• Nenhum resultado encontrado

Funcionamento esquemático, ciclos interpessoais disfuncionais e fusão cognitiva na perspetiva do modelo de complementariedade paradigmática

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Funcionamento esquemático, ciclos interpessoais disfuncionais e fusão cognitiva na perspetiva do modelo de complementariedade paradigmática"

Copied!
103
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

FUNCIONAMENTO ESQUEMÁTICO, CICLOS INTERPESSOAIS

DISFUNCIONAIS E FUSÃO COGNITIVA NA PERSPETIVA DO

MODELO DE COMPLEMENTARIEDADE PARADIGMÁTICA

Vítor Bruno Faustino Almeida

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicoterapia

Cognitiva-Comportamental e Integrativa)

2016

(2)

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

FUNCIONAMENTO ESQUEMÁTICO, CICLOS INTERPESSOAIS

DISFUNCIONAIS E FUSÃO COGNITIVA NA PERSPETIVA DO

MODELO DE COMPLEMENTARIEDADE PARADIGMÁTICA

Vítor Bruno Faustino Almeida

Dissertação orientada pelo Professor Doutor António Branco Vasco

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicoterapia

Cognitiva-Comportamental e Integrativa)

(3)

Agradecimentos

Quero agradecer, em primeiro lugar, ao meu orientador Professor Doutor António Branco Vasco pela transmissão de conhecimento e sabedoria, apoio, disponibilidade, empenho e orientação nas aulas e no presente trabalho. Um agradecimento especial a todos os participantes pela sua contribuição, fundamental para este trabalho. De extrema importância foram os meus colegas de tese Teresa, Rafaela e João, pois sem eles este trabalho não teria sido possível realizar.

Agradeço à Faculdade de Psicologia e a todos os meus professores pelas condições e ensino de excelência que me proporcionaram nos cinco anos passados. Deixo também uma palavra de gratidão aos meus orientadores de estágio Professora Doutora Ana Catarina Nunes e Professor Doutor Jaime Grácio, por todo apoio e tutoria que me proporcionaram durante o presente ano letivo.

Agradeço ao Professor Doutor Jorge Oliveira e ao Professor Doutor Sérgio Moreira pelo apoio na análise estatística. Quero agradecer também ao Professor Doutor Paulo Ventura pelas oportunidades que me tem proporcionado em termos de investigação.

Dedico o presente trabalho à minha família, especialmente à minha mãe, ao meu pai e à minha irmã por demostrarem carinho, apoio, amor incondicional e por acreditarem em mim desde o início desta jornada.

Finalmente, estou profundamente agradecido aos meus companheiros de banda, bem como a todos os meus amigos e colegas com quem tenho partilhado momentos inesquecíveis de alegria e felicidade que fazem de mim a pessoa que sou hoje. Às pessoas que passaram pela minha vida, um enorme obrigado.

(4)

“Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em

monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo olha também para dentro de ti.”

(5)

Resumo

Investigações anteriores têm demonstrado que o funcionamento esquemático disfuncional, os ciclos interpessoais e a fusão cognitiva estão fortemente relacionados com a perturbação psicológica e com a saúde mental. Neste sentido, a presente investigação pretendeu esclarecer, identificar e diferenciar em que medida, os esquemas precoces mal-adaptativos, os ciclos interpessoais disfuncionais e fusão cognitiva se relacionam entre si e quais os seus contributos diferenciais para a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, para o bem-estar, distress psicológico e sintomatologia. Para o efeito, foram avaliados 282 sujeitos divididos em dois grupos, amostra não-clínica e clínica. Concluiu-se que existe uma forte associação entre os esquemas, os ciclos interpessoais e a fusão cognitiva nos dois grupos. No entanto no grupo clínico algumas destas associações encontram-se mais robustas. No geral, quanto maior for a presença de esquemas, ciclos disfuncionais e rigidez psicológica, menor é capacidade para regular a satisfação das necessidades psicológicas, menor é o bem-estar, por outro lado, maior é o distress psicológico e a sintomatologia. Estes resultados são potencialmente relevantes para a conceptualização de caso e para a tomada de decisão clínica responsiva enquadrada nas caraterísticas e necessidades dos pacientes

Palavras-Chave: Esquemas precoces mal-adaptativos; Ciclos interpessoais disfuncionais; Fusão Cognitiva; Necessidades Psicológicas; Saúde mental; Sintomatologia.

(6)

Abstract

Previous investigations have shown that dysfunctional schemata functioning, interpersonal cycles and cognitive fusion are strongly related to psychological disturbance and mental health. In this sense, this research sought to clarify, identify and differentiate to what extent the early maladaptive schemes, interpersonal dysfunctional cycles and cognitive fusion relate to each other and what their differential contributions to the regulation of satisfying psychological needs, wellbeing, psychological distress and symptomatology. For this purpose, 282 subjects were evaluated, and then divided into two groups: non-clinical and clinical subjects. It was concluded that there is a strong association between schemas, interpersonal cycles and cognitive fusion in both groups. However in the clinical group the associations between these variables were found to be more robust. Overall it was found that when there is a high presence of schemes, dysfunctional cycles and psychological rigidity, the ability to regulate the satisfaction of psychological needs decreases – which consequently decreases wellbeing levels and increases psychological distress and symptomatology. These results may be important to case conceptualization and clinical judgment focused on the patient’s variables and needs.

Key-words: Early maladaptive schemes; Dysfunctional interpersonal cycles; Cognitive fusion; Psychological needs; Mental health, Symptomatology.

(7)

Introdução

A investigação em psicologia clínica e psicoterapia tem vindo a evidenciar os contributos relativos de diferentes tipos de variáveis determinantes da eficácia terapêutica. Cerca de 40 % da variância das intervenções é atribuída à remissão espontânea (variáveis do paciente e caraterísticas da ecologia do indivíduo), aproximadamente 30% deve-se a fatores comuns como a qualidade da aliança ou explicações alternativas da perturbação, cerca de 15% da variância pode ser atribuída a efeitos placebo e os restantes 15% da variância podem ser ainda atribuídos a técnicas clínicas específicas das diferentes teorias (Lambert & Barley, 2002). No mesmo sentido, Norcross (2011) salienta que 40% da variância em psicoterapia não está correntemente identificada ou explicada, sendo os outros 60% atribuídos a fatores como variáveis do terapeuta (7%), paciente (30%), relação terapêutica (12%), método de intervenção (7%) e outros fatores (3%).

Neste sentido, a presente investigação pretende continuar a produzir e explicitar conhecimento dos pesos relativos diferenciais de variáveis potencialmente responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção de perturbação psicológica. Desta forma, pretende-se contribuir para a objetivação de variáveis com caracter clínico com foco de intervenção esclarecida, contribuindo desta forma para a diminuição de 30% da variância não explicada referida às variáveis dos pacientes Assim, pretendeu-se estudar as relações entre os esquemas precoces mal-adaptativos, os ciclos interpessoais disfuncionais e a fusão cognitiva à luz do modelo da complementaridade paradigmática, nomeadamente no entendimento das relações e ponderações diferenciais entre os esquemas, os ciclos interpessoais e a fusão cognitiva na regulação da satisfação das necessidades, bem-estar, distress psicológico e na sintomatologia.

(8)

Funcionamento Esquemático e os Esquemas Precoces Mal-Adaptativos

O funcionamento esquemático diz respeito ao caráter funcional do conceito de esquema ou de estrutura cognitiva, sendo um dos constructos teóricos mais utilizados em psicologia para descrever o comportamento humano (Rijo, 2009). Na diversidade do conceito de esquema, podemos encontrar as seguintes definições: esquemas cognitivos (Beck, Freeman, & colaboradores, 2004), esquemas emocionais (Greenberg & Pavio, 1997; Vasco, 2013), esquemas e ciclos interpessoais disfuncionais (Safran & Segal, 1990; Dimaggio, Montano, Popolo & Salvatore, 2015) e esquemas precoces mal-adaptativos (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

Na sua definição compreensiva do conceito de esquemas precoces mal-adaptativos (EPM), Young e colaboradores, definem os EPM como “padrões amplos e perversivos de memórias, emoções, cognições e sensações, referentes ao próprio e às relações com os outros, com origem na infância ou na adolescência, sendo elaborados durante a vida do indivíduo e disfuncionais de forma significativa” (Young, Klosko & Weishaar, 2003; pp. 7). Os EMP são amplos, rígidos, inflexíveis e impermeáveis à experiência e quando ativados envolvem altos níveis de afeto, acarretando sofrimento para o indivíduo impondo-lhe tendências de ação típicas com carácter disfuncional (Young, Klosko & Weishaar, 2003) Os autores descrevem cinco categorias diferentes por onde se distribuem dezoito EPM (ver anexo A).

Segundo Young, Klosko e Weishaar (2003), os EPM são o resultado da atribuição de significados disfuncionais à interação entre diversas experiências precoces não-adaptativas, nomeadamente: frustração de necessidades emocionais fundamentais (e,g., vinculação segura, autonomia, e validação emocional) traumatização, vitimização, sobreproteção e internalização seletiva de traços de personalidade. Finalmente, o temperamento (e.g., ansioso/calmo, tímido/social, passivo/agressivo) e os estilos

(9)

parentais (e.g., punitivo, evitante/desligado, abusador) complementam a equação complexa da formação de EPM (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

Em termos de investigação prévia, os EPM surgiram como uma das variáveis mais determinantes na explicação de perturbações psicológicas, sintomatologia e saúde mental. Num trabalho anterior Fonseca (2012), evidenciou relações significativas positivas entre a presença de EPM (domínios de distanciamento e rejeição e autonomia e desempenho deteriorados) e a alexitimia nomeadamente na dificuldade em identificar sentimentos e distingui-los das sensações corporais. Na mesma investigação, Fonseca (2012) encontrou uma relação negativa entre os EPM e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, nomeadamente entre os EPM defeito/vergonha e isolamento social/alienação com as necessidades de controlo, tranquilidade e autoestima.

Quando associados à sintomatologia psiquiátrica, a presença de EPM tende a ser vista como um dos fatores de desenvolvimento e manutenção de psicopatologia (Welburn et al., 2002). Dobois, Martin e Bieling (2009) encontraram associações positivas entre a presença de EPM e os estilos de humor agressivos e pensamentos auto-depreciativos. Cláudio (2009) associou positivamente o domínio de EPM de distanciamento e rejeição com a depressão. Finalmente, quando associados a perturbações de personalidade, os diferentes EPM parecem conseguir diferenciar os temas subjacentes a cada perfil de perturbação de personalidade (Young, Klosko & Weishaar 2003; Bach et al., 2015).

Ciclos Interpessoais Disfuncionais

O conceito de ciclos interpessoais disfuncionais (CID) deriva da teoria dos esquemas interpessoais (EI), sendo os CID definidos como processos intersubjetivos que acontecem na cena social entre os indivíduos, resultantes de esquemas rígidos, inflexíveis, generalizados e impermeáveis à experiência (Safran, 1990; Scarvalone, Fox & Safran,

(10)

2005; Dimaggio, Montano, Popolo & Salvatore, 2015). Enquanto os CID consistem em processos intersubjetivos que acontecem entre indivíduos, os EI são estruturas mentais intrapsíquicas que contêm representações generalizadas das interações self-outro, sendo por natureza instâncias relacionais (Safran & Segal 1990; Scarvalone, Fox & Safran, 2005).

Körner et al., (2004), ao combinar o modelo SASB (Structural Analysis of Social Behaviour, Benjamin, 1974), com método CCRT (Core Conflictual Relationship Theme, Luborsky, 1977), conceptualizou quatro configurações básicas interpessoais (respostas de semelhança, complementaridade, oposição e antítese). Estas configurações foram depois enquadradas em termos de (1) expectativas do sujeito ao seu comportamento e ao (2) comportamento dos outros, e (3) atribuições de significado e tendências de ação internas decorrentes dessas interações (Körner et al., 2004). Assim, foi possível definir três fatores (dar e receber positivo, autoafirmação/retaliação e reação formativa), bem como diferenciar dois fatores de introjeção (introjeção/autopunição e autocuidado/integridade), que refletem os processos intersubjetivos relacionais, ou seja, os CID (Körner et al., 2004).

Em termos de investigação prévia, os CID inferidos a partir de questionários de padrões relacionais ou EI, aparentam estar associados positivamente a perturbações depressivas, a uma baixa autoestima, a incapacidades relacionais, a determinadas perturbações de personalidade como perturbação histriónica e esquizotipíca (Scarvalone, Fox & Safran, 2005). Finalmente, os CID são também relacionados com história de abusos sexuais (Körner et al., 2004; Scarvalone, Fox & Safran, 2005).

Relativamente às semelhanças, os EPM e os EI são definidos como esquemas desenvolvidos precocemente baseados em experiências nocivas, que guiam o indivíduo de forma não-adaptativa. No entanto, os conceitos diferem em termos de componentes,

(11)

tendo os EPM uma conceptualização mais ampla, indiferenciada e portanto mais integradora contemplando afetos, cognições e experiências em relação ao próprio e aos outros (self-self, self-outro). Por outro lado, os EI refletem apenas a dimensão self-outro. Assim, os CID são os processos relacionais intersubjetivos que derivam dos EI e que ocorrem entre os indivíduos, enquanto esquemas são estruturas intrapsíquicas.

Portanto, aproveitando o potencial integrativo dos EPM, e de acordo com as semelhanças entre o domínio relacional dos EPM e os EI (relações self – outro), podemos conceptualizar os EI como a componente interpessoal dos EMP. Neste sentido, CID podem ser descritos como o conjunto de processos intersubjetivos relacionais resultantes da componente interpessoal dos EPM. Assim, os CID derivam dos EI, que de acordo com perspetiva do presente trabalho são definidos como a componente interpessoal estrutural dos EPM.

Fusão Cognitiva

O constructo fusão cognitiva (FC) deriva do modelo da inflexibilidade psicológica e evitamento experiencial da Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy, em inglês ACT). Como é entendida pela ACT, a flexibilidade psicológica é a capacidade mental de estar em contacto com o momento presente, de forma consciente, comprometida e aceitante com os seus interesses e valores sendo capaz de escolher e mudar o comportamento em função das situações com base nos mesmos (Hayes, Stroshal & Wilson, 2011; Hayes, Pistorello & Levin, 2012; Gilanders et al, 2014).

Por outro lado, a FC diz respeito ao grau em que o indivíduo acredita que os seus pensamentos (veiculados pela linguagem interna) são verdades absolutas, levando as emoções e os comportamentos a ser fortemente regulados e guiados pelo grau de certeza das suas cognições (Gilanders et al., 2014). Com efeito, quando se pensa em termos de

(12)

FC as cognições são sentidas como verdades inquestionáveis (pessoa dominada por, acreditar absolutamente, levar à letra os pensamentos), em detrimento da relativização da atividade mental, nomeadamente no entendimento de pensamentos como conteúdos mentais hipotéticos muitas vezes sem necessidade de exteriorização comportamental ou ação expressa (Hayes, Stroshal & Wilson, 2011; Hayes, Pistorello & Levin, 2012)

Portanto, a FC surge como uma variável clínica muito relevante para o presente trabalho, visto ser uma forma heurística de definir a rigidez mental. Aliás, a rigidez/inflexibilidade, é um dos critérios de diagnóstico de psicopatologia do DSM – 5. Dinis e colaboradores (2015) evidenciaram uma associação positiva entre a FC com memórias de vergonha na depressão, onde níveis elevados de FC acarretaram maior quantidade de memórias de vergonha. Por outro lado, níveis elevados de FC estão associados a maior perda e desvalorização da imagem física em perturbações alimentares (Ferreira, Palmeira & Trindade, 2014). Finalmente, a FC aparenta ter um papel mediador na ansiedade social e na sintomatologia depressiva, sendo que quanto maior for nível de FC, maior é a severidade da ansiedade e depressão (Gilanders et al., 2014).

Neste momento, é possível enquadrar a FC na conceptualização desenvolvida previamente. Os EPM são estruturas mentais com conteúdos específicos com diversos componentes estruturais, sendo os EI conceptualizados como a componente interpessoal. Os CID são processos intersubjetivos relacionais derivados dos EI que ocorrem entre os indivíduos. E, finalmente, a FC diz respeito à forma da relação entre o self e os seus produtos (pensamentos, emoções, desejos). Então, a presente investigação procura relacionar e integrar nos EPM (estruturas mentais mal-adaptativas com conteúdos específicos), com os EI como a sua componente interpessoal. Dessa componente, derivam os CID (processos intersubjetivos relacionais decorrentes dos EI), configurados pelo grau de FC (forma rígida de relação mental entre o self e os seus conteúdos).

(13)

Necessidades Psicológicas, bem-estar, distress psicológico e sintomatologia

Para Vasco (2013), o conceito de necessidade prende-se com “um estado de desequilíbrio organísmico provocado por carência ou por excesso de determinados nutrientes psicológicos, sinalizados emocionalmente, e tendente a promover ações internas e/ou externas que conduzem ao restabelecimento do equilíbrio” (pp. 2). Neste

sentido, as necessidades psicológicas estão intimamente relacionadas com a teoria da adaptação do modelo da complementaridade paradigmática. Assim, a adaptação, bem-estar, distress psicológico, bem como a sintomatologia dependem da capacidade de calibração dos diversos sistemas (cognitivos, emocionais e motivacionais), interligados subjacentemente à capacitação da regulação da satisfação das necessidades psicológicas (Vasco, 2001; 2005; 2013; Vasco & Conceição, 2005).

Vasco e colaboradores (2005; 2013) organizam as necessidades psicológicas em sete polaridades dialéticas. Segundo Vasco (2013), a “pedra-de-toque” da saúde mental e do bem-estar é a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, sendo o sistema emocional o sinalizador do grau de regulação das necessidades. Assim, o bem-estar psicológico subjaz a um jogo de equilíbrio e satisfação dessas mesmas sete polaridades tendo em mente que, a sua satisfação nunca é permanente e continuadamente possível (Vasco, 2013; Vasco & Conceição, 2005).

Em termos de investigações prévias, foram encontradas relações significativas positivas entre a regulação da satisfação das necessidades psicológicas e o bem-estar. Por outro lado encontraram-se e relações negativas significativas entre o distress psicológico e a sintomatologia. Concluiu-se que os indivíduos sem sintomas com relevância clínica são mais capazes de regular a satisfação da regulação das suas necessidades do que indivíduos com sintomas com relevância clínica (Conde et al., 2012; Vasco, 2005, 2013).

(14)

Modelo da Complementaridade Paradigmática

De maneira a articular e organizar de forma sistemática, coerente e integrada as diversas variáveis em estudo, utilizou-se o modelo da complementaridade paradigmática (MCP). O MCP é um metamodelo integrativo que procura estabelecer e definir uma visão ampla, compreensiva e diferenciadora dos fenómenos clínicos em psicoterapia, afirmando-se como uma ferramenta privilegiada para tal efeito (Vasco, 2001; 2005). A sua articulação teórica permite o enquadramento relacional e funcional a diversos níveis de abstração, sem perder o fio condutor das suas relações, significados e sentidos. Com efeito, o MCP define e integra três teorias distintas mas complementares: (1) teoria da adaptação, (2) teoria da perturbação e (3) teoria da intervenção (não abordada).

A teoria da adaptação salienta a importância das necessidades psicológicas no bem-estar, bem como na ausência distress psicológico e de sintomatologia, elegendo o sistema emocional como sinalizador da sua regulação (Vasco, 2013; Vasco & Conceição, 2005). Em linha de conta com o mencionado anteriormente relativamente aos EPM, EI e CID, a teoria da perturbação enfatiza os presentes construtos como elementos organizadores de diversos conteúdos potencialmente disfuncionais (Vasco, 2013; Vasco & Conceição, 2005).

Problemática

De acordo com a presente conceptualização teórica, os EPM e EI (conteúdos estruturais nocivos do self), os CID (processos intersubjetivos relacionais) e a FC (forma de relação rígida e inflexível entre o self e os seus conteúdos), surgem como alvo de investigação enquadrados no MCP. Portanto prende-se perceber os contributos relativos das presentes variáveis na regulação da satisfação das necessidades psicológicas, no bem-estar, distress psicológico e sintomatologia. De salientar que o conceito de EPM

(15)

como o de FC são oriundos do modelo psicoterapêutico cognitivo-comportamental, mas conceito de CID é originário do modelo psicodinâmico. Portanto, numa lógica integrativa, importa compreender se cada um destes conceitos acrescenta valor explicativo ao outro.

Enquadradas na presente problemática, para as duas amostras em estudo (não-clínica e (não-clínica), surgem as seguintes questões: os EPM, a FC e os CID estão fortemente associados entre si e entre a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, o bem-estar, distress psicológico e a sintomatologia (hipótese 1); os EPM e a FC isoladamente predizem a regulação da satisfação das necessidades psicológicas (hipótese 2); a regulação da satisfação das necessidades psicológicas prediz o bem-estar, distress psicológico e a sintomatologia (hipótese 3); em interação, os EPM, os CID e a FC predizem a regulação da satisfação das necessidades psicológicas (hipótese 4); em interação, os EPM, os CID, a FC e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, predizem o bem-estar, distress psicológico e a sintomatologia (hipótese 5); existem diferenças significativas na interação entre os EPM, FC, CID, regulação da satisfação das necessidades psicológicas com o bem-estar, distress psicológico e sintomatologia, nas duas amostras em estudo (hipótese 6).

Método

Caracterização da amostra

Participaram 282 participantes, distribuídos por duas amostras distintas, a amostra não-clínica e a amostra clínica. A amostra não-clínica foi recolhida online através da plataforma Qualtrics. A amostra clínica foi recolhida no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e na Clínica Psiquiátrica de São José. Os critérios de inclusão foram ter mais de 18 anos e ter como língua materna o português. O design do presente estudo é de 3 X 4 com três variáveis independentes (VI) – esquemas, ciclos e fusão cognitiva, quatro

(16)

variáveis dependentes (VD) – necessidades psicológicas, bem-estar, distress psicológico e sintomatologia, com um tratamento intra e inter-grupos. A VD necessidades psicológicas, será recategorizada como VI de acordo com as respetivas hipóteses.

A amostra não-clínica constituiu-se com 224 participantes, sendo 48 do sexo masculino (21.4%) e 176 do sexo feminino (78.6%). A idade dos homens variava entre 20 e 67 anos (M = 32,35 DP = 1.771) e idade das mulheres variava entre os 18 e os 62 anos (M = 30.47; DP = 0.858). A amostra clínica foi constituída por 58 participantes, 13 do sexo masculino (22.4%) e 45 do sexo feminino (77.6%). A idade dos homens variava entre 20 e 67 anos (M = 27,35 DP = 2.016) e idade das mulheres varia entre os 18 e os 77 anos (M = 29.07; DP = 1.735). Para detalhes sobre as descrições das amostras, consultar anexos B e C. Finalmente, o tratamento de dados foi realizado com o SPSS versão 23.

Instrumentos

Questionário de Esquemas de Young (QEY – S3)

Os esquemas precoces mal-adaptativos (EPM) foram avaliados através do QEY – S3 (traduzido e adaptado por Gouveia, Rijo e Salvador, 2005, revista), versão

portuguesa adaptada do Young Schema Questionnaire-S3 (Young, 2005, citado por Rijo, 2009). O QEY – S3 é um questionário de auto - relato constituído por 90 itens, que procura avaliar em que medida o indivíduo possui cada EPM. Este instrumento apresenta dezoito subescalas referentes aos dezoito EPM (cinco itens por subescala), que por sua vez agrupam-se em cinco domínios esquemáticos. O formato de resposta é de escala de tipo Likert de 6 valores (1 – 6). O alfa de Cronbach global do presente estudo para a amostra não-clínica (N = 224) é de .978, e para a mostra clínica (N = 58) é de .967. Para detalhes da consistência interna, consultar anexo D.

(17)

Questionário de Padrões Relacionais Interpessoais (QPRI)

Os ciclos interpessoais disfuncionais (CID) foram avaliados a partir do QPRI (Martins, Vasco, Lind, e Benjamin, no prelo), versão portuguesa do Relationship Patterns Questionnaire (Kurth e Pokorny, 1999), baseado no modelo SASB e na estrutura empiricamente derivada do método CCRT. O QPRI é composto por 72 itens cotados numa escala de Likert de 5 pontos (1 = concordo fortemente a 5 = discordo fortemente), divididos por três dimensões: (1) Respostas dos Outros ao comportamento do sujeito (32 itens, RO – RS); (2) Respostas do Sujeito ao comportamento dos outros (32 itens, RS – RO); e (3) forma como o sujeito se trata a ele próprio na interação com os outros significativos (8 itens de introjeção). Para detalhes dos alfas de Cronbach ver anexo E.

Questionário de Fusão Cognitiva (QFC)

O QFC (Gillanders et al., 2013, traduzido e adaptado por Gouveia, Dinis, Gregório & Pinto, 2013) é composto por 7 itens que avaliam a fusão cognitiva (FC). Cada item é cotado numa escala de Likert de 7 pontos (1 = nunca verdadeiro a 7 = sempre verdadeiro). As pontuações mais elevadas são sugestivas de maior presença de FC. A consistência interna da escala na verão portuguesa (3 amostras), variou entre α = .89 e . α = .94. O alfa de Cronbach no presente estudo para a amostra não-clínica (n = 224) é de .942, e para a amostra clínica (n = 58) é de .892.

Escala de Regulação da Satisfação de Necessidades (ERSN – 43)

A regulação da satisfação de necessidades psicológicas foi avaliada pela ERSN - 43 (Vasco e Rucha, 2011). O ERSN – 43 é um instrumento de auto - relato, desenvolvido a partir da revisão de literatura sobre as necessidades psicológicas alicerçadas no MCP, sendo as mesmas conceptualizadas em sete polaridades dialéticas (Vasco, 2012). Com

(18)

efeito, este instrumento possui 14 subescalas referentes a cada polo das necessidades. O formato de resposta é do tipo Likert de 1 a 8 pontos. Nas duas amostras a consistência interna foi aceitável (não-clínica, n = 224, α = .948; clínica, n = 58, α = .997).

Inventário de Saúde Mental (ISM)

A saúde mental foi avaliada pelo Inventário de Saúde Mental (ISM, Duarte-Silva & Novo, 2002, versão portuguesa do Mental Health Inventory – MHI, Ware, Johnston, Davies-Avery, & Brook, 1979). O ISM é uma medida de bem-estar e distress psicológicos geral. Este instrumento é um questionário de auto - relato com 38 itens, de resposta numa escala de tipo Likert de 5 ou 6 valores. O ISM possui duas subescalas em que se subdivide a saúde mental: uma avalia o distress psicológico (24 itens), a outra avalia o bem-estar psicológico (14 itens). O alfa de Cronbach apresentado por Ribeiro (2001) foi de .96, sendo nas subescalas de distress psicológico de .94, e no bem-estar psicológico de .92. No presente estudo o alfa de Cronbach para a amostra não-clínica (n = 224) foi de .962 (sendo α = .938 para o distress psicológico e α = 0 .933 para o bem-estar.) Para a amostra clínica (n = 58), o alfa de Cronbach é de .939 (sendo α = .911 para o distress psicológico e α = 0 .938 para o bem-estar).

Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI)

Para avaliar a sintomatologia, utilizou-se o BSI (Canavarro, 1995, versão portuguesa do Brief Symptom Inventory – BSI, Derogatis, 1993). O BSI é um inventário

de auto - relato, composto por 53 itens, de resposta numa escala de tipo Likert de cinco pontos (0 = nunca a 4 = muitíssimas vezes), com objetivo avaliar os sintomas psicopatológicos. Esta escala apresenta uma elevada consistência interna (α=.90) no seu estudo original. Na presente investigação a consistência interna foi considerada aceitável para as duas amostras (não-clínica, n = 224, α = .974; clínica, n = 58, α = .972).

(19)

Resultados

O quadro 1 apresenta as médias, desvios-padrão e a amplitude (min – max), dos esquemas (EPM) - QEY – S3, fusão cognitiva (FC) - QFC, ciclos interpessoais disfuncionais (CID) - QPRI, regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERSN – 43), bem-estar, distress psicológico e sintomatologia (BSI), para as duas amostras.

Dp = desvio-padrão; Min - Máx = valores mininos e máximos nas variáveis;* = Resumo das médias das subescalas mais significativas QPRI.

Correlações

Através das correlações lineares de pearson, procurou-se identificar o grau de associação entre os esquemas (QYE – S3), fusão cognitiva (QFC), ciclos interpessoais (QPRI), necessidades psicológicas (ERSN – 43), bem-estar, distress psicológico e

QUADRO 1. Médias aproximadas, desvios-padrão e amplitude: QEY – S3, QFC, QPRI, ERSN – 43, Bem-estar e Distress Psicológicos e BSI, para as duas amostras não-clínica (n = 224) e clínica n = 58).

Amostra não-clínica (n = 224)

Amostra clínica (n = 58)

Variáveis Média Dp Min -

Máx Média Dp Min - Máx QEY – S3 12.11 4.41 5 – 25.5 14.11 4.17 5.8 – 22.8 QFC 3.14 1,16 1 – 7 4.87 1.33 1.9 – 6.7 Introjeção/autopunição* 6.12 2.7 3 - 15 7.00 3.17 3 – 15 Autocuidado/Integridade* 19.25 3.7 9 - 25 17.41 18 7 – 25 ERSN-43 5.91 .86 3 - 7 5.28 5 3 – 8 Bem-Estar Psicológico 54.01 17.06 8.6 - 90 38.79 16.68 2.9 – 75 Distress Psicológico 62.99 13.47 20 – 89.9 66.1 15.28 22.9 – 89 BSI .79 .65 0 - 2.9 1.43 85 0 – 3.7

(20)

sintomatologia (BSI) – hipótese 1.

Na amostra não-clinica (n = 224), encontrou-se uma correlação positiva forte (r

= .688, p <.01), entre os valores globais do QEY – S3 com o QFC. Na amostra clínica (n = 58), encontrou-se também uma correlação positiva forte (r = .500, p <.01).

Para a amostra não-clinica (n = 224) foram efetuadas correlações entre o valor global do QEY – S3 com as dimensões do QPRI, tendo-se encontrado apenas uma correlação positiva forte com a dimensão introjeção/autopunição (r = .697 p <.01). Para a amostra clínica (n = 58), encontrou-se também uma correlação positiva forte com a dimensão introjeção/autopunição (r = .627 p <.01) – consultar anexo E.

Correlacionou-se, os valores globais do QEY - S3, e do QFC com os valores globais do ERSN – 43, bem-estar, distress psicológico e BSI para as duas amostras. Encontrou-se uma correlação negativa forte (r = -.693, p <.01) entre o QEY – S3 e a ERSN – 43 na amostra não-clínica (n = 224), e na amostra clínica (n = 58), encontrou-se também uma correlação negativa forte (r = -.747, p <.01) entre as mesmas variáveis (para detalhe, ver quadro 2).

QUADRO 2. Correlações entre valores globais dos esquemas (QEY – S3), fusão cognitiva (QFC), necessidades psicológicas (ERSN – 43), bem-estar, distress psicológico e sintomatologia (BSI), na amostra

não - clínica (n = 224) e clínica (n = 58).

Amostra Não-Clínica (n = 224) Amostra Clínica (n = 58) Variáveis ERSN - 43 QFC QEY – S3 ERSN - 43 QFC QYE – S3 ERSN - 43 - - .671** -.695** - -.289** -.747** Bem-estar psicológico .715** -.624** - .607** .672** -.336** -.614** Distress psicológico .704** -.693** -.645** .483** -.546** -.512** BSI -.703** .711** .807** -.501** .572** .620** ** p-value < 0.01

(21)

Regressões Lineares Simples

Através das regressões lineares simples, pretendeu-se perceber em que medida os esquemas (QEY – S3), e a fusão cognitiva (QFC) predizem a variância na regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERNS- 43). Seguidamente, pretendeu-se perceber qual o grau de predição da variância das necessidades psicológicas (ERNS- 43) no bem-estar, distress psicológico e sintomatologia (BSI) – hipóteses 2 e 3.

Primeiro procurou-se perceber se o valor global dos EPM (QEY – S3) prediz a regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERSN – 43) nas duas amostras. Então, na amostra não-clinica (n = 224), encontrou-se, que o valor global do QEY – S3 explica 48% da variância na ERSN – 43 (R2 = .482, F = 206.934, p < .000) . Na amostra clínica (n = 58), encontrou-se que o valor global do QEY – S3 prediz 55.1% da variância na ERSN – 43 (R2 = .558 F = 70.819, p < .000).

Seguidamente, procurou-se perceber se a FC (QFC) prediz a regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERSN – 43) nas duas amostras. Assim, na amostra não-clínica (n = 224), encontrou-se, que o QFC explica 44.8% da variância da ERSN – 43 (R2 = .450, F = 181.933, p < .000). Na amostra clínica (n = 58), o QFC não prediz significativamente a ERSN – 43 (R2 = .083, F = 5.093, p < .000).

Finalmente, procurou-se perceber se a regulação da satisfação de regulação das necessidades (ERSN – 43) prediz o bem-estar, distress psicológico e a sintomatologia (BSI) nas duas amostras. Assim, na amostra não-clínica (n = 224), encontrou-se a ERSN - 43) prediz 50% do bem-estar (R2 = .511, F = 231.852, p < .000), 49.3% do distress psicológico (R2 = .493, F = 217.204, p < .000) e 49.2% da sintomatologia - BSI (R2 = .495, F = 217.268, p < .000).

(22)

Com o mesmo objetivo, na amostra clínica (n = 58), encontrou-se que a regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERSN – 43), prediz 44.2 % do bem-estar (R2 = .452, F = 46.162, p = .000), 22% do distress psicológico (R2 = .234, F = 17.070, p = .000) e 23.7% da sintomatologia - BSI (R2 = .251, F = 18.727, p < .000).

Regressões Lineares Múltiplas – Stepwise

Utilizou-se as regressões lineares múltiplas stepwise, para perceber se os esquemas (QYE – S3), a fusão cognitiva (QFC) ciclos interpessoais disfuncionais (QPRI) em interação, acrescentam valor aditivo explicativo (peso diferencial) na predição da variância da regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERNS- 43), bem-estar, distress psicológico e sintomatologia (BSI) – hipótese 4. Seguidamente, com o mesmo objetivo, colocou-se a variável ERNS- 43 como preditor de modo a perceber o seu contributo na explicação do bem-estar, distress psicológico e sintomatologia (BSI) – hipótese 5.

Então, para a amostra não-clínica (n = 224), encontrou-se um modelo integrativo com sete preditores que explicam 66.1% da variância na ERSN – 43. As variáveis com maior peso explicativo encontradas foram a QFC com 44.8% e o domínio de EPM distanciamento e rejeição (QEY – S3) em adição, com 57.1% (R2 = .672, F = 63.096, p < .000) - ver anexo, F.

Para a amostra clínica (n = 58), encontrou-se um modelo integrativo com quatro preditores que explicam 70.6% da variância do ERSN – 43, sendo o domínio de EPM distanciamento e rejeição (QYE – S3) a variável com maior peso explicativo na ERSN - 43 (R2 = .728, F = 35.171, p = .000) – ver quadro 3. O domínio de EPM distanciamento e rejeição surge como fator comum na predição da variância da ERSN – 43 nas duas amostras.

(23)

Quadro 3. Sumário do melhor modelo da análise de regressão linear múltipla setpwise para a amostra

clínica (n = 58), em relação à variável dependente (ERSN – 43).

Preditores R2 t Sig.

Distanciamento e rejeição 58.8 -.482 -5.110 .000 Autocuidado/integridade* 66 .260 2.829 .007 Introjeção/autopunição* 68.3 -.235 -2437 .018 Resposta ao objeto (RO – RS) - formação reativa 70.6 .163 2.269 .027

Nota: R2 = 70.6, F = 35.171, p < .000 * = Domínios do Questionário de padrões relacionais interpessoais

(QPRI);

Nas seguintes regressões lineares múltiplas setpwise, a VD necessidades psicológicas (ERSN – 43), foi recategorizada como VI. Deste modo procurou-se perceber, qual o peso relativo da regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERSN – 43), em interação com as outras VI - esquemas (QEY – S3), fusão cognitiva (QFC) e ciclos interpessoais disfuncionais (QPRI), na predição da variância no bem-estar, distress psicológico e sintomatologia (BSI).

Então, colocando o ERSN – 43 como preditor, para o bem-estar, encontrou-se um modelo integrativo com cinco preditores para a amostra não-clínica (n = 224), que prediz 57% da variância, sendo o domínio de EPM distanciamento e rejeição (41.6%), o preditor com maior peso explicativo na variância do bem-estar (R2 = .580, F = 60.132, p < .000) -

ver anexo, G.

Na amostra clínica (n = 58), encontrou-se também um modelo integrativo com cinco preditores que explicam 58.3% a variância da subescala bem-estar (R2 = .521, F = 19.610, p < .000) , sendo o domínio de EPM sobrevigilância e inibição (36.4%) o preditor com maior peso explicativo no modelo - ver anexo H (R2 = .580, F = 60.132, p <

(24)

Na mostra não-clínica (n = 224), encontrou-se um modelo com cinco preditores que de explicam 59.4% da variância do distress psicológico (R2 = 600, F = 66.177, p < .000) – ver anexo I. Na amostra clínica (n = 58), encontrou-se um modelo com cinco preditores, com 59.9% de explicação, onde o domínio dos outros do QEY – S3 representa 38.3% da variância do distress psicológico (ver anexo J).

Para a sintomatologia (BSI) encontrou-se um modelo que explica 73.2% da variância na amostra não-clínica (n = 224) - ver quadro 4. Na amostra clínica (n = 58), foi encontrado para o BSI um modelo com três preditores, nomeadamente: domínio de EPM autonomia e desempenho deteriorados (QEY – S3) 35.1%, domínio de EPM domínio dos outros (QEY – S3) 40.1% e com a fusão cognitiva (QFC), o modelo prediz 49.5% da variância (R2 = .521, F =19.610, p < .000).

Quadro 4. Sumário do melhor modelo da análise de regressão linear múltipla setpwise para a amostra

clínica (n = 224), em relação à variável dependente sintomatologia (BSI).

Preditores R2  t Sig.

Distanciamento e rejeição 64.6 .307 4.440 .000 Autonomia e desempenho deteriorados 69.1 .313 4.888 .000 QFC 72.3 .235 4.626 .000 ERSN – 43 73.2 -.110 -2.014 .045

Nota: R2 = 73.2, F =19.610, p < .000; QFC = Questionário de fusão cognitiva; ERSN – 43 = Escala de

regulação da satisfação das necessidades psicológicas.

As próximas três análises estatísticas (teste – t, regressão logística e mancova), enquadram-se na hipótese 6 – explorar as diferenças significativas nas VI com as VD, de modo a perceber as diferenças entre as duas amostras (não-clínica e clínica).

Teste t – Comparação de valores médios para grupos independentes

Com o intuito de perceber se existiam diferenças significativas nas médias das VI nas duas amostras (não-clinica, n = 224 e clínica, n = 58) procedeu-se inicialmente a um

(25)

teste t – para amostras independentes. De notar que as subescalas do QPRI não foram analisadas neste contexto, por se enquadrarem em outra investigação.

Então, foram comparadas as médias entre as duas amostras (não-clinica, n = 224 e clínica, n = 58) nas VI´s (QEY – S3, QFC e ERSN – 43), sendo encontradas diferenças estatisticamente significativas nas três variáveis, nomeadamente: QEY – S3 (t = 3.295, p <.000), QFC (t = 6.520, p <.000), e ERSN – 43 (t = -4.608, p <.000) – ver figura 1.

A figura 1. Apresenta os valores médios entre os dois grupos (não-clinico e clínico), nos esquemas precoces mal-adaptativos (QEY – S3), fusão cognitiva (QFC) e regulação da satisfação das necessidades psicológicas (ERSN – 43).

Figura 1. Valores médios dos EPM (QEY – 3), da fusão cognitiva (QFC) e da regulação da satisfação de

necessidades psicológicas (ERSN Global), na amostra não-clínica e amostra clínica.

Regressão logística

Seguidamente, utilizou-se a regressão logística de modo a perceber o efeito diferencial das VI´s - esquemas (QYE – S3), fusão cognitiva (QFC), ciclos interpessoais disfuncionais (subescalas do QPRI) e necessidades psicológicas (ERSN – 43), nas

diferenças entre a amostra clínica e não-clínica. Encontrou-se que o QFC (

ˆ

= -.233, p <.05), a ERSN – 43 (ˆ = -.057, p <.05) e o domínio do QPRI resposta ao objeto (RO –

12,1 3,4 5,9 14,1 4,8 5,2 0,000 2,000 4,000 6,000 8,000 10,000 12,000 14,000 16,000 QEY - S3 QFC ERSN - 43 Val o re s m é d io s Variáveis em estudo Não-clínica Clínica

(26)

RS) – formação reativa (ˆ = .034, p <.05) em interação, são as variáveis que melhor explicam as diferenças nas duas amostras (não-clinica, n = 224 e clínica, n = 58).

Mancova

Finalmente, através da mancova procurou-se perceber qual o melhor conjunto de VI´s, - esquemas (QYE – S3), fusão cognitiva (QFC), ciclos interpessoais disfuncionais (subescalas do QPRI) e necessidades psicológicas (ERSN – 43), em interação, que melhor explica a covariância das VD´s (bem-estar, distress psicológico e sintomatologia) nas duas amostras (não-clinica, n = 224 e clínica, n = 58).

Assim, encontrou-se um modelo interativo ótimo onde a ERSN – 43, o QEY – S3), o QFC e os CID -introjeção/autopunição e resposta do objeto (RO) – formação reativa (QPRI), explica a covariância para o distress psicológico (F = 12,637, p <. 000) e para a sintomatologia (F = 32,192, p <. 000), nas duas amostras. Então é possível perceber que a interação entre os EPM, a FC, os CID, e as necessidades psicológicas, é responsável pela covariância do distress psicológico e da sintomatologia nas duas amostras (não-clinica, n = 224 e clínica, n = 58).

Discussão

De acordo com o esperado, os esquemas precoces mal-adaptativos (EPM), a fusão cognitiva (FC) e os ciclos interpessoais disfuncionais (CID) estão fortemente associados nas duas amostras (não-clínica e clinica), ainda que na amostra clínica, as associações (correlações), diminuam ligeiramente (confirmação da hipótese 1). De salientar, que o domínio de EPM distanciamento e rejeição, bem como os domínios introjeção/autopunição, autocuidado/integridade e resposta ao objeto (RO) – formação reativa dos CID foram os mais frequentes nas presentes associações em ambas as amostras.

(27)

Young, Klosko e Weishaar (2003), descrevem o domínio de EPM distanciamento e rejeição como o mais severo, generalizado e inflexível. A introjeção/autopunição pode ser vista como a forma que o individuo se “trata” a ele próprio nas relações com os outros

e o domínio de autocuidado/integridade, pode ser visto como a sua antítese (Körner et al., 2004). A formação reativa diz respeito ao mecanismo de defesa, utilizado para lidar com conflitos emocionais, neste contexto na expectativa de comportamentos ameaçadores da parte do outro (Körner et al., 2004).

Possivelmente, independentemente da presença ou ausência de diagnóstico psiquiátrico, na presença de EPM e de elevados níveis de FC, os indivíduos tendem a perseverar em relações tóxicas, angustiantes e frustrantes fazendo atribuições de significados negativas ao próprio resultantes das experiências interpessoais disfuncionais. Portanto, os conteúdos esquemáticos, a inflexibilidade psicológica e os ciclos interpessoais disfuncionais, emergem no presente estudo como uma tríade significativa.

Confirmou-se a hipótese 2. Os EPM estão associados de forma negativa forte e predizem as dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas, nas duas amostras, sendo estas relações mais fortes na amostra clínica. Isto poderá significar que na população clínica, os EPM são de facto mais determinantes nas dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas. Encontrou-se também uma associação negativa forte entre os EPM e o bem-estar, bem como relações positivas fortes com o distress psicológico e a sintomatologia. Os dados sugerem que a presença de EPM, está fortemente associada a menor bem-estar, e por outro lado, a um maior distress psicológico e maior severidade sintomática. Estes resultados estão de acordo com investigações anteriores, nomeadamente na amostra não-clínica (Fonseca, 2012).

Na amostra não-clínica a FC está associada de forma negativa forte e prediz as dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas. No entanto, na

(28)

amostra clínica, apenas se verificou uma associação negativa fraca entre as presentes variáveis. Encontrou-se também para a amostra não-clinica, associações negativas fortes entre a FC o bem-estar, distress psicológico e uma associação positiva forte com a sintomatologia. Na amostra clínica, as mesmas associações mantiveram-se. No entanto, o seu nível de associação diminuiu. De facto, estes resultados podem levantar algumas questões em termos de relações entre variáveis psicológicas na amostra não-clínica e na amostra clínica, nomeadamente em termos das perspetivas dimensional/categorial, ou mesmo pelo efeito da psicoterapia. Estas questões serão abordadas na conclusão.

A regulação da satisfação das necessidades psicológicas está positivamente associada ao bem-estar e negativamente associada ao distress psicológico e à sintomatologia nas duas amostras, sendo que na amostra clínica os níveis de associação diminuíram (confirmação da hipótese 3). Em termos de predição os resultados foram no mesmo sentido, ou seja, na amostra não-clínica, a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, prediz significativamente o bem-estar, o distress psicológico e a sintomatologia, sendo que na amostra clínica, os níveis de predição foram menores. Possivelmente, estes resultados podem ser explicados pelo referido anteriormente, em termos das perspetivas dimensional/categorial e do acompanhamento psicoterapêutico, reduzindo desta forma a força das relações entre as variáveis em questão. Os resultados da amostra não-clínica estão de acordo com investigações anteriores (Conde et al., 2012).

Alcançou-se o objetivo de perceber qual o melhor conjunto de variáveis (EPM, CID e FC), que melhor explicam as dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas nas duas amostras (confirmação da hipótese 4). Na amostra não-clínica, encontrou-se um modelo integrativo com sete variáveis, nomeadamente em sequência aditiva: FC, domínio EPM de distanciamento e rejeição, CID de introjeção/autopunição, CID de resposta ao objeto (RO – RS) - formação reativa, EPM

(29)

de fracasso, EPM de grandiosidade e finalmente, EPM de auto-controlo insuficientes. Na amostra clínica encontrou-se um modelo integrativo com cinco preditores, nomeadamente em sequência aditiva: domínio EPM de distanciamento e rejeição, CID de autocuidado/integridade, CID de introjeção/autopunição e com CID de resposta ao objeto (RO – RS) - formação reativa.

Estes resultados sugerem que as dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas são melhor explicadas pela interação complexa entre diversos fatores em detrimento de fatores isolados (e.g., rigidez mental, associada a experiências traumáticas de abandono, defeito ou fracasso (EPM), bem como as expectativas relacionais negativas). Sendo que na amostra clínica, foram necessários menos variáveis para predizerem maior variância das dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas.

A hipótese 5 foi também confirmada pois encontrou-se dois conjuntos de preditores diferentes em função das duas amostras para a explicação da variância do bem-estar. Na amostra não-clínica, encontrou-se os seguintes preditores: domínio de EPM distanciamento e rejeição, FC, CID de resposta ao objeto (RO - RS) - formação reativa, CID de introjeção/autopunição e regulação da satisfação das necessidades psicológicas. Na amostra clínica, de relevante manteve-se a introjeção/autopunição, como o fator comum no modelo, sendo os outros preditores os seguintes: domínio de EPM de sobrevigilância e inibição, CID de autocuidado/integridade, EPM self-subdesenvolvido e finalmente, com o EPM de autossacrifício. Assim, a introjeção/autopunição emerge como o “fator comum” na predição da variância no bem-estar em ambas as amostras.

Estes resultados sugerem que a forma como os indivíduos atribuem significado e geram tendências de ação referentes às suas relações como os outros, têm um impacto significativo no seu bem-estar.

(30)

Para o objetivo de perceber se as dificuldades de regulação da satisfação das necessidades psicológicas, os EPM os CID e a FC predizem o distress psicológico encontrou-se um modelo integrativo com cinco variáveis, na população não-clínica: FC, valor global de EPM, CID de resposta ao objeto (RO - RS) – formação reativa, CID de introjeção/autopunição e finalmente as necessidades psicológicas. Na população clínica encontrou-se um modelo integrativo também com cinco variáveis, salientando-se o domínio de EPM de domínio dos outros, CID resposta ao objeto (RO – RS) - formação reativa, FC, EPM de punição e finalmente, as necessidades psicológicas. Neste caso, a FC surge como preditor fundamental na presente equação, bem com o CID resposta ao objeto (RO – RS) - formação reativa e as necessidades psicológicas. Assim, estes três “fatores comuns” em interação emergem como variáveis determinantes na explicação

distress psicológico em ambas as amostras.

Na amostra não-clínica, encontrou-se um modelo integrativo com quatro variáveis, que de forma aditiva aumentam o nível de explicação para a sintomatologia, nomeadamente: domínio de EPM de distanciamento e rejeição, domínio de EPM de autonomia e desempenho deteriorados, FC e as necessidades psicológicas. Na amostra clínica, encontrou-se um modelo ótimo com três variáveis na predição da sintomatologia: domínio de EPM de autonomia e desempenho deteriorados, domínio de EPM de domínio dos outros e FC. Este modelo de interação mostra que na amostra não-clínica, os EPM , a FC e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, são os preditores que melhor explicam a sintomatologia. No mesmo sentido, na amostra clínica, os EPM e a FC são determinantes na explicação da sintomatologia.

O objetivo final prendeu-se com a exploração das diferenças entre as duas amostras (não-clínica e clínica) em termos de variáveis VI´s e VD´s (confirmação da hipótese 6).

(31)

Primeiro procurou-se perceber quais as VI´s que melhor diferenciam as duas amostras isoladamente. Então os EPM, a FC e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas manifestaram diferenças significativas em termos de valores médios nas duas amostras. Isto significa que estas VI´s isoladas, foram capazes de diferenciar os sujeitos consoante a amostra.

Segundo, procurou-se perceber quais as VI´s que melhor diferenciam as duas amostras em interação. Assim, encontrou-se que, a FC, o CID resposta ao objeto (RO – RS) – formação reativa e as necessidades psicológicas, são as VI´s que melhor discriminam as duas amostras (não-clínica e clínica). Isto significa que no presente estudo, a fusão cognitiva, os ciclos interpessoais disfuncionais e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, são relevantes em termos de variáveis psicológicas diferenciadoras das duas amostras. Possivelmente, estes resultados podem contribuir para a conceptualização de caso (abordado na conclusão).

Terceiro pretendeu-se explorar a relação entre o conjunto de VI´s em interação, que melhor explicam a covariância no bem-estar, no distress psicológico e na sintomatologia, nas duas amostras. Encontrou-se que a interação entre os EPM, a FC, CID de introjeção/autopunição, resposta do objeto (RO – RS) – formação reativa e regulação da satisfação necessidades psicológicas explicam a covariância dos sujeitos no distress psicológico e na sintomatologia. No bem-estar nas duas amostras, este conjunto de VI´s não se mostrou significativo para a comparação entre as duas amostras.

Então, é possível afirmar que em ambas as amostras este conjunto de variáveis é determinante na variância do distress psicológico e na sintomatologia. Provavelmente, para diferenciar o bem-estar nas duas amostras, poderá ser determinante outro conjunto de variáveis em interação. Estes resultados são especialmente relevantes para a conceptualização de caso e para a tomada de decisão clínica (abordado na conclusão).

(32)

Concluindo, na amostra não-clínica, verificou-se que existem relações significativas de associação e predição entre os EPM, a FC, os CID e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas. No mesmo sentido, as presentes variáveis em interação, predizem de forma significativa o bem-estar, distress psicológico e sintomatologia, sendo no entanto a regulação da satisfação das necessidades psicológicas uma das variáveis com maiores níveis de associação entre as mesmas.

Na amostra clínica, surgem como mais relevantes as relações entre os EPM e a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, com os efeitos de interação entre os domínios de resposta ao objeto (RO - RS) - autoasserção/retaliação, introjeção/autopunição e de autocuidado/integridade (CID), bem como os EPM e FC na explicação do distress psicológico e na sintomatologia.

Conclusão

Após a realização deste estudo é possível constatar que os objetivos da investigação foram alcançados. Foram identificadas e diferenciadas as relações de associação, predição e interação, entre os esquemas precoces mal-adaptativos, os ciclos interpessoais disfuncionais e a fusão cognitiva, com a regulação da satisfação das necessidades psicológicas, bem-estar, distress psicológico e sintomatologia numa amostra não-clinica e clínica. Neste sentido, a possibilidade de ter dois tipos de amostra foi uma mais-valia para o presente estudo, sendo de especial relevância a amostra clínica. Portanto, é possível enumerar algumas conclusões.

Em primeiro lugar as variáveis que mais frequentemente surgiram nas análises em ambas as amostras foram: o domínio de EPM distanciamento e rejeição, a fusão cognitiva, os domínios de introjeção/autopunição, autocuidado/integridade e resposta ao objeto (RO) – formação reativa dos CID e finalmente, a regulação da satisfação das

(33)

necessidades psicológicas. Neste sentido, podemos afirmar que estas variáveis tendem a ser estruturais quando se conceptualiza as perturbações psicológicas de uma forma geral.

Em segundo lugar, as relações de associação e predição entre os esquemas precoces mal-adaptativos com a regulação da satisfação das necessidades psicológicas estão presentes nas duas amostras, sendo que, na amostra clínica estas relações tornam-se mais fortes. Estes resultados podem sugerir que em indivíduos com perturbações psicológicas graves, nomeadamente com diagnóstico psiquiátrico, estão presentes conteúdos esquemáticos disfuncionais (EPM), que dificultam a regulação da satisfação das necessidades psicológicas.

Em terceiro lugar, a fusão cognitiva é uma variável clínica de relevância para objetivar a rigidez mental tanto na amostra não-clínica como clínica. No entanto, na amostra clínica, as relações de associação e predição com os EPM e com as dificuldades de regulação das necessidades psicológicas diminuíram de intensidade.

De seguida, relativamente aos ciclos interpessoais disfuncionais emergiram com especial ênfase as expetativas em relação ao comportamento do outro e as suas defesas associadas (resposta ao objeto (RO – RS) – formação reativa), bem como a forma de atribuição de significado e as tendências de ação negativas/positivas às experiências relacionais nas duas amostras (introjeção/autopunição, autocuidado/integridade). Estes resultados sugerem que os processos psicológicos associados aos CID, são importantes no bem-estar, distress psicológico e na sintomatologia.

A regulação da satisfação das necessidades psicológicas está associada e prediz o bem-estar, o distress psicológico e a sintomatologia na amostra não-clínica e na amostra clínica. Mas, na amostra clínica estas duas relações de associação e predição diminuíram de intensidade. No entanto, salienta-se a importância da regulação da satisfação das

(34)

necessidades psicológicas, não só como determinante para o distress psicológico e para a sintomatologia, mas também na predição e manutenção do bem-estar.

Outro aspeto relevante nesta investigação foram os modelos de interação e integração de diversas variáveis para a explicação da variância do bem-estar, distress psicológico e sintomatologia. Estes modelos foram mais robustos relativamente a variáveis singulares/isoladas, sendo especialmente relevantes na predição do distress psicológico e na sintomatologia diferenciando claramente as duas amostras. Ou seja, na explicação do distress psicológico e da sintomatologia, podem estar subjacentes diversas causalidades entre variáveis estruturais. Por exemplo: um indivíduo com um EPM de abandono/instabilidade, associado a uma forma de pensamento rígida (FC), tenderá a envolver-se em ciclos interpessoais disfuncionais onde representará o outro como ameaçador (formação reativa). Envolto neste funcionamento, o indivíduo poderá desenvolver dificuldades de regulação da satisfação das suas necessidades psicológicas, experienciando desta forma menores níveis de bem-estar, e maiores níveis de distress psicológico e sintomatologia.

Concluindo, estes resultados sugerem que a integração dos construtos derivados da abordagem cognitivo-comportamental (EPM e FC) da presente conceptualização, com o construo de CID derivado da abordagem psicodinâmica, torna-se relevante em termos do aumento de valor explicativo das presentes variáveis umas nas outras em relação às variáveis regulação da satisfação das necessidades psicológicas, bem-estar, distress psicológico e sintomatologia. Neste sentido, o uso integrativo de variáveis de diferentes orientações teóricas, pode ser uma mais-valia na conceptualização de fatores predisponentes e precipitantes de perturbações psicológicas. Esta é portanto, a perspetiva do modelo de complementaridade paradigmática (Vasco, 2001; 2005).

(35)

Posto isto, é possível fazer algumas considerações em termos das diferenças entre as duas amostras no que diz respeito às relações entre as presentes variáveis em estudo.

Primeiro, podemos olhar para os resultados e observar que as relações entre as presentes variáveis nas duas amostras, na generalidade dos casos é uma questão de grau/nível ou quantidade e não de presença/ausência. Neste sentido, ressurge a reflexão entre a perspetiva dimensional e a perspetiva categorial sobre a saúde mental. O facto de observarmos que as relações entre as variáveis promotoras de perturbações psicológicas (EPM, FC, CID e desregulação de necessidades psicológicas) estão presentes nas duas amostras, sugere que estas manifestações são de carácter dimensional. Ou seja, em ambas as amostras, as relações estre as variáveis estão presentes em termos de quantidade (e.g., correlações mais elevadas entre EPM e necessidades psicológicas na amostra clínica).

Segundo, podemos observar que em determinados casos onde estas relações se tornam extremamente fortes, parece emergir uma qualidade em detrimento de uma quantidade, referente à força da relação entre as variáveis responsáveis por perturbações psicológicas. Por exemplo, o EPM de desconfiança na sua forma leve/moderada pode ser potencialmente adaptativo, levando os indivíduos com diferentes níveis de desconfiança, a estarem atentos a possíveis perigos, satisfazendo desta forma a sua necessidade psicológica de tranquilidade (perspetiva dimensional). Por outro lado, se pensarmos em termos da perturbação de personalidade paranóide, a rigidez, inflexibilidade e generalização do EPM de desconfiança em associação com a necessidade psicológica de tranquilidade, observamos que esta relação por ser tão forte, pode ver vista como uma qualidade estrutural do indivíduo, ou seja, uma categoria típica da perspetiva categorial. Portanto, o debate mantém-se pertinente de acordo com os resultados emergentes.

Terceiro, o facto de a maior parte dos participantes da amostra clínica, estar a ter acompanhamento psicoterapêutico em diferentes fases, pode ajudar a explicar a

(36)

diminuição da força das relações de associação e predição entre algumas variáveis, nomeadamente entre a FC e os EPM e entre a FC e as necessidades psicológicas.

Quarto, é esperado que na amostra clínica, existam mais mecanismos de defesa fazendo com que os indivíduos desta amostra tenham tido uma atitude mais defensiva face aos itens com conteúdos emocionalmente mais ativadores.

Finalmente, na amostra clínica, cerca de 60% dos diagnósticos psiquiátricos dizem respeito a perturbações depressivas. E este facto pode ter tido um efeito determinante nas relações sistemáticas emergentes, nomeadamente: domínio de EPM distanciamento e rejeição, fusão cognitiva, CID de introjeção/autopunição e de resposta ao objeto (RO – RS) - formação reativa (Claudio, 2009, Gilanders et al, 2014; Scarvalone, Fox & Safran, 2005). Posto isto, é possível verificar que este conjunto de variáveis configuram um quadro estrutural prototípico associado a perturbações depressivas, em tudo semelhante à tríade cognitiva da depressão, onde o indivíduo apresenta uma visão negativa do self, dos outros/mundo e do futuro (Beck, Freeman & colaboradores, 2004).

Os resultados da presente investigação podem ser relevantes em termos de conceptualização de caso e tomada de decisão clínica. Primeiro, no esclarecimento e entendimento das relações entre variáveis predisponentes e precipitantes de perturbação psicológica, segundo, na tomada de decisão clinica em função dos objetivos terapêuticos.

A presente investigação mostra claramente que as variáveis estruturais da personalidade (esquemas, rigidez, ciclos interpessoais e necessidades psicológicas) são determinantes na explicação no distress psicológico e na sintomatologia nas duas amostras, sendo que na amostra clínica algumas relações surgiram com maior intensidade. Neste sentido, o foco da intervenção psicológica direcionada às variáveis estruturais “perturbadas” dos pacientes poderá passar pelas variáveis estudadas na

(37)

presente investigação, de modo a construir um quadro compreensivo, amplo e integrativo o suficiente para conceptualizar de forma explícita e útil o paciente e a sua problemática.

Em termos de tomada de decisão clínica, é possível fazer algumas considerações. O distress psicológico e a sintomatologia foram explicados significativamente pelos esquemas, rigidez, ciclos e necessidades nas duas amostras. Neste sentido, se o objetivo da intervenção é prevenir ou diminuir o distress psicológico e a sintomatologia, talvez, as variáveis estruturais psicológicas do presente estudo, sejam alvos privilegiados de intervenção. Os resultados deste estudo podem portanto, ser tidos em linha de conta para aumentar a responsividade perante as caraterísticas e necessidades dos pacientes.

Em termos de relevância da presente investigação, todas as variáveis independentes (EPM, FC, CID e necessidades), bem como as dependentes (bem-estar, distress psicológico e sintomatologia), haviam sido estudadas prévia e isoladamente ou com algum grau de associação (Cláudio, 2009; Conde et al., 2012; Gilanders et al., 2014; Scarvalone, Fox & Safran, 2005; Vasco, 2013). No entanto, a sua associação, diferenciação e integração, tanto quanto sabemos não havia sido feita. Ainda assim, estão descritas na literatura científica como clinicamente relevantes.

Em estudos futuros, seria interessante realizar um estudo longitudinal com as presentes variáveis de modo a tentar perceber as causalidades sequenciais no surgimento das suas relações. Interessante seria também aprofundar o nível de explicação das relações entre as variáveis em estudo, detalhando pormenorizadamente as relações estre esquemas específicos, ciclos interpessoais, necessidades psicológicas e sintomatologia.

Com o mesmo enquadramento do presente trabalho, seria pertinente aplicar a presente conceptualização a pacientes a iniciar um acompanhamento psicoterapêutico, e

Imagem

Figura 1. Valores médios dos EPM (QEY – 3), da fusão cognitiva (QFC) e da regulação da satisfação de  necessidades psicológicas (ERSN Global), na amostra não-clínica e amostra clínica

Referências

Documentos relacionados

Os alunos que concluam com aproveitamento este curso, ficam habilitados com o 9.º ano de escolaridade e certificação profissional, podem prosseguir estudos em cursos vocacionais

Mesmo com a maioria dos centenários apresentando elevado percepção qualidade de vida, viu-se que o nível de atividade física e a média de número passo/dia, foram inferiores

do ponto de vista cultural, histórico e nacional. Os fragmentos de memória muitas vezes são parte de uma memória comum, compartilhada por palestinos Temos um exemplo na

Tendo como parâmetros para análise dos dados, a comparação entre monta natural (MN) e inseminação artificial (IA) em relação ao número de concepções e

Quando contratados, conforme valores dispostos no Anexo I, converter dados para uso pelos aplicativos, instalar os aplicativos objeto deste contrato, treinar os servidores

Quadro 5-8 – Custo incremental em função da energia em períodos de ponta (troços comuns) ...50 Quadro 5-9 – Custo incremental em função da energia ...52 Quadro 5-10

• Se a impressora estiver bloqueada, digite o nome do usuário e senha do administrador do sistema para acessar a guia Propriedades.. O nome do usuário do administrador é admin e

Para entender como as características da madeira (espécie, tamanho das partículas, conteúdo de extrativos e o teor de umidade entre outras) influenciam na