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BATUQUE. Figura 1 - Osuanlele Okizi Erupê conhecido no Rio Grande do Sul como Príncipe Custódio - Imagem retirada do site Wikipédia

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BATUQUE

Acad.Mayson Gonçalves Brum1 Acad. Anderson Machado2 Prof. Rosemar Gomes Lemos3

Osuanlele Okizi Erupê é considerado o grande precursor da religião batuqueira no Rio Grande do Sul onde adotou o nome de “Joaquim Custódio de Almeida” ou como ficou conhecido entre o povo “Príncipe Custódio” (Figura 1), natural de Benin na África, a sua vinda ao Brasil, mais especificamente ao Rio Grande do Sul, perpetua no imaginário coletivo.

Figura 1 - Osuanlele Okizi Erupê conhecido no Rio Grande do Sul como Príncipe Custódio - Imagem retirada do site Wikipédia

Devido ao papel fundante de Custódio para a constituição do Batuque, como vemos hoje em dia, é importante apresentar os relatos referente ao suposto motivo de sua saída de sua terra natal na África. Onde o primeiro motivo seria não querer ver o seu povo ser

3Professora Universitária da Universidade Federal de Pelotas, PhD na Área das Ciências da Arte e do Património - Faculdade de Belas Artes - Universidade de Lisboa - Portugal,

rosemar.ufpel@gmail.com.

2Acadêmico do Curso de História da Unipampa Jaguarão, anderson.machado93@gmail.com

1Acadêmico do Curso de Dança da Universidade Federal de Pelotas, maysonbrumj@gmail.com

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escravizado pela Coroa Inglesa, e por isso procurou refúgio em terras brasileiras; e outra versão que vai ao confronto da anterior, como relatado em jornais da época

Custódio recebia todos os meses, na embaixada da Inglaterra, que ficava na travessa Leonardo Truda, no centro de Porto Alegre, um saco com libras esterlinas para a sua manutenção e de sua família, aqui no Rio Grande do Sul (Diáriode Notícias,29 de maio de 1935).

Entende-se que o “Batuque” é uma vertente das religiões afro-brasileiras, onde o seu maior desenvolvimento é dado no estado do Rio Grande do Sul, nele o culto é voltado exclusivamente aos Orixás. Estes são deuses oriundos da África, assim na cultura batuqueira do Rio Grande do Sul, costuma-se cultuar doze Orixás4. Norton diz que “As divindades cultuadas no batuque, chamadas de orixás, têm características muito humanas, cada uma possuindo suas preferências e idiossincrasias5.” (CORREA, 2017, p.117). No Batuque as vertentes mais conhecidas e cultuadas em nosso estado são Jejê, Jejê-Ijexá, Oyó e Cabinda.

Antes de passarmos ao primeiro capítulo, julgamos pertinente informar que a grande maioria das informações aqui apresentadas foram fornecidas pela Yalorixá Mãe Preta de Ogum, da nação jêje, sacerdotisa há mais de 40 anos. É a mãe de Santo mais antiga do município de Arroio Grande-RS, o qual possui por volta de 50 terreiros de matriz africana.

1. PRECEITOS.

Para se tornar iniciado no Batuque, é preciso passar pelo jogo de búzios onde ocorre a revelação de quais são os Orixás que regem o seuOri(cabeça) e seu corpo. Após descobertos, a pessoa tem duas opções a seguir, a de cuidar de seus Orixás indiretamente (podendo assim dizer) realizando oferendas quando solicitado ou necessário, ou de se iniciar na religião, podendo assim firmar o compromisso de estar sempre zelando por estes Orixás. A pessoa optando por seguir neste compromisso, primeiramente deve escolher um

5 Idiossincrasia: Modo de se comportar, de agir, de se portar característico de alguém modo de se comportar, de agir, de se portar característico de alguém, Conduta incomum ou extravagante de um indivíduo; excentricidade, esquisitice: o escultor era cheio de idiossincrasias. INDIOSSINCRASIA.In:

DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em:

<https://www.dicio.com.br/idiossincrasia/>. Acesso em: 10/12/2020.

4Os Orixás cultuados no Batuque do Rio Grande do Sul são: Bará. Ogum, Iansã, Xangô, Ibejis, Odé e Otim, Obá, Ossanha. Xapanã, Oxum. Iemanjá e Oxalá

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Babalorixá ou Yalorixá6e um padrinho7, após então ser iniciado a realização de seu amaci8, onde acredita-se que há “o despertar de seu orixá”.

Com a passagem do tempo e a dedicação aos orixás, o iniciado perpassa por novas etapas de sua caminhada religiosa, chamadas de “Obrigações”9, a primeira a ser realizada é chamada de Aribibó, onde são sacralizadas, em formas totalmente ritualísticas, pombas.

Após, umBori, onde os animais sacralizados são aves (galinhas e galos), para então poder passar para a maior obrigação chamada “apronte”, no qual, além de aves, são sacralizadas animais de quatro pés como cabrito, carneiro, ovelha e entre outras.

A iniciação corresponde a um pacto estabelecido entre o indivíduo e os orixás. O que os humanos esperam deles, antes de tudo, é proteção. Para proteger seus consagrados, no entanto, as divindades precisam estar fortes, e para tanto se torna necessário mantê-las sempre bem alimentadas. Este é justamente o principal dever dos iniciados. (CORREA, 2017, p 118)

Os animais que participam desse ritual são extremamente bem cuidados até mesmo na hora de serem sacrificados, onde não é permitido que o mesmo berre, e toda a carne deste será utilizada para realizar comidas durante os dias que a obrigação vai ocorrer, como o couro desses bichos serem utilizados para confecção de tambores, instrumentos estes importantes para os ritos.

Quando o iniciado passa ao estágio de “Pronto”10ganha então a responsabilidade de zelar pelo seus orixás, estes que por sua vez serão assentados em pedras chamadas Ocutás, pedras estas onde são concentrada toda a sua energia, que ficará depositada em uma vasilha juntamente com Búzios, todas as paramentas11que cada orixá necessita, além de uma quartinha, que nada mais é que uma garrafa podendo na sua maioria das vezes ser confeccionada de barro onde é depositada água. Segundo entrevista realizada com a

11Paramentas são jóias, perfumes e espelhos quando o orixá é feminino, assim como ferramentas quando o orixá é masculino

10Pronto é chamada a pessoa que realiza a obrigação de quatro pé.

9Obrigações é o nome dado ao dito retiro espiritual, no qual a pessoa se dedica a uma quantidade específica de dias para o sagrado, ficando recluso da sociedade sem saber notícias do mundo externo, sem ingerir bebida alcoólica e sem prazer carnal. Nesse período o indivíduo fica totalmente entregue aos preceitos religiosos

8 Amaci é o primeiro preceito que o iniciante na religião passa, que é um banho de ervas que correspondem a todos os orixás. É banhado primeiramente na cabeça após os membros superiores e inferiores, onde assim é dada a permissão para participar dos cultos.

7O Padrinho realiza o papel de orientar assim como o Pai de Santo.

6 Babalorixá: Pai de Santo. Yalorixá: Mãe de Santo. Desempenham o papel de zelar e cuidar da pessoa que se inicia na religião realizando a feitura de seus orixás e guiando para todas as etapas no qual o iniciado deve passar.

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Yalorixá Preta de Ogum da cidade de Arroio Grande diz que “O dever de todo o filho de santo é prezar que as quartinhas sempre estejam cheias assim como os ocutás nunca estejam secos e sujos". Assim ela ainda diz que “Ocutá seco é ter a vida parada”.

2. PRA CUIDAR TEM QUE TER AXÉ

Para se tornar um Babalorixá ou Yalorixá, o iniciado além de cumprir rigorosamente com todos os cuidados aqui já apresentados, deve também receber de seu Pai de Santo os Axés de Obé e de Ifá. O axé de Obé é a apresentação e a liberação da faca para que se possa realizar serviço envolvendo corte de animais, bem como poder cortar para iniciar outra pessoa no preceito religioso.

O axé de Ifá (Figura 2 2), é dado posteriormente onde se é permitido que o receptor possa então estar entrando em contato direto com os orixás pelo o jogo de búzios, podendo ser usado para a revelações de quais caminhos o consultante deve tomar tanto em sua vida pessoal quanto em sua vida perante ao sagrado no qual se está dedicando.

Figura 2 - Guia de Búzios, fonte de consulta aos orixás Fonte: arquivo próprio

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Estes axés são normalmente recebidos quando o pai de santo percebe que o filho tem o mínimo de preparo para poder lidar com eles, já que devem ser tratados com total respeito.

3. “UM BOM BATUQUEIRO DEVE COMEÇAR PELA COZINHA”

A religião afro vai de embate com a ideia que temos no nosso cotidiano de que quem trabalha na cozinha é desprestigiado, ideia essa vinda do eurocentrismo ainda latente em nosso viver.

A Cozinha é espaço considerado de menos valia sob o ponto de vista do conservadorismo colonialista da sociedade brasileira sendo marcado como lugar de subalternização e humilhação de pessoas, sobretudo da maioria das mulheres negras (ÒSUN; YEMANJÁ, 2017. p-722)

As comidas ditas sagradas, aquelas que são servidas ao orixás sofrem um imenso impacto cultural como relatado por Norton

Os fundadores dos batuque e seus descendentes não encontraram, obviamente, tudo o que existe na África para sua prática ritual e então aproveitaram os ingredientes aqui disponíveis, seguidamente combinando-os de forma diversa à da sociedade envolvente, o que resultou na elaboração de uma cozinha ritual própria.(NORTON, 2017, p. 119)

Para maior demonstração podemos citar a farinha de mandioca, que tem origem indigena e é extremamente recorrida para a feitura da maioria dos alimentos a serem ofertados ao sagrado, assim como o churrasco que corresponde a oferenda12 de Ogum, semelhante à forma que se é posto tradicionalmente nas casas do Rio Grande do Sul.

Não falta quem diga que “um bom batuqueiro deve começar pela cozinha”, pois o maior ensinamento dentro de uma casa de religião acontece nesse lugar, já que é ali que se realiza o preparo de todas as oferendas, comidas que serão dispostas em uma festa de batuque como também realização de inúmeros serviços para todos os fins. Quando está se realizando o preparo destas comidas deve se atentar a não conversar e fazer o mínimo de barulho e também estar sempre usando roupas claras, já que acredita-se que os Orixás já estão esperando e supervisionando o modo de preparo.

12Oferenda são as comidas dos orixás dispostas a natureza que tem o intuito de pedir ou agradecer por alguma graça já alcançada.

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Sobre a culinária, as entidades sobrenaturais também a degustam, embora simbolicamente. Não se trata, simplesmente, de fazer a comida, mas sim, esmerar-se ao máximo para que cada prato tenha o melhor sabor e apresentação possíveis, seja os oferecidos aos humanos e aos orixás ou somente a estes – eis os principais fatores da arte culinária batuqueira. (NORTON, 2017, p:121)

Para o Orixá Bará é servido Pipocas e Batatas Inglesas assadas e milho torrado, porém em dias de festa ele recebe como oferta bifes e o seu prato principal chamado Axoxó, que é composto por milhos cozidos depositados em um alguidar e lascas de coco, que neste caso desempenha o papel decorativo. Ao Orixá Ogum, é ofertado o churrasco como aqui já mencionado, e também a sua bebida predileta chamada Atâ, ou como popularmente conhecida a Guarapa, esta bebida é o resultado de frutas como banana, maçã, abacaxi e laranja picadas e adicionada em uma mistura de Xarope de Groselha e açúcar. Para a Orixá Iansã são ofertadas além de pipocas e maçã, batata doce frita e o seu doce de batata, porém o seu prato de maior preferência são os Acarajés (Figura 3), que é uma espécie de bolinho temperado, frito com ingrediente base de feijão miúdo. Este prato é um dos mais delicados em sua confecção, pois deve ser executado em um local onde o silêncio predomina para que não ocorra nada de errado. Ao Orixá Xangô é ofertado o Amalá (Figura 4), no qual é o pirão confeccionado com farinha de milho no líquido onde foi fervido a carne de peito é colocado em um prato de madeira chamadogamela, após depositada o pirão nagamelavem por cima o refogado de ervas, que costumam ser mostarda ou repolho e por cima a carne, em sua volta vão de 6 à 12 bananas descascadas e em seu topo maçã ou laranja. Vale salientar que existe uma variação determinante neste prato típico batuqueiro, quando em seu preparo é utilizada mostarda, a fruta que deve ir em seu topo é a maçã pois este será oferecido a uma qualidade de Orixá Xangô mais nova, quando se é utilizada o repolho, a fruta correspondente é uma laranja, ambas devem ser cortadas em quatro cuidando para que na sua base não se desprenda. Este prato também pode ser oferecido ao Orixá Xangô de Ibeji, onde no seu topo além da maçã são acrescentados inúmeros doces como pirulito e balas. O amalá quando servido em meio de um quatro pés é costumeiro colocar as inhelas13das aves no qual são retiradas no dia do serão14.

14 Serão é o nome dado à noite onde ocorre a sacralização dos animais, a limpeza destes e da organização destes para o Batuque ou para a utilização destas carnes para os dias de obrigação.

13 Inhelas são as partes retiradas dos animais sacralizados como patinhas, asas, pescoço, moela e coração.

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Figura 3 - Acarajés: especiaria ligada ao Orixá Iansã

Figura 4 - Amalá, especiaria ligada ao Orixá Xangô

Os Orixás Odé e Otim recebem como oferendas a carne de porco. Para a Orixá Obá é sempre ofertada uma Omelete, enfeitada com pedaços de abacaxi. Ao Orixá Ossanha é oferecida a linguiça com farofa, porém quando for para bandejas15 adiciona-se um opeté16.

16Opeté é uma cabeça em formato cônico, confeccionada com batatas inglesas cozidas e os olhos, na sua maioria das vezes, feitos com milhos torrados.

15 Bandejas é o nome dado às oferendas que geralmente são realizadas em formas de agradecimentos sendo essas depositadas na natureza.

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Ao Orixá Xapanã são ofertados amendoins, pipocas e também o sagu porém, quando é para a realização de oferendas a este Orixá é costumeiro colocar em sua bandeja todos os tipos de grãos torrados como uma variedade de feijão, milho, pipoca e também uvas de cores roxas. A Orixá Oxum é ofertada o Omolocum, este prato é, assim como o acarajé de Iansã, confeccionado com feijão miúdo, onde esse é cozido e refogado no tempero com algumas gotas de azeite de dendê. O seu doce mais conhecido é o quindim. A Orixá Iemanjá recebe cocadas e o doce de coco e quando solicitada para realização de bandeja é adicionada canjica branca cozida e melancias. Ao Orixá Oxalá é ofertada a canjica branca, esta que tem que ser preparada no leite é adicionado além de açúcar o leite condensado e coco ralado.

Vale expressar que as comidas aqui referidas sofrem variações ao serem ofertadas em uma festa de batuque, e nas confecções de bandejas. No batuque as pessoas ali presentes tendem a comer as comidas junto aos orixás. Já as bandejas são depositadas na natureza com o intuito de que a energia do orixá possa consumi-la . Também vale informar que cada Orixá tem a sua fruta correspondente. Ao Orixá Bará se costuma ofertar o abacate, a Ogum a laranja, Iansã maçãs e morango, para Xangô bananas, Odé e Otim qualquer tipo de fruta já que são orixás da natureza, Obá abacaxi, Ossanha o figo, Xapanã a uva preta e ameixas roxas, Oxum o mamão e pêssego, Iemanja a melancia e a uva branca e por fim, para Oxalá a pêra.

Em Obrigações de “quatro pés”17 ocorre a retirada das vísceras dos quadrúpedes sacralizados que consta em coração, tripa gorda, rim e fígado que são devidamente limpos, cozidos, picados e refogados em temperos. Este prato é chamado de sarrabulho, também servido na festa. Assim pode-se verificar que tudo que é sacralizado utiliza-se de alguma forma, não havendo nenhum tipo de desperdício dos animais.

4. ONDE TEM BATUQUE, TEM FESTA

Os Xirês (a festa de Batuque) se dão em duas ocasiões, as que ocorrem por conta de uma Obrigação e as que acontecem em formas de homenagem chamadas Quinzenas.

Os Xirês de Obrigações pode variar de dois a três toques, onde o primeiro geralmente ocorre um ou dois dias após se passado o serão, neste momento é onde as comidas salgadas são servidas, em sua maioria carnes assadas dos quadrúpedes e das aves que

17Obrigação ´e o ritual onde são sacralizados quadrúpedes.

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foram sacralizadas e os sarrabulhos. Também são consumidos bolos, amalá, acarajé, uma cesta com uma grande variedade de frutas, batata doce frita. Cestas com balas são depositados no quarto de santo18 para após o termino ser compartilhado para todos que se fazem presente e também se vê meste local os ecós19. Na cerimônia os orixás se manifestam no corpo do filho fazendo com que eles entrem em transe, sendo assim vale ressaltar que este estado é chamada de ocupação, já que a pessoa a ser possuído pela energia do seu orixá não saberá que o mesmo se fez presente em seu corpo.e eles por sua vez podem solicitar a sua arma para que possam então demonstrar na forma de dançar a sua história. O integrante mais importante para ocorrer o Xirê é o tamboreiro, onde a ele é confiado o dever de rezar em formas de cânticos na língua iorubá, rezas que descrevem as histórias e feitos dos orixás quando estavam em sua vida terrena.

Segundo a Yalorixá Mãe Preta de Ogum (2020), as casas que cultuam a Nação tem em sua frente no lado esquerdo uma casinha que é onde se cultua o Orixá Bará Lodê e o Ogum Avagã, esta local é o primeiro a ser cumprimentado quando se entra dentro de um terreiro, já que eles são responsáveis por cuidar da rua e proteger a casa, cuida-se muito a presença de mulheres perto desta casa já que o Orixá Lodê é extremamente rigoroso com a presença das mesma. Logo em seguida entra-se no salão onde ocorrerá a festa, o local geralmente está devidamente decorado para este momento.

Nota-se que a indumentária usada pelos praticantes sofreu grande impacto cultural assim como a confecção das comidas típicas do batuque. As mulheres em sua maioria usam vestidos longos com saias de armação os quais lembram muito os vestidos de prenda. Já os homens, em sua grande maioria usam bombachas, este traje típico do estado do Rio Grande do Sul.

No início do Xirê ao passar pelo o quarto de Santo cada um deve se bater cabeça em sinal de respeito aos Orixás que ali habitam, assim como para o pai ou mãe de Santo que está realizando o festejo e depois o seu padrinho em questão de respeito a hierarquia

19 ecós é o nome dado à água com mel, ou com farinha de mandioca e dendê que é retirado do recinto já que se entende que sua serventia é de drenagem de qualquer influência negativa que possa estar pairando no ambiente, e também entende-se que por ser levado juntamente com milhos e pipocas e batata inglesa assada, comida destinada ao orixá Bará, para que ele possa trabalhar trazendo somente influências positivas a quem ali depositou. O ecó deve ser retirado em todas as segunda-feira ou sexta-feira.

18Quarto de Santo é onde fica todos os assentamentos de Orixás dos filhos da casa juntamente com as quartinhas correspondente a cada um deles, em ocasiões como a do Toque de um Xirê, este espaço se torna decorado com cortinas e bandeira e rosas, além de que as comidas que serão ofertadas para os presentes na cerimônia

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imposta pela religião., nisto começa-se a praticar as danças. Durante a festa as pessoas dançam descrevendo um círculo, no caso a roda (Figura 5). O deslocamento dos componentes deve ser em sentido anti-horário, este ato se dá na ideia de que há uma progressiva volta ao passado, e a partir deste momento será iniciado o contato direto com seus ancestrais, os Orixás. A dança é um fator de mais valia dentro do culto como diz Nortôn em “Um aspecto importante dessas danças é que coloca diante dos olhos humanos, através de dramatização, o universo espiritual batuqueiro.” (NORTON, 2017).

Figura 5 - A disposição da Roda

É importante que cada membro da roda ao passar pelo o tamboreiro faça um gesto de cortesia, já que este é quem irá, em forma de seu toque, fazer com o que o contato com os deuses se efetive.

Ao Orixá Bará dança-se realizando o gestual de chave, como se estivesse abrindo uma porta, pois assim você está pedindo para este orixá esteja abrindo todos os seus caminhos trazendo um bom movimento na sua vida e em seu trabalho. Quando dança-se para Ogum, os gestos sempre procuram se remeter a espadas e escudos que compunham a armadura deste orixá, pedindo para que corte todas as demandas dos caminhos. Os gestos dançante para Orixá Iansã é os movimentos de seu eruexim20 (Figura 6) , que são

20 Eruexim é uma paramenta referente a orixá Iansã que é confeccionada com os pelos da cola de cavalo em um cabo de madeira ou metal altamente decorado.

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movimentos circulares com os braços que fazem alusão ao modo de como este orixá espanta os maus espíritos. Os movimentos de estar empunhando dois machados fazendo gestos para cima e para baixo é representativo ao Orixá Xangô, a este Orixá também é aplicado dois momentos mais aguardado e marcantes de um Xirê que é o Axé da Balança, que se dá em uma roda onde somente as pessoas já prontas podem participar e que todos se dão as mãos e começam a andar para frente e para trás, neste momento é comum ver as manifestações dos Orixás e logo após encerrado este momento eles passam a dança do Alujá.

Figura 6 - Eruexim: Paramenta utilizada por Iansã.

Nesse instante os orixás vão para frente do tambor mostrar toda a sua desenvoltura enquanto os fiéis gritam as saudações: Em seguida se dá início as danças alusivas a Odé e Otim, onde os gestos são com os dedos indicadores se tocando na frente do corpo como se estivesse empunhando um arco e flecha, instrumento este utilizado por orixá Odé, sincretizado como o Orixá responsável pela caça, logo, o responsável pela fartura. É neste momento então que ocorre a retirada dos ecós.

A dança representativa da Orixá Obá é dado em três momentos, no primeiro o fiel gesticula como estivesse manuseando um pilão, e indo com o corpo para baixo de um lado para o outro dando a impressão de estar colhendo o material a ser pilado, a reza começa a mudar de ritmo ficando mais incandescente com isso as pessoas começam a girar os

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antebraços e punhos para frente e para trás em torno deles mesmo com uma velocidade acelerada, isto se remete ao instrumento que Obá utiliza que é a roda da vida, neste momento os fiéis fazem os pedidos para que toda o mal possa estar sendo cortado pela navalha deste Orixá. Assim feito, a mão esquerda vai na orelha enquanto a direita faz movimento de como estivesse com uma espada, esta reza especificamente relata que este Orixá não tem uma orelha, decepada por uma traição realizada por Oxum21. Logo após é dado início as danças ao Orixá Ossanha que é considerado o médico dos Deuses e aquele que detém de todo o conhecimentos das plantas medicinais, para este orixá dança-se fazendo gestuais de como se estivesse amassando as folhas de ervas medicinais, também andando de um lado para outro levantando levemente o pé, remetendo a falta deste membro no Orixá. Ao Orixá Xapanã se faz o movimento de como estivesse varrendo o local, já que este usa uma vassoura de palha e é responsável pelas doenças que assolam o mundo. Neste momento os praticantes pedem que a sua vassoura seja piedosa e que estejam livrando a todos presentes e seus familiares de qualquer tipo de moléstia.

Realizando gestos de se embelezando em frente a um espelho é a dança característica de Oxum, já que a sua maior arma é o Ababé22 (Figura 7) onde ela reflete toda a sua beleza.

Aqui dá-se início ao momento onde são entregue perfumes, espelhos e leques a todos os

22 Espelho cravejado a ouro quando usado por Oxum e cravejado em prata quando utilizado por Yemanja.

21 Obá tornou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa. A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã, que era bela e fascinante. A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa.Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum. Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô. Obá sempre procurava aprender o segredo das receitas utilizadas por Oxum quando esta preparava as refeições de Xangô.Oxum irritada, decidiu preparar-lhe uma armadilha. Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à preparação de um prato que, segundo ela, agradava infinitamente a Xangô.Obá chegou na hora combinada e encontrou Oxum com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas. Ela preparava uma sopa para Xangô onde dois cogumelos flutuavam na superfície do caldo. Oxum convenceu Obá que se tratava de suas orelhas,que ela cozinhava, desta forma, para preparar o prato favorito de Xangô. Este logo chegou, vaidoso e altivo. Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e galante e apressado, retirou-se com Oxum para o quarto. Na semana seguinte, foi a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa. Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá cortou uma das orelhas. Ele achou repugnante o prato que ela preparara. Neste momento, Oxum chegou e retirou o lenço, mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas. Furiosa, Obá precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade. Uma verdadeira luta se seguiu. Enraivecido, Xangô trovejou sua fúria.

Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e se transformaram em rios. Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência,em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.(VERGER, Pierre Fatumbi. A rivalidade de Obá e Oxum. Disponível em:

http://filhosdejagum.no.comunidades.net/lenda-de-oba.. Acesso em: 11 dez. 2020)

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orixás femininos ali manifestados, onde elas por suas vez lançam perfumes no ar e nas pessoas trazendo sentimentos de prosperidade, neste momento costuma ser realizada a roda das crianças, onde estas ficam no centro da roda e recebem doces e frutas diretamente dos orixás. Este ritual é ligado aos Orixás Xangô de Ibeji e Oxum de Ibeji que são os orixás mais novos do nosso panteão23.

Figura 7 - Abebé de Oxum e Iemanjá.

Ao Orixá Iemanjá os movimentos são de ondas já que o seu habitat é o mar, neste momento pode-se notar que as rezas vão ficando lentas para demonstrar a serenidade e a calma que o mar pode nos trazer em nossos pensamentos, já que este sentido é dado a este Orixá. Na sequência o toque do tambor fica mais acelerado para demonstrar que mesmo sendo um mar calmo, Iemanjá tem a agilidade de poder solucionar todos os problemas que possam pairar na mente de seus praticantes. E por fim é rezado para Oxalá,

23Penteão: Conjunto dos deuses de uma nação, de uma religião. (Var.: Panteon.). PANTEÃO .In:

DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em:

<https://www.dicio.com.br/panteao/>. Acesso em: 17/12/2020.

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o Orixá considerado o pai dos demais. Neste instante as rezas ficam mais calmas e acontece o ritual do ala, um pano branco é suspenso pelos orixás e todos que ali estão presentes sendo iniciados ou não passam por debaixo dele, os sacerdotes usam deste momento para pedir clemência, paz e a tranquilidade para poder seguir a vida após a saída do templo religioso.

Após terminado o Xirê, onde já todos os santos presentes passam para o estágio de axerê24 os que são os filhos da casa começam a distribuir toda a comida que estava no quarto de santo sendo energizada durante toda cerimônia para todos os participante (Figura 8)

.

Figura 8 - Quarto de Santo devidamente decorado e com todos os alimentos que serão ofertada aos orixás e as pessoas que ali estão

Os estudos sobre o campo religioso vem em uma enorme crescente no meio acadêmico, já que serve como uma grande ferramenta a ser usada para desmistificação dos cultos. Para nós, enquanto universitários e praticantes da religião, realizar esta pesquisa é de uma extrema importância já que é um meio de que a comunidade de nossa cidade possa estar entrando em contato com o que é realizado nos cultos. Com isto

24Axerê é o momento onde há a quebra da energia total do orixá, acredita-se que neste momento o corpo fica dividido entre o orixá a pessoa, para que esta possa se lembrar do que ocorreu durante a cerimônia.

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agradecemos a Prefeitura Municipal e o Museu Afro-Brasil-Sul por proporcionar esta oportunidade de estarmos apresentando o nosso sagrado, assim como agradecer a Mãe Preta D’Ogum pela valorosa entrevista concedida para que estes registros pudessem acontecer

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Referências:

CORREA, Norton Figueredo. "A Cozinha é a Base da Religião": A Culinária Ritual no Batuque do Rio Grande do Sul. Arquivo Brasileiro de Alimentação, Recife, v. 1, n. 2, p. 116-127,2017.

Disponível em:http://www.journals.ufrpe.br/index.php/ABA/index. Acesso em: 10 dez. 2020.

ÒSUN, Ìyá Sandrali de; YEMANJÁ, Ìya Winnie de. ME VEJA UM PRATO SAGRADO! A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO DE PREPARO DOS ALIMENTOS NOS TERREIROS NO RIO GRANDE DO SUL. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE GÊNERO E RELIGIÃO, 5., 2017, São Leopoldo.

Anais do Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião. São Leopoldo: Est, 2017. p.

717-729.

PRANDI, Reginaldo, Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2003

Referências

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