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Academic year: 2021

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Workshop ABAG: Agronegócio e a Crise Hídrica

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Diante da estiagem que aflige o país - em especial na região Sudeste - ao longo dos dois últimos anos, a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) realizou um workshop específico para avaliar as suas causas e efeitos no curto, médio e longo prazos, além de discutir como o Agronegócio Brasileiro pode contribuir para a gestão e manejo sustentável dos recursos hídricos no Brasil. O encontro destacou a necessidade de se combater o mito da abundância de água no País, considerando que esta terá uma concorrência cada vez maior no futuro, principalmente face a seus múlitplos usos. Governo, setor privado e sociedade civil precisam estar preparados para enfrentarem esse desafio.

A edição da revista “Agroanalysis” de Maio de 2015 (vol. 35) registrou alguns pontos importantes dos quatro painéis do evento. A seguir, apresentamos um resumo do que foi discutido pelos palestrantes durante o workshop. M e d e iros , D a n ie l (2 01 3) - Ba n c o d e Im a g e n s

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Painel 1: Lições da Crise Hídrica

Samuel Barreto - Coordenador do Movimento Água para São Paulo (MApSP) e Gerente Nacional de Água da The Nature Conservancy -

TNC-Brasil.

Em sua apresentação, Samuel Barreto discutiu algumas lições importantes deixadas pela crise hídrica atual, como o entendimento de que a gestão hídrica não deve partir da premissa de que água é um recurso inesgotável. Segundo Samuel, a oferta não pode ser administrada no limite da demana e o planejamento de ambos é condição essencial para garantir a segurança hídrica do Brasil. No caso específico da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o palestrante lembrou que 21 milhões de pessoas vivem nesta região, que é responsável por 25% do PIB brasileiro. Uma crise na RMSP tem portanto impactos nacionais.

A TNC está envolvida com o Movimento Água para São Paulo (MApSP), que tem como objetivo conservar e restaurar as áreas críticas para a produção de água dos sistemas Cantareira e Alto Tietê. As regiões prioritárias identificadas para recuperação representam cerca de 15.000 ha, ou 3% da área dos sistemas Cantareira e Alto Tietê. Sua recuperação, de acordo com dados do MApSP, pode reduzir em até 50% o deslocamento de sedimentos para os rios, diminuindo custos com dragagem e tratamento de água. Cerca de 70% da cobertura florestal dos mananciais que abastecem a região não estão protegidos.

Área total e Prioritária de Atendimento

Fonte: TNC

Total (a) Prioritária (b)

Cantareira 228 10 4,4%

Alto Tietê 265 5 2,0%

Total 493 15 3,0%

Manancial Área (mil ha) Participação (b/a)

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3 Para Samuel Barreto, a disponibilidade hídrica pode ser significativamente afetada por fatores como erosão do solo e assoreamento dos rios. Assim, é necessário analisar a paisagem de forma integrada, considerando os limites de toda a bacia hidrográfica, pois os fatores influentes são numerosos e variáveis. A sociedade precisa sensibilizar-se para o consumo responsável, enquanto empresas devem identificar os riscos da falta d’água para seu negócio, utilizando ferramentas adequadas para isso. Exemplos de ações que os produtores rurais podem realizar incluem a adoção de boas práticas de produção e a recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs).

No controle da oferta hídrica, cabe também aos formuladores de políticas públicas determinar uma margem de segurança frente aos limites da demanda. Para as áreas em processo de degradação, medidas devem ser tomadas para reverter essa situação. O estímulo ao diálogo entre os diferentes setores da sociedade, por sua vez, quebram a resistência e aumentam o clima de solidariedade, facilitando a implementação de soluções.

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Painel 2: Gestão da Água – Visão da Indústria

Percy Soares Neto - Coordenador da Rede de Recursos Hídricos da Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Percy Soares iniciou sua apresentação discutindo a governança da água em suas dimensões social, ambiental e econômica. Do ponto de vista social, destacou as políticas de saneamento e saúde, que devem garantir o fornecimento de água e saneamento para todos a um preço justo. Políticas ambientais, por sua vez, atuam na conservação dos ecossistemas e suas funções, ao mesmo tempo em que a gestão dos recursos hídricos deve garantir seu múltiplo uso econômico, como para geração de enegia, produção de alimentos, transporte hidroviário, indústria e turismo.

Um panomara histórico do gerenciamento das águas no Brasil foi apresentado e alguns marcos foram destacados:

 1934 - Criação do Código das Águas;

 Água nas Constituições - Repartição de domínios sobre a gestão das águas;

 1988-1997 - Período de protagonismo dos Estados, com legislações em SP, RS, SC, MG e outros;

 1997-2000 - Centralização das outorgas da União no Ministério do Meio Ambiente (MMA), consolidação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), regulamentação dos instrumentos, articulação dos Comitês de Bacia Hidrogáficas (CBH);

 2000 - Criação da Agência Nacional das Águas (ANA);

 2004-2006 - Cobrança pelo uso da água em rios de domínio da União;

 2006 até hoje - Consolidação do protagonismo da ANA, enfraquecimento do CNRH e da capacidade de formulação do MMA.

De acordo com Percy, os instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos existentes já apontavam para um período crítico na região Sudeste, porém nem todas as medidas necessárias foram tomadas. O

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5 palestrante fez ainda uma provocação, indicando que o principal gargalo refere-se à implementação dos instrumentos, e não à sua existência.

Percy indicou que é imprescindível haver forte interlocução entre o Governo, os setores produtivos e a sociedade civil no que se refere à gestão dos recursos hídricos no país. Segundo ele, é preciso qualificar a participação do setor produtivo e disseminar informações sobre o uso da água pela indústria e pelo agronegócio. Com relação à cobrança pelo uso da água, Percy citou que é importante discutir o destino dos recursos arrecadados. Nas condições atuais, o setor privado não pode captar estes recursos para implementar ações que tragam benefícios para os recursos hídricos. A maior parte é atualmente direcionada para obras de saneamento.

No Fórum Econômico Mundial (WEF) de 2011, a segurança hídrica foi identificada como um dos grandes desafios mundiais, com riscos aos negócios estimados em U$ 400 bilhões. Enquanto isso, o grande dilema do Estado consiste em repartir o poder com a sociedade ou manter em seu âmbito a decisão das orientações estratégicas. Nas instâncias de discussão política, o caminho envolve equilíbrio entre os conhecimentos técnico, administrativo e jurídico. Para minimizar o impacto da crise hídrica no setor produtivo, as empresas devem fazer avaliações de risco físico, regulatório e de reputação, além de conhecer o seu consumo para então indentificar oportunidades de melhoria e reservas de eficiência que podem ser exploradas.

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6 Fonte: CNI, adaptado de CEO Water Mandate, 2012

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Painel 3: Água e Produção de Alimentos – Desafios

Presentes para Garantias Futuras

Julio Cesar Palhares - Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste

O pesquisador da Embrapa Julio Cesar Palhares focou sua apresentação na importância da contextualização das informações e metodologias sobre uso da água. Citou como exemplo a informação comumente divulgada de que a agropecuária é responsável por 70% da água doce utilizada (Nações Unidas, 2003). Este número representa a média global. Nos países em desenvolvimento a realidade é próxima a esta média. Já nos países desenvolvidos, o consumo de água pela agropecuária representa cerca de 30% do total apenas. Independente do número, para qualquer conclusão é importante analisar as premissas levadas em conta no seu cálculo - ele considera, por exemplo, água captada ou efetivamente consumida?

Como explica o pesquisador da Embrapa Luis Henrique Bassoi, grande parte da água utilizada na agricultura é devolvida à natureza por meio do ciclo hidrológico. A água usada na irrigação, por exemplo, percorre vários caminhos. Parte é infiltrada no solo e vai reabastecer os lençois freáticos, e parte retorna aos rios por meio do escoamento superficial. Além disso, há também a fração que retorna à atmosfera por evaporação (no solo) e pela transpiração das plantas. Apenas uma pequena quantia é retida no tecido vegetal da planta.

Assista a entrevista em https://www.youtube.com/watch?v=_H74pV57sLs

Veja informações atualizadas sobre a conjuntura dos recursos hídricos no Brasil em http://conjuntura.ana.gov.br/docs/conj2014_inf.pdf

Em relação à disponibilidade de água, Julio Cesar mostrou que o Brasil apresenta situação privilegiada, uma vez que mais de 12% das reservas mundiais de água doce estão localizadas dentro dos limites territoriais do país. No entanto, apesar de parecer um cenário confortável, a

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8 distribuição do recurso nas diferentes regiões do Brasil é desigual. Curiosamente, as regiões menos populosas são as que possuem as principais reservas. A região Amazônica por exemplo, que apresenta o menor contingente populacional, concentra cerca de 80% da disponibilidade hídrica do país. Os 20% restantes servem para abastecem 95% da população brasileira.

O pesquisador fez também um alerta para a questão da qualidade dos recursos hídricos. A distribuição de água para consumo humano, por exemplo, deve garantir determinados padrões de qualidade. Da mesma forma, a produção de alimentos demanda água não apenas em quantidade, mas também com qualidade, uma vez que seus atributos podem afetar as características do produto. Neste sentido, os limites ambientais e hídricos devem ser respeitados e seus custos internalizados comercialmente uma vez que podem afetar a capacidade produtiva do país.

O fato é que não há como produzir alimentos, fibras e outros produtos agrícolas sem água. Se considerarmos a dependência do agronegócio neste rescurso e o conteúdo de água em produtos como leite (85% a 90%), mel (13% a 23%), carne (70% a 75%) e ovo (75%), o termo “agro-hidronegócio” poderia ser perfeitamente utilizado, como comenta Julio Cesar.

Disponibilidade de Água por Região

Fonte: AQUASTAT/FAO (2013); UNESCO (2012) Região Disponibilidade Hídrica

(m3/pessoa) Mundo Árabe 500 África Subsaariana 1000 Caribe 2466 Ásia-Pacífico 2970 Europa 4741 América Latina 7200 América do Norte 13041

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9 Pegada Hídrica

O conceito da pegada hídrica, que calcula a quantidade de água doce utilizada para produzir determinado bem ou serviço, foi debatido durante a apresentação. Sempre que números relacionados à pegada hídrica forem mencionados, é importante clarificar qual metodologia e fronteira de cálculo foi adotada – se o indicador considerou, por exemplo, todo o ciclo de produção de determinado produto agrícola (desde a produção de insumos até o transporte e consumo), ou se incluiu apenas as etapas de producão agrícola e processamento da matéria-prima.

Além disso, o número divulgado deve ser contextualizado de forma a evitar interpretações equivocadas. Muitas vezes há enorme variação em torno da média global, como é o caso da pegada hídrica da carne bovina. O sistema de produção e a composição da dieta considerados para o cálculo, por exemplo, afetam significativamente o resultado. Outros aspectos, como a disponibilidade hídrica da região e a origem da água utilizada também devem ser analisados.

Julio Cesar Palhares defende o uso da pegada hídrica como uma ferramenta de gestão, e não apenas como um método de contabilidade hídrica. A pegada hídrica deve ser utilizada de forma sistêmica, permitindo o uso mais eficinete da água, a prevenção e mitigação de impactos e até a melhor gestão das bacias hidrográficas.

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Painel 4: Cadastro de Irrigantes

Alécio Maróstica - Superintendêndia de Irrigação da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação de Goiás (SEAGRO)

O Engenheiro Agrônomo Alécio Maróstica, Superintendente da SEAGRO, apresentou o panomara geral da irrigação no Brasil e forneceu detalhes atualizados sobre o sistema de cadastro do irrigante que está em funcionamento no Estado de Goiás.

Alécio nos lembra que a produção de alimentos depende da irrigação mencionando o dado da FAO (2012) de que, nos próximos 25 anos, 80% dos alimentos necessários à população humana serão providos pelos cultivos irrigados. Neste contexto, fica claro que a segurança alimentar depende da segurança hídrica.

O Brasil possui grande potencial de irrigação, mas atualmente apenas 6 milhões de hectares são ocupados por cultivos irrigados, representando 10% da área agrícola do país. Esta pequena área, no entanto, e responsável por 35% do valor econômico da produção nacional de alimentos (Mantovani et. al., 2007). A Índia e a China irrigam aproximadamente 30% de suas áreas cultivadas, ambos os países com mais de 50 milhões de hectares de culturas irrigadas. Israel tem 52% de sua área agrícola irrigada.

Distribuição da Área Irrigada por País

País Área irrigada

(milhões ha) Área cultivadaÁrea irrigada/

Precipitação anual média (mm) Índia 59 30% 697 China 54 32% 176 EUA 22 10% 870 Espanha 3,7 16% 525 Brasil 6 9% 1000 Israel 0,23 52% 480

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11 No estado de Goiás, foco da apresentação, 25% da área cutivada conta com sistemas de irrigação, sendo que o pivô central é o sistema cadastrado dominante (70%). As principais culturas irrigadas no Estado são soja, milho, feijão, olerícolas, café e arroz.

Alécio destacou em sua apresentação que é importante considerar o comportamento pluviométrico das diferentes regiões do País. De forma geral, constatam-se seis meses de estações chuvosas, seguidas de seis meses de estações secas. Como essas áreas são de clima tropical e, portanto, bem mais instáveis, as variações são normais de um exercício para o outro. Torna-se necessário, portanto, montar estruturas de engenharia para fazer a reserva de água. Isso significa fazer a sua armazenagem durante a chuva e usá-la para abastecer a população nas secas.

i Workshop realizado em Fevereiro de 2015.

Referências

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