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LEIS PENAIS ESPECIAIS

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LEIS PENAIS ESPECIAIS

VOLUME ÚNICO

ATUALIZADO COM OS INFORMATIVOS E ACÓRDÃOS DO STF E DO STJ DE 2015

8.ª edição

revista, atualizada e reformulada

(3)

A

BUSO

DE

A

UTORIDADE

L

EI

N

º 4.898,

DE

9

DE

DEZEMBRO

DE

1965

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade admi-nistrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas fun-ções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

1. Fundamento constitucional. O direito de representação está previsto no art. 5º, XXXIV, alínea a,da CRFB/88, que dispõe: “são a todos assegurados,

independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder”. A Lei

4.898/65 possibilitou à vítima de qualquer abuso de poder por parte de um agente público levar tal fato ao conhecimento das autoridades públicas.

2. Bem jurídico tutelado. São dois os bens jurídicos tutelados pela lei. O primeiro é o regular funcionamento da Administração Pública. O segun-do são os direitos e as garantias fundamentais previstos na CRFB/88. Como veremos adiante, cada tipo penal da presente lei constitui violação de um direito ou de uma garantia fundamental.

3. Sujeito ativo. É a autoridade pública, conforme veremos adiante ao comentarmos o art. 5º.

4. Sujeito passivo. O primeiro sujeito passivo é o Estado, também de-nominado nesses delitos sujeito passivo mediato, indireto ou permanente. O segundo sujeito passivo é o indivíduo vítima do abuso, também chamado sujeito passivo imediato, direto e eventual.

5

Aplicação em concurso. • Promotor de Justiça-TO/2012. CESPE

Com relação aos crimes de abuso de autoridade, previstos na Lei n.º 4.898/1965, e à respon-sabilidade dos prefeitos, de que trata o Decreto-Lei n.º 201/1967, assinale a opção correta. A) Conforme disposto no Decreto-Lei n.º 201/1967, somente os entes municipais,

interes-sados na apuração de crime de responsabilidade praticado pelo prefeito do município, podem intervir no processo como assistentes da acusação.

B) Os crimes de abuso de autoridade sujeitam-se a ação pública condicionada à represen-tação do ofendido.

C) Os crimes de abuso de autoridade são de dupla subjetividade passiva: o sujeito passivo imediato, direto e eventual, e o sujeito passivo mediato, indireto ou permanente. D) Cometerá abuso de autoridade o guarda municipal que, com a intenção de adentrar

em determinado imóvel a fim de procurar documentos de seu interesse pessoal, se fizer passar por delegado de polícia e invada casa alheia.

(4)

E) Considere que um prefeito municipal tenha sido condenado definitivamente, após o trâmite regular da ação contra ele ajuizada, pelo desvio, em proveito próprio, de receitas públicas do município. Nesse caso, de acordo com o Decreto-Lei n.º 201/1967, o prefeito não só perderá o cargo, como também estará inabilitado para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação, pelo prazo de oito anos.

Alternativa correta: letra C.

5. Competência para processo e julgamento. Compete à Justiça Co-mum, Federal ou Estadual processar e julgar o delito de abuso de autori-dade. Caso a prática do delito cause violação a alguns bens, interesse ou serviço da União Federal, suas entidades autárquicas ou empresas públicas, a competência será da Justiça Federal, na forma do art. 109, IV, da CRFB/88, como na hipótese de o abuso ser praticado dentro de uma Delegacia de Polícia Federal ou dentro do INSS, Autarquia Federal. Caso contrário, a competência para processo e julgamento será da Justiça Estadual. Deverão ser seguidas as regras de competência do Código de Processo Penal, sendo, portanto o local da consumação do crime o competente para processar e julgar a autoridade pública autora do delito (art. 70).

É de se notar que a simples condição de o agente que pratica o delito de abuso de autoridade pertencer aos quadros da Administração Pública Federal, não determina a competência da Justiça Federal para processar e julgar o delito.

Ź STJ. INFORMATIVO Nº 430

Sexta Turma.

COMPETÊNCIA. CRIME. ABUSO. AUTORIDADE.

Trata-se de habeas corpus em que o paciente afirma ser incompetente a Justiça Federal para processar o feito em que é acusado pelo crime de abuso de autoridade. Na espécie, após se identificar como delegado de Polícia Federal, ele teria exigido os prontuários de atendimento médico, os quais foram negados pela chefe plantonista do hospital, vindo, então, a agredi-la. A Turma, por maioria, entendeu que, no caso, não compete à Justiça Federal o processo e julga-mento do referido crime, pois interpretou restritivamente o art. 109, IV, da CF/1988. A simples condição funcional de agente não implica que o crime por ele praticado tenha índole federal, se não comprometidos bens, serviços ou interesses da União e de suas autarquias públicas. Pre-cedente citado: CC 1.823-GO, DJ 27/5/1991. HC 102.049-ES, Rel. Min. Nilson Naves, julgado

em 13/4/2010.

6. Infração de menor potencial ofensivo. Considerando-se que a pena máxima cominada ao delito de abuso de autoridade prevista no art. 6º, § 3º, b, não ultrapassa dois anos, o abuso de autoridade é considerado infra-ção penal de menor potencial ofensivo, sendo, portanto, a competência, dos Juizados Especiais Criminais, e lá devem ser aplicadas as medidas despena-lizadoras. Após a alteração do art. 61 da Lei 9099/95 pela Lei 11.313/2006, mesmo os delitos, para os quais haja procedimento especial previsto em lei, são considerados infrações penais de menor potencial ofensivo.

(5)

25 ABUSODE AUTORIDADE – LEINº 4.898, DE 9 DEDEZEMBRODE 1965 Art. 1º

5

Aplicação em concurso. • AGU. Advogado da União/2015. CESPE.

O crime de abuso de autoridade, em todas as suas modalidades, é infração de menor po-tencial ofensivo, sujeitando-se seu autor a medidas despenalizadoras previstas na lei que dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais, desde que preenchidos os demais re-quisitos legais.

A alternativa está correta.

7. Competência para processo e julgamento do abuso de autorida-de praticado por militar. Na hipótese autorida-de ser um militar o sujeito ativo do abuso, a competência para processo e julgamento do delito continua sendo da Justiça Comum, Federal ou Estadual. Não será deslocada para a Justiça Militar, uma vez que se trata de um delito comum, e, não, militar, por não estar previsto no Código Penal Militar (DL 1001/69). Nesse sentido, súmula 172 do STJ: “Compete a justiça comum processar e julgar militar por crime de

abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”

5

Aplicação em concurso. • Juiz de Direito do TJ/DF. 2015. CESPE.

A competência para processar e julgar crime de abuso de autoridade praticado por militar em serviço será da justiça militar do local em que o ato criminoso for praticado.

A alternativa está errada. • Escrivão-ES/2010. CESPE

Com relação à legislação especial, julgue o item que se segue.

Os crimes de abuso de autoridade serão analisados perante o Juizado Especial Criminal da circunscrição onde os delitos ocorreram, salvo nos casos em que tiverem sido praticados por policiais militares.

A alternativa está errada.

• Departamento de Polícia Rodoviária Federal/2008. CESPE.

Compete à justiça militar processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, desde que este tenha sido praticado em serviço.

A alternativa está errada.

8. Competência para processo e julgamento do abuso de autorida-de previsto no código Penal Militar, praticado por militar. Existe o autorida-delito de abuso de autoridade previsto no art. 176 do Código Penal Militar, que possui a seguinte redação: “Ofender inferior, mediante ato de violência que,

por natureza ou pelo meio empregado, se considere aviltante: Pena – detenção, de seis meses a dois anos”. Nessa hipótese, o militar realmente será julgado

pela Justiça Militar, mas tão-somente em razão de ser esse um crime militar por estar previsto no Código Penal Militar, o que não se passa com o abuso previsto na Lei 4898/65.

(6)

9. Competência para processo e julgamento no caso de conexão entre abuso de autoridade praticado por militar e outro crime militar. No caso de o militar praticar um crime militar qualquer, por exemplo, abandono de posto (art. 195 do CPM) em conexão com o delito de abuso de autori-dade previsto na Lei 4898/65, deverá haver a separação dos processos para o processo e julgamento. Assim, à Justiça Militar competirá o processo e o julgamento do crime militar, e à Justiça Comum competirá o processo e o julgamento do crime de abuso de autoridade. Nesse sentido, súmula 90 do STJ: “Compete a justiça estadual militar processar e julgar o policial militar

pela pratica do crime militar, e a comum pela pratica do crime comum simul-tâneo aquele.”

10. Competência para processo e julgamento no caso de conexão en-tre abuso de autoridade e homicídio doloso. Nesse caso, aplica-se a norma contida no art. 78, I, do Código de Processo Penal, sendo o Tribunal do Júri o órgão competente para processar e julgar os dois delitos, uma vez que a conexão, como causa de modificação de competência que é, modificará a competência para processo e julgamento do abuso de autoridade, sobretudo após o advento da Lei 11.313/2006, que alterou a redação do art. 60 da Lei 9099/95, determinando a observância das regras de conexão e continência.

Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:

a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à au-toridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;

b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.

Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver.

1. Petição de representação. Trata-se de um requerimento escrito e for-malizado em um termo, por meio do qual qualquer pessoa que se julgue vítima de abuso de autoridade por parte do agente público pode requerer às autoridades a responsabilização civil, administrativa e penal do autor do abuso.

2. Destinatário da representação. De acordo com as alíneas a e b, a representação pode ser dirigida ao superior hierárquico do autor do abuso que tiver atribuição para a aplicação da sanção, como as Corregedorias. A representação pode ser também dirigida ao membro do Ministério Público. Nesse último caso, nada obsta que o Ministério Público requisite a instau-ração de inquérito policial para reunir mais elementos probatórios para a formação da sua opinio delicti.

(7)

27 ABUSODE AUTORIDADE – LEINº 4.898, DE 9 DEDEZEMBRODE 1965 Art. 2º

3. Natureza jurídica da representação e ação penal. A leitura apressada do dispositivo legal pode levar o intérprete ao equívoco de pensar que a re-presentação a que o dispositivo faz menção é uma condição objetiva de pro-cedibilidade, sendo, portanto, a ação penal pública condicionada à represen-tação, sobretudo se conjugado ao art. 12 da lei. Entretanto, a representação não tem tal natureza, mas, sim, um espelho do direito de petição, positivado no art. 5º, XXXIV, alínea a,da CRFB/88, por meio do qual se leva ao conhe-cimento das autoridades públicas qualquer abuso de poder. Dessa forma, a representação tem natureza jurídica de notitia criminis. Nesse sentido, é o art. 1º da Lei 5.249/67 que dispõe: “A falta de representação do ofendido, nos casos

de abusos previstos na Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, não obsta a inicia-tiva ou o curso da ação penal”. Assim, a ação penal é pública incondicionada.

4. Requisitos da petição de representação. Estão previstos no parágrafo único.

5

Aplicação em concurso. • Notário. TJ/BA. 2014. CESPE.

Em se tratando de crime de abuso de autoridade, a representação do ofendido é condição de procedibilidade para a propositura da ação penal.

A alternativa está errada. • Delegado de Polícia-PR/2013. UEL

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, afirmações quanto aos crimes de abuso de autoridade tipificados na Lei nº 4.898/1965.

A) São crimes de ação penal pública condicionada, uma vez que o Art. 1º da Lei trata do direito de representação, sendo esta a condição de procedibilidade para a propositura da ação penal.

B) A competência para processar e julgar crimes de abuso de autoridade praticados por militares no exercício de suas funções será da Justiça Militar, uma vez que possuem prer-rogativa de função.

C) Para efeitos de aplicabilidade da Lei, os militares estão excluídos, uma vez que a eles será aplicado o Código Penal Militar.

D) São crimes de ação penal pública incondicionada, uma vez que o Art. 1º da Lei trata do direito de representação, sendo esta nada mais do que o direito de petição estampado no Art. 5º, inciso XXXIV da Constituição Federal.

E) Considera-se autoridade qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou função pú-blica, excluindo-se aqueles que exercem cargo, emprego ou função pública de forma transitória e sem remuneração.

Alternativa correta: letra D.

• TRT-Juiz do Trabalho Substituto 15ª região/2010)

No que se refere ao crime de abuso de autoridade, assinale a opção correta.

a) O direito de representação do ofendido, previsto na legislação específica sobre o tema, constitui condição de procedibilidade, sem a qual a respectiva ação penal não poderá ser ajuizada.

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b) Eventual falha na representação, ou sua falta, não obsta a instauração da ação penal. c) Compete à justiça militar processar e julgar crime de abuso de autoridade praticado por

policial militar em serviço.

d) A sanção penal por crime de abuso de autoridade poderá consistir em perda de cargo e inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública, por prazo de até 10 anos. e) A ação penal por crime de abuso de autoridade somente poderá ser iniciada se

devida-mente instruída com os autos do inquérito policial.

Alternativa correta: letra B.

• Delegado de Polícia-RO/2009. Funcab

Sobre a Lei nº 4.898/1965, que regula o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade, é correto afirmar que:

A) considera-se autoridade, para os efeitos dessa lei, quem exerce cargo, emprego ou fun-ção pública de modo definitivo e mediante remunerafun-ção.

B) o processo administrativo disciplinado na referida lei será sempre sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil.

C) a ação penal nos crimes tratados por essa lei é pública incondicionada.

D) a ação penal depende de representação do ofendido, que será exercida por meio de petição dirigida à autoridade policial.

E) o crime de abuso de autoridade consistente no atentado à liberdade de locomoção ad-mite tentativa.

Alternativa correta: letra C.

• Delegado de Polícia Civil/RJ. 2009. FESP.

No dia 02 de agosto de 2009, Valdilene compareceu à 14ª Delegacia de Polícia e disse que seu filho Valdilucas, com 24 anos, havia sido agredido por policiais, que estavam na comuni-dade onde reside a fim de prenderem pessoas envolvidas com o tráfico de drogas. Segundo narrou ao Delegado, os policiais abordaram algumas pessoas que estavam na rua, dentre elas o seu filho e, sem motivo aparente, deram vários tapas no rosto de Valdilucas, sendo certo que não ficaram marcas das agressões. Como deve proceder o Delegado?

A) Receber aquela informação como uma notícia-crime, necessitando da representação de Valdilucas para instaurar inquérito policial e apurar crime de abuso de autoridade, para o qual a lei prevê a necessária representação como condição de procedibilidade. B) Instaurar inquérito policial para apurar crime de constrangimento ilegal, que é de ação

pública incondicionada.

C) Receber aquela informação como uma notícia-crime, necessitando da representação de Valdilucas para instaurar inquérito policial para apurar crime de lesão corporal, pois a vítima possui mais de 18 anos e se trata de crime de ação pública condicionada à repre-sentação.

D) Instaurar inquérito policial para apurar crime de abuso de autoridade, que independe da representação da vítima, pois se trata de delito de ação pública incondicionada. E) Instaurar inquérito policial para apurar crime de tortura, que é crime de ação pública

incondicionada.

(9)

29 ABUSODE AUTORIDADE – LEINº 4.898, DE 9 DEDEZEMBRODE 1965 Art. 3º

• PC/RJ – Delegado de Polícia – 2009. FESP.

Sobre a Lei nº 4.898/1965, que regula o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade, é correto afirmar que:

D) a ação penal depende de representação do ofendido, que será exercida por meio de petição dirigida à autoridade policial.

A alternativa está errada.

• PC/RJ – Delegado de Polícia – 2009. FESP.

Sobre a Lei nº 4.898/1965, que regula o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade, é correto afirmar que:

C) a ação penal nos crimes tratados por essa lei é pública incondicionada.

A alternativa está correta.

• PC/ES – Agente da Polícia Civil 2008. CESPE.

A ação penal por crime de abuso de autoridade é pública condicionada à representação do cidadão, titular do direito fundamental lesado.

A alternativa está errada.

• TJ/AC – Juiz substituto – 2007. CESPE.

Com relação ao crime de abuso de autoridade, inexiste condição de procedibilidade para a instauração da ação penal correspondente.

A alternativa está correta.

Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

1. Crimes de atentado. Os crimes previstos no art. 3º da lei são classi-ficados como crimes de atentado, que são aqueles que já trazem a figura da tentativa como elemento do tipo. Logo, se a tentativa já esgota a figura típica na conduta do agente, o delito já está consumado. Seria correto, portanto, afirmar que, nesses crimes, o tentar já é consumar. Dessa forma, o delito não admite a figura da tentativa.

5

Aplicação em concurso. • Notário. TJ/BA. 2014. CESPE.

São crimes de atentado aqueles em que o tipo penal incriminador não prevê a figura tentada em seu enunciado, razão pela qual, no processamento desses crimes, se faz uso da norma de extensão referente à tentativa, disposta na parte geral do Código Penal.

A alternativa está errada.

2. Condutas que configuram o abuso. Os crimes estão previstos nas alíneas. Cada uma delas configura uma forma de abuso de autoridade e cada uma delas configura violação a um direito fundamental.

3. Violação ao princípio da legalidade. O legislador utilizou, na des-crição dos tipos penais, conceitos vagos e imprecisos, o que dificulta a sua interpretação, violando, dessa forma, o princípio da legalidade, na vertente taxatividade.

(10)

4. Crimes próprios. Em todas as alíneas, o crime é próprio, uma vez que só pode ser praticado por autoridade pública, nos moldes do art. 5º da lei, que será visto adiante.

5. Consumação. Em todas as alíneas do art. 3º, o delito estará consuma-do no momento da prática das condutas descritas nas alíneas.

a) à liberdade de locomoção

1. Direito fundamental violado. A conduta viola o direito fundamen-tal previsto no art. 5º, XV, da CRFB/88, que dispõe “é livre a locomoção no

território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.” Como o próprio tipo

penal está a sugerir, basta qualquer forma de atentado à liberdade de loco-moção do indivíduo para a configuração do delito em análise. Assim, não é necessária a efetiva privação da liberdade, que, se ocorrer, configurará o delito do art. 4º, a da mesma lei. Caso a autoridade atente contra a liberdade de alguém, mas por um motivo justificado, não haverá a prática do delito, uma vez que, nessa hipótese, o agente público está usando, e não abusando, do seu poder de autoridade, como no caso de o agente policial deter alguém que esteja tentando causar um dano ao patrimônio público ou na hipótese de prisão em flagrante (art. 301 do Código de Processo Penal), realização de blitz, com busca pessoal quando a autoridade tiver fundada suspeita de porte de arma por parte de alguém (art. 244 do Código de Processo Penal).

2. Direito de liberdade de ir e vir e sua relatividade. O direito consti-tucionalmente assegurado de ir e vir não é absoluto, como não o são todos os direitos e as garantias fundamentais. Com efeito, todo e qualquer direito fundamental é relativo, podendo ceder em face de outros direitos. Há casos, portanto, nos quais a lei permite a restrição da liberdade de alguém de forma lícita, sem que tal privação constitua, portanto, o delito em análise. É o que ocorre com o art. 139 da CRFB/88, que afirma que “na vigência do estado de

sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: I – obrigação de permanência em localidade determinada; II – detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns”.

3. Estado de sítio. Na vigência de estado de sítio, pode haver restrição ao direito de liberdade, sem que isso configure abuso de autoridade, por força da norma constitucional prevista no art. 139, I, da CRFB/88.

4. Princípio da especialidade. Caso a vítima do atentado seja criança ou adolescente, o delito praticado será o do art. 230 da Lei 8069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que dispõe “Privar a criança ou o

(11)

adoles-31 ABUSODE AUTORIDADE – LEINº 4.898, DE 9 DEDEZEMBRODE 1965 Art. 3º

cente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena – detenção de seis meses a dois anos.”

5

Aplicação em concurso. • Notário. TJ/BA. 2014. CESPE.

Caso a autoridade policial, ao apreender adolescente, não observe as normas legais, sua con-duta poderá ser o enquadramento no tipo penal de abuso de autoridade.

A alternativa está errada.

• MP/SP – Promotor de Justiça – 2010.

Relativamente às assertivas abaixo, assinale, em seguida, a alternativa correta:

II – o fato de privar adolescente de sua liberdade sem obedecer às formalidades legais (fla-grante de ato infracional ou ordem escrita de autoridade judiciária) constitui crime previsto na Lei nº 4.898/65 (Abuso de autoridade), que prevalece sobre norma correspondente da Lei nº 8.069/90 (ECA);

A alternativa está errada.

• PC/RJ – Delegado de Polícia – 2009. FESP.

Sobre a Lei nº 4.898/1965, que regula o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade, é correto afirmar que:

E) o crime de abuso de autoridade consistente no atentado à liberdade de locomoção ad-mite tentativa.

A alternativa está errada.

5. Classificação. Crime próprio; doloso; comissivo; instantâneo; de atentado; não admite tentativa.

5

Aplicação em concurso. • Policial Rodoviário Federal. 2014. CESPE.

Considere que um PRF aborde o condutor de um veículo por este trafegar acima da velocida-de permitida em rodovia fevelocida-deral. Nessa situação, se velocida-demorar em autuar o condutor, o policial poderá responder por abuso de autoridade, ainda que culposamente.

A alternativa está errada.

b) à inviolabilidade do domicílio

1. Direito fundamental violado. A conduta viola o direito fundamental previsto no art. 5º XI, da CRFB/88, que tem a seguinte redação: “a casa é

asi-lo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socor-ro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Da construção mais moderna

e de alto luxo ao compartimento feito de papelão onde alguns mendigos se abrigam durante a noite, tem-se a proteção constitucional do domicílio, não podendo a autoridade pública nele ingressar de forma irregular, sob pena de

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caracterização do delito em comento. O ingresso só poderá se dar de forma regular, nos seguintes moldes constitucionais, caso em que não haverá a prática do crime: flagrante delito; desastre; para prestar socorro; durante o dia, por determinação judicial ou a qualquer hora do dia ou da noite com a permissão do morador.

2. Domicílio. O seu conceito está no art. 150, § 4º do Código Penal, abrangendo, portanto, qualquer compartimento habitado, aposento ocupado de

habitação coletiva e compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. A contrario sensu, de acordo com oart. 150, § 5º do

Código Penal, não se compreende no conceito de domicílio hospedaria,

esta-lagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo o aposento

ocupado de habitação coletiva, bem como a taverna, casa de jogo e outras do

mesmo gênero.

5

Aplicação em concurso.

• PC/ES – Agente da Polícia Civil 2008. CESPE.

Se um delegado de polícia, mediante fundadas suspeitas de que um motorista esteja trans-portando em seu caminhão certa quantidade de substância entorpecente para fins de co-mercialização, determinar a execução de busca no veículo, sem autorização judicial, resul-tando infrutíferas as diligências, uma vez que nada tenha sido encontrado, essa conduta da autoridade policial caracterizará o crime de abuso de autoridade, pois, conforme entendi-mento doutrinário dominante, o veículo automotor onde se exerce profissão ou atividade lícita é considerado domicílio.

A alternativa está errada.

3. Inviolabilidade do domicílio e sua relatividade. Considerando a re-latividade do direito fundamental da inviolabilidade de domicílio, caso a autoridade pública ingresse na residência de alguém autorizado pela norma legal ou constitucional, não se poderá falar em abuso de autoridade.

4. Estado de sítio. Na vigência de estado de sítio, pode haver restrição ao direito de inviolabilidade de domicílio, sem que isso configure abuso de autoridade, por força da norma contida no art. 139, V da CRFB/88.

5. Princípio da especialidade. O delito em análise é um tipo penal espe-cial em relação ao art. 150 do Código Penal. Assim, se um particular violar o domicílio de alguém, pratica esse delito. Entretanto, caso seja autoridade pública, pratica o delito do art. 3º, b, da Lei 4898/65.

6. Art. 150, § 2º, do Código Penal. Teve sua incidência prejudicada pelo delito ora estudado, não mais podendo ser aplicado.

7. Classificação. Crime próprio; doloso; comissivo; instantâneo; de atentado; não admite tentativa.

Referências

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