Da tradução como criação e como crítica Da tradução como criação e como crítica
Haroldo de Campos Haroldo de Campos
O ensaísta Albrecht Fabri, que foi por algum tempo professor da Escola Superior da Forma, O ensaísta Albrecht Fabri, que foi por algum tempo professor da Escola Superior da Forma, Ulm
Ulm, , AlAlemanemanha, escrevha, escreveu eu para a para a revrevististaa Augenblick Augenblick , umas notas sobre o problema da, umas notas sobre o problema da lin
linguagguagem em artíartístistica ca que que denodenominminou ou “Pre“Prelimliminainares res a a uma uma teoteoria ria da da litliterateraturaura! ! "es"essese trabal
trabalho, o ho, o autor desenvolautor desenvolve a ve a tese de que tese de que “a ess#ncia da arte $ “a ess#ncia da arte $ a tautologia tautologia, pois as a, pois as obrasobras artísticas “n%o significam, mas s%o! "a arte, acrescenta, “$ impossível distinguir entre artísticas “n%o significam, mas s%o! "a arte, acrescenta, “$ impossível distinguir entre representa&%o e representado! 'etendo(se especificamente sobre a linguagem liter)ria, representa&%o e representado! 'etendo(se especificamente sobre a linguagem liter)ria, sustenta que o pr*prio desta $ a “senten&a absoluta, aquela “que n%o tem outro conte+do sustenta que o pr*prio desta $ a “senten&a absoluta, aquela “que n%o tem outro conte+do sen%o sua estrutura, a “que n%o $ outra coisa sen%o o seu pr*prio instrumento! Essa sen%o sua estrutura, a “que n%o $ outra coisa sen%o o seu pr*prio instrumento! Essa “senten&a absoluta ou “perfeita, por isso mesmo, continua Fabri, n%o pode ser traduida, “senten&a absoluta ou “perfeita, por isso mesmo, continua Fabri, n%o pode ser traduida, pois “a tradu&%o sup-e a
pois “a tradu&%o sup-e a possibilidade de se separar spossibilidade de se separar sentido e palavra! Oentido e palavra! O lugar lugar da tradu&%o da tradu&%o seria, assim, “a discrep.ncia entre o dito e o dito! A tradu&%o apontaria, para Fabri, o seria, assim, “a discrep.ncia entre o dito e o dito! A tradu&%o apontaria, para Fabri, o car)ter menos perfeito ou menos absoluto /menos est$tico, poder(se(ia dier0 da senten&a, e car)ter menos perfeito ou menos absoluto /menos est$tico, poder(se(ia dier0 da senten&a, e $ nesse sentido que ele afirma que “toda tradu&%o $ crítica, pois “nasce da defici#ncia da $ nesse sentido que ele afirma que “toda tradu&%o $ crítica, pois “nasce da defici#ncia da senten&
senten&a, de a, de sua insufici#sua insufici#ncia para valer por ncia para valer por si mesma! “"%o se si mesma! “"%o se tradu o que tradu o que $ linguagem$ linguagem num te1to, mas o que $ n%o linguagem! “2anto a possibilidade como a necessidade da num te1to, mas o que $ n%o linguagem! “2anto a possibilidade como a necessidade da tradu&%o residem no fato de que entre signo e significado impera a aliena&%o!
tradu&%o residem no fato de que entre signo e significado impera a aliena&%o! "o
"o mesmo mesmo n+mero n+mero dede Augenblick Augenblick , enfrentando o problema e transpondo(o em, enfrentando o problema e transpondo(o em termos de sua nova est$tica, de base semi*tica e te*rico(informativa, o fil*sofo e crítico termos de sua nova est$tica, de base semi*tica e te*rico(informativa, o fil*sofo e crítico 3a1
3a1 4en4ense se estestabeabeleclece e uma uma disdistintin&%o &%o ententre re “in“informforma&%a&%o o docdocumenument)rt)riaia, , “in“informforma&%a&%oo sem.ntica e “informa&%o est$tica! 5nforma&%o, 6) o definira alhures, $ todo processo de sem.ntica e “informa&%o est$tica! 5nforma&%o, 6) o definira alhures, $ todo processo de signos que e1ibe um grau de ordem! A informa&%o document)ria reprodu algo observ)vel, signos que e1ibe um grau de ordem! A informa&%o document)ria reprodu algo observ)vel, $
$ umuma a sesentntenen&a &a emempípíriricaca, , umuma a sesentntenen&a&a(r(regegisistrtro! o! PoPor r e1e1ememplplo o /t/traransnspoporeremomos s aa e1emplifica&%o de 4ense para uma situa&%o de nosso idioma07 “A aranha tece a teia! A e1emplifica&%o de 4ense para uma situa&%o de nosso idioma07 “A aranha tece a teia! A informa&%o sem.ntica 6) transcende a document)ria, por isso que vai al$m do horionte do informa&%o sem.ntica 6) transcende a document)ria, por isso que vai al$m do horionte do observad
observado, o, acrescentacrescentando algo que em si mesmando algo que em si mesmo n%o $ observ)vel, um elo n%o $ observ)vel, um elemento novoemento novo,, como, por e1emplo, o conceito de falso ou verdadeiro7 “A aranha tece a teia $ uma como, por e1emplo, o conceito de falso ou verdadeiro7 “A aranha tece a teia $ uma proposi&%o
proposi&%o verdadeira, eis verdadeira, eis uma informa&%o uma informa&%o sem.ntica! A informa&%o est$tica, sem.ntica! A informa&%o est$tica, por sua por sua ve,ve, tr
trananscscenende de a a sesemm.n.ntiticaca, , no no quque e coconcncererne ne 8 8 “i“impmprerevivisisibibililidadadede, , 8 8 susurprpreresasa, , 88 improbabilidade da ordena&%o de signos! Assim, quando 9o%o :abral de 3elo "eto improbabilidade da ordena&%o de signos! Assim, quando 9o%o :abral de 3elo "eto escreve7
escreve7
A aranha passa a vida A aranha passa a vida 2e
2ecendo corcendo cortinadostinados :om o fio que fia :om o fio que fia 'e seu cuspe privado! 'e seu cuspe privado!;;
estamos diante de uma informa&%o est$tica! Esta distin&%o $ b)sica, permite a 4ense estamos diante de uma informa&%o est$tica! Esta distin&%o $ b)sica, permite a 4ense des
desenvenvololverver, , a a papartrtir ir dedelala, , o o coconcenceitito o dede fragilidade fragilidade da informa&%o est$tica, no qual da informa&%o est$tica, no qual residiria muito do fascínio da obra de arte! Enquanto a informa&%o document)ria e tamb$m residiria muito do fascínio da obra de arte! Enquanto a informa&%o document)ria e tamb$m a sem.ntica admitem diversas codifica&-es, podem ser transmitidas de v)rias maneiras /por a sem.ntica admitem diversas codifica&-es, podem ser transmitidas de v)rias maneiras /por e1emplo7 “A aranha fa a teia, “A teia $ elaborada pela aranha, “A teia $ uma secre&%o da e1emplo7 “A aranha fa a teia, “A teia $ elaborada pela aranha, “A teia $ uma secre&%o da
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aranha etc!0, a informa&%o est$tica n%o pode ser codificada sen%o pela forma em que foi transmitida pelo artista /4ense fala aqui da impossibilidade de uma “codifica&%o est$tica< seria talve mais e1ato dier que a informa&%o est$tica $ igual 8 sua codifica&%o original0! A fragilidade da informa&%o est$tica $, portanto, m)1ima /de fato, qualquer altera&%o na sequ#ncia de signos verbais do te1to transcrito de 9o%o :abral perturbaria sua realia&%o est$tica, por pequena que fosse, de uma simples partícula0! "a informa&%o document)ria e na sem.ntica, prossegue 4ense, a “redund.ncia /isto $, os elementos previsíveis, substituíveis, que podem ser reconstituídos por outra forma0 $ elevada, comparativamente 8 est$tica, onde ela $ mínima7 “a diferen&a entre informa&%o est$tica m)1ima possível e informa&%o est$tica de fato realiada $ na obra de arte sempre mínima! A informa&%o est$tica $, assim, insepar)vel de sua realia&%o, “sua ess#ncia, sua fun&%o est%o vinculadas a seu instrumento, a sua realia&%o singular! 'e tudo isto, conclui7
O total de informa&%o de uma informa&%o est$tica $ em cada caso igual ao total de sua realia&%o =donde>, pelo menos em princípio, sua intraduibilidade =!!!> Em outra língua, ser) uma outra informa&%o est$tica, ainda que se6a igual semanticamente! 'isto decorre, ademais, que a informa&%o est$tica n%o pode ser semanticamente interpretada!?
Aqui 4ense nos fa pensar em Sartre, na distin&%o entre poesia chose0 e prosa /mot- signe0 em Situations II , quando, a prop*sito dos versos de @imbaud7
O saisons O ch.teau1 Buelle .me est sans d$faut,
Sartre escreve /para demonstrar a diferen&a quanto ao uso da palavra na poesia e na prosa respectivamente07
Personne nCest interrog$< personne nCinterroge7 le poDte est absent! Et lCinterrogation ne comporte pas de r$ponse ou plutt elle est sa propre r$ponse! Est(ce donc une fausse interrogation 3ais il serait absurde de croire que @imbaud a “voulu dire7 tout le monde a ses d$fauts! :omme disait 4reton de Saint(Pol(@ou17 “SCil avait voulu le dire, il lCaurait dit! Et il nCa pas non plus voulu dire autre chose! 5l a fait une interrogation absolue< il a conf$r$ au beau mot dC.me une e1istence interrogative! Goil8 lCinterrogation devenue chose, comme lCangoisse du 2intoret $tait devenue ciel 6aune! :e nCest plus une signification, cCest une substance =H>!I
@ealmente, o problema da intraduibilidade da “senten&a absoluta de Fabri ou da informa&%o est$tica de 4ense se p-e mais agudamente quando estamos diante de poesia, embora a dicotomia sartriana se mostre artificial e insubsistente /pelo menos como crit$rio absoluto0, quando se consideram obras de arte em prosa que conferem primacial import.ncia ao tratamento da palavra como ob6eto, ficando, nesse sentido, ao lado da poesia! Assim, por e1emplo, o 9oJce de Ulysses e Finnegans Wake, ou, entre n*s, as
2 4ense! Das Eisten!"roblem der #unst ! 3 Sartre! Situations II !
$em%rias sentimentais de 9o%o 3iramar e o Serafim &onte 'rande, de OsKald de Andrade< o $acuna(ma, de 3)rio de Andrade< o 'rande sert)o7 veredas, de Luimar%es @osa! 2ais obras, tanto como a poesia /e mais do que muita poesia0, postulariam a impossibilidade da tradu&%o, donde parecer(nos mais e1ato, para este e outros efeitos, substituir os conceitos de prosa e poesia pelo de te1to!
Admitida a tese da impossibilidade em princípio da tradu&%o de te1tos criativos, parece(nos que esta engendra o corol)rio da possibilidade, tamb$m em princípio, da
recria&%o desses te1tos! 2eremos, como quer 4ense, em outra língua, uma outra informa&%o est$tica, autnoma, mas ambas estar%o ligadas entre si por uma rela&%o de isomorfia7 ser%o diferentes enquanto linguagem, mas, como os corpos isomorfos, cristaliar(se(%o dentro de um mesmo sistema!
9) Paulo @*nai, em sua preciosa Escola de tradutores, tratando do problema, salientou que a demonstra&%o da impossibilidade te*rica da tradu&%o liter)ria implica a assertiva de que tradu&%o $ arte! S%o suas palavras7
O ob6etivo de toda arte n%o $ algo impossível O poeta e1prime /ou quer e1primir0 o ine1primível, o pintor reprodu o irreproduível, o estatu)rio fi1a o infi1)vel! "%o $ surpreendente, pois, que o tradutor se empenhe em traduir o intraduível!M
Ent%o, para n*s, tradu&%o de te1tos criativos ser) sempre recria&%o, ou cria&%o paralela, autnoma por$m recíproca! Buanto mais in&ado de dificuldades esse te1to, mais recri)vel, mais sedutor enquanto possibilidade aberta de recria&%o! "uma tradu&%o dessa naturea, n%o se tradu apenas o significado, tradu!-se o "r%"rio signo, ou se6a, sua fisicalidade, sua materialidade mesma /propriedades sonoras, de imag$tica visual, enfim tudo aquilo que forma, segundo :harles 3orris, a iconicidade do signo est$tico, entendido por “signo icnico aquele “que $ de certa maneira similar 8quilo que ele denota0! O significado, o par.metro sem.ntico, ser) apenas e t%o(somente a balia demarcat*ria do lugar da empresa
recriadora! Est)(se pois no avesso da chamada tradu&%o literal!
Em nosso tempo, o e1emplo m)1imo de tradutor(recriador $, sem d+vida, Era Pound! O caminho po$tico de Pound, a culminar na obra inconclusa :antares, ainda em progresso, foi sempre pontilhado de aventuras de tradu&%o, atrav$s das quais o poeta criticava o seu pr*prio instrumento linguístico, submetendo(o 8s mais variadas dic&-es, e estocava material para seus poemas em preparo! Pound desenvolveu, assim, toda uma teoria da tradu&%o e toda uma reivindica&%o pela categoria est$tica da tradu&%o como cria&%o! Em seu *iterary Essays, escreve ele7
Uma grande $poca liter)ria $ talve sempre uma grande $poca de tradu&-es, ou a segue =!!!> N bastante curioso que as ist*rias da iteratura Espanhola e 5taliana sempre tomem em considera&%o os tradutores! As ist*rias da iteratura 5nglesa sempre dei1am de lado a tradu&%o Qsuponho que se6a um comple1o de inferioridadeQ no entanto alguns dos melhores livros em ingl#s s%o tradu&-es!R
4 @*nai! Escola de tradutores, p! ;! 5 Pound! *iterary Essays, p! IM!
'epois do “Seafarer e alguns outros fragmentos da primitiva literatura anglo( sa1nica, continua Pound,
a literatura inglesa viveu de tradu&%o, foi alimentada pela tradu&%o< toda e1uber.ncia nova, todo novo impulso foram estimulados pela tradu&%o, toda assim chamada grande $poca $ uma $poca de tradutores, come&ando por LeoffreJ :haucer, “e Lrand 2ranslateur, tradutor do +omance da +osa, parafraseador de Girgílio e Ovídio, condensador de velhas hist*rias que foi encontrar em latim, franc#s e italiano!T
"o mesmo livro, apontando as fun&-es da crítica, arrola desde logo, como modalidade desta, a tradu&%o! “:riticism bJ translation! O que $ perfeitamente compreensível, quando se considera que, para Pound, as duas fun&-es da crítica s%o7 ;0 tentar teoricamente antecipar a cria&%o< ?0 a escolha< “ordena&%o geral e e1purgo do que 6) foi feito< elimina&%o de repeti&-es!!!< =!!!> “a ordena&%o do conhecimento de modo que o pr*1imo homem /ou gera&%o0 possa o mais rapidamente encontrar(lhe a parte viva e perca o menos tempo possível com quest-es obsoletas!
N assim que Pound, animado desses prop*sitos, se lan&a 8 tarefa de traduir poemas chineses, pe&as n 6aponesas /valendo(se dos manuscritos do orientalista Ernest Fenollosa0< trovadores proven&ais< Luido :avalcanti, o pai da poesia toscana< simbolistas franceses /aforgue e ainda recentemente @imbaud0< reescreve Prop$rcio em vers de soci,t,, aproveitando suas e1peri#ncias do mane6o da logo"eia /a dan&a do intelecto entre as palavras0 laforgueana e verte as 2rachiniae de S*focles para um coloquial americano dinamiado a golpes de slang ! Seu trabalho $ ao mesmo tempo crítico e pedag*gico, pois, enquanto diversifica as possibilidades de seu idioma po$tico, p-e 8 disposi&%o dos novos poetas e amadores de poesia todo um repert*rio /muitas vees insuspeitado ou obscurecido pela rotinia&%o do gosto acad#mico e do ensino da literatura0 de produtos po$ticos b)sicos, reconsiderados e vivificados! Seu lema $ make it ne7 dar nova vida ao passado liter)rio v)lido via tradu&%o! Para entend#(lo melhor, basta recordarmos estas considera&-es de 2! S! Eliot a respeito de uma tradu&%o de Eurípedes de lavra do eminente helenista Prof! 3urraJ7
"ecessitamos de uma digest%o capa de assimilar omero e Flaubert! "ecessitamos de um cuidadoso estudo dos humanistas e tradutores da @enascen&a, tal como 3r! Pound o iniciou! "ecessitamos de um olho capa de ver o passado em seu lugar com suas definidas diferen&as em rela&%o ao presente e, no entanto, t%o cheio de vida que dever) parecer t%o presente para n*s como o pr*prio presente! Eis o olho criativo< e $ porque o Prof! 3urraJ n%o tem instinto criativo que ele dei1a Eurípedes completamente morto! N verdade que, muitas vees, Pound “trai a letra do original /para prestarmos tributo ao brocardo traduttori traditori0< mas, ainda quando fa, e ainda quando o fa n%o por op&%o volunt)ria mas por equívoco flagrante,V consegue quase sempre Qpor uma esp$cie de milagrosa intui&%o ou talve de solidariedade maior com a dic&%o, com a 'estalt
6 Pound! *iterary Essays, p! IM(IR!
7 Ger Fenollosa< Pound! The .oh Theatre of /a"an!
final da obra 8 qual adequou tecnicamente seu instrumentoQ ser fiel ao “espírito, ao “clima particular da pe&a traduida< acrescenta(lhe, como numa contínua sedimenta&%o de estratos criativos, efeitos novos ou variantes, que o original autoria em sua linha de inven&%o! @epara ugh Wenner, na introdu&%o 8s Translations de Era Pound7
Ele n%o tradu palavras =!!!> ele precisa mesmo desviar(se das palavras, se elas obscurecem ou escorregam, ou se o seu pr*prio idioma lhe falta =!!!> Se $ certo que n%o tradu as palavras, permanece como tradutor fiel 8 sequ#ncia po$tica de imagens do original, aos seus ritmos ou ao efeito produido por
seus ritmos, e ao seu tom!;X
"isto, acrescenta Wenner, “ele presta homenagem ao conhecimento que o seu predecessor tem de seu ofício! E conclui7
O trabalho que precede a tradu&%o $, por consequ#ncia, em primeiro lugar, crítico, no sentido poundiano da palavra crítica, uma penetra&%o intensa da mente do autor< em seguida, t$cnico, no sentido poundiano da palavra t$cnica, uma pro6e&%o e1ata do conte+do psíquico de algu$m e, pois, das coisas em que a mente desse algu$m se nutriu =!!!> Suas melhores tradu&-es est%o entre a pedagogia de um lado e a e1press%o pessoal de outro, e participam de ambas!;;
Buando Wenner fala em traduir o “tom, o tonus do original, a prop*sito da empreitada de Era Pound, est) usando as mesmas palavras que empregou o poeta 4oris PasternaY, outro grande tradutor e te*rico da tradu&%o, a respeito do problema!
Entre n*s =afirma PasternaY> @ilYe $ realmente desconhecido! As poucas tentativas que se fieram para vert#(lo n%o foram felies! "%o s%o os tradutores os culpados! Eles est%o habituados a tradui o significado e n%o o tom do que $ dito! Ora, aqui tudo $ uma quest%o de tom!;?
"%o $ 8 toa que PasternaY, dentro desta visada, que transcende o caso particular de @ilYe e pode ser estendida aos te1tos criativos em geral, se aplicou a traduir ShaYespeare com um acento inconfundivelmente pessoal e permitindo(se uma grande liberdade de reelabora&%o!;I Liuseppe Ungaretti, outro grande poeta(tradutor, faria algo de semelhante, n%o 6) com o teatro, mas com os sonetos shaYespearianos!
9 Ger Porteus! E!ra &ound and 1is 2hinese 2haracter3 a +adical Eamination! “O que $ not)vel a respeito das tradu&-es chinesas de Pound $ que elas t%o frequentemente consigam captar o espírito do original, mesmo quando, como ocorre constantemente, vacilem diante do te1to literal ou manipulem imperitamente =!!!> Sua pseudo(sinologia liberta sua clarivid#ncia latente, assim como as pseudoci#ncias dos antigos muitas vees
lhes davam uma vis%o supranormal! 10 Wenner! Introduction, p! ;;(;?! 11 Wenner! Introduction, p! ;?!
12 PasternaY! Essai d4autobiogra"hie!
13 Sobre PasternaY tradutor de ShaYespeare, 8 falta de um conhecimento direto dos te1tos, louvamo(nos nas abaliadas informa&-es do Prof! 4oris Schnaiderma!
"o 4rasil, n%o nos parece que se possa falar no problema da tradu&%o criativa sem invocar os manes daquele que, entre n*s, foi o primeiro a propor e a praticar com empenho aquilo que se poderia chamar uma verdadeira teoria da tradu&%o! @eferimo(nos ao pr$(rom.ntico maranhense 3anuel Odorico 3endes /;VV(;TM0! 3uita tinta tem corrido para depreciar o Odorico tradutor, para reprovar(lhe o preciosismo rebarbativo ou o mau gosto de seus comp*sitos vocabulares! @ealmente, faer um negative a""roach em rela&%o a suas tradu&-es $ empresa f)cil, de primeiro impulso, e desde Sílvio @omero /que as considerava “monstruosidades, escritas em “portugu#s macarrnico0, quase n%o se tem feito outra coisa! 3as difícil seria, por$m, reconhecer que Odorico 3endes, admir)vel humanista, soube desenvolver um sistema de tradu&%o coerente e consistente, onde os seus vícios /numerosos, sem d+vida0 s%o 6ustamente os vícios de suas qualidades, quando n%o de sua $poca! Seu pro6eto de tradu&%o envolvia desde logo a ideia de síntese /reduiu, por e1emplo, os ;?!;XT versos da 5disseia a V!IX?, segundo t)bua comparativa que acompanha a edi&%o0, se6a para demonstrar que o portugu#s era capa de tanta ou mais concis%o do que o grego e o latim< se6a para acomodar em decassílabos heroicos, brancos, os he1.metros hom$ricos< se6a para evitar as repeti&-es e a monotonia que uma língua declin)vel, onde se pode 6ogar com as termina&-es diversas dos casos emprestando sonoridades novas 8s
mesmas palavras, ofereceria na sua transposi&%o de plano para um idioma n%o fle1ionado! Sobre este +ltimo aspecto, di ele7 “Se vert#ssemos servilmente as repeti&-es de omero, dei1aria a obra de ser apraível como a dele< a pior das infidelidades!;M Procurou tamb$m reproduir as “met)foras fi1as, os característicos epítetos hom$ricos, inventando comp*sitos em portugu#s, animado pelo e1emplo de tradutores italianos de omero Q3onti e PindemonteQ e muitas vees e1tremando o paradigma, pois entendia a nossa língua “ainda mais afeita 8s palavras compostas e ainda mais ousada do que o italiano! Preocupava(se em ser realista, em reproduir e1atamente a cruea de certas passagens dos cantos hom$ricos /sirva de e1emplo o epis*dio da apari&%o de Ulisses a "ausícaa, e as críticas que tece aos eufemismos usados pelo tradutor franc#s Liguet0! 2inha a teima do termo 6usto, se6a para a reprodu&%o de um mati da )gua do mar, se6a para a nomea&%o de uma pe&a de armadura! Suas notas aos cantos traduidos d%o uma ideia de seu cuidado em apanhar a viv#ncia do te1to hom$rico, para depois transp(lo em portugu#s, dentro das coordenadas est$ticas que elegera /ve6a(se a compara&%o que fa entre a 6angada de Ulisses Q 5disseia, ivro GQ e a usada pelos 6angadeiros do :ear)< ou a passagem em que reporta o uso, no 3aranh%o, de um caldeir%o de ferro semelhante 8 trípode grega0! 'iscute, e muitas vees refuta duramente as solu&-es dos tradutores que o precederam em outras línguas! Adota a t$cnica de interpola&%o, incorporando versos de outros poetas /:am-es, Francisco 3anoel de 3elo, Antnio Ferreira, Filinto Elísio0, quando entende que certa passagem hom$rica pode ser vertida atrav$s desse e1pediente! N *bvio que sua pr)tica n%o est) 8 altura de sua
teoria, que muitas de suas solu&-es, de seus arrevesamentos sint)ticos e, em especial, de seus comp*sitos, s%o mesmo sesquipedais e inaceit)veis! Para isso tamb$m contribui o fator tempo! Assim, “velocípede Aquiles, para “Aquiles de p$s veloes ou simplesmente “velo, soa caricato, quando ho6e velocípede $ a denomina&%o corriqueira de um veículo para crian&as! 3as outros neologismos, posto de lado o preconceito contra o maneirismo,
que n%o pode ter mais ve para a sensibilidade moderna, configurada por escritores como o 9oJce das palavras(montagem ou o nosso Luimar%es @osa das inesgot)veis inven&-es vocabulares, s%o perfeitamente bem(sucedidos, como Zris “alidourada, “criniaul "etuno,
ou, para um rio, “amplofluente ou, ainda, “bracic.ndida para elena, tudo dentro do conte1to que cria e das regras do 6ogo que estabeleceu! :onsegue muitas vees reproduir aquela “melopeia que, segundo Pound, tem seu auge no grego hom$rico7 “Purp+rea morte o imerge em noite escura, 4rilha puníceo e fresco entre a poeira,;R algo que teria o timbre de “poesia pura para um ouvido bremondiano!
Em mat$ria de sonoridade, que 6) raia quase pelo “sonorismo gra&as ao impressionante e ininterrupto desfile de onom)sticos e patronímicos gregos, $ de se ver a enumera&%o dos nomes dos capit%es das naus helenas e de suas terras de origem nos versos M?V e seguintes do ivro 55 da Il(ada, que Odorico esmerou(se em passar para o portugu#s, rebelando(se contra a ideia de saltar o trecho!;T N feli na transcri&%o onomatopaica do ruído do mar, uma constante incid#ncia na epopeia hom$rica7
3uge horríssona vaga e o mar reboa, :om sopro h*rrido e ríspido encapelam O clamoroso p$lago =!!!>!;
Uma pedra(de(toque, que Era Pound seleciona como e1emplo de “melopeia intraduível, o verso7
"ar6 thina "oly"hl%isboio thalasses Q
o ímpeto das ondas na praia e seu reflu1o, comenta Pound; Q, fa boa figura na vers%o de Odorico /admitida a hip$rbase07
&elas do mar fluctissonantes "raias0
2em o tradutor tamb$m, aqui e ali, seus bons momentos de “logopeia, como, por e1emplo, v)rios do ivro [5 da 5disseia! Este como amostra /a descri&%o do espectro de $rcules no ato de disparar uma flecha07
2or da noite7 ele a8usta a frecha ao nervo7 .a a9)o de dis"arar7 t,trico olhando0:;
"aturalmente, a leitura das tradu&-es de Odorico $ uma leitura biarra e difícil /mais difícil que o original, opina, com alguma ironia, 9o%o @ibeiro, que ali)s o encarou compreensivamente0! 3as na hist*ria criativa da poesia brasileira, uma hist*ria que se h) de faer, muitas vees, por versos, e1certos de poemas, “pedras(de(toque, antes que por poemas inteiros, ele tem um lugar assegurado! E para quem se enfronhar na sua teoria da
15 3endes! A Il(ada de 1omero!
16 @oland 4arthes / Essais 2riti<ues0, escrevendo sobre o 3obile de 3ichel 4utor, chama a aten&%o sobre a atualidade de que se podem revestir estas enumera&-es hom$ricas, verdadeiros “cat)logos $picos, como 4arthes as denomina, a testemunhar “a infinita apossibilidade da guerra e do poder! Odorico andou bem, por mais de um título, ao censurar os tradutores que as omitiam de suas vers-es!
17 3endes! A Il(ada de 1omero!
18 Era Pound tentou duas adapta&-es deste verso7 “=!!!> imaginarJ\ Audition of the phantasmal seasurge /“3auberleJ0 e “he lies bJ the poluphloisboious seacoast /“3oeurs contemporaines0! “Pelas praias do mar polissonoras $ como gostaríamos de traduir esta linha!
tradu&%o, e1posta fragmentariamente nos coment)rios aos cantos traduidos, essa leitura se transformar) numa intrigante aventura, que permitir) acompanhar os #1itos e fracassos /mais fracassos do que #1itos talve0 do poeta na tarefa que se cometeu e no .mbito de sua linguagem de conven&-es e faturas especiais< pois, diversamente do que pareceu a Sílvio @omero, o fato de o maranhense ter(se entregue a sua faina a frio /“sem emo&%o0 e munido de um “sistema preconcebido $, a nosso ver, precisamente o que h) de mais sedutor em sua empresa!
Os “maneirismos de :hapman, seus “e1cessos de ornamento aditivo, seus “par#nteses e invers-es que tornam a leitura em muitos pontos difícil, n%o impedem que Era Pound reconhe&a nele o “melhor tradutor ingl#s de omero< nem o fato de que Pope este6a out of fashion inibe o mesmo Pound de apreciar(lhe os t*picos inventivos, embora ressalve tamb$m que essas tradu&-es inglesas do grego, “cheias de belas passagens, “n%o oferecem uma satisfa&%o prolongada ou cabal! Ser%o talve as tradu&-es de Odorico, como di Era Pound das de :hapman e Pope, “tradu&-es de interesse para especialistas, mas nem por isso sua presen&a pode ser negligenciada!?X 3ormente quando se percebe, na vo solit)ria de um outro maranhense, o revolucion)rio Sous.ndrade da segunda gera&%o rom.ntica, nas ins*litas cria&-es vocabulares do autor do “Luesa errante, o influ1o de Odorico! O “Pai @ococ*, como o chama Sous.ndrade! :onfira(se este trecho /gongorino( mallarmaico0 do .ovo =den, onde Sous.ndrade persegue uma sonoridade grega7
Alta amarela estrela brilhantíssima< :adentes sul(meteoros luminosos 'o mais divino p* de lu< v$us *palos Abrindo ao oriente a hom$rea rodod)ctila Aurora!!!?;
Buando os poetas concretos de S%o Paulo se propuseram uma tarefa de reformula&%o da po$tica brasileira vigente, em cu6o m$rito n%o nos cabe entrar, mas que referimos aqui como algo que se postulou e que se procurou levar 8 pr)tica, deram(se, ao longo de suas atividades de teoria&%o e de cria&%o, a uma continuada tarefa de tradu&%o! Faendo(o, tinham presente 6ustamente a did)tica decorrente da teoria e da pr)tica poundiana da tradu&%o e suas ideias quanto 8 fun&%o da crítica Qe da crítica via tradu&%oQ como “nutrimento do impulso criador! 'entro desse pro6eto, come&aram por traduir em equipe deessete 2antares de Era Pound, procurando reverter ao mestre moderno da arte da tradu&%o de poesia os crit$rios de tradu&%o criativa que ele pr*prio defende em seus escritos! Em seguida, Augusto de :ampos empreendeu a transposi&%o para o portugu#s de de dos mais comple1os poemas de e! e! cummings, o grande poeta norte(americano falecido em ;VT?, poemas onde inclusive odado “*tico deveria ser como que traduido, se6a quanto 8 disposi&%o tipogr)fica, se6a quanto 8 fragmenta&%o e 8s rela&-es interlineares, o que implicava, por vees, at$ mesmo a previs%o do n+mero de letras e das coincid#ncias físicas /pl)sticas, ac+sticas0 do material verbal a utiliar! Al$m de outras e1peri#ncias com te1tos “difíceis /desde vanguardistas alem%es e haicaístas 6aponeses at$ can&-es de 'ante, trovadores proven&ais e “metafísicos ingleses0, poetas do grupo /no caso Augusto de
20 Pound! Early Translators of 1omer !
21 “@hodod)ctJlos Eos, “a Aurora dos dedos cor(de(rosa, $ o epíteto cunhado por omero! Odorico tem esta bela solu&%o7 “a dedirr*sea Aurora!
:ampos em colabora&%o com o autor destas linhas0 tentaram recriar em portugu#s de fragmentos do Finnegans Wake, v)rios dos quais n%o traduidos em nenhum outro idioma /salvo erro, o romance(poema de 9oJce s* foi, at$ a d$cada de ;VTX,?? vertido em curtos e1certos, pouco numerosos, para o franc#s, o italiano, o alem%o e o tcheco, nos dois primeiros casos trabalho de equipe, com a participa&%o do pr*prio 9oJce0! 'estes ensaios,
feitos antes de mais nada com intelletto d4amore, com devo&%o e amor, pudemos retirar, pelo menos, um prolongado trato com o assunto, que nos autoria a ter ponto de vista
firmado sobre ele!
A tradu&%o de poesia /ou prosa que a ela equivalha em problematicidade0 $ antes de tudo uma viv#ncia interior do mundo e da t$cnica do traduido! :omo que se desmonta e se remonta a m)quina da cria&%o, aquela fragílima belea aparentemente intangível que nos oferece o produto acabado numa língua estranha! E que, no entanto, se revela suscetível de uma vivissec&%o implac)vel, que lhe revolve as entranhas, para tra#(la novamente 8 lu num corpo linguístico diverso! Por isso mesmo a tradu&%o $ crítica! Paulo @*nai cita uma frase de 9os$ Salas Subirat, o tradutor para espanhol do UlJsses de 9oJce, que di tudo a este prop*sito7 “2raduir $ a maneira mais atenta de ler! E comenta7 “Precisamente esse dese6o de ler com aten&%o, de penetrar melhor obras comple1as e profundas, $ que $ respons)vel por muitas vers-es modernas, inclusive essa castelhana de 9oJce!?I
Os m*veis primeiros do tradutor, que se6a tamb$m poeta ou prosador, s%o a configura&%o de uma tradi&%o ativa /daí n%o ser indiferente a escolha do te1to a traduir, mas sempre e1tremamente reveladora0, um e1ercício de intelec&%o e, atrav$s dele, uma opera&%o de crítica ao vivo! Bue disso tudo nas&a uma pedagogia, n%o morta e obsoleta, em pose de contri&%o e defun&%o, mas fecunda e estimulante, em a&%o, $ uma de suas mais
importantes consequ#ncias! 3uito se fala, por e1emplo, das influ#ncias 6oJceanas na obra de Luimar%es @osa! "enhuma demonstra(&%o ser), por$m, segundo pensamos, mais eloquente e mais elucidativa a respeito do que o simples cote6o de e1certos do Lrande sert%o com outros /recriados em portugu#s0 do Finnegans Wake! 3$todo ideogr.(mico! :rítica atrav$s da an)lise e compara&%o do material /via tradu&%o0! A este trabalho se deu Augusto de :ampos no seu estudo “Um lance de ]d#sC do Lrande sert%o, de onde e1traímos a seguinte amostra7
'rande sert)o3 veredas
E me cerro, aqui, mire e ve6a! 5sto n%o $ o de um relatar passagens de sua vida, em toda admira&%o! :onto o que fui e vi, no levantar do dia! Auroras! :erro! O Senhor v#! :ontei tudo! Agora estou aqui, quase barranqueiro! Para a velhice vou, com ordem e trabalho! Sei de mim :umpro! O @io de S%o Francisco Q que de t%o grande se comparece Q parece $ um pau grosso, em p$, enorme!!! Am)vel o senhor me ouviu, minha id$ia confirmou7 que o 'iabo n%o e1iste! Pois n%o O senhor $ um homem soberano, circunspecto! Amigos somos! "onada! O diabo n%o h) N o que eu digo, se for!!! E1iste $ homem humano! 2ravessia!?M
22 Entre os anos de ?XXX e ?XXI, foi publicada, pela Ateli# Editorial, a tradu&%o integral do romance de 9oJce, em cinco volumes, feita pelo poeta e tradutor 'onaldo Sch^ler / e!0!
23 @*nai! Escola de tradutores, p! T!
Finnegans Wake >Finnicius rev,m?
Sim, me vou indo! Oh amargo fim Eu me escapulirei antes que eles acordem! Eles n%o h%o de ver! "em saber! "em sentir minha falta! E $ velha e velha $ triste e velha $ triste e em t$dio que eu volto a ti, frio pai, meu frio fren$tico pai, meu frio fren$tico feerível pai, at$ que a pura vista da mera aforma dele, as l)guas e l)guas dele, lamentando, me fa&am maremal lamasal e eu me lance, oh +nico, em teus bra&os! Ei(los que se levantam Salvame de seus terrípertos tridentes 'ois mais! Um, dois morhomens mais! Assim! Avelaval! 3inhas folhas se foram! 2odas! Uma resta! Arrasto(a comigo! Para lembrar(me de! ff 2%o maviosa manh%, a nossa! Sim! eva( me contigo, paiinho, como daquela ve na feira de brinquedos Se eu o vir desabar sobre mim agora, asas branquiabertas, como se viesse de ArYan6os, eu p#nsil que decairei a seus p$s, umil 'umilde, s* para lauv)(los! Sim, fim! N l)! Primeiro! Passamos pela grama psst tr)s do arbusto para! Psqui Laivota, uma! Laivotas! onge gritos! Gindo, longe Fim aqui! "*s ap*s! Finn $quem 2oma! 4osculaveati, mememormim Ati mil#nios fim! ps! As chaves para! 'adas A via a uma a uma am$m amor al$m a?R
O autor do presente ensaio dedicou(se ao aprendiado do idioma russo com o escopo definido de traduir 3aiaY*vsYi e outros poetas esla(vos de vanguarda! "%o nos cabe avaliar os primeiros resultados 6) obtidos nesse campo, mas reportar um e1perimento pessoal que poder) ter inte(resse! Escolhemos para tentativa inicial o poema “Siergui$iu
lessi#ninu /“A Siergu#i lessi#nin0, escrito por 3aiaY*vsYi quando do suicídio daquele seu contempor.neo /e advers)rio de ideais est$ticos0! A prop*sito desse poema, 3aiaY*vsYi desenvolve toda a sua teoria da composi&%o po$tica, num estudo admir)vel Q 2omo se fa!em versos@ Q traduido para o espanhol por ila Luerrero e para o franc#s por Elsa
2riolet! Pois bem, o e1ercício da tradu&%o para a nossa língua desse poema, proposto como recria&%o, atrav$s de equivalentes em portugu#s, de toda a elabora&%o formal /sonora, conceitual, imag$tica0 do original, permitiu(nos refaer, passo a passo, as etapas criativas descritas por 3aiaY*vsYi em seu trabalho te*rico, e, mutatis mutandis, repetir as opera&-es de testagem e elei&%o de cada linha do poema entre as v)rias possibilidades que se apresentavam 8 mente, tendo em vista sempre o pro6eto e as e1ig#ncias do te1to maiaYovsYiano! Foi, para n*s, a melhor “leitura que poderíamos 6amais ter feito do poema, colocando(o 8 sua matri teor$tica e revivendo a sua “pra1is, uma leitura verdadeiramente crítica! Um e1emplo7 h) no original uma alitera&%o que merece especial #nfase nos coment)rios do poeta7
Ldi$ on broni von
ili granita gran!
25 9oJce! Finnegans Wake, p! T?(T? /fim0! 2radu&%o de Augusto e aroldo de :ampos, em Panaroma /Fragmentos do Finnegans Wake de 9ames 9oJce vertidos para o portugu#s0
iteralmente, seria7 “onde o ressoar do brone ou a aresta de granito, Q refer#ncia ao monumento que ainda n%o se erguera ao poeta morto! Sem fugir do .mbito sem.ntico, a fidelidade ao efeito dese6ado pelo poeta levou(nos a “traduir a alitera&%o, antes que o sentido! E ficou7
Onde
o som do brone ou o grave granito!
substituindo(se o substantivo aresta, faceta, pelo ad6etivo grave, por$m mantido o esquema sonoro do original!
'e e1peri#ncias como esta, se nada mais, decorre pelo menos a convic&%o, que sustentamos agora, da impossibilidade do ensino de literatura, em especial de poesia /e de prosa a ela equipar)vel pela pesquisa formal0, sem que se coloque o problema da amostragem e da crítica via tradu&%o! Sendo universal o patrimnio liter)rio, n%o se poder) pensar no ensino estanque de uma literatura! Ora, nenhum trabalho te*rico sobre problemas de poesia, nenhuma est$tica da poesia ser) v)lida como pedagogia ativa se n%o e1ibir imediatamente os materiais a que se refere, os padr-es criativos /te1tos0 que tem em mira! Se a tradu&%o $ uma forma privilegiada de leitura crítica, ser) atrav$s dela que se poder%o conduir outros poetas, amadores e estudantes de literatura 8 penetra&%o no .mago do te1to artístico, nos seus mecanismos e engrenagens mais íntimos! A est$tica da poesia $ um tipo de “metalinguagem cu6o valor real s* se pode aferir em rela&%o 8 “linguagem(ob6eto /o poema, o te1to criativo enfim0 sobre o qual discorre! "%o $ 8 toa, reciprocamente, que
tantos poetas, desde o e1emplar ensaio de Edgar Allan Poe “2he PhilosophJ of :omposition, se preocuparam em tra&ar a g#nese de seus poemas, em mostrar que a cria&%o po$tica pode ser ob6eto de an)lise racional, de abordagem met*dica /uma abordagem que n%o e1clui, de modo algum, a intui&%o sensível, a descri&%o fenomenol*gica, antes se completa por elas0!
O problema da tradu&%o criativa s* se resolve, em casos ideais, a nosso ver, com o trabalho de equipe, 6untando para um alvo comum linguistas e poetas iniciados na língua a ser traduida! N preciso que a barreira entre artistas e professores de língua se6a substituída por uma coopera&%o f$rtil, mas para esse fim $ necess)rio que o artista /poeta ou prosador0
tenha da tradu&%o uma ideia correta, como labor altamente especialiado, que requer uma dedica&%o amorosa e pertina, e que, de sua parte, o professor de língua tenha aquilo que Eliot chamou de “olho criativo, isto $, n%o este6a bitolado por preconceitos acad#micos, mas sim encontre na colabora&%o para a recria&%o de uma obra de arte verbal aquele 6+bilo particular que vem de uma belea n%o para a contempla&%o, mas de uma belea para a a&%o ou em a&%o! O dilema a que se refere ugh Lordon Porteus ao comparar as vers-es de poemas chineses feitas pelo orientalista Arthur _aleJ /certamente competentíssimas como
fidelidade ao te1to0 e por Era Pound /indubitavelmente e1emplares como cria&%o0Q
Pound $ antes de mais nada um poeta! _aleJ $ antes de mais nada um sin*logo! "os círculos sinol*gicos, sem d+vida, as incurs-es de Pound no chin#s despertam apenas um esgar de desd$m!!! Por outro lado, as pessoas
sensíveis 8s beleas sutis do verso poundiano n%o podem tomar a s$rio a t$cnica po$tica de erro e acerto do Sr! _aleJ!?T
Q deve ser superado no pro6eto de um aborat*rio de 2e1tos, onde os dois aportes, o do linguista e o do artista, se completem e se integrem num labor de tradu&%o competente como tal e v)lido como arte! "um produto que s* dei1e de ser fiel ao significado te1tual para ser inventiva, e que se6a inventiva na medida mesma em que transcenda, deliberadamente, a fidelidade ao significado para conquistar uma lealdade maior ao espírito do original transladado, ao pr*prio signo est$tico visto como entidade total, indivisa, na sua realidade material /no seu suporte físico, que muitas vees deve tomar a dianteira nas preocupa&-es do tradutor0 e na sua carga conceitual! "esse aborat*rio de 2e1tos, de cu6a
equipe participariam linguistas e artistas convidados, e que poderia cogitar de uma linha de publica&-es e1perimentais de te1tos recriados, poder(se(iam desenvolver, em nível de semin)rio, atividades pedag*gicas tais como a colabora&%o de alunos em equipes de tradu&%o ou o acompanhamento por estes das etapas de uma vers%o determinada, com as e1plica&-es correlatas do porqu# das solu&-es adotadas, op&-es, variantes etc!