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IDENTIFICAÇÃO DE CONCHAS OCUPADAS PELO CARANGUEJO-ERMITÃO (Decapoda, Anomura) NA PRAIA DE ARPOEIRAS, ACARAÚ/CEARÁ.

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Academic year: 2021

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Francisco Gabriel Ferreira Nascimento1

Manoel Alves de Sousa Neto1

Pedro Júlio de Castro Filho1

Francisca Cinara Araújo2

Resumo: Os caranguejos ermitões possuem um corpo estruturalmente pouco rígido, o que acarreta um

maior risco de predação e um fator envolvido no seu sucesso evolutivo é a sua relação com as conchas de gastrópodes como uma forma de proteção e sobrevivência. O presente trabalho tem o objetivo de identificar as conchas que estão sendo ocupadas pelo caranguejo ermitão na praia de Arpoeiras em Acaraú, Ceará. Através de uma metodologia baseada na busca ativa foram coletados 164 indivíduos, dos quais 40,2% se encontravam em conchas de gastrópodes do gênero Stramonita. Mesmo com o recurso limitado, 7,3% das conchas coletadas possuíam danos externos, mas as mesmas sendo habitadas por esses caranguejos. A partir dos resultados obtidos neste trabalho, infere-se que existem três espécies de conchas de gastrópodes dominantes: Stramonita sp., Natica marochiensis e Pugilina morio. Embora haja um número de conchas encontradas nas amostras que continham danos, isso não implicou na sua ocupação por caranguejos ermitões. Subtende-se que não há disponibilidade de conchas de qualidade no local.

Palavras-chave: Crustáceo. Paguros. Disponibilidade de conchas. Proteção.

1 Graduandos em Licenciatura em Ciências Biológicas, Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Ceará, campus Acaraú, CE, Brasil.

2 Pós-graduanda em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Acaraú, CE, Brasil.

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Introdução

Os crustáceos são encontrados de modo geral em muitos habitats aquáticos e possuem uma ampla variedade que vão desde organismos com menos de um milímetro de comprimento a indivíduos com três metros de comprimento com relação a abertura de suas pernas (LIMA, 2010; VIEIRA, 2004). Muitos desses organismos vivem parcial ou totalmente enterrados no sedimento, na areia ou em tocas e, por esse motivo, a alimentação desses animais também possui uma alta variedade, contendo algumas espécies de hábitos herbívoros, outras de hábitos carnívoros e também as que se alimentam de matéria em decomposição (MELO, 2003; BOLINA, 2007).

Os caranguejos ermitões conhecidos popularmente por paguros, ermitões, caranguejos de conchas, dentre outras denominações baseadas no senso comum são crustáceos pertencentes à ordem Decapoda que inclui os siris, os camarões, os caranguejos e as lagostas, possuindo cerca de 17.000 espécies atualmente conhecidas (BARNES, 2005). Especificamente, esses indivíduos são pertencentes à infraordem Anomura em que agregam e representam características que destacam a mudança de camarões para caranguejos propriamente verdadeiros, alguns aos quais podem se assemelhar em muito com caranguejos e outros nem tanto ou em nada (BATISTA-LEITE et. al, 2005).

Possivelmente os caranguejos ermitões surgiram a partir de um ancestral que utilizava como abrigo fendas ou buracos. Esses indivíduos possuem um abdômen vulnerável e muito reduzido, comumente de aspecto assimétrico e pouco calcificado, o que possibilita o encaixamento desses organismos a espaços muito pequenos e comprimidos, em contrapartida, acarreta maiores riscos de predação. Como estratégia empregada por esses indivíduos, a ocupação de conchas tornou-se essencial para a segurança e sobrevivência (BARNES, 2005).

A relação desses indivíduos com as conchas é importante, pois estes seriam facilmente capturados por um predador e consumidos rapidamente se estivessem fora de suas conchas. Entretanto, a quantidade de conchas determina o número de indivíduos em um hábitat. Em muitas ocasiões, a espécie colonizadora varia muito com a estrutura da concha como, por exemplo, as maiores são preferências de fêmeas para colocarem os ovos. Assim sendo, objetiva-se com esse trabalho identificar as conchas que estão sendo ocupadas pelo caranguejo ermitão na praia de Arpoeiras em Acaraú, Ceará.

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Materiais e métodos

Área de estudo

O presente estudo foi realizado na praia de Arpoeiras, no município de Acaraú, litoral oeste do Estado do Ceará (Figura 1). A praia está localizada a nove quilômetros do centro da cidade e é classificada como uma praia estuarina por sofrer influência do rio Acaraú. Esta é bastante utilizada para turismo por ser local propício para a prática de esportes, além de ter grande importância econômica para a população local.

Fonte: Autores Figura 1: Praia de Arpoeiras, Acaraú/Ceará

Método de coleta

A coleta foi realizada em 11 de maio de 2016 num período de maré baixa, por meio de busca ativa de conchas de gastrópodes habitadas por caranguejos ermitões, realizada por 05 (cinco) pessoas caminhando na zona mesolitoral da praia no período de 45 (quarenta e cinco) minutos, conforme figura 2.

Depois de coletados, os animais foram contados e separados, classificando-os conforme sua aparência (Figura 3A), onde apenas um indivíduo de cada espécie foi levado ao laboratório para a identificação, os demais animais foram devolvidos ao seu ambiente natural. A identificação foi feita com auxílio de livros e chaves de identificação especializada (Figura 3B).

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Fonte: Autores Figura 02: Busca ativa de conchas na praia.

Fonte: Autores Figura 3: A: Separação e classificação das conchas; B: Identificação das conchas em laboratório.

Resultados e discussão

Foram coletados 164 (cento e sessenta e quatro) indivíduos pertencentes a 11 (onze) espécies diferentes de conchas, sendo estas, Stramonita sp., Natica marochiensis (Gmelin, 1791), Pugilina morio (Linnaeus, 1758), Stramonita haemastoma (Linnaeus, 1767), Neritina

virgínea (Linnaeus 1758), Voluta ebraea (Linnaeus, 1758), Gemophos auritulos (Link, 1807), Caducifer swifti (Tryon, 1881), Astralium latispina (Philipi, 1844), Pleuroploca aurantiaca

(Lamark, 1816) e Turbinella laevigata (Anton, 1839) (Gráfico 01), e uma porção das conchas coletadas possuíam deformações que impossibilitaram a sua identificação.

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Gráfico 01: Quantidade de espécies de conchas encontradas na área amostral

Das espécies coletadas, 40,2% se encontravam em conchas de gastrópodes do gênero Stramonita (31,7% Stramonita sp. e 8,5% Stramonita haemastoma), 18,3% eram conchas da espécie Natica marochiensis e 13,4% da espécie Pugilina morio (Figura 4: A, B e C). Essas espécies são típicas de praias estuarinas de fundo arenoso. As espécies do gênero Stramonita sp podem ser encontradas em todo o litoral brasileiro, a N. marochiensis se distribui do Amapá ao Rio de Janeiro e a P. morio se encontra na região entre o Pará e Santa Catarina (THOMÉ et al, 2010). A morte desses e de outros moluscos nessas áreas proporcionam conchas livres, propícias para a moradia dos caranguejos ermitões.

Do total de conchas coletadas 7,3% possuíam danos externos, mas mesmo com isso, ainda eram habitadas por esses caranguejos. Essas conchas apresentaram partes quebradas ou com bioincrustação associadas à superfície. Segundo Pereira (2009) uma concha pode ser considerada inadequada ou de baixa qualidade para o ermitão caso seja pequena, esteja parcialmente quebrada ou de uma espécie de concha imprópria para o paguro.

Leite (2005) mostram grandes evidências que os ermitões não escolhem as conchas dos gastrópodes por acaso, mas escolhem com base ao tipo, forma, dimensão e peso da concha. No entanto, Pereira (2009) aponta que essa seleção pode ser influenciada pela disponibilidade e acessibilidade dessas conchas no ambiente.

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Fonte: Autores

Figura 4: Principais espécies encontradas; A: Pugilina morio; B: Natica marochiensis; C: Stramonita sp.

Segundo Santos (2006) podemos observar que as ocupações dos diversos tipos de conchas pelos ermitões são influenciadas pela disponibilidade no ambiente, ou seja, a determinação na taxa de trocas de conchas e a densidade populacional desses caranguejos variam de acordo com a disponibilidade e oferta das mesmas. (Ruppert et al, 2005).

Considerações finais

A partir dos resultados obtidos neste trabalho, infere-se que existem três espécies de conchas de gastrópodes dominantes: Stramonita sp., Natica marochiensis e Pugilina morio. Embora haja um número de conchas encontradas nas amostras que continham danos, isso não implicou na sua ocupação por caranguejos ermitões. Subtende-se que não há disponibilidade de conchas de qualidade no local.

Sugere-se a hipótese de que as conchas que se apresentaram mais abundantes são menos atrativas visualmente para os artesãos da região, fazendo com que os mesmos não as recolham e as tirem de seu ambiente natural e consequentemente deixem disponíveis para os ermitões.

O presente estudo é de extrema importância para se conhecer a relação entre as conchas de gastrópodes e o caranguejo ermitão. Entretanto, não se sabe se outros fatores

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influenciam essas relações necessitando-se de estudos mais específicos, já que há poucos registros na literatura.

Referências Bibliográficas

BATISTA-LEITE, L. M. A; COELHO, P. A; CALADO, T. C. S. Estrutura populacional e utilização de conchas pelo caranguejo ermitão calcinus tibicen (herbst, 1791) (crustacea, decapoda, diogenidae). Tropical Oceanography, Recife, v. 33, n. 2, p. 99-118, 2005.

BATISTA-LEITE, L. M. A; COELHO, P. A; CALADO, T. C. S. Estrutura populacional e utilização de conchas pelo caranguejo ermitão calcinus tibicen (herbst, 1791) (crustacea, decapoda, diogenidae). Tropical Oceanography, Recife, v. 33, n. 2, p. 99-118, 2005. in: GRANT, W. C. JR.; ULMER, K. M. Shell selection and behavior in to sympatric species of hermit crabs. Biology bulletin, Stanford, V. 146, p. 32 – 43. 1974.

BOLINA, C. O.; MARCOS, C. G.; ROCHA, R. F. S.; COELHO, C. P. Levantamento das espécies de camarão de água doce encontradas na região de Itumbiara-GO. in: CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL, 08., 2007, Caxambu. Anais... Caxambu: Sociedade de Ecologia do Brasil. p. 1-2. 2007.

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PEREIRA, P. H. C.; JUNIOR, J. Z.; JACOBUCCI, G. B. Ocupação de conchas e utilização de microambientes por caranguejos ermitões (Decapoda, Anomura) na praia de Fortaleza, Ubatuba, São Paulo. Revista Biotemas, v. 22, n. 2, p. 65 – 75. 2009. in: REESE, E. S. Shell selection behavior of hermit crabs. Animal Behavior, 10: 360 – 374. 1962.

RIOS, E.C. Seashells of Brazil. 2. ed. Rio Grande: editora Furg. 1994

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