• Nenhum resultado encontrado

A MULHER NEGRA COMO EMPREGADA DOMÉSTICA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A MULHER NEGRA COMO EMPREGADA DOMÉSTICA"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

A MULHER NEGRA COMO EMPREGADA DOMÉSTICA

Flávia Monteiro Carvalho Barbosa. Universidade Veiga de Almeida. Monteiroflavia3@gmail.com.

RESUMO:

O Brasil foi o último país do continente a abolir o trabalho escravo A abolição da escravatura foi gradual e começou com a Lei nº 850, de 4 de setembro de 1850 (Lei Eusébio de Queiros) que proibiu o tráfico negreiro. A abolição não modificou as estruturas hierárquicas determinada pela lógica escravista. Embora houvesse projetos de amortecimento da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, venda ou aluguel de terras para os negros, alfabetização nas vilas e cidades, nada foi implementado, e os negros largados à própria sorte. O pós-abolição não trouxe rupturas significativas na vida social, estrutural e cultural de um determinado grupo. Surgiram novos arranjos para que as mulheres negras continuassem a exercer as mesmas atividades domésticas do período da escravatura, não como escravas domésticas, e sim como, empregadas domésticas. No período pós abolição o serviço doméstico assume características muito próximas da estrutura escravista vigente no período anterior e o trabalho doméstico, exercido quase exclusivamente por ex escravas se torna a única opção de trabalho para essas mulheres negras. A estrutura social do trabalho era diversificada e muitas mulheres também trabalhavam em troca de comida e moradia. A prestação de serviço era diária ou mensal sempre pautadas na informalidade, apadrinhamento e nos laços de favor. O problema da pesquisa é aprofundar o estudo da situação atual da mulher negra empregada doméstica e com objetivo de pesquisar a efetividade da PEC 150/2015.O método de abordagem utilizado é qualitativa e a técnica de pesquisa será realizada pela revisão sistemática da literatura disponível, ou seja, fontes primárias de informação bibliográficas referentes ao assunto. Em relação à legislação, será pesquisada a nacional, exclusivamente. Incluindo jurisprudência dos tribunais.

(2)

Palavras-chave: Empregada doméstica; abolicionismo; mulher negra;

ABSTRACT:

Brazil was the last country on the continent to abolish slave labor. The abolition of slavery was gradual and began with Law No. 850 of September 4, 1850 (Eusébio de Queiros Law), which prohibited slave trade. Abolition did not change hierarchical structures determined by slave logic. Although there were projects to dampen the transition from slave labor to free labor, sale or lease of land to blacks, literacy in towns and cities, nothing was implemented, and blacks were left to fend for themselves. Post-abolition did not bring significant disruptions in the social, structural and cultural life of a particular group. New arrangements have emerged for black women to continue to perform the same domestic activities of the slavery period, not as domestic slaves but as domestic servants.

In the post-abolition period, domestic service assumes characteristics very close to the slave structure prevailing in the previous period, and housework, performed almost exclusively by former slaves, becomes the only work option for these black women. The social structure of the work was diverse and many women also worked in exchange for food and housing. The service was daily or monthly always based on informality, sponsorship and ties of favor. The problem of the research is to deepen the study of the current situation of black female domestic servants and with the objective of researching the effectiveness of the PEC 150 / 2015. The method of approach used is qualitative and the research technique will be performed by systematic review of available literature, that is, primary sources of bibliographic information on the subject. Regarding the legislation, the national will be researched exclusively. Including case law of the courts.

(3)

A exploração econômica da colônia portuguesa iniciou-se com o extrativismo do pau-brasil, por meio do escambo entre os portugueses e os indígenas. Posteriormente, com o Mercantilismo, práticas econômicas de transição de modo de produção feudal para o modo de produção capitalista, caracterizava-se pelo controle estatal da economia, balança comercial favorável monopólio da metrópole sobre as mercantis e manufatureiras, protecionismo e metalismo (acúmulo de ouro e prata como medida de riqueza dos países dominadores). A colônia deveria suprir a Metrópole, de tudo o que fosse necessário para consecução dos objetivos mercantilistas, a baixo custo, e a escravidão, que não era novidade, pois desde a Antiguidade os povos vencedores escravizavam os vencidos, foi inserida nessas práticas econômicas, dos indígenas, inicialmente, e depois os negros.

A escravidão no Brasil atendia as grandes demandas dos portugueses por trabalhadores braçais, que está relacionando com o incremento da atividade econômica da cana de açúcar nos séculos XVI e XVII. O período escravocrata no Brasil foi extremamente cruel e muitos africanos foram sequestrados e trazidos durante três séculos e a imagem do trabalhador escravo em nosso país ficou marcada pele cor de pele do africano. Manifestação social evidente do racismo que estava por trás da instituição da escravidão em nosso país. A escravidão no Brasil foi desumana e cruel e suas consequências mesmo passados mais de 130 anos de abolição ainda são presentes em nossa atual sociedade.

Infelizmente, o Brasil foi o último país do continente a abolir o trabalho escravo e o processo de abolição da escravatura foi gradual e começou com a Lei nº 850, de 4 de setembro de 1850, (Lei Eusébio de Queiros) que proibiu o tráfico negreiro, consequentemente cortava-se a fonte que renovava os números de escravos no território brasileiro. Seguida pela Lei nº 2040, de 28 de setembro de 1871 (Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco), Lei nº 3270, de 28 de setembro de 1885 (Lei dos Sexagenários), e finalmente, a Lei nº 3353, de 13 de maio de 1888 (Lei Áurea).

A Lei Áurea foi o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil. O fim do período escravocrata foi uma conquista realizada por meio da resistência dos escravos, engajamento e força popular, e não por um ato de bondade da monarquia brasileira. Na década de 1870, o abolicionismo ganhou força em nosso país e se apresentou de diversas

(4)

maneiras como por exemplo: conferências abolicionistas forma organizadas, associações abolicionistas, eventos públicos, levantaram-se fundos para pagar a alforria de escravos, publicação de textos defendendo a abolição entre outras. Entretanto, não se pode olvidar que os últimos 30 anos do Século XIX no Brasil, o Capitalismo emergia e o trabalho escravo perdia relevo, em detrimento dos trabalhadores livres. Um dos marcos importantes por exemplo em 1887, o Ministério da Agricultura, em sua pesquisa e relatório anual, contabilizava a existência de 723.419 escravos no País”, a maioria na região sudeste, nas lavouras do café. A partir de 1870, o Governo Brasileiro incentivava e subsidiava a entrada de imigrantes europeus, que ficava bem mais barato que a mão de obra escrava negra, principalmente com a proibição do tráfico negreiro, assim como a oposição inglesa a essa prática.

A abolição não modificou as estruturas hierárquicas determinada pela lógica escravista. Embora houvesse projetos de amortecimento da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, venda ou aluguel de terras para os negros, alfabetização nas vilas e cidades, nada foi implementado, e os negros largados à própria sorte. O pós-abolição não trouxe rupturas significativas na vida social, estrutural e cultural de um determinado grupo. As mulheres negras que eram escravas majoritariamente tornaram-se empregadas domésticas, por falta de opção e políticas públicas.

O trabalho doméstico não era exercido, exclusivamente por mulheres ex-escravas, muitos homens ex-escravos, já exerciam, mesmo antes do fim da escravidão no Brasil, importante ressaltar que o trabalho doméstico era composto por várias atividades. Coma Lei Áurea sancionada e o fim da escravidão no Brasil surgiram novos arranjos para que essas mulheres continuassem a exercer as mesmas atividades do período da escravatura e deixaram de ser escravas domésticas e a ser empregadas domésticas.

A figura da mulher negra sempre esteve atrelada a Casa Grande que desempenhou um papel importante na estruturação social e na divisão hierárquica das escravas, a esfera privada de socialização, a grande casa patriarcal, se tornou o principal lugar de domesticação das mulheres escravizadas e foram essas escravas que garantiram o funcionamento da Casa Grande.

(5)

No final do século XIX, devido baixa cultura, o trabalho doméstico se torna como um meio de sobrevivência, o mundo do trabalho passa a ter outras configurações do ponto jurídico. Os escravos gozavam de uma falsa liberdade e sua condição social não mudou e os escravos que agora estão libertos não conseguiam ser inseridos no mercado de trabalho o que consequentemente continuavam trabalhando de forma análoga a sua antiga condição.

Período pós Abolição

O período, pós abolição ocorreu depois que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888, o projeto era o mais conservador dentre os demais projetos abolicionistas. Passada essa data não houve nenhuma política pública que versou sobre a destruição das obras da escravidão: o preconceito, discriminação, exclusão e políticas públicas para esse seguimento da população em extra situação de vulnerabilidade fossem respaldo em lei e inserido na sociedade como cidadãos.

A realidade e lugar dos escravos de fato não ocorreram mudanças sua condição era a mesma do período da escravatura e para agravar a situação eles gozavam de uma liberdade que não correspondia sua nova realidade. Sem ter onde morar e nem terra para cultivar começaram a buscar moradia em regiões precárias e afastadas dos bairros principais das cidades. Continuaram sendo a maioria na área rural e doméstica na mesma estrutura repressora exercendo suas atividades em troca de um local para repousar e alimentação. Ter um escarvo era um capital simbólico que também representava poder, porém se tornou caro desde a Lei Esébio de 1850 que proibiu o tráfico negreiro. Sem alternativas continuavam exercendo o mesmo trabalho de subalternidade, servidão, escravidão, porém competindo com os emigrantes assalariados que no sistema capitalista era mais vantajoso e barato do que manter um escravo. Diante desse contexto, surgiu uma grande miséria.

Abolição não garantiu nenhuma estratégia de inserção de negros e negras na sociedade e no novo modelo de mercado de trabalho. Essa transição para o sistema de trabalho livre tornou o trabalho servil antieconômico e sem utilidade para o desenvolvimento do país. O que levou esse seguimento a viver a margem, inviabilizados da sociedade e que vivemos seus reflexos atualmente.

(6)

No período pós abolição o serviço doméstico assume características muito próximas da estrutura escravista vigente no período anterior e o trabalho doméstico, exercido quase exclusivamente por ex escravas se torna a única opção de trabalho para essas mulheres negras. A incorporação dessa mão de obra de trabalho inseridas nos trabalhos domésticos importantes informar que esse tipo de trabalho era composto por várias atividades tais como cozinheiras, lavadeiras, mucamas, babas entre outras atividades. A estrutura social do trabalho era diversificada e muitas mulheres também trabalhavam em troca de comida e moradia. A prestação de serviço era diária ou mensal sempre pautadas na informalidade, apadrinhamento e nos laços de favor. O problema da pesquisa é aprofundar o estudo da situação atual da mulher negra empregada doméstica. O trabalho doméstico sempre teve como principal características a servidão, informalidade, apadrinhamento e laços de favor como forma de gratidão.

Evolução legislativa e momento histórico do Brasil

Antes da abolição da escravatura de 13 de maio de 1888, existia a lei de 13 de setembro de 1830 que regulava os contratos escrito sobre prestação de serviços feitos por brasileiros ou estrangeiros. Não era uma lei específica para esse seguimento, porém já previa a prestação de serviços.

Em 1º de janeiro de 1916 foi promulgado o Código Civil. Projeto idealizado pelo jurista Clóvis Beviláqua só a partir de 1º de janeiro de 1917 que se tornou vigente. O Código Civil de 1916, disciplinou na seção II e a partir do seu artigo 1.216 a locação de serviços, porém sem previsão específica para categoria das domésticas. Tem previsão que toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, matéria ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição.

O Brasil de 1916 tinha acabado de sair de um regime monárquico e escravagista, o regime era republicano, oligárquico, sociedade conservadora, industrialização insipiente, economia basicamente agrícola e o sufrágio era censitário, ainda não era universal. Esse era o Brasil do início do Século XX, o Brasil do Código Civil de 1916. Esse mesmo diploma legal sobreviveu praticamente todo o Século XX. Com a Abolição da Escravidão e a posterior Proclamação da República, chegaram grande número de emigrantes europeus, por conseguinte, a economia e a sociedade brasileira começaram a

(7)

sentir as primeiras transformações. Percebe-se que mesmo após a abolição o trabalhador doméstico continuou sendo inviabilizado e sem qualquer regulamentação e proteção de suas atividades.

Em 30 de julho de 1923, foi aprovado o decreto nº 16.107 que aprova o regulamento de locação dos serviços domésticos. O referido decreto em seu artigo 2º define como locadores domésticos os cozinheiros e ajudantes, copeiros, arrumadores, lavadeiras, engomadeiras, jardineiros, hortelões, porteiros ou serventes, enceradores, amas secas ou de leite, costureiras, damas de companhia e, de um modo geral, todos quantos se empregam, em quaisquer outros serviços de natureza idêntica, em hotéis, restaurantes ou casas , pensões, bar, escritórios ou consultórios e casas particulares.

Toda atividade elencada no decreto é doméstica que sempre existiram, porém não era reconhecida legislativamente. Ocorre uma ampliação da atividade para outros estabelecimentos. Também tem a previsão das amas -de- leite e amas secas, que é um termo histórico e simbólico que se refere a uma escrava, serva ou empregada que cuidava das crianças de suas senhoras. Elas tinham como principal responsabilidade cuidar de todos os detalhes do bem-estar das crianças como por exemplo alimentação, higiene, vestimenta entres outras responsabilidades. As amas de leite ficavam responsáveis principalmente pela amamentação das crianças recém-nascidas se suas senhoras, elas dividiam essa atividade com seus próprios filhos essa função da maternidade é o que distingue das amas secas. Em ambas as situações se criava um vínculo afetivo muito forte e até atualmente nos deparamos com as mães de leite que sua única diferença é que não existe subordinação elas doam o leite materno por um gesto de amor.

Além de traçar o perfil do locador doméstico o referido decreto disciplina como vai ser essa relação como por exemplo o seu artigo 3º parágrafo único: “Cada carteira conterá, alem da photographia e da impressão dactyloscopica do pollegar direito do portador, vinte e cinco folhas em branco, devidamente numeradas e authenticadas pelo Gabinete de Identificação, afim de nellas serem lançados os assentamentos relativos ao locador, na conformidade do disposto no capítulo II.”. Somente em 1923 que os trabalhadores domésticos começaram a ter algum tipo de regulação mesmo que precária e sem muitos meios da parte mais vulnerável se proteger. Os locadores domésticos não podia se ausentar ou despedir do serviço sem justa causa ou prévio aviso e poderiam

(8)

serem dispensados por justa causa pelo locador em casos de enfermidade, ou qualquer outra causa que o torne incapaz dos serviços contratados, vícios ou mau procedimento do locador, falta do locador, imperícia do locador no serviço contratado, ofensa do locador ao locatário na honra de pessoa de sua família todas as hipóteses previstas no artigo 14 do decreto 16.107. Em alguns pontos o decreto simplesmente reproduziu o que estava no Código Civil de 1916 em sua seção II que trata sobre a locação de serviços.

Para contextualizar o momento histórico em que o país vivia durante essa evolução legislativa da empregada doméstica é importante ressaltar que a chamada República Velha ou Primeira República Brasileira (1889-1930) era caracterizada pela alternância oligárquica do poder político paulista e mineiro, República do Café com Leite. Em relação à economia, era predominantemente agrícola., sendo o café o principal produto de exportação brasileiro. Todavia, o desenvolvimento do capitalismo produziu reflexos na economia brasileira, devido ao surgimento da indústria automobilística nos Estados Unidos: a exploração da borracha na região amazônica, embora, por um curto período. Tudo isso, acarretou o início da industrialização no Brasil, em decorrência do acúmulo de capital do café e da borracha. Como consequências, o crescimento populacional nas grandes cidades, sem a correspondente infraestrutura, e o surgimento das demandas sociais da classe operária, influenciada pelas ideias dos emigrantes europeus.

A quebra da Bolsa de Nova Iorque, a derrocada da economia cafeeira e a ruptura do antigo poder político com a Revolução de 1930 modificaram ainda mais a economia e a sociedade brasileira. O Presidente Washington Luiz foi deposto e o candidato eleito Julio Prestes não assumiu. O representante do novo poder político, Getúlio Vargas, tornou-se Presidente da República. Se iniciava no Brasil a era Vargas que foi iniciado em 1930 logo após a revolução industrial e finalizado em 1945. O poder era centralizado no próprio presidente Getúlio Vargas, atuou de maneira consistente para ampliar os benefícios trabalhistas, criou o Ministério do Trabalho e concedeu direitos aos trabalhadores.Rompeu com o modelo econômico agrário e promoveu a industrialização no Brasil. Criou as estatais. Petrobras e a Companhia Siderúrgica Nacional. Finalmente, a Revolução Industrial chegou ao Brasil. Essas transformações econômicas foram

(9)

acompanhadas de aprovação de leis trabalhistas concedendo direitos aos trabalhadores. Tudo isso, fez surgir, efetivamente, uma classe proletariada, mais forte e urbana, que ao mesmo tempo desejava também a conquista de novos direitos, não só trabalhistas.

O Estado Novo foi um período de cerceamento democrático, de 1937 a 1945, com restrições as liberdades individuais, embora com avanços tutela do trabalhador de forma paternalista pelo Estado. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma busca por maior liberdade do cidadão, maior proteção contra o poder de império do Estado, crescimento do nosso setor secundário, incremento da população urbana, tanto da classe média e do proletariado.

Ainda no período do governo Getúlio Vargas foi aprovado em 27 de fevereiro de 1941 o decreto nº 3.018 que dispõe sobre a lotação dos empregados em serviço doméstico. Em seu artigo 1º são considerados empregados domésticos todos aqueles que, de qualquer profissão ou mister, mediante remuneração, prestam serviços em residência particulares ou em benefício destas. Ocorreu uma mudança na nomenclatura e uma limitação em sua área de atuação, não se amplia aos outros estabelecimentos como era previsto no decreto nº16.107/1923. Se torna obrigatório em todo país o uso de carteira profissional para o empregado em serviço doméstico. E para expedição da carteira precisa ter os seguintes requisitos: prova identidade, atestado de boa conduta passado por autoridade policial, atestado de vacina e de saúde fornecidos por autoridades sanitárias federais, estaduais ou municipais e, onde não as houver, por qualquer médico cuja firma deverá ser reconhecida. Em seguida, dois anos depois no dia 1 º de maio de 1943 foi aprovada a Consolidação das Leis Trabalhistas (decreto nº 5.452). A Consolidação das leis Trabalhistas estatue normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho nela prevista. Conceitua o empregador em seu artigo 2 º “Considera-se empregador, a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços”. Considerando empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. O artigo 7º prevê que os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo quando for, em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam: “a) aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que prestam serviços de natureza não econômica à pessoa ou à família no âmbito residencial destas”.

(10)

Fica claro a distinção das empregadas domésticas dos demais empregados. Essa categoria ainda não usufruía de direitos e ainda existia um vácuo legislativo no que tange a sua regulamentação.

No dia 11 de dezembro de 1972 foi aprovado a lei n º 5.859 que dispões sobre a profissão de empregado doméstico e dá outras providências. Essa lei foi de extrema importância pois comtemplou alguns direitos a essa categoria. Tais como o direito à férias anuais remuneradas de 20 dias úteis após o período de doze meses de trabalho prestado à mesma ou família, férias anuais remuneradas de 30 dias com pelo menos 1/3 a mais que o salário normal. A inclusão do empregado doméstico no Fundo de Garantia do Tempo de Garantia (FGTS) era facultativa. São assegurados os benefícios e serviços da Lei Orgânica da Previdência Social na qualidade de segurados obrigatórios, sendo dispensado sem justa causa fazia jus ao benefício do seguro desemprego no valor de um salário mínimo condicionado a inscrição ao FGTS e tendo previsão de vedação a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada doméstica gestante desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

Esse é o primeiro momento em que garante direitos aos empregados domésticos mesmo que poucos. Importante destacar que essa lei foi aprovada no período da ditadura militar no Brasil que se iniciou em 1964 a 1985, ou seja, um período ditatorial militar de 21 anos, mesmo sob a égide da Constituição Federal de 1946 que era democrática, até outorga da Constituição de 1967. A sociedade vivia em uma forte repressão política e ideológica refletindo na sociedade. E nesse período foram adotadas diversas medidas repressivas, o primeiro presidente Castelo branco que era da linha sorbonne que à época seria considerado uma linha mais branda e intelectual e tinha como objetivo implementar gradualmente os aparatos repressivos e a principal maneira que os governantes militares desenvolverem e irem aos poucos alterando as características democrática da Constituição vigente foi através dos atos institucionais e a se tornando um ditatura.

Os atos institucionais foram elaborados pelos cinco presidentes ligados a alta cúpula militar e começaram pelo AI-1 que estabelece eleições indiretas para presidente e perseguição a opositores; AI -2 lei orgânica do bipartidarismo excluindo-se todos os partidos, restando somente dois partidos políticos: arena e mdb;AI-3 eleições indiretas

(11)

para governadores e prefeitos, aumentando o controle do poder executivo ; AI-4 convocação da assembleia constituinte; AI- 5 aprovado em 1968 representou uma série de medidas com objetivo de controlar qualquer antagonismo político, tais como: suspensão de direitos políticos, cassação de mandatos, expulsão de militares das forças armadas, demissões de funcionários públicos, eliminava o habeas corpos para crimes políticos entre outras medidas. O governo militar incluiu na constituição vigente várias proibições duras e perversas que consequentemente atingiu a sociedade alterando toda cultura e comportamento dos brasileiros. Sem liberdade de expressão, eram proibidos de externarem o que pensavam a respeito do governo ou da situação do país.

Em 17 de novembro de 1987 foi aprovado a lei nº 95.247 que regulamenta Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985, que instituiu o Vale-Transporte, com alteração da Lei nº 7.619 de 30 de setembro de 1987. Com a promulgação desta Lei os empregados domésticos definidos na Lei nº 5.859 já menciona anteriormente passam a ter direito ao Vale-Transporte e ambas as leis que definia de forma mais específica a relação do empregado doméstico até a promulgação da Constituição Federal de 1988. Desde a abolição da escravatura somente em 1972 os empregados domésticos começaram a ter algum amparo na legislação brasileira que reflete os resquícios do período escravocrata. A promulgação da Constituição Federal brasileira ocorreu em oito de outubro de 1988 foi um divido de águas em nosso ordenamento jurídico e ampliou os direitos dos empregados domésticos. A previsão se encontra no artigo 7º parágrafo único da Constituição Federal que elenca os seguintes direitos: “salário mínimo, irredutibilidade do salário; garantia de salário, nunca inferior ao mínimo; para os que percebem remuneração variável; décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; duração do trabalho normal não superior a oito horas; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos, remuneração do serviço extraordinário, gozo de férias anuais remuneradas com pelo menos , um terço a mais do que salário normal, licença à gestante, licença – paternidade, aviso prévio proporcional, redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; aposentadoria; reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; proibição de diferença de salários; proibição de qualquer discriminação no tocante a

(12)

salário e critérios de admissão do trabalhador portador com deficiência; proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz , a partir de quatorze anos.”

Logo depois de promulgação da Constituição Federal de 1988, a medida provisória nº10.208 de 13 de dezembro de 1999 se converteu em lei no dia 23 de março de 2001 que concedeu ao empregador ampliar o fundo de garantia do tempo de serviço por ato voluntário. Os empregados agraciados pelo com FTGS consequentemente também foram contemplados com o seguro desemprego findo o contrato de trabalho por dispensa imotivada. Em quatro de outubro de 2000 surgiram as resoluções 253 e 254 do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT) que indica critérios e finalidade no momento da concessão do benefício do seguro-desemprego ao empregado doméstico. No dia 19 de junho de 2006 foi sancionada a lei nº 11.324 que contempla a contribuição patronal paga à Previdência Social, no seu artigo 12º, inciso VII diz” até o exercício de 2012, ano- calendário de 2011, a contribuição patronal paga à Previdência Social pelo empregador doméstico incidente sobre o valor da remuneração do empregado.” A referida dedução está limitada a um empregado doméstico por declaração e ao valor recolhido no ano- calendário a que se referir a declaração.

Os empregados domésticos percorreram um longa e triste trajetória em busca de melhores condições de trabalho, reconhecimento da categoria e principalmente por seus direitos e foram conquistando foram de forma lenta e gradual o que reflete na própria evolução legislativa do nosso ordenamento. No dia dois de abril de 2013 foi aprovada a emenda constitucional n º 72 que altera a redação do parágrafo único artigo 7º da Constituição Federal para contemplar a igualdade de direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e os trabalhados rurais e urbanos. Essa equiparação entro os demais trabalhadores foi de extrema importância pois garantiu um patamar mais protetor, digno e respeitável foi uma grande conquista. No dia primeiro de junho de 2015 foi aprovada a lei complementar 150 que dispõe sobre o contra de trabalho doméstico e regulamentou a Emenda Constitucional nº 72 também conhecida como a PEC das Domésticas. Depois das recentes conquistas que garantiu todos os direitos do

(13)

trabalhador às empregadas domésticas o número de informalidade aumentou e não se tem uma efetividade da lei.

Considerações finais

O papel da mulher negra em nossa atual sociedade nos remete a questionar os papéis atribuídos à mulher escrava que majoritariamente era composta por mulheres negras. Não podemos negar avanços, porém não o suficiente, as mulheres negras são as que mais sofrem com a violência em todos os aspectos. Quando conseguem serem inseridas no e mercado de trabalho recebem um salário menor do que os homens e das mulheres brancas. Estão majoritariamente nos empregos informais e tem um alto índice de evasão escolar o que dificulta a qualificação para o próprio mercado de trabalho. Como já foi dito anteriormente as atividades domésticas sempre eram direcionadas a esse grupo de mulheres e continuam condicionadas a esse tipo de mercado atualmente. Atual condição da mulher negra é fruto de um período escravocrata que ainda está enraizada na sociedade que ainda determina dessas mulheres seja cuidando do lar, cuidando das cozinhas e se submetendo a diversos abusos por parte de seus superiores hierárquicos.

As empregadas domésticas são boa parte da força de trabalho feminina no Brasil. Força essa composta como já foi abordado anteriormente por mulheres negras. Realidade que é consequência dos resquícios da escravidão, que delegou às mulheres negras a tarefa de realizar trabalhos domésticos. Essa classe trabalhadora não possuía o mínimo de proteção estatal e na própria lei trabalhista, porém em 2015 foi aprovada a Lei Complementar 150/2015, a trabalhadora doméstica passou a ter direito ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviços (FGTS), direito ao seguro-desemprego, salário-família, adicional noturno, adicional de viagens, entre outros direito já mencionados.

O número de empregados domésticos registrados diminuiu após a aprovação de PEC 150/2015. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) publicada em 31 de julho de 2018, no segundo trimestre de 2018, havia 127 mil trabalhadores domésticos a mais do que no mesmo período de 2017: 31 mil empregados perderam a carteira assinada, enquanto outros 158 mil passaram a trabalhar

(14)

sem o vínculo formal. Durante toda história as empregadas domésticas foram inviabilizadas e mesmo diante as conquistas legislativas sua condição real não refletes os direitos garantidos em lei.

REFERÊNCIAS:

DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe, 1ª ed, São Paulo, BOITEMPO, 2016.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 26/09/2019.

DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe, 1ª edição, São Paulo, BOITEMPO, 2016. SCHWARCZ E STARLING, Lilia e Heloise, Brasil: uma biografia, 1ª edição, São Paulo, CAMPANHIA DAS LETRAS, 2015.

ALMEIDA, Silvio, O que é racismo estrutural? 1ªedição, São Paulo, LETRAMENTO, 2017.

(15)

Referências

Documentos relacionados

Como já falei antes, se as parcelas ou o valor total com desconto ainda não couberem no seu orçamento não adianta aceitar porque você não vai conseguir pagar e a dívida vai

O objetivo desta pesquisa é verificar se a evolução da gestão ambiental se relaciona positivamente com a adoção de práticas de Green Supply Chain Management (GSCM) por empresas

Nível de atividade gripal associado à presença de vírus da gripe e correspondendo a uma taxa de incidência provisória de SG superior à área de atividade basal e inferior ou igual

Os eventos citados a seguir foram relatados no período pós-comercialização alucinação, perda da capacidade de sentir sabor (ageusia) e/ou cheiros (anosmia), inflamação da

parte dos casos com coreia não necessitarem de internação, assim como a experiência do serviço de Neurologia do HIJG no acompanhamento ambulatorial desses pacientes, devem

COP aprova o parecer do relator, favorável à celebração dos Acordos, conforme proposto nos

Acabamento: Preto • Acabamentos: Vidro • Design: Dolce Stil Novo • Série: De encastre total • Material: Aço inox e vidro • Tipo de aço inox: Aço inox escovado • Tipo

Partindo da hipótese de que com a utilização de ferramentas relacionais de base empírica é possível gerar conhecimento novo sobre o campo literário do Portugal Renascentista,