent o nat ural da língua do que com as idéias. Cuche, em suas análises sobre o t erm o, nos dá sua cont ribuição para os est udos cult urais seguindo a corrente ant ropológica e conseguindo t razer para seu debat e os principais pensadores que reflet iram a t em át ica at é o século XX.

9 Denys Cuche reconhecendo a dificuldade de se tratar do term o cultura, em seu livro A Noção de Cultura nas

Ciências Sociais, apresenta os debates e os em pregos do term o na antropologia e na sociologia, buscando oferecer respostas para suprir lacunas exist ent es na atualidade.

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Out ra cont ribuição é a do ant ropólogo Bodley, que esboçou um quadro sintético no qual classificou e buscou definir cultura a part ir de oit o designações:

Definições de Cult ura

Clasificación de las Definiciones de Cult ura

Tópica

La cultura consist e en una list a de tópicos o categorías, tales com o organización social, religión, o econom ía.

H ist órica

La cultura es la herencia social, o la tradición, que se t ransm it e a las fut uras a las

generaciones.

Com port am ent al La cult ura es el com port am ient o hum ano com part ido y aprendido, un m odo de vida. N orm at iva La cultura son ideales, valores, o reglas para vivir.

Funcional

La cultura es la m anera que los seres

hum anos solucionan problem as de adapt ación al am bient e o a la vida en com ún.

Ment al

La cultura es un com plej o de ideas, o los hábit os aprendidos, que inhiben im pulsos y dist inguen a la gent e de los anim ales.

Est ruct ural

La cult ura consist e en ideas, sím bolos, o com port am ient os, m odelados o paut ados e int errelacionados.

Sim bólica

La cultura se basa en los significados arbit rariam ent e asignados que son com partidos por una sociedad.

Font e: John H. Bodley. An Anthropological Perspect iveen Cult ural Ant hropology: Tribes, States

and t he Global Syst em, 1994.

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para dirigir a sociedade. A perspect iva ant ropocênt rica dest e período concent rou o int eresse em invest igações da nat ureza e ao cult o à razão e à beleza, criando as bases para o Renascim ento artístico e científico dos séculos XV e XVI .

Chegando ao final do século XVI I I , os alem ães int roduziram o conceit o “Kult ur" no sentido colet ivo de progressos hum anos: artísticos, literários, filosóficos, espirituais e tam bém institucionais e tecnológicos. Nesse período, as sociedades que se inserem dent ro dos parâm et ros est abelecidos não são m ais consideradas com o part e da barbárie e passam a fazer part e da civilização, distanciando- se do prim it ivism o.

O século XI X est ava findando quando et nólogos e sociólogos deram ao term o cult ura um caráter descritivo. Os t extos do período são descrições sobre a cult ura de algum país ( am ericana, inglesa, espanhola, et c.) .

No século XX, vam os ver a cult ura tornar- se prescritiva e hum anist a: Cult ivant e / cultivado; descrit iva e et nológica: Cult ural; sendo est e últ im o est udado dent ro das ciências sociais. Vam os t er ent ão o desenvolvim ent o de um a visão cult uralist a do hom em e da sociedade. É t am bém quando se define o hom em com o ser cult ural. Assim , t oda a circunst ância hum ana pode ser apreendida sob o aspecto cultural.

Na definição concebida por Bosi11 cult ura é “ um a herança de valores e

obj et os com part ilhada por um grupo hum ano relat ivam ent e coeso” e, no caso do Brasil, salient a que é essencial m ant er a idéia de pluralidade cult ural, port ant o, devem os falar de cult uras no plural.

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A concepção de Bosi pode ser com plem ent ada com as do art igo de J. Zino Torrazza, que vem buscando aplicar o conceit o de cult ura em sociedades com plexas, em bora ent endendo que pode m it ificar form as cult urais ( cert os nacionalism os em butidos nas form ulações cult urais) ou a necessidade de fragm ent ar o conceit o global e recorrer à int rodução do conceit o de sub-cult ura para explicar fenôm enos sociais que não coincidem com a definição geral de cult ura que havia est abelecido para det erm inado grupo social. Dest a form a, a cult ura se apresent a com o um recept áculo das diversas inst it uições que a interação social vai gerando.12

A part ir desse m om ent o, m ais precisam ent e na m et ade o século XX, em vários dos t ext os analisados há um a proposição de que surge um período considerado com o cont ext o contem porâneo, caract erizado pelo debat e filosófico e ant ropológico ocident al e pelos esforços para consolidar um conceit o m ais am plo de cult ura que incluía as art es e as ciências e não se lim it ando apenas a estas áreas.13

1 .2 As N ovas Teorias

Os debates entre franceses e alem ães nos t rouxeram duas concepções básicas: a part icularist a e a universalist a, para definir o conceit o de cult ura nas ciências sociais contem porâneas. Com o t eóricos represent at ivos dest as concepções, t em os o geógrafo alem ão pesquisador na ant ropologia am ericana, Franz Boas, e o ant ropólogo brit ânico, Edward Burnet t Tylor.

Todas essas discussões proporcionaram avanços teóricos significativos,

12 Torrazza, 2000, p.17. Pesquisa realizada na Espanha, j unt o à bibliot eca virtual da Universidade Católica San

Antonio de Múrcia, em abril de 2005

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m as foram as reflexões de Gram sci, na década de 20 do século passado, ao nos dizer que a cultura é um dos instrum entos da práxis polít ica, ou sej a, é a via que pode despertar “ às m assas um a consciência criadora de hist ória, de instituições, e assim propiciar a fundação de novos est ados” , que perm it iram est abelecer novos diálogos com o o propost o nesta t ese. Os filósofos da Escola de Frankfurt,

nas décadas de 30 e 40, vão int roduzir nas discussões o conceit o de “ indúst ria cult ural” de m aneira bast ant e crít ica, ao ent enderem que serve apenas para ent ret enim ent o e dist ração.

Consideram os ainda que essas reflexões foram decisivas para que a part ir da década de oit ent a do século passado, a quest ão cult ural fosse analisada de m aneira sist em át ica, dando início à discussão em t orno do que é cult ura, culm inando, segundo Robert Wut hnow, em quat ro enfoques: o fenom enológico-herm enéut ico ( P. Verger, C. Geert z) ; a ant ropologia cult ural ( M. Douglas) ; o neoest ruct uralism o ( M. Foucault , J. Derrida) ; e o neom arxism o ( J. Haberm as, C. Offe, N. García) .

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Por sua vez, o enfoque fenom enológico- herm enéut ico orient a e se at ém ao m undo do significado e int erpret ação; a ant ropologia cult ural, aos sím bolos e seus significados; o neoestructuralism o, aos discursos; e o neom arxism o, aos processos de com unicação. Desta form a, t em os cada corrente buscando a especificidade do cult ural no m undo do significado, do sim bolism o, do discurso e da com unicação.

Port ant o, podem os defender a proposição de que a am plit ude do conceit o de cultura, nas últim as duas décadas do século passado, est ava ligada à direção que a sem iót ica experim entava. Est e cam inho int roduzia problem as com plexos em sua noção com o as sem elhanças e diferenças entre signo e sím bolo; nexos e relações ent re signo e significado; diferença ent re a palavra e o signo; o significado e o significant e; o sim bólico e o im aginário; ent re m uit os out ros assunt os.

Foi tam bém nesse período que Canclini ( 1983) em suas reflexões, ut ilizando- se das abordagens de Marx e Weber, definiu cult ura com o inst ância do real onde se dá a produção, circulação e consum o de sent ido, ou sej a:

“ ... preferim os restringir o uso do term o cultura para a produção de fenôm enos que contribuem , m ediante a representação ou reelaboração sim bólica das estruturas m ateriais, para a com preensão, reprodução ou transform ação do sistem a social, ou sej a, a cultura diz respeito a t odas as práticas e instituições dedicadas à adm inistração, renovação e reestruturação do sentido” .14

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1 .3 As Dim ensões da Cult ura

Canclini15 ( 1998) alert a que o fim das dit aduras em diversos paises

latino- am ericanos, no início da década de 80 do século XX, fez surgir outra dim ensão cult ural: a ibero- am ericana. A am pliação do horizont e cult ural t rouxe novas preocupações para os est udiosos da t em át ica, a necessidade de reflexões e pesquisas sobre a econom ia da cult ura. Esse posicionam ent o exprim e o reconhecim ento social da função econôm ica da cultura, as transform ações ocorridas dent ro dos sist em as dos Est ados, a relevância da quest ão regional, os graves problem as para seu financiam ent o e a escassez de inform ações est at íst icas sobre o t em a.

Tais dificuldades levaram os organism os nacionais e internacionais e algum as universidades da região ( ibero- am ericana) a dedicarem m aior at enção a est a t em át ica, na t ent at iva de com preender as caract eríst icas da econom ia cult ural ibero- am ericana. São form ados consórcios binacionais, supranacionais, envolvendo vários paises e em presas para financiam ent o de pesquisas na área cult ural. O m om ento m ais em blem ático dest as preocupações, no t ocant e à Europa, foi a criação, em novem bro de 1984, da Asociación para el Desarrollo y la Difusión de la Econom ía de la Cultura, com a presença m aj orit ária de pesquisadores espanhóis.

Nas décadas anteriores, o t em a sobre o financiam ento cultural estava sem pre present e e fazia part e das recom endações nas m ais diversas conferências int ergovernam ent ais, porém , foi a sua ligação a esse ent orno m ais am plo, o da econom ia da cult ura, que enriqueceu as invest igações cult urais

15 Canclini, 1998, pp.11- 13. Com o m em bro da Organização dos Estados I bero- am ericanos para Educação e

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fazendo surgir várias propostas com o tentat iva de assum ir os desafios do financiam ent o cult ural.

Assim , a Conferência de Veneza ( 1970) teve com o obj etivos increm ent ar os orçam ent os dos Estados Nacionais correspondentes às necessidades cult urais e prom over o est ím ulo fiscal para que as renúncias fiscais se transform assem em inversões cult urais. É nest e m om ent o que vam os t er o Est ado assum indo o ônus daquelas atividades que dariam prej uízo para a iniciativa privada que descobria na cultura um a out ra font e de renda. É t am bém quando a cult ura passa a ser com preendida com o m ercadoria, fazendo part e das relações de t roca est abelecidas no m undo globalizado. A conferência sobre Polít icas Cult urais na Am érica e no Caribe, realizada em Bogot á ( 1978) , recom endou e dest acou em um de seus itens a tem ática relativa ao financiam ent o do desenvolvim ent o cult ural nacional, enfat izando a urgência de criar fundos nacionais de apoio ao fom ent o cultural e artístico, dividindo assim a responsabilidades ent re o set or público e privado na área cult ural.

Quat ro anos depois, a conferência Mundial sobre Polít icas Cult urais no México ( 1982) , recom endou o est abelecim ent o de um a porcent agem fixa anual para o financiam ento da cult ura nos orçam ent os est at ais e o cont role da aplicação dest es recursos; t am bém cham ou a at enção para que fossem aproveit adas as m ais diversas font es de financiam ent o, t ais com o: recursos ext ras orçam ent ários, cooperação bilat eral e m ult ilat eral, inst it ucionais privados, fundações, organism os inter- regionais, instituições internacionais, entre outras.

(23)

econom ia da cult ura t rouxe graves conseqüências e t em levado ao surgim ent o do fenôm eno das “ indústrias criativas” , o qual vem sendo defendido pelos vários organism os int ernacionais com o a salvação dos problem as do desem prego m undial.

O próprio Parlam ent o Europeu, im pulsionado pelos eurodeput ados da Com issão de Educação e Cult ura, vem discut indo a necessidade de se criar novos “ m ercados” consum idores de cult ura.

Na Espanha, por exem plo, o Minist ério das Relações Ext eriores t em expressado at ravés de seu secret ário Alfonso Mart inez, nas várias conferências sobre cult ura ocorridas ent re out ubro de 2004 e j unho de 2005, a im port ância de incluir o Brasil nos planos espanhóis, no t ocant e à im plem ent ação de proj et os de desenvolvim ent o sust ent ável, cuj o viés é a cult ura com o suport e para os processos locais.16

Para o m om ent o que est am os vivenciando, Canclini, apoiado em diversas disciplinas, elaborou um a definição de consum o cult ural: “ … es un act o donde las clases y grupos com pit en por la apropiación del product o social, que

dist ingue sim bólicam ent e, int egra y com unica, obj et iva los deseos y rit ualiza su

satisfacción” .17

16 A questão é tão latent e que, em fevereiro de 2006, ocorreu em Brasília um a reunião envolvendo j ovens

cineastas de diversos paises latino- am ericanos na qual foi lançado um prim eiro proj eto cultural ibero- am ericano DOC TV. Vários países assinaram um convênio e som ent e o Brasil, a Espanha e a Venezuela ent raram com aporte financeiro significat ivo. Foi lançado um edital, em m arço de 2006, para escolha de roteiros de cineastas lat ino- am ericanos que terão seus docum entários cust eados. Esses roteiros devem tratar de t em as ibero-am ericanos. Na Europa vem sendo ut ilizado o neologism o inglês Glocalização para explicar os processos de incorporação vividos dent ro da sociedade que passou pela globalização e ret irou daí algo para seu avanço social. No Glocalism o os m eios de com unicação e os órgãos das adm inistrações culturais possuem um papel central por propiciarem os diálogos com os diversos grupos sociais. Segundo as observações de I anni ( 2001) , devem os agregar o sufixo “ ism o” a t odos os processos, assim , nos perm it im os propor que esse processo de Glocalização sej a entendido com o Glocalism o.

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Esse aut or afirm a, ainda, que a cultura ibero- am ericana t em t ransit ado da produção para o predom ínio relat ivo do consum o cult ural, devido às novas condições t ecnológicas, econôm icas e políticas ocorridas no final do século passado. Port anto, t orna- se necessário exam inar de form a conj unt a a expansão das indúst rias elet rônicas de com unicação, a m udança do consum o dos m eios elet rônicos e a dim inuição do papel das cult uras nacionais, a m odificação dos m eios m assivos clássicos ( rádio, cinem a, televisão) em seus usos pela fusão da inform ática e t elecom unicações.

Suas observações perm it em constatar que, nos últim os quinze anos, som ente os países lat ino- am ericanos m ost raram um crescim ent o bast ant e dist orcido ent re produção e consum o cult ural; t ant o em com paração com os m ovim ent os em escala m undial, com o pelos desníveis int ernos nessa região e dent ro de cada país. Progressivam ent e, acent ua seu lugar periférico na produção e com ercialização de produtos culturais. De acordo com dados levant ados por Canclini, em 1980, a Am érica Lat ina e o Caribe export aram 342 m ilhões de dólares em bens cult urais ( 0.8% das export ações m undiais) e im port aram 1.747 m ilhões de dólares, com um déficit em sua balança com ercial de 1.405 m ilhões; sendo, além do m ais, m uit o baixo o volum e de im port ações cult urais, pouco m ais de 4.5% das im portações m undiais. Nesse m esm o período, por exem plo, o Mercado Com um Europeu, com 7% da população m undial, export ou 37.5% e im portou 43.6% dos bens culturais com ercializados.

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ibero- am ericanas, que est ão acent uando, ano a ano, o seu lugar periférico na produção e com ercialização de produt os cult urais. Em nosso ent endim ent o, isso fará com que esses produt os, fat alm ent e, sej am descart ados, pois apenas sat isfazem nossa necessidade m om ent aneam ent e. Aqui, vam os nos apropriar do exem plo da m úsica: vem os surgir vários grupos, “ produtos criados” para consum o rápido, sofrem exposição exaustiva na m ídia, t razem m odism os com suas roupas e danças especialm ente criadas pelo m arket ing para est e fim . Com o dizem , “ viram um a febre” e, com o t al, desaparecem com o se nunca t ivessem exist ido.

Essa problem át ica gerada por um aum ent o no consum o de bens culturais, está colocando a cultura na pauta das discussões dos vários organism os int ernacionais de carát er supranacional, os quais vêm discutindo a cult ura e as polít icas públicas para a cult ura, t endo com o pano de fundo as indúst rias criat ivas.

Após anos de debat es, a UNESCO apresent ou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cult ural. Vot ada na Conferência Geral, em 2 de novem bro de 2001, onde reafirm a:

La cultura debe ser considerada el conj unto de los rasgos distintivos

espirituales y m ateriales, int electuales y afect ivos que caracterizan a una sociedad o a un grupo social y que abarca, adem ás de las artes y las letras, los m odos de vida, las m aneras de vivir j untos, los sistem as de valores, las tradiciones y las creencias”18.

Ort iz, em 1996, ant eciparia a declaração dizendo que a cult ura é

(26)

caract erizada por um a cult ura int ernacional- popular, m as t am bém por com plexas m anifestações de estandardização cultural, ou sej a, apropriação da cultura popular, principalm ent e pela indúst ria do t urism o. No caso brasileiro, criou- se o país da sexualidade através da exportação do corpo fem inino, alim entando o im aginário irreal do out ro sobre quem são os brasileiros e qual seria sua cult ura.

É int eressant e observarm os que a m esm a Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cult ural, não só proclam ou os princípios, com o aprovou a Declaração da I dent idade, Diversidade e Pluralism o, na qual dedica um art igo específico para polít icas cult urais:

Art igo 9 – As polít icas cult urais, cat alisadoras da criat ividade.

“ As polít icas cult urais devem garant ir a livre circulação das idéias e das obras, devem criar condições propícias para a produção e difusão de bens e serviços culturais diversificados, graças a indúst rias culturais que disponham de m eios para desenvolverem - se nos planos local e m undial. Ao m esm o t em po em que respeita suas obrigações internacionais, cada Estado deve definir sua política cult ural e aplicá- la ut ilizando para isso os m eios e ações que j ulgue m ais adequados, quer se trate de m odalidades práticas de apoio ou de regulam entações apropriadas” .19

Ao analisarm os est e art igo, vem os que exist e um encam inham ent o pré- det erm inado t endendo para que a cult ura, de m aneira geral, sej a vist a com o um a indúst ria, um a vez que est á sendo t rat ada com o um a espécie de lugar de “ salvação” para os problem as sociais oriundos da globalização. Vários são os discursos nos quais a cultura é vista com o solução, por exem plo, para a falta de em pregos. Ent endem os que as indúst rias m assivas, ao t ransform arem “ o cult ural” em produtos, num prim eiro m om ent o serão as grandes geradoras de

(27)

em pregos, porém , não t em os dúvida que post eriorm ent e haverá a sat uração, com o ocorre com qualquer out ro produt o dent ro do sist em a econôm ico.

Tão logo ocorra o equilíbrio ent re a produção e consum o desses produt os cult urais, haverá um excedent e de m ão de obra para a cult ura, o que sem dúvida dim inui os ganhos, provocando novam ent e desem prego.20

(28)

Capít ulo 2

REFEREN CI AL TEÓRI CO

“ A cultura em ancipatória e desalienante propõe a construção do sentido e do significado” . Ca n clin i ( 1987)

Os estudos relacionados às polít icas culturais m ostram que os fenôm enos culturais contem porâneos na Am érica Lat ina devem ser part icularizados segundo suas hist oricidades ( CANCLI NI , 1997) , o que nos faz inferir a im port ância de invest igações pont uais que esclareçam aspect os desse universo cult ural am plo e diversificado.

Com o apont a Garcia Canclini, e deixando de lado qualquer pret ensão de encont rarm os padrões cult urais hom ogêneos, ao pensarm os a Am érica Lat ina observam os que sua m arca é o hibridism o, pois as peculiaridades e riquezas regionais de cada espaço m ant êm suas t radições, com pondo a seu m odo t raços de cult uras aut óct ones com os europeus e africanos, em m edidas e graus diversos.

(29)

“ t radicional versus m oderno” , requerendo out ros instrum entos conceituais de análise.

E é sob m odulações que a Am érica Lat ina absorve t ecnologias m odernizadoras, int roduzidas aqui e ali no cot idiano. Para isso, bast a analisarm os, por exem plo, com o são utilizados os recursos dos com put adores ligados à rede int ernacional. O acesso aos bens cult urais é apregoado com o necessidade a ser realizada, principalm ent e em nom e do preparo e at ualização das novas gerações. Os m eios ( t ecnologias) passam , ent ão, a ser vist os com o indispensáveis e fundam ent ais na educação ( form al ou não form al) , reforçando aspectos difusionist as extrem am ente particularizantes, acreditando- se serem instrum ent os eficazes para a obtenção de conhecim ent o, m esm o sem se saber ao certo se operam com sucesso.

Assim , em escala crescent e, órgãos com o Cent ros Cult urais, ent endidos com o focos de divulgação ou popularização da cult ura, acabam carregando a m issão de interm ediar processos cult urais entre patam ares sociais, econôm icos, cult urais e educat ivos, bast ant e díspares nos diferent es segm ent os sociais.

(30)

sabem os na Am érica Lat ina o poder polít ico vem pact uando com os grandes grupos de ent ret enim ent o, deixando de incluir em suas polít icas públicas, planos ou ações para a área da cult ura.

Nesse sent ido, ao propor a aproxim ação da cultura ao cam po do fazer polít ico, Canclini ( 1997: 25) nos diz que est e at o obrigará, necessariam ent e, a recorrer à concepção ant ropológica, onde a inst ância do real ult rapassa o lugar dos livros e das belas artes, e a cultura passa a ser ent endida com o “ ... el conj unt o de procesos donde se elabora la significación de las est ruct uras

sociales, se la reproduce y t ransform a m ediant e operaciones sim bólicas...” e nos faz repensar a necessidade de criarm os novos diálogos, com abrangência transdisciplinar para as quest ões relativas às polít icas públicas para a cultura.

É Canclini ( 1997) t am bém que ao definir a polít ica cult ural com o: “ ... o conj unto de intervenções realizadas pelo Estado, as inst ituições civis e os grupos com unit ários organizados a fim de orient ar o desenvolvim ent o sim bólico, sat isfazer as necessidades cult urais da população e obt er consenso para um t ipo de ordem ou de t ransform ação social...” , nos alert a que devem os t rat ar a crise da cultura sem desconsiderar as da econom ia e da política.

Para isso, Canclini21 propõe um a análise das polít icas e ações cult urais

a part ir de um a post ura t eórica, frisando que a cult ura é um produt o cont rolado pela dist ribuição; nest e cont ext o, form ulou um quadro analít ico sobre o processo hist órico das polít icas culturais na Am érica Lat ina, ident ificando m odelos e paradigm as, bem com o os principais agent es execut ores dessa produção. O aut or define cam inhos e possibilidades, apresentando, de form a esquem át ica, a

(31)

definição de um a t raj et ória para a cult ura. Apont a as form as de organização exist ent es na relação polít ica- cult ura, que perm it em vislum brar a proposição de um possível m odelo cent rado no desenvolvim ent o plural das cult uras de t odos os grupos sociais.

POLÍ TI CAS CULTURAI S N A AMÉRI CA LATI N A

PARADI GMAS PRI N CI PAI S AGEN TES

FORM AS DE ORGAN I ZAÇÃO DA RELAÇÃO POLÍ TI CA

– CULTURA

CON CEI TOS E OBJETI VOS DO DESEN VOLVI MEN

TO CULTURAL

MECEN ATO LI BERAL Fundações I ndustriais e em presas privadas

Apoio à criação e distribuição livre de

condições da alt a cultura

Difusão do pat rim ônio e seu desenvolvim ento através da livre

criatividade individual

TRADI CI ON ALI SMO PATRI MON I ALI STA

Estados, partidos e inst ituições culturais

tradicionais

Uso do pat rim ônio tradicional com o espaço não conflitante para a ident ificação de

todas as classes

Preservação do patrim ônio folclórico

com o núcleo da ident idade nacional

ESTATI SMO

POPULI STA Estados e partidos

Distribuição dos bens culturais de elite e

reivindicação da cultura popular sobre o

cont role do Est ado

Preservar as tendências da cultural

nacional-popular que contribuem à

reprodução equilibrada dos

sistem as

PRI VATI ZAÇÃO N EOCON SERVADORA

Em presas privadas nacionais e transnacionais e setores tecnocráticos

dos Est ados

Transferência ao m ercado sim bólico

privado das ações públicas na cult ura

Reorganização da cult ura de acordo com as leis de m ercado e procurar

o consenso através da part icipação

individual no consum o

DEMOCRATI ZAÇÃO CULTURAL

Estados e inst ituições culturais

Difusão e popularização da alt a

cultura

Acesso igualitário de t odos os indivíduos

e grupos para o aproveitam ent o dos

bens cult urais

DEMOCRACI A PARTI CI PATI VA

Partidos progressistas e m ovim entos

populares independent es

Prom oção da part icipação popular e

organização aut ogest iva das atividades culturais e

políticas

Desenvolvim ento plural das cult uras de t odos os grupos em relação com

suas próprias necessidades

(32)

A part ir desse quadro podem os observar que a m aioria dos paises latino- am ericanos ainda está na fase da Dem ocrat ização Cult ural. I sso significa que, se por um lado as lim it ações im post as pelo m ercado econôm ico acabam influenciando as adm inist rações governam ent ais nacionais que assim não invest em na área cult ural, por out ro a não inclusão de proj et os de polít icas públicas nos program as partidários, não possibilitam avanços sociais para alçarm os o est ágio denom inado Dem ocracia Part icipativa.

Além dist o, esse m odelo t am bém nos perm it e vislum brar que é possível execut am os um planej am ent o com o obj et ivo de propiciar a prom oção da part icipação popular. Cit am os com o exem plo para essa ação, a organização aut ogest iva das at ividades cult urais, pensada para alcançar um a verdadeira dem ocracia part icipativa que, para Canclini ( 1987: 51) , requisit a, inclusive, um out ro nível de organização social e polít ica; para esse planej am ent o de ações que visem sensibilizar a sociedade, é preciso part ir da prem issa de que est a possui um a dinâm ica própria de organização no seu cotidiano.

O m odelo de Canclini confirm a as proposições de Janine22, segundo as

quais a cult ura deve ser vist a, consum ida e vivenciada, para que haj a “ força social” no cam inho da em ancipação. Brunner com plem ent aria esse pensam ent o afirm ando ser necessário que “ ... as políticas cult urais dem ocrát icas evitem o desaparecim ent o das condições básicas necessárias para o j ogo dem ocrát ico na cult ura, que perm it am o rearranj o inst it ucional...”23, onde a sociedade t em papel

decisivo.

(33)

Ent ret ant o, observam os que para isso é preciso ocorrer um a int eração social com canais de t roca ent re facilit adores24 e com unidades, que t raria

alt ernat ivas para que est as não só conquist assem , m as t am bém reafirm assem seus espaços cult urais em sua plenit ude. No ent ant o, a nosso j uízo, o que exist e são ações incisivas com o as da m ídia, im pondo padrões repet it ivos, longe da nossa realidade, que acabam por est abelecer com o verdade absolut a qual cult ura deve chegar aos cidadãos, o que cria barreiras quase que intransponíveis para consolidação do m odelo propost o por Canclini.

Na proposta do teórico paraguaio Escobar25 t am bém há um m odelo

para a prática cult ural na Am érica Lat ina, que part e de experiências à frent e das instituições culturais nas quais são desenvolvidas as ações; ele reforça a necessidade de evit ar im port ação de experiências cult urais, por serem negat ivas. Sua preocupação se cent ra em proj et os de polít icas públicas para cult uras regionais, executados por “ hom ens da t erra” , conhecedores das caract eríst icas populares, suas necessidades e carências, proporcionando subsídios para o desenvolvim ent o plural da cult ura.

Observam os avanços na form ulação de t eorias sobre polít icas públicas de cult ura nas instituições universitárias latino- am ericanas26, m as se de um lado

tem os afirm ações teóricas quando analisam os sua prát ica, ou sej a, quando a ação se realiza, há um a dist ância ent re essa realização e aquilo que a

24 Facilitadores aqui ent endidos com o os agent es culturais que estão m ais próxim os das com unidades e que,

portanto, podem estabelecer canais de com unicação e assim criar a pont e por onde ocorram as t rocas cult urais.

25 Escobar, 2000. Anais do Sem inário I nt ernacional Mercosul, Presente e Fut uro.

26 A UNESCO foi a prim eira organização a propor a discussão de políticas públicas, em 1970, organizando em

(34)

fundam ent a.27 Assim , ent endem os ser responsabilidade das inst it uições

universit árias se debruçarem sobre est a t em át ica, incit ando pesquisas que visem suprir lacunas exist ent es ent re a t eoria e a prát ica, além de criar m ecanism os/ ações que facilitem o fortalecim ento destas m esm as ações j unto às com unidades oferecendo subsídios para sua realização.

Com o sabem os, t ant o o Est ado com o a Em presa, no Brasil, adot aram m odelos utilizados em outros países através da im portação de experiências cult urais que foram im plant adas pelos dirigent es da área cult ural, m uit as vezes não levando em cont a as caract erísticas e particularidades locais.

Lopes ( 1997) dem onst ra quão próxim o se deu a relação ent re instit uição e institucionalização, desde o início do século XI X, advogando que no Brasil, por exem plo, os m useus foram os responsáveis pela concretização das propost as m odernas de popularização da ciência, t ecnologia e cult ura, ainda que fundam ent alm ent e escorados nas figuras de seus dirigent es, afinados ao m odelo eurocêntrico de fazer ciência, característico do posit ivism o do século XI X.

Se visualizarm os a cultura brasileira no século XX, essa t endência sofre pequenas m udanças, rom pida por m ovim ent os com o os da Sem ana de 22, na qual o grupo de int elect uais e art ist as que part icipou desse event o se posicionou enfrent ando o m odelo de “ alt a cult ura” est abelecido pela classe dom inant e do país.

Esse at o t eve ressonância anos depois e cont inua sendo referência at é nossos dias.

(35)

Movim ent os com o esses nos aj udam a reflet ir sobre a necessidade de serem pensadas novas form as de part icipação que perm it am , de fat o, a inclusão das organizações sociais nos processos de elaboração de polít icas públicas para a área cult ural. Essa inclusão deverá se efet uar por m eio de m ecanism os polít icos próprios, desenvolvidos, por exem plo, nas associações de m oradores, associações profissionais e dem ais organizações sociais em torno de causas com uns.

Ent endem os ainda que o processo se dará após a conquist a de suas necessidades im ediat as ( saúde, m oradia e educação) . Consideram os que a part ir dest a sit uação poderão surgir novas apropriações e discernim entos que beneficiarão out ros suj eit os sociais, na m edida em que se possibilit e acessar a bagagem cult ural de m aneira dist int a e cent rada no cidadão, pois com o sugere Alves “ ... cult ura levada a sério com o m ediadora é o lugar de invenção e criação da vida”28.

A princípio, ist o não é um a t arefa de fácil execução, um a vez que há resist ência de grupos, os quais, segundo Bosi29 utilizam - se da cultura para

aut oproj eção e a m anut enção da “ alt a cult ura” . No ent ant o, isso se dará som ente por m eio das organizações sociais onde sej am realizadas ações que possibilitem o “ acesso igualit ário a t odos os indivíduos e grupos para um m elhor aproveitam ento dos bens cult urais” , por serem elas os lugares de excelência para que est es processos ocorram .

Port ant o, para analisar t ais quest ões, é preciso considerar que essas são as reais necessidades culturais dos indivíduos. Sendo assim , t em os a

28 Alves, 1997, p.301.

29 Em Dialét ica da Colonização, Bosi nos fala dos m ecanism os utilizados pelas cam adas sociais int elect ualizadas

(36)

convicção de que est as podem ser supridas com as at ividades advindas de um proj et o de polít ica pública para cult ura, est rut urado e ancorado nos princípios da dem ocracia part icipativa.

Tal proj et o deve levar em cont a que, além de int roduzir m udanças, precisa reflet ir os anseios da com unidade, criar a sociabilidade e possibilit ar um acom panham ent o const ant e para realizar a verificação de quais desdobram ent os geram processos identificáveis no cot idiano social, a fim de perm it ir o desvelar da form a com o são realizadas as inclusões de suj eitos nos proj etos culturais.

Um exem plo desta postura pode ser observado no caso da m úsica. Quando sint onizam os um a em issora de rádio brasileira, o que ouvim os, de m aneira geral, é um a im posição das grandes gravadoras que invest em difundindo seus produt os de acordo com os int eresses com erciais. Essa realidade dem onstra o grau de descom prom et im ent o dessas em presas com a cult ura.

I ndependent e do gênero ou idiom a ut ilizado é considerada brasileira a m úsica produzida em solo nacional. Norm alm ent e, o com posit or ao escrever um a let ra, na verdade realiza um a crônica social ant ecipada do cot idiano social.30

Se form os obrigados a só ouvir a seleção produzida pelas gravadoras, dificilm ent e t erem os condições de nos ver e nos com preender com o suj eit os participant es – serem os estranhos em nosso próprio territ ório.

No nosso caso, a verdade é que os m ecanism os e leis exist ent es no país, em bora ainda possuam lacunas, se fossem cum pridos perm itiriam a

30 Ver a dissertação A Música na Form ação da I dent idade na Am érica Lat ina: O Universo brasileiro e

(37)

ocorrência e a inserção nas m ídias específicas de um a program ação voltada “ às coisas” com as quais os brasileiros se “ identificam ” .31

É esse padrão que causa um est ranham ent o, porque não cria um respaldo que propicie encont ros e ident ificações. Assim , não exist e um espelho, “ olho ao m eu redor e não m e vej o” .32

O que vem sendo m ost rado nos palcos de São Paulo33, na m aioria das

vezes, não faz part e da vida, não est á inserido no cot idiano ou nem m esm o pode ser vivenciado pelo cidadão, é algo dist ant e. Vej o, gost o ou não gost o e j am ais incorporo, pois diz respeit o a out ro espaço ao qual não pert enço. I st o não quer dizer que não possam os t er produções est rangeiras; devem os t ê- las, m as o que falt a é a const rução de um referencial de nossa cult ura para poderm os realizar diálogos com as ( cult uras) de fora, na condição de part ícipes, ou m elhor, ouvindo a ressonância das nossas próprias vozes no cotidiano.

Durand sugere que devem os pensar a área cultural em longo prazo “... além , é claro, de um reforço na educação est ética, será m ont ar pesquisas que ret rat em a ‘paisagem cult ural’ do lado da população, ist o é, est udos m etodologicam ent e consistent es, sensíveis o suficiente para captar traços de com port am ent o cult ural” .34 Essas pesquisas, com enta o autor, devem ser

realizadas com periodicidade e abranger os m enores grupos sociais. Os result ados daí advindos poderiam fornecer subsídios para proj et os cult urais que visem criar processos. Entendem os o processo, nesse caso, com o o m ovim ent o

31 As inserções dessas program ações requerem vigilância constant e da lei existent e, ou m elhor, dos m ecanism os

sociais que regulam nacionalm ente os veículos de com unicação, por parte da sociedade civil. Norm alm ent e, essas program ações são apresentadas em veículos m enos at rat ivos ou em horários que concorrem com os das m ídias m ais com erciais. ( Basta verm os, por exem plo, a program ação da TV Cult ura em São Paulo no horário ‘nobre’; j ornal e novela da TV Globo) .

32 Silva, 2003, p.145.

33 No período analisado, 1989- 1992, ocorreram , por exem plo, grandes shows com Daniela Mercury no vão do

Masp, e Grupo Olodum na Universidade de São Paulo.

(38)

de reflexão dos cidadãos sobre suas necessidades culturais em suas com unidades, a fim de definir os elem ent os que a m aioria considere fundam ent al em t erm os culturais, para, post eriorm ente, int eragir com a adm inist ração cult ural da cidade na condição de part ícipes, e ist o ocorrerá no m om ent o da proposição de ações cult urais que espelhem seus anseios.

Desta form a, ao nosso ver, as conquistas das organizações sociais são o m eio para que se possam elaborar paut as para debat es que culm inem na discussão sobre a organicidade da cidade. Consideram os que a part icipação am pla dos cidadãos nesse debat e é essencial para se pensar um proj et o de política pública para a cultura, com pontos básicos e de acordo com a nossa realidade social.

(39)

Capít ulo 3

HI STÓRI CO DAS POLÍ TI CAS PÚBLI CAS PARA A CULTURA N O

BRASI L A PARTI R DO GOVERN O DE GETÚLI O VARGAS

“ Nos interesa en este trabaj o levantar un m apa analítico que ubique en un plano m ás o m enos com prensivo las oportunidades que existen para actuar m ediante políticas culturales” . Br u n n e r ( 1982)

Durant e o prim eiro governo de Get úlio Vargas, iniciado em 1934, o Brasil passou por várias t ransform ações, principalm ent e no que concerne às áreas da educação e da cult ura. Esse governo, na gest ão de Gust avo Capanem a com o Ministro da Educação e Saúde Pública, im prim iu um a nova m aneira de governar, criando instituições de educação e cultura nos lugares onde o governo não podia est ar present e.35

Nessa gest ão ocorreu ainda a Reform a do Ensino, culm inando com a criação da Universidade no Brasil.36 As t ransform ações na área da educação

foram t ão profundas que acabaram por gerar um a sit uação de confront o ideológico ent re cat ólicos, fascist as e socialist as, e a vigência de um a censura severa ( GOULART, 1990) .

A ação em torno da área cult ural seguiu o m esm o m odelo da

35 Por falta de registros consistentes sobre a adm inistração cult ural brasileira relat iva ao período da República

Velha, opt am os por iniciar nossa reflexão a part ir do prim eiro governo Get úlio, cent rada na gest ão de Gust avo Capanem a, Ministro da Educação e Saúde Pública, entre os anos de 1934 a 1945. Est a gestão é um m arco na história da educação e cultura brasileiras, e colocou na agenda política do governo essas preocupações de form a inquest ionável. Para nossa análise recorrem os principalm ente às reflexões de Miceli e Durand. Consultar Scwartzm an, Bom ey e Costa, 1984.

36 Até 1934 havia no Brasil faculdades com o a de Direito de Recife, escolas de engenharia ou politécnicas, de

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educação, t endo sido dim ensionada e regulada. Criaram - se leis para cinem a e rádio educat ivo, educação m usical, recuperação do folclore e apoio à m úsica erudita. Nesse período, com o auxílio de Mário de Andrade, consolidou- se o Serviço do Pat rim ônio Histórico e Art íst ico Nacional e foram fundados os I nst it utos: Nacional do Livro, Nacional de Cinem a e o Serviço Nacional de Teat ro. Durand aponta que a construção das instit uições públicas e

“ ... m ais o apoio àquela particular fantasia dos artistas ( tendo em vista a função que esta acabou cum prindo no cam po erudito brasileiro, por força da consagração posterior de vários dos então j ovens artistas) é o m elhor m eio de m edir o m érito da gestão Capanem a, na área cult ural propriam ente dita...” .37 A ação de Capanem a contou não som ent e com o respaldo polít ico do regim e de Vargas, que lhe perm it iu afront ar a burocracia, inovar e reform ar quase t odos os níveis da vida colet iva, m as t am bém com sua vont ade de t ransform ar a est rut ura defasada e arcaica que herdou. Tant o é que sua adm inist ração foi considerada m odernizadora por recuperar o at raso sofrido com o conservadorism o e inércia dos governos da República Velha.

Ent re o final da gest ão Capanem a ( 1945) , e o período m ilit ar ( 1964) , não há grandes inovações na form a de adm inist ração cult ural. Apenas dest acam os a continuidade da preservação do pat rim ônio hist órico iniciada em 1937, inclusive com o aum ento dos bens tom bados até 1972.38 Em 1953, ocorre

o desm em bram ent o do Minist ério da Educação e Saúde Pública, quando são criados os m inist érios da Saúde e da Educação e Cult ura ( MEC) .

É int eressant e observar que, no ano de 1945, quando o m undo vivia o fim da segunda guerra m undial, no Rio de Janeiro - Teresópolis, acont eceu, em

37 Durand, Relat ório de Pesquisa nº 13/ 2000, pp. 8- 9.

38 No ano de 1979, Aloísio de Magalhães parte para o ataque no sentido de reduzir a prot eção aos m onum ent os

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m aio, a Conferência das Classes Produtoras tendo com o docum ento final a Carta da Paz Social. Esse docum ent o serviu de base para a criação do “ Sist em a S” e t rat ava basicam ent e da quest ão do bem est ar social. A conferência reuniu o em presariado com ercial brasileiro, t endo seu docum ent o final sido referendado pelo governo federal, o qual delegava à Confederação Nacional do Com ércio a responsabilidade de criar o Serviço Social do Com ércio – SESC; Serviço Nacional de Aprendizagem Com ercial – SENAC; Serviço Social da I ndúst ria – SESI ; e Serviço Nacional de Aprendizagem I ndust rial - SENAI , os quais deveriam ser m ant idos exclusivam ent e pela cont ribuição pat ronal. Am pliados nos anos 90 do século passado e incorporando o Serviço Social do Transport e – SEST; Serviço de Aprendizagem dos Transportes – SENAT; Serviço de Aprendizagem Rural – SENAR; Serviço Nacional de Apoio à Média e Pequena Em presa – SEBRAE; e Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperat ivism o - SESCOOP; esses órgãos, do cham ado “ Sistem a S” , são responsáveis pela produção cultural nos anos 80 e 90, e na at ualidade.

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houve um a expansão considerável do rádio, da t elevisão, dos j ornais e das revistas im pressas.

Avançando nest a reflexão, nos apoiam os em Miceli ( 1982) para com preender com o os m ecanism os da polít ica t êm form as, fórm ulas e norm as dit adas pela elit e. A part ir de sua análise é possível observar com o t ais m ecanism os são apropriados e ut ilizados no período do m inist ro Ney Braga, em m eados da década de 70 do século passado. Esses m ecanism os polít icos possibilit aram grandes m udanças no Minist ério de Educação e Cult ura ( MEC) .

I nicialm ent e, em seu t rabalho, Miceli apont a para a recuperação do Conselho Federal de Cult ura que fora const it uído por Cast elo Branco, quando o Minist ro Moniz Aragão ocupava o MEC, e dem onst ra que parâm et ros foram utilizados pelo governo m ilitar no que se refere à área cultural. Cit a com o exem plo que, no ano de 1966, foi solicit ado ao Conselho a elaboração de um plano para nort ear sua ação na área cult ural.

A part ir dest e docum ent o, observam os que na gest ão de Jarbas Passarinho, a ação ficou concent rada na área educacional, ficando a im plant ação das diret rizes a cargo de Ney Braga.

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de carreira do MEC.39 Nesse docum ent o ainda é possível not ar, nas suas

ent relinhas, que é dever do Est ado im pedir a invasão m assiva dos m eios de com unicação. Portanto, a partir do PNC, o Est ado deve criar os inst rum ent os de cont role das diversas concessões que ele m esm o outorga.

Apesar dessa cont radição, foi no período em que Ney Braga est eve no Minist ério da Educação e Cult ura que ocorreu um fort alecim ent o das inst it uições públicas federais em relação aos set ores, com o a EMBRAFI LME e Serviço Nacional de Teat ro – SNT, para os quais foram repassados recursos, garant indo aos m esm os, aut onom ia financeira e adm inist rat iva específicas. I st o perm it iu que, aos poucos, esses set ores não fossem m ais t ut elados pelos órgãos adm inist rat ivos do MEC, passando a t er vida própria.

Nest a época os art ist as e int elect uais sent iram na t eoria e na prát ica que o MEC, at ravés do Depart am ent o de Assunt os Cult urais e o próprio Plano Nacional de Cult ura e dem ais organism os do Minist ério, est avam receptivos às dem andas. Porém , ist o não significou viveram um período t ranqüilo para desenvolver seus proj etos. Essas ações não t iveram grandes conseqüências, som ente a Secret aria de Assunt os Cult urais t eve a oport unidade de im plem ent ar t rês proj et os pilot o. Esses proj et os foram desenvolvidos em favelas do Recife, quatro bairros da periferia de Fortaleza e em dois bairros periféricos do Rio de Janeiro. Apenas em Fort aleza o proj et o foi realizado por um depart am ent o do MEC; nos dem ais, a pesquisa foi t erceirizada.

Os resultados desses proj etos apontam para categorias sociais que não t inham acesso às inst it uições cult urais e nem sequer produziam bens ou

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m anifest ações que pudessem ser enquadradas nas cat egorias de folclore ou popular ficando, port ant o, à m argem da pesquisa. Um a das razões que cont ribuiu para ist o foi que os pesquisadores ent endiam a cult ura com o um regist ro descrit ivo da cult ura m at erial. Observam os ainda que havia um a int enção polít ica, “ despert ar a consciência” daquelas populações e auxiliá- las a produzir conhecim entos capazes de propiciarem a t ransform ação e m elhoria das condições de vida.40

Tais análises evidenciam que no Brasil, desde a im plant ação do Program a de Ação Cult ural ( PAC) de 1973 e da Polít ica Nacional de Cult ura ( PNC) de 1975, nos governos m ilit ares, havia um a preocupação em realizar at ividades cult urais independent em ent e dos m ecanism os ut ilizados.41

Esses docum ent os dem onst ram que os proj et os propunham a exalt ação do nacionalism o e funcionavam com o um invest im ent o para form ar um a ident idade brasileira fort e e de est abelecer um a linha polít ica m ínim a para a prát ica cult ural nacional. Assim , se ant eriorm ent e havia planos, com Ney Braga ocorre a ação polít ica. Sobre seus obj et ivos, Durand esclarece:

“ A cultura se liga à identidade nacional e à preservação de valores. As raízes culturais são vistas com o questão de ‘segurança nacional’ no sentido em que essa controvertida expressão significa ‘preservação da nacionalidade’. I déia de anim ação cultural abrindo espaço em nível do m unicípio; inj etava recursos localm ente, e estim ulava os germ es cult urais nas m ais diferentes regiões e situações do Brasil” .42

Não podem os esquecer que, na década de 70 do século passado, o Brasil vivia “ o processo de ‘construção institucional’ na área cultural” .43 Era o

40 Miceli, 1984, pp.142- 143.

41 Miceli diz t ext ualm ente que se criavam m ecanism os para ‘driblar os censores’. Durand afirm a ” ser um a visão

art iculada de princípios, obj et ivos e m eios que, no seu conj unto, era passível de ser cham ada de ‘política’, no sentido de policy” , 2000, p.12.

42 Durand, 2000, p.18.

43 Para m ais det alhes do período, consultar o estudo que Miceli realizou para o I nst it uo de Est udos Sociais

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período do governo Geisel que propôs um a abert ura “ lent a e gradual” para redem ocrat izar o país. Sem dúvida, a gest ão de Ney Braga significou um a preocupação do governo no sentido de regulam ent ar a área da cult ura.

Para Durand,

“ ... é a única vez na história republicana que o governo form alizou um conj unto de diretrizes para orient ar suas atividades na área ( ...) previu a colaboração entre órgãos federais de outros m inistérios ( ...) com secretarias est aduais e m unicipais de cult ura, universidades, fundações cult urais e inst it uições privadas...” .44

Para m elhor visualizar o histórico das políticas públicas para a cultura, vam os ut ilizar a cronologia elaborada por Miceli, que faz um a sínt ese ent re a gest ão Jarbas Passarinho ( 1969) e o início da gest ão Rubem Ludwig ( 1980) . Observam os, por exem plo, que no ano de 1976 foi realizado o I Encont ro Nacional de Secretários Estaduais de Cultura, em Brasília.

Segundo esse hist órico, ocorreram várias m udanças significat ivas as quais consideram os que não correspondem a um planej am ent o est rat égico para a área cult ural, m as sim atendem aos interesses políticos dos m ais diversos, um a vez que não exist em “ planos” ou “ diret rizes” para isso.

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