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A Justiça e o Imaginário Social 1

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Academic year: 2021

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A Justiça e o Imaginário

Social

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Gilmar Cavalheri*

*Mestrando do CPCJ/UNIVALI. E-MAIL: Gcavalheri@trt12.gov.br

A Doutora Maria da Graça dos Santos Dias graduou-se em Servi-ço Social em 1969 e Direito em 1970. Recebeu o grau de Mestre em Serviço Social em 1987 pela PUC do Rio Grande do Sul e o tí-tulo de Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2000. É docente/pesquisadora do Curso de Pós-Gra-duação Programas de Doutorado e Mestrado em Ciência Jurídica do Centro de Educação de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI.

O presente trabalho tem por objetivo examinar os temas Direito e Justiça, mas sobretudo a “Justiça como Práxis”, sob a ótica de vá-rias posturas filosófico-teóricas e práticas, propondo o debate em torno da questão da realização da Justiça e da Justiça “como ins-trumento de avaliação ética e política do Direito”. A par das ques-tões teóricas, muito bem analisadas, a autora objetivou imbricar o pensamento filosófico às questões existenciais da comunidade, na busca da identificação de referente ético-político para permanente avaliação e renovação do Direito, sem perder de vista o escopo fi-nal, qual seja, a efetividade dos princípios de Justiça.Desde as considerações preliminares, a autora revela sua grande percepção científico-social a respeito de todo o tema tratado na obra. Inicia

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citando RUDOLFO VON IHERING2, para expor que “a trajetória do

Direito é marcada pelas lutas e oposições às situações de injustiças, miséria e opressão, estabelecidas pelos privilégios e desigualdades vi-vidos através dos tempos nas diferentes sociedades” p.9.

Examina argumentos do jusfilósofo GIORGIO DEL VECCHIO3,

quan-to à sua posição a respeiquan-to da Justiça como instrumenquan-to de legitimação e construção do conceito de Direito. Também apresenta para o debate o jurista HANS KELSEN4, e sua Teoria Pura do

Direi-to, cujo objeto manifesto é o de libertar o Direito das valorações hu-manas, tanto ética quanto politicamente, expondo os limites de uma teoria jurídica que reduz o fenômeno jurídico a questão da legalidade. O objetivo da autora, ao examinar DEL VECCHIO, de um lado, e KELSEN, de outro, é de explicitar a grande distinção entre a verten-te de pensamento que verten-tem a Justiça como fundamento do Direito e a do pensamento cientificista, dogmático, que estabelece um corte entre Direito e Justiça.

DEL VECCHIO assevera que a Justiça deve ser destacada como um dos mais altos valores espirituais da vida humana e que o ideal de jus-tiça faz parte da consciência jurídica de um povo. Com isso busca afir-mar que o conceito de Direito pertence à categoria dos valores. HANS KELSEN, por outro lado, preocupado em criar uma ciência cujo único objeto fosse o Direito Positivo e partindo do pressuposto de que é impossível definir-se idéia de justiça pela via da ciência, se-para o Direito da Justiça. A Ciência do Direito deve se preocupar com o que é o Direito e não como ele deveria ser, se justo ou não. Anali-sar a estrutura do Direito, sem fazer-lhe o estudo valorativo ou crítico ou mesmo buscar as suas justificações filosóficas, é o objetivo da Te-oria Pura do Direito. Daí a afirmação de KELSEN, citado pela autora:

O direito é uma técnica de coação social estreitamente ligada a uma ordem social que ela tem por finalidade manter (p.29).

O debate posto tem o escopo de trazer à consideração do leitor a afir-mação ou negação da Justiça enquanto fundamento do Direito. Examina ainda as teorias de NICOLAS MARIA LOPEZ CALERA5 e

OTFRIED HÖFFE6, buscando sedimentar a categoria Justiça como

tema central da Filosofia do Direito.

O destaque trazido sobre a obra do espanhol CALERA é da afirma-ção de que o grande tema de nossos dias é o da “questão da

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legitimação social do Direito” p.40. Trata de afirmar que a sobera-nia e a vontade geral da sociedade é que justificam o Direito. Cri-tica os sistemas autoritários e paternalistas de Estado e afirma que só se obtém uma ordem justa ou se pode aproximar-se da re-alização da Justiça no Estado social e democrático de Direito. Já o jurista suíço HÖFFE usa a categoria “Justiça Política” para fa-zer a crítica do Direito e do Estado. Caracteriza a Justiça Política de crítica ética da dominação. Examina os principais traços do Positivismo e do Anarquismo, fundamentando a rejeição a ambas as correntes de pensamento, como ineficazes para a busca da or-dem justa e afirma que o princípio básico da sua teoria da Justiça Política “consiste na coexistência da liberdade distributivamente vantajosa” (p.60) e que a garantia dos direitos fundamentais, em dada sociedade, se pode dar mediante o “mandato para o exercí-cio da coerção” p.61. Rumo à construção da sua teoria da Justiça, apresenta posicionamento favorável ao que chama de dominação política de caráter democrático, sendo um dos instrumentos a positivação do Direito, visando a garantia a todos do benefício uni-versalmente desejado: a Justiça.

O debate suscitado na obra autoriza a autora a concluir que “A Justiça do Direito e do Estado vincula-se à sua capacidade de asseguramento das condições de vida: materiais, afetivas, sociais e espirituais, enfim , existenciais, de seus cidadãos” p.72.

Buscou a autora, em trabalho de campo, conhecer a verdadeira di-mensão da vida e das condições existenciais de uma determinada comunidade da Capital Catarinense, quando pôde perceber que “o fenômeno da pobreza, marcado pela exclusão social, política e econômica, reduz, concreta e objetivamente, as possibilidades de realização da Justiça” (p. 5). Componente do imaginário social, “re-ferente ético e estético da coexistência humana” (p. 5) é como a autora vê a Justiça. Sustenta com base em OSVALDO FERREIRA DE MELO7 que a Política Jurídica propõe constantemente atualizar,

“resignificar” o sentido da Justiça através da avaliação e da reavaliação crítica do Direito.

Seu trabalho vem enriquecido com dados oficiais estatísticos. Os números são chocantes: 39 milhões brasileiros vivem em situação de pobreza; 20% da população fica com apenas 2,1% da renda to-tal. Fortes também são as cifras indicativas de grandes variações nas condições sociais entre as várias regiões do País. A análise da

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migração populacional do campo para as cidades, do emprego para o desemprego explica o elevado índice de exclusão social em nos-so País.

A pesquisa foi realizada no período de agosto a dezembro de 1997, na comunidade PROMORAR, situada no Município de Florianópolis e nela iniciou indicando a origem das pessoas que habitam aquele lugar, diagnosticando como fruto dos vários movimentos migratóri-os, sendo o mais relevante o do êxodo rural. Importa ressaltar o minucioso trabalho de apontamento de dados sócios-econômicos que vão revelando as condições da comunidade estudada.

A autora relaciona o resultado das várias reuniões realizadas com a Comunidade PROMORAR e conclui daí que a Justiça

é, sim, uma vivência, uma práxis social, da qual somente podemos nos aproximar empiricamente, descrever fenomenologicamente e compreender, pela razão e sensibilidade, os sentidos constitutivos de seu sentido. Sentido este que estará sempre em aberto, dado o seu caráter de provisoriedade e incompletude. (p.112.)

A atitude metodológica adotada foi a da Fenomenologia, buscando “a significação de uma essência existencial” e a compreensão da Justiça em seu caráter “polissêmico e de densidade semântica”. No exame da metodologia empregada para a realização do traba-lho, buscou a autora inspiração em EDMUND HUSSERL8,

CREUSA CAPALBO9 e MICHEL MAFFESOLI10, pois tal postura

admite dúvidas e interrogações e trabalha com certa relativização do conhecimento. À página 90, afirma a autora que a “...pesquisa de inspiração fenomenológica é orientada para a busca de signifi-cados, por isso, privilegia as percepções e significações expressas pelos sujeitos envolvidos na situação de pesquisa”. E, concluindo, aduz que “...intenciona-se compreender o fenômeno tematizado a partir da descrição dos sentidos ou significados expressos pelos sujeitos, com fundamento em suas vivências existenciais”. (p.94) Conforme documentos juntados, denominados anexos, podemos notar que não se tratou apenas de coleta de dados, mas de um enriquecedor diálogo, em reuniões e entrevistas com a comunida-de, objetivando o conhecimento da experiência das pessoas, visan-do sempre a compreensão das “significações desveladas sobre o fenômeno Justiça”.

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para aqueles que se interessam pelo debate em torno das catego-rias Direito, Justiça e cidadania, e que buscam, como a autora, afastando-se do conhecimento puramente científico, alheio à vida, propor a construção de um conhecimento e de uma teoria da Jus-tiça que leve em consideração a realidade dura de nossos tempos, um conhecimento “que permita estabelecer um vínculo entre, no dizer de MAFFESOLI, natureza e arte, conceito e forma, corpo e

alma”. (p.89.)

1 DIAS, M. da G. dos S. A Justiça e o Imaginário Social. Florianópolis: Momento Atual, 2003. 152p.

2 IHERING, R. von. A luta pelo Direito. 15. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. 3 DEL VECCHIO, G. Lições de Filosofia do Direito. 5. Ed. Coimbra: Amado,

1979

4 KELSEN, H. Teoria Pura del Derecho. Tradução de Moises Nilve. Buenos Aires: Editorial Universitário de Buenos Aires, 1960.

5 LÓPEZ CALERA, N. M. Cronica y Utopia: filosofia de mi tiempo (1973-1991). Granada: Editorial Comares, 1992.

6 HÖFFE, O. Justiça Política: fundamentação de uma filosofia crítica do Direito e do Estado. Petrópolis: Vozes, 1991.

7 MELO, O. F. Fundamentos da Política Jurídica. Porto Alegre: Sergio Antônio Fa-bris, 1994.

8 HUSSERL, E. A idéia da Fenomenologia. Tradução: Artur Morão. Lisboa: Edi-ções 70, 1986.

9 CAPALBO, C. Fenomenologia e ciências humanas. 3. Londrina: UEL, 1996 10 MAFFESOLI, M. Elogio da razão sensível. Petrópolis: Vozes, 1998

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Referências

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