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A ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA GERAÇÃO DE RENDA ATRAVÉS DE RESÍDUOS TÊXTEIS

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A ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA GERAÇÃO DE RENDA ATRAVÉS DE RESÍDUOS TÊXTEIS

The solidary economy for income generation through textile waste

Fonseca, Felipe; Graduando; Universidade do Estado de Santa Catarina, felipefonseca.fs@gmail.com 1

Schulte, Neide K; Doutora; Universidade do Estado de Santa Catarina, neideschulte@gmail.com 2

Resumo: O artigo que segue é um estudo de caso, resultado de pesquisa e da ação de extensão “Encontro de Saberes” do Laboratório Ecomoda da Universidade do Estado de Santa Catarina, que tem por finalidade capacitar pessoas para atuarem na economia solidária, gerando renda justa através do uso de resíduos têxteis.

Palavras chave: Economia Solidária; Resíduos Têxteis; Ecomoda.

Abstract: The article that follows is a case study, a result of the research and the extension action "Encontro de Saberes" of the Laboratory Ecomoda of the State University of Santa Catarina, whose purpose is to empower people to work in the solidarity economy, generating fair income through the use of textile waste.

Keywords: Solidary economy; Textile Waste; Ecofashion.

Introdução

O trabalho que segue apresenta uma pesquisa de natureza qualitativa, tendo como objeto de estudo a ação de extensão “Encontro de Saberes” do

1

Graduando no Bacharelado em Moda pela UDESC-SC. Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC – no Laboratório Moda, Artes, Ensino e Sociedade e extensionista no programa Ecomoda.

2

Graduada em Desenho e Plástica pela UFSM-RS, especialista em Ensino da Arte pela UNIVILLE e em Moda pela

UDESC-SC. Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC-SC e doutora em Design pela PUC-RJ. Atualmente é

professora titular no bacharelado em Moda, no PPGModa e coordena o Laboratório Ecomoda da UDESC.

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2 programa Ecomoda, da Universidade do Estado de Santa Catarina, integrando pesquisa (PIBIC) e extensão. O objetivo é apontar a economia solidária enquanto transformadora de resíduos têxteis da indústria de confecção do vestuário em renda justa, tendo o Encontro de Saberes como meio de qualificação. Para isso, faz-se uso de análise bibliográfica e entrevistas com algumas das participantes da ação.

Segundo Schulte (2015, p. 123), o Programa de Extensão Ecomoda UDESC foi criado com a proposta de contribuir com a sociedade na pesquisa de métodos e técnicas para reduzir os impactos socioambientais ligados à indústria do vestuário. Dentre as diversas ações realizadas consta o Encontro de Saberes, objeto de estudo desse trabalho.

O Encontro de Saberes é um grupo aberto e autogerido, que se reúne na primeira segunda-feira de cada mês, a fim de capacitar as participantes na produção de objetos de vestuário, acessórios e decoração, utilizando resíduos têxteis. As aulas são ministradas pelas próprias participantes e os temas são escolhidos coletivamente. O intuito é que as participantes do Encontro de Saberes compartilhem conhecimentos, que conheçam e trabalhem com os princípios da economia solidária, para estarem aptas a participar do Empório da Economia Solidária, no Mercado Público de Florianópolis.

Resíduos têxteis

Para fins dessa pesquisa, consideram-se resíduos têxteis as sobras de tecidos, fios e fibras não aproveitados no processo de confecção do produto de moda e que são descartados por não apresentar valor comercial significativo, sendo reservado ao setor de corte o maior número de rejeitos.

Desses retalhos de tecido gerados a partir das peças cortadas, cerca

de 12% (AMARAL; BARUQUE; FERREIRA, 2014), no Brasil, somam

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3 em um ano cerca de 175 mil toneladas. Dessa quantidade, apenas 20% são reaproveitados para a fabricação de novos produtos, como barbantes, mantas, novas peças de roupa e fios (TURCI, 2012 apud FREIRE e LOPES, 2013). São descartadas pelas empresas 139 mil toneladas, na maioria das vezes de forma inadequada, ao misturá-las com o lixo comum, inviabilizando o reaproveitamento e ainda transformando-as em agentes de contaminação de recursos naturais.

(SCHULTE, ALMEIDA E SALINAS, 2017, p. 65)

De acordo com dados da Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecção (ABIT, 2017), a indústria de confecção produziu aproximadamente 5,9 bilhões de peças, tendo 29 mil empresas formais espalhadas pelo país. Um relatório do Ministério do Trabalho (RAIS-MTE) mostra que a mesorregião da Grande Florianópolis possui cerca de 376 estabelecimentos de confecção de artigos de vestuário e acessórios com 11 ou mais vínculos empregatícios (FIESC, 2017).

A Economia Solidária

De acordo com Barbosa (2007, p. 21), a economia solidária surge como forma de amenizar o não-assalariamento de trabalhadores desempregados.

Trata-se de um meio alternativo à produção capitalista excludente que tem como princípios básicos a autogestão democrática, a posse coletiva dos meios de produção e a divisão da receita entre as associadas (SINGER, 2002, p. 10).

Lima (2007) defende que, historicamente, para a sociedade cabia ao

Estado responder às questões social e ambiental como instância reguladora

das assimetrias e conflitos da vida social. No entanto, com o crescimento de

tais crises e o desenvolvimento do neoliberalismo, na medida em que cresciam

as desigualdades, a exclusão social e as urgências ambientais, o Estado

perdeu sua força na resolução de tais crises.

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4 Nos anos 2000, com a ampliação da escuta aos movimentos sociais pelos partidos de esquerda, há um aumento no interesse pelo tema por parte do governo.

Com Luiz Inácio Lula da Silva na presidência da República, esse apoio à economia solidária ganha estatuto de política pública federal e ingressa no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego através da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) (...). Ao mesmo tempo, cria-se, no âmbito da sociedade o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). (BARBOSA, 2007, p. 22)

A SENAES foi extinta em 2016, apesar do forte apelo das instituições e movimentos sociais, tendo beneficiado, de acordo com o último relatório de gestão, 259,7 mil pessoas e apoiado 11,1 mil empreendimentos econômicos solidários que atuaram na geração de oportunidades de trabalho e renda com pessoas em situação de pobreza extrema, no período entre 2011 e 2015 (BRASIL, 2016). A extinção se deu por conta do plano de contenção de gastos do governo federal anunciado em 2015, reduzindo de 39 para 31 o número de pastas ministeriais.

O FBES estima que hoje existem aproximadamente 19,7 mil empreendimentos de economia solidária no país. Em Santa Catarina são 764, com envolvimento de quase 120 mil pessoas, sendo 50 destes localizados na mesorregião da Grande Florianópolis.

Entre os empreendimentos participantes do Fórum [Regional de Economia Solidária de Florianópolis], surgiu a demanda por um espaço fixo para comercialização de produtos da Economia Solidária.

A partir de tratativas com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, o IGEOF disponibilizou o box 46 no Mercado Público de Florianópolis e, em 15 de dezembro de 2015 foi inaugurado o Empório da Economia Solidária. (SCHULTE, ALMEIDA E SALINAS, 2017, p. 68)

O Empório da Economia Solidária é administrado por pessoas

associadas a empreendimentos solidários e dentre seus princípios estão o

fomento à cultura local, a promoção dos direitos humanos, o desenvolvimento

de projetos sociais e o desenvolvimento sustentável, buscando sempre utilizar

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5 materiais da região e materiais reciclados, priorizando o uso de resíduos têxteis e materiais de baixo impacto ambiental (SCHULTE, ALMEIDA E SALINAS, 2017, p. 68). A administração é horizontal, seguindo o regimento interno estabelecido democraticamente.

O Encontro de Saberes

A ação de extensão “Encontro de Saberes”, iniciada no segundo semestre de 2016, serviu de campo para pesquisa referente às possibilidades de transformação de resíduos têxteis em produtos de moda e decoração.

Trata-se de um grupo, autogerido, cujo propósito é a capacitação de pessoas para geração de renda, seja através da economia solidária ou em feiras livres, além do compartilhamento de experiências e experimentações técnicas.

Atualmente é frequentado, em grande maioria, por mulheres acima de 45 anos e sem emprego formal.

Algumas participantes do Encontro são, ou já foram, associadas à economia solidária, tendo seus produtos vendidos no Empório da Economia Solidária, ou ainda em feiras livres, como a Feira de Produtos do Saber organizada pelo grupo.

Dentre as participantes do grupo está Luiza de Souza, 63 anos, que

participa do Encontro de Saberes há cerca de um ano. No entanto, participou

da economia solidária durante dez anos em Porto Alegre e nos últimos 4

meses em Florianópolis. O dinheiro proveniente das vendas dos produtos serve

de complemento de renda familiar, tendo em vista que já não trabalha mais no

mercado formal, tendo trabalhado durante dez anos oferecendo cursos

gratuitos à comunidade, e na Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais. Luiza

participou do projeto que capacitou mulheres do bairro Jardim Zanelato, no

município de São José, criando o empreendimento solidário “Mulheres do

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6 Jardim”, que passou a integrar e comercializar seus produtos no Empório de Economia Solidária. Além disso, ministrou curso no projeto Entrelaçando Vidas no Presídio Feminino de Florianópolis, visando a capacitação, o empoderamento feminino e a autonomia para reinserção social. Ambos os projetos foram desenvolvidos pelo Programa de Extensão Ecomoda UDESC.

Outra participante do grupo é Ivete Blatt, 59 anos, no momento afastada tanto do Encontro quanto da economia solidária, tendo participado por pouco mais de um ano em ambos. Ivete conta que participava da economia solidária por acreditar na filosofia. Foi bibliotecária, enquanto funcionária pública e, após a aposentadoria, encontrou na economia solidária uma forma de passar o tempo. Seus produtos, de extrema qualidade técnica, são confeccionados a partir de resíduos da indústria e materiais provenientes de doações de amigos e familiares.

Zélia Gonçalvez, 59 anos, participa do Encontro há mais de um ano e está associada à Economia Solidária. Conta que ainda não produz o suficiente para ter um ganho considerável, mas que pretende atingir essa meta com brevidade. Ela relata certa dificuldade no início para entender o princípio da economia solidária e a importância da utilização de materiais reaproveitados, mas hoje, produz através de materiais doados e reaproveitados como calças velhas. Atualmente, está fora do mercado formal, mas já trabalhou por 10 anos no antigo banco Bamerindus.

Por fim, Roseneide da Rosa, 54 anos, participante do Encontro desde a

primeira edição, conta que está junto ao programa Ecomoda há cerca de cinco

anos e que o Encontro serviu de terapia para sua condição psicológica – tem

quadro de ansiedade, bipolaridade e depressão. No encontro, aprendeu a

bordar, fazer crochê e começou a vender produtos no Empório há pouco

menos de dois anos, tendo sido muito bem aceitos pelo público logo de início.

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7 Ela relata que sua aposentadoria por invalidez pode vir a ser motivo para ter que se afastar da economia solidária, mas que apesar disso não desistirá do Encontro, pois este é fonte de novidades e uma importante rede de apoio.

Considerações Finais

Observando dados como a faixa etária elevada, estacionada entre 45 e 70 anos, o gênero, majoritariamente feminino, e a condição social das participantes, o Encontro de Saberes se mostra como ferramenta de empoderamento, gerando renda e conferindo mais autonomia para as mulheres frente à exclusão do mercado capitalista (seja pela idade ou pela falta de qualificação profissional) ou ainda frente à situação familiar que lhe confere a necessidade do cuidado do lar.

Enquanto ação de extensão, cumpre a função social da universidade, colaborando para a formação crítica das cidadãs na lógica do cooperativismo.

Para as entrevistadas, o Encontro de Saberes é uma importante rede de apoio e capacitação para o aperfeiçoamento dos produtos.

Para além do social e econômico, se mostra fundamental na resolução do problema ambiental causado pelo descarte incorreto dos resíduos têxteis nos mais de 300 estabelecimentos de confecção na região, incentivando a transformação dos resíduos em insumos para geração renda.

Em 2018, o projeto Encontro de Saberes desenvolve atividade em conjunto com o Presídio Feminino de Florianópolis, para ampliar a capacitação das reeducandas trazendo oportunidades de geração de renda, corroborando para a redução do índice de reincidência criminal.

Na moda contemporânea os produtos artesanais feitos com criatividade

e qualidade têm cada vez mais valor e vem sendo procurados por usuários

atentos as novas tendências de comportamento e consumo.

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8 Referências

ABIT. Perfil do setor: dados gerais do setor atualizados em 2017, referentes ao ano de 2017. Disponível em:<http://www.abit.org.br/cont/perfil- do-setor>. Acesso em mai. de 2018.

BARBOSA, R. N. C. A economia solidária como política pública: uma tendência de geração de renda e ressignificação do trabalho no Brasil. São Paulo: Cortez, 2007

BRASIL. Secretaria Nacional de Economia Solidária. Relatório de Gestão do Exercício de 2015. Brasília, 2016. 84 p. Disponível em:

<ftp://ftp.mtps.gov.br/portal/acesso-a-informacao/auditorias/2015/somente- relatorio/senaes-relatorio-gestao.pdf>. Acesso em: 16 maio 2018.

FIESC (Santa Catarina). Estabelecimentos industriais - Têxtil & Confecção - Grande Florianópolis. 2017. Elaborado por Ministério do Trabalho.

Disponível em: <http://www.portalsetorialfiesc.com.br/indicadores>. Acesso em:

17 maio 2018.

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Responsabilidade Socioambiental e Sustentabilidade. In: Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Luiz Antonio Ferraro (org). Brasília:

MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007. Volume 2; 352p;

Disponível em: <https://goo.gl/YVqJJE> Acesso em: 25 out. 2017.

SCHULTE, N. K.; PULS, L. M. (org). Reflexões sobre moda ética: Contribuições do biocentrismo e do veganismo. Florianópolis: Udesc, 2015.

______.; ALMEIDA, V. V.; SALINAS, B. L. Resíduo têxtil: matéria-prima para produtos de economia solidária. Mix Sustentável, [s.l.], v. 3, n. 1, p.64-72, 12 mar. 2017.

Disponível em: <http://www.nexos.ufsc.br/index.php/mixsustentavel/article/view/1798>.

Acesso em: 16 maio 2018.

SINGER, P. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu

Abramo, 2002.

Referências

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