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REVERSÃO DE DEFICITS NEUROLÓGICOS FIXOS APÓS ANASTOMOSE ARTERIAL EXTRA-INTRACRANIANA

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Academic year: 2021

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REVERSÃO DE DEFICITS NEUROLÓGICOS FIXOS APÓS

ANASTOMOSE ARTERIAL EXTRA-INTRACRANIANA

REYNALDO A. BRANDT* FLÂVIO P. SETTANI

Desde a introdução das anastomoses arteriais extra-intracranianas para o tratamento da doença cerebrovascular, por Yasargil e Donaghy, as indicações para o método tem sido progressivamente melhor estabelecidas 3,17,18,19. Chater 4 resumiu recentemente os critérios de seleção dos pacientes: pacientes com ataques isquêmicos transitórios ( A l T s ) e com deficits neurológicos isquêmicos rever-síveis (DNIRs), conseqüentes a lesões arteriais inacesrever-síveis ou inoperáveis, parecem ser os melhores candidatos a este método de tratamento, uma vez que apresentam remissão significativa de seus sintomas numa alta percentagem de casos 2 , 5 , 6 , 7. Pacientes com ictos completos (IC) e deficits neurológicos

moderados também podem ser beneficiados com o método, porém numa percen-tagem menor. A indicação de anastomose arterial extra-intracraniana (AAEI) para pacientes com deficits neurológicos fixos conseqüentes a IC é ainda discu-tida e os resultados obtidos tem sido geralmente desanimadores.

Vários métodos tem sido utilizados para selecionar os pacientes que pode-riam se beneficiar com uma A A E I4. A medida do fluxo sangüíneo cerebral regional 1,8,9,16, a resposta ao oxigênio hiperbárico10,11 e a medida dos poten-ciais evocados somatosensitivos1 2 são alguns destes métodos. No entanto, não são facilmente disponíveis, particularmente em nosso meio. Por outro lado, a presença de circulação colateral para o território de uma artéria ocluida, responsável pelo déficit neurológico, parece estar relacionada com o prognós-tico de pacientes com I C1 2. Este é o relato de quatro casos selecionados que apresentaram deficits neurológicos fixos conseqüentes à oclusão da artéria carótida interna ou da artéria cerebral média, com circulação colateral para o seu território demonstrada pela angiografia e que apresentaram acentuada melhora após AAEL

OBSERVAÇÕES

Caso 1 — Paciente do sexo feminino, branca, de 65 anos d e idade, admitida em

7 de janeiro d e 1977 p o r hemiplegia direita e aíasia d e instalação aguda há algumas horas. O exame neurológico manteve-se inalterado nas 5 semanas seguintes. Caro¬ tidoangiografia bilateral revelou oclusão da artéria carótida interna esquerda, na sua

Trabalho d o Setor de Neurocirurgia d o Hospital dos Servidores P ú b l i c o s do Eetado d e Sfto Paulo, Serviço do D r . João Teixeira P i n t o ; · NeurocirurgiÓes.

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origem, c o m circulação colateral para a artéria carótida interna intracraniana e artérias cerebrais anterior e média através da artéria oftálmica. Em 16 de fevereiro de 1977 foi feita anastomose da artéria temporal superficial esquerda com um ramo da artéria cerebral média. A l g u n s dias depois a paciente era capaz de movimentar o s membros superior e inferior à direita, observando-se uma melhora funcional progressiva; três semanas depois da cirurgia havia recuperado integralmente o déficit motor, persistindo apenas discreta disfasia. Cinco meses depois da cirurgia havia apenas discreta disnomia. Carotidoangiografia de controle feita nesta ocasião revelou uma anastomose patente.

Caso 2 — Paciente do sexo masculino, amarelo, de 54 a n o s de idade, admitido

em 2 d e agosto d e 1977, referindo q u e em 8 d e julho d e 1977 apresentou súbita hemiplegia esquerda. N o s dias seguintes houve regressão parcial d o déficit, tornando-se capaz de deambular uma semana depois da sua instalação. N o entanto, o membro superior esquerdo mantinha-se completamente paralizado e este déficit manteve-se por todo o período pré-operatório. Carotidoangiografia bilateral mostrou oclusão da artéria cerebral média direita; havia circulação colateral para o território da mesma a partir de ramos da artéria cerebral anterior direita. Em 13 de agosto de 1977 o paciente foi submetido a anastomose d a artéria temporal superficial direita com um ramo da artéria cerebral média. Algumas horas após a cirurgia o paciente era capaz de movimentar o o m b r o e a raiz do membro superior esquerdo e, nos dias seguintes à A A E I , observou-se melhora progressiva do déficit. Uma semana após a cirurgia a recuperação era completa, tendo o paciente alta hospitalar assintomátioo. Duas semanas depois foi readmitido para angiografias d e controle, que mostraram estar a anastomose pérvia e ter havido acentuado aumento do calibre da artéria temporal superficial.

Caso 3 — Paciente do sexo feminino, branca, de 42 anos de idade, admitida em

1 de novembro de 1978 p o r hemiplegia esquerda súbita há algumas horas. Durante as duas semanas seguintes, enquanto hospitalizada, apresentou melhora de 80% d o déficit funcional d o m e m b r o inferior, permanecendo o membro superior esquerdo totalmente paralisado. Carotidoangiografia bilateral mostrou oclusão da artéria cerebral

média direita, havendo circulação colateral para o seu território a partir de ramos da artéria cerebral anterior direita. Em 21 de novembro de 1978 foi feita anastomose da artéria temporal superficial direita com u m ramo da artéria cerebral média. N o dia seguinte ao da A A E I a paciente era capaz de movimentar discretamente o membro superior esquerdo e, nos dias seguintes, uma melhora progressiva foi observada. Recebeu alta hospitalar em 12 de dezembro de 1978 com recuperação funcional quase total, sendo apenas incapaz d e manipular pequenos objetos com a mão esiquerda. Três meses depois da cirurgia seu exame neurológico era inteiramente normal e angiografias de controle mostraram estar a anastomose patente.

Caso 4 — Paciente do sexo masculino, branco, de 45 anos de idade, admitido

em 18 de fevereiro d e 1979 por hemiplegia esquerda súbita desde há um dia. Uma semana depois da admissão o paciente era capaz de deambular e movimentar seu membro inferior esquerdo c o m leve paresia. N o entanto, a paralisia do membro superior esquerdo permanecia inalterada, aaeim se mantendo p o r todo o período

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pré-operatório. Carotidoangiografia bilateral mostrou oclusão da artéria cerebral média direita, havendo circulação colateral para o seu território a partir d e anastomoses córtico-corticais de ramos da artéria cerebral anterior direita. E m 20 de março de 1979 o paciente foi submetido a anastomose da artéria temporal superficial direita com um ramo da artéria cerebral média. Uma recuperação extraordinária d o déficit neurológico pode ser observada a partir d o dia seguinte ao da cirurgia, sendo que uma semana depois da mesma não havia déficit algum. O paciente obteve alta assintomático, tendo recusado submeter-se a angiografias de controle.

COMENTÁRIOS

Trabalhos recentes resumiram as indicações e os resultados das AAEIs em pacientes com doença cerebrovascular s»4»1*. Destes e de outros estudos2»5A sabe-se que pacientes com AITs e DNIRs e nos quais a angiografia mostra lesões arteriais estenóticas ou oclusivas inacessíveis e responsáveis pelo quadro neurológico constituem os melhores candidatos para o método. A sua indi-cação para pacientes com ICS continua sendo controversa. A sua racionalização baseia-se na suposição de que a AAEI poderia reduzir a incidência de novos ictos ou melhorar a circulação colateral. Alguns relatos de reversão de deficits neurológicos fixos após AAEI mostram que há um grupo de pacientes com déficit neurológico funcional porém com neurônios viáveis e cuja função pode ser restabelecida pelo aumento do fluxo sangüíneo local 1 0.i a» i < \

A seleção pré-operatória destes pacientes é objeto de estudos recentes e baseia-se em métodos que freqüentemente não são disponíveis na maioria dos c e n t r o s1»8»0.1 0»1^1 6. Ito e c o l .1 2 chamaram a atenção para a importância de algumas características angiográficas que poderiam ser usadas para a avaliação prognostica destes casos. Circulação colateral para o território de uma artéria ocluida revelou-se um fator positivo na recuperação de pacientes com ICs. Quatro casos selecionados com deficits neurológicos fixos e com circulação cola-teral para o território da artéria ocluida responsável pelos mesmos recupera-ram-se após AAEI. Acreditamos que pertençam ao grupo de pacientes com neurônios viáveis porém não-funcionantes e cuja função foi restaurada pelo aumento do fluxo sangüíneo regional. Poder-se-ia argumentar que a evolução de pacientes com ICs é freqüentemente imprevisível e que uma recuperação funcional poderia também ocorrer expontaneamente. No entanto, os quatro pacientes aqui descritos apresentaram deficits neurológicos fixos por 3 a 5 semanas antes da AAEI e apresentaram uma recuperação extraordinária dos mesmos a partir de horas após a cirurgia nos casos 2, 3 e 4 e a partir dos primeiros dias no caso 1. Parece óbvio haver forte correlação entre a recuperação funcional e a oferta de fluxo sangüíneo adicional ao tecido nervoso comprometido através da anastomose arterial.

Acreditamos que a demonstração angiográfica de circulação colateral para o território de uma artéria cerebral ocluida, responsável por um déficit neuro-lógico fixo, constitui um dado adicional que pode ser utilisado na seleção de pacientes para AAEI.

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RESUMO

Quatro pacientes selecionados que apresentaram deficits neurológicos fixos por 3 a 5 semanas conseqüentes a ictos cerebrais completos foram submetidos a anastomose arterial extra-intracraniana. O estudo angiográfico mostrou oclusão da artéria carótida interna em um caso e da artéria cerebral média nos demais. Em todos havia circulação colateral para o território da artéria ocluida. Todos apresentaram recuperação acentuada do déficit neurológico, a partir das primeiras horas após a cirurgia em 3 casos e dos primeiros dias em outro. A presença de circulação colateral para o território de uma artéria cerebral ocluida e responsável por deficits neurológicos fixos pode ser considerada útil na seleção de pacientes para anastomose arterial extra-intra-craniana.

SUMMARY

Reversal of fixed neurological deficits after extra-intracranial anastomosis: report of four cases.

Four patients with fixed neurological deficits due to occlusion of the middle cerebral or the internal carotid arteries, and with collateral circulation to their territory diagnosed by angiography, recovered after extra-intracranial arterial anastomosis. Functional recovery was seen since the first hours after bypass in three cases and the first few days in the other. Angiographic demonstration of collateral circulation to the territory of an occluded cerebral artery seems to be useful in the selection of patients with fixed neurological deficits for extra-intracranial arterial anastomosis, mainly when other methods are not available.

R E F E R E N C I A S

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