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O gerenciamento do turismo em Bonito, MS

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Academic year: 2021

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O gerenciamento do turismo em Bonito, MS CAMARGO¹, E. I.; JOIA¹, P. R.

¹Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Centro Pedagógico de Aquidauana- UFMS/CPAQ. E-mails: evellynizumi@yahoo.com.br; rjoia@terra.com.br.

Resumo

O objetivo deste trabalho é caracterizar e analisar o modelo de gerenciamento do turismo no município de Bonito, visto que nos últimos anos, esta localidade desenvolveu um modelo baseado na participação de todos os segmentos do trade. Analisam-se as relações entre as Políticas Públicas para o turismo, do município de Bonito, do Estado de Mato Grosso do Sul e do Brasil, estabelecendo conexões entre as diretrizes realizadas, e ainda o papel dos órgãos públicos e de organizações sociais criadas com o intuito de organizar e gerir a atividade turística local. Baseado nessas investigações, conclui-se que o modelo de gerenciamento do turismo em Bonito difere de outros espaços turísticos do Estado de Mato Grosso do Sul, uma vez que ele está mais estruturado e conta com a participação efetiva de todos os segmentos ligados ao trade.

Termos para Indexação: desenvolvimento local, gerenciamento, políticas públicas, turismo.

Abstract

The objective of this artic le is characterise and analyse the management tourism model in Bonito, which have developed a new kind of structure, based in the participation of every parts of trade. Is analysed the relation among public politicians of the Bonito´s town, Mato Grosso do Sul State and Brasil, stablishing connections in the acctions realized, and the funccion of public and social organisations, created to organize and manage the local tourism. It is possible to conclud that the management tourism model of Bonito is different of other touristics places in Mato Grosso do Sul State, because it’s is more structured and have effective participation of every segments connected whit the trade.

Index Terms : local development, management, public politician, tourism.

Introdução

A atividade turística no Brasil foi instituída na década de 1960, com a criação da Empresa Brasileira de Turismo - Embratur em 1966, que em 1991 passou a ser denominado Instituto Brasileiro de Turismo, do CNTUR (Conselho Nacional de Turismo) e do FUNGETUR (Fundo Geral do Turismo). Com o desenvolvimento em plena ascensão, o turismo ganhou força e se expandiu durante o “milagre econômico”, até meados da década de 1980, quando o interesse nacional pelo setor diminuiu devido à crise econômica e retornando como atividade marcante novamente na década de 1990, impulsionada pelo Plano Real (1996) e incentivos e fomentos públicos na área.

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No Estado de Mato Grosso do Sul, a realidade se assemelha a nacional, tendo como “modelo turístico” o município de Bonito, o qual estando inserido na região da Serra da Bodoquena, na porção sudoeste do Estado. O município viveu um momento de esperança econômica em torno da mineração na região que perdurou ao longo da década de 1980, devido a estudos e pesquisas desenvolvidas pelo gove rno do Estado, que revelaram jazidas de mármore, que permanecem inexploradas até hoje, sendo predominante a exploração apenas no município de Bodoquena.

No município de Bonito, as primeiras ações voltadas para a organização do turismo, se deram na década de 1990, com a criação da Secretaria Municipal de Turismo, o COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) e no decorrer dos anos, instituições representativas dos setores privados do trade. Em atuação conjunta, estes ordenam e regulam o processo de desenvolvimento do turismo local, considerando a questão ambiental como primícia de suas ações.

O presente trabalho visa, portanto, analisar as implicações das políticas públicas para o desenvolvimento do turismo no município de Bonito, considerando-se que o ordenamento do território define-se por um processo de planejamento, que envolve uma estratégia para melhorar e disciplinar as relações entre os aspectos ecológicos e sócio-econômicos dos sistemas ambientais.

A evolução do turismo em Bonito-MS

Segundo VARGAS (1998), até a década de setenta, os únicos atrativos visitados de Bonito eram a Gruta do Lago Azul e a Ilha do Padre (anteriormente conhecida como Ilha de Santa Cruz), freqüentados principalmente pelos moradores do município, sendo pouco conhecidos fora dele.

Na década de 1980, foram realizados levantamentos do potencial espeleológico da região, com estudo e mapeamento de cavernas. Projetos de infra-estrutura para visitação foram apresentados para as cavernas com potencial turístico como as grutas do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida, tombadas posteriormente como Patrimônio Natural, tendo seus terrenos adquiridos pelo governo estadual.

No final da década de 1980, criou-se um novo mercado com os esportes ecológicos, ocorrendo em Bonito um discreto aumento de visitantes que procuravam também o Aquário Natural, as Cachoeiras do Mimoso e o Rio Sucuri, além do passeio de Bote. Nesse momento alguns proprietários de terra começam a despertar para a possibilidade de aproveitamento do potencial daquilo que dispunham, “ou seja, passam a vislumbrar a chance de consorciar as atividades agropecuárias, base da economia regional, com a atividade turística, através da exploração dos atrativos existentes em suas propriedades” (VARGAS, 1998). A partir dessa década de profusos investimentos no setor turístico, a população local e de cidades vizinhas teve a possibilidade de usufruto dos atrativos de Bonito reduzidas, devido à valorização dos mesmos.

Por meio do Decreto Municipal 076/85, aprovado em 14/04/86, foi desapropriada uma área para ser transformada em um Balneário Municipal, em 1988, atendendo a interesses da comunidade local, quando descartada a possibilidade da mineração vir a ser a redenção econômica de Bonito (BOGGIANI,2001). Concomitantemente a esta fase, iniciaram-se os passeios de bote inflável no rio Formoso, que veio a ser o primeiro empreendimento turístico de Bonito, propriamente dito, para o qual foi criada a primeira agência de turismo. Em 1993, o fluxo de turistas experimentou um aumento expressivo após a transmissão em rede nacional de diversos documentários sobre a região. São

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deste período as primeiras experiências de limitar o número de visitantes em alguns passeios (http:// www. bonito-ms.com.br)

Infra-estrutura para o turismo

Grande parte da infra-estrut ura turística de Bonito foi implantada a partir de 1993, quando o turismo toma maior impulso VARGAS (1998). Atualmente, em Bonito, existem mais de 30 atrativos turísticos e 27 agências de turismo, que praticam o mesmo preço, sendo a qualidade no atendimento o diferencial entre elas. A rede hoteleira é composta por aproximadamente 80 hotéis e pousadas dos mais diferentes níveis. Possui restaurantes que oferecem desde refeições rápidas até pratos a base de peixe e carne, inseridos na culinária regional.

As obras de pavimentação da rodovia MS-382, que liga a cidade de Guia Lopes da Laguna à Bonito, foram iniciadas em novembro 1992, contribuindo para maior degradação ambiental da região, acarretando desmatamentos até mesmo na mata ciliar entre os rios Formoso e Formosinho, próximos ao Balneário Municipal, sem a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). Esse processo culminou em uma ação judicial, com veredicto de pena de reflorestamento e construção de uma ciclovia na pista no trecho entre Bonito e o Balneário com aproximadamente 5 km, sendo que apenas a ciclovia foi efetivada. Tal obra foi paralisada meses depois por falta de verba, sendo retomada em 1999 e concluída recentemente.

Em 1996, a deficiência na infra-estrutura era apontada como uma das maiores problemáticas para o desenvolvimento do turismo em Bonito. As condições da MS– 382, eram o centro das discussões, devido a um trecho de aproximadamente vinte quilômetros que ficou sem pavimentação. Por um lado o problema representava atraso e impedimento para o desenvolvimento da atividade, e, por outro, funcionava como limitação ao fluxo de turistas e representava uma ameaça ambiental, para os ambientalistas.

Muitas vezes aponta-se a má conservação das vias internas de acesso aos principais passeios como um problema, porém atualmente essas estradas recebem manutenção freqüente, providas pela Prefeitura local, por meio dos órgãos responsáveis, porém os problemas de esgoto e do destino do lixo ainda não foram solucionados. Uma vez que, hoje, o município é tido como “modelo turístico”, pelo menos dentro do Estado de Mato Grosso do Sul, existe um atenção tanto por parte do poder público como da iniciativa privada mais centrada na provisão de infra-estrutura de suporte.

Pela caracterização do público predominantemente jovem que freqüenta Bonito, demandando atividades eco–esportivas, e para a recepção de um público diferenciado, como o da Melhor Idade, há necessidade de investimentos em infra-estrutura especial que proporcione atrativos mais adequados às diversas faixas etárias.

Como resultado das reivindicações do trade turístico, foi implantado no dia 02/04/2004 o Aeroporto Internacional de Bonito com capacidade para receber aviões de linhas comerciais e rota nacional, consolidando Bonito, definitivamente, como roteiro de turismo nacional, fomentando a demanda para o lugar.

Existe ainda um anseio local que é a implementação de um “pórtico” na entrada da cidade, equipado com serviços de informação e apoio ao turista e cobrança de

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pedágio, tendo como funções primordiais como afirma VARGAS (1993), a educação ambiental ao turista e a arrecadação de fundos, por meio do pedágio.

Segundo informações do COMTUR (2004), Bonito é visitado por aproximadamente 70.000 pessoas por ano, sendo o turismo responsável por aproximadamente 56% dos empregos gerados. A estrutura turística que se tem na região abrange sítios turísticos, meios de hospedagem, transporte, alimentação, agências e guias de turismo. Sendo que os passeios turísticos atendem aos mais variados estilos: caminhada, flutuação, cavalgada, mergulho autônomo e rapel, entre outros. A busca por educação ambiental e cultural permeia grande parte destes roteiros alguns desenvolvendo atividades específicas na área.

Gerenciamento do turismo em Bonito-MS

Em 1995, a Lei Municipal 689/95 tornou obrigatório o acompanhamento de guias de turismo nos passeios turísticos locais. Seu credenciamento pela Embratur garante segurança ao visitante, aliada a uma variedade de informações sobre o local visitado, ao mesmo tempo em que se torna um fiscal da preservação ambiental. Assim, quando o turista chega em Bonito, deve obrigatoriamente passar por uma agência local para agendar seus passeios, pegar os respectivos "vouchers" e seguir para o atrativo acompanhado de um guia de turismo. Ainda em 1995, a estruturação da atividade turística foi complementada pela aprovação da Lei Municipal 695/95 que instituiu o Conselho Municipal de Turismo – COMTUR, integrado por quatro representantes escolhidos pelo Chefe do Executivo Municipal e por seis representantes dos segmentos ligados ao trade turístico local, posteriormente alterado para sete representantes. Simultaneamente, foram criados o Fundo Municipal de Turismo - FUTUR e a Associação dos Proprietários de Áreas de Atrativos Turísticos de Bonito - ATRATUR.

Assim, a política de turismo, bem como toda sua organização e gestão no município, é organizada pelo COMTUR e pela Secretaria Municipal de Turismo, Meio Ambiente, Indústria e Comércio. Tendo ainda outras entidades e associações que, no decorrer da década de 1990, se organizaram para melhor representar cada setor econômico, sendo elas: Amigos do Mimoso; Associação Bonitense de Agências de Ecoturismo – ABAETUR; Associação Bonitense de Hotéis – ABH; Associação Comercial e Industrial; Associação Cultural Festival de Inverno de Bonito; Associação de Bares, Restaurantes e Similares de Bonito/MS; Associação de Guias de Turismo de Bonito/MS – AGTB; Associação de Operadores de Bote de Bonito/MS; Associação dos Proprietários de Atrativos Turísticos de Bonito e Região- ATRATUR; Cooperativa de Transportes de Bonito/MS – COOPERBON; Fundação Neotrópica; Sindicato Rural de Bonito/MS.

O Conselho Municipal de Turismo – COMTUR:

O COMTUR tem como principal objetivo fomentar o turismo de maneira organizada e sustentável no município, apoiando ações que visem divulgar o município de Bonito para outras regiões, dando apoio ao trade e à comunidade, seja na implantação de alguma atividade ou na parceria de projetos de cunho social.

Os Conselheiros representam as associações de classe, são eleitos por voto direto e cumprem mandato de dois anos. As seguintes associações estão representadas no COMTUR: Associação Comercial, Associação dos Transportes, Associação Bonitense de Hotelaria, Associação de Agências de Turismo, Associação de Guias de Turismo, Associação dos Atrativos Turísticos, Associação de Operadores de Bote, Sindicato

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Rural e IBAMA. Os representantes do Executivo Municipal são: Vice-Prefeito, Assessor Jurídico, Secretário de Turismo, Indústria e Comércio. Além de um representante da Câmara de Vereadores.

A Resolução Normativa nº 09/95 do COMTUR regulamentou a instituição do "voucher" único, principal instrumento para viabilizar o ordenamento da atividade turística em Bonito. No valor do ingresso estão incluídos os pagamentos para a agência, para o atrativo turístico e para o guia de turismo, sendo que todos devem mensalmente recolher o ISS para a Prefeitura. Com este procedimento operacional, a Prefeitura centraliza o controle do número de pessoas por passeio, mediante um sistema informatizado.

Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o turismo estimula e o seu desenvolvimento planejado, que preserve o meio ambiente, não é tarefa fácil, principalmente porque o controle da atividade depende de critérios, valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada. No ano de 1997, o comércio local respondeu por 41% da arrecadação de ICMS do Município (em 1995, era de 34%). Parte considerável da atividade comercial na cidade está relacionada ao turismo, através de hotéis, restaurantes, agências e lojas de suvenires. Comparando a atividade turística com a atividade agropecuária, a agricultura sofreu uma queda drástica na década de 1990, com a redução da área plantada de 56% entre 1990 e 1997, de acordo com RAMALHO FILHO (2000).

Ainda não se têm dados oficiais sobre a movimentação financeira do turismo mais recentes no entanto é interessante dizer que em 1999 a movimentação foi de 17 milhões de reais.

Secretaria Municipal de Turismo:

A Secretaria Municipal de Turismo foi implantada em 1995 com o objetivo de coordenar e implementar ações para o desenvolvimento do turismo local. Com a aprovação do Plano Diretor Municipal, em 2002, se estabelece o Programa de Desenvolvimento do Turismo Sustentável, tendo como objetivo aumentar as possibilidades de financiamento a projetos formulados pela municipalidade e pela comunidade para o desenvolvimento de atividades de caráter turístico no Município; melhorar a infra-estrutura viária e de transporte, ampliar as áreas de uso turístico (hotelaria, restaurantes, outros serviços e comércio), aumentando o potencial e o volume máximo da construção em relação a usos não turísticos na Área de Interesse Econômico; identificar novos pontos turísticos, garantindo a inclusão das comunidades locais na sua exploração, de forma compatível com a preservação ambiental e oferecendo treinamento adequado a essa população; viabilizar a comercialização dos produtos das comunidades indígenas da região de forma ética, criando programas que possibilitem a divulgação dessas culturas. Cabe a Secretaria Municipal de Turismo implementar essas ações no município. A Secretaria Municipal de Turismo tem se restringido a cumprir suas tarefas básicas, deixando para o COMTUR o planejamento e a organização do setor, capacitando-o como o órgão mais operante e de maior poder atualmente no município.

Conclusões

Conforme exposto, a política de turismo vigente no município de Bonito, não se concentra em apenas um poder ou órgão, mas na participação ativa e organizada dos

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diversos setores da sociedade envolvidos diretamente na atividade. Uma vez que a lógica imperante é a do capitalismo sustentado pelo turismo, ainda que indiretamente envolvidas, todas as partes do todo (município), querem sua parcela nos ganhos, contribuindo, portanto, para o estabelecimento dos padrões de gestão da atividade local. O modelo de turismo implementado em outros municípios do Estado, onde usualmente apenas um órgão coordena a atividade turística difere portanto, do modelo de Bonito.

Referências Bibliográficas

BOGGIANI, P. C. “Ciência, meio ambiente e turismo em Bonito: a combinação que deu certo?” In: MORETTI, E. C.; BANDUCCI JUNIOR, A.(Org.). Qual Paraíso. Turismo e ambiente em Bonito e no Pantanal. São Paulo: Chronos; Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2001.

RAMALHO FILHO, A. et alli Ações Prioritárias para conservação e uso sustentável da bacia do Rio Formoso, Bonito, MS. Relatório da oficina participativa. Campo Grande: Embrapa Solos, 2000.

<http:// www. bonito- ms.com.br>, COMTUR Bonito - acesso in 6/04/2004, às 13:30. VARGAS, I. A. de. “A gênese do Turismo em Bonito”. In: MORETTI, E. C.;

BANDUCCI JUNIOR, A.(Org.). Qual Paraíso. Turismo e ambiente em Bonito e no Pantanal. São Paulo: Chronos; Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2001.

Referências

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