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[Recensão a] Ladjali, C. & Steiner, G. - Elogio da transmissão: o professor e o aluno; review. URI:

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Academic year: 2021

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[Recensão a] Ladjali, C. & Steiner, G. - Elogio da transmissão: o professor e o aluno;

review

Autor(es):

Damião, Maria Helena

Publicado por:

Imprensa da Universidade Coimbra

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/4479

Accessed :

20-Apr-2021 14:38:59

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Elogio da Transmissão: o professor e o aluno

Ladjali, C. & Steiner, G. (2005). Elogio da Transmissão: o professor e o aluno. Lis-boa: Dom Quixote.

Cécile Ladjali é uma professora ainda jovem, que tem leccionado francês em escolas suburbanas e multiétnicas da grande Paris, onde, em geral, ninguém deseja ser colo-cado; George Steiner é um douto crítico literário e filósofo, professor em universida-des de prestígio - Oxford, Harvard, Cambridge. Cécile Ladjali, ao que parece, contacta entusiasmada com os seus desinquietos alunos adolescentes, quase todos socialmente desfavorecidos; George Steiner, define-se como um leitor solitário, não sendo difícil imaginá-lo, de lápis na mão, sempre de lápis na mão, em diálogo com os Clássicos, con-tactando esporadicamente com estudantes de elite, e com colegas e outros intelectuais de estatura internacional.

O que levou, então, estas duas pessoas que se movimentam em universos tão distintos, a publicar conjuntamente, em meados de 2003, um livro subordinado ao título Éloge de la transmission: le maître et l’elève? A resposta é muito simples: ambos pensam que a missão fundamental de quem ensina é ajudar os alunos a pensarem por si próprios, sendo, para isso, necessário, entre outras coisas, que contactem com a literatura e se iniciem na criação literária.

Um incauto dirá que esta preocupação nada tem de extraordinário: é aceitável e, até, louvável. Mas tem, e não é uma eventualidade do presente. Para não recuarmos muito no tempo, situamos nas décadas de sessenta/setenta e seguintes a polémica que rodeia essa preocupação, a saber: devemos concentrar-nos no contexto vivencial dos alunos para delinearmos o curriculum, o qual deve estar de acordo com esse mesmo contexto, de modo que os alunos venham a integrar-se nele? Ou devemos partir do princípio que os alunos podem interessar-se por outros contextos além do seu, devendo o curricu-lum ser delineado em função daquilo que intrinsecamente possui um valor real para o desenvolvimento de cada pessoa e da Humanidade?

Ao contrário da primeira, esta segunda alternativa assenta no pressuposto de que os conteúdos a ensinar não têm todos o mesmo valor: uns valem mais que outros. Nega, claro está, o relativismo cultural, tão acarinhado pelas correntes pós-modernas,

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vismo que, na óptica de muitos, prevalece nos actuais sistemas educativos ocidentais com consequências devastadoras para as novas gerações, sobretudo para os sujeitos mais desfavorecidos sob o ponto de vista social, porquanto ficam praticamente impos-sibilitados de contactar com o que se entende não ser “da sua cultura” e, em conse-quência, num plano agravado de desigualdade de oportunidades, tanto no que con-cerne ao percurso escolar, como ao percurso pessoal e profissional.

Arriscando-se a serem considerados elitistas (pois quando se trata de populações das periferias e - muito importante - pobres, é comum evoca-se, como salienta Fernando Savater, o “respeito pelas origens”, só sendo lícito ensinar no estreitos quadros dessas origens), Steiner e Ladjali afirmam a sua posição: conviver desde cedo com Flaubert, Giordano Bruno, Goethe, Proust ou Wilde, proporciona a alegria de aprender e de criar. E é essencialmente disto que falam no presente livro que a editora Dom Quixote, em boa hora, decidiu publicar entre nós, no ano de 2005.

Passemos, então, à apresentação: esta é uma obra de reduzidas dimensões (tem pouco mais de cem páginas) mas que, não obstante, expõe e discute profundamente, numa escrita apelativa que prima pela clareza, ideias e práticas educativas, numa conjugação pouco comum. Após um prefácio, em forma de diário, redigido por Ladjali, o livro com-pleta-se com diálogos, ou entrevistas, entre os autores, ocorridas na France Culture. São sete esses diálogos: Elogio da dificuldade, Criar na escola, Gramática, O professor, Os mestres, Os clássicos e Na turma.

Logo nas primeiras páginas, somos informados que a professora Ladjali, além de pro-porcionar leituras que os seus alunos do secundário provavelmente nunca fariam se não andassem na escola – eis uma valia da escola -, levou muitos deles (não todos) a escrever sonetos e uma peça de teatro. Os trabalhos foram dignamente apresentados ao público: os sonetos em forma de livro, Murmures, com prefácio de Steiner; a peça, Tohu-Bohu, encenada e representada.

Ficamos também a saber que todo este trabalho foi realizado num clima de grande exigência e esforço, de muitos ensaios e correcções, de grande investimento e alguns desapontamentos, de optimismo doseado com algum cepticismo, mas também de mui-tos livros distribuídos e alguns perdidos. Este é o risco que se corre quando se fazem, indiscriminadamente, empréstimos de livros, mas é nele que assenta a primeira abor-dagem metodológica de Ladjali: advogando a imprescindibilidade de “ler muito para escrever”, para “entrar no jogo da escrita”, enche malas de livros que leva para as aulas, de modo que os alunos façam escolhas de acordo com as suas capacidades e interes-ses. Não pode dizer-se, portanto, que estamos perante uma abordagem pedagógica

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35 rpp, ano 40-3, 200

impositiva, igualitária, cega em relação aos destinatários; pelo contrário, parte deles, centra-se neles, mas com o fito de os conduzir a um outro estádio de desenvolvimento, de lhes proporcionar outros horizontes. A professora, recusa, portanto, o destino ditado pela condição social, ao mesmo tempo que faz crença numa escola libertadora; ao defender que “os alunos merecem tudo menos a indiferença”, assume uma postura revolucionária, que muitos confundirão com conservadorismo.

Voltando a atenção para Steiner. Ainda que, quem goste de o ler, não encontre neste livro ideias novas, retomará aquelas que, de forma brilhante, ele já expôs em vários dos seus livros, para reflectir sobre práticas pedagógicas. Numa altura em que tanto se elogia essa reflexão, da qual não raras vezes redunda o vazio, a abordagem deste leitor-filósofo ou filosofo-leitor, ao facultar referenciais de análise, imprime-lhe sentido e consistência. E isto acontece mesmo quando se trata dos dilemas essenciais com os quais os educadores mais atreitos a pensar nos seus desígnios se confrontam: pode a sua acção contrariar a barbárie, o declínio e morte da civilização, o vazio gnoseológico e axiológico ou, tragicamente, isso está fora do seu alcance, como a história já provou por diversas vezes?

Quando o livro veio a lume, vários críticos franceses, espanhóis e portugueses, subli-nharam que ele consubstanciava um rebelo contra a pedagogia e os seus mentores, eternamente seguidores de Pierre Bourdieu, inimigos da memorização, da repetição e, em última instância, da “esperança” que Steiner advoga ser pertença intrínseca de todo o aluno. Subjacente a estas intervenções encontra-se a ideia, lamentavelmente ainda muito corrente, que a pedagogia desvaloriza o saber, sobretudo o saber clássico, eru-dito e universal, com base na justificação que a sua transmissão mantém a reprodução social. Trata-se um equívoco que vale a pena esclarecer: a pedagogia, como ciência, não pode deixar de valorizar o saber e, portanto, uma das grandes preocupações de quem nela labora é, ou deve ser, a transmissão da “coisa mais preciosa que temos”, no dizer de Albert Einstein.

Em suma, trata-se de um livro admirável, revelador de uma experiência educativa con-creta, pensamos que pouco comum, e que, por isso mesmo, se afigura de grande inte-resse heurístico merecedora de um estudo detalhado, desafio que a ilustre Sorbonne declinou, alegando que “não se preocupava com a pedagogia”. Eis uma atitude que, por amor aos Clássicos, mais cedo ou mais tarde, a Universidade terá que rever.

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