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A CONCEITUAÇÃO DE AARON BECK REVISADA EM PUBLICAÇÕES SOBRE BULIMIA E ANOREXIA

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Academic year: 2021

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A CONCEITUAÇÃO DE AARON BECK REVISADA EM PUBLICAÇÕES SOBRE BULIMIA E ANOREXIA

Ricardo Alexandre Aneas Botta

Psicólogo (UNESP-SP-1993), Mestre em Educação Especial (UFScar-SP-1997), Professor do Curso de Psicologia da UNESC-Cacoal-RO.

Jéssica Lays Ferreira Ribeiro

Acadêmica do quarto período do Curso de psicologia da UNESC-Cacoal-RO.

Liandra Hévilla Alves da Rocha

Acadêmica do quarto período do Curso de psicologia da UNESC-Cacoal-RO.

INTRODUÇÃO

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é um tratamento com ênfase no processamento de informação. George Kelly ilustra o processamento de informação da seguinte maneira: “O homem vê o mundo através de padrões e modelos transparentes, que ele mesmo cria e então tenta encaixar sobre as realidades das quais o mundo é composto (...) há maneiras de interpretar o mundo” (Kelly, 1955, p. 8-9),

Os fatores cognitivos são as emoções, pensamentos, comportamentos e mudanças fisiológicas. A TCC parte do pressuposto que a cognição possui três pilares, a tríade cognitiva. A tríade cognitiva é o principal conjunto de estruturas com significações. E se referem ao self, ao outro e ao mundo.

A teoria cognitivo-comportamental proporciona base para o modelo psicoterápico baseado em evidências, além disso, a abordagem agrupa a teria da psicopatologia e a teoria da personalidade. (SILVA, 2014, p.167)

Por ter foco na falha no processamento de informações e por reunir estratégias e técnicas terapêuticas que se destinam à realização de metas objetivas, a TCC é aplicável ao tratamento de transtornos alimentares.

A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10 categoriza no código F50.0 a anorexia nervosa como sendo é um transtorno descrito pela perda de peso voluntária, impulsionada e mantida pelo paciente. Por medo de engordar, o paciente impõe um ideal de baixo peso para si. E no código F50.2, o CID-10 classifica a bulimia nervosa como uma síndrome evidenciada por hiperfagia recorrente e temor excessivo em relação ao controle do peso corporal acarretando uma oscilação entre a hiperfagia e vômitos ou uso de purgativos.

O objetivo deste texto é investigar em artigos referentes aos transtornos alimentares se a conceituação utilizada por Aaron Beck é devidamente utilizada.

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Este texto utiliza a pesquisa bibliográfica como mecanismo de investigação, objetivando verificar se a conceituação de Aaron Beck é empregada em trabalhos científicos que abordam os transtornos alimentares. Com esta finalidade foi realizada uma revisão das publicações sobre a bulimia e a anorexia com base na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A reunião dos textos se deu pela pesquisa das palavras-chave “anorexia e bulimia terapia cognitivo-comportamental pdf” na base de dados “Google.com”. Como resultado o website apresentou 34500 referências; e pela pesquisa na mesma base de dados com as palavras “transtornos alimentares terapia cognitivo comportamental pdf” foram obtidas aproximadamente 35900 referências. Os dois resultados de pesquisa foram relevados. Assim, foram selecionados seis artigos e quatro revisões bibliográficas publicadas em revista. Assim foi composto um acervo de 10 publicações divulgadas entre os anos de 2000 e 2015.

Por último, foram avaliadas as referências bibliográficas dos artigos encontrados, objetivando localizar os textos científicos que não haviam sido localizados pela busca eletrônica. Os textos foram observados seguindo a ordem cronológica de publicação e as perspectivas de conceituação teórica dentro da Terapia Cognitiva-Comportamental.(TABELA 1)

Tabela 1. Relação de artigos analisados com ano de publicação , título e autores

ANO TÍTULO AUTORES

2002 A terapia cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares.

Mônica Duchesne e Paola Almeida

2004 Anorexia e nervosa e bulimia nervosa - abordagem cognitivo-construtivista de psicoterapia.

Cristiano de Abreu e Raphael Filho

2004 Neuropsicologia dos transtornos alimentares: revisão sistemática da literatura.

Mônica Duchesne, et. al.

2009 Terapia cognitivo-comportamental nos transtornos alimentares: uma abordagem familiar para intervenção em crise.

Aneron de Avila Canals, et. al.

2011 Anorexia nervosa e bulimia nervosa:

diagnóstico e tratamento em uma visão multiprofiss ional.

Blenda Lúcia Silva e Cíntia Marques Alves

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2012 Anorexia e bulimia – corpo perfeito versus morte. Maria Aparecida Conti e Paula Costa Teixeira. 2013 Terapia cognitivo-comportamental para transtornos

alimentares: a visão de psicoterapeutas sobre o tratamento.

Letícia Langlois Oliveira e Carolina Peixoto Deiro.

2014 O papel da terapia cognitivo-comportamental na anorexia nervosa.

Helena Beyer Nardi e Cristiane Melere.

2015 As terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da bulimia nervosa: uma revisão.

Tatiana a. Bertulino da Silva, et. al.

2015 Perspectivas atuais da terapia cognitivo-comportamental no tratamento dos transtornos alimentares: uma revisão sistemática.

Alice Rodrigues

Willhelm, et. al.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Independentemente da abordagem terapêutica, todas as definições para anorexia e bulimia remetem aos conceitos de que: a anorexia nervosa (AN) se caracteriza pela perda de peso acentuada à custa de dietas auto-impostas inflexíveis em busca da magreza e a bulimia (BN) por sua vez, se caracteriza pela excessiva ingestão de alimentos que geram a sensação de perda de controle, os intitulados episódios bulímicos. Estes são seguidos de métodos compensatórios inadequados para o controle de peso. Fairburn exemplifica alguns destes métodos compensatórios como sendo vômitos intencionais, o uso de medicamentos diuréticos, laxantes e/ou inibidores de apetite, dietas e exercícios físicos exagerados, o abuso de entorpecentes como cocaína e cafeína. (Fairburn, 1995).

Uma peculiaridade da TCC de Aaron Beck é a conceituação de que os sintomas e os comportamentos disfuncionais são mediados pela cognição. Portanto, a melhora pode ser produzida pela modificação do pensamento e de crenças disfuncionais. (KNAPP e BECK, 2008). E, no artigo de Duchesne e Almeida (2002) há a afirmação que pessoas com transtornos alimentares (TA) necessitam uma modificação no sistema de crenças, visto que estes pacientes apresentam convicções disfuncionais acerca de seu corpo, afirmação esta que está de acordo com a conceituação da TCC clássica citada acima. Outro aspecto observado no texto de Duchesne e Almeida (2002) foi a apresentação da seguinte conceituação:

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A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma intervenção semi-estruturada, objetiva e orientada para metas, que aborda fatores cognitivos, emocionais e comportamentais no tratamento dos transtornos psiquiátricos. (DUCHESNE e ALMEIDA, 2002).

Este conceito está de acordo com o conceito beckiano que admite a influência do pensamento distorcido sobre as emoções e comportamentos do indivíduo. (KNAPP e BECK, 2008, apud BECK et. al., 1979). Canals, et. al. (2009) Em seu artigo também propõe a identificação, o questionamento e a criação de estratégias para impedir os pensamentos disfuncionais da pessoa que possui transtorno alimentar.

As autoras (CONTI e TEIXEIRA, 2012, apud Dattilio e Freeman, 1995) assentem o modelo cognitivo proposto por Aaron Beck ao esclarecerem que as emoções e comportamentos são motivados pelas assimilações dos eventos. Conti e Teixeira (2012) propõem também metas de mudanças no comportamento alimentar e no uso doentio de estratégias compensatórias através de uma reestruturação cognitiva, além da normalização da alimentação e do peso. Essas metas, segundo o texto, podem ser adotadas na terapia familiar do indivíduo com TA, visto que conflitos familiares podem ser causadores destes transtornos.

A publicação de Silva e Alves (2011) se refere ao diagnóstico de TA e considera amplo arsenal de profissionais para seus respectivos tratamentos, entretanto, enfatiza que em relação ao tratamento psicológico, dentre muitas abordagens, a mais apropriada é a TCC, dado que ela aponta resultados mais rápidos e duradouros. (SILVA e ALVES, 2011, apud SILVA, 2005). A pesquisa ainda cita Duchesne e Almeida (2002) quanto à TCC ponderando que:

(...) os

pacientes com AN apresentam crenças distorcidas e disfuncionais acerca de seu peso, forma física e alimentação. Para que essas crenças possam ser modificad as o psicólogo deve ensinar ao paciente a identificar um pensamento que tenha dist orção. (SILVA e ALVES, 2011 apud DUCHESNE e ALMEIDA, 2002)

As autoras Langlois e Deiro (2013) citam Aaron Beck em diversos trechos, e um deles há a concepção do autor sobre o início do tratamento, escrita em 1976:

(...) Beck (1976) diz que o trabalho pode começar pela obtenção de cognições que representem temas ou esquemas centrais subjacentes ao sistema de crenças. (LANGOIS e DEIRO, 2013, apud BECK, 1976)

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TCC. Ao passo que, a publicação de Abreu e Filho (2004) possui teor cognitivo-construtivista e utiliza-se de conceituações teorizadas por (Mahoney, 1998). Ao concluir sobre a proposta de intervenção psicoterápica para indivíduos com TA os autores reafirmam sua posição construtivista ao assegurarem que:

A exploração e a mudança psicológica não acontecem apenas pela substituição de esquemas disfuncionais de pensamento por esquemas mais funcionais, mas acontecem, em primeiro lugar, por meio da exploração do processo dialético das prováveis contradições existentes entre a experiência do sujeito e o conceito desenvolvido pelo indivíduo após ter vivido a “experiência”. Ao se integrarem estas duas instâncias, favorece-se a reconstrução de um significado global. (ABREU e RAPHAEL, 2004).

Quanto às revisões bibliográficas, o texto de Duchesne, et. al. (2004) apesar de não ser pontualmente sobre a terapia cognitiva, utiliza conceito da TCC ao enunciar que os esquemas cognitivos são maneiras de sistematizar as informações conquistadas por meio das experiências de vida e podem gerar erros no processamento de informações. (DUCHESNE et. al., 2004).

Já a revisão bibliográfica produzida por Willhelm, et. al. (2015) apresenta pesquisas que indicam que a TCC clássica (terapia proposta por Beck), sem alterações é eficaz como recurso interventivo aos TA. O texto também menciona Zunker, et. al. (2011) que utilizaram o tratamento de Fairburn, et. al. (1993) a fim de verificar que a TCC é efetiva para a redução dos sintomas da BN.

Nardi e Melere (2014) em sua revisão objetivam atualizar os dados referentes à eficácia da TCC na AN. Os artigos selecionados pelas autoras possuem foco convencional, senguindo modelos de Fairburn e coautores. E Fairburn é um dos principais teóricos quanto à aplicação da abordagem beckiana em tratamentos de TA. (KNAPP, 2004, p. 20). Enquanto a pesquisa citada anteriormente possui resultados apenas em relação à AN, a revisão de literatura de SILVA, et. al. (2015) se baseia utilização da TCC no tratamento da BN, exclusivamente. E conclui que há evidências bastantes para que seja possível a realização de intervenções psicoterápicas baseadas na TCC clássica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se com a realização desta pesquisa que a TCC é muito conveniente para o tratamento de TA. E que, Apenas um dos artigos se baseia na abordagem

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construtivista, os demais artigos e revisões bibliográficas, apesar de usarem a conceituação de Aaron Beck, muitos autores não mencionam seus escritos em suas publicações, mas citam textos de outros autores que possuem fundamentação teórica em Beck. Escritos estes com teor mais pontual sobre AN e BN.

REFERÊNCIAS

ABREU, C.; FILHO, L. Anorexia e nervosa e bulimia nervosa: abordagem cognitivo-construtivista de psicoterapia. Rev. Psiq. Clin, São Paulo, 2004.

Beck, A. T. Cognitive therapy and the emotional disorders. New York: International Universities Press, New York, 1976.

CANALS, A.; et. al. Terapia cognitivo-comportamental nos transtornos alimentares: uma abordagem familiar para intervenção em crise. Revista de Psicologia da IMED, Rio Grande do Sul, 2009.

CONTI, M.; TEIXEIRA P. Anorexia e bulimia: corpo perfeito versus morte. O Mundo da Saúde, São Paulo, 2012.

DUCHESNE, M.; ALMEIDA, P. A terapia cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares. Rev Bras Psiquiatr, São Paulo, 2002.

DUCHESNE, M.; et. al. Neuropsicologia dos transtornos alimentares: revisão sistemática da literatura. Rev Bras Psiquiatr, Rio de Janeiro, 2004.

FAIRBURN, C.G. Psychological and Social Problems Associated with Binge Eating. In: FAIRBURN, C.G. (ed): Overcoming Binge Eating . The Guilford Press, New York, 1995.

KELLY, G. A. The Psychology of Personal Constructs. New York: Norton, New York, 1955.

KNAPP, Paulo; BECK, Aaron T. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, 2008.

KNAPP, Paulo; et. al. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Artmed, São Paulo, 2004.

LANGOIS, L.; DEIRO, C. Terapia Cognitivo-Comportamental para Transtornos Alimentares: A Visão de Psicoterapeutas Sobre o Tratamento. Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., 2013.

MAHONEY, J. M. Processos Humanos de Mudança: As Bases Científicas da Psicoterapia. ArtMed, Porto Alegre, 1998.

NARDI, H.; MELERE, C. O papel da terapia cognitivo-comportamental na anorexia nervosa. Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., 2014.

Organização Mundial da Saúde. CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997.

SILVA, B.; ALVES, C. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: diagnóstico em uma visão multiprofissional. Revista Mineira de Ciências da Saúde, Minas Gerais, 2011.

SILVA, Marlene Alves da. Terapia Cognitiva-Comportamental: da teoria a prática. Psico-USF, Itatiba, 2014.

SILVA, T.; et. al. As terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da bulimia nervosa: uma revisão. SILVA, T.; et. al. As terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da bulimia nervosa: uma revisão. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, 2015.

WILLHELM, A.; et. al Perspectivas atuais da terapia cognitivo-comportamental no tratamento dos transtornos alimentares: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, Rio Grande do Sul, 2015.

ZUNKER, C.; et. al. Ecological momentary assessment of bulimia nervosa: does dietary restriction predict binge eating? Behav Res Ther., 2011.

Referências

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