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Distúrbios digestivos em bovinos alimentados com dietas de altos teores de energia

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Distúrbios digestivos em bovinos alimentados com dietas de altos teores de

energia

Carrara, T. V. B1, Locatelli, L1, Oliveira, C. A 1, Millen, D. D²

1Acadêmicas do curso de Zootecnia, UNESP – Campus de Dracena, Rodovia SP 294, Km 651, Dracena, SP. E-mail:

tassiaveluma@zootecnista.com.br

² Professor Dr. UNESP – Campus de Dracena, Rodovia SP 294, km 651, Dracena, SP. E-mail: danilomillen@dracena.unesp.br

Introdução

Para atender ao crescente e exigente mercado da carne nos últimos anos, houve a necessidade de intensificação do sistema de produção e uma das conseqüências foi o aumento no número de bovinos confinados no Brasil, que passou de 435.000 animais em 1986 para 3.047.717 animais em 2010 (Anualpec, 2010). Tais mudanças conduziram a maior utilização de alimentos concentrados em substituição a alimentos volumosos, onde de acordo com Millen et al. (2009) 77,4% dos clientes dos nutricionistas de gado confinado utilizam entre 56 e 80% de concentrado na matéria seca total da dieta. Tal nível de inclusão trazem inúmeras vantagens, porém se forem ministradas de maneira inadequada podem predispor ao surgimento de problemas, tais como acidose ruminal, rumenites, abscessos hepáticos, entre outros (Krauser e Oetzel, 2006). Assim o conhecimento dos distúrbios metabólicos causados pelos elevados níveis de ingestão de dietas contendo altos teores de energia são de grande importância para a adoção do manejo alimentar correto visando altos níveis produtivos.

Desenvolvimento

O estômago dos ruminantes é composto por quatro compartimentos morfologicamente distintos, em seqüência, retículo, rúmen, omaso e correspondente à porção aglandular o abomaso. Internamente ao rúmen encontram-se os pilares que dividem o órgão em sacos cranial, ventral, dorsal, cego caudo-dorsal e cego caudo-ventral, sendo que a região ventral, também conhecida por recesso do rúmen é a região de maior acúmulo de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) causando então maiores danos às papilas.

Acidose

Embora aumentar o consumo seja interessante, em função do maior aporte de energia para o ganho de peso, taxas elevadas de ingestão de carboidratos de rápida degradação estão fortemente associadas com a acidose ruminal (Krause e Oetzel, 2006). Quando o suprimento de

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carboidratos não fibrosos é aumentado abruptamente, AGCC produzidos pelos micro-organismos no rúmen e a proporção de ácido lático aumentam como resultado da maior taxa de fermentação, o que desencadeia quadros de acidose, o qual pode se apresentar de forma aguda ou sub-aguda. A acidose aguda se manifesta como doença de fácil identificação, entretanto a acidose sub-aguda é de mais difícil reconhecimento pela ausência de sintomas característicos, pois existem algumas conseqüências comum entre elas como a diminuição da ingestão de matéria seca e do desempenho dos animais.

Se a oferta de carboidratos rapidamente fermentáveis no rúmen é aumentada abruptamente, os AGCC produzidos pelos micro-organismos ruminais podem aumentar juntamente com a proporção de ácido lático, o que resulta em seu acúmulo e conseqüente quadro de acidose aguda.

Quando bovinos são gradualmente adaptados a dietas com elevado teor de concentrado, o acúmulo de ácido lático é prevenido; no entanto, o pH ruminal poderá ainda permanecer baixo devido a maior produção de AGCC (Nagaraja, 2003), o que dá origem ao quadro de acidose ruminal sub-aguda por acúmulo excessivo de ácidos graxos de cadeia curta, apresentando faixa de pH ruminal entre 5,2 a 5,5. A acidose sub-aguda ocorre mais freqüentemente e a identificação de um animal doente dentro da baia se torna mais difícil mesmo que ocorra severa redução na ingestão de matéria seca, tendo seu início em pH menor que 5,6 (Galyean & Rivera, 2003).

Rumenites

A rumenite é uma condição com desenvolvimento de alterações inflamatórias no epitélio ruminal e nos tecidos subjacentes do ruminante alimentado com dietas ricas em energia e com níveis de forragem inferiores ao recomendado, tendo como principal causa, processos fermentativos inadequados no interior do rúmen que podem gerar quadros de acidose.

Estudos nacionais referentes às rumenites, realizados por Costa et al. (2008), têm sido descritos quanto a ação de certos ácidos em predispor lesão ruminal e, conseqüentemente, quadros de rumenites. Vechiato (2009) estudou a freqüência e tipo dessas lesões ruminais em bovinos terminados em regime alimentar de confinamento, observando que a incidência de rumenites foi de 11,88%, a medida que foram adotadas dietas com maiores inclusões de concentrado.

Após instalado quadro de rumenite, as barreiras físicas de defesa dos animais estão comprometidas devido à lesão originada, o que facilita a entrada das bactérias ruminais, em especial as do gênero Fusobacterium necrophorum, para dentro do órgão e corrente sanguínea. Essas bactérias, após atravessarem o epitélio ruminal, atingem a circulação sanguínea e, por meio do sistema circulatório porta, chegam ao fígado, ocasionando infecção e formação de abscessos hepáticos (Nagaraja e Lechtenberg, 2007).

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Abscessos hepáticos

Os abscessos são inflamações purulentas que promovem a formação de uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso, causado por bactérias normalmente anaeróbicas (Nagaraja e Lechtenberg, 2007), e de acordo com estes autores, a prevalência de abscessos hepáticos é de 1 a 3% maior nos machos em relação às fêmeas, sendo que bovinos da raça Holandesa são mais predispostos que as raças de corte no geral e machos geralmente consomem de 1 a 3% a mais de matéria seca em relação ao seu peso vivo que as fêmeas.

O principal efeito econômico dos abscessos hepáticos é a redução no desempenho animal e na produção de carcaça. O seu diagnóstico pode ser feito através de exames de ultrassonografia hepática, porém esse manejo mostra-se economicamente inviável por seu alto custo, assim a avaliação pós mortem, durante o abate de bovinos, mostra-se mais adequada para confinamentos, sendo feita por meio de uma escala de severidade.

Timpanismo

O timpanismo é um distúrbio metabólico dos ruminantes, que está associado a fatores que impedem que o animal elimine gases produzidos durante a fermentação ruminal, sendo caracterizado pela distensão acentuada do rúmen e retículo, acarretando quadro de dificuldade respiratória e circulatória, com asfixia e possível morte do animal, podendo ser classificado em gasoso e espumoso. No timpanismo espumoso ocorre alterações na quantidade e qualidade da saliva produzida influenciando na formação de bolhas e no desenvolvimento do timpanismo. Já no gasoso ocorre a distensão do rúmen por excesso de gás livre no conteúdo ruminal, quando há dificuldade física à eructação.

Hiperqueratoses

A hiperqueratose ruminal é um tipo lesão no epitélio do rúmen, podendo estar associada à atrofia papilar, onde as papilas ruminais se tornam grossas, irregulares e comprimidas umas contra as outras sendo muito comum em bovinos alimentados com dietas contendo elevados teores de concentrado. A paraqueratose é o estado normal de queratinização do epitélio, provavelmente resultante da maior taxa de produção AGCC em relação à de absorção pelo epitélio ruminal.

Quando dietas ricas em alimentos concentrados são utilizadas, exigindo alta capacidade de absorção de AGCC pelo epitélio, a paraqueratose parece compensar a hiperqueratose, mantendo uma camada de células queratinizadas mais permeável aos metabólitos ruminais (Costa et al., 2008).

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A manutenção de um ambiente ruminal menos ácido e, portanto, passível de absorção dos AGCC, torna-se necessário para evitar grandes prejuízos econômicos no sistema de produção de bovinos de corte. Para tanto várias ferramentas de manejo podem ser adotadas com o intuito de prevenir ou controlar a acidose e conseqüentemente os demais distúrbios metabólicos, sendo estes uma conseqüência da acidose, sendo que a eficácia dessas ferramentas é dependente da extensão do problema e das características do distúrbio. Dentre tais estratégias de manejo, pode-se ressaltar a inclusão de quantidade adequada de fibra na dieta, pois além de esta aumentar a salivação que possui efeito tamponante, estimula a ruminação, fazendo que a taxa de passagem da digesta seja aumentada, deixando-a menos tempo disponível para ação das bactérias e havendo por conseqüência menor produção de AGCC, além da retira do excesso de dieta acumulada entre as papilas, evitando que estas fermentem no local provocando putrefação do epitélio.

Evitar a adoção de dietas com excesso de grãos e deficiência em fibras, assim como a excessiva moagem dos grãos, é uma estratégia relevante para evitar o aparecimento de timpanismo. A adoção de um manejo de cocho, a fim de evitar sobras em um dia, e, restrição de alimento no dia seguinte, o que provocaria freqüentes variações de pH ruminal, é de extrema importância quando se visa a diminuição de quadros de acidose ruminal e seus distúrbios decorrentes.

Outra estratégia relevante é a substituição de ingredientes que degradados geram propionato, por aqueles que disponibilizam acetato, como é o caso da polpa cítrica em substituição ao milho, entre outras tantas estratégias como freqüência de alimentação, e o uso de aditivos. Portanto, devido ao aumento da intensificação dos sistemas de produção de bovinos, é preciso cada vez mais efetuar pequenos ajustes para que se possa explorar ao máximo a produtividade dos animais, sem prejudicar a saúde ruminal.

Referências

Anualpec. 2010. Anuário da Pecuária Brasileira. 17th ed. Instituto FNP, São Paulo, SP.

Costa, S. F. et al. Alterações morfológicas induzidas por butirato, propionato e lactato sobre a mucosa ruminal e epiderme de bezerros. II. aspectos ultra-estruturais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 60, n. 1, p. 10-18, 2008.

Galyean, M. L., RIVERA, J. D. Nutritionally related disorders affecting feedlot cattle. Canadian Journal of Animal Science, v. 83, p. 13-20, 2003.

Krause, K. M., OETZEL, G. R. Understanding and preventing subacute ruminal acidosis in dairy herds: review. Animal Feed Science and Technology, n. 126, p. 215-236, 2006

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Millen, D. D. et al. A snapshot of management practices and nutritional recommendations used by feedlot nutritionist in Brazil. Journal of Animal Science, Champaign, v. 87, p. 3427-3439, 2009.

Nagaraja, T. G. Response of the gut and microbial populations to feedstuffs: the ruminant story. Pages 64-77 in Proc. 64th Minnesota Nutrition Conference. St. Paul, MN, 2003.

Nagaraja, T. G., LECHTENBERG, K. F. Liver abscess in feedlot cattle. Veterinary Clinics Food Animal, n. 23, p. 351-369, 2007.

Vechiato, T. A. F. Estudos retrospectivos e prospectivos da presença de abscessos hepático em bovinos abatidos em um frigorífico paulista. 2009. 102 f. Dissertação (Mestrado em Clínica Veterinária)-Universidade de São Paulo, 2009

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