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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, LETRAS E ARTES VISUAIS CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA VIVIAN FRANCO DINIZ

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CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, LETRAS E ARTES VISUAIS CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

VIVIAN FRANCO DINIZ

AULAS DE PIANO EM GRUPO NO MÉTODO SUZUKI: UMA ANÁLISE NO ESTÚDIO SUZUKI DE EDUCAÇÃO MUSICAL EM BOA VISTA

Boa Vista 2019

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AULAS DE PIANO EM GRUPO NO MÉTODO SUZUKI: UMA ANÁLISE NO ESTÚDIO SUZUKI DE EDUCAÇÃO MUSICAL EM BOA VISTA

Monografia apresentada ao Curso de Música da Universidade Federal de Roraima, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Música.

Orientador: Prof. M.E. Rafael Ricardo Friesen

Boa Vista 2019

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Fernando Barbosa iflior ca pela Universidade Federal da

UFRR Mestre e

AULAS DE PIANO EM GRUPO NO MÉTODO SUZUKI: UMA ANÁLISE NO ESTÚDIO SUZUKI DE EDUCAÇÃO MUSICAL EM BOA VISTA

Monografia apresentada ao Curso de Música da Universidade Federal de Roraima, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Música.

Aprovada em 28 de novembro de 2019.

t

Rafael Ricardo Friesen - Orientador

Mestre em Criação e Interpretação Musical pela Universidade de Santa Catarina UFRR

tr.—) c-fs. c,24, Jessica de Almeida

Dra. em Educação Universidade Federal de Santa Maria UFRR

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Dedico este trabalho aos meus mestres que com tanto empenho me ensinaram a arte da música, e aos meus colegas por compartilharem comigo e vivenciarem a inestimável experiência de aprender música. Adquirir conhecimento e compartilhá-lo é sempre uma grande oportunidade!

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A Deus por ter me dado forças para não deixar de lado o desejo de superar os desafios. Ao meu querido esposo Hugo Alt Diniz que me deu todo o apoio necessário durante esses anos de estudo.

À família que tanto apoiou no decorrer desta jornada. Aos queridos colegas de turma que estiveram em cada momento participando de alguma maneira trazendo alento e força, quando precisei e comemorando junto às superações.

À UFRR por ter proporcionado um curso de qualidade onde pude desenvolver e amadurecer como aluna e como pessoa.

Aos professores, que com muita dedicação se doaram pela nossa aprendizagem, e buscaram nos tornar melhores do que como aqui entramos, e com uma grande conquista nas mãos. E a todos que de alguma maneira participaram deste momento de alegria e superação.

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O ensino da música através do Método Suzuki encontra-se presente em todo o mundo e tem apresentado resultados excelentes, comprovando no decorrer dos anos a sua eficiência. O Método surgiu com Shinichi Suzuki, pedagogo japonês que após observar a maneira natural da aprendizagem da língua materna, concluiu que, desde que haja um ambiente favorável, é possível que a linguagem musical seja aprendida por qualquer aluno. Este estudo teve por objetivo geral analisar os limites e as possibilidades das aulas de piano em grupo no processo ensino e aprendizado no estúdio Suzuki de Educação Musical – Roraima, no ano de 2019; e como objetivos específicos identificar características aulas em grupo pelo Método Suzuki e seu modelo de avaliação; avaliar as particularidades das aulas em grupo pelo Método Suzuki; examinar o resultado do modelo de aula de piano em grupo pelo Método Suzuki no Estúdio Suzuki de Educação Musical - Roraima. Para tanto se utilizou a pesquisa bibliográfica, estudo de caso a coleta de dados e abordagem qualitativa. Procurou-se responder a seguinte problematização: como as aulas de piano em grupo pelo Método Suzuki influenciam na aprendizagem da música? Os resultados apontam para uma avaliação positiva, depois de pesquisa sobre a aplicação prática deste Método Suzuki, e vivência no Estúdio Suzuki de Educação Musical - Roraima

Palavras-chave: Aprendizagem da música. Avaliação. Aulas de piano em grupo. Método Suzuki.

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The teaching of music through the Suzuki Method is present worldwide and has shown excellent results, proving over the years its efficiency. The method came up with Shinichi Suzuki, a Japanese educator who, after observing the natural way of learning the mother language, concluded that as long as there is a favorable environment, it is possible for any student to learn music. This study aimed to analyze the limits and possibilities of group piano lessons in the teaching and learning process at Suzuki Studio of Musical Education - Roraima, in 2019; and as specific objectives to identify characteristics group lessons by the Suzuki Method and its evaluation model; evaluate the particularities of group classes by the Suzuki Method; to examine the result of the group piano lesson model by the Suzuki Method at the Suzuki Music Education Studio - Roraima. For that, we used the bibliographic research, case study, data collection and qualitative approach. The following questioning was sought: How do group piano lessons by the Suzuki Method influence music learning? The results point to a positive evaluation, after research on the practical application of this Suzuki Method, and experience at the Suzuki Musical Education Studio - Roraima.

Keywords: Music learning. Evaluation. Group piano lessons. Suzuki Method.

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Figura 1 – Gráfico do progresso dos alunos no ano de 2019... 38 Figura 2 – Gráfico da importância da presença dos pais nas aulas em grupo ... 38 Figura 3 – Gráfico do impacto das atividades acadêmico-lúdicas ...39

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1 INTRODUÇÃO ... 09 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 12 2.1 HISTÓRICO ... 12 2.2 ENSINO EM GRUPO ... 16 2.3 EDUCAÇÃO DO TALENTO ...21 3 REFERENCIAL TEÓRICO ... 24 4 METODOLOGIA... 30

5 ANÁLISE DOS DADOS ... 33

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 40

REFERÊNCIAS ... 41

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa se propõe a descrever a relação entre aula de piano em grupo pelo Método Suzuki1 e aprendizagem musical. No ensino instrumental em escolas especializadas, frequentemente as aulas de piano são aplicadas individualmente. Dessa forma o professor vai ajustando o ensino de acordo como o desempenho do aluno, apresentando as instruções em função dessa interação. Trata-se de um sistema educacional que, seguramente, apresenta algumas vantagens no processo de ensino e aprendizagem no que diz respeito à personalização dos estudos, trazendo um conforto por adequar-se à realidade cognitiva do educando, impondo-lhe a cobrança na medida do progresso dele.

No entanto, esse ambiente confortável da aula individual pode implicar em acomodação na dinâmica da aprendizagem. Assim, as aulas em grupo podem proporcionar um ambiente de desafio, pois no ensino musical coletivo o aluno poderá ser desafiado ou motivado por seus pares. Portanto, o importante é que a aula em grupo garanta que o tempo de aula seja direcionado à instrução simultânea envolvendo todos os alunos pelo tempo inteiro da aula, e não acabe se tornando uma série de aulas individuais dentro do tempo destinado à aula em grupo, onde somente alguns poucos minutos serão dedicados individualmente enquanto o restante fica disperso (ROCHA, 2012).

Este estudo propõe-se a analisar as aulas de piano em grupo no Método Suzuki dentro do Estúdio Suzuki de Educação Musical - Roraima em Boa Vista (Estúdio Suzuki), de avaliar as particularidades destas aulas e examinar o resultado de tal modelo de ensino coletivo para piano pelo referido método.

O piano é uma opção para a musicalização. Trata-se de um instrumento polifônico que, por isso, traz vantagens com a execução de melodias e harmonias, separadamente ou não. Além disso, permite ao aluno uma fácil memorização dos intervalos pela localização visual proporcionada pela disposição padronizada das teclas brancas e pretas. E, ainda, é um instrumento que serve para acompanhar ou executar um solo e é ergonomicamente confortável porque é executado sentado sem a necessidade de segurá-lo ou tocar em pé (DUCATTI, 2005).

O ensino deste instrumento é na maior parte das metodologias ministrado individualmente, enquanto em outras essas aulas são ministradas coletivamente. No Método Suzuki, tais experiências de aula coletiva constituem parte da estratégia e serão objeto de

1 Será adotado para este TCC a terminologia usada por Figueiredo (2012), Santos 2016, Garson (1970) que

consideram correto o uso do termo Método ao invés do termo metodologia. Na sessão Referencial Teórico iremos discorrer mais sobre este debate.

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análise na pesquisa aqui proposta. A pesquisa foi efetuada através de observação da aplicação de questionários a três grupos de sujeitos: os alunos, os pais/responsáveis e os professores do Método Suzuki.

A justificativa dá-se pela colaboração com o saber científico no sentido de que essa pesquisa irá somar com as demais que abordaram essa mesma temática. As aulas em grupo fazem parte do processo de ensino do Método Suzuki. Importa, no presente estudo, conhecer quais a particularidades e os resultados dessas aulas no desenvolvimento dos alunos.

A justificativa pessoal é principalmente decorrente da vivência da pesquisadora com o objeto da pesquisa proposta, o que facilitará o acesso à experimentação, pesquisa, avaliação, observação, aproximação e diversos outros aspectos envolvidos na busca de respostas para a questão de pesquisa.

A presente pesquisadora chegou a conhecer, mesmo que superficialmente, o Método Suzuki de violino por ter tido a oportunidade de ser aluna deste instrumento por um semestre durante a juventude, porém sem conhecer a filosofia que existe por trás do Método Suzuki, ou seja, não houve a aplicabilidade do mesmo, pois existem professores que usam apenas o repertório, sem aplicar o método em sua integralidade, tendo sido essa a experiência vivenciada.

Foi somente após um curso de Filosofia Suzuki ministrado no ano de 2015 em Boa vista pelo Instituto Boa Vista de Música (IBVM) em parceria com a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV), que duas cursistas já atuantes na docência da música sentiram o desejo de aprofundar-se no método. A partir de 2016 ambas (incluindo a presente autora) viajaram algumas vezes para participar de cursos no Centro Suzuki de São Paulo.

Em 2017 deu-se início às aulas de piano com o Método Suzuki para alguns alunos, com a ideia de futuramente ter-se um local adequado para as aulas. Em agosto de 2018, foi inaugurado o Estúdio Suzuki Roraima, que conta hoje com diversos alunos de Flauta Doce, Piano e Musicalização para Bebês com a proposta exclusiva de educação musical no método Suzuki. Tal espaço possui duas salas de aula (com 2 pianos digitais em cada sala), um banheiro com fraldário, uma sala de recepção, uma copa, uma sala de recursos pedagógicos e um espaço externo. A necessidade de dois pianos em cada sala de aula será detalhada adiante, pois no método propõe que a primeira habilidade de um músico é a escuta.

O Estúdio Suzuki de Educação Musical - Roraima é um núcleo de ensino que busca desenvolver habilidades musicais em alunos de todas as idades, por meio do método Suzuki. As professoras são capacitadas e registradas pela Suzuki Association of the Américas (SAA). O corpo docente é formado por duas professoras, a primeira com formação técnica em Piano

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pela Escola de Música de Roraima (EMURR), licenciada em Música pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em Pedagogia Escolar e mestra em Educação pela Universidade do Estado de Roraima. A segunda, a presente pesquisadora, embora seja bacharel em Administração, cursou Fundamental em Música pela EMURR, é especialista em Música pela Universidade Cândido Mendes e graduanda de Licenciatura em Música pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e ministra aulas particulares de piano, teclado e flauta há 15 anos.

O presente estudo visa responder à questão de como as aulas de piano em grupo pelo Método Suzuki influenciam na aprendizagem da música. Foi considerado o lapso temporal de agosto a novembro de 2019 e tem-se nos objetivos específicos: identificar características das aulas em grupo pelo Método Suzuki e seu modelo de avaliação; examinar o resultado do modelo de aula de piano em grupo pelo Método Suzuki no Estúdio Suzuki de Educação Musical – Roraima e avaliar as particularidades das aulas em grupo pelo Método Suzuki.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica busca elencar o que já se escreveu sobre o assunto, sem a pretensão de apresentar todos os autores que versam sobre o assunto. A revisão será sobre o Método Suzuki com foco no ensino em grupo, explanado um pouco sobre os primórdios da aula de piano em grupo e apresentando algumas das primeiras experiências realizadas. O texto aborda ainda, esta modalidade no contexto brasileiro atual e como tem se dado, quais as dificuldades encontradas e um pouco sobre os materiais didáticos utilizados, o uso do método como ferramenta, um pouco do contexto local, e a relevância da interação e troca de experiências que este método proporciona.

2.1 HISTÓRICO

Santos (2013), em sua tese, fala do surgimento do ensino de piano em grupo com o professor alemão Johannes Bernard Logier (1777-1846) na primeira metade do século XIX em Dublin, na Irlanda. Ao ensinar piano para sua filha de sete anos, começou a desenvolver aparatos a fim de melhorar sua postura, sendo tão bem sucedido em seus inventos, que conseguiu fama e reconhecimento.

Um de seus inventos foi o Chiroplast, que era um aparelho feito com o objetivo de melhorar a postura das mãos dos alunos, com o punho relaxado e os dedos ativos, tendo também outro aparelho associado a este para melhorar a leitura das notas, o Gamut-board, que colocado sobre o teclado servia para guiar os alunos na leitura das notas do pentagrama.

Mesmo o objetivo inicial não sendo a criação de um método para piano em grupo, Logier, graças aos seus aparelhos, percebeu que perdia menos tempo corrigindo a postura dos alunos e que a leitura das notas era auxiliada pelo Gamut-board, e assim podia dar atenção para mais de um aluno ao mesmo tempo, passando, então, a dar aulas para um grupo de alunos. Dessa forma, ele acabou se especializando nas aulas de piano em grupo e seu método acabou por levar o nome do seu invento: Método Chiroplast.

Santos relata que o Chiroplast foi testado por vários professores, dentre eles, Muzio Clementi e J. B. Cramer, porém, seus comentários eram mais sobre o aparelho do que sobre o método em si. O parecer era de que o aparelho era importante para a correção das mãos dos alunos. Não se sabe exatamente como o aparelho era usado nas aulas, mas estima-se que era destinado aos alunos iniciantes que depois de acostumados a postura correta, passavam a tocar no piano sem o dispositivo.

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Mesmo com as críticas aos seus aparelhos feitas nos dias de hoje, Logier foi o criador do ensino em grupo de piano. Ele criou o que hoje em dia seria chamado de “franquia de ensino de piano”, pois todos os seus instrutores eram certificados por ele para ensinar através de seu método. Dadas as instruções, ele promovia discussões e orientações a respeito do método.

Logier obteve fama internacional e muitos professores da Europa e América vieram para assistir seus laboratórios e tornaram-se adeptos do seu método. Chiroplast foi a forma como chamaram todo o sistema de ensino de Logier, apesar de no início ser usado apenas para designar o aparelho inventado para regular a mão do iniciante. Alguns professores copiaram o aparelho Chiroplast, não se sabe ao certo quantas cópias foram feitas. Além do aparelho, outros usaram e modificaram o método que recebia o mesmo nome.

Apesar de receber muitas críticas, a principal era a diminuição da atenção dada a cada aluno, considerando que o Chiroplast possibilitava algumas vantagens como atender vários alunos ao mesmo tempo, reduzindo o tempo de supervisão e também ocasionava uma competição saudável entre os alunos e motivação aos estudos, criando uma troca de experiências e perfomance. Apesar disso o sistema se tornou decadente devido às contínuas críticas e ascensão de grandes professores como Liszt e Lechetitsky. Esse sistema reapareceu nos Estados Unidos no começo do século XX, sem o uso do aparelho para moldar as mãos, sendo usado apenas para aulas de musicalização nas escolas.

Segundo Santos (2013), no Brasil o surgimento do ensino de piano em grupo se deu em meados de 1979 com a professora Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves após retornar dos Estados Unidos depois de estudar e estagiar com grandes professores no assunto.

Quando retornou ao Brasil a professora iniciou um projeto pretendo a criação do primeiro curso no Brasil de Pós-Graduação lato sensu com Especialização em Ensino de piano em Grupo no Brasil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sendo muito criticada pelos colegas na UFRJ Lourdes encerrou o curso e transferiu-se para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) onde continuou seu trabalho juntamente com o professor Silvio Merthy.

Na UNIRIO foi estabelecido o primeiro laboratório de piano em grupo do Brasil com quatro teclados eletrônicos e um piano acústico, o que foi muito importante para a permanência desse ensino na estrutura universitária. Com tal estrutura, obteve-se maior suporte para a pesquisa e divulgação dos procedimentos das metodologias de ensino coletivo e do enfoque nas habilidades funcionais no uso do teclado.

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Segundo Santos na Universidade Federal da Bahia (UFBA) o curso de piano em grupo foi implantado em 1991, pela professora Diana Santiago, com oficinas de piano em grupo através dos seminários de musicalização da Escola de Música, que era um projeto de extensão universitária onde os instrutores eram os alunos de graduação que passavam por um treinamento e lecionavam para crianças a partir de oito anos de idade. Com um laboratório equipado com um piano e seis teclados, em 1995 os cursos funcionavam com dezenove turmas atendidas pelos alunos bolsistas da graduação.

Atualmente no Brasil o ensino do piano em grupo está aos poucos recebendo aceitação nas universidades e em geral é oferecido como disciplina optativa com uma duração de dois até quatro semestres. Apesar da boa aceitação, ainda é uma modalidade onde podemos aprender com outras instituições onde já se usa essa modalidade há muito mais tempo, em especial em instituições no exterior (SANTOS, 2013).

Uma das dificuldades que temos no Brasil é o alto custo dos pianos digitais, realidade bastante diferente em outros países, como por exemplo, nos Estados Unidos, onde a disciplina já é utilizada desde a década de 1940 e mais solidamente de 1970 em diante. Em tais lugares há muito mais material publicado, o que facilita o desenvolvimento dessa modalidade. A falta de material publicado adequado é uma das dificuldades que tem sido um grande empecilho para professores e alunos, prejudicando a eficácia da metodologia da aula de piano em grupo. Um professor acostumado a dar aulas de piano no modelo tradicional pode, por exemplo, ter dificuldades para dar aulas de piano em grupo, já que são metodologias diferentes e nesse caso mesmo a mais farta experiência pode não ser suficiente. Para Lancaster (2008, apud SANTOS, 2013), o professor que tem experiência com o ensino piano em grupo pode usufruir de outra realidade:

o professor que tem uma forte bagagem técnica de ensino de piano em grupo pode facilmente aplicar este conhecimento para as aulas individuais, todavia um professor cuja experiência estende-se apenas ao ensino individual não necessariamente atuará com sucesso no ensino do piano em grupo (LANCASTER, 2008 apud SANTOS, 2013, p. 51).

Apesar de todos os pontos de dificuldades aqui já citados, essa modalidade de ensino tem sido discutida em seus diversos aspectos, e isso tem acontecido em fóruns adequados para tal fim, assim como aconteceu no I Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumento Musical, ocorrido em dezembro de 2004 na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (SANTOS, 2013). Essa foi uma iniciativa muito válida porque a partir dela foi possível discutir alternativas para superar as dificuldades enfrentadas aqui no Brasil nesta modalidade de ensino.

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No ano de 2010 foi realizado o primeiro Encontro Internacional de Piano em Grupo no Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Essa foi uma iniciativa dos professores Dr. Carlos Henrique Costa, da Universidade Federal de Goiás e Dra. Simone Gorete Machado, da Universidade de São Paulo. Durante esse evento, foram realizados minicursos sobre metodologia de piano em grupo sempre levando em conta a necessária contextualização para nossa cultura. Houve um tempo de rico debate e troca de saberes sobre essa modalidade através de mesas-redondas, palestras e mini-cursos. Em 2012 ocorreu a segunda edição deste mesmo evento, desta feita com a presença da professora Martha Hiley, que muito colaborou dividindo um pouco de sua experiência (SANTOS, 2013; MACHADO, 2012).

Para quem quer se aprofundar nessa modalidade de ensino, já é possível estudar algo sobre o assunto aqui mesmo no Brasil. O Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro, desde 2011, passou a oferecer um curso de Pós Graduação Lato Sensu em Pedagogia do Piano e, dentre as disciplinas, constam assuntos sobre aulas em grupo. Em 2012 foi publicado o livro Piano em Grupo: Livro Didático para o Ensino Superior, de Simone Gorete Machado, sendo uma das poucas obras publicadas no Brasil. Além desse material, é possível observar na realidade dos Institutos Federais de Ensino Superior o uso de obras de Bach, Bartok, Kabalevsky, como material didático para essa modalidade de ensino (MACHADO, 2012).

Nos Estado Unidos é utilizado frequentemente o Método Alfred’s Group Piano for

Adults. Esse método aborda os temas de forma que haja um desenvolvimento gradual e

organizado, onde o aluno pode ver cada assunto e os relacionados a ele, um a um. Esse método possui dois volumes cada um com 360 páginas, e está programado para o aluno aprender em dois anos. Conforme os autores do método, ele deve ser trabalhado por capítulos, um a cada semana, totalizando 26 para cada volume. As obras têm uma estrutura com um mínimo de seis tópicos, cada uma cobrindo umas das habilidades funcionais básicas do piano (SANTOS, 2013).

Na realidade universitária brasileira, em geral, essas instituições dispõem de poucos pianos digitais e a disciplina de piano em grupo possui entre dois e quatro semestres. Considerando as dificuldades e falhas na metodologia do ensino do piano em grupo, muitos têm debatido em prol de se aprimorar e desenvolver o assunto dentro de uma aplicação prática. (SANTOS,2013; ROCHA, 2016)

Observando esse pequeno histórico do ensino de piano em grupo, vemos que essa prática tem sido muito abordada, trazendo uma reflexão sobre essa abordagem e do quanto se

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tem investido nessa prática e como tem crescido dentro das instituições de ensino do Brasil e mundo. Apesar de não haver uma tradição desse ensino no Brasil, ele vem crescendo e ganhando espaço dentro das instituições de ensino.

2.2 Ensino em Grupo

As aulas em grupo são parte integral no processo de aperfeiçoamento do aluno. Fazer música em conjunto requer outras habilidades que não são levantadas no trabalho individual, como indica Pereira (2010): “a produção do som coletivo (articulação, arcadas, velocidade do arco e de sopro), a afinação (no caso de um quarteto de cordas e de um consort de flautas doces2), entradas e cortes na ausência de um regente, a prática de seguir o regente, etc.” (PEREIRA, 2010, p. 3). Além disso, em uma aula em grupo, uma das possibilidades é que além de aprender com o professor, os alunos podem aprender uns com os outros. No contexto da aula em grupo o aluno incorpora diversos papéis, diferentemente da aula individual, desenvolvendo seu lado intérprete e ouvinte, além de exercer o papel de crítico ou de encorajador, de transmissor ou de receptor de conhecimento (ROCHA, 2012).

O grupo tem o potencial de gerar um espírito de entusiasmo e motivação para o assunto de uma forma que o instrutor provavelmente não alcançaria sozinho. “Os grupos também podem apresentar oportunidades para motivar os alunos através de uma competição saudável” (FISHER, 2010, p. 9 –tradução nossa)3.

Observa-se, com tais considerações, que a aula em grupo apresenta características bastante positivas no processo de ensino e aprendizado, bem como requer alguns requisitos do docente que ministrará a esses alunos. O professor precisa estar atento ao planejamento da aula, organizar o conteúdo, conhecer a turma e estar alerta a qualquer contratempo que possa ocorrer.

Dentro do Estúdio Suzuki de Educação Musical - Roraima, os alunos ficam animados quando sabem que é a semana que terão aula em grupo. Eles gostam da possibilidade de tocar juntos, mostrar o que aprenderam e das atividades feitas nas aulas.

O ensino em grupo tem sido uma ferramenta de ensino muito utilizada para diversos instrumentos musicais, pois proporciona acesso para vários alunos estudarem seus instrumentos simultaneamente. Couto (2013), em seu artigo O ensino de teclado em grupo na

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Consort de flauta doce é um grupo de instrumentos da mesma família que são tocados como se fosse um coral. (FLAUTADOCEBR, 2019).

3

No original: “Groups may also present opportunities to motivate students through healthy competition” (FISHER, 2010, p. 9).

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universidade e o uso do repertório popular: aprendizagem através de práticas híbridas relata

que:

o ensino coletivo de instrumentos é uma a atividade que transcende o treino para a aquisição de elementos e habilidades musicais. Diversas habilidades extramusicais emergem a partir das aulas coletivas e, quando bem orientadas, podem favorecer um ambiente satisfatório não só à aprendizagem instrumental, mas também ao desenvolvimento de outras habilidades adquiridas unicamente através da interação em grupo (COUTO, 2013, p. 232).

Existe outro aspecto a ser considerado que possui relevância dentro deste contexto. Trata-se do aspecto da aprendizagem em grupo, que ocorre quando um colega ensina seus pares, demonstrando ou falando. Ocorre, frequentemente, que durante as aulas em grupo os alunos tenham oportunidades de aprender através da observação, isto é, por meio da observação de seu colega ao executar uma música. Conforme Green (2017), nessas situações costuma surgir um líder, muito embora ainda haja um espírito de cooperação entre os participantes.

As aulas de piano em grupo proporcionam a interação entre os alunos, criando assim um ambiente lúdico. Ajudam no desenvolvimento do repertório, na afinação do grupo, e representam uma grande economia de tempo. Outro benefício é a possibilidade de um maior desenvolvimento do ouvido harmônico, estímulo e disciplina nos alunos, menor índice de evasão, cooperação e desinibição, além de melhorar a autoestima (DUCATTI, 2005).

No caso das aulas particulares, o professor terá diversos alunos ocupando, por exemplo, um período de uma hora e meia, e não somente um aluno individual. Isso implicará para ele uma sobra de tempo para que ele possa se dedicar melhor ao planejamento das aulas e dar atenção aos alunos que tiverem dúvida, isto sem falar nos ganhos financeiros que ele terá.

Conforme Melo et al (2002) é possível que através do ensino de piano em grupo o aluno possa adquirir desenvolvimento musical. Numa mesma aula é possível a assimilação de conteúdos teóricos e práticos através do uso do instrumento. No entanto é preciso que o professor tenha cuidado na elaboração do conteúdo para que o mesmo possa estar devidamente adequado ao perfil etário. O que ocorre às vezes, é que não é possível manter nas aulas de piano em grupo alunos de idades de fato próximas, então nestas circunstâncias é que o professor deverá manter ainda mais um zelo no plano de aula a fim de apresentar um conteúdo mais plural. Nas aulas de piano em grupo, conforme os autores, os alunos desenvolvem a consciência e a criatividade nos assuntos aprendidos através da mediação de um professor.

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O papel do professor no Método Suzuki é fundamental, não se pode simplesmente ser um profissional que se considera um professor Suzuki, mas é preciso que se tenha todo um preparo através de cursos e que se internalize a filosofia, o modo de aplicar o ensino da música. Melo et al (2002), falando sobre aula de piano em grupo, explicam que, em geral, as etapas da aula de piano em grupo devem trabalhar diferentes atividades como vivência sonora, criatividade, improvisação, percepção, técnica e leitura. O professor deve ensinar o aluno a como estudar sem o professor.

O método elaborado por Shinichi Suzuki primava pela educação completa do aluno para que a música e o desejo pela música pudessem fluir de dentro para fora e não se constituía uma mera imposição ou obrigação. O aluno deveria aprender a gostar de estudar sozinho mesmo poderia desenvolver o prazer em estudar, ou seja, mesmo na ausência do professor (SUZUKI, 2008, p. 72-78).

Oliveira (2014) sintetiza em dois aspectos o cerne deste método: o ambiente e a relação da tríade pais–aluno-professor. Suzuki considerava possível inclusive a superação de desafios talvez considerados insuperáveis, assim é que em seu livro ele cita um exemplo de superação de uma aluna com paralisia infantil e estrabismo, mas que “graças ao apoio dos pais e a perseverança do professor, em seis meses conseguiu tocar “Estrelinhas” no violino, mesmo com o lado direito comprometido” (OLIVEIRA, 2014, p. 11).

Tal autor, em sua monografia sobre o Método Suzuki, cita a importância de se ter um bom professor, que seria aquele que “não só detenha o conhecimento técnico, mas [que] também é dotado de virtude e de nobreza moral” (OLIVEIRA, 2014, p. 12). Essa questão da nobreza de caráter é de fato muito explorada no ambiente de estudo pelos adeptos deste método. Existe até uma frase que se repete constantemente entre os amantes dessa forma mais holística de ensino: “caráter primeiro, habilidade depois” (SUZUKI, 2008, p. 88). Essa frase expressa bem aquestão da importância de um desenvolvimento associado da musicalização e do caráter. Suzuki advogava ainda a potencialidade individual e considerava que o potencial mostra-se como uma alternativa mais coerente com as expectativas e experiências do professor em relação aos alunos e para Suzuki o potencial “vai além do concernente às habilidades que consideramos técnicas, mas está também voltado aos valores humanos e à felicidade” (OLIVEIRA, 2014, p. 13) e neste ideal ele escreveu:

meu mais profundo desejo é que todas as crianças deste mundo possam ser boas criaturas humanas, pessoas felizes, com habilidades extraordinárias, e é para conseguir isso que dou toda minha força de ação. Isso porque estou plenamente seguro de que todas as crianças nascem com esse potencial (SUZUKI, 1983 [1969], p. 79).

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Segundo Oliveira (2014), há que se dizer que existem aspectos filosóficos do pensamento de Suzuki que dialogam com a literatura e o pensamento vygostkyano4. Portanto, a concepção da criança como indivíduo receptor do mundo que o cerca já estava presente em autores anteriores a Suzuki e influenciaram seu pensamento.

Outra influência do Método elaborado por Shinichi Suzuki foi a sua crença religiosa no zen-budismo (OLIVEIRA, 2014), mais especificamente o Soto-Zen5 (MATEIRO;ILARI, 2012).

O zen-budismo, mas especificamente o Soto-Zen dá um destaque especial em sua abordagem para a repetição e memória, dois elementos fundamentais no pensamento de Suzuki sobre o processo de cognição em relação à música.

Para Suzuki, a repetição é uma forma de aprofundar o conhecimento adquirido e polir a técnica, ou seja, os aspectos da repetição e da memorização presentes na abordagem do Método Suzuki foram ora considerados como um meio positivo e eficaz para atingir a melhoria do desempenho, ora considerados como um elemento que estaria a serviço do cumprimento da tradição Soto-Zen como um fim em si mesmo, ora como um aspecto disciplinador (GARDNER, 1988 apud SALES, 2013).

Os estudos e pesquisas que surgiram abordando a cognição revolucionaram alguns paradigmas em relação à possibilidade de aquisição de habilidades. A contribuição de Shinichi Suzuki que, contrapondo-se ao inatismo da competência musical, propôs a possibilidade do treinamento do talento6 (SALES, 2013).

De acordo com Suzuki (2008, p. 30):

o homem é governado pela força da vida. A alma viva, com seu desejo de sobrevivência, demonstra grande poder de adaptação ao seu ambiente. A força da vida humana, vendo e sentindo o meio ambiente, forma e desenvolve novas faculdades. Essas faculdades com novos treinos constantes vencem as dificuldades e se transformam em relevantes habilidades. Esta é a relação entre o ser humano e a habilidade. O desenvolvimento de uma habilidade não pode ser conseguido pelo simples fato de pensar e teorizar, mas tem de ser acompanhado por ações e práticas.

4 O pensamento de Vygotysky possui três pilares, a cultura é parte essencial da construção da natureza humana,

o funcionamento psicológico tem base as relações sociais, e são produtos da atividade cerebral. Para o pensador o pensamento é histórico-social (SOUZA, 2011).

5 No Japão o Zen Budismo deu origem a duas principais tradições. A tradição Rinzai caracteriza-se

principalmente pela ênfase na prática de koans: pequenas histórias ou perguntas sobre as quais o praticante medita profundamente, com o objetivo de transcender a compreensão estritamente racional da realidade. A tradição Soto é mais conhecida pela prática do “shikantaza”, ou “apenas sentar-se”. Como em outras linhagens, realizam-se liturgias, exegeses de textos religiosos, koans e atividades recitativas e devocionais, mas a ênfase está na prática da meditação sentada. Dois mosteiros são considerados como sedes da tradição Soto no Japão: Eiheiji e Sojiji, construídos respectivamente pelos dois Mestres fundadores Eihei Dogen (séc. XIII) e Keizan Jokin (séc. XIV). Atualmente, a tradição Soto é uma das maiores religiões do Japão, com cerca de quinze mil templos e oito milhões de adeptos (MATEIRO; ILARI, 2012).

6

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Só na ação a potência da força vital pode se desenvolver inteiramente. A habilidade se desdobra com a prática.

Observa-se nessa ponderação que é possível o desenvolvimento de novas faculdades, levando-se em conta que Suzuki considerava que todos possuem um talento que pode ser educado.

Em Sales (2013) lemos que a repetição pode ser considerada como um dos recursos favoráveis à memorização e retenção dos conteúdos aprendidos. Podemos pensar em sua utilização não só na educação musical, mas em todas as áreas. Suzuki (1994, p. 87) considerava que a memória é essencial para a aprendizagem, portanto ela deveria ser treinada e cultivada: “a capacidade de memorizar é das mais importantes na vida e deve ser incutida profundamente”. No Método Suzuki o aluno deve ser ensinado a considerar a memorização uma atividade agradável. Neste caso, cabe aos pais e ao professor criar um ambiente positivo para a realização dessas atividades. Segundo o autor, sem a prática é impossível adquirir alguma habilidade.

O caminho para adquirir uma habilidade é praticar de acordo com o método correto e praticar o mais possível. Se acreditarmos nesse princípio, podemos desenvolver habilidades superiores sem falha, sem fracasso. A diferença entre quem pratica cinco minutos por dia e quem pratica três horas por dia é imensa, embora ambos pratiquem cada dia. Quem não pratica o suficiente, não pode adquirir habilidades. Somente o esforço que realmente assumimos traz resultados. Não existem atalhos (SUZUKI, 1994, p. 92).

Ainda conforme Oliveira (2014), o estudo em grupo ou a prática de conjunto tem fundamental importância e influência no aluno e em todos que participam. É, normalmente, um meio motivador e recompensador pelo esforço em aprender algo novo. Através da observação o aluno aprecia os seus pares tocando e essa dinâmica leva ao despertamento do interesse em participar e em se integrar aos outros. Ao tocar em grupo o aluno precisa prestar atenção na velocidade rítmica não só de sua própria interpretação, mas também saber interagir ouvindo os demais colegas e adequar-se ao ritmo coletivo, à execução e interpretação coletiva.

Para finalizar a abordagem desta subseção sobre aula em grupo podemos destacar que, como disse Melo (2002, p. 15): “escolher trabalhar com o ensino musical de piano em grupo parece romper com a linha das aulas individuais”. O autor entende que são métodos diferentes com o uso do mesmo instrumento, portanto não significa que se trata de um mero ajuntamento de alunos para se efetuar alguma aula, mas sim uma aula diferenciada com procedimentos metodológicos que se diferem da aula individual e que, adaptado à pedagogia pianística e à percepção musical, pode render resultados bastante eficazes. Couto (2013) registra que

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Swanwick reconhecia nas aulas coletivas uma série de benefícios, dentre eles: julgamento crítico da execução dos outros; sensação de se apresentar em público; aprendizagem através da imitação e comparação; a escuta cuidadosa; observação perceptiva; estímulo pelos triunfos dos colegas e o reconhecimento de suas dificuldades; aprendizagem indireta.

2.3 EDUCAÇÃO DO TALENTO

Aprendizagem da língua materna ou Educação do Talento foi o nome escolhido por

Suzuki para o seu método de ensino. Sua proposta é baseada na alegação de que é possível aprender música do mesmo modo como se aprende a falar a língua materna: “Toda criança japonesa, sem exceção, fala japonês sem esforço” (SUZUKI, 2008, p. 9).

Portanto, da mesma maneira que ocorre a aprendizagem da língua falada, um recém-nascido irá aprender a língua materna ouvindo as pessoas à sua volta. Desta forma, entende-se que o ambiente em que o aluno está colocado é fator primordial para o seu desenvolvimento. Então o melhor meio de criar uma habilidade musical seria inserindo o sujeito em um ambiente no qual a música estivesse vigorosamente presente, pois “a personalidade de cada pessoa, isto é, suas capacidades, sua maneira de pensar e sentir, são polidos e lapidados pelo treinamento e pelo ambiente” (SUZUKI, 2008, p. 17).

Esse ambiente em que o aluno deve ser imerso, pode tornar-se real através da interação social que não somente dará ao aluno a oportunidade de ter uma “interdependência positiva” (FISHER, 2010, p. 54), como também poderá desenvolver o sentimento de pertencimento a um grupo que está passando pelas mesmas vivências (SUZUKI, 2008). Desta forma ele não se sente sozinho, mas pode, conforme Lemos (2012), desenvolver um processo criativo que ganha um contorno próprio e eficiente na aprendizagem musical onde o aluno poderá não somente expor suas ideias musicais, mas trabalhar sua ansiedade na performance (LEMOS, 2012).

Existem diversos pontos a ponderar quando se trata de ensino coletivo de instrumento ou de características do método Suzuki. A interação social não é restrita, por exemplo, a vivência e socialização de suas experiências musicais com os demais colegas de aprendizado, mas também com suas famílias, mais especificamente os responsáveis. A presença dos pais também irá impactar o desejo do aluno (ITURRA, 2009). Observa-se em outros autores que a presença dos pais é também considerada fundamental. Magalhães (2009) relata o aspecto da solidariedade entre os alunos, mas como certeza essa mesma solidariedade poderá ser aplicada

(24)

com relação aos pais do aluno que estarão mais aptos a ajudar no aprendizado do filho porque estavam no momento do aprendizado fazendo parte daquele contexto e assim conheceram também as informações desafios que foram definidos para serem superados.

Um dos pontos principais para o Método Suzuki é a participação dos pais, pois um ambiente familiar afetivo potencializa o aprendizado. A atitude de imitar está muito presente no aprendizado e grande parte desse processo se baseia na repetição constante e na criação de práticas diárias de escuta e estudo. Portanto, assim como as crianças desenvolvem a fala antes da leitura, o Método Suzuki propõe que os alunos de música aprendam a tocar antes mesmo de começar a aprender a notação musical, enfatizando a memorização. Outra característica marcante do método é a de ter regularmente, como parte da estratégia, aulas em grupo (SUZUKI, 2008).

Pereira (2010) apresenta a aula em grupo como um dos três pilares do ensino da música pelo Método Suzuki. Conforme Nascimento (2006, p. 3), “o ensino coletivo de instrumentos musicais, diferentemente do modelo conservatorial7, utiliza em sua metodologia a interação social entre os indivíduos participantes”. Verifica-se que ele concorda com outros autores que também consideram relevante a interação social neste processo.

Essa interação social oferece um ambiente de amadurecimento que será proporcionado ao aluno, onde ele poderá desenvolver as habilidades relacionais, a importância do respeito ao próximo, do trabalho em equipe e a necessidade de se ouvir e ouvir o grupo. Através da interação com os seus colegas o aluno terá a oportunidade de treinar como ajustar o ritmo da execução musical, a intensidade do som a ser emitido, o uso das pausas, a interpretação do condutor (regente/maestro), e inclusive melhorar sua disciplina e concentração.

A filosofia Suzuki ensina que o ambiente nutre o crescimento, referindo-se à importância de promover um ambiente propício ao educando onde ele seja estimulado (SUZUKI, 2008). Observa-se que essa concepção da filosofia assegura que há significativa importância nas aulas coletivas, recitais, concertos onde a aprendizagem se dará por participação ou mesmo por assimilação.

Suzuki ensinava uma verdade bastante evidente, a de que quando se domina bem um passo, o próximo já será mais fácil, o que produz a expressão: “o êxito atrai o êxito” (SUZUKI, 2008, p. 13).

A filosofia é holística, portanto a participação dos pais é essencial, inclusive nas aulas e através da cobrança das tarefas durante a semana. Todo aluno precisa de incentivo, algo

7

Modelo conservatorial: modelo construído a partir do Conservatório de Música Francês, no final do século XVIII, em sintonia com os ideais democráticos da Revolução Francesa (SANTOS, 2014).

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além do encorajamento. O aprendizado da música é semelhante ao do idioma, e por ser um processo gradual deve-se ensinar em passos pequenos (SUZUKI, 2008).

A filosofia Suzuki ressalta que cada criança tem um ritmo natural de aprendizagem que deve ser respeitado, por isso o ensino deve ser para cada um de acordo com seu ritmo. Outro pilar da filosofia é o da cooperação e não competição, assim sendo, devemos estimular uma atitude de colaboração entre os alunos e pais, para que eles apreciem as suas realizações e dos seus colegas (SUZUKI, 2008).

O undécimo pilar defende que a repetição proporciona eficácia no aprendizado por isso é importante que a repetição seja enfocada, “a habilidade se desdobra com a prática” (SUZUKI, 2008, p. 30). O último pilar da filosofia registra que através da música criamos um mundo melhor. Suzuki procurou ensinar não somente a música, mas buscava também trabalhar o caráter de cada criança, uma de suas frases diz: “caráter primeiro, habilidade depois” (SUZUKI, 2008, p. 88).

As aulas em grupo são usadas em diversos tipos de abordagens. No Método Suzuki elas são parte do processo de ensino e de aprendizagem que funcionam como um complemento aos trabalhos desenvolvidos nas aulas individuais, pois, diferente dessa aula onde o aluno se encontra somente com seu professor e pais, nas aulas em grupo ele tem a oportunidade de tocar com seus colegas, compartilhando suas experiências e adquirindo autoconfiança ao tocar com e para os seus pares. Segundo Mateiro e Ilari (2012), uma das características importantes da abordagem Suzuki “é o papel da coletividade no desenvolvimento das habilidades e da motivação do aluno. Para que as crianças se mantenham motivadas, é importante que elas tenham oportunidades não apenas de assistir crianças tocando, mas também de tocar com os outros alunos” (MATEIRO; ILARI, 2012, p. 202).

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Marion, Dias e Traldi (2002, p. 38) “o referencial teórico deve conter um apanhado do que existe de mais atual na abordagem do tema escolhido, mesmo que as teorias atuais não façam parte de suas escolhas”. O referencial teórico também permite verificar o estado do problema a ser pesquisado, sob o aspecto teórico e de outros estudos e pesquisas já realizados (LAKATOS; MARCONI, 2003).

Para Silva, Souza e Lopes (2018), referencial teórico e revisão de literatura são termos equivalentes, mas para Gasque (2012, p. 1) estes termos possuem significados diferentes, pois a “revisão de literatura refere-se ao levantamento do assunto do tema pesquisado” e o “referencial relaciona-se à seleção do significado de cada conceito chave tratado na pesquisa”. Um exame da literatura técnica, portanto, demonstra que essa questão terminológica ainda não é consensual entre os autores. Assim, será considerado para o presente trabalho, a definição da última autora citada, Gasque (2012).

A questão de pesquisa deste trabalho é: como as aulas de piano em grupo pelo Método Suzuki influenciam na aprendizagem da música? Essa problemática traz consigo algumas expressões e palavras-chave. Apresentar os conceitos e a discussão sobre elas demonstra as diferentes formas de entender o assunto, enriquecendo o debate e construindo o saber. Os conceitos-chave que serão aqui discorridos são parte integrante da questão de pesquisa e serão aprendizagem da música e avaliação.

A terminologia adotada pela presente autora leva em consideração a mesma que é utilizada por Figueiredo (2012), Garson (1970), Penna (2011) e Santos (1994), que consideram correto o uso do termo Método ao invés do termo metodologia. Em entrevista feita ao Dr. Alfred Garson, foi feita a ele a seguinte pergunta: “talvez as perguntas mais óbvias com as quais iniciar esta discussão, é quem é Suzuki?” (Garson, 1970, p. 64 –tradução nossa)8. E sua resposta foi: “o Dr. Shinichi Suzuki é o criador japonês de um método de ensino espetacularmente bem-sucedido, conhecido como Educação de Talentos” (GARSON, 1970, p. 64, tradução nossa)9. O Doutor em Educação Musical, Sergio Luiz Ferreira de Figueiredo também prefere usar Método Suzuki à usar Metodologia Suzuki. Em um de seus textos ele escreve:

8 No original: “Perhaps the most obvious questions with wich to start this discussion, is who is Suzuki?” (GARSON, 1970. p. 64).

9

No original “Dr. Shinichi Suzuki is the japonese originator of a spectacularly successful teaching method know as Talent Education” (GARSON, 1970, p. 64).

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o desenvolvimento da habilidade da memória, o estímulo à execução “de ouvido”, a “educação do talento” – que todos possuem – são elementos fundamentais para o

método Suzuki, que também enfatiza a realização musical em grupo e a

participação da família no processo de aprendizagem da criança. (FIGUEIREDO, 2012 – grifo nosso).

Buscando uma definição geral de método, que conjugue os elementos indicativos com maior frequência por diferentes teóricos, Bru (2008) elenca três principais componentes:

a) um conjunto de meios; b) escolhidos com o fim de atingir um ou vários objetivos inscritos em um propósito; c) mediante ações organizadas e distribuídas no tempo. Para conferir maior precisão a essa concepção, acrescentemos que, conforme os princípios que o fundamentam, um método pedagógico não é apenas uma mescla de técnicas e procedimentos, tampouco se trata de um algoritmo, de uma espécie de modo de emprego codificado pela ação que, corretamente executada, sempre produziria os mesmos efeitos (BRU, 2008, p. 7).

Penna (2011, p. 16) comenta que esses componentes da definição de Bru (2008) contemplam as dez diferentes porpostas para prática pedagógico-musical discutidas no livro, incluindo a de Suzuki, “permitindo considerá-las como método de educação musical”. Nesse mesmo sentido, Santos (1994, p. 7-8) analisa detalhadamente “quatro métodos hoje difundidos na prática da educação musical (Jaques-Dalcroze, Orff, Paynter e Suzuki)”, como representantes da “aprendizagem musical formal” (grifo nosso).

No entanto, embora tenha se optado por usar a terminologia “método”, é possível encontrar a forma “metodologia” também sendo utilizada. No site da Associação Música do Brasil, por exemplo, as duas expressões são utilizadas.

A aprendizagem musical no Método Suzuki possui uma abordagem apoiada na relação concebida pelo próprio Suzuki, entre a aprendizagem da música e o aprendizado da língua materna pela criança. Como afirma Sales (2013):

a aprendizagem natural da língua materna ocorre em um ambiente de estímulo e convivência social, sempre com o reforço e a gradativa ampliação vernacular. Na música, o mesmo sistema ocorre por um processo simples de imitação e a repetição permeado de afetividade e tendo como base a experiência aural e a observação atenta que prepara para a integração (SALES, 2013, p. 223).

De acordo com Iturra (2009) o ensino e a aprendizagem caminham juntos no processo educativo, no entanto, diferem nas suas ações. Para esse autor o ensino é a prática de transferir o conhecimento e a aprendizagem decorre do desejo do aprendiz. É muito importante que o desejo do aprendiz seja aproveitado em sua totalidade, para que, desta forma, a musicalização do aluno possa atingir resultados mais eficazes. Trabalhar esse desejo no aprendiz é uma tarefa que exige do professor uma observação e análise contextual e individual, mas que possa ao mesmo tempo verificar esse resultado e comparar no contexto coletivo. É através da

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observação do comportamento individual do aluno e considerando conjuntamente o seu comportamento no contexto coletivo que o professor poderá identificar como melhor aproveitar o desejo do aprendiz.

As aulas de piano em grupo são caracterizadas por uma aprendizagem cooperativa, onde os participantes interagem colaborando com o aprendizado uns dos outros e onde a troca de experiências enriquece a todos. Neste contexto de ensino os alunos trocam informações, refletem sobre o repertório, sugerem ideias musicais, pesquisam sobre a obra, o compositor e desenvolvem suas habilidades de forma compartilhada (SILVA, 2014).

Sharan (1994, p. 336), citada por Vieira (2016), define a aprendizagem cooperativa como uma abordagem para o ensino-aprendizagem em sala de aula que é centrada no aluno e centrada no grupo. Apesar de não ser centrada no professor, este é essencial para a condução e a aprendizagem na sala de aula. O Método Suzuki tem em seu funcionamento uma característica particular, a de que o professor deve estar sempre em aprendizagem, uma vez que ele também é um aluno que aprende por experiência, assim ele poderá conduzir da melhor forma seus alunos, pois ele também é um aluno, entendendo por experiências próprias como é a melhor maneira de desenvolver a música no contexto de cada aluno.

O Método Suzuki proporciona nas aulas coletivas diversas dinâmicas de interação, e muitas dessas interações podem estimular fortemente o desejo do aprendiz, pois ele se sentirá estimulado a apresentar seu desempenho, compartilhar e socializar aquilo que representa para ele algo significativo, sendo os pais e professores os maiores responsáveis pela motivação da criança. Esse ambiente de estímulo e motivação é o que Suzuki idealizava para o processo de aprendizagem do aluno. Santos (2016) descreve:

Shinichi Suzuki (2008) se baseou no processo de aprendizagem da língua materna por parte das crianças, porque acreditava ser um método muito eficaz, afinal, todas as crianças aprendem a falar sua língua materna. Dessa forma, o método herdou algumas características desse processo de aprendizagem, tais como: envolvimento e apoio dos pais, introdução precoce a música, audição e imitação, repetição e hábito do estudo diário, memorização e socialização (SANTOS, 2016, p. 14).

Couto (2013), discorrendo sobre estes aspectos, mostra o quanto é importante que se mantenha a oportunidade de que o aluno possa ser aproveitado de forma completa através da aula de ensino coletivo de instrumento. Estas em geral resultam em um ambiente singular, divertido e estimulante. O autor destaca que algumas das habilidades adquiridas o são especificamente neste contexto. Lemos (2012) completa essa constatação quando discorre sobre a importância da participação ativa na atividade musical assumida pelos alunos na aula coletiva o que lhes proporciona a troca de informações e, desta forma, fortalece-se a

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construção de um aprendizado colaborativo que irá proporcionar ao aluno a oportunidade de melhor aproveitar e explorar seu desejo de aprender e de socializar suas conquistas.

O treino da escuta é constante dentro do método da língua materna, daí a necessidade de dois pianos numa sala de aula. É importante deixar claro que, mesmo que o piano seja um instrumento que facilita a percepção visual de aspectos da prática musical, no Método Suzuki a escuta ainda é a primeira habilidade a ser desenvolvida. Ouvir corretamente é tão desafiador quanto uma execução. A apreciação musical mais bem aproveitada é aquela em que o aluno toma consciência de tudo que está envolvido naqueles sons que são ouvidos. Magalhães (2009) comenta sobre essa questão da relação entre a apreciação e pluralidade de internalização de elementos musicais por meio do ouvir, onde através disso o aluno poderá ganhar segurança rítmica, desenvolver sua autocrítica e crítica e também desenvolver a segurança ao tocar uma peça.

Melo (2002, p. 19) aponta algumas características das aulas de piano em grupo e lista os conteúdos que deveriam estar presentes nessa modalidade: “técnica, elementos teóricos, percepção (no repertório), criatividade, improvisação e leitura”. Interessante observar que a percepção, improvisação e leitura estão lado a lado, e essa concepção assemelha-se muito a maneira utilizada pelo Método Suzuki. Para a aprendizagem acontecer de maneira natural, considera-se que os alunos devem, no decorrer das aulas, desenvolver o improviso ou reprodução daquilo que ouvem, sem que a leitura da partitura tenha maior ou menor importância.

Pereira (2010, p. 1) explica que uma das concepções centrais do Método Suzuki é a de que, se as crianças podem aprender sua língua nativa, elas também podem aprender música, em especial pelo “estímulo positivo causado por outras crianças”. Essa é uma das concepções da filosofia que Suzuki sistematizou para defender como modelo de educação musical.

Educação Musical é aquela cujo objetivo é a aprendizagem da música. Gainza (1988) propõe uma definição que considera que seu principal objetivo seja musicalizar, isto é, desenvolver no indivíduo uma sensibilidade e receptividade aos fenômenos sonoros. E complementa afirmando que:

corresponde à educação musical instrumentalizar com eficácia os processos espontâneos e naturais necessários para que a relação homem-música se estabeleça de maneira diretiva e efetiva. Uma vez assegurado o vínculo, a música fará, por si só, grande parte do trabalho de musicalização, penetrando no homem, rompendo barreiras de todo o tipo, abrindo canais de expressão e comunicação a nível psicofísico, induzindo, através de suas próprias estruturas internas, modificações significativas no aparelho mental dos seres humanos (GAINZA, 1988, p. 101).

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Trata-se de uma definição bastante completa, mas cada método terá sua forma particular de desenvolver esse processo, como no caso do Método Suzuki. No ensino da música o processo de avaliação é um instrumento significativo para a orientação do processo educacional, pois por meio da avaliação que verificamos a efetivação da aprendizagem pelo aluno e ao mesmo tempo em que concede uma orientação do trabalho para o professor. Gordon (2000, p. 397) afirma que “o desempenho musical dos alunos, assim como sua aptidão musical em desenvolvimento devem ser medidos de forma contínua, várias vezes, durante o ano e, de forma sumária, no fim do semestre ou ano letivo, de maneira a diagnosticar e registrar o progresso escolar”. Esse processo se torna fundamental e deve ser contextualizado e correspondente, ajudando os alunos no seu desenvolvimento, além de posicionar o professor em seu processo de ensino.

Para Tourinho e Oliveira (2003, p. 13) a avaliação em música tem várias funções: “avaliar o progresso do aluno; guiar a carreira do intérprete; motivá-lo; ajudar a melhorar o professor; manter o padrão da escola ou de determinada região, ou, ainda coletar dados par o uso em pesquisas”.

A avaliação também pode ser vista como um instrumento para orientar a aprendizagem musical em um processo contínuo, o que é usado no Método Suzuki, portanto, não há um modelo específico de avaliação abordado de forma sistematizada por Suzuki. No entanto os professores precisam observar o aluno não apenas pelo seu desempenho no instrumento propriamente, pois a filosofia do método entende que a formação do aluno deve ser integral, incluindo a do caráter, trazendo esse aspecto mais holístico na formação e também na avaliação do aluno. Tourinho e Oliveira (2003) falando sobre os critérios de avaliação do professor de violão relatam que a maioria do professores avalia o tempo todo, ao dar uma instrução, observando se o aluno compreendeu a instrução, se vai precisar repetir.

Para Swanwick “qualquer modelo de avaliação válido e confiável precisa levar em conta duas dimensões: o que os alunos estão fazendo e o que eles estão aprendendo, as atividades do currículo de um lado e os resultados educacionais do outro. Aprendizagem é o resíduo da experiência” (2003, p. 94). Pensando nesses aspectos de avaliação o Método Suzuki traz uma autonomia para professores avaliarem seus alunos usando de estratégias de ensino que busquem dar essa compreensão do aprendizado do aluno, observando através da interação alunos, pais e professores a aprendizagem musical. “Nas capacitações Suzuki, os professores, além das informações referentes à técnica e perfomance instrumental, socializam estratégias de ensino que permitem construir novos conhecimentos” (MONTANARI, 2019, p. 38).

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Suzuki (2008) usava várias brincadeiras para testar o quanto seus alunos já haviam adquirido das habilidades ensinadas. Algumas delas envolviam tocar enquanto ele fazia perguntas para testar se elas conseguiam responder sem parar de tocar. Se uma criança não atingisse o objetivo significava que o instrumento ainda não havia se tornado uma segunda natureza. Todas as brincadeiras auxiliavam na avaliação de alguma habilidade desenvolvida nos alunos e ia se modificando. De acordo com Suzuki:

as brincadeiras se modificam com o progresso das crianças, mas o motivo permanece o mesmo: testar a capacidade intuitiva da criança e aumentar suas habilidades. Se essa capacidade real e essa força vital da intuição se desenvolveram tanto, que se tornam uma segunda natureza, a criança notará que isso lhe ajuda também a obter outras habilidades maiores em todas as suas atividades diárias (2008, p. 131).

Não há uma sistematização usada por Suzuki ou mesmo por seus seguidores mais próximos, o que dá aos professores liberdade de avaliar da maneira que achar mais correta. Montanari (2019) descreve alguns pontos de avaliação nas estratégias de ensino em sua dissertação baseada na ficha de descritores pedagógicos, dentre esses pontos temos a avaliação da perfomance do estudante pelo professor que são: “identifica com precisão problemas técnicos e possíveis soluções; elogia o aluno especificamente; dá instruções de correção específicas; enfoca as observações ao aluno e à atividade específica” (MONTANARI, 2019, p. 131). Por fim, para realizar as análises dos dados obtidos por meio dos questionários utilizamos as proposições motivacionais de Shinichi Suzuki descritas no capítulo dois.

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4 METODOLOGIA

É objetivo desta seção descrever a metodologia utilizada, o passo a passo do que foi feito, o método utilizado. Gil (1994, p. 27) define o “método como caminho para se chegar a determinado fim e método científico como um conjunto de procedimentos intelectuais adotados para se atingir o conhecimento”. Em consonância com o autor supracitado, Lakatos e Marconi (1991, p. 83) afirmam que “o método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo, traçando o caminho a ser seguido”.

Para esta pesquisa, o conjunto de atividades sistemáticas incluiu coletas de dados, pesquisas bibliográficas, pesquisas documentais e observação. Conforme Barros:

observar é aplicar atentamente os sentidos a um objeto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso. É um procedimento investigativo de suma importância na Ciência (sic), pois é através dele que se inicia todo estudo dos problemas, portanto, deve ser exata, completa, sucessiva e metódica (2000, p. 92).

Considera-se que esta foi uma pesquisa que, quanto à abordagem, caracterizou-se como qualitativa. Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, e Fonseca (2002) complementa essa ideia quando considera que este tipo de pesquisa possui um maior enfoque na interpretação do objeto, no seu contexto e uma maior proximidade do pesquisador em relação aos fenômenos estudados.

Por meio da plataforma Google Forms, que é um serviço gratuito para criar formulários online, foi possível o envio dos questionários aos três grupos de sujeitos da pesquisa: alunos, professores e pais ou responsáveis. Através das questões buscou-se constatar como eram as experiências pessoais dos alunos, dos pais e dos professores com o Método Suzuki.

O presente estudo foi embasado em um estudo de caso considerando-se a definição de Querino et al (2014):

estudo de caso é uma técnica de pesquisa que consiste em analisar de forma profunda uma unidade concreta como: uma instituição, um sistema, um programa, uma pessoa etc., com vistas em conhecer esta unidade, a partir de uma base teórica consistente (QUIRINI et al, 2014, p.83).

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Esse estudo de caso buscou investigar os limites e as possibilidades do uso do Método de aulas em grupo/coletivas no âmbito em questão e desta forma responder à questão de pesquisa: como as aulas de piano em grupo pelo Método Suzuki influenciam na aprendizagem da música? A observação in loco possibilitou uma aproximação com a realidade e os sujeitos pesquisados.

Os sujeitos sobre os quais a pesquisa incide são os 12 alunos do Estúdio Suzuki de Educação Musical – Roraima que estão na faixa etária de 4 a 13 anos, seus respectivos pais ou responsáveis e os professores do Método Suzuki.

As aulas de piano em grupo aconteceram em um sábado de cada mês durante os meses de agosto a novembro de 2019, com a participação dos alunos e pais. Estes foram, com as devidas autorizações, observados, fotografados e filmados para posterior análise sobre os aspectos das aulas de piano em grupo que auxiliaram na aprendizagem dos alunos.

Os questionários online foram a forma de coleta escolhida por facilitar a obtenção dos dados e por resguardar a identidade dos entrevistados já que sua identificação não foi solicitada. Aos professores as questões procuraram identificar aspectos sobre rendimento, habilidades desenvolvidas e importância das aulas em grupo no aprendizado dos alunos. Aos alunos as questões foram adaptadas e abordaram os aspectos de interação com o grupo, de como as aulas em grupo auxiliam na prática de instrumento, aprendizagem, elementos motivacionais, frequência nas aulas e encorajamento para tocar em público. Os pais responderam questões sobre metodologia e didática aplicados, as vantagens de participar das aulas, frequência, aspectos positivos e negativos e prática diária, pois esses aspectos analisados demonstram como os alunos, pais e professores assimilam os conhecimentos e dinâmicas dadas na aula para que se avaliem os resultados trabalhados com esses indivíduos. Os questionários aplicados constam nos apêndices do presente trabalho.

O estudo fundamentou-se no livro Educação é Amor: o método clássico da educação

do talento (SUZUKI, 2008), principal obra de Shinichi Suzuki. Foram utilizadas ainda,

literaturas científicas que apresentam olhares semelhantes, convergentes ou divergentes, sobre a mesma temática escolhida para o presente trabalho.

Buscou-se pesquisar como o Método Suzuki funciona na prática, quais são as vantagens e desvantagens das aulas em grupo dentre outros objetivos já descritos em seção anterior.

O interesse nesta pesquisa surgiu a partir das experiências vividas dentro do Método Suzuki através de cursos nos anos de 2015 e 2017 e da vivência no Estúdio Suzuki de

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Educação Musical - Roraima, procurando analisar como essas aulas atuam no aprendizado do aluno e quais os pressupostos do Método Suzuki.

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5 ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados do questionário enviados para os professores, alunos e pais do Estúdio Suzuki. Os documentos de análises (questionários, fotos e vídeos) foram coletados no período de agosto a novembro de 2019 nas aulas em grupo de piano.

No que se refere às questões levantadas aos professores envolvidos na pesquisa, a primeira questão abordou sobre o rendimento dos alunos antes e após as aulas em grupo. A principal resposta recebida foi que houve “um maior envolvimento, uma motivação por parte do aluno” (Professor 1), esse comportamento dos alunos corresponde ao que Mateiro e Ilari (2012, p. 202) afirmaram sobre a abordagem de Suzuki: “é o papel da coletividade no desenvolvimento das habilidades e da motivação do aluno. Para que as crianças se mantenham motivadas, é importante que elas tenham oportunidades não apenas de assistir crianças tocando, mas também de tocar com os outros alunos”. Outros fatores mencionados foram o rendimento ser maior e o desenvolvimento ser mais rápido além de o processo de escuta dos áudios começar a fazer parte do cotidiano, pois ao participarem das aulas elas escutam peças que ainda não fazem parte de seu repertório.

As habilidades que podem ser desenvolvidas foram levantadas na segunda questão. Nesta,os professores destacaram o aspecto da socialização, pois os alunos têm a oportunidade de relacionar-se com os outros alunos de forma natural e tranquila. Essa socialização acontece sem disputa, com respeito, com os alunos mais adiantados ajudando os que ainda estão no começo do livro. Nascimento (2006, p. 3) relata que “o ensino coletivo de instrumentos musicais, diferentemente do modelo conservatorial, utiliza em sua metodologia a interação social entre os indivíduos participantes”. Esse aspecto também foi mencionado pelos pais na questão sobre as particularidades e pontos positivos das aulas em grupo onde todos relataram que a motivação e ainteração estão presentes no ambiente das aulas.

A habilidade de desenvolver uma escuta consciente, percebendo o som dos outros alunos e seu próprio, trabalhando não só seu ouvido harmônico como também percebendo o som uníssono foi outra característica descrita pelos professores. Para Suzuki (2008) uma boa condição ambiental dará às crianças possibilidade de se desenvolverem adequadamente.

“Tocar de memória e segurança para tocar em público” (Professor 2) também são habilidades desenvolvidas descritas pelos professores. Sobre tal tópico, Suzuki afirma que “a capacidade de memorizar é das mais importantes na vida e deve ser incutida profundamente”

Referências

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