FASE DICLOROMETANO DE Spondias purpurea L. APRESENTA ATIVIDADE GASTROPROTETORA EM RATOS WISTAR
Autoria:
Cynthia Layse Ferreira de Almeida - Programa de Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas (UEPB)
Helimarcos Nunes Pereira- Departamento de Farmácia (UEPB)
Katharina Rodrigues de Lima Porto Ramos - Programa de Pós-Graduação em
Ciências Farmacêuticas (UEPB)
Maciel Araujo Oliveira – Programa de Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas (UEPB)
Vanda Lúcia dos Santos - Departamento de Farmácia (UEPB)
E-mail: macieldearaujo@hotmail.com
RESUMO ESTENDIDO
Referencial teórico: Úlcera péptica é um termo convenientemente utilizado para se
referir às lesões que acometem o trato gastrintestinal (1). As úlceras provavelmente resultam de diferentes mecanismos patogênicos e, independentemente de sua etiologia, são formadas quando ocorre um desequilíbrio entre fatores agressores da mucosa, sejam eles endógenos (HCl e pepsina) ou exógenos (etanol, AINEs, fumo), e os fatores protetores da mucosa gástrica (muco, bicarbonato, prostaglandinas, fluxo sanguíneo, óxido nítrico). Teoricamente, este desequilíbrio ocorre em 3 condições: (i) com a redução dos mecanismos de defesa, (ii) com o aumento dos fatores agressores ou (iii) com a associação de ambos (2). Essa afecção leva à necrose agredindo toda a superfície
da mucosa esofágica, gástrica ou intestinal, podendo atingir também vasos, nervos e as
camadas mais profundas como a camada muscular(3), dessa forma, tais lesões ficam
expostas à ação agressiva do suco gástrico (4). Trata-se de uma enfermidade que
acomete cerca de 5 % da população mundial e no Brasil estima-se que 10% da população têm, tiveram ou terão úlcera. O grande alvo dos pesquisadores na atualidade é a busca de drogas antiulcerogênicas mais eficazes, que apresentem menos efeitos colaterais e menos índices de recidivas que as drogas existentes no mercado e os produtos naturais são os principais alvos. Assim, extratos e princípios ativos originários de plantas podem levar ao desenvolvimento de novas drogas, sendo importante avaliá-los como alternativa às terapêuticas antiulcerogênicas consagradas (5). Dentre as variedades de plantas mais estudadas, destaca-se a família Anacardiaceae que reúne cerca de setenta gêneros, com aproximadamente 875 espécies, distribuídas em regiões tropicais, subtropicais e poucas em regiões de clima temperado. Dessa família, destaca-se o gênero Spondias, que inclui espécies tropicais, muitas dessas estão espalhadas por todo o território brasileiro, algumas com ampla ocorrência na Região Nordeste (6). Na literatura há alguns relatos do uso de espécies do gênero Spondias na medicina tradicional. Estudos de Spondias mangifera demonstraram atividade gastroprotetora, antidiarréica e antimicrobiana (7). Spondias pinnata apresenta atividade antioxidante de diferentes extratos comprovada, devido a presença de fenóis e flavonoides (8). Spondias
mombin apresentou pronunciado efeito antiinflamatório (9) e antibacteriano (10), ambos
requeridos no combate da úlcera péptica que se origina de diferentes causas. Spondias
purpurea registrou amplo uso na região amazônica, conhecida popularmente por
seriguela, seus frutos comestíveis são usados na forma de suco para o alívio de febre e dores. Em outros países da América do Sul é empregada contra dores renais, como antidiarréico, antiespasmódico, diurético, analgésico e antianêmico. Estudos farmacognósticos realizados com a espécie S. purpurea indicam a presença marcante de
taninos, flavonóides e triterpenos em suas folhas, e raízes(11), constituintes químicos
marcantes nas plantas com atividade antiulcerogênica. Problema: Na pesquisa envolvendo plantas com atividades gastroprotetora e antiulcerogênica, alguns pontos devem ser considerados: A úlcera péptica é uma doença que apresenta elevada incidência em nosso país, que por ser uma afecção crônica que requer intervenções
cirúrgica-terapêutica e pode ser reincidente, acarreta transtornos financeiros para o indivíduo e também para o sistema de saúde. Deve-se destacar ainda que não existe no mercado farmacêutico nenhum produto com 100% de eficácia, sem efeitos colaterais e de baixo custo e neste contexto as plantas se inserem como fontes de constituintes terapêuticos potencialmente ativos, o que constitui uma grande estratégia para a descoberta de novos fármacos. Objetivo: O presente estudo buscou investigar a atividade gastroprotetora de espécie Spondias purpurea, levando em consideração o ineditismo do estudo desse gênero frente à atividade farmacológica relatada e da necessidade de investigar novas alternativas terapêuticas para o tratamento da úlcera gástrica. Metodologia: Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Ensaios Farmacológicos localizado no Complexo de Pesquisa Três Marias da Universidade Estadual da Paraíba. O material vegetal utilizado foi obtido das folhas de S. purpurea, coletadas no município de Campina Grande, estado da Paraíba. O material vegetal seco e pulverizado das folhas foi submetido à maceração exaustiva com etanol (EtOH) a 95 %, resultando numa solução etanólica, a qual foi filtrada e concentrada em um rotaevaporador, obtendo-se o extrato etanólico bruto. Em seguida, o mesmo foi submetido a uma partição líquido-líquido utilizando o solvente diclorometano para obtenção da fase diclorometano (FaDCM-Sp). Os animais utilizados foram ratos (Rattus
norvegicus) albinos machos e fêmeas, linhagem Wistar pesando entre 180-250 g. Para a
realização do presente trabalho, todos os protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal – CEUA/CBiotec/UFPB com o registro n° 0611/12. O modelo experimental utilizado foi o da indução de úlceras gástricas
induzidas por etanol absoluto(12). Os ratos foram submetidos a um jejum inicial de 24
horas, posteriormente, pré-tratados por via oral com solução veículo de NaCl 0,9% (controle negativo), FaDCM-Sp nas doses 125, 250 e 500 mg/kg e lansoprazol 30 mg/kg (controle positivo). Após 1 hora, foi administrado 4 mL/kg de etanol absoluto (agente lesivo) aos animais por via oral. Decorrida 1 hora dessa administração, os ratos foram eutanasiados por anestesia (overdose), os estômagos retirados e abertos ao longo
da grande curvatura para determinação do índice de lesão ulcerativo (ILU) (13). Na
análise estatística foi utilizado o software GraphPad Prisma 5.0, San Diego, CA, EUA. O ILU foi expresso com média ± desvio padrão (d.p.), com intervalo de 95% de
confiança. Já o percentual de inibição ulcerativo foi obtido através da análise de variância de uma via ANOVA seguido do teste de Dunnett, comparado os tratamentos ao grupo controle negativo, com nível de significância mínimo de p<0,05. Resultados: Os resultados obtidos para este modelo de indução de úlceras gástricas em ratos demonstram que FaDCM-Sp (125, 250 e 500 mg/kg) e lansoprazol (30 mg/kg) via oral diminuíram de forma significativa o ILU em cerca de 22, 53, 69 e 64%, respectivamente, quando comparado com o grupo controle negativo. Esses resultados indicam que FaDCM-Sp apresenta atividade gastroprotetora frente às lesões gástricas agudas induzidas por etanol absoluto quando comparado ao medicamento de uso tradicional. Conclusão: O presente trabalho valida o emprego do uso da fase diclorometano da espécie S. purpurea para o tratamento agudo de úlceras gástricas em modelo animal que mimetiza as lesões pépticas na espécie humana, porém mais estudos são necessários para estabelecer seu mecanismo de ação, eficácia e segurança.
Palavras-chave: Spondias, úlcera gástrica, produtos naturais.
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