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O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES NA VILA TAMARINDO

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Academic year: 2020

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Edição 19, volume 1, artigo nº 7, Outubro/Dezembro 2011

D.O.I: http://dx.doi.org/10.6020/1679-9844/1907

www.interscienceplace.org - Páginas 97 de 189

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE

MORADORES NA VILA TAMARINDO

Gerson Tavares do Carmo 1, Simone Brandão de Assumpção 2

1

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF / Professor / Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil, gtavares33@yahoo.com.br.com

2

Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional N. Sra. Auxiliadora / Aluna do curso de Administração / Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil, simone.brandao@fmcti.com

Resumo - O presente artigo representa um recorte de pesquisas aplicadas realizadas na Vila Tamarindo, Campos dos Goytacazes – RJ, desde 2009. Descreve o processo de criação de uma associação na comunidade, a partir de um levantamento censitário realizado por docentes e discentes do Curso de Administração dos Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional N. Sra. Auxiliadora (Isecensa). A partir de estudo documental, bibliográfico, quantitativo e qualitativo, constatou-se que o processo de demanda, de legalização e do percurso da Associação de Moradores da Vila Tamarindo (AMOVITA) se estabeleceu por meio de relações que integram um hibrido: de capital social; de desorganização social; e de redes sociais, que visam facilitar fluxos de informação e influência em favor da comunidade.

Palavras Chaves: Gestão Social, Comunidade Vila Tamarindo, Associação de Moradores, Capital Social.

Abstratct - This article treats of a cutting of applied researches complished at Vila Tamarindo, Campos of Goytacazes - RJ, since 2009. Describe the process of creation of an association of residents in the community, starting from census researches accomplished in the community with teachers and students of the Course of Administration of the Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora (Isecensa). From document study, literature review, quantitative and qualitative, it was found that the process of demand, legalization and the route of the Association of Residents of the Village Tamarindo (AMOVITA) was established through relationships that are part of a hybrid: social capital, social disorganization, and social networks which facilitate information flows and influence in favor of the community.

Key words: Social Administration, comunidade Vila Tamarindo, Association of Residents, Social Capital.

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www.interscienceplace.org - Páginas 98 de 189 1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como base os resultados do levantamento censitário realizado, em junho de 2009, por alunos do Curso de Administração do Isecensa, na comunidade da Vila Tamarindo, localizada num bairro central da cidade de Campos dos Goytacazes – RJ. O estudo teve como objetivo subsidiar diagnóstico sobre a comunidade, especialmente verificar entre os respondentes a existência de demanda para formação de uma associação de moradores na Vila Tamarindo (AMOVITA), o que se verificou positiva na medida em que a Associação de Moradores foi legalmente criada em 10 de abril de 2010. Durante esse processo foram disponibilizados dados do levantamento censitário, apresentados na forma de tabelas e gráficos com o propósito de subsidiar diferentes pesquisas aplicadas, desenvolvidas por outros cursos de graduação do Isecensa que tem como lócus a Vila Tamarindo.

O levantamento censitário teve como efeito corolário o progressivo envolvimento dos moradores com o projeto, e na progressiva percepção por parte destes sobre e como eles próprios atuam no processo de participação associativa em mescla com hábitos assistencialistas. A instituição de uma associação de moradores como meio de diálogo interno entre os moradores e externo com a sociedade civil, promovendo reuniões técnicas com os membros da primeira diretoria eleita para o exercício de suas funções, permitiu observações que estão de acordo com Prates (2009) quanto às relações sociais típicas de ―laços fortes‖ e ―laços fracos‖, com a instituição responsável pelo projeto social na comunidade.

2. HISTÓRICO: COMUNIDADE/PROJETO

A comunidade Tamarindo, situada na Rua Tenente Cel. Cardoso (Rua Formosa) nº 890, em frente ao posto de saúde do Corpo de Bombeiros, bairro central na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, era conhecida como Favela do Tamarindo. Porém, desde o censo de 1991, deixou de ser considerada favela por não possuir, segundo

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o critério do IBGE, mais que 50 domicílios. Entretanto, não é por constituir um núcleo populacional com número de domicílios inferior a classificação do IBGE, que a Vila Tamarindo não contenha características socioeconômicas e culturais, do que é denominado favela, apresentando inclusive a mesma peculiaridade das comunidades maiores, como o convívio com tráfico e consumo de drogas.

A antes Favela Tamarindo e hoje Vila Tamarindo, na década de 1950, já contava com alguns moradores. Desde o início as condições de moradia foram precárias, tanto em relação às habitações como à infra-estrutura local. Em 1982, o local ainda não dispunha de energia elétrica e de rede de água. A água era obtida por meio de bombas que a retiravam do solo nos terrenos dos próprios barracos, como também pela existência de uma bica pública de água localizada na entrada do terreno. Neste período, cerca de vinte famílias constituíam a comunidade como remanescentes, já que anos antes ―mais de trezentos barracos foram demolidos para dar lugar a dois prédios de apartamentos‖1.

Durante esse período, apesar da onda de remoções de favelas praticadas no estado do Rio de Janeiro, o Sr. João Ferreira, com numerosa família ali constituída, conseguiu o apoio do Dr. Thelmo Albernaz, advogado que abraçou a causa da comunidade para que não fossem mais uma vez expulsas do terreno. Assim, o Sr. João Ferreira por sua iniciativa conservou, através de sua descendência, uma peculiar característica que marca a comunidade do Tamarindo: a rede de parentesco.

Na década de 1980, a Favela do Tamarindo, considerada a mais antiga da cidade, foi remodelada e transformada em Vila Tamarindo pela prefeitura municipal de Campos dos Goytacazes: todos os barracos, as vielas e as ―valas negras‖ desapareceram. Os barracos foram gradativamente demolidos, foram construídos o sistema de infra-estrutura e as novas moradias. Além de um portal com o nome da vila, o conjunto de moradias ganhou playground e telefone comunitário. No entanto, após quase três décadas da primeira reforma da Vila, as condições de habitabilidade dos aproximadamente cinquenta domicílios tornaram-se precárias, conservando-se, porém, a peculiar característica ―familiar‖, uma vez que aproxidamente 85% dos moradores são descendentes do Sr. João Ferreira e de D. Rosa Maria.

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Foi a partir da constatação da existência de uma rede de parentesco relevante na comunidade, que o Isecensa decidiu idealizar e propor aos moradores o projeto ―Universidade Bairro: Vila Tamarindo‖, de modo a não apenas investir na reforma de suas moradias, mas também a investir nas áreas de saúde, educação, esporte e atendimento de demandas de seus diferentes grupos de crianças, jovens, adultos e idosos moradores da Vila,descendentes do Sr. João e de D. Rosa Maria e outras famílias que lá passaram a viver.

É consenso acadêmico e pragmático que a realização de trabalhos sociais se desenvolvidos pela Extensão, se constitui em importante desafio à Universidade. O trabalho pela mobilização social é complexo e exige penar sobre as práticas históricas assistencialistas e paternalistas que marcam o país nesse sentido. A herança dessas práticas desestimula os indivíduos a tomarem atitudes diante de suas próprias vidas, problematizando-as, na espera que outros dêem solução aos seus problemas. Outro complicador é o tempo que estas pessoas levam para acreditar no trabalho e se responsabilizarem por ele, tendo em vista que tais comunidades têm um histórico de abandono político, social e, por vezes, acadêmico só justificável pela naturalização da profunda desigualdade nacional (SILVA, 2005).

A situação acima descrita também marcou a realização de projeto de extensão anterior - ―Desvendando Rio Preto‖2

. Projeto que mesmo com quatro anos de atividades no povoado, não conseguiu ver a a associação criada manter-se após o gradativo afastamento do projeto. A pergunta que ainda se impõe é: a Vila Tamarindo por ser uma comunidade menor, dotada de uma rede de parentesco relevante, conseguirá dar sustentabilidade a sua Associação de Moradores, como recurso para buscar melhorias coletivas, após o afastamento do projeto institucional? Como hipótese, afirmou-se que sim à problematização feita quanto a sustentabilidade de uma associação naquela comunidade específica. Assim, é que se fundamentou a decisão de escolha institucional da Vila Tamarindo como lócus do projeto de responsabilidade social do Isecensa, para o período de 2010 a 2013.

A partir de ações regulares dos projetos dos cursos de Administração, Enfermagem e Fisioterapía, o projeto macro Universidade Bairro aproximou-se da

2

O projeto sócio-acadêmico “Desvendando Rio Preto”, desenvolvido pelo Curso de Administração do Isecensa, de 2005 a 2009, contou com as parcerias do IFF Campos (antigo CEFET) e da FENORTE, em 2007, no período em que se estabeleceu o Centro Comunitário de Educação e Renda de Jovens e Adultos de Rio Preto, ocasião em que foi fundada a ASSECE - Associação de Empreendedores sócio-culturais e de micro-negócios de Rio Preto.

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comunidade, empreendeu ações no sentido de estabeler vínculos que integraram moradores, professores e alunos, pautados em relações de confiança recíproca de tal modo que se tornou viável a fundação de uma associação de moradores e o estabelecimento de uma sede, como um posto avançado do Isecensa, buscando uma melhor estrutura para realização das diversas atividades propostas pelos cursos nas áreas de saúde, educação, esporte e organização social da comunidade.

O início do trabalho se deu com um diagnóstico a partir de um levantamento censitário, no qual foram entrevistados os responsáveis de quarenta e seis domicílios dos cinquenta e um existentes na comunidade Tamarindo. Esse diagnóstico permitiu identificar várias demandas, dentre elas o desejo de uma associação de moradores, para a qual foi dada assessoria administrativa e legal para a sua fundação. Uma casa foi reformada para abrigar a Associação de Moradores e os equipamentos para os atendimentos de saúde, educação e organização social.

Com os atendimentos fisioterapêuticos, as ações voltadas aos cuidados com a saúde familiar por professores e estagiários de enfermagem, bem como o reforço escolar para as crianças, as famílias da comunidade abriram suas portas para receber os integrantes das equipes multidisciplinares. As orientações feitas, ora foram aceitas, ora não, mas a aceitação da presença de alunos e professores, e a possibilidade de acompanhamento no dia-a-dia nos cuidados com a saúde do local, promoveram visibilidada importância da ação de todos, na mudança do paradigma do processo saúde-doença articulado com a educação e as condições de habitabilidade.

A presença da comunidade na reunião de fundação da associação, com a participação ativa de trinta e três moradores, inaugurou o projeto de associativismo da Vila Tamarindo em 10 de abril de 2010, fundando a Associação dos Moradores da Vila Tamarindo (AMOVITA). Em meio à tensão entre os vínculos sociais/familiares existentes e a fragmentação/fragilidade social característica desse tipo de comunidade, é do interessa do presente trabalho, muito mais do que traçar a cronologia dos fatos que culminaram na fundação da Associação de Moradores, descrever e refletir sobre a qualidade dos laços sociais envolvidos na relação moradores / projeto social institucional em processo na Vila Tamarindo.

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www.interscienceplace.org - Páginas 102 de 189 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Por que algumas associações têm êxito e outras não?

Em primeiro lugar tem-se que admitir que a participação voluntária é de extrema importância, porém de forma geral são motivações pessoais que levam pessoas a a realização de trabalhos voluntários comunitários. As pessoas ganham gradativamente a confiança em organizações ou associações voluntárias a partir de motivações alimentadas por atividades cotidianas.

De acordo com Bratton3 (apud FONTES, 1993, p. 160):

[...] A literatura sobre participação quase sempre se apóia em questões relacionadas a características dos indivíduos (motivações psicológicas, explicações que se centram nas características socioeconômicas), ou aquelas em que respondem racionalmente aos apelos institucionais à participação.

Desta forma acredita-se que as pessoas só participam voluntariamente de qualquer tipo de organização se possuem motivações individuais, o que resulta das relações estabelecidas no seu cotidiano. A comunidade tem um papel muito significativo nesta trajetória, pois as tradições e conteúdos resultantes do senso comum são provenientes dos laços comunitários.

Bordenave (1994, p. 40) afirma que a participação é tanto movida pela necessidade humana de participação social como pelo caráter utilitarista:

[...] a participação tem duas bases complementares: uma base afetiva – participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com outros – e uma base instrumental – participamos porque fazer coisas com os outros é mais eficaz e eficiente que fazê-las sozinhos.

Quanto maior a capacidade das pessoas de se associarem em torno de interesses comuns, ou seja, quanto maior o indicador de organização social, melhores são as condições de desenvolvimento de uma dada comunidade.

Para Bordenave (id., ib.):

3BRATTON, Michael. (1999), “Political participation in a new democracy”. Comparative Political Studies, 32 (5): 549-588,

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www.interscienceplace.org - Páginas 103 de 189 [...] Há processos micro e macro da participação: o micro está caracterizado na família, amigos, vizinhos, colegas por se tratar de um número reduzido de participantes unidos por um interesse em comum seria uma aprendizagem importante para a participação a nível macro. O macro ocorre em grupos secundários (associações, clubes, empresas) e em grupos terciários (partidos políticos, movimentos de classe), este se caracteriza por apresentar um poder de provocar mudanças na sociedade como um todo.

Há consenso na literatura de que o desenvolvimento social em comunidades requer o crescimento dos níveis de confiança, cooperação, ajuda mútua e organização social, o que tem sido denominado como ―capital social‖4

. No entanto, o conceito de capital social se generalizou na literatura corrente como orientação e solução para todos os problemas de comunidades carentes, sociedades em processo de desenvolvimento ou instituições de fomento de desenvolvimento econômico, ―assumindo como inquestionável o fato de que a existência de capital social entre os pobres seria um fator que, automaticamente, impulsionaria a comunidade para fora da condição de pobreza‖ (PRATES, 2009, p.1121).

Dessa forma, orientou-se a leitura do processo de formação da associação de moradores da Vila Tamarindo de acordo com a sugestão de Prates (2009) na qual combina a noção de capital social (laços fortes) com o de redes sociais5 (laços fracos) para entender a dinâmica de participação de comunidades quando em relação com instituições públicas ou privadas.

Assim, enquanto os laços fortes dentro de um grupo facilitam a articulação da ação coletiva por reduzir o ―efeito carona‖ (OLSON, 1999)6, as relações intergrupos

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Expressão utilizada primeiramente por Pierre Bourdieu (1998) na qual capital social é um tipo de capital que qualifica a posição relativa das pessoas na estrutura de classe além do capital econômico. Já, para Coleman (1990) o capital social é uma propriedade inerente dos grupos, independentemente da sua posição social qual seja, o de “fechamento” das relações dentro do grupo; isto é, de coesão interna do grupo. Para Putnam (1996) capital social está diretamente relacionado a uma forte cultura cívica associada a uma ampla difusão de associativismo como mostra no seu conhecido livro sobre o processo de mudança no sistema político italiano entre 1977 e 1989 - é esse fenômeno do associativismo cívico, encontrado no norte da Itália, que o autor denomina capital social. Por último, Fukuyama (2002, p. 27) sustenta que a condição para o funcionamento de um sistema democrático é a existência de capital social visto como “normas ou valores partilhados que promovem cooperação social, presentes em relações sociais reais”. (ver PRATES, 2009, p. 119-121).

5

O conceito de rede social tem uma longa tradição na sociologia. Na sociologia clássica temos Simmel (1964) com a distinção entre “círculos concêntricos” de interação social ou a interação do tipo “interconexão” entre grupos. Enquanto o primeiro tipo de sociabilidade pode ser visto como o equivalente ao conceito de capital social no sentido que utilizamos aqui, o segundo equivale ao conceito de rede social que, na perspectiva do autor, reflete fenômenos sociais distintos. O tipo de sociabilidade “concêntrica” é mais comum nas sociedades antigas e tradicionais, já o tipo de “interconexão grupal” caracteriza a sociabilidade nas sociedades modernas. Já na sociologia contemporânea é importante salientar o estudo de Blau (1987) no qual utiliza o conceito de rede social para mostrar como as relações sociais em redes estruturadas demográfica e ecologicamente constituem um contexto macrossocial na determinação das decisões individuais no nível microcontextual, como por exemplo para a escolha do(a) parceiro(a) matrimonial. (ver PRATES, 2009, p. 1123)

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(laços fracos) não apresentam essa característica por se caracterizarem por relações superficiais, não envolvendo aspectos emocionais e psicológicos considerados importantes na constituição dos laços fortes, permitindo porosidade cultural e ideológica entre os grupos sociais.

Nesse sentido, Prates assinala (2009, p. 1122):

Os ―laços fracos‖ são altamente significativos, mas não para fortalecer a capacidade do grupo em se articular coletivamente, mas para (...) ―facilitar fluxos de informação e influência‖. Portanto, os laços fortes e fracos referem-se a fenômenos sociais distintos. Partindo desse argumento, sugerimos que a articulação entre o conceito de capital social (laços fortes) e de redes sociais (laços fracos) possibilita um tratamento muito mais frutífero sobre a ação coletiva dos grupos carentes no ambiente urbano (...).

Na sociologia contemporânea, o estudo de Blau (1987) utiliza o conceito de rede social para mostrar como as relações sociais travadas em redes estruturadas demográfica e ecologicamente constituem um contexto macrossocial na determinação das decisões individuais no nível microcontextual, por exemplo, na escolha do(a) parceiro(a) matrimonial.

Dessa forma, a partir de Prates (2009, p. 1140), entende-se que o grau de eficácia de ações empreendids por comunidades carentes, no ambiente urbano, para conseguirem acesso a benefícios públicos depende fundamentalmente da existência de capital social (laços fortes) associado a conexões de rede (laços fracos), entre a comunidade e agentes institucionais governamentais ou não-governamentais. No caso da comunidade da Vila Tamarindo, o fator de desorganização social constituído pelo vetor tráfico de drogas, compete com o capital social (laços fortes) constituído pela rede de parentesco.

O gráfico abaixo, formulado por Prates (id., ib.) permite visualizar o hibridismo, por meio de uma relação simétrica, entre capital social (laços fortes) e redes sociais (laços fracos) no processo de eficácia coletiva numa dada comunidade.

interior algum membro disposto a arcar com as responsabilidades de uma ou mais ações coletivas e assim o grupo ser "privilegiado", isto é, os outros membros pegarão "carona" nos esforços do empreendedor.

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Fonte: Figura 3 – Modelo da hipótese principal e inicial do estudo (PRATES, 2009, p. 1140).

Como é possível observar, a variável dependente ―eficácia coletiva‖ estaria relacionada positivamente a laços fracos — conexões exteriores — e estes, por sua vez, se relacionariam positivamente à dimensão capital social (laços fortes). Foi essa hipótese que guiou o trabalho de campo de Prates em três comunidades de Belo Horizonte, MG: Vila São Tomás, Vila Santa Rosa e Vila Paquetá.

De acordo com Prates (2009), os laços fracos são de importância capital para que a comunidade tenha alguma eficácia coletiva no acesso aos bens públicos. Ocorrem por meio de conexões em redes externas, intermediadas por três tipos de liderança, a saber (id. p. 1129):

 a liderança institucional-formal — típica dos membros que ocupam cargos nas associações da vila;

 a liderança altruísta — típica de pessoas que buscam produzir bens coletivos independentemente dos ganhos instrumentais que daí possam advir;

 - a liderança clientelista — orientada basicamente para a produção de bens coletivos que possam trazer retornos instrumentais à realização de objetivos antecipados, normalmente esses objetivos são de natureza político-partidária ou de lealdade política.

Por sua vez a dimensão capital social (laços fortes) foi entendida na pesquisa realizada por Prates a partir de comportamentos em que se observam a existência dos seguintes aspectos:

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porta de casa;

 ajuda mútua e prestabilidade entre membros da comunidade — pequenos empréstimos de utensílios domésticos, como vasilhas de cozinha, escada, martelo etc. e de alimentos como sal, óleo de cozinha, arroz etc., tomar conta eventualmente do filho do vizinho, ajuda em pequenos consertos de casa;

 sentimento de segurança diurna e noturna — como os moradores se sentem ao transitar pela vila durante o dia e a noite, como se sentem ao frequentar os lugares coletivos como bares, mercearias, igrejas e festas, confiança nos vizinhos moradores da vila;

 - participação em ações coletivas da vila — reuniões da associação de moradores, mutirões para organização de festas, campanhas para conseguir algo para a vila;

 - reuniões informais na casa dos moradores para discutir algum assunto.

O estudo comparativo de Prates tornou possível perceber a existência da influência das dimensões do capital social (laços fortes) e a redes sociais (laços fracos) na conquistas das comunidades estudadas. Mesmo que os indicadores de laços fortes de laços fracos diferissem entre as comunidades, ficou patente que são forças sociais distintas com distintos modos de atuação no interior das comunidades. Conforme Prates (id., p. 1141):

[...] Quando comparamos as três vilas nas dimensões ―laços fracos‖, ―capital social‖ e ―eficácia coletiva‖ na tabela 8, podemos ver que há correspondência entre o volume de referências nessas dimensões no sentido da nossa hipótese. Embora encontremos mais referências a laços fracos na Vila Santa Rosa relativamente à Vila São Tomás que, por sua vez, apresenta mais referências a benefícios coletivos (eficácia coletiva), pode-se ver, ao mesmo tempo, que quando pode-se trata de capital social, a Vila São Tomás prevalece sobre a Santa Rosa. Isso indica que na São Tomás há maior chance de ocorrência de ação coletiva, facilitando, assim, a produção de benefícios coletivos via mobilização interna. No caso da Vila Paquetá, o volume e sentido das referências comparadas com as outras vilas, corroboram plenamente nossa hipótese.

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Dessa forma, estimular ações junto à rede de parentesco (capital social) é imprescindível e, de forma complementar o uso da rede social virtual entre os profissionais envolvidos são processos que vêm se mostrando altamente significativos no sentido de fortalecer fluxos de informação e influência, mesmo que haja dificuldades na capacidade dos membros da comunidade em se articular coletivamente. Nesse sentido, foi feito acordo pela realização de comemorações de cunho familiar e culturais, tais como: Dia das Mães, Dia dos Pais, dia das crianças aniversariantes do mês, festa junina, inaugurações etc. Com convite estendido aos coordenadores de projetos institucionais na comunidade, por meio da rede virtual ―grupoisetamarindo‖.

Ao mesmo tempo, que escutar as demandas da comunidade é igualmente imprescindível para viabilizar as interconexões sociais (laços fracos) entre os grupos institucionais. No caso da Vila Tamarindo, observou-se tanto as lideranças formais (membros da diretoria da associação) quanto as informais (liderança altruísta e liderança clientelista) na perspectiva de tomada de iniciativa na busca de benefícios para a comunidade, tais como: solicitação de ajuda para realização de abaixo-assinado solicitando alteração na reforma na praça em frente a Vila; pedido de prioridade na reforma do domicílio, tendo em vista vazamentos em período de chuva; acolhida de filhos de parente, entre outras.

Para Prates (id. p. 1141), ao observar as características das interconexões sociais (laços fracos) nas entrevistas realizadas em três comunidades de Belo Horizonte, foi possível constatar que os comportamentos que articulam a sociedade civil com órgãos governamentais ou não governamentais não diferem do padrão dominante da sociedade brasileira. Assim os laços fracos predominantes são aqueles de caráter clientelista, seguidos dos de caráter altruísta com certo carisma associado a ele, ambos de natureza informal, e, finalmente, os de caráter institucional-formal, mais frágeis e menos frequentes. A partir de observações realizadas na Vila Tamarindo, nesses dois anos de trabalho na comunidade, é possível concordar com Prates tanto em relação aos comportamentos que se articulam quanto aos tipos de liderança.

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(2009, p. 1145) e, encontrada também na Vila Tamarindo,

as três variáveis básicas — laços fracos, capital sociale eficácia coletiva — estão relacionadas com o ―grau de desorganização social‖ de uma comunidade, indicada pela ―violência‖ (especialmente a produzida externamente pelo tráfico de drogas) e o grau de ―alienação‖ dos seus membros diante do interesse em participar para a produção de bens coletivos.

O gráfico a seguir reformula a interação das variáveis básicas, inserindo ―relações negativas‖, quando relacionadas com o ―grau de desorganização social‖7

observadas tanto nas comunidades citadas na pesquisa de Prates, quanto na Vila Tamarindo.

Fonte: Figura 4 – Modelo agregando novas variáveis (PRATES, 2009, p. 1141).

É importante observar no gráfico que a eficácia coletiva promovida pelas conexões de redes (laços fracos) fica comprometida pelo núcleo de ―desorganização social‖ vinculado à lógica do tráfico de drogas. Mais ainda, é relevante observar que a árvore de lideranças possui interfaces com as dimensões ―capital social‖ e

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Desorganização social compreendida por Prates (2009, 1127) como “referência à dimensão latente de “alienação”, vista como desmotivação (seja por qualquer razão) para participar em ações comunitárias, e as dimensões descritivas de “violência” produzida por organizações criminosas externas à comunidade, como a do tráfico de drogas, e a de mobilidade espacial indicada pela mudança residencial de moradores da comunidade”.

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―desorganização social‖, fato observado pelo menos na Vila Tamarindo, haja vista a rede de parentesco que abrange a maioria dos moradores. Seria ingênuo pensar que, no caso da Vila Tamarindo, a rede de parentesco estaria inclusa apenas na dimensão ―capital social‖ (laços fortes), como pode ter parecido num primeiro momento.

Dessa forma, a pergunta inicial deste tópico ―Por que algumas associações têm êxito e outras não?‖, a partir do exposto, precisa ser reformulada de modo a exigir uma investigação mais compreensiva dos contextos e das condições em que uma associação de moradores se estabelece e se mantém em uma dada comunidade. Qual seja: Quais processos e condições sociais viabilizam a sustentabilidade de uma associação de moradores em uma dada comunidade urbana?

4. A REDE DE PARENTESCO COMO PRÁTICA DE SUSTENTABILIDADE DO ASSOCIATIVISMO NA VILA TAMARINDO

Na dimensão empírica de sua pesquisa, Prates (2009), reforça a hipótese de que o grau de eficácia nas ações empreendidas por comunidades carentes, no ambiente urbano, para conseguirem acesso a benefícios públicos, dependem fundamentalmente da existência de capital social (laços fortes) associado às conexões de rede (laços fracos) da comunidade com agentes políticos ou governamentais. Neste artigo teve-se a oportunidade de apresentar uma importante reflexão, por meio de exemplos ocorridos na Vila Tamarindo, onde se percebe tem sido necessário articular estas duas forças, para o fortalecimento de uma ação coletiva dos grupos que constituem a comunidade da Vila Tamarindo.

Constataram-se evidências de que a comunidade, por meio de uma Associação de Moradores, poderia expressar melhor o valor que recenhecem no lugar onde moram como forma de argumentação na busca por melhorias nas áreas da saúde, da educação, da moradia dentre outras, todas contextualmente carentes de atenção e crescimento na Vila. Por exemplo, em uma reunião da diretoria com representantes da Empresa Municipal de Habitação (EMHAB), a respeito da regularização da titularidade dos domicílios, um dos membros (1º Secretário), para reforçar a necessidade de regularização dos títulos de propriedade de forma viável e segura,

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argumentou8:

para nós o medo maior é de que, amanhã ou depois de tudo documentado certinho, que venha algo que tem para pagar, e algo que a gente não possa pagar; e como sempre botam isso em pauta, não é que a gente não queira pagar nada, é que gente precisa avaliar a renda de cada um ver o que a gente pode pagar; porque não adianta, amanhã ou depois, a gente não pode pagar e aí, daqui a pouco, eles estão querendo tomar o que é do sujeito; eu por exemplo estou aqui há 17 anos, eles aqui são irmãos e conheço eles há 20 anos... e os documentos que estão aí falam por si só, porque tem os jornais datados de 1979 e mostram que já queriam tirar as pessoas daqui; então é doído você de repente estar num local...igual a gente fala: para quem está lá fora, isso aqui é uma favela, para nós não, para nós isso aqui é um condomínio fechado, e a gente adora porque está perto de tudo. Percebeu? De repente tira a gente daqui e coloca a gente não sei para onde. Isso aí para gente, nem pensar, entendeu?(grifo nosso)

Considerando que a Vila Tamarindo é uma rua sem saída, transversal a uma rua de um bairro de classe média, com aproximadamente setenta metros de extensão, cuja entrada tem um portal com o nome da vila e guarnecido por um portão de ferro que é fechado à noite e mantido semi-aberto durante o dia (para evitar a entrada de carros que não sejam apenas os três de propriedade dos moradores), no depoimento acima é possível compreender porque o membro da diretoria afirma: ―para quem está lá fora, isso aqui é uma favela, para nós não, para nós isso aqui é um condomínio fechado”. O portal e o portão, apesar de não impedirem a passagem de traficantes, consumidores de drogas ou da polícia, simbolizam um status que destaca a Vila, até mesmo, de outras comunidades controladas pelo tráfico.

Essas estruturações de redes de sociabilidade fundadas na territorialidade podem ser bastante propícias ao recrutamento e à participação de associações que se ocupam de assuntos comunitários. Conforme considera Fontes (2003, p.179),

[..] Territorialidade refere-se ao fato de existirem fatores presentes na

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Transcrição da fala do 1º Secretário da AMOVITA, na reunião realizada na Vila Tamarindo, dia 9/02/2011, com doze representantes da comunidade, membros da diretoria da associação e moradores interessados. A gravação foi feita com a autorização dos presentes a reunião a fim de redigir a correspondente ata.

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www.interscienceplace.org - Páginas 111 de 189 sociabilidade cotidiana associados ao hábitat, lugar de reprodução social, espaço de moradia, lugar de reconhecimento simbólico do espaço construído, como parte de sua existência cotidiana. Para o caso das associações voluntárias que lidam com a reprodução do cotidiano (vinculadas à reprodução doméstica como, por exemplo, questões de infra-estrutura urbana e equipamentos sociais), a ligação do indivíduo ao território é um elemento indispensável para a compreensão dos processos de recrutamento.

Associada ao sentimento de pertença ao território está a questão dos laços de parentesco. Para Leeds (1975, p. 33), a localidade como território de pertencimento pode se constituir em ponto nodal de interação, caracterizando-se por

[...] uma rede altamente complexa de diversos tipos de relações. Os laços de parentesco mais ativos – aqueles da família nuclear, e, frequentemente, aqueles com parentes próximos, serão amplamente encontrados na localidade, especialmente nas pequenas. As amizades mais próximas, numerosas e vivas tendem a existir na localidade. A maior parte da parentela ritual de alguém tende a existir na localidade, onde pode ser mobilizada mais ou menos instantaneamente. Os vizinhos que podem ser chamados para várias finalidades, existem por definição na localidade [...]. Uma pletora de grupos informais tais como gangues, grupos de trabalho e outros semelhantes, bem como pequenas organizações cujos interesses e amplitude de ação são necessariamente bastante limitados (uma banda de município ou uma escola de samba), são fenômenos de localidade.

Embora as pesquisas não possam ainda ser conclusivas a respeito da importância do elemento ―territorialidade‖ e da ―rede de parentesco‖ na determinação da sustentabilidade do associativismo pelas lideranças comunitárias, estas sugerem que o fato de as pessoas morarem há mais tempo na localidade e de pertencerem a uma rede de parentesco local, influi positivamente em prováveis participações e associações voluntárias (FONTES, 2003, p. 180).

5. MÉTODOS E TÉCNICAS

Para a gestão social do projeto foi utilizada basicamente um método: a do planejamento estratégico situacional (PES) de Carlos Matus (1987). O planejamento

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situacional foi um método desenvolvido pelo economista Carlos Matus, ao longo de 25 anos, durante um período, atuando como Ministro de Planejamento do Governo Allende (1970-1973). Foi concebido para auxiliar os dirigentes de empresas públicas, sendo também aplicável a qualquer órgão cujo "centro do jogo" não seja exclusivamente o mercado, mas o imbricamento entre o político, o econômico e o social.

O PES permitiu explorar a viabilidade política de um plano de inserção na Vila Tamarindo, no jogo social, situado no modelo de incerteza, quer dizer, quando as regras do jogo não são de igualdade, mas difusas, e as possibilidades de ação dos jogadores não são finitas, nem totalmente enumeráveis.

Para o autor o planejamento ou a ‗planificação‘ é necessariamente um cálculo situacional, que deverá estar estritamente ligado à ação no presente. Portanto, o planejamento seria uma forma de organização para a ação. Trata-se de ação voltada para resolução de problemas específicos compreendidos pelos ‗atores‘ principais envolvidos na situação no presente.

O aspecto central do PES esteve no acompanhamento permanente da realidade, a pré e a pós-avaliação das decisões tomadas nas diversas situações encontradas. O autor destaca o constante processo de aprendizagem durante todo o processo de planejamento e adota a noção ‗momento‘ e não de etapas para explicar os métodos a serem utilizados. Os momentos para Matus (1987) são um constante fazer, uma permanente explicação que se organiza em quatro momentos: o momento explicativo, o momento normativo, o momento estratégico e o momento tático-operacional.

Seguindo essa lógica, buscou-se, inicialmente, identificar os principais problemas a serem enfrentados na comunidade e descartar outros, selecionando os problemas específicos da gestão dos projetos quanto ao processo de associativismo que poderia intervir ou auxiliar na sua resolução. Para isso foi preciso organizar as informações disponíveis sobre a situação, reunir-se com representantes da comunidade e tentar caracterizar o problema a partir de vários pontos de vista. Os problemas foram primeiramente identificados a partir dos dados do levantamento censitário realizado na comunidade, em junho de 2009, pelo curso de Administração que levantou suas principais características demográficas e socioeconômicas. Tais aspectos são exemplos de ações próprias de momentos explicativos, normativos e

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estratégicos vivenciados ao longo do projeto Universidade Bairro.

No que diz respeito especificamente ao processo de associativismo vivenciado pela comunidade e os integrantes do projeto institucional, como exemplo de momento tático-operacional, tem-se a observação participante como método de aproximação junto à comunidade tanto com o objetivo de registro quanto de ação junto aos moradores. De acordo com Brandão (1985), um processo metodológico pelo qual o observador se põe em relação face a face com os observados e, ao participar de suas vidas, coleta dados.

Dessa forma, o observador torna-se parte do contexto observado, ao mesmo tempo transformando e sendo transformado por este contexto. Em outras palavras, a observação participante consiste, fundamentalmente, em coletar dados através da participação direta na vida cotidiana do grupo que se pretende estudar, momentos em que o observador torna-se parte do contexto que está sendo observado, vindo a contribuir mais ativamente na organização das intervenções na realidade.

6. RESULTADOS DO PROJETO

Ao longo de um período de onze meses, isto é, a partir do levantamento censitário, realizado em junho de 2009, no qual foi constatada a demanda por uma associação de moradores, até a reunião que legitimou a diretoria eleita, em abril de 2010, muitos encontros e desencontros ocorreram.

O processo de aproximação com as lideranças e moradores da comunidade se deu de forma diferenciada conforme a área de atuação dos coordenadores de projetos, porém duas áreas se destacaram movimento: período, a de Administração e de Fisioterapia. É possível que, pela experiência anterior dos dois coordenadores de projetos dessas áreas com trabalhos em comunidades e igualmente pela experiência com a aplicação do planejamento estratégico situacional (PES) de Carlos Matus. Este dado pode não ter sido determinante para a constituição da eleição, do estatuto, da fundação e da legalização da associação de moradores da Vila Tamarindo, porém foi a partir desse êxito preliminar que se foi se estabelecendo e definindo o perfil dos professores e alunos que poderiam se juntar ao trabalho com

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a comunidade da Vila Tamarindo. Não houve a delimitação precisa a respeito de critérios para a identificação dos pesquisadores/participantes, mas sim a observação do comportamento reativo do profissional quando visitava a comunidade, diante das suas condições materiais, sociais e culturais próprias: se arredio e de repúdio ou de aceitação, aproximação, capacidade de ser empático e disposição a problematização da realidade.

Assim é que de abril a dezembro de 2010, vários profissionais visitaram a comunidade, montaram seus projetos por curso (Arquitetura, Educação Física Enfermagem, Engenharia de Produção, Pedagogia e Psicologia), fizeram ensaios de aproximação, reformularam seus projetos, adequaram seus perfis ou pediram para ser substituídos, geraram demanda por espaço para desenvolver seus projetos.

Alugou-se uma casa na Vila, reformou-a e, em 12 de dezembro 2010, inaugurou-se a sede do projeto Universidade-Bairro que passou a abrigar as ações do projeto e reuniões da AMOVITA. A partir de março de 2011, o curso de Pedagogia teve o seu projeto ―De Mãos Dadas com a Educação‖ aprovado pelos critérios do ―HSBC Solidário‖, com o qual foi possível então equipar a sede com quatro computadores e uma impressora. O mobiliário foi doado pela empresa na qual a bolsista-autora trabalha.

O curso de Administração assumiu a Gestão Social e de Informação do macro projeto Universidade-Bairro – e vem realizando vários levantamentos tanto para cadastro - de famílias, de crianças em idade escolar, por exemplo – quanto para identificar demandas para os diversos cursos. Ao mesmo tempo, com isso, estimulando a participação e adesão dos moradores aos projetos. Foram realizadas tabulações e processamento de dados solicitados pelos cursos envolvidos no projeto – Universidade Bairro – para que medidas pudessem ser tomadas de acordo com os resultados encontrados e com a identificação dos problemas.

Cada curso do Instituto elaborou um projeto com ações comuns, dentro de suas áreas, para a realização de trabalhos junto a comunidade com o objetivo primordial de trazer a melhoria e qualidade de vida para as pessoas que ali residem, tendo em vista uma relação de troca voluntária, entre a comunidade e a instituição de ensino, pautada no exercício da aprendizagem profissional por parte de professores orientadores/estudantes orientados e na disposição para a participação associativista por parte dos moradores da Vila.

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A natureza dessa relação mutuamente voluntária tem proporcionado, a cada dia que passa, mais ações demandadas pela comunidade com resultados positivos, o que tem ampliado a relação de confiança dos moradores no projeto e a confiança do próprio grupo de trabalho que vê cada vez mais possibilidades de realização acadêmica aplicada.

7. ALGUNS ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS DA VILA TAMARINDO

Os estudos realizados na Associação de Moradores da Vila Tamarindo buscaram analisar o perfil da comunidade para que fosse possível conhecer e identificar demandas. Quando socializados entre os profissionais envolvidos no projeto, possibilitou melhor adequação de suas metas e consecução de ações que pudessem promover situações e condições para que as questões de educação, saúde, habitabilidade e geração de renda se tornassem mais visíveis aos moradores da comunidade. A seguir apresentam-se os resultados do levantamento censitário, cujo universo alcançou 84% dos responsáveis pelos domicílios.

Analisando os gráficos 1 pode-se observar que em relação a faixa etária os percentuais pendem majoritariamente para a infância e a adolescência com total de 51%. Este foi um dado significativo que se avaliou quando foram propostas ações de responsabilidade social principalmente quanto aos processos de socialização infanto-juvenil.

Gráfico 1 – Distribuição percentual das faixas etárias entre os moradores da Vila Tamarindo (n = 140)

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Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

Comparando os gráficos 3 e 4 notou-se que os dados relativos à renda e à ocupação revelam que a Vila Tamarindo tem características de pobreza próprios de baixo IDH, tais como baixa renda (60% dos domicílios com renda até 1 salário mínimo) e ocupação profissional irregular ou sazonal do tipo ―biscate‖ (52%).

Gráfico 2 – Distribuição percentual da renda mensal entre os moradores da Vila Tamarindo (n = 140)

Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

Gráfico 3 – Distribuição percentual dos tipos de ocupação entre os

moradores da Vila Tamarindo (n = 140)

60% 34%

6% Renda mensal

Até 01 salário mínimo De 01 a 03 s.m. De 03 a 05 s.m.

6% 11%

3%

52% 14%

14%

Ocupação do responsável pelo domicílio

Do lar Emp(a) Doméstico(a) Func de loja/ fábrica Prestr de serv (biscate) Desempregado Outra

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Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

Se compararmos o resultado do gráfico 4, abaixo, com o do gráfico 3, acima, pode-se relacionar as informações, pois dos 36% que ganham até 1 salário mínimo 46% participam de programas de transferência de renda. Vê-se que o diagnóstico do Observatório Socioeconômico da Região Norte Fluminense, realizado em 2001, ainda seria válido para a Vila do Tamarindo em 2009, pois não foram constatadas mudanças significativas quanto a essa questão.

Gráfico 4 – Distribuição percentual da participação em Programa de

Transferência de Renda entre os moradores da Vila Tamarindo (n = 140)

Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

Este é, com certeza, um dos pontos mais fracos da comunidade que exigirá maiores esforços dos projetos em curso, especialmente aqueles que apontam para a geração de renda como a Fábrica Escola de Vassouras (Curso de Engenharia), a Fábrica de Sabão (Curso de Pedagogia) e cursos de formação em pintura de tecido, em informática. O maior obstáculo está no processo de inércia improdutiva acumulada em função de frustrações geradas por trabalhos temporários, precarizados ou sub-ocupados.

Também foi possível perceber que dos 87 moradores com idade acima de 15 anos, apenas 8 (11%) concluíram o Ensino Fundamental, 13 (15%) o Ensino Médio e 1 o Ensino Superior a grande maioria dos moradores que estudam ou estudaram, tem escolaridade concentrada nos anos iniciais do Ensino Fundamental, confirmando a necessidade de ações regulares de apoio a educação formal na

Participa de algum programa de transferência de renda

46%

54%

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comunidade.

No levantamento censitário, foi possível observar que na visão dos moradores os serviços públicos prestados na comunidade (transporte, limpeza pública, iluminação, fornecimento de água, correios, telefones públicos e creches) são avaliados como bons, o que é passível de explicação pelo fato de que esta comunidade situa-se em um bairro de classe média alta de Campos dos Goytacazes. A exceção esteve no item ―saneamento básico‖, único considerado ―ruim‖ por 66% dos moradores, tendo sido esse o objeto primeiro de reivindicação a instituição ―Águas do Paraíba‖, que recebeu o presidente de Associação e orientou-o quanto as questões presentes e pendentes na comunidade, iniciando assim um processo de negociação interna com a comunidade para as providências que deveriam ser encaminhadas para o setor responsável na prefeitura.

Em relação ao sentimento de pertença ao território a comunidade se mostra dividida. Para constatar a presença do sentimento de pertença combinou-se elementos dos gráficos 5, 6 e 7 nos quais é possível observar que 45% diz que mora na Vila porque gosta ou pela família; e 83% moram há mais de sete anos na comunidade; 43% não pensa em sair da Vila Tamarindo. Os percentuais confirmam a existência de uma rede de parentesco e do, consequente, capital social daí derivado que mantém a rede como fator de proteção contra ameaças externas de despejo, inclusive com um histórico familiar nesse sentido, conforme relatado no inicio desse artigo.

Gráfico 5- Distribuição percentual das razões para morar na Vila Tamarindo (n = 140)

Por que mora no Tamarindo?

31%

52%

14% 3%

Porque gos ta

Porque não teve oportunidade de s air Pela fam ília

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Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

Gráfico 6 - Distribuição percentual do tempo de residência na comunidade Tamarindo (n= 140)

Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

Gráfico 7 – Distribuição percentual do tipos de pensamento em relação a sair da comunidade Tamarindo (n= 140)

Fonte: Levantamento censitário projeto Universidade-Bairro, 2009.

No que diz respeito ao sentimento de rejeição, também combinando dados dos três gráficos, tem-se que 52% moram na Vila porque não tiveram oportunidade de sair; 57% pensam em sair da Vila; e apenas uma família (3%) está na comunidade há menos de dois anos. Assim, verifica-se que essa ―outra da metade‖

29%

3% 14% 54%

Desde que nasceu Menos de 2 anos Entre 2 e 7 anos Mais de 7 anos

Pensa em sair do Tamarindo

43%

57%

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que vive um sentimento de rejeição em relação à Vila, boa parte está incluída entre os que residem há mais de sete anos na Vila, portanto pertence a rede de parentesco. Essa tensão entre sentimento de rejeição e de pertença no seio da rede de parentesco tem origem no domínio do território por facção do tráfico de drogas de outra comunidade mais extensa, denominada Tira Gosto.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos evidenciados no item anterior comprova com vários exemplos a hipótese formulada por Prates (2009) que articula as dimensões: capital social (laços fortes), redes sociais (laços fracos) e desorganização social como fatores determinantes do grau de eficácia coletiva de uma comunidade e suas condições de associativismo.

Se há participação relevante para criar uma associação ou reivindicar qualidade no atendimento da EMHAB quanto à titularidade dos imóveis, há também as solicitações individuais por remédios, bolsas de alimentação que caracterizam o caráter clientelista ao qual foram e ainda estão condicionados. Por outro lado como elemento desorganizador da dinâmica laços fortes/laços fracos, policiais entram na rua da Vila armados de fuzil, enquanto as crianças dentro da sede, podem estar fazendo tarefas escolares gerar nelas uma forte ansiedade por não saberem em qual casa irão entrar, nesses momentos podem contar histórias do pai que foi preso, da mãe que guardava maconha em casa, entre outras, marcadas por lembranças negativas.

Em junho de 2010, uma corrente religiosa evangélica também alugou uma casa e ali construiu sua igreja, inaugurando-a em data próxima a da sede do projeto Universidade-Bairro. Esta iniciativa, embora não articulada com o projeto social, teve impacto na comunidade especialmente na dimensão das redes sociais (laços fracos) de participação. Uma coincidência que para a comunidade foi um estímulo à participação, e para o projeto um fator que reduziu a resistência dos líderes do tráfico quanto ao ir e vir dos profissionais e estagiários nos domicílios da Vila.

A disputa pela liderança da presidência da associação, na qual uma moradora teve 17% e outra 15% dos votos, evidencia a tensão entre as lideranças informais

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clientelista (representada pelas atitudes e argumentos do morador eleito presidente em momentos de negociação) e altruísta (representado nas atitudes das duas moradoras que mantiveram suas ações de solidariedade e cuidados com os mais doentes e necessitados da comunidade).

No quadro a seguir, Prates (2009) é apresentada a versão correspondente aos resultados empíricos encontrados em sua pesquisa, na qual se propôs verificar a hipótese de que capital social (laços fortes) e redes sociais (laços fracos) não integram uma mesma dimensão das comunidades que possuem eficácia coletiva, mas sim dimensões distintas com peculiaridades próprias que, e por justamente serem consideradas distintas, auxiliam a compreensão do complexo universo humano que habita tais comunidades.

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Fonte: Figura 5 – Modelo Final (PRATES, 2009, p. 1143).

Neste quadro, tal qual um mapa conceitual, os ―quadrados‖ contêm as dimensões teóricas do modelo utilizado e as formas circulares os indicadores de cada dimensão teórica, identificados nas entrevistas realizadas por Prates.

O que se desenvolveu neste artigo pretendeu estabelecer relação entre o processo de conhecimento da comunidade da Vila Tamarindo, bem como a constituição de sua associação de moradores com o modelo desenvolvido por Prates quando analisou três comunidades periféricas de Belo Horizonte.

Assim, a partir do mapa conceitual acima, considerado ―modelo final‖ por Prates, os dados do levantamento censitário e as observações de campo realizadas ao longo do processo de formação da associação de moradores e realização das atividades dos projetos de diversos cursos envolvidos no macro projeto Universidade Bairro do Isecensa, foi possível identificar situações comuns entre as três vilas analisadas por Prates (2009) e a Vila Tamarindo. Consequentemente, foi possível compreender, por meio das dimensões do capital social (laços fortes), redes sociais (laços fracos) e desorganização social, as relações comunitárias da Vila Tamarindo com o projeto institucional e vice-versa, quando colaboram entre si na busca de qualidade de vida e de espaço para formação profissional, respectivamente.

Como resultado geral das ações desenvolvidas na parceria deste Projeto com os moradores da comunidade Tamarindo e a Associação de Moradores Vila Tamarindo, tem-se que o objetivo de inserção do projeto na comunidade pôde ser legitimado a partir da oficialização do estatuto e fundação da Associação de Moradores, com sua diretoria eleita pelo voto da maioria dos moradores, num exercício de prática democrática que deve, necessariamente, permear esse tipo de ação, servindo de modelo para próximos projetos sociais dessa natureza no Isecensa. Mas não só, a legitimação informal, a mais importante para um projeto social, avançou de forma relevante a partir do trabalho de reforço escolar com o

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grupo de quarenta e oito crianças e pré-adolescentes da comunidade. Esse foi efetivamente o vetor de legitimação do projeto na Vila Tamarindo. Diga-se legitimação relativa, devido à dimensão desorganizadora social conforme Prates apontou, de forma esclarecedora, na Figura 5.

Este trabalho espera contribuir para uma leitura menos estigmatizada para com aqueles que ―acordam tarde‖, ―não fazem nada‖, ―são preguiçosos‖, ―querem tudo nas mãos‖, especialmente, os profissionais e estagiários envolvidos com o projeto Universidade Bairro: Vila Tamarindo. Espera-se, que uma leitura mais acurada sobre as forças sociais, em permanente tensão, presentes nas interações institucionais de formação com a cultura comunitária, no mínimo, permita rever atitudes quando estas, porque impregnadas de preconceito, previamente desacredita de qualquer transformação na comunidade.

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Gráfico 1 –  Distribuição percentual das faixas etárias entre os moradores da  Vila Tamarindo   (n = 140)
Gráfico  3  –  Distribuição  percentual  dos  tipos  de  ocupação  entre  os  moradores da Vila Tamarindo   (n = 140)
Gráfico  6  -    Distribuição  percentual  do  tempo  de  residência  na  comunidade  Tamarindo (n= 140)

Referências

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