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45º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

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Academic year: 2021

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45º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

GT 02: As Ciências Sociais e os estudos de território, ambiente e turismo: desafios, limites e possibilidades.

Continuidade ou Transformação? Delineando experiências da Rede de Pesquisa em Turismo Religioso no Nordeste Brasileiro

em tempo de pandemia.

Maria Lúcia Bastos Alves (UFRN) Josenildo Campos Brussio (UFMA)

Silvana Pirillo Ramos (UFAL) Maristela Andrade (UFPB)

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Continuidade ou Transformação? Delineando experiências da Rede de Pesquisa em Turismo Religioso no Nordeste Brasileiro

em tempo de pandemia.

Maria Lúcia Bastos Alves (UFRN) Josenildo Campos Brussio (UFMA) Silvana Pirillo Ramos (UFAL) Maristela Oliveira de Andrade (UFPB)

RESUMO

A presente proposta tem como objetivo apresentar reflexões e resultados parciais referentes às pesquisas em andamento na Rede de Pesquisa em Turismo Religioso no Nordeste Brasileiro (REPETUR) em meio à pandemia causada pela COVID-19. Tendo em vista as transformações significativas ocorridas nas últimas décadas no desenvolvimento do turismo religioso em diversos municípios da região Nordeste, surgiu o interesse de um grupo de pesquisadores que integram a Rede de conhecer e analisar o dinamismo religioso, socioeconômico e cultural em suas múltiplas dimensões. Para a realização da pesquisa, recorremos a uma abordagem qualitativa com dados coletados por meio digital (eletrônico), na qual trazemos à lume olhares e inquietações que proporcionam a construção de um panorama com foco no turismo religioso nos nove estados do Nordeste brasileiro. Entre os resultados, podemos apontar que, com a pandemia, novas dinâmicas surgiram, como o isolamento social, e a utilização das mídias digitais como principal meio de realização das missas, eventos e algumas cerimônias dos rituais litúrgicos do santuário.

Nos nove estados do Nordeste brasileiro, as dinâmicas dos eventos ligados ao Turismo Religioso seguiram a mesma trilha: suspensão de eventos, remanejamento de cultos, celebrações e liturgias, cancelamento ou redirecionamento de procissões e peregrinações.

INTRODUÇÃO

Com o advento da pandemia causada pela COVID-19, a humanidade tem vivenciado uma das experiências mais destrutivas da história. Um cenário desolador de muitas mortes que tem se tornado rotina nos tempos hodiernos, ainda que haja muitos esforços para conter a disseminação do vírus.

No Brasil, chegamos à contagem de 583.310 mortos pela COVID-19, em 07 de setembro de 2021 (BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021). Tais diagnósticos estão longe de apontar as perdas e danos gerados pela pandemia da COVID-19 para o mundo.

Um dos setores mais atingidos foi o turismo, tendo em vista a imposição necessária do isolamento social e as medidas restritivas de locomoção, determinadas pela

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OMS para a contenção do vírus. O fechamento dos serviços de hotelaria e a restrição das viagens aéreas e deslocamentos de pessoas afetaram diretamente as dinâmicas das atividades turísticas, envolvendo todas as tipologias, entre as quais destacamos o turismo religioso. Trata-se de uma modalidade de turismo em que os deslocamentos ou as viagens são motivadas pela fé, sendo a religião católica, a que mais oferece destinos para os fiéis.

As atividades que compõem este turismo vão desde as mais tradicionais como as romarias, peregrinações e festas, até as mais dinâmicas e inovadoras como espetáculos, visitas a espaços e atividades religiosas como retiros.

Antes da pandemia, o turismo religioso no Brasil vinha apresentando dados de crescimento significativo nos últimos anos. De acordo com o Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, anualmente são feitas 17,7 milhões de viagens domésticas movidas pela fé (turistas, sem contar excursionistas) (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2020). No Nordeste, destacam-se espaços sagrados importantes e tradicionais de peregrinações como Bom Jesus da Lapa-BA, Juazeiro-CE, Canindé-CE entre outros que surgiram recentemente em municípios que criaram atrativos religiosos como a grande estátua de Santa Rita de Cássia no RN, ou de iniciativas privadas como o santuário da comunidade Servos de Maria do Coração de Jesus no Conde-PB, entre outros que nos últimos anos, vêm atraindo um número significativo de peregrinos/turistas. As festas dos santos padroeiros constituem outros espaços/tempo de grandes aglomerações que atraem muitos devotos e motivam os deslocamentos de antigos moradores vindos de outras regiões do país e até do exterior para um reencontro com familiares e amigos neste momento de fé e socialização.

A presente proposta tem como objetivo apresentar reflexões e resultados parciais referentes às pesquisas em andamento na Rede de Pesquisa em Turismo Religioso no Nordeste Brasileiro (REPETUR) em meio à pandemia causada pela COVID-19, destacando como se reconfiguram as instituições religiosas, as dinâmicas das festas e dos festejos, das romarias e peregrinações, dos velhos e novos cenários das práticas devocionais.

Tendo em vista que a região Nordeste vem passando por significativas transformações nas últimas décadas, com presença marcante na perspectiva do turismo religioso e desenvolvimento dos diversos municípios que integram a região, pretendemos (re)conhecer e analisar seu dinamismo religioso, socioeconômico e cultural representa um passo relevante para os debates e reflexões que considerem as diversas dimensões dessa

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realidade.

TECENDO A REDE DE PESQUISA EM TURISMO RELIGIOSO NO NORDESTE BRASILEIRO

Formada em 2020 em meio a pandemia da COVID-19 por uma teia de relacionamentos e parcerias com universidades federais, estaduais e institutos federais, a referida rede é constituída por membros permanentes e colaboradores e composta por cientistas sociais, geógrafos, turismólogos, antropólogos e historiadores de nove estados do Nordeste brasileiro. No Rio Grande do Norte, lugar de inserção da coordenadora, está vinculada ao GECP (Grupo de Estudos e Pesquisas Populares); no Ceará ao LEGES (Laboratório de Estudos Geoeducacionais e Espaços Simbólicos); no Maranhão ao GEPEMADEC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cultura); no Piauí, ao NETUR (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos em Turismo); em Sergipe ao OBSERVARE (Grupo de Estudos Empíricos e Aplicados em Religião e Religiosidades); em Alagoas ao OTPTUR (Observatório Transdisciplinar de Pesquisas em Turismo); na Paraíba, contamos com o apoio do GIPCSA (Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura, Sociedade e Ambiente); em Pernambuco, contamos com a colaboração do GPAST (Grupo de Pesquisa Ambiente, Sociedade e Turismo: interfaces e oportunidades para o desenvolvimento sustentável). Além dessas parceiras conta com consultorias de renomados pesquisadores, o professor John Eade da Universidade de Roehampton-UK e o antropólogo Carlos Steil da Universidade de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em seu projeto inicial a REPETUR se estrutura por um conjunto de questões que direcionam os múltiplos olhares e articulam as pesquisas realizadas:

• Como se efetivam as diretrizes das políticas públicas e ações eclesiais na reorganização das festividades e eventos religiosos no retorno no pós- pandemia?

• Como se organizam e são implementados os mecanismos de orientação, cuidado e proteção à contaminação no pós-pandemia em locais de romarias?

• Quais as percepções dos frequentadores em relação à distribuição dessas informações?

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• Quais as mudanças provocadas pela pós-pandemia do coronavírus no âmbito das romarias nordestinas em seus diferentes contextos?

• Que singularidades serão apresentadas, refeitas em sua organização social e espacial na contenção da proliferação do coronavírus?

• Qual o significado do isolamento social para os romeiros?

Em diálogo com as recentes discussões sobre turismo religioso que trazem pontos vinculados à perspectiva mais ampla sobre peregrinação e turismo no debate nacional e internacional (Timothy & Olsen, 2006; Vukonic´, 2002, Turner, 1973; Coleman

& Eade, 2004; MacCannell, 1973; Graburn, 1977; Smith, 1992; Badone & Roseman, 2004;

Digance, 2003, Steil,1996; Andrade, 2001; Oliveira, 2003; Dias & Silveira, 2003; Steil, 2009; Alves, 2008), a rede vem se consolidando como prática cada vez mais presente e desafiadora em debates e construções científicas, com abordagem interdisciplinar visando a participação das comunidades locais na construção do que vem a ser o turismo religioso, ao mesmo tempo em que (re) definem suas práticas religiosas no contexto de pandemia.

Assim, os parâmetros técnico-científicos que definem o turismo religioso ganham novas reflexões a partir da pluralidade dos discursos que envolvem as práticas religiosas e o turismo. É nesse anseio que trazemos para o debate alguns exemplos de estudos de casos empíricos em fase de construção, na busca de nexos comuns entre os diferentes espaços dessas práticas que permitam avançar o conhecimento neste campo, que aglutina tanto devotos, celebrantes e suas organizações, quanto pesquisadores.

No contexto pandêmico, onde a comunicação virtual tem sido, praticamente, o recurso mais utilizado e viável, temos realizado reuniões mensais, os encontros de grupos de trabalho, discussões sobre o processo de produção acadêmica e grupos de estudos, além de outras atividades. Mais que nunca, a tecnologia tem sido necessária na manutenção de nossos trabalhos e pesquisas como uma prática que abarca realidades na/para além da Universidade.

No primeiro momento foram realizadas reuniões para apresentação de discussão dos projetos de pesquisas pertencentes aos grupos de estudo de cada instituição.

Seguimos com as reflexões temáticas sobre religiosidades, celebrações festivas, turismo religioso entre outras, com o objetivo de enriquecer a interlocução entre diferentes pesquisadores e ampliar as possibilidades de articulação entre os estados e particularidades

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locais.

Em seguida, procedeu-se a um conjunto de atividades como lives, participação em eventos com apresentação de resultados preliminares, entre outras, a partir do mapeamento das principais festas religiosas de cada estado e o diagnóstico das principais demandas de diferentes grupos e agentes que atuam no âmbito do turismo religioso. Ainda em fase de construção o mapeamento está sendo realizado de acordo com as propostas das pesquisas e possibilidades de execução dos pesquisadores de cada região.

Como fruto dos primeiros resultados do mapeamento da Rede destaca-se a publicação do artigo “Reinventing Northeastern Religiou Tourism in Brazil during the COVID-19 Pandemic” no Open Journal of Social Sciences, 2021, 9, 92-117 (https://www.scirp.org/journal/jss) que teve como objetivo problematizar e descrever celebrações religiosas católicas presentes em nove (9) estados nordestinos no contexto de pandemia. Recorreu-se a uma abordagem qualitativa com dados coletados por meio digital (eletrônico) na qual trouxe inquietações que proporcionam a construção de um panorama com foco no turismo religioso. Como resultado, foram indicados três olhares que apontam desafios para a reinvenção do turismo religioso regional, hierarquizando o predomínio da resistência devocional sobre os apostes tecnológicos e as possíveis parcerias com outros setores da vida pública local: a) a resistência devocional; b) novos padrões de participação nos cultos individuais e coletivos e c) um futuro dividendo ao turismo religioso.

CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A palavra caminho sugere caminhada, trajetória, movimentação, isto é, escolhas que devem ser tomadas para que se avance de um ponto a outro. As escolhas dos caminhos metodológicos da presente pesquisa, conduziram-nos a uma abordagem qualitativa com a utilização da pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo remota, com coleta e análise de dados por meio digital (eletrônico), na qual trazemos à lume olhares e inquietações que proporcionam a construção de um panorama com foco no turismo religioso nos nove estados do Nordeste brasileiro.

Em termos de método, além a pesquisa bibliográfica, também foram utilizadas ferramentas digitais para a coleta de dados, tais como, acesso às redes sociais (Youtube, Instagram, Facebook), administradas pelos santuários e organizadores das festas religiosas.

Os dados foram tabulados e analisados a partir dos resultados da pesquisa teórica e da

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pesquisa empírica, fornecendo bases para a discussão acerca da validação dos instrumentos e estratégias utilizadas na obtenção dos dados.

No intermédio da relação entre festividades religiosas e atividades do turismo em um cenário de crise, invoca-se processos de reinvenção e questionamentos acerca das mudanças e readaptações dos rituais ainda em fase virtual, nos quais as análises encontram limitações em criar respostas no interior de cada campo de pesquisa.

No caso das celebrações religiosas do catolicismo popular, estas, historicamente sedimentada ao longo dos séculos, envolve uma série de rituais como:

novenas, procissões, reza do terço, pagamentos de promessas, entre outros elementos simbólicos expressos nas diversidades de gestos, imagens, romarias e peregrinações em santuários ou locais de culto que se tornaram propícias para o desenvolvimento das atividades do turismo na contemporaneidade.

Todavia, dada as circunstâncias provocadas pela pandemia do coronavírus COVID-19 e, a consequente interrupção das atividades religiosas de forma presencial, as celebrações festivas tiveram que ser canceladas ou remarcadas e começaram a acontecer através de plataformas virtuais de interação, impulsionando novas formas de culto e celebração.

Ao mesmo tempo que refletem uma transformação e/ou adaptação dos rituais à nova realidade, propicia condições para que fiéis possam de participar das festividades em suas casas e sejam ao mesmo tempo geradores e propagadores de crenças, mediante os seus depoimentos no que se refere à produção e ao acesso a informações, assim como à disponibilização e ao compartilhamento dos dados. Ou seja, tanto promovem a constante renovação e reinvenção dos seus rituais quanto encontram limitações no desafio em gerir novas formas sociabilidades e questionamentos em prol da continuidade das tradições.

Não há dúvida de que a complexidade dos eventos permeados por múltiplos interesses possibilitam novas formas de celebração assim como escolhas em novas formas de sociabilidades possibilitadas pelas mídias digitais com os chats ou conversas on line que trazem novas formas de celebrar e cultuar o sagrado. Trata-se de adaptação e/ou retomada das atividades ritualísticas tanto pela ótica da instituição eclesiástica (dioceses, paróquias) mediada pela comunicação virtual em tempo real, estando os interlocutores em interação recíproca e simultânea com uma dinâmica própria. Ou seja, as novas formas de celebração criadas pelas possibilidades e combinações com as tecnologias digitais que incorporam a velocidade e um processo de comunicação interativo, onde a “a Igreja vem

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fazendo esforços para uma presença cada vez mais efetiva na web, mediante portais de notícias, sites e blogs” (CNBB, 2014, p. 136).

CONTINUIDADE OU TRANSFORMAÇÕES? PESQUISAS DA REPETUR NO NORDESTE BRASILEIRO

Os estudos realizados pela Rede de Pesquisa em Turismo Religioso no Nordeste Brasileiro abarcam um retrato das tensões políticas, econômicas e sociais que têm gerado conflitos entre as instituições religiosas, políticas, públicas e privadas, que promovem as festas, festejos, peregrinações, romarias, no Nordeste brasileiro.

As novas dinâmicas surgidas nesse cenário se alicerçam a partir da lógica de interesses de mercado e de políticas de sobrevivência em tempos de pandemia. Portanto, o trabalho realizado pela REPETUR busca a melhor compreensão das formas e estilos de vida locais a partir das experiências religiosas que se impõem a partir de interesses de mercado e de políticas de desenvolvimento. Desta maneira, os municípios e os estados demonstram interesse pelas atividades do turismo religioso como estratégia econômica para melhorar as rendas dos municípios e dos estados, beneficiando o mercado local com ofertas de serviços como refeições, transportes e uma infinidade de lembranças da romaria.

Daí o interesse de incluir estas manifestações religiosas no calendário de festas dos municípios e do Estado como políticas para o desenvolvimento do turismo. Para as religiões envolvidas nas manifestações religiosas, as romarias e celebrações em espaços públicos constituem estratégias importantes que revelam não só a vitalidade da fé, como possibilita a atração de novos fiéis na disputa do mercado religioso.

As constatações aqui apresentadas representam uma primeira aproximação com as questões fundamentais que deverão, no futuro, influir na definição de políticas culturais e sociais que apontam para três dimensões simultâneas do turismo religioso no nordeste brasileiro em tempos de pandemia: a) a resistência devocional; b) novos padrões de participação nos cultos individuais e coletivos e c) um futuro dividendo ao turismo religioso, como vemos no quadro abaixo e nas descrições de algumas festas religiosas dos nove estados do Nordeste brasileiro.

Em cada estado, existem diversas festas religiosas com estudos e análises em andamento na REPETUR. O quadro abaixo destacou as festas de maior representatividade, termos de movimentação do turismo religioso, em cada estado do Nordeste brasileiro,

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diagnóstico do mapa do turismo religioso brasileiro antes da pandemia. Limitamo-nos a apenas uma festa dada a necessidade de recorte do objeto para a presente proposta.

Quadro 01: REPETUR – Pesquisas em andamento

ESTADO Cidade-Santuário festivo Grupo de Pesquisa Alagoas

Penedo – Bom Jesus dos Navegantes

OTPTUR (Observatório

Transdisciplinar de Pesquisas em Turismo)

Piauí Santa Cruz dos Milagres NETUR (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos em Turismo)

Rio Grande do Norte

Santa Cruz – Santa Rita de Cássia;

GECP (Grupo de Estudos e Pesquisas Populares)

Sergipe

São Cristovão – Procissões da S.

Santa e Corpus

OBSERVARE (Grupo de Estudos Empíricos e Aplicados em Religião e Religiosidades) Ceará

Canindé – São Francisco das Chagas

LEGES (Laboratório de Estudos Geoeducacionais e Espaços Simbólicos)

Paraíba

João Pessoa - Romaria da Penha GIPCSA (Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura,

Sociedade e Ambiente);

Bahia Bom Jesus da Lapa GEPERCS _ Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Religião, Cultura e Saúde

Maranhão

São José do Ribamar GEPEMADEC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cultura)

Pernambuco

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém – Brejo da Madre de Deus

GPAST (Grupo De Pesquisa Ambiente, Sociedade e Turismo:

interfaces e oportunidades para o desenvolvimento sustentável) Fonte: Elaboração dos autores, 2021

O quadro acima traz as festas de maior destaque no cenário do turismo religioso no Nordeste brasileiro em cada estado. Os projetos em andamento na REPETUR abrangem muito mais festividades e atividades relacionadas ao turismo religioso, mas que não teríamos como abordar nessa proposta, dada a limitação de páginas e quantidade de informações que teríamos para abarcar.

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Neste ínterim, a fim de elencar alguns resultados das pesquisas em andamento, sistematizamos um recorte de quatro estados do Nordeste brasileiro referentes a cada um dos autores da presente proposta, integrantes da rede. Assim, destacaremos a Festa de Bom Jesus dos Navegantes, em Alagoas; a Festa de Santa Rita de Cássia, no Rio Grande do Norte; a Romaria da Penha, na Paraíba e a festa de São José de Ribamar, no Maranhão.

EM ALAGOAS

A pesquisa em andamento “Entre Invenções e Reinvenções de uma tradição: a festa de Bom Jesus dos Navegantes de Penedo – Alagoas como evento turístico”, tem entre seus objetivos, analisar as transformações no processo de organização e no significado da festa com a pandemia gerada pelo Sars-CoV-2, que alterou os ritos secularmente construídos. Para tanto, umas das etapas da pesquisa rastreou nas páginas oficiais da Prefeitura Municipal de Penedo (site, instagram, facebook e Youtube) quais foram as principais medidas adotadas na organização da festa quanto a minimização das possibilidades de propagação do COVID-19.

Todo esse processo de planejamento diferenciado da festa foi divulgado nas redes sociais, nas páginas da Prefeitura Municipal de Penedo, com postagens diárias que permitiram acompanhar todo o preparo (ações das Secretaria de saúde, de transportes, infraestrutura) e o desenrolar do acontecimento religiosos, com a produção de vídeos e fotos sobre a missa, procissão fluvial, carreata entre outros.

A Festa do Bom Jesus dos Navegantes é reconhecida como a maior festa religiosa do Baixo São Francisco, constituindo-se como uma das festividades religiosas mais representativas de Alagoas. Acontece em Penedo, município do sul de Alagoas, na primeira semana de janeiro, período em que a população de 63.846 habitantes praticamente duplica com a chegada de romeiros para acompanhamento das missas e procissões, mas principalmente, pela chegada massiva de turistas de diversos lugares do país, atraídos pelo mega shows de artistas reconhecidos pela mídia.

Com a pandemia de COVID-19 e as restrições sanitárias, a festa em sua 137ª edição, em 2021, aconteceu de uma forma diferenciada, com o cancelamento dos mega shows e um planejamento e organização que visava impossibilitar a formação de aglomerações, mesmo mantendo a procissão terrestre em forma de carreata, mudando o

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trajeto da imagem para que passasse pela porta das casas, e realizando transmissão pelas redes sociais.

A adequação da festa às condições do momento pandêmico levou ao cancelamento dos eventos chamados profanos (mega shows com artistas reconhecidos) que atraem turistas de diversas localidades de Alagoas e do país. Apenas os pequenos eventos foram mantidos como apresentações de grupos que representam as manifestações culturais de Penedo (Banda de Pífanos, Tadeu e seus bonecos, Grupo de Capoeira Mandingueiro de Penedo, Exposição de barcos a vela, orquestra filarmônica do Monte Pio e Claudio Sax). Tal decisão da gestão pública se embasa no fato de que esses eventos, tradicionalmente, não têm atraído turistas e, portanto, não significavam riscos de provocar aglomerações.

No que se refere ao aspecto religioso, a inovação foi a substituição da procissão de romeiros a pé pela condução do andor do Bom Jesus dos Navegantes, em carro aberto, acompanhado por uma carreata, seguindo por um trajeto estendido que teve como proposta levar a imagem a porta das casas, prometendo “passar por toda Penedo”. A postagem no Instagram de 04/01/2021 trouxe o mapa do trajeto devidamente planejado com o controle da SMTT do fluxo de trânsito pelas ladeiras e ruas estreitas do centro histórico, chegando na chamada “parte alta” da cidade e indo até o Porto das Balsas para seguir na embarcação.

Com essa proposta as pessoas foram estimuladas a ficarem em casa e resgatarem a tradição de enfeitar com flores e tecidos coloridos as fachadas das casas para receberem a imagem em sua porta. Dessa forma, a realização da referida carreata, constituiu-se em um marco na própria história da festa: pela primeira vez a imagem de Bom Jesus dos Navegantes não ficou restrita ao centro histórico da cidade, seguindo um trajeto até chamada parte alta do município.

A missa, com ampla transmissão pelas redes sociais, passou a ser campal com a construção de uma marquise e inauguração do Palco da fé, montado ao lado da igreja de Santa Cruz, com estrutura de iluminação cênica, disponibilização de cadeiras enfileiradas de forma intercalada, respeitando as normas de distanciamento social.

A procissão fluvial, ponto alto dos festejos, contou com diversas restrições, limitando-se a quantidade de embarcações que são ocupadas todos os anos por fiéis, romeiros, etc., e sem a costumeira banda musical que acompanha a procissão no rio. Foi estabelecida ainda, como medida de contenção da programação, que o acesso à balsa que

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transporta a imagem de Bom Jesus precisaria ser feito de forma antecipada, ficando restrito as pessoas credenciadas pela diocese de Penedo (PREFEITURA DE PENEDO, 2021b).

A divulgação dos cuidados sanitários com o processo de realização da festa se encontra nas postagens de 06 e de 09/01/2021, no Instagram: a Secretaria Municipal de Saúde apresenta sua atuação direta na garantia de segurança da festa, com o envolvimento de trinta profissionais de saúde realizando um trabalho de orientação, com barreiras sanitárias em torno de todo local promovendo aferição de temperatura, assegurando o uso obrigatório de máscara e o controle do distanciamento social.

Por outro lado, mesmo com todo o planejamento e a organização da Festa do Bom Jesus dos Navegantes, seguindo as medidas de restrição sanitária, a transmissão pelas redes sociais e o apelo das autoridades para que as pessoas permanecessem em casa, uma parcela significativa de fiéis preferiu se deslocar para o evento, já que a vivência religiosa em uma festa tradicional tem características diferentes, sem a presença física nos ritos litúrgicos.

Verificou-se que experiência com a organização e vivência da festa nesse período pandêmico, tanto para gestores quanto para fiéis, abriu possibilidades para uso das redes sociais digitais e para discussões sobre a necessidade de deslocamentos e presença física nos ritos litúrgicos. Outras mudanças mais pontuais se efetivaram, como a realização das missas na Praça da Fé que foi aprovada pelos participantes, firmando a proposta de que, nos próximos anos, as missas ao ar livre devem ser mantidas, independente da pandemia (PREFEITURA DE PENEDO, 2021ª).

Inviabilizando a realização dos eventos chamados profanos, a presença massiva de turistas e interferindo diretamente nas questões que envolvem o processo de deslocamento dos romeiros, a realização da festa do Bom Jesus dos Navegantes de Penedo, na pandemia de Covid -19, trouxe diversas possibilidades de ressignificação do ritual.

NO RIO GRANDE DO NORTE

Celebrada na cidade de Santa Cruz à 123 km da capital do estado, a Festa de Santa Rita de Cássia tem início no dia 13 de maio, finalizando-se no dia 22 do mesmo mês;

dia consagrado à Santa padroeira, considerada pelos fiéis da região como a “Madrinha dos Sertões”. A história da devoção à Santa faz parte do processo de colonização do Nordeste brasileiro, ocorrido no final do século XVIII, e remete à história de Santa Rita de Cássia,

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nascida em Rocca Porena, território de Cássia, no ano de 1381, na Itália.

O diferencial desta festa e Santuário encontra-se na construção do monumento de concreto armado com 56 metros de altura, construído no antigo Monte Carmelo, popularmente conhecido como monte do Cruzeiro, onde se localiza o Complexo Turístico Alto de Santa Rita, inaugurado em 27 de junho de 2010. Para além da dimensão sociorreligiosa, após a construção do referido complexo, a festa adquiriu uma expressiva conotação políticae midiática.

Em redes sociais, perfis institucionais ligados à secretaria do turismo e à prefeitura; site da paróquia, conta com Facebook, Twitter e Blogs particulares; outros meios de comunicação, como emissora de rádio, jornais estaduais e locais, aproveitam a ocasião para registrar acontecimentos ocorridos antes, durante e após cada evento.

Diversas são as informações midiáticas divulgadas por gestores, líderes religiosos, leigos e proprietários de pequenas empresas, em torno da política de publicização da gigantesca imagem da Santa, associada aos investimentos do turismo religioso.

Atualmente, o SEBRAE em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte / UFRN e a Prefeitura de Santa Cruz, elaboram um inventário da oferta turística, cujo objetivo é criar um roteiro “Turismo Religioso em Santa Cruz. Tal proposta visa gerar um pernoite na cidade, alterando o tempo das habituais visitas conhecidas como

“bate-volta” e, consequentemente, movimentando a economia da cidade.

Em se tratando dos festejos alusivos a Festa Santa Rita versão 2020-21, destaca-se o protagonismo da Pastoral da Comunicação (Pascom) na agenda de articulação com os diversos setores do social e na divulgação da festa em modalidade on line. Sendo esta, a primeira das grandes festas do Estado a adotar o formato remoto e ter alcançado números expressivos, necessário se fez e faz atender aos decretos do Ministério da Saúde a fim de adequar às limitações impostas pelo distanciamento social e mitigar os efeitos da propagação do vírus. Uma realidade que atesta significativas mudanças no modo de como eram celebrados os rituais festivos e como esta nova modalidade poderá mudar os modos celebrar, hábitos e tipos de participação nos festejos religiosos.

Junto à Prefeitura Municipal de Santa Cruz, atualmente, representada na pessoa do prefeito Ivanildo Ferreira Lima Filho, o pároco de Santa Rita de Cássia, Pe.

Vicente Fernandes, estabeleceu acordo burocráticos consoantes com decretos vigentes, definindo os detalhes da programação sociocultural da Festa de Santa Rita de Cássia 2020,

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de forma totalmente virtual. Foram quatro dias de programação, entre os dias 18 e 21 de maio, com transmissões ao vivo nas redes sociais da paróquia e parceiros, desde as missas celebradas novenas da padroeira.

A tradicional procissão de encerramento teve como ápice o andor com imagem da santa conduzida pelo carro de bombeiros em cortejo com ministério de música, da Pastoral de Comunicação que fazia a cobertura de transmissão das imagens nas redes sociais da Paróquia. Durante o percurso muitos residentes e devotos aguardavam a passagem do andor nas calçadas e/ou varandas de suas casas, no ato de fé e benção da Santa protetora. Outros, mesmo diante do risco de contaminação do vírus, insistiam em acompanhar a procissão a pé, seja por promessa ou mesmo tradição.

Dentre as atividades excluídas, destacam-se as alvoradas, caminhadas, peregrinações e momentos de oração presencial. Um ponto de destaque neste cenário foi a máscara com cores verde e vermelho (alusivas à santa) colocada na estátua de Santa Rita, como símbolo de prevenção à infecção pelo novo coronavírus.

Em 2021, a festa foi híbrida (semipresencial) com limitações de público e marcada por transmissões ampliadas e diversificadas. Foram utilizados os formatos de lives musicais, jantares, lanches e almoços com delivery e Drive Thru. As ofertas foram modernizadas para recebimento via Pix, QR Code e outras ferramentas digitais.

Quanto ao alcance da festividade a partir das mídias sociais, exemplificamos uma entrevista realizada no Instagram, onde questionou para seguidores desta plataforma e devotos de Santa Rita sobre alcance da festividade na mídia social durante este período pandêmico. As respostas obtidas foram positivas, afirmando que a utilização do Instagram ajudou a participação dos fiéis nas missas, celebrações, lives musicais, etc., e as Paróquias a inovarem, como se pode perceber na escrita de um dos respondentes:

As limitações nos ensinaram a inovar uma festa que já vinha crescendo muito desde os anos 2000, porém ainda não tinha buscado outras inovações. Com a pandemia, a Paróquia pode entrar totalmente no mundo digital, desde as atividades burocráticas até ao trabalho pastoral, isso deve impulsionar ainda mais os trabalhos de evangelização (Anônimo, 2021).

Foi possível observar que a Paróquia de Santa Rita realizou um investimento em suas ações para aumentar o seu desempenho nas redes sociais. Durante a realização das missas, os devotos puderam enviar fotografias para serem dispostas nos bancos da paróquia

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e adquirirem (mediante compra on line) máscaras e/ou camisas com a estampa alusiva à festividade.

Outra reconfiguração foi o ofertório virtual através de QR Code, Pix, Transferência bancária simples, em que os dados ficavam amostra durante as transmissões e nas postagens durante o ano de 2020 e que vem se repetindo em 2021 até o presente momento. Versões que colocam em evidência a complexa rede de discursos, imagens, ritos e experiências da devoção popular que retroalimentam a manutenção das tradições religiosas e traz para o debate o protagonismo do turismo religioso.

NA PARAÍBA

O projeto do GIPCSA/UFPB “Um mar de fé: romarias da Paraíba em tempos de pandemia”, fez um recorte espacial das principais romarias e festas da Grande João Pessoa, com um nexo comum: sua relação com o mar, que permitiu identificar um circuito místico.

Foram arroladas inicialmente quatro manifestações religiosas: a procissão marítima de São Pedro Pescador, a romaria da Guia, no município de Lucena, a festa de Iemanjá na orla de João Pessoa e Cabedelo e por último a romaria da Penha de João Pessoa.

Esta última foi escolhida como a mais representativa do conjunto selecionado, por sua importância e reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), além das razões a seguir.

Primeiro, por sua antiguidade, o santuário da Penha começou em uma capela construída por um náufrago português em 1764 em uma colina a beira mar, sua romaria faria a 257ª edição em 2020; segundo, pelo grande e crescente número de fiéis, chegando a meio milhão de peregrinos em 2019, com grande visibilidade na mídia local; terceiro, pelo percurso de 14km da igreja de Nossa Senhora de Lourdes no centro da cidade até o santuário da Penha, e requer ações do poder municipal para proteger os caminhantes; por fim foi o único evento religioso dentre os demais levantados que fez uso de uma programação on line de novenas, orações e celebrações, em virtude do cancelamento da romaria devido a COVID-19.

A romaria da Penha ocorre no último sábado do mês de novembro, com a saída do cortejo com a imagem de Nossa Senhora da Penha a noite e termina no santuário da Penha com celebrações e missas até às 5 horas da manhã do domingo.

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A programação alternativa em 2020 foi produzida por iniciativa da Arquidiocese da Paraíba e se estendeu por treze dias, como forma de atender os numerosos fiéis em busca de cumprir suas promessas e agradecimentos por graças alcançadas.

Entretanto, o Reitor do Santuário da Penha utilizou um site para distribuição de senhas aos fiéis, limitadas ao número de 250 (metade da capacidade da atual igreja do santuário), para a realização de missas presenciais no santuário no dia da romaria.

Além dessa estratégia eletrônica, foram cumpridas as medidas de flexibilização para receber os fiéis seguindo os protocolos sanitários. Embora as romarias não sejam obrigatórias, os devotos se sentem obrigados a realizar mediante as graças alcançadas por promessas feitas em anos anteriores, que age como um sistema de dádiva que se baseia na reciprocidade, de modo que o não cumprimento gera aflições.

Esta compreensão da fé dos romeiros explica as estratégias de flexibilização oferecidas pelo Reitor do Santuário da Penha. Já a alternativa adotada pela Arquidiocese da Paraíba de realizar a romaria da Penha on line, se dirige ao grande número de fiéis moradores da capital e cidades vizinhas, que já se habituaram com as celebrações nos canais de televisão, como forma alternativa de vivenciarem a sua fé por meio deste suporte técnico. Mas, se a vivência religiosa frente às telas de televisão já se tornou corriqueira, o uso de plataformas digitais representa um empecilho para o acesso de fiéis idosos sem familiaridade com as novas tecnologias digitais, necessitando da ajuda de parentes mais jovens.

As romarias por serem grandes celebrações de fé em espaço público, de um lado potencializam as experiências religiosas de comunhão e de busca por milagres, e do outro lado, podem ser vistas como estratégias diante do mercado religioso de adesão de fiéis, dada a visibilidade que conseguem no cenário urbano.

NO MARANHÃO

A festa de São José de Ribamar é uma das mais referenciadas manifestações de turismo religioso no estado do Maranhão. O município fica localizado à 23 km de São luís, capital do Maranhão, e é conhecido como cidade balneário sua localização no Golfão Maranhense. Limita-se ao norte com o Oceano Atlântico e o município de Paço do Lumiar;

ao Sul, por Rosário e Axixá; a Leste, por Icatu; a Oeste, por São Luís. A área geográfica

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do município é de 434,2 quilômetros quadrados, ocupados com uma população de 179.028 mil habitantes (IBGE, 2020).

Para falar da festa de São José de Ribamar, antes vamos conhecer as origens do nome da cidade que estão ligadas ao salvamento de um navio português. Existem duas versões sobre a presença do santo. Uma delas relata que o capital do navio português havia feito uma promessa de que caso se salvasse de um naufrágio voltaria ao local com uma imagem de São José.

A outra versão, segundo Miranda (2009, p. 5) diz que numa certa ocasião os pescadores levaram suas redes ao mar inúmeras vezes sem conseguir pegar nenhum peixe.

Num determinado momento, ao ser retirada uma das redes, veio nela uma imagem.

Recolhida a imagem, a rede foi novamente lançada ao mar, vindo repleta de peixes. Como o fato ocorreu no dia 19 de março, esse é o dia de São José de Ribamar.

Quanto ao nome Ribamar, foi atribuído ao santo, em razão de ele ter sido recolhido de cima, isto é, “in-riba do mar”. Assim, atribui-se a origem do nome Ribamar ao linguajar dos índios Gamelas, que viviam sempre procurando o ponto mais elevado para colocar as imagens trazidas pelos europeus, depois diziam “in riba, in riba”. Com o tempo, descobriu-se que a expressão significava “acima”. Desse modo, o termo Ribamar significa

“acima do mar e ou Arriba-mar”. Desde sua origem, São Jose de Ribamar é envolta por mitos que particularizam o lugar, onde se acredita que a cidade surgiu através de um milagre (CASTRO, 2018, p. 50).

A pandemia impôs novas dinâmicas a vida social, desenhando um panorama de complexidade e/ou diversidade de fenômenos (MORIN, 2012), relacionados às velhas e novas práticas no campo do turismo religioso, tais como, a necessidade do isolamento e distanciamento social e os conflitos existenciais em relação às práticas ritualísticas que se realizam com as interações corporais, como o casamento, o batismo e o pagamento de promessas (suspensos diversas vezes). Como se deram essas adaptações no Santuário de São José de Ribamar no primeiro ano (2020) de pandemia?

Registramos que o primeiro lockdown foi decretado pela prefeitura do município no dia 20 de junho de 2020, como medida de contenção e redução dos casos de COVID-19 na cidade. Seguindo as recomendações do governo do Estado do Maranhão, a arquidiocese de São Luís, utiliza as redes sociais para comunicar (https://www.facebook.com/arquislma/posts/3652643368182789) aos fiéis a suspensão de batismos e matrimônios.

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Os administradores do Santuário de São José de Ribamar tiveram que enveredar pelas vias tecnológicas para manter o ritmo das atividades: as grandes mudanças que ocorreram em relação às celebrações das missas, novenas, terços e romarias transmitidas agora pelo Youtube, Facebook e Instagram.

Devoção e fé são laços que fortalecem os rearranjos mais inusitados possíveis para tentar manter o ritmo das atividades, sem perder a conexão de fé com os fiéis, devotos, romeiros e peregrinos. São ações que trazem as reconfigurações das dinâmicas de atuação das atividades do santuário de São José de Ribamar durante todo o período da pandemia.

Outro aspecto que merece destaque foi a utilização de recursos e ferramentas virtuais disponíveis para a continuidade das atividades dos organizadores da festa, internos e externos ao sistema paroquial.

Do lado de fora do santuário, uma estrutura de altar foi montada exatamente para que as missas com maior número de fiéis pudessem ser celebradas. Dentro da igreja, bancos foram demarcados para limitar o acesso das pessoas. Na entrada principal, álcool em gel foi disponibilizado para a higienização das mãos; além disso, o uso de máscara era obrigatório.

Percebeu-se a preocupação em seguir os protocolos de segurança sanitária determinados pelo órgãos de saúde, as cadeiras foram organizadas com o distanciamento de mais de um metro, poucos fiéis e devotos presentes à celebração, o altar improvisado sobre a escadaria da catedral e a missa realizada de forma campal.

No presente momento, ainda estamos pesquisando o espaço religioso de São José de Ribamar e estamos acompanhando, na medida do possível, as ações e planejamentos de retomada das romarias e peregrinações da festa durante e para o pós- pandemia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pandemia, novas dinâmicas surgiram, como o isolamento social, e as mídias digitais se tornaram o principal meio de realização das missas, eventos e algumas cerimônias dos rituais litúrgicos do santuário. Nos nove estados do nordeste brasileiro, as dinâmicas dos eventos ligados ao Turismo Religioso seguiram a mesma trilha: suspensão de eventos, remanejamento de cultos, celebrações e liturgias, cancelamento ou redirecionamento de procissões e peregrinações. Além disso, as instituições religiosas vêm

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gradativamente investindo em tecnologias de informação e comunicação (TIC), seja através de sites, blogs, Youtube, Instagram, entre outras mídias digitais que possibilitem novas formas de devoção, participação e interação com o sagrado.

De forma geral, nossas pesquisas têm demostrados que de celebrações festivas no modelo virtual imposto pela pandemia, é visto como complementar/suplementar, jamais substitutivo às práticas religiosas inerentes ao catolicismo populares, tais como: o sacrifício do peregrinar, do pagamento de promessas, o estar juntos e a troca de experiências, o tocar nas imagens dos santos protetores, entre outras que compõem a dimensão sagrada e afetiva presentes nas festividades e interações entre as devotos e, também, entre as outras pessoas e instituições que integram e dão suportes os eventos.

Nessa proposta, não pudemos apresentar a diversidade de festas religiosas que a REPETUR tem analisado em seus diferentes campos de atuação nos nove estados do Nordeste brasileiro. Pela necessidade do recorte, priorizamos uma festa (a de maior expressividade) dos quatro estados representados pelos membros da rede, autores desse artigo.

Sem a intenção de trazer respostas definitivas, visto que ainda estamos em fase de descobertas dentro deste universo tão complexo e, onde o trabalho de campo ainda tem sido majoritariamente de forma virtual, acreditamos que neste período de afrouxamento das medidas restritivas de isolamento social e/ou, volta ao “novo normal”, deve-se considerar as inúmeras realidades existentes, muitas das quais ainda não conhecemos. Com isso, esperamos que os trabalhos em andamentos possam contribuir com novas ideias para se pensar as atuais relações entre devoções religiosas e turismo no mundo pós-pandemia.

No propósito construir relatos e experiências que podem contribuir com a comunidade acadêmica e pesquisadores como um todo, acreditamos que, agora mais do que nunca, a REPTUR vai tomando forma ao longo das inúmeras práticas e possiblidades de pesquisa em tempo de pandemia, ao mesmo tempo que vem dialogando com os

“conhecidos formatos” virtuais e semipresenciais possíveis de continuarmos desbravando caminhos das pesquisas durante a pandemia.

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