• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS FACE CURSO DE PEDAGOGIA. Kelli Cristina Frauches Boechat

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS FACE CURSO DE PEDAGOGIA. Kelli Cristina Frauches Boechat"

Copied!
48
0
0

Texto

(1)

CURSO DE PEDAGOGIA

Kelli Cristina Frauches Boechat Lílian Marques de Oliveira Nunes

EDUCAÇAO EM SAÚDE:

resgate histórico, conceitos e possibilidades de atuação do pedagogo

Governador Valadares 2013

(2)

EDUCAÇAO EM SAÚDE:

resgate histórico, conceitos e possibilidades de atuação do pedagogo

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Pedagogia, da Faculdade de Ciências, Educação e Letras – FACE, da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

Orientadora: Maria Cecília Pinto Diniz

Governador Valadares 2013

(3)

EDUCAÇAO EM SAÚDE:

resgate histórico, conceitos e possibilidades de atuação do pedagogo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau em Pedagogia pela Faculdade de Ciências, Educação e Letras da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

Governador Valadares, _____ de____________________de 2013.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________

Prof.ª Dra. Maria Cecília Pinto Diniz Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE

_______________________________________________________

Prof.ª Ms. Maria Paulina de Castro Freitas Sabbagh Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE

_______________________________________________________

Prof.ª Ms. Renata Greco de Oliveira Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE

(4)

Aos nossos mestres, por nos conduzir pelos caminhos do conhecimento e possibilitar construções antes impensadas, durante nossa trajetória escolar e acadêmica. Com carinho e gratidão, dedicamos-lhes este trabalho.

(5)

Agradecemos a Deus, por ter nos guiado e sustentado nessa caminhada, pela vida e por mais esta vitória.

Aos nossos pais, avós, tios e tias pelo amor e ensinamentos da vida.

Aos nossos sogros e sogras, cunhados e cunhadas pelo apoio e incentivo.

Aos nossos irmãos e demais familiares por fazerem parte de nossas vidas e festejar nossas conquistas.

Aos nossos esposos pelo carinho, dedicação e apoio durante essa jornada e pela compreensão e paciência nos momentos de ausência.

Aos nossos professores e professoras que, com generosidade, compartilharam seus saberes e contribuíram para a construção dos nossos conhecimentos, nos despertando a sensibilidade do olhar para o outro e favorecendo a nossa formação profissional e pessoal.

À nossa orientadora Maria Cecília, pelos conhecimentos partilhados, empenho, paciência, confiança e credibilidade a nós atribuída.

Às nossas colegas e ao Victor por compartilhar momentos de ansiedade, alegria e angústia, por partilhar saberes e tornarem essa caminha mais leve e agradável.

Enfim, agradecemos a todos aqueles que acreditaram em nosso potencial e, de alguma forma, contribuíram e nos ajudaram durante essa trajetória de formação no Curso de Pedagogia.

Nossos eternos agradecimentos.

(6)

Quando falo [amos] em educação como intervenção me [nos] refiro [erimos] tanto à que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a que, pelo contrário, reacionariamente pretende imobilizar a História e manter a ordem injusta.(FREIRE, 2005, p. 109).

(7)

A Educação em Saúde corresponde a uma educação ampliada e comprometida com a formação cidadã dos sujeitos, que envolve, dentre outros, direitos, enfrentamentos, políticas públicas e a participação da população para a superação dos problemas de saúde. Apesar de ser alvo de intensas discussões no meio acadêmico, principalmente quando focaliza a organização das políticas públicas, da inserção dos temas de saúde nos currículos escolares, dos PCN‟s considerarem a escola como uma instituição que pode potencializar a promoção da saúde dos escolares, e da implementação de programas do Ministério da Educação e da Saúde nas escolas, com vistas à inserção de ações e intervenções que instrumentalizem os alunos na busca e enfrentamentos dos problemas relativos à saúde, não foi encontrado material científico que apontem a contribuição do pedagogo na área da Educação em Saúde. O objetivo deste trabalho é apontar possibilidades de atuação do pedagogo na Educação em Saúde, além de elucidar os vínculos existentes entre Educação e Saúde, apresentar conceitos de Educação, Saúde, Educação em Saúde, Pedagogia e Pedagogo, caracterizar a educação formal, não formal, informal e Educação Popular. Para o seu desenvolvimento foi realizada uma pesquisa bibliográfica, buscando temas que abordavam Educação em Saúde, Educação, Saúde, Educação Popular, Pedagogia, Pedagogo e as áreas de atuação do pedagogo, e utilizadas as contribuições de Brandão (1984, 1985, 1996), Franco (2008), Freire (1989, 2005 e 2011), Gohn (2010), Libâneo (2008), Schall (1999, 2012) e Vasconcelos (2004), dentre outros autores que discutem o tema em questão, bem como temas correlatos. O pedagogo, como um profissional que, através de sua formação desenvolve uma postura crítico-reflexiva, a sensibilidade para perceber o outro e suas necessidades e/ou demandas, e ainda, a capacidade para atuar em diversos âmbitos, pode potencializar as ações concernentes a Educação em Saúde, atuando junto a uma equipe multidisciplinar e/ou em parcerias com profissionais da área da saúde, avaliando material didático e sugerindo intervenções que considerem o sujeito e seu contexto sócio-cultural-econômico. Para viabilizar e facilitar a atuação do pedagogo na Educação em Saúde é necessário, dentre outros, que os temas correlatos à saúde sejam inseridos nos currículos de formação desse profissional, seja de forma disciplinar e/ou interdisciplinar.

Palavras chaves: Educação em Saúde. Pedagogia. Pedagogo. Atuação.

(8)

INTRODUÇÃO ... 9

CAPÍTULO I ... 13

CONCEITOS E CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE ... 13

1.1 EDUCAÇÃO ... 13

1.1.1 Educação Popular ... 16

1.2 SAÚDE ... 17

CAPÍTULO II ... 19

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: Conceitos, abordagens e resgate histórico ... 19

2.1 A CONSTRUÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE ... 22

CAPITULO III ... 27

ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE ... 27

3.1 CONCEITOS E CONCEPÇÕES DE PEDAGOGIA E PEDAGOGO ... 28

3.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE ... 30

3.2.1 Educação formal ... 33

3.2.2 Educação não formal ... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

REFERÊNCIAS ... 44

(9)

INTRODUÇÃO

O interesse inicial nos temas sociais nos levou a ingressarmos no curso de graduação em Pedagogia. O objetivo do curso, perceptível durante as aulas, de despertar um sujeito crítico, político e pensante nos fez vislumbrar a pedagogia voltada para a mudança e transformação do sujeito e da realidade social. E ainda, a importância e o papel do pedagogo nesse processo.

Durante os primeiros períodos do curso de Pedagogia as disciplinas e os docentes, que trabalham os conteúdos curriculares sempre traçando um paralelo com o atual contexto social, reforçaram a ideia de conhecer um pouco mais sobre o tema Educação Social. Cada uma de nós vivia e partilhava olhares distintos para o que hoje sabemos ser o profissional do campo da Pedagogia. As atividades profissionais na secretaria do Curso de Mestrado em Ciências Biológicas da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) mostraram que as doenças negligenciadas1 estão fortemente relacionadas às questões sociais (BOECHAT e DINIZ, 2012). Já em estudos referentes aos discursos que permeiam o campo da Pedagogia, foi possível perceber diferentes discussões quanto à cientificidade dessa área do conhecimento, aos profissionais formados nesse campo, a relação teoria/prática e a identidade da Pedagogia e do profissional formado em cursos de Pedagogia (NUNES & SOUZA, 2012).

O contato, mesmo que superficial, com a área da saúde e, ainda, a chegada de uma nova professora no curso, graduada em Pedagogia e atuante na área de Saúde Coletiva, propondo como linha de pesquisa “Estudos dos aspectos epidemiológicos, históricos e sociais das doenças emergentes e reemergentes com vistas à promoção da saúde”, fizeram com que questionássemos as contribuições do profissional da Pedagogia para a área da saúde.

O tema Educação em Saúde não é relativamente novo. Pesquisas apontam que seu desenvolvimento, no Brasil, teve início a partir do final do século XIX e início do século XX.

Apesar de ser alvo de intensas discussões no meio acadêmico, principalmente quando focaliza a organização das políticas públicas (GOMES; MERHY, 2011), da inserção dos temas de saúde nos currículos escolares, dos PCN‟s terem a escola como uma instituição que pode

1 Termo “doenças negligenciadas” foi adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para se referir a doenças que, apesar de acometer milhares de pessoas no mundo, não despertam o interesse da indústria farmacêutica, pois atingem, em grande maioria, as populações de baixa renda. Como exemplos de doenças negligenciadas, podemos citar: dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase, leishmaniose, malária, tuberculose, entre outras. (Ministério da Saúde, 2010).

(10)

potencializar e favorecer a promoção da saúde dos escolares (DINIZ, OLIVEIRA E SCHALL, 2010), e da implementação do Programa Saúde na Escola (PSE), do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação, instituído em 2007 pelo Decreto Presidencial nº 6.286, não encontramos material científico que apontem a contribuição do pedagogo na área da Educação em Saúde. Instaurou-se, assim, a curiosidade sobre o tema Educação em Saúde.

Qual a relação da Educação com a Saúde? Como a Educação pode promover a Saúde?

Quem são os sujeitos envolvidos na Educação em Saúde? O que é Educação em Saúde? Qual seu contexto histórico? Como se dá a atuação do (a) pedagogo (a) na Educação em Saúde?

Quais as vertentes e perspectivas da Educação em Saúde? São questões, talvez já respondidas, mas que necessitam ser esclarecidas, transformando-se em um caminho para a prática.

A partir desses questionamentos delineamos o objetivo geral deste trabalho que é apontar possibilidades de atuação do pedagogo na Educação em Saúde. Para compreender melhor o tema e discuti-lo com mais propriedade os objetivos específicos buscam, além de elucidar os vínculos existentes entre Educação e Saúde, apresentar conceitos de Educação, Saúde, Educação em Saúde, Pedagogia e Pedagogo, caracterizar a educação formal, não formal, informal e Educação Popular.

Nesta tarefa utilizamos as contribuições de Brandão (1984, 1985, 1996), Franco (2008), Freire (1989, 2005 e 2011), Gohn (2010), Libâneo (2008), Schall (1999, 2012) e Vasconcelos (2004), dentre outros que discutem o tema em questão, bem como temas correlatos. A escolha dos autores se deu em virtude do paradigma no qual se situa nossa pesquisa, uma vez que esses, com maior ou menor grau de intensidade, trazem uma leitura crítica da realidade social, buscam a emancipação dos sujeitos e a transformação dessa realidade, reivindicam o lugar dos saberes populares nos processos educativos e na construção de novos saberes.

Partindo do pressuposto teórico de Paulo Freire (2011) na afirmação de que: “O homem [e as mulheres] deve [m] ser o sujeito de sua própria educação. Não pode [m] ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém.” (FREIRE, 2011, p. 34). Assim também acontece com a saúde. As práticas educativas de Paulo Freire são referências importantes para a saúde. Ajudam na compreensão do mundo e na apreensão da realidade através dos saberes e conhecimentos construídos nos espaços sociais.

De acordo com Arroyo (2009, p. 402): “Os vínculos entre educação e saúde e os setores populares têm se pautado ora pelas tentativas de revelar as verdades do povo, ora pelo confronto com as visões com que tem sido visto o povo em nossa cultura política.”

(11)

Corroborando com Paulo Freire e Miguel Arroyo, Diniz, Figueiredo e Schall (2009, p.

540) enfatizam “[...] a pouca atenção dos educadores e formuladores de programas e projetos aos conceitos prévios e às possíveis crenças que a população tem a respeito das questões de saúde.” Destacam, ainda, a falta de incentivo na elaboração de propostas educativas voltadas para esse tema.

Para o desenvolvimento deste trabalhado realizamos uma pesquisa bibliográfica tendo como base a perspectiva da teoria crítica. Inicialmente, além dos artigos, livros e teses disponibilizados por nossa orientadora, Maria Cecília Pinto Diniz, foi realizado um levantamento em teses, dissertações e artigos em sítios eletrônicos, a saber: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), ScientificElectronic Library Online (SciELO), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e Universidade Federal do Rio Grande de Sul (UFGRS), concernentes à Educação em Saúde. Posteriormente, realizamos leituras diversas, de livros, artigos, documentos legais, dentre outros, que abordavam Educação, Saúde, Educação Popular, Pedagogia, Pedagogo e as áreas de atuação do pedagogo.

A partir do agrupamento dos materiais passamos à sua leitura crítica. Primeiramente, realizamos uma leitura denotativa (ARANHA e MARTINS, 2005), visando à compreensão do sentido mais literal, direto e superficial dos textos. Nesta etapa procurávamos as ideias centrais, analisávamos o desenvolvimento do raciocínio do autor até as conclusões de cada texto. Em um segundo nível de leitura, interpretativo e crítico (ibidem), procuramos entender a proposta do próprio texto, verificar se o autor atinge ou não os objetivos a que se propôs e se trazia alguma contribuição para o assunto que abordamos em nosso estudo. A partir deste ponto conseguimos problematizar nossas leituras e buscar respostas para nossas inquietações, chegando ao ponto de redigir nosso texto.

Chegou a hora de compartilhar esse nosso momento. A pesquisa organiza-se em três capítulos, divididos da seguinte forma:

A introdução tem como objetivo permitir que o leitor identifique nossa trajetória, nosso percurso e os motivos pelos quais decidimos por esse tema.

O capítulo 1 aborda os conceitos e concepções de Educação, Educação Popular e Saúde à luz de autores e pesquisadores que discutem os temas em questão. Considerando ser necessário conhecer esses conceitos para compreender como se dá a Educação em Saúde.

O capítulo 2 dedica-se a estabelecer a relação entre a Educação e a Saúde, construída ao longo da história, destacando conceitos e concepções de Educação em Saúde, e a

(12)

apresentar as abordagens e vertentes da área da saúde adotadas pela Educação em Saúde em suas práticas e observações.

O capítulo 3 propõe-se a apresentar a conceituação de pedagogia e pedagogo e apontar possibilidades de atuação do pedagogo na Educação em Saúde, tanto na educação formal quando na não formal.

Por fim, nas considerações finais está a síntese final do trabalho, onde manifestamos nosso ponto de vista sobre o estudo proposto.

(13)

CAPÍTULO I

CONCEITOS E CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE

Apresentar o que é Educação e Saúde se faz necessário já que ambos são conceitos polissêmicos, apresentando vários sentidos e significados, e representam a base para o entendimento da Educação em Saúde. Destacar conceitos que relacionam os temas em questão com a cultura e o contexto histórico é importante, pois tanto a Educação quanto a Saúde sofrem influência social, cultural, política, econômica em diferentes momentos históricos. Dessa forma é possível compreender como se deu o movimento da Educação em Saúde no Brasil e sua construção histórica.

1.1 EDUCAÇÃO

Apesar de ser escola a primeira palavra que vem em mente quando se fala de educação, entendemos que esta não está restrita aquela.

Brandão (1996, p. 24) traz que a educação “[...] aparece sempre que há relações entre pessoas e intenções de ensinar-e-aprender.” A educação toma um sentido amplo, envolvendo hábitos, ideias e cultura de uma sociedade.

Corroborando com Brandão, Libâneo (2008, p.30) considera que a “[...] educação é um conjunto das ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais.”

Dessa forma, a educação está relacionada aos processos de ensino e aprendizagem ligados ao convívio social; não se restringe a escola e acontece em variados âmbitos e de diversas formas.

Brandão (1996, p. 7 e 9) afirma que,

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver,

(14)

todos os dias misturamos a vida com a educação. [...] Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece [...].

A partir dos autores acima destacados, podemos concluir que a educação é inerente à vida, ao homem e à mulher, e que ela acontece em diferentes espaços, como na igreja, em família, junto aos amigos, no clube, na escola, nos movimentos sociais, na rua, nos hospitais, etc. Podendo ser classificada como educação formal, educação não formal e educação informal.

A educação formal corresponde à educação com ensino estruturado e sistematizado, onde há a intencionalidade. Libâneo (2008, p. 88) define educação formal como sendo “[...]

aquela estruturada, organizada, planejada intencionalmente, sistemática. [...] Entende-se, assim, que onde haja ensino (escolar ou não) há educação formal.”

O autor apresenta como exemplos de educação formal a educação de adultos, a educação sindical, a educação profissional.

Gohn (2010, p. 16) caracteriza “[...] a educação formal como aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados [...]”. Em consonância com Libâneo, a autora destaca o caráter estrutural e intencional da educação formal quando afirma:

A educação formal requer tempo, local específico, pessoal especializado.

Organização de vários tipos (inclusive a curricular), sistematização seqüencial das atividades, disciplinamento, regulamentos e leis, órgãos superiores etc. Ela tem caráter metódico e, usualmente, divide-se por idade/ classe de conhecimento.

(GOHN, 2010, p. 19).

Devido à organização, a estruturação e sistematização do ensino os autores compartilham da importância de um profissional qualificado para atuar na educação formal. O que não é regra para a educação não formal.

Na educação não formal “[...] o grande educador é o “outro”, aquele com quem interagimos ou nos integramos.” (ibidem, p. 17).

De acordo com Libâneo (2008, p. 89) as atividades da educação não formal são desenvolvidas “[...] com caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização, implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas.”

Normalmente, são ações educativas que acontecem em movimentos sociais, nos meios de comunicação, centros culturais e de lazer como museus, cinemas, etc. O autor apresenta que a educação não formal acontece nas escolas através das atividades extraescolares, que promovem conhecimentos complementares.

(15)

Corroborando com Libâneo, Gohn (2010) define educação não formal como

[...] aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianos; [...] [...] trabalha e forma sua cultura política de um grupo. [...]. Ajuda na construção da identidade coletiva do grupo (este é um dos grandes destaques da educação não formal na atualidade); [...]. (ibidem, p. 16 e 20).

Já a educação informal corresponde a uma educação espontânea, que ocorre sem planejamento e sem sistematização, “[...] é aquela na qual os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização gerada nas relações e relacionamentos intra e extrafamiliares (amigos, escola, religião, clube, etc.).” (ibidem, p. 16). É a “[...] modalidade de educação que resulta do “clima” em que os indivíduos vivem, envolvendo tudo o que do ambiente e das relações socioculturais e políticas impregnam a vida individual e grupal.” (LIBÂNEO, 2008, p. 90).

Esse autor (2008, p. 91), destaca que “[...] a educação informal perpassa as modalidades de educação formal e não-formal.” Os espaços de convívio social, sejam:

família, escola, comunidade, trabalho, igreja, etc., “[...] formam um ambiente que produz efeitos educativos, embora não se constituam mediante atos conscientemente intencionais, não se realizem em instâncias claramente institucionalizadas, nem sejam dirigidas por sujeitos determináveis.” (ibidem, p. 91). Esses efeitos educativos refletem em conhecimentos e saberes que interferem diretamente nos modos de pensar, escolhas, condutas de vida e na construção da personalidade do indivíduo.

Tanto Libâneo quanto Gohn destacam o caráter não intencional da educação informal e relacionam-na com valores, cultura e sentimento de pertença.

A educação estabelece uma relação íntima com a cultura, está em todos os lugares e consiste em uma atividade de caráter permanente, pois como nos traz Freire (2011, p. 35):

“Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando.”

(16)

1.1.1 Educação Popular

Ao apresentar conceitos de educação faz-se necessário discorrer, mesmo que brevemente, sobre a Educação Popular, entendida como um eixo político da educação, que teve como seu principal precursor o educador Paulo Freire.

Como já tratado nesse capítulo, entende-se que a educação acontece em variados âmbitos e de diversas formas, é inerente a vida e está relacionada ao convívio social e a cultura, “[...] lugar social das idéias, códigos e práticas de produção e reinvenção dos vários nomes, níveis e faces que o saber possui.” (BRANDÃO, 1984, p. 12, grifo do autor).

É nesse contexto que emerge a Educação Popular. Uma educação voltada para as classes populares, caracterizada pelas lutas sociais, que considera os saberes construídos através das vivências e que busca um equilíbrio entre os saberes adquiridos e os saberes científicos.

Para Freire e Nogueira (1989), a educação popular, em uma primeira definição, é compreendida como sendo “[...] o esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares; capacitação científica e técnica [...]” (ibidem, p.19). Os autores deixam claro que há uma “[...] estreita relação entre escola e vida política.” (ibidem, p. 19). Onde também existe uma necessidade de poder para transformar, se organizar e se libertar da opressão.

Brandão (1985) traz que

A Educação Popular que pretende libertar o homem deve ser um instrumento que sirva ao trabalho político que semeia esta liberdade. Ela é a educação que busca o compromisso de servir à prática política dos subalternos, como um espaço a serviço de pensar e instrumentalizar esta própria prática. (ibidem, p. 21, grifo do autor).

A Educação Popular compreende uma forma, um modo de a educação acontecer, que busca, através da conscientização, “armar”, instrumentalizar as classes populares para que essas possam desenvolver um olhar crítico da realidade e aperfeiçoar as práticas de enfrentamento, de lutas por direitos negados e/ou negligenciados.

Vasconcellos (2004) nos apresenta que

A Educação Popular é um modo de participação de agentes eruditos (professores, padres, cientistas sociais, profissionais de saúde e outros) nesse trabalho político. Ela

(17)

busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupos envolvidos no processo de participação popular, fomentando formas coletivas de aprendizado e investigação, de modo a promover o crescimento da capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento. É uma estratégia de construção da participação popular no redirecionamento da vida social.

Um elemento fundamental do seu método é o fato de tomar, como ponto de partida do processo pedagógico, o saber anterior do educando. (ibidem, p. 71).

A Educação Popular não deve se basear em algo já pronto e definido, suas práticas e movimentos são construídos e compartilhados com os educandos, buscando, pela problematização, uma parceria e troca de saberes que favorece a conscientização e refletem em atitudes cidadãs, lutas por direitos e necessidades populares.

1.2 SAÚDE

Saúde originou de uma palavra latina, salute, que significa salvação, conservação da vida. O significado atribuído à saúde varia conforme o tempo e o contexto histórico-cultural de cada sociedade e está associado a valores, hábitos e estilos de vida. “Cada sociedade expressa o valor que dá à saúde por meio de políticas públicas que estabelecem propriedades e vão condicionar os recursos a ela destinados, influenciando os seus sistemas de cura e valorização da vida.” (SCHALL, 2010, p. 182).

Recentemente, o termo saúde não está associado apenas à ausência de doença e/ou dor. Estudos apontam que seu conceito é mais abrangente e envolve, entre outros, questões físicas, sociais, afetivas, emocionais, mentais, ambientais, políticas e culturais.

O conceito de saúde adotado como referência mundial é o assumido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, que apresenta a saúde como sendo “[...] a situação de perfeito bem estar físico, mental e social” (SEGRE, FERRAZ, 1997, p. 539). Este conceito é contestado por alguns pesquisadores, que o consideram utópico, por não ter como definir

“perfeição” e nem “bem-estar”, pois esses termos estão relacionados ao subjetivismo do sujeito e às relações que lhes são atribuídas, e: “Só poder-se-ia, assim falar de bem-estar, felicidade ou perfeição para um sujeito que, dentro de suas crenças e valores, desse sentido de tal uso semântico e, portanto, o legitimasse.” (ibidem, p. 539).

(18)

Corroborando com os autores Segre e Ferraz (1997), Júnior (2004) apresenta que o significado de

[...] bem-estar pode ser a noção subjetiva de sentir-se bem, não ter queixas, não apresentar sofrimento somático ou psíquico, nem ter consciência de qualquer lesão estrutural ou de prejuízo do desempenho pessoal ou social (inclusive familiar e laboral). Aí, bem-estar significa sentir-se bem e não apenas não se sentir mal.

(ibidem, p. 2).

Ainda, de acordo com Segre e Ferraz (1997), não se pode separar o físico do mental e do social. O homem e a mulher são sujeitos completos e complexos, e cada área, física, mental e social, interfere umas nas outras. Um exemplo disso são as doenças psicossomáticas, onde perturbações da mente fazem com que se materializem doenças no físico.

Todo homem e mulher, inseridos e comprometidos em uma sociedade, divergem, em algum momento, das posturas adotadas por essa. As divergências, na maioria das vezes, causam sofrimento, angústias e mal estar favorecendo o aparecimento de doenças como uma gastrite, por exemplo, que muitas vezes são tratadas com medicamentos, tomando como foco a doença e não o sujeito, o que acaba agravando o problema (ibidem).

Segundo Júnior (2004, p.3), a definição de saúde apresentada pela Organização Mundial de Saúde não corresponde a uma “[...] concepção ampla de saúde, mas apenas uma concepção de saúde humana.”

No relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde (VIII CNS), ocorrida em Brasília, no ano de 1986, a saúde é apresentada como um direito e o seu conceito é ampliado, passando a ser considerada como “[...] a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde.” (BRASIL, 1986, p. 4).

O relatório apresenta, ainda, que: “A saúde não é um conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas.” (ibidem, p. 4).

Diante do exposto, entende-se que a saúde é alvo de uma busca constante, que seu conceito é construído historicamente nas relações do sujeito com o meio físico, social e cultural, e está relacionado, além das questões biológicas e médicas, a questões sociais, ambientais, culturais, políticas e econômicas.

(19)

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: Conceitos, abordagens e resgate histórico

Educação e Saúde aparecem como termos isolados, onde a educação se encarrega dos processos de ensino-aprendizagem e a saúde do bem-estar físico, social e mental do indivíduo, não apresentando, do ponto de vista do senso comum, qualquer relação entre si.

No entanto, Schall e Struchiner (1999) nos apresentam que a educação e a saúde estão interligadas e aparecem de forma complementar quando o assunto em questão é Educação em Saúde.

A educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem diversas concepções, das áreas tanto da educação, quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições político- filosóficas sobre o homem e a sociedade. (ibidem)

Se considerarmos que a saúde é um bem que deve ser conquistado a todo o momento pela população e que nossas ações afetam nossa saúde e a saúde do coletivo, ainda, que a educação, através da conscientização e mobilização, oportuniza a transformação e instrumentaliza o indivíduo para desenvolver um olhar crítico da realidade e aperfeiçoar as práticas de enfrentamento, de lutas por direitos, podemos entender que a conquista da saúde pode ser aprendida e ensinada. Deparamos-nos, então, com a Educação em Saúde.

Vasconcelos (2004, p. 68) apresenta a educação em saúde como sendo “[...] o campo de prática e conhecimento do setor saúde que tem se ocupado mais diretamente com a criação de vínculos entre a ação médica e o pensar e fazer cotidiano da população.” Pode ser desenvolvida tanto na educação formal quanto na educação não formal e informal, se ocupa em orientar a construção de saberes e práticas relativas à saúde.

Diniz (2007, p. 7) entende a

[...] Educação em Saúde como sendo uma educação ampliada, que inclui políticas públicas, ambientes apropriados, diálogo e troca de saberes, reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da qualidade de vida.

(20)

A Educação em Saúde é entendida em seu sentido mais amplo onde envolve, além das questões relativas aos serviços de saúde, também questões sociais, políticas e culturais.

Gomes e Merhy (2011) nos relatam que muitas vezes a Educação em Saúde é entendida como uma forma de fazer com que o indivíduo desenvolva hábitos e práticas de higiene que evitam o aparecimento e/ou desenvolvimento de determinadas doenças. O que na verdade, tendo como base a educação popular, “[...] educar para a saúde é justamente ajudar a população a compreender as causas dessas doenças e a se organizar para superá-las.” (ibidem, p. 11).

As práticas da Educação Popular são referências importantes para a Educação em Saúde. Ajudam na compreensão do mundo e na apreensão da realidade através dos saberes e conhecimentos construídos nos espaços sociais. Os profissionais dessa área buscam atuar de forma significativa junto às classes populares no enfrentamento dos problemas de saúde.

Procuram, também, mobilizar e articular esse grupo na busca de estratégias que resultem em uma melhor qualidade de vida para todos os envolvidos.

Diniz (2007, p. 6) alerta quanto à importância de fazer a distinção do “[...] conceito de Educação em Saúde de outros como a saúde escolar e saúde do escolar.”

A Educação em Saúde tem sua ênfase colocada no processo educacional, enquanto que as outras duas expressões referem-se a práticas médicas dirigidas para uma população em idade escolar. A diferenciação aqui traçada não subentende que a ação de um pediatra, ou de um ortopedista não possa ter um caráter educativo, diz respeito à intenção primeira: um ato educacional ou um ato médico. (ibidem).

Schall e Struchiner (1999) destacam que, dentre as várias dimensões de atuação na área da Educação em Saúde, duas tendências orientaram as práticas e persistem atualmente: a tendência preventiva, que envolve a aprendizagem sobre as doenças e como evitá-las, e a tendência caracterizada pela promoção da saúde, que envolve fatores sociais que interferem na saúde. Dentro dessas duas tendências, destacam-se três tipos de abordagens adotadas da área da saúde, são elas: biomédica, comportamental e socioecológica.

“Na abordagem biomédica, a saúde é discutida em oposição à doença, o tratamento e a cura do corpo são privilegiados, [...] o olhar sobre a saúde e a prática médica é alicerçado na doença.” (MARTINS, SANTOS, EL-HANI, 2012, p. 252). Essa abordagem tem sido criticada por pesquisadores, pois as questões psicológicas, sociais e culturais, que interferem na saúde não são consideradas.

(21)

A abordagem comportamental “[...] está interessada principalmente em alterar os padrões individuais de exposição ao risco [...]”. (ibidem, p. 253). Nessa abordagem o foco é individual, onde o sujeito é protagonista e responsável por suas escolhas, hábitos e atitudes que interferem na sua saúde e na saúde de sua família, sugerindo uma mudança de comportamento. O uso de bebidas alcoólicas, a prática de atividades físicas, o hábito de fumar, o aleitamento materno, etc., são exemplo de ações individuais que refletem na saúde.

(ibidem).

Já a abordagem socioecológica está relacionada a uma visão coletiva de saúde, onde essa “[...] é entendida como o bem estar biopsicossocial e ambiental.” (ibidem, p. 253). Nessa abordagem as reações do sujeito e da comunidade “[...] frente às condições de risco ambientais, psicológicas, sociais, econômicas, biológicas, educacionais, culturais, trabalhistas e políticas [...]” (ibidem) são determinantes para a saúde. Todo o trabalho deve ser desenvolvido de forma coletiva, incentivando a participação da comunidade visando à promoção da saúde.

MARTINS, SANTOS, EL-HANI (2012, p. 253) apresentam que os principais objetivos das estratégias adotadas pela abordagem sociecológica são:

(i) reconhecer as pessoas como principal recurso para a obtenção de saúde, enfatizando, portanto, seus direitos e deveres no que concerne a ela; (ii) reorientar os serviços públicos e privados para a promoção da saúde, e não apenas para a prevenção e o tratamento das doenças; (iii) capacitar as pessoas de modo a permitir a aprendizagem sobre saúde durante toda a vida; (iv) propiciar condições para o desenvolvimento de habilidades individuais relativas à saúde; (v) orientar sobre os conhecimentos e as atitudes necessárias para reforçar a ação comunitária; (vi) criar espaços saudáveis etc.

É dessa forma que, atualmente, a área de saúde coletiva analisa a saúde e a doença como fenômenos associados às formas de organização da sociedade, sem destacar a importância da dimensão biológica, mas integrada à determinação social (MINAYO, HARTZ, BUSS, 2000).

Dentro da Saúde Coletiva, o tema Educação em Saúde tem sido alvo de intensas discussões, principalmente quando focaliza a organização das políticas públicas (GOMES;

MERHY, 2011). É um tema em constante movimento, pois sua conceituação, pressupostos filosóficos, teóricos e metodológicos sofrem alterações à medida que também ocorrem mudanças no contexto social, político e econômico de cada época (SILVA et al, 2010).

Portanto, para uma melhor compreensão da relação existente entre esses dois campos do

(22)

conhecimento, bem como das concepções e práticas desenvolvidas atualmente, faz-se necessário um resgate histórico da Educação em Saúde no Brasil e é o que faremos no item abaixo.

2.1 A CONSTRUÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE

Historicamente, a área da Educação em Saúde começa a ser sistematicamente desenvolvida no Brasil a partir do final do século XIX e início do século XX. As práticas de educação em saúde tiveram início em virtude das necessidades de domínio sobre as epidemias de varíola, peste, febre amarela, tuberculose, entre outras, que nos grandes centros urbanos acarretavam transtornos para a economia agroexportadora. Denominada “polícia sanitária”, por influência de uma doutrina, com mesmo nome, desenvolvida na Alemanha, as práticas de saúde eram autoritárias e suas ações tinham como base a higiene e a imposição de normas e medidas de saneamento, que desconsideravam as relações entre as doenças e as condições de vida (SILVA et al, 2010, p. 2540).

É nesta época que, de acordo com Oliveira (2000) apud Silva et al (2010), o médico Oswaldo Cruz, então como Diretor Geral de Saúde Publica, começa a enfrentar as epidemias no Estado do Rio de Janeiro. Através das brigadas sanitárias, compostas por operários de limpeza pública e mata mosquitos, normalmente acompanhados de soldados da polícia, visitavam casas e ruas, “[...] desinfetando, limpando, exigindo reformas, interditando prédios, removendo doentes.” (ibidem, p. 2541).

Reduziam a determinação do processo saúde-doença à dimensão individual ao propagar que os problemas de saúde eram decorrentes da não observância das normas de higiene e que as mudanças de atitudes e comportamentos individuais garantiriam a resolutividade. Fundamentavam-se em práticas e discursos coercitivos e normativos, consideravam a população culpada pelos males sofridos e restringiam-se somente a entrega de folhetos avulsos instrucionais sobre prevenção das doenças (DINIZ, 2007; SILVA et al, 2010). Fato que, de acordo com Silva et al. (2010), gerou indignação e protestos de vários escritores, como Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, que passaram a “[...] denunciar a falta

(23)

de atenção do governo, preocupado apenas com o colono estrangeiro, cuja mão de obra era usada nas culturas cafeeiras [...]” (ibidem, p. 2541).

Diante dos protestos, surgiram campanhas e serviços voltados para o saneamento, cujas ações mostraram impacto em algumas doenças como a febre amarela, mas não alcançaram o mesmo êxito em doenças mais agudas como a tuberculose (ibidem, p. 2542).

Segundo Silva e colaboradores (2010, p. 2542) “[...] o fortalecimento econômico do complexo cafeeiro e o processo de industrialização fez surgir neste período uma nova concepção de serviços de saúde, denominada saúde pública.” Foi então que na década de 1920 surge uma nova prática de educação voltada para a saúde, a Educação Sanitária. Esta continuava associada às campanhas de controle das grandes endemias infecto-parasitárias e tinha como foco central a relação do homem com o meio ambiente, se caracterizava por uma prática normatizadora, higienista e de orientação vertical, onde as práticas continuavam sendo impostas pelas elites políticas e econômicas (SILVA et al, 2010; SCHALL, 1999). Orientada pela perspectiva preventiva e com propósitos de higienização social aplicava regras e normas para prevenção de doenças, seu conteúdo era estruturado nas ciências biológicas e não consideravam as condições e realidades de vida da população (REIS, 2006).

A chamada Educação Sanitária acabou por cristalizar a ideia de que a Educação em Saúde “[...] tem sido um instrumento de dominação, de afirmação de um saber dominante, de responsabilização dos indivíduos pela redução dos riscos à saúde.” (ALBUQUERQUE &

STOTZ, 2004, p. 206), sem ser capaz de construir a integralidade e nem de atuar de forma ampla na promoção da saúde.

Com a propagação dos ideais da Escola Nova, as crianças e adolescentes passaram a ter atenção especial e receber, através das escolas e postos de saúde, os princípios básicos de higiene para a manutenção do corpo saudável (SILVA et al, 2010, 2542). As ações da Educação em Saúde deixaram de ser desenvolvidas pelas equipes das brigadas sanitárias e passaram às professoras e educadores sanitários, que eram treinados para educar a população escolar.

Segundo Silva et al (2010) na década de 1940 houve uma transformação das práticas pedagógicas, passando a utilizar técnicas audiovisuais e recursos sofisticados de tendência tecnicista, com o objetivo de auxiliar as ações verticais e campanhas de saneamento e combate sanitário na modificação do comportamento das populações vulneráveis às doenças endêmicas. Nessa ocasião, o foco da educação não se restringe mais apenas às crianças e

(24)

adolescente, começa-se a considerar que o adulto também pode sofrer mudança comportamental.

Em 1967, durante o regime militar, as práticas de educação voltadas para a saúde, ainda denominadas educação sanitária, passam a ser denominadas Educação em Saúde e sua equipe, antes formada por educadores, começa a ter a participação de profissionais da saúde (SILVA et al, 2010). A estratégia era produzir uma população saudável e bem educada, já que isso representava a riqueza do país. O campo da Educação em Saúde ainda correspondia ao controle sobre os sujeitos, mas passa a encontrar resistência e insatisfação da população, que ao longo da década de 1970, se organizaram em movimentos sociais onde dialogavam intelectuais e populares (DINIZ, 2007).

De acordo com Vasconcelos (2004, p. 69), Silva et al (2010) e Gomes e Merhy (2011), os serviços comunitários de saúde desvinculados do Estado começaram a surgir, junto aos movimentos sociais emergentes. Nesses serviços os profissionais da saúde passaram a se relacionar com a população e ter uma maior proximidade com o processo de cura e adoecimento. Inspirados pelo método educacional sistematizado por Paulo Freire, muitos profissionais começaram a repensar suas práticas na busca de uma orientação mais global para enfrentar as questões de saúde, tomando como base o diálogo entre o saber acadêmico e o saber popular. Configura-se a Educação Popular em Saúde.

Silva et al (2010) destaca que:

A educação em saúde, baseada numa relação dialógica entre o conhecimento técnico-científico e a sabedoria popular, caracterizada pela livre participação das classes populares com o direito de pensarem, produzirem e dirigirem o uso de seus saberes a respeito de si próprias e de sua saúde, permitiu novos olhares, olhares estes que possibilitaram abordagens mais eficientes em defesa da saúde e da vida da população (ibidem, p. 2545).

Este período representou uma ruptura com a tradição autoritária e normatizadora da Educação Sanitária e fez surgir à preocupação com o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos, com a constituição de sujeitos sociais capazes de reivindicar seus interesses (DINIZ, 2007).

A década de 1980 foi marcada por conquistas na área da saúde. Uma delas foi a criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) e logo em seguida o Sistema Único de Saúde, que teve por base as propostas surgidas na VIII Conferência Nacional de Saúde, e que “[...] garantiu o atendimento universal nos serviços de atenção

(25)

básica e rede de hospitais públicos e conveniados [...]” (GOMES; MERHY, 2011, p. 10). E ainda:

A Constituição Federal de 1988 afirma, no seu art. 196, que a saúde é um direito universal e responsabiliza o Estado pela realização de políticas públicas intersetoriais que a garantam. Com ela, foi criado o Sistema Único de Saúde, que foi regulamentado com a Lei nº. 8.080 16, de 19 de setembro de 1990, conhecida como Lei Orgânica da Saúde, que definia como alguns dos princípios e diretrizes do SUS:

universalidade; integralidade; eqüidade; participação da comunidade;

descentralização político-administrativa; regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde. (ibidem, p. 10).

Na década de 1990 a Resolução nº 41 de 03/03/1993, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) apresenta que “[...] deve ser a Educação para a Saúde considerada estratégia imprescindível para a promoção da saúde, prevenção das doenças e para a consolidação do SUS, nos níveis Federal, Estadual e Municipal”. (BRASIL, 1993). Estreitaram-se, assim, os laços já existentes entre a Educação e a Saúde, ao reafirmarem que a Educação em Saúde constitui um conjunto de ações articuladas, envolvendo questões de políticas públicas, que visem uma melhor qualidade de vida do indivíduo, bem como do grupo social em que está inserido.

Silva et al (2010) e Gomes e Merhy (2011), expõem que mesmo após duas décadas de sua criação o SUS ainda enfrenta desafios para sua efetiva expansão e implementação, mas é importante destacar o direito à saúde e a participação social conquistado pela população.

A educação popular passou a nortear o trabalho dos profissionais da saúde engajados na luta pela democratização do Estado. Atualmente, duas interfaces de relação educativa configuram o quadro dos serviços de saúde e a população: a educação tradicional, através dos meios de comunicação em massa, que recomenda a aquisição de hábitos saudáveis (como por exemplo, deixar de fumar e fazer exames preventivos), e a Educação Popular em Saúde, através da convivência cotidiana dos profissionais da saúde com a população.

(VASCONCELOS, 2004, p. 70).

De acordo com Vasconcelos (2004) a aproximação dos profissionais da saúde com o movimento da Educação Popular possibilitou, entre outros avanços, a consideração do saber dos familiares e doentes bem como a desconstrução do autoritarismo dos doutores e das elites políticas e econômicas, mas, para o autor, ainda é necessário encontrar caminhos administrativos e políticos que permitam a generalização das práticas da educação popular no SUS. Diniz, Figueiredo e Schall (2009) compartilham com Vasconcelos (2004), quando

(26)

argumentam que ainda é preciso refletir sobre a pouca atenção dos educadores e formuladores de programas e projetos aos conceitos prévios e às possíveis crenças que a população tem a respeito da saúde, além da falta de incentivo na elaboração de propostas educativas voltadas para esse tema.

A partir das ideias apresentadas até aqui, o emprego da expressão Educação em Saúde pode ser atribuído como sendo uma educação ampliada e comprometida com a formação cidadã dos sujeitos, onde o autoritarismo médico dá lugar ao diálogo e troca de saberes, objetivando uma aproximação entre os profissionais da saúde e público atendido, bem como a

“[...] reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da qualidade de vida.” (DINIZ, 2007, p.7).

(27)

CAPITULO III

ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE

São muitos os pesquisadores que apresentam conceitos e concepções sobre Pedagogia e Pedagogo, gerando variados discursos que orientam e produzem as práticas pedagógicas.

Decorrente disso, pesquisar sobre esses temas é necessário para compreender a Pedagogia como campo científico, o papel do Pedagogo e as demandas de formação desse profissional, bem como suas diversas áreas de atuação.

Dentre as conceituações e concepções existentes, serão adotadas aquelas que se aproximam ao campo teórico de nossa pesquisa, pois através dessas serão apontadas possíveis práticas de Educação em Saúde a serem mediadas pelo pedagogo na educação formal e não formal.

O trabalho da Educação em Saúde é realizado na perspectiva da Educação Integral, onde entendemos que não há a dicotomia entre a educação formal e não formal. Os trabalhos desenvolvidos nessa área devem abranger a formação integral do sujeito, partindo de seu contexto sociocultural, suas vivências e saberes, com vista a oportunizar, através do confronto entre os saberes vividos e os saberes científicos, a autonomia dos sujeitos no enfrentamento e na busca de soluções para as questões que interferem na saúde individual e coletiva do grupo, que vão desde hábitos, valores, mudanças comportamentais, políticas públicas, econômicas, sociais, culturais, ambientais, dentre outras.

A separação entre educação formal e não formal, apresentada nesse trabalho, é, apenas, para que o leitor possa identificar as possibilidades de atuação do pedagogo, na Educação em Saúde, dentro desses dois âmbitos da educação.

(28)

3.1 CONCEITOS E CONCEPÇÕES DE PEDAGOGIA E PEDAGOGO

Existem muitas maneiras de compreender e conceituar Pedagogia e Pedagogo. Neste trabalho, serão utilizadas as contribuições de Franco (2008) e Libâneo (2008) na definição de ambos os termos.

Libâneo (2008) diz que a Pedagogia existe desde que houve a necessidade de cuidar da educação de crianças. Porém, a sua discussão enquanto ciência só surgiu muito tempo depois.

De acordo com Mazzotti (1998) a Pedagogia, condição reflexiva da prática educativa, ora é tomada como tecnologia, ora como ciência, ora como filosofia. Nesta pesquisa, serão usadas abordagens que a consideram como ciência.

Após criticar a redução e a simplificação da Pedagogia a um conjunto de técnicas, Libâneo (2008, p. 30) conclui que: “Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos da configuração da atividade humana.” O autor, além de compreender a Pedagogia como uma ciência que estuda de forma sistemática o fenômeno educativo, diz que a sua ocupação é a “educação intencional”. “Como tal, investiga os fatores que contribuem para a construção do ser humano como membro de uma determinada sociedade, e os processos e meios dessa formação.” (ibidem, p.33, grifo nosso). Ou seja, a Pedagogia lida diretamente com a formação humana, considerando a sociedade na qual o sujeito está inserido.

Franco (2008) define a Pedagogia como ciência da educação que tem como objeto de estudo a práxis educativa e atribui a ela um papel político com vistas à transformação social.

Para a autora, “[...] o objeto da pedagogia, [...], será o esclarecimento reflexivo e transformador dessa práxis.” (ibidem, p.85, grifo da autora). Desse modo, ela superará a dualidade entre ser arte e ser ciência, pois, transformará “[...] a arte da educação – o saber- fazer prático intuitivo – em ação educativa científica, planejada, intencional.” (ibidem, p.86).

Ambos os autores compreendem a Pedagogia como ciência que tem como objeto de estudo a educação enquanto ação intencional. Libâneo (2008) discursa sobre o caráter investigativo da Pedagogia como meio de intervenção na formação humana de acordo com a sociedade na qual os sujeitos estão inseridos. Nesta pesquisa, será feita a opção pela concepção e conceituação de Pedagogia de Franco (2008) devido ao entendimento de que a autora propõe o seu resgate enquanto ciência crítico-reflexiva; ciência da práxis, para a práxis

(29)

e a retomada da responsabilidade social da prática. E ainda, por suas discussões se situarem no paradigma adotado nesta pesquisa.

Assim como não há uma única maneira de compreender e conceituar Pedagogia, inexiste um conceito de pedagogo que abranja todas as concepções e discussões sobre esse termo.

Para Libâneo (2008, p.33, grifo nosso):

[...] pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica.

A partir do entendimento de que a Pedagogia enquanto ciência se ocupa da educação intencional, é possível afirmar que, para Libâneo (2008), Pedagogo é o profissional que planeja e conduz ações intencionais concernentes ao processo ensino-aprendizagem, nas diversas modalidades e manifestações da prática educativa, de acordo com os ideais de formação humana estabelecidos por uma sociedade em determinada época.

Discutindo, também, sobre Pedagogo, Franco (2008) afirma:

Esse profissional deverá ser investigador educacional por excelência, pressupondo, para esse exercício, o caráter dialético e histórico dessas práticas. Assim, o pedagogo será aquele profissional capaz de mediar teoria pedagógica e práxis educativa e deverá estar comprometido com a construção de um projeto político voltado à emancipação dos sujeitos da práxis na busca de novas e significativas relações sociais desejadas pelos sujeitos (ibidem, p.110, grifo nosso).

A partir da conceituação de Pedagogia como ciência da educação, Franco (2008) defende que o profissional Pedagogo deverá ser um cientista educacional. A autora busca ampliar a compreensão de que a atividade pedagógica não se resume à atividade docente e afirma: “O fazer pedagógico é inevitavelmente um fazer investigativo.” (ibidem, p.115). O Pedagogo será o profissional que relacionará teoria e práxis na busca pela transformação social.

Não há dúvidas de que Pedagogo é o profissional que lida com processos ensino- aprendizagem, planejando e conduzindo ações intencionais. Libâneo (2008) amplia o campo de atuação do Pedagogo ao dizer que esse profissional atua em várias instâncias da prática educativa. Franco (2008) orienta que o profissional Pedagogo tenha sua atenção voltada para a dimensão política da práxis pedagógica e para os sujeitos da práxis.

(30)

Entendemos assim que o Pedagogo é o profissional da educação que investiga a problemática educativa, planeja e conduz processos de ensino-aprendizagem, mediante ações intencionais; e que, sobretudo, precisa ter ou desenvolver senso crítico, postura reflexiva, sensibilidade e respeito ao outro, respeito aos diferentes saberes e comprometimento político, aonde quer que se dê sua atuação; tendo como objetivo a transformação social.

Fazemos nossas as palavras de Paulo Freire:

É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é possível, que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos oco [sic] de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se de formação de mão de obra técnica. (FREIRE, 2005, p. 79, grifo do autor).

3.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Como já mencionado no capítulo 2, a educação não está restrita ao ambiente escolar.

Ela acontece nas relações sociais onde há processos de ensino-aprendizagem. Sendo a ocupação da Pedagogia a educação, enquanto ação intencional, e o Pedagogo o profissional que investiga a problemática educativa, planeja e conduz processos de ensino-aprendizagem mediante ações intencionais, é possível afirmar que a educação formal e não formal e os espaços escolares e não escolares são âmbitos e áreas de atuação do pedagogo. Destacamos como espaços de atuação desse profissional a escola, ONG‟s, empresas, hospitais, dentre outros. Todo local onde há o processo ensino-aprendizagem com intencionalidade constitui um ambiente de atuação do pedagogo.

Essa ideia está presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN‟s) para o Curso de Graduação em Pedagogia, no artigo 2º, quando estas se aplicam

[...] à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (BRASIL, 2006).

E ainda, quando esse mesmo documento se refere às aptidões necessárias ao egresso do curso de Pedagogia em seu artigo 5º, inciso IV: “trabalhar, em espaços escolares e não-

(31)

escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo;” (ibidem). As DCN‟s, apesar de não dizer quais são as “outras áreas” as quais elas se referem, apontam para a amplitude do campo de atuação do pedagogo ao indicar que são áreas nas quais os conhecimentos pedagógicos são necessários. Além disso, dizem claramente que o pedagogo deve estar apto para atuar em espaços escolares e não escolares.

Libâneo (2008) define dois âmbitos de atuação do pedagogo, sendo eles: o escolar e o extraescolar. Como ações pedagógicas escolares o autor cita as seguintes atividades:

a) a de professores do ensino público e privado, de todos os níveis de ensino e dos que exercem atividades correlatas fora da escola convencional;

b) a de especialistas da ação educativa escolar operando nos níveis centrais, intermediários e locais dos sistemas de ensino (supervisores pedagógicos, gestores, administradores escolares, planejadores, coordenadores, orientadores educacionais etc.);

c) especialistas em atividades pedagógicas paraescolares atuando em órgãos públicos, privados e públicos não-estatais, envolvendo ações populares, educação de adultos, clínicas de orientação pedagógica/psicológica, entidades de recuperação de deficientes etc. (instrutores, técnicos, animadores, consultores, orientadores, clínicos, psicopedagogos etc.) (ibidem, p.58-59).

É notório que Libâneo (2008) expande as práticas pedagógicas escolares e o próprio conceito de escola, ao mencionar atividades que acontecem fora do espaço escolar, mas que, de algum modo, estão relacionadas a esse espaço.

Como ações pedagógicas extraescolares, o autor cita as atividades de:

a) formadores, animadores, instrutores, organizadores, técnicos, consultores, orientadores, que desenvolvem atividades pedagógicas (não-escolares) em órgãos públicos, privados e públicos não-estatais, ligadas às empresas, à cultura, aos serviços de saúde, alimentação, promoção social etc.;

b) formadores ocasionais que ocupam parte de seu tempo em atividades pedagógicas em órgãos públicos estatais e não-estatais e empresas referentes à transmissão de saberes e técnicas ligados a outra atividade profissional especializada. [...]. (ibidem, p.59, grifo nosso).

Então, o pedagogo pode atuar, também, como formador, animador, instrutor, organizador, consultor e orientador, mediando e desenvolvendo práticas pedagógicas não escolares relacionadas a diversos setores, dentre eles o setor saúde.

Os conhecimentos pedagógicos, aos quais o pedagogo tem acesso ao longo do Curso de Graduação em Pedagogia, o possibilita refletir e agir sobre/na educação considerando sua

(32)

complexidade e particularidade e buscar uma compreensão global e unitária do fenômeno educativo.

Para Libâneo (2008), “[...] o campo do conhecimento pedagógico corresponde ao estudo científico e filosófico da educação e aos conhecimentos teóricos e práticos de sua aplicação.” (ibidem, p. 57). O autor agrupa esses conhecimentos em três áreas, a saber: a dos

“conhecimentos científicos e filosóficos da educação” compreendidos em disciplinas como Filosofia da Educação, Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, História da Educação, etc.; a dos “conhecimentos específicos da atividade propriamente pedagógica e que constituem a referência básica do tratamento do fenômeno educativo” presentes na didática, na política educacional, dentre outras, e a dos “conhecimentos técnico-profissionais específicos conforme o âmbito da atuação profissional” abordados em disciplinas como currículo, orientação educacional, etc.

Os conhecimentos científicos-filosóficos e teóricos-práticos que compõem o conhecimento pedagógico possibilitam ao pedagogo, graduado no Curso de Pedagogia, investigar, refletir e agir sobre/no campo educacional compreendendo suas várias dimensões (social, histórica, cultural, política e econômica), bem como considerando os sujeitos do processo ensino-aprendizagem em sua integralidade, ou seja, como sujeitos sociais, históricos, culturais, politizados, vivendo em contextos econômicos diferenciados, com modos de pensar, ser e sentir diferentes e, com saberes diversificados.

Esses conhecimentos são imprescindíveis em todos os âmbitos e espaços onde acontecem processos de ensino-aprendizagem, ou seja, onde há ações educativas intencionais.

Dessa forma, a atuação do pedagogo faz-se necessária, também, no campo da saúde, mais especificamente, na Educação em Saúde, uma vez que seus conhecimentos são essenciais a esse campo no que diz respeito aos modos pelos quais se dão as ações educativas em saúde e aos modos como são considerados e abordados os sujeitos dessa educação. Assim, a partir deste ponto ousamos em tentar mostrar o que o pedagogo pode realizar nas suas áreas de atuação. Em alguns momentos não conseguimos nos furtar a trazer bons exemplos, mas mantivemos como base nossa interpretação a cerca do que foi lido sobre a atuação do pedagogo na Educação em Saúde.

(33)

3.2.1 Educação formal

A educação formal está relacionada ao ensino planejado intencionalmente, estruturado, sistematizado e organizado que, normalmente, acontece em ambientes escolares e requer profissional qualificado para atuação. É também nesse ambiente e estrutura que as ações de Educação em Saúde acontecem.

Em 1971, a temática da saúde foi introduzida formalmente na educação pela Lei nº 5.692, denominada como Programa de Saúde, tendo como objetivo “[...] „levar a criança e o adolescente ao desenvolvimento de hábitos saudáveis quanto à higiene pessoal, alimentação, prática desportiva, ao trabalho e ao lazer, permitindo-lhe a sua utilização imediata no sentido de preservar a saúde pessoal e a dos outros.‟” (PARECER CFE nº 2.264/74 apud BRASIL, 1998, p. 258). Em documento de 1977, o Conselho Federal de Educação reafirma que o Programa de Saúde não deve se constituir como disciplina, mas como um fundamento do processo formativo, devendo estar correlacionado aos demais conteúdos curriculares, especialmente Ciências, Estudos Sociais e Educação Física (BRASIL, 1998).

A relação saúde-escola volta a ser revista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), artigo 4º inciso VIII, que estabelece como dever do Estado, referente à educação escolar pública, a garantia de: “atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;”. Ou seja, cabe ao governo público desenvolver programas que possam complementar, e não substituir, as ações de amparo à saúde dos escolares de instituições de ensino públicas, nessa etapa da educação básica, bem como nas demais áreas citadas.

Na busca de atender ao que está previsto na LDBEN 9394/96 que o governo federal institui, em 2007, através do Decreto Presidencial nº 6.286, o Programa Saúde na Escola (PSE) 2. Nesse programa, Saúde e Educação, bem como seus profissionais, articulam-se na tentativa de proporcionar melhoria da qualidade de vida dos educandos, através “[...] de ações de promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos à saúde e de atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de

2 Programa do Ministério da Saúde (MS) e do Ministério da Educação (MEC), articulado pelo Governo Federal na tentativa de construir políticas públicas intersetoriais para alcançar os objetivos previstos pelo Estado no cumprimento do seu dever.

Referências

Documentos relacionados

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

Com relação ao CEETEPS, o tema desta dissertação é interessante por se inserir no Programa de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), sob a tutela da Coordenação de

Destaca-se, também, a intensa utilização desse sistema de ensino pelas empresas, o que caracteriza o que se chama de Educação a Distância Corporativa. É visível o

50, § 1º, da Lei 9.784/1999; C: incorreta, pois nem sempre o princípio da segurança jurídica tem o poder de impedir a anulação de atos administrativos ilegais; como regra, tais

Nesta perspectiva algumas contribuições, supracitadas neste trabalho, fundamentam ideologias de uma literatura (experimentada tanto pelas crianças quanto

A prática de exercício físico na terceira idade se faz necessário, pois e nesta fase que há uma grande perda na parte óssea, no equilíbrio e perda de massa muscular,

Para a Organização Mundial da Saúde a atividade física regular pode auxiliar numa vida mais saudável e na ausência de diversos fatores de risco para o desenvolvimento de

Mas, de acordo com Savelsbergh e Netelenbos (1992) “...na população de surdos as características motoras investigadas indicam existir pouca diferença entre crianças com