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Simpósio 4 Mudanças Climáticas e a Zootecnia do Futuro

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Academic year: 2022

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229 Simpósio 4 – Mudanças Climáticas e a Zootecnia do Futuro

Palestra 4 - As alterações do clima e os posicionamentos da Indústria de nutrição animal na busca de sustentabilidade.

Gustavo Durante Cruz - Purina (USA)

16:00 - 17:30

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230 As alterações do clima e os posicionamentos da indústria de nutrição animal na

busca de sustentabilidade

Gustavo Durante Cruz

Land O’ Lakes, Inc.

gusdcruz@gmail.com Rodrigo Dias Lauritano Pacheco

EMPAER-MT

A população atual está estimada a 7.3 bilhões, com uma expectativa de atingir 8.5 bilhões em 2030, 9.7 bilhões em 2050 e 11.2 bilhões em 2100. Complementarmente, mais da metade do crescimento populacional de 2017 até 2050 ocorrerá no continente Africano, o qual tem uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 2.55% (World Population Prospects: The 2015 Revision). Logo, essa mudança na composição demográfica, em especial nos países menos desenvolvidos tem impacto direto no consumo de alimentos, o qual pressiona a produção dos mesmos.

A exigência calórica para o consumo humano está estimado em 2,770 kcal/pessoa/dia.

Teoricamente existem calorias suficientes para atenderem a população mundial, tendo em vista o excesso consumido pelos países desenvolvidos, mas como nós sabemos isso não é a realidade na prática. Cerca de 2.5 bilhões de pessoas consomem menos de 2,500 kcal; 0.5 bilhões menos de 2,000 kcal e 1.9 bilhões consomem mais de 3,000 kcal (Figura 1, Alexandratos e Bruinsma, 2012). A maior concentração de subnutrição está localizada na África subsaariana, região, como descrito acima, vem tendo alto crescimento populacional. Assim, estima-se que representarão 4% de subnutrição mundial em 2050.

Figura 1. Consumo calórico diário por pessoa (kcal/pessoa/dia)

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Adicionalmente, no relatório feito pelas Nações Unidas (UN, 2002), estimou-se que 70% do suprimento adicional de alimentos para o futuro terá que vir através do desenvolvimento e utilização de tecnologias que aumentam a eficiência em produção. A bovinocultura de leite está liderando esta questão de implementação de tecnologias. A média de produção de leite por vaca em 1944 nos EUA era de 5 kg/d, hoje é superior a 30 kg/d. Este aumento de produção diluiu o uso de recurso ambientais por litro de leite. Em 1944 havia 25.6 milhões de vacas produzindo 53 bilhões de quilos de leite, hoje existe 9.2 milhões de vacas produzindo 84 milhões de quilos de leite (Capper et al., 2009). O uso do melhoramento genético associado com o uso de inseminação artificial foi responsável por 55% desse avanço na produção de leite (Shook, 2006). Em 2007 a produção de leite Americana foi 59% maior, produzindo 41% menos de carbono equivalente, em relação ao ano de 1944.

Em contrapartida, a sociedade, em especial os consumidores que habitam os países desenvolvidos ou a faixa de maior poder aquisitivo dos países em desenvolvimento, procuram valores além do simples critério de qualidade, ou seja, produtos oriundos de sistemas

“sustentáveis”. O termo sutentabilidade é definido como a característica de determinado sistema em gerar produtos para a sociedade a longo prazo com mínimo impacto ambiental. As métricas utilizadas para medir sustentabilidade são intrinsecamente subjetivas devido a interdependência das variáveis, assim como os diferentes objetivos de cada grupo envolvido no sistema. Mesmo com a compreensão dos objetivos básicos de um sistema sustentável, a importância relativa de cada objetivo é um assunto de grande discussão. Dessa forma, os três objetivos básicos de qualquer sistema sustentável são:

1) Gerar um produto de qualidade e seguro para o consumo humano 2) Minimizar o impacto ambiental

3) Manter viabilidade econômica na cadeia de produção para que novas gerações continuem participando da mesma

Um dos maiores desafios que a indústria em geral vem passando é a falta de consenso em relação ao valor de cada um desses objetivos. A importância dos objetivos é parcialmente definida pelo consumidor, e este por sua vez, vem tendo seus valores modificados. Conforme a população se afasta do meio rural, seu conhecimento e relacionamento com a produção de alimento são enfraquecidos. Atualmente estima-se que 46% da população mundial vive na zona rural, grande declínio quando comparado a 67% em 1960 (World Bank, 2015), essa diferença é ainda maior em países desenvolvidos.

Portanto, atualmente existe a dicotomia entre a necessidade de se produzir mais alimentos em contraste com a percepção distorcida do mercado consumidor de nichos mais exigentes, coincidentemente, as mesmas pessoas com o potencial de formar opiniões. A raíz deste problema, como citado anteriormente, está no distanciamento da população urbana com a maneira que é produzido o alimento. Esse fato aliado ao grande acesso a informação, na grande maioria das vezes tendenciosas, geram o mal-estar relacionados aos diversos sistemas produtivos de alimentos, em especial após a criação do termo “fazendas industriais” (Dunshea et al., 2016).

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Segundo os mesmos autores, esse termo abrange todos os aspectos negativos do sistema de produção de alimentos, enquanto outros sistemas que projetam a tentativa de serem mais

“limpos e verdes” na maneira em que o alimento é produzido, são vistos como padrões ouro.

Oportunisticamente, os varejistas aproveitam para se tornarem os formadores de opiniões no mercado consumidor através de estratégias de marketing.

O exemplo seguinte ilustra como uma mudança no comportamento do consumidor pode potencialmente impactar o foco de pesquisa de uma empresa. De uma forma simplificada, o produtor americano de bovino corte recebe incentivo financeiro baseado na marmorização da carne, em consequência disso, o consumidor terá acesso a várias qualidades e preços de carne na gôndola do supermercado. No entanto, na rede de supermercado Whole Foods, a decisão do consumidor é baseada no bem-estar animal, a rede criou seu próprio sistema de avaliação (“5-Step Animal Wellfare Ratingtm”) e o consumidor tem acesso fácil a esta informação durante o momento da compra. Apesar de uma pequena porcentagem da população americana (<10%) comprar nessa rede, caso esse pensamento se espalhar pelo país, as indústrias de nutrição animal terão que desviar seu investimento em tecnologias que aumentam o marmoreiro para tecnologias que melhoram o bem-estar animal.

A busca por melhores condições de bem-estar animal guiadas por demandas dos mercados consumidores, na maioria das vezes, resultam em benefícios para o aprimoramento dos sistemas produtivos. Contudo, o mesmo não acontece com o aspecto ambiental que tange a produção animal. A “má percepção” dos consumidores a respeito de sistemas intensivos de produção, promotores de crescimento e aditivos alimentares podem acarretar em mais prejuízos do que benefícios ambientais.

Países como Argentina, Uruguai e Brasil os quais são tradicionais em produção de carne em pasto, recentemente encontram dificuldades devido ao aumento de áreas de lavoura em detrimento das pastagens. Dessa forma, tais nações estão focalizando em tecnologias para melhoria de pastagens, suplementações e sistemas de confinamento a fim de reduzirem o custo energético por quantidade de produto produzido. Tais práticas coincidem com a redução de emissões de gases de efeito estufa, em especial metano (Strydom, 2016; Rearte e Poromingo, 2014).

Na esfera de promotores de crescimento, Capper e Hayes (2012) propuseram que beta- agonistas, implantes anabolizantes e ionóforos utilizados em sistemas intensivos de alimentação poupam 2.83 milhões de toneladas de alimentos e 265.000 ha de terras cultiváveis para produzir a mesma quantidade de carne bovina nos E.U.A., caso essas tecnologias fossem abolidas. Semelhantemente, a Austrália teria que passar de 28.04 milhões de cabeça para 29.75 milhões de animais a fim de manter a produção de carne bovina, caso ocorra o banimento de implantes anabolizantes (Strydom, 2016; Hunter 2010).

Complementarmente, o possível banimento dos ionóforos representa o típico caso de percepção distorcida do mercado consumidor que acarretam não somente em perdas econômicas, mas principalmente ambientais. Os ionóforos são classificados como antibióticos, mas por não afetarem diretamente o DNA dos microrganismos, apresentam baixo risco de desenvolvimento de resistência cruzada à patógenos humanos. Por melhorarem a conversão

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alimentar e proporcionarem fermentação ruminal mais eficiente, diminuem diretamente a produção de metano por kg de carne produzido.

Interessantemente, um simples conceito subjetivo pode representar a queda ou ascensão de determinada tecnologia. Por exemplo, ao retirarmos determinado composto químico de microrganismos do solo (como no caso dos ionóforos e outros antibióticos) com o intuito de melhorar a fermentação ruminal, tal estratégia pode ser encarada de forma pejorativa pelo mercado consumidor. Contudo, se compostos com atividades semelhantes advindos de extratos vegetais forem utilizados, os consumidores tendem a apresentar menor resistência ao uso desta tecnologia devido à impressão de serem naturais (fitoterápicos), mesmo que atue da mesma forma que os extraídos de microrganismos presentes no solo.

Desta forma, existe atualmente grande abertura para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. O desafio para continuar melhorando a produção animal é grande e empresas do setor estão investimento milhões de dólares em pesquisas. Contudo, chega-se à conclusão de que paralelamente ao desenvolvimento de produtos ecologicamente corretos e que atendam às normas mais recentes de bem-estar animal, o posicionamento da indústria de ligada à produção animal deve enfocar o esclarecimento do mercado consumidor. Propagandas e programas de esclarecimento nos dias de hoje são tão importantes quanto a busca pela perfeição produtiva.

Referências

Alexandratos, N. and J. Bruinsma. 2012. World agriculture towards 2030/2050: the 2012 revision. ESA Working paper No. 12-03. Rome, FAO.

Capper, J. L., R. A. Cady and D. E. Bauman. 2009. The environmental impact of dairy production 1944 compared with 2007. J. Anim. Sci. 87:2160-2167.

Dunshea, F. R., D. N. D’Souza and H. A. Channon. 2016. Metabolic modifiers as performance-enhancing technologies for livestock production. J. Anim. Sci. 1:6-14

Hunter, R. A. 2010. Hormonal growth promotant use in the Australian beef industry. Anim. Prod. Sci.

50:637-659.

Rearte, D. H., and A. J. Poromingo. 2014. The relevance of methane emissions from beef production and the challenges of the Argentinean beef production platform. Meat. Sci. 98:355-360.

Shook, G. E. 2006. Major advances in determining appropriate selection goals. J. Dairy. Sci. 89:1349- 1361.

Strydom, P.E. 2016. Performance-enhancing technologies of beef production. J. Anim. Sci. 6:22-30.

U.N. Food and Agriculture Organization. 2002. World agriculture Toward 2015/2030.

U.N. Food and Agriculture Organization. 2015. World Population Prospects: The 2015 Revision.

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